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D. A.

LEMOYNE
Copyright © 2022
Sumário
Copyright © 2022
NOTA DA AUTORA:
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo 1
Epílogo 2
Bryce Gray
Thaddeus
PAPO COM A AUTORA
Obras da autora
SOBRE A AUTORA
D. A. LEMOYNE
dalemoynewriter@gmail.com
Copyright © 2022 por D. A. Lemoyne

Título Original: O Devasso e a Viúva Virgem


Primeira Edição 2022
Carolina do Norte - EUA

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode


ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por
qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos
ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito da autora, exceto no
caso de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos
não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

Nome do Autor: D. A. Lemoyne


Revisão: Dani Smith Books
Capa: D. A. Lemoyne
ISBN: 978-65-00-46036-0

Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios,


eventos e incidentes são ou produtos da imaginação da autora ou usados de
forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou
eventos reais é mera coincidência.
Sinopse

Atenção: pode conter gatilhos.

Aviso: O Devasso e a Viúva Virgem, novela (livro que é bem maior do


que um conto, porém, menor do que um romance regular) spin-off da série

Alma de Cowboy, é um volume único. Por ser com casais diferentes, cada

livro da saga pode ser lido separadamente, mas é provável que o posterior
contenha spoilers dos anteriores.

O milionário Wyatt Gray, assim como seus primos texanos, é um

homem do campo.
Membro da tradicional família de cowboys, mas da parte do Wyoming,

passou anos correndo o mundo para escapar da convivência com o pai, a


quem odeia.

Cansado de viajar sem criar raízes, ele decide se estabelecer em

Grayland, a pedido de sua tia-avó, Mary Grace.


Wyatt tem o mundo aos seus pés: mais dinheiro do que pode gastar e

mulheres se jogando em cima dele por onde quer que vá.

Logo, a fama de mulherengo com apetite insaciável para o sexo o faz


receber o apelido de cowboy devasso, o qual ele se orgulha de honrar.

A última coisa que deseja é compromisso, assim, escolhe parceiras com

as mesmas expectativas.
Para azar dele, entretanto, a santinha da cidade, Maribelle, conhecida

como “a viúva virgem”, depois de se livrar dos desmandos do pai, decide


que domará o safado.

Ou melhor, fará dele, um safado para uso exclusivo.

O que ela não sabe, é que o “felizes para sempre” que tanto almeja talvez

nunca se realize.

Há um segredo que pode impedir que eles fiquem juntos.


A todos aqueles que acompanham a saga Alma de Cowboy e amam os
netos da dona Mary Grace. Agora, mais um agregado: o mulherengo Wyatt.

Carolina do Norte, maio de 2022.


NOTA DA AUTORA:

O Devasso e a Viúva Virgem, é uma novela (até quarenta mil palavras)

spin-off da série Alma de Cowboy e contará a história de Wyatt Gray, um

mulherengo que não quer saber de compromisso e Maribelle Ann


Davenport, seu oposto. Ela cresceu reprimida pelo pai e perdeu o marido na

noite de núpcias.

Anos depois, descobre que sua vida inteira foi uma grande mentira,
então resolve dar um basta e ditar as próprias regras.

Wyatt se sente instantaneamente atraído por ela, mas não investe na

loira de rosto de anjo e corpo espetacular porque ela é virgem. O que ele
nem desconfia, é que Maribelle já decidiu que será com o cowboy gostosão

que experimentará as delícias do sexo.

Eu amei escrever sobre esse casal e espero que apreciem também.

Um beijo carinhoso e boa leitura.

D.A. Lemoyne
Prólogo

Passado

Viúva aos vinte e quatro anos!

Olho sem acreditar, meu marido ser enterrado. Na verdade, nem sei se
posso chamá-lo assim — marido.

Será que conta? Eu fiquei casada por exatas quatro horas!

Deus, eu deveria ter escolhido algo mais discreto para usar na noite de
núpcias.

Mas como eu poderia adivinhar que o homem teria um piripaque ao me

ver em uma lingerie sexy?

Sou tão azarada! Acho que meu destino será morrer virgem, já que

todos os possíveis candidatos de Grayland e arredores — os que valem a


pena — já estão comprometidos.

— Santinha, vamos para casa, minha filha. Já entregamos seu esposo

nos braços do criador. Está na hora de cuidar de sua mãe. Agora que vai

voltar a morar conosco, poderá retornar aos seus deveres — meu pai diz.
Olho-o espantada, porque até então eu não havia pensado em decisões
práticas quanto ao futuro.

Ontem eu estava tão animada para começar uma nova vida e agora o

mundo fez uma volta de trezentos e sessenta graus, me levando novamente

para o mesmo lugar de onde parti.

Eu não queria me casar com Tilbot, para início de conversa, mas teria

que me casar em algum momento. Foi para isso que me mantive casta: para
me entregar somente ao meu marido.

E então, a vida decidiu por mim quando meu pai me confidenciou que

não tínhamos mais dinheiro para custear o tratamento do câncer da minha

mãe e que um pretendente fora conversar com ele, dizendo que arcaria com

todas as despesas, desde que eu o aceitasse como marido.

Suspiro, cansada.

Depois de passar uma vida inteira como uma moça obediente, fazer
todas as vontades do meu pai — inclusive me casar com um homem trinta

anos mais velho —, é isso o que recebo como prêmio: estou enterrando meu

marido ao invés de aproveitar a bendita viagem de lua de mel ao Caribe que

planejei com tanto carinho.

Sou uma crente no ditado “fazer do limão uma limonada” e mesmo não

sentindo qualquer afeto pelo meu falecido, tinha toda a intenção de fazer o
casamento funcionar.
— Ao menos está rica, minha filha. — Uma das minhas tias me

consola. — Ainda que…


— Ainda que o quê, tia Melrose?

— Bem, seu novo apelido não seja muito lisonjeiro...


— Novo apelido?
— Não sabia? Eles agora a chamam de “a viúva virgem”.
Capítulo 1

Doi s an os e meio d ep ois

Mesmo após passados seis meses que lavrei o registro da escritura da


minha nova propriedade, me pergunto o que diabos estou fazendo aqui.

Eu deveria odiar esse lugar, mas ao contrário, sinto-me estranhamente

ligado a Grayland[1], como se no fundo da minha mente, um chamado

silencioso ecoasse avisando-me de que aqui é onde devo me estabelecer.


Meu lar.
É o que essa região tem sido nos últimos meses. Eu nunca passei tanto

tempo em uma mesma cidade depois de adulto.

Nem sei se podemos chamá-la de cidade, seria mais próprio feudo[2], já

que quase tudo pertence aos meus parentes.


Cada um dos rapazes: Jaxson, Reed, Bryce, Callum e até mesmo

Hudson[3] que está no meio de seu mandado como governador, têm as

próprias fazendas, além da Império Gray[4], que pertence a uma das pessoas

que mais respeito no mundo.


Passo pelo portão principal e lembro-me de que Bryce me disse que eles

modificaram todo o sistema de vigilância[5] depois da tentativa de invasão

das terras de Reed[6].

É a primeira vez que venho aqui desde que cheguei, mesmo que Mary e

meus primos já tenham ido me visitar.


Enquanto minha picape atravessa a propriedade, noto os animais

pastando ao longe. Em seguida, avisto a casa da sede da mulher que, após o

falecimento da minha mãe, mesmo que remotamente, foi mais presente em

minha vida do que aqueles que conviviam comigo.

Ela é uma pessoa muito forte. Ficou viúva cedo, tocou os

empreendimentos da família e criou praticamente sozinha os dois filhos.


A grande tragédia de tudo, é que por uma fatalidade, também os

perdeu[7].
— Seja bem-vindo à Império Gray, meu menino. Achei que nunca viria

me visitar. — Mary Grace[8], a matriarca Gray desse lado da nossa família,

diz quando desço do carro.

— Tenho andado ocupado.

— Eu sei muito bem o tipo de ocupação na qual tem estado

mergulhado, Wyatt. — diz e eu desvio nossos olhares. Não me aborreço


com o jeito direto dela. É uma característica tanto dos homens quanto das

mulheres Gray, mas nunca pensei que Mary falaria tão abertamente sobre as

parceiras com quem saio.

— Não vou mentir. Achei que jamais voltaria por esses lados. Ou

certamente, não em definitivo. — Ela muda de assunto.

— Eu também não, mas estou querendo expandir minhas terras, vó —


falo, depois de lhe dar um beijo na bochecha.

Na verdade, ela é tia-avó, mas como as minhas avós de ambos os pais já

faleceram, meio que adotei Mary Grace como minha também.

— Sabe que há o Colorado e o Novo México entre nós, não é? —

pergunta brincando, se referindo ao fato de que Texas e Wyoming não

fazem fronteira. — Foi a única razão pela qual aceitou minha ideia de vir

se estabelecer aqui?
— Sim — digo uma meia-verdade.

Foi realmente?
Não é uma resposta simples. O que posso dizer? Viver perto da minha

família tornou-se insuportável, mesmo que eu tenha passado os últimos


anos fora dos Estados Unidos?

Ou que eu não consigo nem olhar para o meu pai?


— Achei que fosse querer visitar as terras antes de comprá-las. Investiu
muito dinheiro.

Dou de ombros.
— Tenho de sobra, como bem sabe. Além disso, confio na opinião de

Jaxson[9]. — digo simplesmente, quando na verdade nem eu mesmo sei por


que escolhi Grayland, justo essa cidade, de todos os lugares para onde eu
poderia ir.

Dei como desculpa aceitar o convite de Mary Grace para ficar mais
perto da família, mas por que estabelecer aqui meu lar em definitivo?

Eu não sei. Talvez eu seja um masoquista, no fim das contas.


Adquiri uma fazenda nos arredores que faz divisa com as dos meus

primos. Pretendo criar gado de corte, assim como faço no Wyoming. A


diferença é que essa, vou administrar pessoalmente, enquanto a outra, por
conta das desavenças com meu pai, deixo nas mãos de capatazes

contratados.
— Presumo que veio para ficar, então.
Eu sei que em sua pergunta há bem mais do que as palavras expressam

porque não é a primeira vez que ela me faz.


— Há uma grande chance de que sim.

— Todo mundo precisa de raízes, filho.


— Acho que nasci sem essa necessidade.

— Mesmo? Então por que gira o mundo inteiro, mas acaba voltando
para o campo?
— Nunca deixarei de ser um cowboy, não importa onde eu esteja.

— Fique dessa vez, Wyatt. Sei que não consegue conviver com seu pai
e o resto de seus parentes no Wyoming, então, fique conosco. Nossa família

está crescendo. Meus quatro netos estão casados e com filhos. Só falta o
Bryce, mas aquele ali anda cada vez mais mergulhado na política e acho
que vai ocupar o lugar de Hudson, como um representante do bom povo do

Texas.
— Eu não gosto de fazer planos, vó.

— O que não gosta é de se comprometer. Mas tudo bem. Não vou ficar
lhe enchendo a cabeça, mas não posso deixar de dar um aviso, o mesmo que

dei aos meus netos ao longo dos anos: preste muito atenção com quem vai
se envolver em Grayland e nos arredores porque… — abro a boca, mas ela
me interrompe com um gesto de mão —, como eu estava dizendo, aqui em

Grayland, mato tem olho e parede tem ouvido. Criei cinco netos e Deus é
testemunha de que se eles sossegaram, tirando Bryce, claro, é porque estão
casados, caso contrário continuariam na vida de devassidão. Você precisou
de seis meses apenas para criar fama.

Acho que nunca fiquei vermelho na minha vida, mas enquanto a ouço,
sinto meu rosto esquentar.

— Fama? — Me faço de desentendido.


— O cowboy devasso, meu filho.
Merda, como ela descobriu esse apelido?

— Não vou dizer tudo o que ouvi, porque como boa cristã, não falo
sobre a vida sexual alheia. Só tenha em mente que estamos em um lugar em

que a honra de uma moça ainda é valorizada e esperada.


Jesus!

— Não estou pretendendo desonrar alguém, vó.


— A não ser que a escolhida em questão esteja ansiosa para ser
desonrada, não é, meu filho? — Antes que eu possa responder, ela enfia o

braço no meu. — Agora que já disse o que eu queria, vamos lá tomar um

café fresco com pão de milho[10].

Uma hora e meia depois, nem eu mesmo acredito que fiquei tanto
tempo. Não sou do tipo que costuma conversar, mas o calado. O que mais
gosto de fazer na vida, fora cavalgar, não exige muitas palavras.
Pego a estrada para minha propriedade, mas quando chego na metade
do caminho, resolvo dar uma volta em Grayland. Apesar de já estar há
meses na cidade, não vim ao centro ainda, preferindo sair para caçar

minhas mulheres na vizinhança.


Eu já rodei o mundo inteiro, mas gosto do estilo de vida do Texas e se

há um lugar onde você encontra o verdadeiro espírito texano, é na cidade da


minha família.
Estaciono a caminhonete e finjo não perceber as pessoas me observando

quando desço do carro. É uma das coisas que me irritam em cidades

pequenas: a fodida mania de se tomar conta da vida alheia.


Apesar de que, com um metro e noventa e noventa e quatro quilos, sou

um cara grande e a expressão passar despercebido não se encaixa em mim.

Mal piso na calçada, e uma risada me chama a atenção.

Não consigo ver a dona dela, mas presumo vir de dentro da loja na
frente da qual estou e cuja porta está aberta. Também acho que pertence a

alguém jovem. Ou pelo menos mais jovem do que eu, com meus trinta e

dois.
É um riso quase envergonhado, mas ainda assim tão espontâneo, que me

deixa curioso para descobrir quem é a dona dele.

Olho para a placa e percebo que é uma loja feminina.


Não há motivo no mundo para que eu entre ali, mas eu nunca fui

conhecido por conter meus desejos e há algo na risada da mulher que me


atrai.
Capítulo 2

— Pode ver se acha algo mais longo? Eu não sei, mas sinto como se

estivesse nua experimentando um vestido acima do joelho.


— Até que no seu caso ficar nua não seria nada mal, né?

— Adele! — finjo zanga, mas acabo gargalhando do descaramento da

minha amiga.

— Tudo bem ex-santinha e atual viúva virgem — implica —, espere

aqui que vou lá no porão ver se nas novas remessas que chegaram há roupas
mais comportadas. Mas saiba que estou indo contra minha vontade. Está

linda assim.

Sorrio, balançando a cabeça enquanto ela se afasta.


Não tem mais ninguém na loja, então vou para o lado de fora me olhar
no espelho de corpo inteiro, já que esse da cabine não me deixa ver o

suficiente.

O vestido é justo, marcando meus quadris, o que tenho que admitir, não

fica feio, porque contrasta com a cintura fina, mas nunca usei nada tão

ousado, principalmente para ir a um casamento.

Levanto um pouco a saia. Eu quase nunca me olho nua na frente do


espelho. Ficar me admirando, ao invés de ter um homem para fazer isso é

tão patético. Mas acho que tenho um corpo bonito, ou ao menos, normal.

Você poderia ir para Dallas. Aproveitar por uma noite e depois voltar

para sua vida de santinha intocada — uma voz avisa.

Até parece. Só se fosse em outra encarnação. A época de ser corajosa já

passou. Mesmo com vinte e sete anos, continuo com medo de me arriscar. E

decepcionar meu pai também, claro.


Quanto à chance de arrumar um novo marido, ela se torna cada vez

mais remota porque os homens acham que se cruzarem comigo pelo

caminho, já vou desejar carregá-los direto para o altar.

Observo-me outra vez no espelho.

Adele tem razão. O vestido ficou muito bonito. Eu me sinto sexy nele,

como se fosse uma mulher diferente.


Ergo os cabelos com as duas mãos, deixando meu pescoço livre e tento

fazer uma cara sensual, mas acabo dando risada.


Tem mulheres que são naturalmente sedutoras, acho que sou mais o tipo

engraçada. Sou boa em fazer os outros rirem, mesmo que às vezes seja de
mim.
Dou uma volta completa como uma boba, por um instante esquecendo

da vida sem graça que levo, feliz por estar com uma roupa nova. Não chego
a completar o movimento, no entanto, porque assim que fico de frente para

a porta, vejo um homem me encarando, parado no meio da loja.


Ele me olha sem disfarçar e ao contrário do que costumo fazer, não

abaixo a cabeça. Eu o analiso de volta.


Tenho certeza de que não é daqui. Eu nunca o vi antes. Até porque,
ninguém vê um homem desses e se esquece.

Ele é muito alto e forte também. Um tipo de corpo que faria uma mulher
normal querer se deleitar ali, agora imagine eu sendo virgem, com

hormônios enlouquecidos e todos os relógios biológicos do mundo


disparados. Simplesmente não consigo desviar o olhar.

Veste um jeans surrado, mas tão agarrado às coxas grossas que parece
uma segunda pele.
E que pele deve ter ali por baixo, meu Senhor!

Imagina percorrer aquela extensão toda de carne…


A julgar pelo desenho dos músculos delineados na roupa, o homem

deve ser um parque de diversões onde uma menina poderia passar dias
brincando sem enjoar.

Subo o olhar para a camisa que fica agarrada nos bíceps e marca
também o peito.

Pescoço grosso, boca tentadora, mãos grandes — eu tenho um fraco por


mãos grandes — se esse homem fosse meu, o manteria trancado em casa.
E então, quando finalmente o encaro, dou um passo para trás.

O corpo do desconhecido tem uma postura de um charme relaxado,


típico dos cowboys, mas apesar de um dos cantos da boca se erguer em um

sorriso sexy, há algo naquelas profundezas verdes que são seus olhos que
me avisa para correr para longe.
É como se o que eu visse na superfície fosse somente uma cortina de

fumaça. A intuição berra que esse é um homem que poderia me machucar.


A fria escrutinação de seus olhos não combina com todo o resto. Eu me

sinto como se estivesse em um laboratório, como um espécime a ser


examinado.

Não é uma sensação de ameaça física. O que parece é que estou frente a
alguém inatingível, que pode e sabe fazer sofrer, mas que não sente nada.
— É uma loja para mulheres — falo a coisa mais óbvia do mundo e

também a primeira que vem à minha cabeça porque a única coisa que eu
desejo no momento é que ele vá embora.
Ele não responde, mas me olha da cabeça aos pés e eu juro por Deus
que preciso me esforçar para não fugir.

Não seja ridícula, Maribelle. Você não é uma menininha, e sim, uma
mulher adulta.

— Deseja alguma coisa?


— Seu nome — diz, sem rodeios.
— Desculpe-me?

Claro que eu entendi que ele quer que eu me apresente, mas não estou
acostumada a homens tão diretos, afinal, todos aqui correm de mim e não

para mim. Ele certamente é um desavisado ou chegou a Grayland há pouco


tempo, caso contrário, não estaria desperdiçando o charme comigo.

— Wyatt Gray, moça. — diz, dando um passo para perto e oferecendo a


mão. Não penso duas vezes antes de aceitá-la, talvez inconscientemente
desejando ao menos tocá-lo uma única vez.

A pele é quente e áspera, me causando um arrepio gostoso. Tão


delicioso que levo alguns segundos para colocar meus neurônios em

funcionamento novamente.
Wyatt Gray?
Solto-me dele e novamente ando para trás, o que parece diverti-lo.

Agora está explicado o tanto que já ouvi falar no Gray do Wyoming que se
mudou para a região.
Deus, eu deveria ter desconfiado. Quando algo parece bom demais para
ser verdade é porque certamente é bom demais para ser verdade.

Reexamino todo aquele material.


Sei que ele recebeu o singelo apelido de cowboy devasso, que pertencia

a Bryce Gray, antes dele começar a se interessar pela política.


O “devasso” aqui, no caso, nem deve precisar ser esforçar para fazer
uso de sua devassidão. Basta ele olhar para uma garota como está fazendo

comigo nesse exato instante, que tenho certeza de que ela correria para

fazer um estudo pelo corpo do cowboy.


— Não vai se apresentar?

Engulo em seco.

— Maribelle Ann Davenport. — falo com cuidado para que ele entenda

com quem está lidando.


Sua expressão não muda e essa é a confirmação de que realmente não

conhece minha fama de santa intocável.

Ele dá uma olhada nada discreta para minhas mãos, provavelmente


procurando uma aliança e quando não encontra, o sorriso safado aumenta.

— E o que você vai fazer agora, além de continuar sendo linda,

Maribelle?
Sinto meu rosto esquentar. Mesmo tendo certeza de que ele já deve ter

dito aquilo milhares de vezes para outras mulheres, a julgar pela fama que
carrega, ainda assim é excitante ser alvo de um homem tão bonito.

— Agora? — repito a pergunta como uma idiota.

— Aham. Eu sou novo na cidade e talvez você pudesse vir até a minha
fazenda para me dar umas informações do que acontece de bom por aqui.

— Eu poderia dar a informação que precisa nesse instante. Por que ir

para a sua fazenda?

Ele levanta uma sobrancelha, como se aquela não fosse a resposta que
estava esperando.

Antes que possa responder, entretanto, duas coisas acontecem ao mesmo

tempo: eu entendo o porquê dele querer que eu vá até a fazenda — o que


me deixa muito sem jeito — e Adele volta com os braços cheios de roupa.

— Prontinho, viúva virgem — debocha, porque na verdade temos certa

intimidade e sei que não disse aquilo para me ofender. — Encontrei


vestidos bem decentes para manter sua pureza intacta.

Olho para ela com vontade de fuzilá-la.

Claro que o cowboy iria descobrir minha identidade mais cedo ou mais

tarde, mas precisava ser assim?


Como eu supunha, ouço a porta se abrir, enquanto ele se despede, já

saindo da loja.
— Tenham uma boa tarde, senhoras.

Observo as costas largas se afastando e gostaria de dizer que estou

aliviada, mas seria mentira.


Desapontamento nem começa a explicar o que sinto.

Passo a mão na testa, onde um suor gelado escorre.

Meu Pai, sou muito despreparada para a vida mesmo. Um encontro com

um cara normal — quero dizer, deve ser normal para pessoas da idade dele
paquerarem — e eu já entro quase em colapso.

— O que foi isso? — Adele pergunta, sem entender nada. — Por que

Wyatt Gray estava aqui?


— Você o conhece?

— Quem não o conhece, Maribelle? O homem está há cerca de seis

meses nas redondezas e já acumulou uma lista grande de corações partidos

— diz, enquanto coloca as roupas em cima da poltrona rosa choque. — O


que essa delícia queria? Nem sabia que se conheciam.

— Não nos conhecíamos, mas eu acho que acabei de ser paquerada por

ele.
— E qual é o espanto? Você é linda. — Ela me encara como se estivesse

pensando — Sabe que sou a maior incentivadora para que dê uma banana

para esse bando de fofoqueiros da cidade. Liberte-se do seu pai e vá viver

sua vida, mas não com alguém como Wyatt Gray. Com nenhum Gray, na
verdade. As mulheres que domaram e conseguiram se casar com os quatro

netos de Mary Grace são heroínas, porque todos eles, tirando Reed, só
viviam relacionamentos de poucas semanas. Não acho que seja o que está à

procura, meu bem.

De repente, me sinto mais desajeitada do que o normal e perco a


vontade de experimentar as roupas.

— Eu volto outro dia — falo para Adele cinco minutos depois, quando

já estou com minha saia abaixo dos joelhos e camisa abotoada até em cima.

Meu uniforme.
— Eu não quis magoá-la, Maribelle.

— Não me magoou. Eu mesma que me magoo o tempo todo, na

verdade, ao não ter coragem de me libertar da prisão que vivo dentro da


minha cabeça.
Capítulo 3

Eu entrei na loja por pura curiosidade, mas assim que avistei a beleza

loira, quis me dar os parabéns.


O abençoado estado do Texas está repleto de mulheres lindas,
principalmente nessa região, mas essa à minha frente poderia facilmente

receber o rótulo de deusa.


O vestido abraça suas curvas de uma maneira que faz minha imaginação

correr solta, tentando adivinhar como será a textura da pele dela sob meus
dedos quando eu agarrar aqueles quadris largos.

Ela não me nota, ainda. Está de frente para o espelho, erguendo os

cabelos e me dando uma visão do pescoço longo que me faz ter vontade de
mordê-la bem ali.
Com o movimento, a saia do vestido sobe, colando-se ainda mais na

bunda generosa.
Por mais que eu pudesse ficar aqui o resto da tarde admirando-a, não

sou um voyeur, e sim, um homem de ação.

Por que olhar se você pode tocar?


Antes que eu possa falar, entretanto, ela dá um giro em torno de si

mesma e de repente, estamos nos encarando.

A mulher é tão bonita de rosto quanto de corpo, mas de uma maneira


contrastante.

Se as coxas grossas, a bunda arrebitada e a cintura fina prometem o

paraíso para um homem, o rosto dela é tão inocente que se eu tivesse um


pouco menos de experiência, acreditaria que estou diante de uma virgem.

Sendo um cara vivido, sei que não há chance de que uma deusa daquela,
que eu chutaria estar no meio da casa dos vinte, continuar virgem, mesmo

em Grayland.

— É uma loja para mulheres — ela diz, e a voz soa trêmula, o que me

excita.

Não é incomum que as mulheres fiquem um pouco ansiosas perto de

mim, mas ao contrário do que estou acostumado, essa aqui parece estar
dando um aviso: afaste-se.
Deixo meu olhar percorrê-la inteira, o que costuma ser mais do que
suficiente para conseguir atingir meus objetivos.

— Deseja alguma coisa? — continua, parecendo imune à minha cobiça

descarada.

— Seu nome.

— Desculpe-me?

Ela não parece disposta a facilitar minha vida e aquilo me anima. Há


muito tempo não preciso me esforçar para conseguir uma mulher.

— Wyatt Gray, moça — falo, aproximando-me e oferecendo a mão em

cumprimento.

Agora é ela quem faz uma verificação completa do meu corpo e a julgar

pela vermelhidão de suas bochechas, gosta do que vê.

— Não vai se apresentar? — insisto.

— Maribelle Ann Davenport.


Por que será que continua arredia? É comprometida? Apesar de que isso

nunca impediu uma mulher de se jogar para mim.

Confiro se há alguma aliança. Nada.

Talvez ela apenas goste de jogar.

Sorrio, pensando que será ainda mais prazeroso dobrar essa beleza

relutante.
— E o que você vai fazer agora, além de continuar sendo linda,

Maribelle?
— Agora?

— Aham. Eu sou novo na cidade e talvez você pudesse vir até a minha
fazenda para me dar umas informações do que acontece de bom aqui.
Um convite mais explícito do que esse, impossível.

Geralmente não costumo levar as mulheres para a fazenda, e sim para


um apartamento que era de Callum quando solteiro. Depois que se casou

com Mackenzie, ficou meio que um lugar para encontros meu e de Bryce
com nossas companhias temporárias, mas algo me diz que a princesa

tímida aqui vai me dar mais trabalho do que qualquer outra que eu já tenha
conhecido, assim, a fazenda pode ajudá-la a ser convencida.
— Eu poderia dar a informação que precisa agora mesmo. Por que ir

para sua fazenda?


É, talvez eu esteja ficando enferrujado e precise dar uma revisada nas

minhas frases prontas.


Encaro-a, tentando entender o que há de errado.

Sim, porque ficou óbvio pela maneira como ela encara, que está sim,
bem interessada.
E então, a resposta vem mais rápido do que eu imaginava.
— Prontinho, viúva virgem. — Ouço uma voz de mulher dizer. —

Encontrei vestidos bem decentes para manter sua pureza intacta.


Virgem. Pureza.

Não custo nem dez segundos para entender.


Fico um pouco perdido com a parte do “viúva”, porque virgindade e

viuvez parecem duas coisas incompatíveis. Entretanto, a primeira já é mais


do que suficiente para me fazer correr para longe.
Maribelle, a linda, é o tipo de mulher de quem minha avó me disse para

ficar afastado.
— Tenham uma boa tarde, senhoras. — Toco o chapéu e saio da loja

sem olhar para trás.


Entro na minha caminhonete, mas apesar de saber que deveria esquecer
a loira, ainda não arranco com o carro.

Estou curioso sobre ela, então decido esperá-la sair, mesmo que todos os
meus instintos me digam que deveria ir para longe.

Cerca de cinco minutos depois, vejo-a na calçada.


Eu só a reconheço pela cor areia do cabelo porque pelas roupas que

veste agora, nunca adivinharia se tratar da mesma pessoa. Ela se parece


com alguém ao menos vinte anos mais velho, com uma saia longa e blusa
abotoada até o pescoço.
Ainda assim, há um suave balançar de seus quadris que faz minha
pulsação acelerar.
Pare de olhar. Não tem maneira disso acabar bem. A mulher não é só

virgem, é uma carola, ao que parece — uma voz avisa, mas eu me dou a

desculpa de que assim que ela sair com o carro — uma CRV[11] que já viu

dias melhores — vou embora.


Eu não preciso desse tipo de encrenca. Posso conseguir uma mulher
para essa noite com uma piscada de olhos, então por que diabos ainda estou

aqui?
Porque você nunca sentiu esse desejo insano por uma mulher — a

mesma voz continua.


Há algo diferente nela que eu não consigo identificar. Uma espécie de
fogo escondido por baixo da aparência de boa moça que mexe muito com a

minha libido.
Ela põe a mão na maçaneta do carro, mas como se pressentisse que está

sendo observada, antes de entrar, olha para trás.


Sei que não conseguirá me ver porque os vidros da minha picape são

escuros, mas ainda assim, seu olhar é tão intenso que sinto como se
soubesse que estou aqui.
Por fim, ela balança a cabeça de um lado para o outro e entra no

veículo.
Observo-a arrancar, as mãos pequenas firmes no volante. O rosto com
uma expressão triste.
Obrigo-me a me mover.

Não é problema meu. Maribelle é sem dúvida uma das mulheres mais
bonitas que já vi, mesmo nessa versão de matrona na qual saiu da loja, mas

ainda assim, não é o tipo que procuro.


Capítulo 4

— Hey, está tudo bem com você?

Ai, meu Deus! Eu não deveria ter ficado aqui. Agora vão comentar pela

cidade inteira que viram a viúva virgem chorando.


Seco as lágrimas disfarçadamente, ainda com a cabeça baixa no volante

e somente quando acho que estou um pouco melhor, olho para ver quem

falou comigo.

Quase morro de alívio quando noto que é Mackenzie Gray, a esposa de

Callum, que também vem a ser primo do motivo de eu ter ficado triste hoje.

Desço o vidro, meio sem jeito. Nós nos conhecemos de vista, apenas,
mas as esposas dos netos de dona Mary Grace são muito simpáticas. Até

mesmo a mulher do governador, Antonella, é super simples.


— Oi, Mackenzie.
— Nossa, que susto você me deu, Maribelle. Achei que estava passando

mal.

— Huh… não. Estou bem.

Ela me encara.

— Desculpe-me a sinceridade, mas você não parece nem um pouco

bem.
Sorrio.

— É, eu não estou bem, mas acho que me acostumei a esconder isso.

— Quer conversar?

— E o seu filho? Não tem que ir para casa?

— Não se preocupe com isso. Noah está com vovó Mary.

Olho para ela sem ter certeza do que fazer, mas decido que só dessa vez,

talvez seja bom desabafar.


— Vamos dar uma volta ali perto do rio? — pergunto.

— Vamos, sim.

Eu tinha estacionado perto de uma árvore do lado da estrada para esfriar

um pouco a cabeça. Depois que saí da loja, meu cérebro começou a dar um

nó. Não é a primeira vez que acontece e nem acredito que será a última.

Apesar de Adele ser bem legal comigo, tem seus próprios problemas para
cuidar do que lidar com minhas crises existenciais.
Saio do carro e começamos a andar em direção ao rio.

— E então, o que houve?


— Primeiro deixa eu te perguntar e palavra de honra que não estou

querendo ser grosseira: por que se preocupar com alguém que é


praticamente uma estranha?
— Porque eu sei como é se sentir solitária. Você conhece minha

história, né?
— Por alto, sim. Sei que seus pais morreram e você teve que cuidar

sozinha da sua irmãzinha, Blaire.


— E que fui morar com Callum — ela completa, rindo. — Estou

sabendo que a cidade inteira comentava. Aliás, a região inteira, né? Se a


gente dá um espirro aqui, alguém em Austin diz “saúde”.
Dou risada, já sentindo o coração mais leve.

— Vocês Gray são estranhos em um bom sentido.


— Não entendi.

— Ah, não se ofenda, mas é que quando alguém pensa em bilionários,


mesmo bilionários texanos, imagina-se narizes em pé. Eu cresci aqui em

Grayland e sei como dona Mary Grace criou os netos para tratarem todo
mundo como iguais, mas ainda assim vocês são pessoas simples.
— Primeiro, eu sou proletariado. Meu padrasto era capataz da fazenda

do irmão. Minha mãe, que Deus a tenha em um bom lugar, trabalhava em


qualquer coisa que garantisse dinheiro honesto para poder me criar sozinha.

Na minha cabeça, a única coisa que mudou depois que me casei com
Callum, é que estou do lado ao homem que eu amo.

— Sim, eu sei. Eles são uns sortudos, porque as esposas são incríveis.
— É, acho que podemos dizer que somos. Ainda mais que Reed se

livrou de Annamae, né?


Nós duas rimos alto porque aquela ali, só por Deus!
— Eu não deveria ter parado na beira da estrada. Poderiam ter

começado a inventar um monte de teorias para eu estar ali.


— Por que dá tanta importância ao que eles pensam, Maribelle?

— Hábito, eu acho. Sabe como meu pai é rigoroso, né?


— Todo mundo sabe. O que não entendo é porque ele não virou pastor
ou padre. O homem parece um santo.

— Sim, meu pai é perfeito. E é essa a razão, para não desapontá-lo, que
eu tomo cuidado com a língua comprida do povo.

— E como consegue viver assim? Perdoe-me se estou sendo indiscreta,


mas deve ser muito cansativo.

— Às vezes eu penso em ir embora — confesso. — Mas sei que nunca


poderia deixar a minha mãe.
— Soube que ela piorou — diz e a voz vai sumindo no fim.

— Sim, os médicos não acham que ela durará muito.


— Eu lamento tanto, Maribelle. Sei como é difícil. Às vezes eu me
pergunto o que é pior: perder nossa mãe como eu perdi, de repente, ou no
seu caso.

— Acho que ambas as maneiras são sofridas.


— Diga-me. Por que estava triste agora há pouco?

Paro de andar e a encaro.


— Já teve a sensação de que a vida está passando rápido demais e que
não viveu nada?

Ela dá de ombros.
— Eu conheci Callum com dezenove e engravidei em pouco tempo,

então, sim, tenho a sensação de que a vida está acelerada — ela ri —, mas
estou bem com isso.

— Ah, mas no seu caso, você está vivendo plenamente.


— E você não, né?
— Aham. O tempo todo eu sinto como se um dia fosse acordar e

perceber que estou com cinquenta e não aproveitei nada.


— É frequente? Essa sensação de tristeza, quero dizer.

— Alguns dias fico mais triste do que em outros — respondo, de


maneira evasiva.
De jeito nenhum vou contar para ela que quem desencadeou minha crise

de ansiedade dessa vez foi o primo gostosão ter fugido de mim igual o
diabo da cruz.
— Sei que aconselhar sobre problemas alheios é fácil e o que vou dizer
pode parecer idiota, mas apesar disso, é a verdade: só você pode

interromper esse processo. Estou falando sobre dar um basta e viver a vida
do jeito que acha que deve.

— Como assim?
— Quantos anos você tem?
— Vinte e sete.

— Onde se vê daqui a uma década?

— Não consigo fazer planos a longo prazo. Às vezes quero coisas


loucas, mas tenho a sensação de que nunca as realizarei porque logo acho

que vão falar de mim se eu fizer algo fora do que as pessoas acham correto.

— Os fofoqueiros que se danem, Maribelle. De que tipo de pecado

estamos tratando? — pergunta, sorrindo.


— Nossa, nem sei por onde começar. Tem tanta coisa que eu quero

fazer: ir a uma boate, conhecer um cara legal…

— Se casar?
— Provavelmente. Primeiro gostaria de aproveitar, mas meu pai

morreria se eu passasse de viúva virgem para devassa.

— E afinal, como surgiu esse apelido? Quero dizer, sei que ficou viúva
sem… huh…
— Fazer sexo. Isso mesmo. Bom, a história seria engraçada se não

envolvesse a morte do meu falecido. — Sentamo-nos em um tronco à beira


d’água. — Nosso casamento foi arranjado. Ele custearia o tratamento da

minha mãe, se eu o aceitasse como esposo. Eu não queria me casar, claro.

Ele era bem feioso e muito mais velho, mas como não tinha jeito, tentei ser
positiva. Pedi para Adele encomendar a lingerie mais bonita que

encontrasse.

— Nossa, que coragem.

— Coragem e curiosidade sobre sexo, também. Com vinte e quatro,


nunca tinha saído com um cara a não ser para dar uns poucos beijos e muito

escondido do meu pai. Passei desde os quinze cuidando da minha mãe para

que ele pudesse viajar a trabalho e nos sustentar, principalmente pelos


remédios dela, que são caros.

— E então?

— Nada.
— Como assim?

— Saí do banheiro na noite de núpcias de espartilho branco, sapato de

salto e cinta-liga. Lembro que ele arregalou os olhos e colocou a mão no

peito. Achei esquisito, mas fui em frente porque estava disposta a ter uma
noite daquelas. Tinha posto uma música lenta e comecei a dançar. Com

vergonha, mas louca para perder a virgindade.


— Ai, meu Deus. — Percebo que ela está fazendo força para não rir. —

Continue, por favor.

— A história depois disso é curta. Ele ficou de pé, esticou os braços


para mim, caiu no chão e no segundo seguinte, estava morto. Errei na

lingerie, eu acho.

Ela me olha e então explode em uma gargalhada.


Capítulo 5

— Desculpe-me — ela pede, secando as lágrimas de riso — Eu não

pude deixar de imaginar a cena. Você lá toda linda, sensualizando e o


homem… — mais risada — Ai, meu Deus, eu vou para o inferno quando

morrer porque eu não consigo parar de rir.

O riso dela acaba me contagiando e quando eu vejo estou gargalhando


tanto que minha barriga dói.

— Isso daria um ótimo livro, Maribelle. Aposto que minha escritora

favorita, M. Cabot Olson[12], criaria uma bela história em cima desse enredo.

— Quem é ela?
— Não sabe? A maior best seller de romance hot da atualidade.
— Eu bem que precisava ler algo “hot”.

— Qualquer mulher precisa, mas dada sua situação, não sei se seria
muito aconselhável. A não ser que queira mudar seu apelido para ex-viúva

virgem.

Balanço a cabeça.
— Você é engraçada, Mackenzie Gray.

— Eu não queria rir da sua história, Maribelle, mas é impossível.

— Vendo pelo lado de fora, realmente parece coisa de ficção, mas é só


minha vida azarada mesmo.

— Já faz quanto tempo que ficou viúva?

— Quase três anos. Eu vou falar algo que vai soar horrível e Deus sabe
que não é porque desejo a morte da minha mãe, mas sim porque ninguém

merece sofrer tanto e ela já vem nessa luta contra o câncer há doze anos.
Quando acha que está curada, aparece outro.

— Fale. Prometo não julgá-la.

— Quando tudo acabar… quando…

— Eu entendi. Quer dizer quando sua mãe finalmente descansar.

— Isso. Acho que irei embora.

— Para onde?
— Não faço a menor ideia, mas provavelmente para Dallas. Meu pai

disse outro dia que não se casará novamente. Acho que ele a ama demais e
jamais conseguirá colocar outra em seu lugar, entretanto, é a vida dele, né?
Eu preciso seguir meu caminho.

— Posso fazer uma pergunta?

— Pode, sim.

— É que você parece ter bom senso e alguns planos também. Por que

ainda não foi embora? Soube que ficou rica depois que seu marido faleceu.

— Mais ou menos rica.


— Como assim?

— Foi realmente deixado tudo em testamento para mim, mas ele

colocou uma cláusula em que eu não poderia me casar até os trinta, caso ele

morresse cedo. Se fizer isso, perderei o direito à herança.

— Então ele já sabia que poderia morrer?

— Tinha problemas cardíacos, segundo o legista. Então, sim, havia uma

possibilidade.
— Ele não tinha outros parentes?

— Não. Ficou tudo para mim mesmo, mas com essa cláusula.

— E como você se mantém? Por que não trabalha para cuidar da sua

mãe, né?

— Sim, eu recebo uma espécie de mesada do advogado. Meu pai que

está administrando o dinheiro. Eu não vejo nem a cor dele.


— O quê?
— Os remédios da minha mãe consomem tudo.

— Nossa, Maribelle, que vida. Eu não fazia ideia!


— O que eu faço, Mackenzie?

— Sobre o quê?
— Tudo. Eu quero crescer. Já têm mulheres na minha idade com marido
e filhos e eu não aproveitei nada.

— Eu não sou muito boa para dar conselhos. Sou direta demais.
— Pode falar, afinal, fui eu que perguntei.

— Certo, então vamos lá. Seu pai pode escolher o que quiser para a vida
dele, não para a sua. Por mais que o ame, não é justo esse tipo de

chantagem emocional que ele faz com você.


— Chantagem emocional?
— Ah, eu sabia que não deveria abrir a boca. Como bem lhe falei, sou

péssima para dar conselhos porque não consigo suavizar o que penso.
— Não, continue. Eu talvez precise ouvir isso.

— Não foi nada legal ele dizer que não vai se casar de novo. Aquele
ditado de que “o futuro a Deus pertence” é uma grande verdade. Ao dizer

aquilo, ele meio que estava chantageando você para que continue cuidando
da casa quando estiverem só vocês dois. Liberte-se. Ninguém vai fazer isso
por você. Se o seu pai a ama mesmo, não vai ser você fazer suas próprias

escolhas que diminuirá esse amor.


— Eu nem sei o que fazer.

— Disse que tem uma espécie de mesada. Já dá para começar a vida.


— Parece horrível ter planos para quando minha mãe morrer.

— Não é. Todo mundo precisa pensar no futuro. Se não for assim, se


não planejar, ficará o resto dos seus dias morando com seu pai.

— Vou pensar sobre isso. Muito obrigada por me ouvir. Eu estava me


sentindo tão mal.
— Aconteceu algo?

— Não acho que devo te contar.


— Por que não? Alguém tentou abusar de você?

— Não, mas hoje especificamente eu estava triste por conta de um


evento. Daqui a um mês tenho um casamento para ir.
— Eu sei. Da Averly e do Chance.

— Isso mesmo. Eu fui escolher um vestido na loja da Adele e estava


experimentando-o quando… huh… Wyatt Gray entrou.

— Ai, Jesus, não caiu na lábia dele, né? Aquele ali tem açúcar no corpo,
só pode.

— Não, nós mal interagimos, mas houve um certo clima…


Ela faz um gesto com a mão.
— Não me leve a mal, Maribelle, mas Wyatt consegue criar um clima

até com uma freira.


— Não duvido. Ele é lindo. Enfim, o que estou tentando dizer, é que ele
me paquerou, o que me fez entender que não sabia quem eu era.
— E você contou?

— Não precisei. Adele tinha saído para pegar umas roupas novas e
voltou naquela hora. Fez uma piada sobre meu apelido. Foi o suficiente

para que ele saísse quase correndo da loja.


— E ficou decepcionada?
Dou de ombros.

— Não sei. Tudo bem, mesmo sem conhecê-lo, ouvi falar que era um
mulherengo e não o tipo de cara que se assenta, mas caramba, o homem é

muito lindo. Eu me senti lisonjeada, mesmo que um pouco apavorada,


também, quando ele veio cheio de charme dizendo que queria que eu fosse

à fazenda dele para contar o que tinha de bom nas redondezas.


Ela cobre o rosto com as duas mãos.
— Ai, meu Deus. Ele nem usou uma cantada original.

— Verdade. Achei bem fraca, mas quem sou eu para julgar? Apesar de
que, com aquela aparência e voz de trovão, ele deve deixar as mulheres de

joelhos bambos sem qualquer esforço.


— Os seus, inclusive?
— Com certeza. Sou virgem, mas sinto curiosidade como qualquer

mulher normal. Em contrapartida, fez um mal danado para o meu ego


quando ele saiu correndo ao saber quem eu era.
— Acho que foi a parte do “virgem” e não do “viúva” em seu apelido o
que fez fugir. Wyatt pode ser um cafajeste, ciscando para todos os lados,

mas ele também é sobrinho-neto de Mary Grace e posso te garantir que


nenhuma das mulheres que ele leva para a cama vão iludidas. Ele não faz

promessas. É um jogo de iguais.


— Não é o tipo de homem para mim — concluo o óbvio.
— Não — diz quando chegamos perto dos nossos carros. — Maribelle,

eu quero que você saiba que pode contar comigo quando precisar desabafar.

Não está sozinha. Pode me ligar.


— Como? Você tem um filho e uma irmã para cuidar.

— E tenho um marido também que pode perfeitamente dar conta dos

dois quando necessário. Falando sério, fiquei preocupada quando te vi no

carro hoje e mais ainda com essa tristeza que senti em você.
— Acho que estou deprimida.

—Talvez esteja mesmo e precise procurar ajuda. Se não quer ir a um

psicólogo, saiba que tem em mim um ombro amigo.


Ela me abraça e eu me deixo ficar por uns segundos.

— Eu nem sei há quanto tempo não ganho um abraço.

— Como assim?
— Meu pai não é um homem carinhoso e minha mãe raramente está

acordada. — Seco uma lágrima fugitiva. — Obrigada de coração por ter me


ouvido.

— Me dá seu celular que vou colocar meu número.

Trocamos de aparelho e uma registra o da outra.


— Promete me ligar se estiver se sentindo só ou precisar de alguma

coisa?

— Palavra de honra que ligarei.


Capítulo 6

Depois que me despeço de Mackenzie e com o coração já bem mais

leve, decido fazer uma extravagância: comprar sorvete de chocolate.


Entro no minimercado já imaginando a maravilha que vai ser sentir a
delícia doce na minha língua.

— Boa tarde, Maribelle. Como vai a família? — o dono me

cumprimenta.
— Olá, senhor Lee. Todos bem, com a graça de Deus.

Eu posso vir aqui mil vezes e ele fará a mesma pergunta. Não acho que

queira mesmo saber, é mais como um complemento ao “olá” clássico aqui


do sul dos Estados Unidos.

— O que deseja hoje, menina?


Outra coisa que não vai mudar. Ele me chama assim desde quando eu

tinha nove anos de idade, quando abriu a loja.


— Sorvete de chocolate.

— Sorvete em um dia de semana? Achei que seu pai estava

economizando para os remédios da senhora Davenport.


Sinto meu estômago contrair. Era sobre isso o que eu estava

conversando com Mackenzie há pouco: morar em um lugar em que você

não pode nem mesmo escolher fazer uma extravagância culinária no meio
da semana que irão te julgar.

Em qualquer outro dia, eu teria recuado, quase me desculpando por um

desejo “tão proibido”, mas talvez por ter conversado com a esposa de
Callum, sinto-me mais corajosa.

— Sim, sorvete em dia de semana. Quanto às contas da farmácia, pode


ficar tranquilo. Estão todas em dia.

— Eu não quis ofendê-la, menina — diz, mas ele próprio parece

ofendido.

As pessoas são muito estranhas. Acham normal ditar regras para a vida

dos outros e quando levam um “chega para lá” ainda agem como se lhes

devêssemos desculpas.
— Não me senti ofendida. Agora se me der licença, vou atrás do meu

sorvete.
Ainda ouço-o resmungar quando saio para o corredor onde estão as
geladeiras de frios, mas ignoro-o porque estou orgulhosa demais de mim

mesma.

Depois de pegar não só um, como dois potes de sorvete de chocolate

com amêndoas açucaradas, me sinto a própria imagem da ousadia. Pago

sem dar mais conversa para o senhor Lee, porque estou sem paciência hoje

para essa intromissão mascarada de boas intenções dos cidadãos de


Grayland.

Entro no carro pensando que gostaria que mamãe estivesse acordada

quando eu chegar em casa. Raramente está, mas de repente me deu uma

vontade enorme de conversar com ela. Minha mãe era uma mulher alegre,

que vivia sorrindo. Parece tão injusto que termine a vida assim.

Estaciono na garagem, olhando a propriedade que já pertenceu aos meus

avós paternos.
Toda a casa precisa de uma reforma urgente e parece meio ridículo que

eu, sendo rica, tenha que esperar mais três anos até ter dinheiro para fazê-lo.

— Senhora Corliss, cheguei — chamo uma cuidadora que me ajuda

com a minha mãe quando preciso sair. Na verdade, ela é uma enfermeira

aposentada. — Senhora Corliss, só vou guardar esse sorvete no freezer e

então já poderá ir embora.


Nada, ainda.
Estranho o silêncio. Geralmente a essa hora ela está passando um café

ou então vendo televisão.


Sem que eu entenda a razão, meu coração dispara. A intuição me

dizendo que tem algo de errado.


Deixo a sacola sobre o balcão da cozinha e corro para o quarto de
mamãe no exato momento em que a enfermeira está entrando no corredor.

Eu não preciso que me diga nada porque sei, só de observar o rosto


dela, que mamãe se foi.

Sinto minhas pernas perderem as forças e quando vejo, estou sentada no


chão.

— Quando?
Ela se abaixa na minha frente.
— Há cerca de quinze minutos. Aconteceu sem aviso, Maribelle.

Sabíamos que ela estava partindo e sei que vai parecer cruel falar isso, mas
Loretta descansou. Mais de uma década de sofrimento, meu bem.

— Eu nem me despedi.
— Você se despediu ao longo dos últimos doze anos. Foi a melhor filha

que uma mãe poderia desejar.


— Eu quero vê-la.
— Sim, eu sei. Já chamei o médico para confirmar o falecimento da

nossa adorada Loretta, entretanto, não consigo encontrar seu pai em lugar
algum.

— Como assim? — pergunto, já andando para o quarto. — A essa hora


ele já deveria estar chegando para o jantar. Disse-me ontem que não iria

para longe de Grayland.


— Pois é, mas o celular está desligado, porque cai direto na caixa

postal.
— Continue tentando, por favor. Agora, eu quero ver minha mãe.
Eu me sinto meio perdida, enquanto abro a porta do quarto.

A luz do abajur está acesa, apesar de ainda não ter escurecido.


Atualmente, minha mãe preferia ficar com as cortinas fechadas porque tudo

a incomodava.
Nada parece fora do lugar. Repousa serena na cama de hospital que
alugamos para que ficasse mais confortável, já que ela reclina.

Eu ando devagar para perto da pessoa que mais amo no mundo. Por
mais que adore meu pai, não chega nem perto do que minha mãe é para

mim.
Há meses eu venho me preparando para esse momento, mas ainda

assim, é muito difícil aceitar que está na hora do adeus.


— Eu deveria ser uma filha melhor, mãe. — Sento-me na beirada da
cama e seguro a mão dela. — Talvez devesse orar a Deus nesse momento
por finalmente lhe dar a paz que você merece, mas não consigo porque sou
egoísta e vou morrer de saudade.
Inclino-me, me deitando sobre ela e deixo as lágrimas que eu represo

desde os quinze anos virem à tona.


Eu não sou uma pessoa de lágrimas. Escondo-me entre sorrisos falsos

para que todos pensem que estou bem, mas nesse momento a única coisa
que eu quero é poder sofrer minha dor.
Eu não sei quanto tempo se passa até que a porta se abra e a senhora

Corliss entre no quarto.


Não me mexo. Não quero me separar dela porque sei que essa será a

última vez que estaremos assim.


— Maribelle, o médico chegou, meu amor.

— Eu já vou sair.
— Filha, eu sinto muito, mas nós precisamos conversar.
Algo em seu tom me põe em alerta.

— O que aconteceu? — Sinto minhas entranhas retorcerem. — Meu


pai?

Não, Deus não faria isso comigo.


— Sim, mas não é o que está pensando. Ele foi preso.
— O quê?
— Podemos sair daqui? Não parece certo lhe contar isso na frente de
Loretta.
— Disse que meu pai foi preso? — pergunto enquanto a acompanho

para fora do quarto.


— Sim. Eu não sei como lhe contar isso, então farei da única maneira

possível: falando a verdade. A polícia acaba de telefonar. Aparentemente,

houve um assalto em um motel[13] em Dallas e todos os… hum… hóspedes

que estavam lá no momento foram feitos reféns. Seu pai era um deles.
Sinto meu estômago revirar, bile subindo à minha garganta.

— Ele estava em um motel? Fazendo o quê?

Sei que minha mente está tentando encontrar uma alternativa para o

óbvio, mas a situação é tão nojenta que eu não consigo acreditar.


— Com uma mulher — diz, com o rosto vermelho e confirmando

minha desconfiança. — Mas esse não é o único problema. A moça com

quem estava, uma garota de programa, era menor de idade. A polícia


invadiu o local para libertar os reféns, mas achou que ela, a acompanhante

do seu pai, tinha aparência muito jovem e pediu os documentos. Ela só

tinha dezesseis, então, ele foi preso.


Capítulo 7

No d ia segu in t e

— Ah, não, cowboy! Por que vai embora tão cedo? — a ruiva nua me

olha da cama enquanto visto meu jeans.

Não é a primeira vez que saio com ela, mas ontem, quando me

telefonou, disse que tinha uma surpresa.

— Já fugindo de nós? — a “surpresa” morena pergunta.

Tanya, a ruiva, convidou uma amiga para brincar conosco.


Por incrível que pareça, dado o meu histórico, foi meu primeiro trio e

posso dizer que consigo viver perfeitamente sem isso.


As duas são gostosas, mas aprecio sexo bem-feito e não uma
competição para ver quem geme mais alto. Tive a sensação de que alguém

ficou sem atenção parte da noite.

Não há instrumento suficiente para acoplar nos encaixes e eu gosto de

cuidar de cada uma das partes do corpo de uma mulher.

Foi divertido, mas não tenho qualquer intenção de repetir a dose.

— Eu preciso trabalhar, senhoras, mas antes devo dizer que foi um


prazer imenso passar a noite em tão deliciosa companhia.

Como eu esperava, elas riem. Ambas são muito bonitas, mas de uma

maneira que eu já encontrei milhares de vezes pelo caminho. Nada que faça

minha pulsação acelerar como a virgem proibida que anda rondando minha

mente nos horários mais inapropriados desde que saí da loja, ontem. Como

agora, por exemplo, em que penso que se fosse Maribelle na cama, eu

poderia perfeitamente tirar o dia de folga.


— Quando vamos nos ver novamente? — a morena, que eu não

lembraria o nome nem se disso dependesse a salvação da minha vida,

pergunta.

— Tenho o telefone de Tanya. Eu entro em contato.

Coloco meu chapéu e saio antes que tenham tempo de argumentar. Não

costumo dar falsa esperança, mas me pareceu errado dizer “nunca mais”
depois de uma noite em claro regado a sexo de relativa qualidade.
Dessa vez, não estou no apartamento de Callum, mas no de Tanya, o

que foi uma boa pedida. Como iria me livrar delas se o lugar fosse meu?
No caminho para o veículo, três garotas que parecem não ter saído do

segundo grau ainda passam por mim sorrindo, mas eu as ignoro.


Gosto de mulheres, não de meninas. Adolescentes não me fazem virar o
pescoço para olhar.

O meu celular toca e quando olho, vejo que é Mary Grace.


É muito cedo para ela me ligar, então só pode ter acontecido alguma

coisa.
— Oi, vó. Está tudo bem?

— Wyatt, meu filho, eu preciso de um favor.


— Qualquer coisa.
— Faleceu uma conhecida minha e estou indo a um velório. Será que

poderia vir para a Império Gray? Estou fechando a negociação para a


compra de uns cavalos e não quero deixar na mão do capataz apenas.

Gosto de eu mesma verificar, mas preciso ir ver a filha da falecida, que está
sozinha.

— Quanto tempo eu tenho até chegar aí? — pergunto, já tentando me


lembrar se há alguma roupa extra na caminhonete.
Estou cheirando a sexo e minha avó não é boba. A última coisa que

preciso é de um sermão antes de tomar uma xícara de café da manhã.


— O mais rápido possível.

— Tudo bem. Acho que consigo chegar em menos de uma hora.


Quarenta e cinco minutos depois, saio do rio gelado, batendo queixo,

mas sem o cheiro de foda recente no corpo.


Estou ficando velho para esse tipo de merda.

Por que no inferno não tomei banho no apartamento de Tanya?


Eu sei a resposta. Não gosto de acordar ao lado da mulher com quem eu
saio porque isso pode dar uma impressão errada de que algo mais do que

sexo vá acontecer. Só passei a noite mesmo por conta da intensa atividade a


três.

Seco-me com a camisa usada e visto um jeans limpo sem cueca. Pego
outra camiseta que costumo deixar para uma emergência e coloco com o
corpo ainda úmido.

Somente então, me sentindo relativamente preparado para encontrar


Mary Grace, sigo para a Império Gray.
— Pode ir tranquila, vó — digo, dando um beijo na bochecha dela,
minutos depois.
— Está com o cabelo molhado. Não daria para já ter secado da sua

fazenda até aqui?

— Não vim da Golden Valley[14].

— Hum…
Tusso para disfarçar o constrangimento.
— Quem morreu foi alguém próximo?

— Todo mundo é próximo em Grayland, Wyatt. Não aprendeu isso


ainda? Mas nesse caso em particular, foi uma boa alma que já vinha

sofrendo há mais de uma década. Ela finalmente descansou.


Não sei o que dizer. Sou uma merda quando se trata de consolar em
situações como essa. Na verdade, eu fujo de intimidade, até mesmo com os

meus familiares.
— A que horas chega o vendedor?

— Em cerca de trinta minutos. Eu não sei quando voltarei porque não


posso deixar a filha de Loretta sozinha. Preciso me assegurar de que terá

tudo o que precisa se os boatos que estão correndo forem verdade.


— Boatos?
— O pai dela foi preso no mesmo dia em que a mãe morreu.

— Cara… ramba! — conserto rápido. — Que azar.


— Não foi azar, e sim, falta de vergonha na cara da parte dele, mas
quem sou eu para julgar? — fala, sem explicar o porquê disse aquilo — Vou
deixar que ele acerte as contas com o criador.

— Explique-me sobre os cavalos que deseja comprar — mudo de


assunto porque não estou nem um pouco interessado em fofocas de

Grayland.
Dez minutos depois, ela se despede com a recomendação de que a
espere voltar para contar como foi a compra.

Coitado do vendedor que tiver Mary Grace como adversária. Mesmo

com a idade, ainda é implacável.


Pego o celular para ligar para meu administrador porque sei que o dia

está perdido. Não há maneira que eu vá conseguir trabalhar hoje, a não ser

para resolver problemas remotos.

— Tex, não vou para a Golden Valley. Estou na Império Gray. Se surgir
algum imprevisto, sabe onde me encontrar.

— Está tudo sob controle, Wyatt. Espero que não tenha acontecido

nada à senhora Mary.


— Não, minha avó está bem. Parece que morreu uma conhecida dela e

teve que ir ao velório.

— Sim, Loretta Davenport, que Deus tenha piedade daquela alma


sofrida.
— Quem?

— É uma mulher que já luta contra o câncer há vários anos. A filha,


Maribelle, cuida dela.

Foda-me!

— Maribelle Ann?
— Conhece?

— Por alto.

— Sim. Maribelle é uma santa. Ótima moça, embora meio azarada.

Em qualquer outra situação, eu o teria cortado, mas fico curioso para


saber do que está falando.

— Por quê?

— Era conhecida como santinha. Desconfio que até mesmo acabasse


virando freira, no fim, mas há alguns anos o pai arranjou um casamento

com um homem da idade dele. Para tornar curta uma história longa, o

marido dela morreu antes de consumar o enlace. Agora a chamam de a


viúva virgem.

Não pergunte — a voz avisa, mas eu a ignoro.

— Como sabe que não consumaram o casamento?

— Foi a própria Maribelle quem contou quando o paramédico lhe


perguntou o que havia acontecido. Parece que ao ver a esposa de lingerie,

o velho Tilbot não aguentou a emoção e bateu as botas.


— E ela não teve mais ninguém?

— Certeza de que não. O pai mantém vigilância acirrada e além do

mais, era Maribelle quem cuidava da mãe. Dá para acreditar nisso? Linda
daquele jeito e intocada?
Capítulo 8

— Eu nem sei como agradecer por você ter vindo — falo baixinho
para Mackenzie. — Estou me sentindo sufocar.

— Crise de ansiedade?

— Acho que sim.

— Vem cá — ela se levanta da cadeira e me oferece a mão —,

vamos um pouquinho lá fora.

Primeiro penso o que as pessoas acharão por eu sair de perto do

caixão onde o corpo da minha mãe está sendo velado, mas depois resolvo
dar um “dane-se” ao mundo.
Ninguém tem ideia do quanto eu estou sofrendo e se querem me
julgar, problema deles.

— Onde está seu pai? — pergunta, quando chegamos ao jardim.

Olho para o chão enquanto caminhamos.

Ontem eu fiquei completamente perdida. Não sabia o que fazer


primeiro.

Ver os bombeiros levando o corpo da minha mãe foi a coisa mais

difícil que eu já vivi. Eu me senti muito sozinha, mais ainda do que o

normal.

Depois, ainda tive que lidar com o que a senhora Corliss havia me
contado: meu pai foi preso por fazer sexo com uma menor de idade.

Eu nem sei o que é mais horrível, se o ato em si, o abuso contra uma

garota, quase uma criança, por parte de um homem que sempre agiu como

um rei da moralidade — sim, porque não importa se com dezesseis anos o


estado diga que se tem idade legal para consentir o sexo, ainda assim é

muito nova — ou se ele estar traindo a minha mãe.

— Ele deve chegar a qualquer momento — falo.

Não chorei mais desde que me despedi da minha mãe, mas de


repente, dizer aquilo me faz entender que em pouco tempo estarei cara a
cara com ele. O homem que passou de meu herói a um canalha em um

piscar de olhos.

Um pranto forte, uma sensação de dor no peito me atinge e eu a

abraço de forma inesperada.

Ontem ele ainda teve a cara de pau de pedir que eu telefonasse para

um advogado para ir soltá-lo. Eu estava com tanta raiva que quase me


neguei a fazer aquilo, mas pensei na minha mãe que, apesar de tudo, o

amava e gostaria que o infeliz fosse se despedir.

— Ele a traía — digo.

— O quê?

— Meu pai estava traindo mamãe há anos, desde antes dela adoecer.

— Isso foi a razão dele ter sido preso?

Agora é minha vez de ficar espantada.

— Como pode saber dessa história?

Ela seca minhas lágrimas.

— Os Gray não são donos apenas de Grayland, Maribelle, são de

todo o Texas. Não é à toa que Hudson[15] tem aquele apelido. Se um dos
cidadãos daqui é preso ou está envolvido em alguma encrenca, avisam ao
meu cunhado. Ele ligou para Mary Grace hoje cedo. Quando viemos para

cá, já sabíamos de tudo.

— Ai, Jesus, que vergonha!

— Não fique, pois não foi você quem fez algo errado. Eu não sei
direito o que aconteceu, apenas que foi preso em um motel…

— Sim, como eu estava dizendo, ele traía minha mãe e não era com
mulheres, era com meninas.

Conto para ela rapidamente sobre o que sei: o assalto no motel e em


seguida a prisão de papai, porque o pegaram em flagrante com uma menor.

— Ele enganava Loretta! — ela diz, balançando a cabeça de um


lado para o outro com incredulidade. — Se falassem de qualquer homem na

cidade, tirando Callum e meus cunhados, eu acreditaria que estava traindo a


esposa, mas seu pai, nunca.

— Ele me ligou pedindo para ajudá-lo com um advogado. Eu fiz


pela minha mãe, porque por mim, deixava-o lá, mesmo.

— Teria coragem?

— Sim, teria. Eu estou com nojo dele. Não faz ideia do que passei
todos esses anos, Mackenzie. Tudo era pecado e proibido na minha casa.
Roupas curtas, shorts, biquíni. Cresci praticamente como uma freira.
Aprendi que se deve honrar a família, o esposo. Respeitar pai e mãe, mas
nesse tempo todo, ele estava nos enganando. Levando uma vida dupla.

— Meu Deus! — Ela põe as duas mãos no rosto. — Mas como sabe

que ele a traía por anos?

— Depois que desligamos, fui ao quartinho que ele usa como


escritório e que fica trancado. Eu estava furiosa, Mackenzie. Minha mãe
tinha acabado de morrer, sozinha, sem mim ou o marido do lado dela e

enquanto estava dando o último suspiro, ele farreava em um motel com uma
garota.

— Eu nem sei o que dizer, Maribelle.

— Minha cabeça está uma confusão, mas se tem algo que eu tenho

certeza, é que preciso ir embora de casa.

— Como assim, amor? Ir embora para onde? — Ela coloca uma

mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Olha, eu entendo sua revolta e, no


seu lugar, também não aguentaria nem olhar para a cara dele, mas o mundo
fora de casa, até mesmo fora de Grayland, pode ser bem perigoso.

— Eu sei. Acha que não estou com medo? Entretanto, não

conseguirei mais morar com ele. Chega. Fui uma boa filha, disso eu tenho
certeza, mas a única pessoa que merecia meu amor era mamãe. Do tempo
que passamos juntas, não me arrependo de nada. Com relação a ele, é outra
questão.

— Disse que foi ao quartinho que servia de escritório para ele. O

que encontrou lá?

— Lingeries e fotografias das donas delas.

— Meu Senhor!

— Sim, garotas em poses sexies, que provavelmente foram

fotografadas por ele. As fotos tinham datas de quando eu ainda era pequena.
Ele sempre a traiu, mesmo antes da doença. Dentro de casa, no entanto, era

super rigoroso. Só compramos uma televisão há pouco tempo!

Ela me encara e parece estar se segurando para dizer algo.

— Você disfarça mal — aviso.

— É que, como eu lhe disse naquele dia, não sou o tipo de pessoa

mais delicada do mundo para falar. Eu e Callum somos almas gêmeas até

mesmo nesse ponto, então fico com receio de pular da sinceridade para a
grosseria.

— Fui eu quem começou o desabafo, Mackenzie.

— Okay, então. Depois de tudo o que me contou, eu entendo que

seu pai, com o perdão antecipado do termo, mas não conheço outro que
possa defini-lo, é um babaca. Isso dito, porém, você não é um bebê, e sim,

uma mulher de vinte e sete anos.

Dói ouvir aquilo, porque acho que sei mais ou menos onde ela quer

chegar.

— Continue, por favor.

— Foi cômodo ficar sentada e esperar que ele decidisse sua vida.
Não me leve a mal, no começo, quando ainda era uma adolescente e até

mesmo quando se casou, tinha essa desculpa de ter sido dominada por ele,

mas a partir do momento em que ficou viúva, não importa que destinasse
toda a pensão deixada por seu marido ao tratamento de sua mãe, poderia ter

conseguido um emprego e dito a ele que era você quem mandava no próprio

nariz.

— Pensei nisso centenas de vezes, mas não sabia como fazer.

— Eu entendo, mas acho que a culpa de ter sua vida controlada pelo

seu pai, foi sua, também. Ninguém faz nada conosco sem que a gente

permita.

— O que eu faço, agora?

— O que já deveria ter feito há tempos: liberte-se dele. Além de ser

um trapaceiro, o que, no meu mundo, é imperdoável, usou do seu amor


filial para que ficasse cuidando de sua mãe enquanto ele farreava. Seu pai,

pelo que está me contando, é um ser humano tóxico, Maribelle. Esse tipo de

pessoa existe em vários níveis de nossa vida. Fingem-se de boazinhas,


perfeitas, quando por dentro, têm um coração onde a maldade reina. Eu

acho que…

Ela se interrompe e olha para algum ponto atrás de mim. Logo em

seguida, ouço uma voz dizer:

— Maribelle, o que está fazendo aqui fora? Deveria ficar o tempo


todo velando o corpo da minha amada Loretta!

Antes mesmo de me virar, sinto meu sangue ferver e raiva se

espalhando por cada célula do meu corpo.


Capítulo 9

Eu não respondo imediatamente porque apesar de tudo, não quero

causar um escândalo. Não por ele, mas em respeito à alma da minha mãe.
Mackenzie segura meu antebraço como se pressentisse que preciso de
apoio. Só que não é do tipo que ela imagina. Pela primeira vez em anos, não

me sinto mais impotente ou receosa de fazer ou dizer a coisa errada diante


do meu pai.

A única coisa que vejo quando o encaro, é um traidor.


Um homem que pregava moralidade, mas que nos enganou — a mim e

a minha mãe.

— E o senhor deveria estar ao lado dela quando finalmente descansou,


pai, no entanto, ambos sabemos que não foi isso o que aconteceu.
— Não temos que conversar sobre o inconveniente da noite passada

nesse instante.
Ele olha para Mackenzie, parecendo nervoso, como querendo que eu me

cale, só que agora eu abri a porteira e não vou conseguir ficar quieta.

— Com o termo inconveniente o senhor quer dizer ter sido pego em


flagrante com uma menor em um motel?

O rosto dele se transfigura em ira, ao mesmo tempo em que levanta a

mão como se fosse me dar um tapa.


Fico em choque e não consigo me mexer. Fui criada com muito rigor,

mas nunca apanhei.

Antes que ele possa concluir o movimento, entretanto, Mackenzie se


interpõe entre nós dois.

— Não se atreva. Encoste um dedo nela e eu juro por Deus que a prisão
de ontem vai parecer brincadeira de criança. Farei com que a cidade inteira

saiba o que você estava fazendo com a menor de idade.

Ele empalidece e depois, recua.

— Desde quando é amiga dos Gray, Maribelle? Não é o tipo de gente

com quem deveria andar. Na maior parte, são pessoas de bem, mas têm

alguns elementos da família com péssima reputação.


Respiro fundo tentando manter o controle.
— Faça um favor a nós dois, pai. Vá lá dentro se despedir da minha
mãe. Apesar de quem você é, ela o amava. Só dou graças a Deus que ela

tenha partido sem descobrir o tipo de traidor com quem dividiu a vida.

— Foi uma escorregada. Eu me senti solitário. Loretta estava doente há

muitos anos.

— Pare. Eu sei que está mentindo. Entrei no seu escritório e vi sua

“coleção” de fotos e lingeries. Você a traía desde que eu era uma criança. E
mesmo que o que disse fosse verdade, que foi uma vez só, não seria

justificativa. Pedisse o divórcio. Nós nos viraríamos bem sem o senhor. Até

porque, olhando para trás, vivemos sozinhas a vida inteira. Só voltava aos

fins de semana com a desculpa de que estava viajando a trabalho.

— Não seja atrevida, garota. Não pode falar assim comigo. Sou seu pai.

— Não. Para mim, você é um mentiroso. Um falso moralista que

roubou anos da minha vida. Entretanto, Mackenzie me disse algo hoje que
me fez pensar: ninguém faz nada conosco sem que a gente permita. Eu

deixei que o senhor me tratasse como uma boneca de corda por toda minha

existência, mas isso acaba hoje. Não vou voltar para casa e a partir de

agora, sou eu quem vai sacar a pensão que meu falecido marido deixou para

mim.

— O quê? Não pode fazer isso!


— Por que, não? Segundo me dizia, a pensão era somente para pagar os

remédios da mamãe e a cuidadora. Ou não era?


Ele não responde e eu consigo ver a verdade em seu rosto.

Deus, como pude não perceber antes? Como me deixei enganar desse
jeito?
Mackenzie estava certa. Eu me acomodei. É fácil fechar os olhos e dizer

que não estamos vivendo por culpa de alguém, mas apesar de sim, ele ser
responsável pela maneira como fui criada, Deus me deu um cérebro. Eu

deveria ter dado um basta nessa situação antes. Poderia ter continuado a
cuidar da minha mãe sem me submeter aos desmandos dele.

— Vai sair de casa e morará onde? — ele pergunta, com ironia e eu


estremeço. Não pensei nessa parte ainda, mas prefiro morrer a admitir.
— Ela será bem-vinda na Império Gray. — Ouço a voz de Mary Grace

dizer ao se aproximar de nós. — Maribelle poderá ficar comigo por quanto


tempo precisar. Eu entendo que ela não queira respirar o mesmo ar que o

homem que enganou a mãe dela mesmo no dia em que Loretta faleceu. —
Ela se vira para mim. — Agora, vamos entrar, minha filha. Mais meia hora

e poderemos enterrar sua mãezinha e dar a ela o descanso que merece.


Depois, iremos até a sua casa fazer uma mala.
Mackenzie seguiu para a fazenda dela e me fez prometer que telefonaria
se precisasse de algo.
Eu pouco falei desde o caminho da minha casa até a fazenda Império

Gray e dou graças a Deus por Mary Grace ser tão compreensiva e não
insistir em puxar assunto.

Não sinto vontade de interagir hoje, e sim, de tirar um tempo para


pensar em tudo o que aconteceu. Tanto o falecimento da minha mãe, quanto

a descoberta de que a minha vida toda foi uma mentira.


Eu ainda não acredito que tive coragem de confrontar meu pai.
Depois do que Mary Grace lhe disse, ele entrou no velório e passou o

tempo todo sem fazer contato visual comigo.


No enterro, abaixou-se perto do caixão e eu não tenho certeza se foi

mais uma de suas encenações ou se realmente lamentava a morte dela.


Não importa. Nunca poderei perdoá-lo pelas traições. E muito além

disso, jamais me esquecerei do quanto desperdicei minha vida para seguir


os preceitos hipócritas dele.
— Não precisa processar tudo de uma vez em sua mente, minha filha —
Mary Grace fala.
— Eu sei. Nem acho que conseguiria, para ser sincera, só estou tentando

entender por que ele não pediu o divórcio ao invés de ficar enganando-a.
— Provavelmente para manter as aparências.

— Como alguém consegue mentir tanto a vida toda?


— Realmente é inacreditável que ele tenha conseguido manter a
máscara por tanto tempo.

— A não ser pela noite passada.


— Sim. Enfim, o que estou tentando dizer, é que não precisa correr para

aliviar seu coração. Falei sério. Tenho uma casa de hóspedes na qual ficará

bem acomodada. Quem a estava usando era Fleur[16], uma menina que me
pediram para tomar conta durante um tempo, mas no mês passado ela

decidiu que iria embora.


— Eu soube que uma moça veio morar com a senhora. Não quero ser

indiscreta, mas era uma das que foram resgatadas daquela seita[17], não é?
— Sim. Um doce de menina, mas muito quebrada. No fim, resolveu
seguir o mesmo caminho das outras e procurar a instituição Confiar Outra

Vez[18].
— Eu não consegui ler todas as notícias nos jornais porque me

embrulharam o estômago, mas com o pouco que vi fiquei muito chocada.


Não imagino como alguém possa atravessar esse tipo de inferno, com anos
de abuso e no fim de tudo, seguir em frente.
— O ser humano é resiliente, filha. Nossa mente é muito mais forte do

que nosso corpo. É certo que nem todos conseguiriam lidar com aquilo, mas
se eu pudesse fazer uma aposta, diria que Fleur vai se sair bem. Ela só

precisa de mais tempo para se recuperar. Provavelmente muita terapia


também.
— E eu?

— O que tem você?

— Acha que preciso de terapia?


— Talvez. Você é uma mulher na certidão de nascimento, mas uma

menina dentro da sua mente. Acho que está na hora de amadurecer,

Maribelle. Não deixe o que seu pai lhe fez determinar seu futuro. Comece

do zero. Teste a vida. Teste-se. Não precisa dar passos largos. Viver é uma
maratona, não uma corrida de curta distância.

— Eu nem sei o que fazer primeiro...

— Pode ficar aqui o tempo que quiser e não terá despesas — abro a
boca para protestar, mas ela me interrompe com um gesto de mão —,

porém, acho que precisa se sentir independente financeiramente, então a

primeira coisa que eu faria seria procurar um advogado e ver essa situação
da pensão que seu marido lhe deixou. Tenho vários que trabalham para nós

e se quiser, posso marcar uma consulta.


— Faria isso?

— Com certeza, menina. Sua mãe era uma boa alma e quero que ela

tenha o descanso eterno. Vou contribuir ajudando você a encontrar um rumo


na vida.
Capítulo 10

F azen d a Imp ério G ray

Ouço vozes na entrada da casa e reconheço uma delas como a da


minha avó, então saio da cozinha, onde acabei de comer um sanduíche e

vou ao encontro de Mary Grace.

Não estou preparado para o que me espera: Maribelle, a linda, está

com ela.
Usa o mesmo tipo de roupa com a qual saiu da loja ontem, mas

dessa vez, toda de preto por conta do enterro da mãe.

Como consegue me fazer sentir tesão, mesmo vestida com um

vestido disforme e ao menos uns dois tamanhos maiores que seu corpo, eu

nunca vou entender.

Ela caminha de cabeça baixa, quase arrastando os pés, mas de


repente, ergue o rosto e me encara.

Tento desviar, mas não consigo. Tem algo nela que me prende,

fazendo com que eu deseje olhá-la mais e mais.

Sinto o desejo emergir, mesmo sabendo que a ideia é ridícula. Ainda


que Maribelle não fosse quem é — totalmente inadequada para mim — a

garota acaba de vir do enterro da mãe.

Sou um mulherengo assumido, mas não um canalha. Nesse caso em

particular, porém, não é algo que eu possa controlar. Maribelle é

absurdamente feminina, mesmo vestida com as roupas mais feias que já vi


na vida.

Ela move a cabeça de um lado para o outro, como se fizesse que

“não” para si mesma e acho que é um ato inconsciente.


Observo-a molhar os lábios e fico fascinado com a língua rosada,
meu pau muito a fim de senti-la nele. Maribelle tem lábios tentadores e

pensar em ensiná-la a me dar prazer faz minha pulsação acelerar.

Quase que imitando o gesto, balanço minha cabeça de um lado para

o outro, tentando clarear as ideias.

Ela não é o tipo de mulher para mim, é daquelas que tem a palavra

“compromisso” escrita na testa, o que é totalmente na contramão do que

procuro ou desejo.

Obrigo-me a encarar minha avó e quando o faço, sei que estou

encrencado.

— Wyatt, essa é Maribelle. Como eu lhe disse pela manhã, a mãe

dela acaba de falecer — enfatiza essa última parte da frase, como se fosse

um aviso. — Ela passará um tempo aqui comigo até que consiga se ajustar.

Foda-me!

As visitas a Mary Grace estão definitivamente suspensas.

— Maribelle, meu doce, esse aqui é o meu sobrinho-neto do

Wyoming, Wyatt Gray.

Ela somente acena com a cabeça, mas não sorri para mim como as
mulheres costumam fazer e atribuo isso ao luto — sim, meu ego é
alimentado em uma base diária, então sei mais ou menos quais reações

esperar do sexo feminino.

— Sinto muito pela sua perda, senhorita.

— Obrigada — fala rapidamente, desviando o olhar.

— Maribelle, minha filha, porque não vai até a cozinha pegar uma

caneca de chá para si? Não comeu nada desde cedo, segundo Mackenzie me
disse. Com certeza há alguém lá para servi-la. É só seguir em linha reta por

aquele corredor.

Mary espera-a sair e assim que Maribelle está fora do nosso alcance,

diz à queima-roupa:

— Nem pensar.

— O quê?

— Eu vi o jeito que olhou para ela, Wyatt Gray. Aquela roupa que

Maribelle estava vestindo representa o que ela é: pura e inocente. De jeito


nenhum vai fazer da garota mais uma de suas conquistas.

— Eu não sei do que está falando, vó. — Disfarço.

— Não se faça de desentendido, menino. Quando você estava

colhendo o trigo, eu já era dona de uma rede de padarias.


Coloco meu chapéu, louco para me despedir.

— O dono dos cavalos adiou a negociação. Parece que teve um


problema com um dos animais e vai telefonar para lhe perguntar se você

tem interesse em substituir por outro.

— Wyatt…

— Quanto a essa outra questão, fique tranquila, dona Mary Grace.


Não há nada na garota que desperte meu interesse. Santinhas não me

agradam.

Saio antes que ela perceba a mentira, embora parte do que eu falei

seja verdade. Nunca fui despertado pelo tipo “carola”. Roupa e vergonha
demais são duas coisas das quais eu fujo.

O problema é que eu vi algo naqueles olhos inocentes, um traço de


selvageria contida, uma sensualidade nata que me deixou com tesão. E não

o tipo de tesão: quero transar com você e sim daquele vou te trancar em um
quarto por uma semana e te virar do avesso.

Devo estar ficando louco, porra.

A melhor coisa a fazer é me manter a milhas de distância de

Maribelle e deixar que continue virgem até que algum sortudo case-se com
ela e a faça dele.
Sim, porque se ela é virgem até agora, com certeza está ansiando
pelo conto de fadas.

Com tudo isso em mente, então por que no inferno não consigo

esquecer a voz rouca dela? Por que mesmo sabendo que seria uma roubada,
tenho vontade de enroscar os dedos nos cabelos longos e cheios e comer

aquela boca, explorando-a com a minha língua?

Os sinais — uma voz avisa.

Sou experiente e por mais sem vivência que Maribelle possa ser, a
intuição me diz que ela é uma delícia.

Há algo na mulher que não me permitiu tirar os olhos dela nas duas
vezes em que nos encontramos.

Entro na picape, determinado a só falar com Mary Grace por


telefone durante todo o tempo em que Maribelle estiver hospedada na

Império Gray. Sei que, caso o contrário, vou acabar cedendo à tentação e o
resultado será desastroso.

Não quero partir o coração de uma virgem e além disso, não quero a
ira da minha avó, assim como de todas as mulheres da família, em cima de

mim.
O que não falta pelo Texas são mulheres dispostas a se divertir sem
que isso vá levar a um compromisso — digo a mim mesmo, enquanto dou a
partida no carro —, mas ainda nesse instante, tudo o que vejo são aqueles

olhos lindos que contêm uma mistura de pureza e curiosidade.

De jeito nenhum.

Ela que fique com a pureza e eu, com minha safadeza. Se Maribelle

tivesse ideia da metade das coisas que eu quero fazer com ela, correria de
mim como o diabo da cruz.

Sou do tipo que entrega satisfação garantida, mas não sou material

para moças que almejam casar.


Capítulo 11

Eu não cheguei a dar meia dúzia de passos antes de me perder dentro

da enorme casa, então resolvi voltar pelo mesmo caminho.

Fiquei nervosa para caramba quando dei de cara com Wyatt Gray há
alguns minutos e sei que me portei como um bicho do mato, o que apesar

de tudo, não é o meu normal. O problema é que o homem é intimidante

demais.

Aliado a isso, tem o fato de que me lembrei do que aconteceu dentro

da loja de Adele. Foi o bastante para me deixar meio catatônica e quase não
conseguir falar.
Entretanto, assim que volto para o hall da casa de Mary Grace, sou

pega de surpresa ao perceber que estão conversando sobre mim.

— Eu vi o jeito que olhou para ela, Wyatt Gray. Aquela roupa que

Maribelle estava vestindo representa o que ela é: pura e inocente. De jeito

nenhum vai fazer da garota mais uma de suas conquistas.

Meu coração dispara.

De que jeito ele olhou para mim?

Quero dizer, ontem, na loja, quando me viu com aquele vestido lindo,

ele parecia estar me paquerando, mas hoje estou com uma roupa que,

ninguém precisa me dizer, está longe de ser o maior grito da moda.

— Eu não sei do que está falando, vó.

Sim, sei que é feio ouvir a conversa dos outros, mas estou muito

curiosa.

— Não se faça de desentendido, menino. Quando você estava

colhendo o trigo, eu já era dona de uma rede de padarias.

— O dono dos cavalos adiou a negociação — ele continua. — Parece

que teve um problema com um dos animais e vai telefonar para lhe
perguntar se você tem interesse em substituir por outro.

— Wyatt…
Estou me preparando para entrar, morrendo de vergonha por fazer um
papel tão ridículo.

Claramente a avó dele viu coisa onde não tinha.

Ponho um pé na sala, mas congelo quando ouço-o falar.

— Quanto a essa outra questão, fique tranquila, dona Mary Grace. Não
há nada na garota que desperte meu interesse. Santinhas não me agradam.

Primeiro, sinto meu rosto esquentar.

A Maribelle de até ontem à tarde provavelmente cairia em prantos ao

ouvir aquilo, mas descobrir as cachorradas do meu pai enfim me acordou

para a vida.

Sei que estou vestida com roupas horríveis e que não pareço nem um

pouco atraente. Sou uma “santinha”, como ele disse, e também uma viúva

virgem, mas não estúpida e muito menos doida.

Ontem, esse cowboy devasso, safado, mulherengo e ordinário, estava


me devorando com os olhos.

Agora tem a cara de pau de dizer que “não há nada na garota que

desperte meu interesse”?

Recuo para que não me vejam, mas não preciso esperar muito porque
logo em seguida o cretino convencido vai embora.
Respiro fundo e tento manter o rosto impassível enquanto vou

encontrar a avó do bastardo.

— Eu me perdi.

— Menina, você é ainda mais mal direcionada do que eu — diz,


colocando um braço em meu ombro. — Vamos. Vou preparar um lanche

para nós duas e depois levá-la para a casa de hóspedes. Becca[19] telefonou e
disse que está vindo lhe ver amanhã de manhã.

Eu e Rebecca fomos colegas no time de vôlei da cidade há muitos


anos. Gosto dela, mas depois que se casou com Jaxson, perdemos
completamente o contato.

— E o bebê?

— Não sabe como aquela ali é inquieta? Vai trazer o filho a tiracolo. É

bom porque já estou com saudade do meu bisneto. Luke está tão lindo[20].

— Pensei que toda a família Gray se reunisse nos almoços de


domingo.

— Sim, claro, mas sou do tipo que quero meus parentes à minha volta
e com as lojas de sapatos de Becca, eles ficam dias demais em Dallas para o
meu gosto. — Ela para de andar e me encara. — Olha, vou ligar para o
advogado ainda hoje e se não for muito para você, tentar marcar uma

consulta para amanhã, logo. O que me diz?

— Ótimo. Preciso resolver minha vida, dona Mary.

— Mary apenas, meu bem.

— Certo. Preciso resolver minha vida, Mary. Mesmo que só tenha uns

poucos trocados a receber por mês, é meu por direito e necessitarei desse
dinheiro para poder iniciar minha caminhada solo.

— Não se justifique sobre isso nem para si mesma, filha. Esse dinheiro
lhe pertence. Não importa se o casamento foi ou não consumado, você

herdou tudo, inclusive a pensão. Tire uns dias para descansar a mente,
pranteie sua mãe e então, poderá começar a se reinventar. Tenho certeza de

que, em breve, as canalhices do seu pai serão somente uma lembrança ruim.
Ele não merece suas lágrimas.
— Como você está? — Mackenzie pergunta ao telefone.

— Bem, por incrível que pareça. Sei que vou sentir saudade dela, mas
tenho que pensar que mamãe descansou, entende? Foram doze anos de luta.

— Com certeza. Amar é saber deixar partir. E sobre seu pai?

— Talvez no futuro eu consiga conversar com ele, mas vai demorar a


diminuir a mágoa que estou sentindo. Concordo com o que você disse sobre
eu ter me acomodado e permitido que ele me mantivesse em uma gaiola,

mas eu não conhecia outro tipo de vida. Ainda não conheço. — Paro por
um instante, pensando no que Wyatt falou e decidida a fazê-lo engolir uma

por uma daquelas palavras. — Eu queria um favor.

— Qualquer coisa, Maribelle.

— Ajude-me a me vestir como alguém da minha idade. Quero mudar


minha aparência. Não vou sair namorando por aí e nem nada, mas se o

dinheiro da minha pensão for o suficiente, gostaria de comprar umas roupas


mais condizentes com meus vinte e sete anos.

— Claro que sim, amor. Porém, faremos isso em Dallas. Na loja de


Adele não tem tantas opções e além do mais, o povo vai comentar.

— Comentar o que? Porque mamãe faleceu ontem? Ela mais do que


ninguém torceria para que eu fosse feliz. Como eu disse, não estou fazendo
nada de errado, só querendo iniciar as mudanças.

— Alguma razão específica para isso?

— Além de já ter passado da hora de crescer? — Disfarço, mas sou


uma péssima mentirosa. — Ouvi algo hoje que me estimulou. Ouça-me

antes de me julgar, okay? Escutei uma conversa de Wyatt com Mary


Grace…

— Wyatt estava na Império Gray?

— Sim e Mary pediu para que não tentasse nada comigo. A resposta
que ele deu foi que “não há nada na garota que desperte meu interesse”.

Chame-me de tola, mas aquilo mexeu com minha autoestima, porque há

pouco mais de vinte e quatro horas, ele estava jogando charme para mim na
loja de Adele. Então, depois que soube do meu apelido… certo, talvez

minhas roupas também não tenham ajudado, mas de um dia para o outro

não tem nada em mim que o interesse? Estou cansada de ser desmerecida.

Eu custei vinte e sete anos, mas finalmente aprendi que se eu quero mudar,
tenho que me amar no processo.

— Vou te apoiar, desde que você não crie nenhum plano doido de

conquistá-lo. Acho que Wyatt é o único Gray incorrigível, Maribelle.

— Não se preocupe. Não estou interessada nele, só quero dar uma


lição.
— Okay. Quando quiser ir a Dallas me avise para eu poder me

organizar.

— Vou ao advogado amanhã e então, saberei quanto tenho disponível

para mudar meu visual.

Depois que desligo me sento na cama.

Mary Grace me perguntou se eu preferia ficar na casa da sede, mas eu


disse que não. Acho que quero ficar sozinha um pouco. Nunca vivi isso e é

assustador, mas também emocionante.

Eu queria minha mãe comigo, claro, mas não do jeito que ela esteve

nos últimos anos.

Chorando, sofrendo. Uma vez eu a ouvi pedindo que Deus a levasse.

Agora, finalmente, descansou.

Olhe por mim, mamãe. Ajude-me nessa caminhada desconhecida.

Estou com medo das mudanças, mas muito além, de ficar desse mesmo jeito
para sempre.
Capítulo 12

No dia seguinte

— Será que o senhor poderia repetir? — pergunto, sentindo meu

coração disparar.

Estamos no escritório do advogado de Mary Grace e a notícia que ele

acaba de me dar me deixou de queixo caído.

Nós fomos ao cartório pela manhã para pegarmos uma cópia do

testamento de Tilbot, já que até agora eu não vi a cor dele. Meu pai que
cuidou de tudo.

— A senhora… ou a chamo de senhorita?

— Maribelle está ótimo.

— Então, Maribelle, como eu ia dizendo, você tem uma pensão de dez

mil dólares mensais.

— Olha, se for algum tipo de brincadeira, devo avisar que acho que

meu coração é fraco, senhor.

Ele dá um sorriso discreto.

— Não é brincadeira. Seu marido era um homem de muitas posses,

pelo que estou vendo aqui e lhe deixou uma generosa pensão.

— Meu Jesus Cristo!

Olho para Mary Grace, que sorri e aperta minha mão.

— Viu como foi bom ter vindo, minha filha? Você vai ficar muito

bem! Dinheiro não será um problema.

— Mas é muito! Ninguém precisa de tanto para viver.

— Tilbot não tinha parentes vivos, então deixou tudo para você. É seu,

Maribelle — Mary diz. — Posso lhe dar conselhos sobre como investi-lo se

desejar, mas aproveite um pouco a vida. Depois de anos servindo, mesmo


que fosse a uma boa alma como nossa querida Loretta, chegou sua vez de
fazer a si mesma feliz.

Concordo com a cabeça, mas na verdade nem sei o que estou pensando

direito.

Santo Senhor, dez mil dólares por mês!

— Meu pai dizia que o que Tilbot havia deixado mal dava para custear

os remédios da minha mãe.

— Só mais uma das mentiras que ele lhe contou, meu amor.

— E quanto à herança? — pergunto ao advogado. — Aquilo era

verdade, mesmo?

— Infelizmente, sim. Há uma cláusula de que só pode se casar aos

trinta, Maribelle, se quiser ter acesso ao montante total, mas se me permite

a intromissão, até que não é uma má coisa. Com o perdão da ousadia, você

é linda, e pelo que estou atestando, muito inexperiente sobre os perigos da


vida. Talvez seja melhor ter um tempo para pensar antes de decidir se casar

novamente.

— Eu concordo — Mary Grace diz. — Não querendo desmerecê-la,

mas há muitos malandros por aí dispostos a jurar amor eterno a uma jovem

inocente e rica se com isso puderem garantir estabilidade financeira.


Eles continuam falando, mas minha mente já está em outro lugar.

Pensando em algo muito mais sério.

Olho de um para o outro. Com a nova informação, descobri que meu

pai é ainda mais mau caráter do que eu imaginava.

— Ele dizia que não tínhamos dinheiro para uma cama nova para ela.

— O quê? — Mary Grace pergunta.

— Meu pai. De tantos anos deitada por conta da doença, mamãe sentia
desconforto e chegou até mesmo a ter alguns machucados pela posição que
permanecia por muito tempo. Procurávamos tratar as feridas da melhor

forma possível, mas ela precisava de uma nova cama, com um colchão
d’água, por recomendação médica. E ele dizia que não tínhamos dinheiro

para isso.

Cubro o rosto com as duas mãos, acostumada a sofrer em silêncio.

— Minha filha…

— Ele poderia ter tornado ao menos os três últimos anos dela melhores

e mesmo assim, com tanto dinheiro disponível, não o fez.

— Posso ajuizar uma ação para que ele seja obrigado a devolver o

dinheiro que gastou irregularmente, afinal de contas, a destinação que ele


estava dando à pensão, ao que parece, não tinha nada a ver com sua mãe.
Fico vermelha porque entendo o que ele fala: papai gastou meu

dinheiro com mulheres, provavelmente.

— É tentador, mas não, obrigada. Eu acredito em Deus e tenho certeza

de que um dia vai chegar a conta do que ele fez.

Uma hora depois, estamos na calçada. Eu, Mary e o advogado

acabamos de sair da agência do meu banco, onde fomos pedir um novo


cartão de crédito e débito e anular os anteriores, os quais eu nunca nem vi.

— Foi doloroso, eu sei — Mary Grace diz —, mas muito necessário,


também. Ao menos agora sabe que está bem de vida.

— Ao menos isso.

O advogado se despede e quase que em sequência, Rebecca aparece do

nada.

— Cheguei, mundo. — Ela dá um beijo na bochecha da avó, que se


abaixa para falar com o bisneto no carrinho. — Quanto tempo, Maribelle!
Está linda como sempre, mas não sei como aguenta ficar vestida nessa

roupa. Quero dizer, não estou tentando ser insensível, sei que está de luto,
mas manga comprida não dá, amiga.

Penso no que ela está dizendo e em como minha mãe sempre amou
cores.
Como ela amou a vida, de maneira geral. Antes de adoecer, o que me
lembro é de uma mulher sorridente.

— Quer saber de uma coisa? Está muito certa. Podem vir comigo à

loja de Adele? Mackenzie combinou de irmos a Dallas para fazer compras,


mas decidi que hoje mesmo vou me livrar dessas roupas.

— Você está linda — Adele, o que tenho mais próximo de uma amiga,

fora Mackenzie, diz. Na verdade, colega é um termo melhor, porque mesmo


com o pouco tempo de convivência, Mackenzie atualmente sabe mais da
minha vida do que qualquer outra pessoa. — Eu sinto muito não estar aqui

para o enterro, Maribelle.

— Sei disso. Não fiquei magoada. Como poderia saber que mamãe…

— Sim, mesmo que soubéssemos que aconteceria a qualquer


momento, Deus decidiu que seria com você e seu pai ausentes. Soube que

ele só voltou no dia seguinte, já no velório.


Não respondo, apenas acenando com a cabeça. Ainda não me sinto
preparada para contar a ela o que descobri sobre meu pai. Tenho certeza de
que ninguém em Grayland sabe da prisão dele, fora os Gray e a senhora

Corliss, cuja boca é um túmulo, caso contrário já estariam me olhando de


cima a baixo, como se a culpa por ele ter sido pego com uma menor em um

motel fosse minha.

— Deus sabe de todas as coisas — falo, cortando o assunto. — Vou


levar os jeans e as camisas xadrezes. Também quero a bota, os dois vestidos

e a sandália. Ah, e lingeries.

— Nossa, estou tão orgulhosa de você! Finalmente vai desabrochar! —

Ela continua. — Mas que história é essa de estar hospedada na Império


Gray?

— É temporário. Pretendo alugar uma casa na cidade ou nos arredores.

Aceitei o convite de Mary Grace somente por uns dias.

— E depois?

— Sinceramente, não sei ainda.

— Quer um conselho?

— Claro.
— Vá viajar. Compre um cruzeiro desses para o Caribe com tudo

incluído e vá viver seu luto longe desses fuxiqueiros de Grayland. Quinze


dias fora. Bronzeie-se, vista roupas bonitas. Paquere e seja paquerada.

— Eu não sei se consigo ir para longe sozinha.

— E nem nunca saberá se não tentar. Olha, eu entendo que não esteja

pronta para desabafar, mas está óbvio para mim que aconteceu algo entre
você e seu pai. Ter ido para a casa de Mary Grace já foi um passo enorme,

Maribelle. Agora, tem também roupas bonitas, então suponho que decidiu

administrar sozinha sua pensão. Só falta mesmo sair um pouco de Grayland,


respirar outros ares.

— Será?

— Não estou dizendo para fazer algo que vá contra seus preceitos

morais, mas ao menos tente se divertir.

Já nem sei mesmo quais são meus preceitos morais. Eles são meus,

mesmo? Ou como em tudo o mais, simplesmente acatei o que meu pai

havia determinado?

Porque não acho nada demais em mulheres fazerem sexo antes do


casamento, por exemplo.
Porém, prefiro não expor essas dúvidas em voz alta. Ao invés disso,

foco no prático.

— Vou levar tudo isso que escolhi.

— E quanto à viagem?

— Pensarei com cuidado a respeito.


Capítulo 13

Uma seman a d ep ois

Experimento meu novo vestido em frente ao espelho com um olhar


crítico.

Há três dias, comprei um enxoval completo com Mackenzie em Dallas.

Esse de hoje é acima do joelho, de alças finas, amarradas nos ombros e


saia rodada.

Deus, parece que tem pele demais à mostra, principalmente porque

ontem foi a missa de sétimo dia da minha mãe.


Então me lembro dela me dizendo que eu deveria sair e fazer amigos.
Acho que com o tempo e a doença, minha mãe escolheu esquecer quem

eu era e para o que fui criada, porque ela também não tinha muita liberdade
de escolha, mesmo antes de adoecer. Vivíamos em uma ditadura em que

papai estabelecia as regras e nós seguíamos sem questionar.

Eu não falei com ele além de um acenar de cabeça quando o vi na


igreja. Ele tentou se aproximar, mas Mackenzie se pôs ao meu lado como

uma guardiã.

Eu duvido que queria saber de mim. Acho que ficou irritado porque
perdeu o acesso ao meu dinheiro.

No mesmo dia em que fui ao advogado, entrei em uma loja de telefonia

e comprei um celular novinho em folha — um com acesso livre à internet


— e estou meio fascinada com o mundo que se pode descobrir através do

Google.
Eu tinha um aparelho velho e um pacote de dados limitado, que só

usava quando necessário, mesmo. Também não havia nada que eu quisesse

pesquisar, apenas algumas roupas, coisas assim.

Eram sonhos que eu pensava serem muito distantes do meu mundo, já

que acreditei que não tínhamos dinheiro para nada.

Na primeira noite em que mergulhei no mundo do Youtube, não dormi.


Assisti vídeos de tudo o que se possa imaginar: filmes, viagens e até alguns

mais sensuais.
Esses últimos abriram meus olhos sobre o motivo de Wyatt Gray dizer
que eu não fazia o tipo dele. As mulheres que conseguem homens como os

Gray são lindas e seguras de si. Sexies, também. Nada parecidas comigo.

Tenho tentado melhorar. Não por ele, e sim, por mim mesma. Pedi a

Becca que me ensinasse a me maquiar e recebi até mesmo uma olhada mais

demorada do capataz da Império Gray quando usei um jeans pela primeira

vez.
Hoje Mackenzie me convenceu a irmos na festa anual da salsicha. Disse

que tem valor sentimental porque foi lá que dançou com Callum pela

primeira vez — e quando tiveram “a primeira vez deles”.

Informação demais, eu diria no passado, mas que atualmente desperta

minha curiosidade.

Giro em frente ao espelho, em dúvida se não deveria trocar o vestido

por um jeans, mas tenho que admitir que o contato do tecido contra minha
pele, sabendo que por baixo estou somente de calcinha — uma muito bonita

e das novas — me faz sentir diferente, ousada.

Ouço duas batidas na porta.

— Mackenzie e Callum chegaram, Maribelle — Mary Grace avisa.

Abro-a.

— O que acha? Não está um pouco demais?


— Não. Está linda e vai ser difícil conseguir sair da festa sem ao menos

uma dúzia de admiradores.


Dou risada.

— Até parece, né? Eles morrem de medo do meu apelido.


— Talvez seja melhor assim, Maribelle. Aquele que realmente valha a
pena, não se importará com um apelido idiota colocado por gente

desocupada. Agora, vá se divertir, minha filha. Está fazendo uma noite linda
e Mackenzie chegou animadíssima.

— Não quer mesmo ir?


— Não. Prefiro ficar em casa cuidando dos meus bisnetos. Blaire e

Noah me fazem rir. Eu não vejo mais graça em festas que não sejam as
familiares, filha. Ir à festivais como os da salsicha me lembram do meu
falecido e do que vivemos.

— Perdoe-me. Não queria deixá-la triste.


— Não deixou. Com o tempo, a gente se acostuma.

— Nunca pensou em se casar novamente?


— Não. Eu era louca pelo meu marido e ele por mim. Jamais teria

encontrado nada do que vivemos com outra pessoa. Eu sempre faria


comparações e o candidato sairia perdendo.
— Oi, Maribelle. Você está linda! — Mackenzie diz, abrindo a porta do
carro.
Quando cheguei, ela estava no colo dele, beijando-o e não pareceu nem

um pouco envergonhada ao me ver.


Todos os Gray parecem absolutamente loucos pelas esposas e acho que

era a isso a que Mary Grace se referiu: o amor verdadeiro não aceita
substitutos.

Callum só toca a aba do chapéu em cumprimento.


— Oi, Mackenzie e Callum. Obrigada por virem me buscar.
— De nada. Tenho certeza de que vários rapazes a tirarão para dançar.

— Ela me olha, em dúvida — Você sabe dançar, né?


— Sei, sim. Minha mãe era ótima dançarina.

— E está no clima? Pergunto por causa do luto.


— Não é por causa do luto, Mackenzie. Mamãe ficaria feliz por me ver

feliz, e sim, porque acho que ninguém vai querer dançar comigo. Esqueceu
que os homens têm medo de mim em Grayland?
— Callum, eu preciso falar um segundo em particular com Maribelle —
ela diz, me puxando pelo braço antes que eu entre no carro.
— O que foi?

— Não quis falar na frente dele para não constrangê-la. Eu não acho
que seja o fato de você ser virgem que espantava candidatos a namorado,

mas o jeito como se vestia e se comportava. Parecia usar uma placa de


“afaste-se”.
— Sério?

— Aham. Acho que intimidava os caras. Sabe como é, ficavam com


medo de dizer algo que a ofendesse. Além disso, seu pai não dava uma

folga. Onde eles iam te paquerar? Na saída da igreja aos domingos?


— E por falar em domingo, Wyatt não veio no almoço semanal. Acho

que foi por minha causa.


— Será?
— Não sei. Acho que o convencido pensa que vou morrer de amores

por ele e pelo fato de que sou virgem, está correndo. Não acreditei quando
falou que não havia nada de interessante em mim. Ele pareceu bem feliz

com o que estava vendo no dia em que me encontrou na loja de Adele.


Ela gargalha.
— Bom, hoje vamos tirar a prova dos nove, porque Callum disse que o

primo vai na festa.


— Eu gostaria de passar a impressão contrária.
— Em relação a quê?
— Wyatt. Todas as mulheres babam em cima dele, eu queria deixar bem

claro que nem em um milhão de anos vou correr atrás daquele devasso.
— Seus olhos brilharam quando falou “devasso”.

— Por pura curiosidade, mas ele realmente feriu meu orgulho naquele
dia.
— Bom, se quer se vingar, dance com quantos caras você estiver a fim e

não com ele, caso a convide.

— Não acredito que vá acontecer.


— Nunca se sabe. De qualquer forma, um homem teria que estar morto

ou ser casado para não reparar em você hoje. Está linda demais. Tenho

certeza de que no momento em que Wyatt colocar os olhos em você, vai

querer engolir o que disse.


Capítulo 14

— Garanto que nos divertiríamos bem mais entre quatro paredes. — diz
Julia... Kristen... Alicia…? Eu não faço a menor ideia.

— Eu vim para me encontrar com meu primo e a esposa.


Poderia avisá-la de que só daria um “oi” para Callum e Mackenzie e
depois estaria livre para foder o resto da noite, mas não gosto de ser caçado.

Ofertas abertas demais me desestimulam.

— E depois?
— Olha, amor, por que não vai dar uma volta? Tenho certeza de que há

um monte de caras loucos para passarem a noite ao seu lado.

— Wyatt Gray, está me dispensando?


Sim.
— Nunca, boneca. Apenas não quero empatar sua noite. Vá curtir. Se

for o destino, nos encontramos mais tarde.


— É uma promessa?

— Sabe que não faço promessas, minha linda.

Esse é um discurso genérico no qual eu não preciso lembrar do nome da


minha companhia do momento. Independentemente de qualquer coisa, eu

nunca dou a entender nem mesmo que haverá uma segunda vez. Se

acontecer, tudo bem, mas aprendi a duras penas que gerar expectativas pode
trazer muitas complicações.

Ela mal vira as costas e eu vejo Callum e a esposa, mas não é meu

primo que chama a minha atenção e sim, a loira espetacular ao lado deles.
Sinto a irritação despertada pela garota que acaba de partir desaparecer

na hora e sigo até onde estão, como um homem em uma missão.


A mulher está de costas para mim, mas há algo de familiar naquelas

curvas. Como se pressentisse meu olhar em seu corpo, ela olha por cima do

ombro e foda-me se não é aquela de quem fugi a semana inteira.

Está ainda mais bonita do que quando a vi pela primeira vez e

completamente diferente do visual carola. Parece mais uma delícia

tentadora, me convidando para o pecado.


Pecado, inclusive, é meu sobrenome, mas nesse caso, vou deixar passar.

O aviso de minha avó foi claro: Maribelle não é do tipo de mulher com
quem posso ter algo causal.
Além de tudo, ela carrega um título que não agrego ao me dicionário:

virgem.

— Wyatt. — Ouço a voz do meu primo chamar e nem mesmo assim

consigo desviar o olhar de Maribelle.

— Hum — resmungo, ainda focado nela, mas para minha surpresa, é ela

quem desvia os olhos.


— Boa noite, senhor Wyatt — ela me cumprimenta formalmente —

Mackenzie, fiquei com vontade de comer algodão doce, pode ir até a

barraca comigo?

— Claro! Também estou precisando de açúcar.

Vejo as duas se afastando e só quando Callum repete meu nome, é que

desvio a vista daquela bunda redonda e empinada.

— Mary Grace te mata se seduzir a hóspede dela.


— Eu?

Ele revira os olhos.

— Sabe quem é a garota?

— Sim.

— Estou falando do apelido ridículo, mas muito verdadeiro. Prenda-se à

palavra “virgem”, Wyatt. Não é uma moça procurando diversão, é alguém


que não viveu nada, ainda. É inocente de todo.
— Como isso é possível? Ela é linda demais.

Observo um homem se aproximar da barraca e abaixar o rosto para falar


com Maribelle.

Ela sorri, mas dá um passo para trás.


— O pai, aquele filho da puta, a manteve presa em cabresto curto. Ela
saiu de casa para se casar e enviuvou na mesma noite. Acho que o único

homem que já beijou deve ter sido o marido.


— Jesus! Ela não é virgem, é uma santa.

— De qualquer modo, o que estou tentando dizer, é que ela não é do


tipo que tem relacionamentos casuais e essa é a história da sua vida, primo.

— Ele pausa, tira o chapéu e esfrega o cabelo. — Porra, estou parecendo


um velho dando conselho aos mais novos e nossa diferença de idade nem é
tão grande assim. O que não quero, Wyatt, é que você a magoe. Maribelle

acabou de perder a mãe e teve uma grande decepção com o pai. Além do
fato de que você não para com mulher alguma, tem o hábito de se cansar

dos lugares muito rápido.


— Eu vim para ficar — falo, me sentindo estranhamente ofendido.

— Por que justo aqui, onde tem lembranças tão ruins?


— Não tenho resposta para isso, mas não estou mais sentindo aquela
ânsia de ir embora.

— Nem para o Wyoming?


— Principalmente para lá.

— Não tenho por hábito me meter na vida alheia, mas não acha que está
na hora de se sentar com seu pai para conversar?

— Sobre o quê? Sobre ele ser um bastardo traidor? Ou sobre o fato de


que por causa dele, mamãe foi embora do Wyoming comigo e morreu na

minha frente, aqui em Grayland?


— Caralho, eu não queria trazer lembranças ruins, primo.
— Não são lembranças. Estão constantemente comigo. Eu nunca

consigo me esquecer.
Ele acena com a cabeça, concordando.

— Nisso, você e Maribelle são iguais.


— Como assim?
— Pelo que descobri, no dia do enterro da mãe dela, o pai foi pego em

um motel com uma menor. Chegou a ser preso.


— Porra!

— Sim, eu sei. A garota perdeu a mãe e descobriu que o pai era um


filho da puta na mesma tacada.

— Por isso vovó a está protegendo?


— Aham. Na verdade, ajudando-a com os primeiros passos. Ela não
precisa de dinheiro. Tem uma pensão de dez mil dólares deixada pelo ex-

marido.
— Isso não é nada.
— Acredite, para a maioria dos cidadãos aqui em nosso país, é um
salário dos sonhos.

— E depois?
— O que tem depois?

— Quando Maribelle conseguir se reerguer, vai embora de Grayland?


— Quem sabe? Ela é livre e tem meios para ir. Se for o que deseja,
ninguém poderá detê-la.

— Se tornará um alvo fácil para canalhas.


— Em qualquer lugar que vá. Aqui também tem muitos bastardos

interesseiros.
Vejo-a caminhando de volta, se deliciando com um algodão doce,

enquanto os homens viram o pescoço para vê-la passar.


— Não, Wyatt — ele diz, talvez porque perceba meu olhar de desejo.
— Eu não vou fazer nada. Só chamá-la para uma dança.

— Por que diabos faria isso?


— Vai ser minha boa ação do dia. Vou mantê-la protegida dos homens

mal-intencionados.
— Até mesmo você?
— Eu não saio com virgens.
Capítulo 15

Talvez seja o meu destino ouvir as conversas dele. Ou talvez aquela voz
de trovão não faça nada para manter um tom longe dos meus ouvidos, o fato

é que outra vez, ao me aproximar com Mackenzie, escuto-o dizer:

— Eu não vou fazer nada. Só chamá-la para uma dança.

— Por que diabos faria isso? — Callum pergunta.

— Vai ser minha boa ação do dia. Vou mantê-la protegida dos homens
mal-intencionados.

Sinto meu sangue ferver.

Então me tornei uma obra de caridade?

— Até mesmo você? — o marido de Mackenzie insiste.

— Eu não saio com virgens.


Minha amiga aperta-me a mão porque com certeza ouviu, também.
— Volte e diga àquele rapaz que acaba de dispensar que mudou de ideia

— fala.

— Mas…

— Sem “mas”, Maribelle. Faça o que estou dizendo. Vamos dar uma

lição nesse safado.

Enfio uma porção grande de algodão doce na boca em uma tentativa de


me acalmar, depois, sem fazer contato visual com a razão da minha ira, vou

atrás do cowboy que eu recusei uma dança há alguns minutos.

Eu posso ter aceitado o convite para dançar na força da raiva, mas

depois de três músicas, estou me divertindo de verdade, completamente


esquecida do que me trouxe para os braços de Dell.

Ele é ótimo dançarino e divertido, também. Além disso, não faz

borboletas darem saltos ornamentais no meu estômago, como o Gray

mulherengo.

— Eu estaria cruzando a linha se a convidasse para jantar? — pergunta

e meu coração dispara.


Não porque o meu par me cause emoção e sim porque é a primeira vez

que um homem me chama para sair. Nem mesmo com meu falecido marido,
fui a um encontro. Ele não se preocupou em me cortejar. Era um contrato.

— Desculpe-me. Não deveria ter perguntado.


— Não. Quero dizer, sim, deveria. Só fiquei surpresa.
— Por quê? Você é muito linda.

Sinto meu rosto esquentar, mas apesar de ficar muito tentada a aceitar,
não quero dar um passo maior do que a minha perna.

Dizer sim a um convite para jantar daria margem para que ele talvez
pensasse que haveria um algo mais, no mínimo um beijo e mesmo que Dell

seja bem atraente, não é atraente para mim.


— Eu nunca fui convidada antes — falo com sinceridade. — Entretanto,
não quero responder antes de pensar com calma, tudo bem?

— Nossa, que alívio. Achei que tinha feito algo errado. Tudo bem,
Maribelle. Não estou com pressa. Por você, eu posso esperar.

— Obrigada pelas danças, mas agora acho que devo voltar para perto
dos meus amigos.

Ainda ficamos conversando por um minuto ou dois para trocarmos


telefone e em seguida, ele me leva onde estão os três membros Gray.
Despedimo-nos sorrindo e com a promessa de nos falarmos durante a

semana, mas quando encaro a família que é dona da cidade onde nasci,
percebo que Wyatt tem o semblante fechado.

— Eu ia convidá-la para dançar — ele diz como se aquilo fosse a coisa


mais natural do mundo, quando na verdade, tirando a vez em que me

paquerou na loja, nossas interações não têm um bom histórico. — Se estava


com tanta vontade, não precisava ter feito com um estranho.

Abro e fecho a boca, sem acreditar que disse aquilo. Juro por Deus que
se não fosse a boa educação que a minha mãe me deu e também pela
presença de Callum e Mackenzie, eu lhe daria uma resposta atravessada.

— Não houve necessidade. Dell é um excelente dançarino — respondo


ao invés disso.

— Vocês dois formam um casal lindo — Mackenzie continua e sinto


meu rosto em chamas.
Estou pronta para lhe dizer que não somos e provavelmente jamais

seremos um casal, quando ela arregala os olhos para mim e em seguida,


move a cabeça fazendo que “não”, acho que me instruindo a não desmenti-

la.
Só então cai a minha ficha de que está tentando espezinhar Wyatt.

— Hum… sim, acho que formamos, mesmo.


Dou graças a Deus de falar a frase completa sem gaguejar. Meu
estômago está em nós.
— Callum, me leve para dançar, cowboy. Vamos repetir nossa primeira
noite… huh… nossa primeira dança, quis dizer.
O marido dela não perde tempo e logo estão bailando na pista montada

sobre a grama.
Tento me concentrar neles porque é mais fácil do que analisar a razão da

minha pulsação estar tão acelerada por um homem que eu nem sequer
simpatizo.
Eu falho miseravelmente porque não há como me manter indiferente a

ele. Um arrepio atravessa meu corpo quando sinto Wyatt se aproximar das
minhas costas.

Eu não me viro porque não sei como agir. Na verdade, mal respiro.
O que ele está fazendo?

Meu coração bate com tanta força que acho que se olhar para baixo,
verei o movimento contra o tecido do vestido.
Todas as sensações que Dell não conseguiu me despertar enquanto

estive nos braços dele, me atingem de uma vez só com a força de um


furacão.

Sentindo uma necessidade incontrolável de encará-lo crescer dentro de


mim, viro a cabeça para trás.
A sensação de calor aumenta.
Posso estar ficando louca, mas tenho a impressão de que Wyatt estava
me cheirando.
Minha pulsação enlouquece.

Deus, ele é muito bonito.


Até mesmo o cabelo precisando de um corte, que escapa pelas laterais

do chapéu, é sexy.
Seus olhos me observam como se quisessem saber o que eu estou
pensando e dou um viva aos céus que não possa.

Tenho que me lembrar de quem ele é: um cowboy convencido que pode

ter a mulher que quiser com um estalar de dedos.


No entanto, é difícil me concentrar em manter o juízo com aquele

maxilar quadrado e com a barba por fazer, tão perto de mim.

— Vamos dançar — diz.

Eu não consigo responder, meio hipnotizada pela maneira como a


camisa xadrez fica agarrada em seus braços, parecendo que não conseguirá

conter os músculos poderosos.

— Você não quer dançar comigo. Ia fazê-lo somente como um favor.


Não preciso de favores. Dell já me deu bastante diversão por uma noite.

Para minha surpresa, ele se abaixa e sussurra na minha orelha.

— Não tem a menor ideia do que é diversão de verdade, Maribelle.


É minha vez de respirá-lo e o cheiro é tão delicioso quanto viciante.
Couro, homem e uma colônia almiscarada invadem meus sentidos.

Quero me aproximar e cheirá-lo inteiro. Tirar a camisa dele e saber se todo


o corpo tem esse mesmo odor.

A ousadia dos meus pensamentos me assusta e dou um passo para trás.

Os cantos dos lábios dele se curvam em um sorriso, como se


adivinhasse o que estou pensando.

Uma de suas mãos desce para o meu quadril.

— Com medo de mim?

Com medo de mim mesma — seria a resposta honesta.


— Não.

Analiso o rosto másculo.

Não é à toa que ele está levando as mulheres do interior do Texas à


loucura. Wyatt não é só bonito, ele tem um apelo sexual tão intenso que até

mesmo em minha inexperiência, sinto o centro das coxas pulsar.

O pensamento piora minha vergonha e o olhar que me dá diz que ele


tem ciência do efeito que tem sobre mim.

O homem está causando uma revolução nos meus hormônios e a única

parte em que me toca é o quadril.

Como se adivinhasse como sua proximidade mexe comigo, os dedos


cravam na carne das minhas ancas.

— Vamos sair daqui.


— O quê?

Seu sorriso aumenta.

— Apenas para dançar, moça. Meu convite não envolve nada mais.
Capítulo 16

Ninguém precisa me dizer que estou fazendo uma caminhada em

linha reta para o inferno. Eu sei.


Há tantas razões pelas quais eu não deveria chamá-la para dançar
que daria para encher uma enciclopédia. A questão é: sou mal acostumado.

Não me lembro há quanto tempo eu quis algo sem ter conseguido.

Brinque um pouco — digo a mim mesmo. — Um flerte inocente


com a garota pura não vai arrancar pedaço.

Maribelle Ann é, sem medo de errar, uma das mulheres mais

bonitas que já conheci e isso não é pouca coisa, se considerarmos minha


vida amorosa.
Amorosa.

Não, minha vida sexual. Nada nem perto de amor até hoje me
atingiu.

— Tem medo de não estar à minha altura? — provoco. — Sou

conhecido por ser um excelente dançarino, tanto aqui como no Wyoming.


É uma mentira descarada. Eu nem sei a quanto tempo não entro em

uma pista de dança.

Para que faria isso se meu único interesse quando saio é encontrar
companhia feminina para tentar aplacar a sensação de vazio constante?

Ela coloca as duas mãos na cintura.

— Não tenho medo de nada — diz, parecendo pronta para uma


briga. — Não mais. Antes, porém, preciso saber se veio com alguém. —

Continua, à queima-roupa.
Olho-a, sem acreditar que me perguntou aquilo. Não estou

acostumado a ser cobrado por quem quer que seja, apesar de algumas

parceiras já terem tentando, mas muito além disso, jamais imaginei que

seria questionado pela princesa inocente.

Estudo seu rosto, pensando pela primeira vez que Maribelle não é

só linda. Ela tem uma personalidade combativa muito bem disfarçada


embaixo da camada de boa moça.
Há muito tempo não encontro alguém com coragem de me
enfrentar. As mulheres geralmente se contentam com o fato de eu lhes dar

atenção.

— E se eu tivesse?

— Estamos em Grayland, cowboy. Até mesmo uma dança com um

homem comprometido pode ser mal vista.

— A palavra “comprometido” não existe em meu dicionário,


Maribelle. Não no que diz respeito aos meus encontros, ao menos.

Ela respira fundo e dessa vez tenho certeza de que está contendo o

temperamento.

— Uma dança — avisa e eu quase rio.

A garota que é pura como uma princesa de contos de fadas está me

esnobando?

— Uma dança — repito, sabendo de antemão que aquilo é uma


mentira.

Conforme andamos para a pista, cabeças se viram para observá-la.

Homens de todas as idades, até mesmo acompanhados, não

escondem o interesse na beleza loira ao meu lado.

Maribelle parece indiferente a como chama a atenção e essa

indiferença não é estudada e sim, porque não tem ideia de como está
deliciosamente comestível em seu vestido casto, que a faz muito mais sexy

do que se estivesse mostrando um monte de pele.


Quando chegamos na pista, seguro sua cintura. Tento ser suave,

tocando-a apenas o necessário para trazê-la para junto de mim para que
dancemos juntos, já que a música mudou para uma lenta. A resposta do
corpo dela, porém, estremecendo assim que a toco, me deixa ligado

novamente.
— Está nervosa. — Abaixo-me para sussurrar em seu ouvido.

Não estou provocando-a para jogar com a libido dela, como


geralmente faço com as minhas mulheres, mas sim porque Maribelle é

irresistível.
Quase torço para que ela me empurre. Para que diga que é
inadequado porque provavelmente a cidade inteira está olhando, mas ao

invés disso, fica na ponta do pé, como se quisesse mais da minha boca em
seu lóbulo.

Meus dedos agarram a cintura dela com força, agora. Como uma
espécie de punição — ou aviso.

— Estou, sim — confessa e se afasta um pouquinho, voltando à


posição normal dos pés.
Minha mão se move, trazendo-a para tão perto quanto a decência

permitiria.
— Por quê?

— São muitas “primeiras vezes” em poucos dias.


— Conte-me — comando e nem sei porque peço isso. Geralmente

não me aprofundo em mulheres que não sejam parentes. Isso só gera um


monte de expectativas que nunca se concretizariam.

Suas bochechas estão rosadas e a respiração curta. Adivinho que é


por conta da nossa proximidade e o cretino em mim fica satisfeito. Eu a
observei por todo o tempo em que dançou com o tal Dell e as respostas a

ele foram apenas sorrisos discretos, controlados.


Não há nada de controlado, entretanto, na maneira como ela se

derrete em meus braços nesse momento.


Eu poderia me viciar em observar as reações dela, como agora por
exemplo, quando alinho nossas coxas, fazendo-a sentir a dureza dos meus

músculos contra a maciez da carne de suas pernas.


Ela deixa escapar um som muito próximo a um gemido e que leva

um choque de tesão direto ao meu pau.


Olho a boca cor de rosa, sem qualquer pintura e preciso me

controlar para não beijá-la.


— Conte-me — repito, dessa vez em um tom mais duro, tentando
me distrair. — Está falando sobre a morte da sua mãe?
— Não apenas isso. É doloroso porque ela ainda era muito nova.
Não tinha feito sessenta, ainda. Porém, ela descansou. Foram muitos anos
de sofrimento e sei que não aguentava mais.

— Câncer?
— Sim. Quando pensávamos que estava curada, aparecia outro.

Passei a rezar a Deus que fizesse o que fosse melhor para ela,
independentemente da minha vontade ou egoísmo.
— Egoísmo?

— É muito difícil deixar alguém que amamos partir.


Penso no que está dizendo e na morte da minha mãe.

Sim, ela está certa. Até hoje eu não a deixei partir. Ainda consigo
ver o momento em que o carro a atingiu. Seu olhar de surpresa quando

percebeu que não podia fazer nada além de aceitar o inevitável e também a
maneira que, mesmo sabendo que iria morrer, abraçou a barriga de
gestação de seis meses.

Ela soltou minha mão e me empurrou para o acostamento. Salvou-


me a vida, quando entendeu que não poderia salvar nem a si mesma e nem

ao meu irmão, que estava para nascer.


Fecho os olhos por um instante, tentando apagar as memórias.
Quando volto a abri-los, ela está me encarando.

— Lembranças dolorosas? — pergunta.


Aceno com a cabeça, concordando.
— Continue — peço, querendo desviar o foco de mim. — Se não
foi a morte da sua mãe apenas, o que mais a deixa ansiosa?

— Por que se importa? — ela pergunta, confirmando o que pensei


sobre haver muito mais por baixo da mulher inexperiente, mas corajosa, do

que o mundo acredita.


Não respondo. Não faço o tipo que força confissões, porque isso é
uma via de mão dupla.

Ela suspira e se aproxima espontaneamente, colando a bochecha

em meu peito. Eu a aperto mais, dizendo a mim mesmo que é só uma


dança inocente.

— No dia em que ela morreu, meu mundo desabou. Descobri que

meu pai a traía há anos. — Ela levanta a cabeça e me encara como se

esperasse uma reação, mas mantenho a expressão neutra. — Ele me criou


para ser perfeita e pura, quando ele mesmo era imundo.

Mantenho o silêncio e ela parece adivinhar o que estou pensando

porque em seguida, diz:


— Ele poderia ter se separado se sentia falta de sexo. Sabia que eu

cuidaria dela. Até porque, as traições são bem anteriores à doença de

mamãe.
— As pessoas erram — falo, porque é uma verdade, embora eu

mesmo não consiga ser tão compreensivo com meu pai traidor.
— É um discurso bonito quando não acontece no quintal da nossa

casa. Eu via a mim mesma como alguém bom e generoso, mas tudo o que

sinto por ele agora não tem nada a ver com um coração cristão. Eu o odeio
e desprezo, também.
Capítulo 17

Prendo a respiração, aguardando o que ele dirá.


Ter coragem de falar em voz alta o que estou sentindo não é algo
fácil para mim. Eu vivi minha vida com medo de ser julgada.

— Muito mais importante do que ser boa e generosa, que

representa o julgamento dos outros em relação a você, é ser honesta

consigo mesma. Não tem que esconder seu rancor ou mágoa. Você é
humana — ele pausa e de repente, o canto da boca se ergue. — Embora

tenham lhe dado o apelido de “santinha”.


Ele está me provocando ou debochando? Não saberia dizer. Até

porque, nesse instante, é difícil ter um bom funcionamento dos meus


neurônios. Além de estar com o corpo colado ao dele, Wyatt Gray

sorrindo, mesmo com ironia, é algo digno de nota.


Deveria haver uma lei que o proibisse, inclusive.

É uma covardia com os outros homens, como Dell, por exemplo,

cujo rosto, após somente uma música nos braços do devasso, eu já nem me
lembro mais.

— É assim que leva sua vida? Sem se importar com o que as

pessoas pensam a seu respeito?


O aperto em minha cintura aumenta.

— Aham. Com certeza não receberia o rótulo de santo.

Não é tanto o que ele diz, mas como as palavras escorregam de sua
boca, como se fosse caramelo derretido, que faz com que as pontas dos

meus seios inchem. Meu corpo respondendo com violência ao que ele
insinua.

Engulo em seco.

— E é bom ser assim?

— Não sei ser de outra maneira, então não tenho com o que

comparar, mas posso te dizer que é bom ser livre.

Tento parar o tremor que arrepia minha pele.


Se eu conseguisse pensar como ele, haveria um mundo inteiro de

descobertas pela frente.


Fecho os olhos e volto a encostar a cabeça em seu peito.
Novamente, o cheiro dele me entorpece.

— O que você gostaria de fazer que não tem coragem? —

pergunta.

— Tudo.

— Tem que começar por algum lugar.

— Adele, uma amiga minha, me sugeriu uma viagem e estou


pensando a respeito. Também preciso alugar um apartamento e conseguir

um trabalho.

— Não precisa de dinheiro para se manter — diz e sei que ele tem

conhecimento disso porque segredos familiares não são comuns entre os

Gray. Todo mundo dentro do clã sabe da vida um do outro, segundo Mary

Grace.

Volto a encará-lo.
— Eu não preciso de um trabalho, mas preciso de uma ocupação.

Todos necessitam de um objetivo ou a vida perde o sentido.

— Qual era o seu, anteriormente?

— Tornar os últimos dias da minha mãe na Terra menos dolorosos.

Com isso, eu meio que sacrifiquei minha vida, mas não me arrependo.

Ainda mais depois que descobri as traições do meu pai.


— Agora então, acabaram as desculpas — diz, em um tom duro.
— O quê?

— Não tem mais como se esconder da vida.


— Eu não… — começo a protestar, mas não tenho coragem de

completar a frase porque sei que foi isso mesmo que fiz.
Mesmo assim, envergonhada por ver minha covardia jogada na
minha cara, opto pela raiva e tento me soltar.

Ele me puxa para ainda mais perto e eu perco o fôlego.


— Não gosta de ser confrontada, Maribelle?

— Por que está me provocando?


— Porque gosto do que vejo por debaixo das camadas. Toda essa

pose de boa moça não consegue esconder…


Ele balança a cabeça, se interrompendo.
— Não consegue esconder o quê?

A boca vem novamente para perto da minha orelha.


— Fogo. Você tem chamas brilhando dentro dos seus olhos,

princesa. Talvez não as alimente por medo, mas nunca conseguirá apagá-
las.

Antes que eu possa responder, Mackenzie e Callum se aproximam.


— Wyatt, se importaria de dar uma carona a Maribelle para a
Império Gray? Além de vocês estarem se divertindo, é caminho para a sua

fazenda — Callum diz e dá um dos raros sorrisos. — Eu e minha senhora


estamos meio que com pressa de chegar em casa. Já ligamos para vovó.

Blaire e Noah dormirão lá essa noite.


Vejo o rosto de Mackenzie ficar da cor de uma maçã, mas ela não

corrige o marido. Apesar disso, me puxa pela mão e pergunta.


— Tudo bem com esse arranjo?

Não.
— Claro. Nós estamos dançando há cinco minutos e eu nem matei
ele ainda.

Ela dá um bufo de riso e me abraça.


— Eu te ligo amanhã, okay? — diz e em seguida encara meu par de

dança. — Wyatt Gray, guarde suas mãos para si. Maribelle aceitou dançar,
mas ela tem quase que um compromisso já com o Dell.
Seguro-me para não revirar os olhos.

Você estava indo bem, Mackenzie, mas realmente exagerou nessa


última parte.

Wyatt ignora a recomendação, se despedindo dos parentes com um


aceno de cabeça e em seguida, me puxa para seus braços outra vez.

— Não se prenda a essa festa por minha causa — falo, sem jeito,
mas se for sincera, com o coração disparado pela ideia de que será ele a me
levar para casa.
— Mais algumas danças e então estaremos prontos para ir — avisa
e então, crio coragem de passar os braços pelo pescoço dele.
Tenho ciência de que algumas pessoas nos observam, mas não

estou fazendo nada demais.


Onde estavam esses fofoqueiros quando meu pai traiu minha mãe

por anos a fio? Sim, porque meu apelido de “santinha” não veio de graça,
ele era considerado quase que um homem santo pelos habitantes locais.
— O que essa libélula em seu colar significa? — ele pergunta,

tomando um pouco de distância e baixando a vista para o vale entre meus


seios, que só é insinuado pelo decote discreto do vestido.

Ainda assim, sinto o rosto pegar fogo.


— Foi um presente que dei a mim mesma no dia em que saí com

Mackenzie para comprar roupas novas. Percebi que não havia ganhado
nada de aniversário desde que a minha mãe adoeceu. Antes do câncer, ela
sempre se lembrava e celebrava. Meu pai, não. Assim, nesse ano de

mudanças, decidi que eu precisava de um símbolo para me lembrar.


— Lembrar de quê?

— A partir de agora, meu objetivo é viver, não mais existir.


— Sair voando? — ele diz com aquele tom de sarcasmo que já
estou começando a me acostumar e talvez, também, gostar um pouquinho.
— Oh, sim. Mas não em um voo qualquer. As libélulas não são
como as borboletas. O voo delas é ligeiro, agressivo.
O rosto dele fica sério.

— É isso o que almeja?


— Quero experimentar. Perdi muito tempo. Tenho anos para

colocar em dia.
— E se no meio do processo perder uma das asas?
— Pode acontecer. Sei que corro riscos. Porém, pode ser que eu

também voe mais alto do que jamais sonhei e que a viagem seja tão

emocionante, que valha a pena sair ferida.


Capítulo 18

— O quanto está disposta a arriscar se machucar em seu voo?

— Hein?

Fiz a pergunta sem tirar os olhos da estrada escura à nossa frente,

mesmo que meu corpo esteja totalmente consciente de Maribelle sentada a

curta distância e que o vestido subiu pelas coxas, me dando uma visão das
pernas tonificadas.

Ao invés de responder, olho para ela por poucos segundos, o

suficiente para deixar claro que sei que está fugindo de dar uma resposta.

— Não precisa responder. Eu entendo que esteja com medo.


Estou empurrando-a. Já percebi que Maribelle tem um

temperamento que mantém sob controle e gosto da ideia de vê-lo emergir,


ainda que não pretenda ir muito longe com isso.

— Está me chamando de medrosa, Wyatt Gray? Isso foi rude.

— Delicadeza não é uma das minhas características, moça. Sou

áspero em tudo o que conta.

Vejo-a puxar uma respiração, como se não pudesse obter ar

suficiente e de imediato, calor se espalha em minha virilha, enviando um

fluxo de sangue para o meu pau.

— Não sou medrosa.

— Não?

Ela balança a cabeça de um lado para o outro.

— Então se eu parar nessa estrada e desligar o carro para


conversarmos, não ficaria assustada?

Por que diabos perguntei algo assim se não tenho qualquer intenção

de levá-la para a cama? Maribelle merece muito mais do que um fodedor

em série.

Quando penso que já não vai mais responder, ela se vira totalmente

para mim no banco.


— Eu não tenho medo de você. Sei que não me machucaria.

Está errada, garota. Eu poderia machucá-la muito e não tem nada a

ver com o desejo de levá-la para a carroceria da caminhonete e comê-la

sob a luz da lua.

Agarro o volante com força. A imagem dela nua, me montando, os


peitos que adivinho serem redondos com mamilos rosa como sua boca,

saltando enquanto meto com força em sua boceta virgem, me deixando alto

como se eu tivesse feito uso de droga.

— Eu já beijei — ela diz, acho que em uma tentativa de me desafiar,

mas o tiro sai pela culatra porque enquanto ela se acha muito corajosa, a

única coisa que consigo pensar é que ela só fez beijar.

Eu poderia ensiná-la tudo.

— Acredite, amor. Você é um bebê, ainda.

— Pare o carro.

Não consigo controlar um sorriso.

— Por quê? Vai me atacar com sua técnica de beijo?

A verdade é que a ideia de Maribelle enraivecida, me agarrando no

banco da picape, faz meu pau empurrar o jeans ao limite, me causando dor
física.
— Pode parar o carro, por favor?

Ela parece chateada de verdade e eu me sinto um idiota.

Dou seta e estaciono embaixo de uma árvore na estrada. Assim que

desligo o motor, ela desce do veículo.

Não bate a porta como seria de se esperar, mas sai correndo na

escuridão.

Foda-me!

— Maribelle, não pode voltar para casa a pé!

Ela continua correndo e vou atrás, puto da vida agora. Ela é rápida
para alguém usando sandálias, mas eu sou mais e em poucos passos, a pego

no colo e jogo sobre o meu ombro.

— Ponha-me no chão.

— Se com um desses chutes você acertar minhas bolas, vou


espancar sua bunda.

— Não se atreveria.

— Teste-me.

Ela me soca as costas com os punhos fechados e acerto uma


palmada forte na bunda redonda.
— Solte-me, seu monstro cruel!

Reviro os olhos e continuo andando para o carro. Quando chego na


porta do carona, aviso:

— Vou colocá-la no chão. Se sair correndo de novo, te sentarei


sobre meus joelhos e cumprirei a promessa da surra.

Ela não protesta mais e eu a desço devagar.

Quando está sobre os próprios pés, a respiração fica pesada.

A boca deliciosa está entreaberta e os olhos vidrados. Não preciso


demorar mais do que poucos segundos para entender.

— A ideia de ser espancada te deixou com tesão.

Estou muito perto do corpo dela. Quase prensando-a na porta do


carona.

Sei que devo me afastar, mas digo a mim mesmo que só estou
castigando-a por ter saído correndo.

Ela desvia os olhos e tenta me empurrar, forçando as duas palmas


abertas contra meu peito.

— Claro que não.

— Mentirosa. Eu consigo ver a outra dentro de você, Maribelle.


— A outra?

— Aham. A menina má, que mal pode esperar para descobrir tudo o
que vem depois do beijo. A libélula que quer se arriscar no voo.

Pego uma mecha do cabelo dela e enrolo nos dedos. É como tocar

seda.

— Não sei do que está falando.

— Não? — Abaixo-me para ficar na altura de seu rosto. — Me diga


uma coisa: quando disse que só deu beijos, estava falando na boca?

Seus olhos se arregalam e sei que a choquei, mas ela é uma mulher.
Uma muito linda, escondida atrás de uma fortaleza protetora. A ideia de
pensar em fazê-la desabrochar me deixa louco.

— Eu não entendo…

— Os beijos não são dados só na boca, baby. Eu diria até que os


melhores acontecem com os dois nus.

Sim, eu peguei pesado, mas ela é muito gostosa para que eu consiga
resistir.

Espero que me mande para o inferno ou até mesmo comece a gritar,


mas ela vira o rosto, a boca a poucos centímetros da minha.
— Onde?

— Onde o quê? — pergunto, inebriado com o calor da respiração


dela.

— Onde seriam os outros beijos?

Jesus Cristo!

— Não quer ouvir essa resposta, meu doce.

— Quero, sim.

Encaro-a na semi escuridão, mas ela não desvia os olhos. Disposto a


lhe dar uma amostra, abro a porta do carro e a sento no banco do carona,

encaixando-me no meio de suas pernas.

— Última chance de me mandar parar.

— Eu não quero que você pare…

Agarro seus quadris e trago-a para a ponta do banco, meu pau duro

pressionando o centro de suas coxas quando me abaixo e roço nossos

corpos juntos.

A tentação de olhar para a boceta ainda protegida pela lingerie é

grande, mas no momento, prefiro o rosto. A expressão é de êxtase assustado


e eu nem comecei, ainda.
— Wyatt... — diz, em um choramingo ansioso.

— Quer que te ensine sobre beijos? Qualquer beijo? — pergunto,


para ter certeza, já que não estou conseguindo pensar direito.

Ela não me responde, mas me puxa para seus braços.

Nossos lábios estão quase colados e eu gosto de ver o desejo

saltando daqueles olhos lindos.

Adiar tomar a boca de Maribelle é uma preliminar, mas também

uma espécie de tortura para mim.

Com uma das mãos, agarro sua coxa e com a outra, a parte de trás

da cabeça.

Quando choraminga ao sentir meus dedos roçando em sua pele nua,

desço minha boca na dela, faminto.

Primeiro, mordo seu lábio inferior, provando-o com a língua.

Chupando de leve. Não é o bastante, então, faço o que quero desde a


primeira vez em que a vi, enroscando os dedos em seu cabelo e a puxando

para um beijo duro.

Ela geme dentro da minha boca, a língua tímida implorando pela

minha.

Entrego-lhe tudo, sugando, lambendo, mamando a língua molhada.


As mãos dela vêm para a minha camisa, as unhas me arranhando por

cima do tecido.

Eu preciso de mais. Não posso esperar.

— Pediu beijos. Queria saber onde mais posso dá-los e eu quero


essa boceta na minha língua.

Abaixo-me, mordendo os mamilos pontudos por cima do tecido.

Depois, a barriga achatada.

Ergo suas coxas, plantando-lhe os pés no banco do carro, separando


suas pernas. Expondo-a para mim.

Ao longe, ouço o som de um carro passando na estrada, mas não

dou a mínima. Estamos protegidos de olhares curiosos.

— Não — diz, me empurrando, quando meus dedos já estão


enganchando nas laterais da calcinha e minha boca cheia d’água para provar

aquela boceta intocada.

— Eles não podem nos ver, baby.

— Não — repete e só então entendo que está me pedindo para


parar.

Não consigo ar suficiente em meus pulmões e quando me ergo, meu

corpo todo vibra com um desejo primitivo de tomá-la.


Dou um passo para trás. Sou mais forte do que isso.

Mesmo que tudo em mim grite para seduzi-la, nunca estive com
uma mulher sem que ela consentisse.

— Wyatt…

Escondo a frustração, cruzando os braços no peito.

— Como eu disse há pouco, você ainda é um bebê, Maribelle.

— Eu… — começa, mas gagueja. — Eu não…

Seu rosto denota confusão, mas me obrigo a não me comover.

— Não se dê ao trabalho de se explicar. Foi melhor assim. Não

posso entregar o que você sonha. Pode achar que é uma libélula, Maribelle,

mas na verdade, é um pássaro que se acostumou com a gaiola porque ela


lhe traz conforto. Já eu, gosto de espaços abertos.
Capítulo 19

Dias depois

— De que tipo de apartamento estamos falando? — Mackenzie


pergunta, se referindo ao imóvel ao qual estou em busca.

Por mais que eu adore a sensação de família que estar com Mary

Grace me traz, não desejo me acomodar novamente. As palavras de Wyatt

ficaram martelando na minha cabeça.


Pode achar que é uma libélula, Maribelle, mas na verdade, é um

pássaro que se acostumou com a gaiola porque ela lhe traz conforto. Já eu,
gosto de espaços abertos.

— Volte para mim, Maribelle — fala, brincando quando percebe que

me distraí.

— Hein? — disfarço.

— Sua cabeça está voando longe.

— Desculpe-me.

— O que acontece aí dentro?

— Não estou acostumada a me abrir. Você já é, sem medo de errar, a

pessoa que mais me conhece no mundo, mas de qualquer modo, falar do

que estou sentindo não é fácil.

— Tem a ver com Wyatt e aquela noite da festa da salsicha?

Suspiro.

— Se eu te contar, promete não me julgar?

— Vou fazer mais do que isso: vou lhe jurar.

Relato rapidamente tudo: desde nossa conversa durante a dança, até

eu ter saído correndo no mato e o “depois”.


— Ele te forçou? — pergunta preocupada, quando termino.

— O quê? Não! De jeito algum.

— Mas você não estava gostando, caso contrário, não teria pedido

que ele parasse.

— É que eu me senti… estranha.

— Estranha?

— Nem sei como explicar.

— Tente.

— Eu o quis. Naquele instante, nem me lembrei quem ele era — o

mulherengo da cidade que já deve ter a metade das solteiras do Texas em

sua lista de namoradas temporárias — tudo o que eu sabia era como o gosto

da boca dele na minha era deliciosa. Ou os grunhidos que fazia quando se

esfregava em mim. Ou a maneira como as mãos apertavam minhas coxas,

como garras.

Ela não ri e uma ruguinha de preocupação se forma no meio da

testa.

— Continue.
— Eu estava adorando tudo. Senti-me bem porque cada parte minha

que ele tocava me dava a sensação de que eu era especial. Mas eu tenho
uma consciência. Fui criada para sentir culpa, para pensar que tudo o que dá

prazer é errado e proibido. Quando caí em mim, percebi que estava indo
para um caminho sem volta com um homem que não era nada meu, nem
mesmo um ficante, então, me apavorei.

— Por quê? Quero dizer, você sabia quem ele era.

— Sim e foi exatamente isso o que me fez mandá-lo parar. Ele já


devia ter feito aquilo milhares de vezes e eu não queria que a perda da
minha virgindade fosse tão sem importância, em um banco de caminhonete.

Eu queria que, mesmo que fosse mentira, ele me enganasse, entende?


Dissesse que eu era especial e que nunca desejara tanto uma mulher. Eu não

esperava juras de amor, mas queria mais do que somente sexo e achei que
mandá-lo parar foi o melhor para nós dois.

— Se estava tão confusa, foi sim. Olha, não sou a melhor


conselheira. Meu primeiro tudo foi Callum e sabe onde isso deu: comigo
grávida e com uma aliança no dedo. Sei que está a fim de experimentar,

depois de tanto tempo sendo reprimida, mas nunca faça algo que você ache
que vai se sentir mal depois.

Paro, encarando-a, sem saber o que dizer.


— Eu não quero deixar para lá — confesso.

— Não sei se entendi.

— Eu quero experimentar e quero que seja com ele. Não paro de


pensar naquela noite. Porém, quero que seja do meu jeito. Eu vou seduzi-lo
e mesmo que vá embora no dia seguinte, como deve fazer com todas as

outras, não vou permitir que me entregue menos do que mereço.

Seu rosto não demonstra qualquer tipo de julgamento.

— Por isso quer se mudar da fazenda de Mary?

— Não. Eu não quero mais ficar na minha zona de conforto. —

Sorrio. — Não sou um pássaro, sou uma libélula.

Estamos na calçada de Grayland, na porta da imobiliária, quando


meu pai se aproxima.

Ele me olha de cima a baixo, provavelmente por conta do meu jeans


apertado e do top sem manga.

— Precisamos conversar — diz, sem sequer me cumprimentar.

— Não — respondo à queima-roupa, também. — Em algum

momento do futuro, sentaremos para ter essa conversa, mas não será agora.
O senhor fez suas escolhas, mas eu não consigo digeri-las, ainda. Talvez
nunca consiga.
— Não seja tola. É minha filha. Não pode me excluir da sua vida.

— Posso, sim, mas nem estou dizendo que será em definitivo, pai.
Talvez daqui a um tempo eu consiga olhar para o senhor sem sentir raiva,

mas me conheço e sei que vai demorar a passar.

— Eu não vou aceitar isso.

Mackenzie se interpõe entre nós.

— E que escolha tem? Ela é uma mulher livre. Não pode obrigá-la a
nada. Maribelle não é mais seu pássaro. Ela arrombou a porta da gaiola e

virou uma libélula.

Sorrio internamente tanto por ela comprar minha briga, quanto pela
analogia. Sou mesmo uma sortuda por tê-la como amiga.

— Vá embora, pai. Estamos chamando a atenção. Eu não quero

destruir sua falsa reputação de homem santo, mas não vou mentir. Se
vierem me perguntar a razão de eu ter saído de casa, vou falar. Não me
empurre além do que consigo ir. Não vai gostar do resultado.

— Está me ameaçando?

— Não. Ameaça é a arma dos fracos. Daqueles que gostam de


intimidar, de tornar a vida dos outros um inferno para esquecer da própria
existência sem sentido. Não tenho interesse em destruí-lo. Estou certa de
que a própria vida lhe dará o troco. Eu só estou avisando: o senhor me criou
dentro de uma mentira, com uma venda sobre os olhos. Eu a joguei fora e
agora consigo enxergar tudo à minha volta. Nunca mais vou usá-la.

Duas horas e meia depois, saímos de um apartamento de quarto e

sala em Caershire[21], uma cidade onde Mackenzie morou quando os pais

dela eram vivos. Fica muito perto de Grayland, sem ser de fato em

Grayland.

O corretor se despede de nós, depois de me entregar as chaves.


Finalmente tenho um lugar para chamar de meu. O melhor de tudo é que já

vem mobiliado.

Uma vez eu li uma reportagem que dizia que em nenhum país do


mundo as negociações se resolviam tão rapidamente quanto nos Estados

Unidos. Você entra em uma agência de veículos e apenas poucas horas


depois, sai com um carro. Hoje tive a prova disso, porque nunca imaginei

que seria tão fácil alugar um apartamento.

— Estou pensando em abrir um negócio — digo, já na calçada.

— De que tipo?

— Não sei. Venda online, talvez.

— Soube que a senhorita Gorette, da agência de casamento Par

Perfeito[22], está tentando passar a empresa adiante.

Dou risada.

— Não, obrigada. Acho que não é a minha praia. Vai que eu me

apaixono por um dos candidatos.

Ela parece pensativa.

— O que foi?

— Falou em venda online e eu tive uma ideia que não tem nada a

ver com um negócio em si, mas com um curso intensivo para você mesma,

se aquela coisa de seduzir Wyatt for verdade.

— Diga.

— Agora sou eu quem vai pedir para você não me julgar.

— Não vou. Prometo.


— Bem, eu te falei que leio até hoje uma escritora de livros hot, M.

Cabot Olson.

— Sim.

— Quando conheci Callum, eu e Becca fizemos um plano para que


eu o seduzisse porque eu não queria só sexo, queria que ficasse louco por

mim em todos os sentidos, também. Enfim, para tornar curta uma história

longa, deu mais ou menos certo. Ainda que as técnicas de sedução tenham

falhado, fez com que eu aprendesse muito sobre mim mesma. O que estou
tentando dizer é que você deveria tentar conhecer seu próprio corpo antes

que alguém o conheça.

— Como assim?

Ela pega o celular e abre um site. Quando vejo do que se trata, meu
queixo cai.

— Brinquedos sexuais? — pergunto baixinho, mesmo que não tenha

alguém em um raio de dez metros perto de nós.

— Aham. Talvez, se conseguir se divertir sozinha, não será tão


assustador quando alguém te tocar.

Como se o universo estivesse conspirando e sabe lá por que razão

ele está aqui, Wyatt passa de picape.


Sei que normalmente ele pararia para falar com Mackenzie, mas

talvez por eu estar junto, faz apenas um aceno de cabeça, como se quisesse
manter distância de mim.

Aquilo mexe com meu orgulho.

Tudo bem que da última vez que nos vimos, não acabou bem, mas

então o que? Nos tornamos inimigos, agora?

Pode me chamar de doida, mas ele me ignorar só me deixa mais

determinada.

— Escolhe comigo? — pergunto — Os brinquedos, quero dizer.

— Huh… isso é meio estranho.

Dou risada.

— É mesmo. Tudo bem, só me dê uma dica do que comprar.

— Está mesmo decidida a seduzi-lo? E se não passar de uma transa,

vai ficar bem com isso depois?

— Estou determinada a voar, Mackenzie. Não vou mentir e dizer


que não sinto medo, mas não quero olhar para trás daqui a dez anos e me

perguntar como teria sido.


Capítulo 20

— Wyatt, gostaria que ajudasse Maribelle com a mudança —

minha avó diz ao telefone.

Jogo o chapéu de qualquer jeito em cima da mesa do meu escritório

e passo a mão pelo rosto.

A última coisa que eu quero é rever aquele anjo sedutor. Depois que

esfriei a cabeça após a festa da salsicha, percebi que seria uma péssima

ideia termos continuado naquela noite.

Desde então, saio do meu caminho para não encontrá-la,


cumprimentando-a rapidamente quando é inevitável.
— Posso providenciar uma empresa profissional para fazê-lo —

respondo no automático porque não acho uma boa ideia ficar perto da loira.
Mas então, de repente, entendo o que ela acabou de dizer — Espera: falou

mudança? Para onde ela está indo?

— Ela alugou um apartamento em Caershire. Minha menina quer


crescer e eu a apoio totalmente. Maribelle floresce a olhos vistos. Quanto

ao que disse sobre encontrar alguém para ajudá-la, não precisa. Se fosse

para pedir a um estranho, eu conseguiria um funcionário da Império Gray.


Deus sabe que se minha coluna não estivesse tão estragada, eu mesmo iria.

Porra!

— Eu vou. — Rendo-me, mesmo sabendo que não é uma boa ideia.

— Quando será?

— Nós vamos sair para um cruzeiro no Caribe por uma semana.

Depois que voltarmos, ela se mudará.

— Cruzeiro? Não me disse nada sobre isso.

— Foi uma ideia de última hora. Acho que Maribelle está

precisando de um tempo de diversão. Conhecer gente nova. Quem sabe até,

com um pouco de sorte, não possa voltar de lá com um namorado?


Ácido corrói meu estômago, mesmo sabendo que não tenho o direito
de me sentir assim.

Mary Grace está certa, a passarinha precisa viver.

Esse é o meu lado racional falando, aquele que sempre fugiu de

complicações com as quais não deseja lidar. O que sempre esteve no


comando e me impediu de me aprofundar em relacionamentos porque sei

que não tenho nada a oferecer sobre sentimento. Tudo o que posso

compartilhar é o meu corpo.

Não é, no entanto, meu lado racional que vem à tona quando penso

em Maribelle. É o primitivo. Aquele que, mesmo após dias em que a beijei,

que senti o toque de seda de suas coxas, ainda não consegue esquecer de

como ela gemeu dentro da minha boca.

Bati o incrível recorde de uma semana sem foder porque não há um

nome em minha agenda telefônica que me interesse.

A quem estou querendo enganar? Eu estive até mesmo em Austin,

em uma boate e ainda assim, não consegui ficar com alguém.

Elas eram altas ou baixas demais.

Não gostava do tom de suas vozes ou da maneira direta com que,

após somente dois minutos de conversa, as mãos vinham para o meu peito.
Na verdade, não havia nada nelas que me agradasse porque quem eu

queria era a mulher que mesmo sem fazer qualquer esforço, é sedutora.

Aquela cuja voz rouquinha chamou meu nome quando mordisquei

seu mamilo por cima do tecido do vestido.

Jesus!

— Só me avise quando chegar o momento da mudança, vó. Boa


viagem.

Desligo o telefone, determinado a levar uma mulher para a cama


hoje.

Nunca tive vocação para masoquista e não vai ser agora que me
transformarei em um.

Maribelle não é para mim. Está na hora de voltar à minha rotina de


caçador.
Dallas

Boate Hazard[23]

Naquela noite

— Eu não acredito que nos encontramos aqui — a mulher ao meu


lado fala e eu viro o rosto para escanear a boate em que meu primo Reed

veio comemorar o aniversário.

Sei que o lugar pertence a um amigo dele, Beau LeBlanc[24] e

preciso confessar que, apesar de preferir música country ao rock ou pop, o


ambiente é agradável.

Principalmente porque eles fecharam todo o terceiro andar, em uma


espécie de festa privada, o que me faz questionar o que diabos essa mulher

ao meu lado está fazendo aqui.

Volto a encará-la, com um sorriso ensaiado.

— Nem eu — digo, louco para fugir.


Apesar da determinação de arrumar uma companhia para a noite de
hoje, ninguém ainda chamou a minha atenção.

Correção — penso, segundos depois, enquanto olho um corpo

recoberto por um vestido branco e curto na pista de dança — ninguém até


agora havia chamado minha atenção.

Paro de ouvir a mulher que insiste em conversar, completamente


focado na deusa loira — a minha deusa loira — que move o corpo sensual

no ritmo da música, como uma odalisca.

Precisei de apenas dois segundos para saber que se tratava de

Maribelle e apenas isso já deveria me ligar um sinal de alerta. Reconhecê-la


tão rapidamente me diz que a mulher está se inserindo sob a minha pele.

O problema é que estou hipnotizado demais pelo requebrar dos


quadris dela para lembrar o motivo pelo qual não deveria me sentir assim.

Penso em uma desculpa para ir até lá, mas antes que possa me
decidir, um cara se aproxima dela.

Foda-me! É o mesmo merda da festa da salsicha.

Ele lhe entrega uma bebida. Ela sorri como se ele fosse um presente

do céu e minha irritação alcança a lua.

Estão em um encontro? O que diabos aquilo significa?


Mackenzie disse que tinham quase um compromisso, mas achei que
era exagero. Agora, no entanto, já não tenho tanta certeza.

— Wyatt, por que ficarmos nesse barulho se posso te fazer feliz em

um dos banheiros da boate?

Normalmente, esse tipo de convite me animaria porque foi o que


sempre busquei em minhas saídas à noite: sexo divertido, sem compromisso

ou cobranças.

Hoje, entretanto, não acho que me satisfará.

Estou quase lhe agradecendo quando vejo o filho da puta colocar a

mão no quadril de Maribelle e logo depois sussurrar algo em seu ouvido.

Ela sorri, parecendo sem jeito, mas não o afasta.

Melhor assim, decido.

Determinado a varrer a mulher do meu sistema, volto-me para a

morena que ainda espera uma resposta.

— Quão feliz você está disposta a me fazer?


Capítulo 21

Eu vim essa noite com uma missão: jogar pesado para cima de

Wyatt Gray.

Entrei no tal site que Mackenzie me indicou e agora tenho alguns


brinquedos que, eu espero, me tornarão mais familiarizada com o meu
corpo.

Eles chegaram no dia seguinte e na casa de hóspedes de Mary Grace

— abençoada seja a entrega prime da Amazon — mas ainda não tive


coragem de abri-los. Decidi esperar para fazê-lo no meu apartamento, após

a mudança, porque de algum modo, parece meio ilícito me masturbar na

casa de hóspedes da avó de Wyatt.


Puxo o vestido branco, colado ao corpo, para baixo. Mackenzie

insistiu que eu o levasse quando fomos às compras em Dallas e quando


cheguei à boate hoje, as mulheres Gray aplaudiram minha audácia.

Tremi inteira quando vi meu objeto de desejo todo vestido de preto,

inclusive o chapéu. Se tem uma coisa que eu adoro em Wyatt é que não
importa onde vá, ele é sempre um cowboy, com seus inseparáveis

Stetson[25].

A minha alegria durou pouco, entretanto, porque assim que dei


minha primeira girada de corpo na pista de dança, vi uma sirigaita

pendurada nele.

Quero dizer, eles não estavam se tocando realmente, mas eu poderia


apostar que bastava um estalar de dedos e a mulher pularia em seu colo.

Como se o destino quisesse ajudar a dar uma recuperada na minha

autoestima, Dell apareceu do nada, me oferecendo uma bebida.

É o aniversário de Reed, então não faz sentido que ele esteja aqui.

Olhei para Mackenzie e ela me deu uma piscadinha.

Será que ela o chamou para fazer ciúmes em Wyatt ou porque

adivinhou que ele poderia ficar com outra e não queria que eu me sentisse
humilhada?
Tentei jogar junto, me movendo na pista com o cowboy reserva, mas
não funcionou para mim. Fiquei realmente incomodada quando ele colocou

a mão em meu quadril. Talvez essa coisa mais casual funcione para a

maioria das mulheres.

No entanto, eu não sou a maioria das mulheres. Preciso da conexão

e Dell, definitivamente, não é a minha conexão.

Quando ele se abaixou para sussurrar em meu ouvido, senti o hálito

de bebida alcoólica e percebi que precisava dar um basta naquilo antes que

fosse longe demais.

Estava pronta para sair quando vi Wyatt e sua acompanhante se

afastando para os fundos da boate.

Se eu estivesse com meus neurônios em pleno funcionamento, me

juntaria à mulherada Gray e deixaria o cretino safado para lá.

Acontece que descobri uma veia assassina em mim. Ou ciumenta.

Talvez um pouco de cada. O fato é que estava decidida a azedar a noite do

cowboy, ou ao menos, tentar.

Não botei esse vestido branco, que deixa minha bunda do tamanho

de uma lua cheia, à toa.


— Com licença — peço a Dell, que sorri como se eu tivesse dito a

coisa mais engraçada do mundo e tenho a confirmação de que está


definitivamente bêbado.

— Por que a pressa? — pergunta, segurando meu braço.

Olho para seus dedos me apertando e depois muito séria para ele,

que recua.

Ouço alguém me chamar e acho que foi Becca, mas sigo em frente

para onde acho que Wyatt foi porque estou louca de ciúmes.

Apresso o passo bem a tempo de ver o chapéu dele, entrando em um

quarto. Mackenzie me falou sobre eles — quartos privados nessa boate para
casais que querem se divertir sem plateia.

Sinto meu estômago enrolar em uma bola e parte de mim quer


deixar para lá. Ele que se dane.

Mas então, não foi isso que fiz a vida inteira? Deixar a vida seguir o
rumo, mesmo que parecesse o caminho errado? Ainda que me machucasse?

Não.

Voe, libélula.

Ao menos tente voar.


Abro a porta sem o menor constrangimento, mas um tanto surpresa

que não tenham tentado trancá-la.

A cena à minha frente não me surpreende porque não achei que

tinham ido ali para trocar beijos, mas ainda assim, me choca.

A mulher está ajoelhada na frente de Wyatt, o rosto na altura do

sexo dele, parecendo ansiosa. Ela nem parece se preocupar que eu tenha
aberto a porta.

Volto-me para encará-lo. Seu rosto demonstra surpresa e algo mais


que não consigo adivinhar.

As mãos estão espalmadas na parede. Ele não a toca ainda e de uma


maneira bizarra, aquilo me traz conforto.

Então é assim que as coisas são entre os casais modernos? Sem


beijos ou carinho? A mulher se ajoelha e pronto?

Puxo algumas respirações tentando me acalmar, mas não adianta. De


repente, percebo que não posso fazer aquilo e viro-me para sair.

Abro a porta, mas mal piso do lado de fora, alguém segura meu
braço.

Luto para me soltar, mas não consigo.

— Onde está sua companhia? Ou seria melhor dizer, encontro?


— Deixe-me ir — peço, morrendo de raiva.

— Não.

Antes que eu entenda o que está acontecendo, ele me arrasta pela


mão e vai testando porta por porta de outras salas que ficam naquele

corredor, até encontrar uma destrancado.

Ele me faz entrar, fecha e se recosta na porta.

— O que foi aquilo? — pergunta, parecendo zangado. — Onde está


seu parceiro dançarino?

— Vá para o inferno, Wyatt Gray. Não tem o direito de me cobrar


nada. Eu vi bem o que estava prestes a acontecer.

Estou com muita raiva, despeito, ciúmes. Emoções voláteis,


incontroláveis.

Para minha surpresa, ele sorri. Não parece um sorriso de felicidade,


e sim, de ironia, no entanto.

— E o que viu?

Ele dá um passo para perto e sinto minhas pernas tremerem.

— Ela estava prestes a o quê, Maribelle? Como pode achar que


consegue lidar comigo se nem fala a palavra chupar?
— Você é vulgar — acuso, em um misto entre zangada e excitada.

— Sou, sim. Vulgar, com uma boca imunda e adoro foder. Se não
tivesse me parado naquele dia, eu teria colocado suas pernas sobre meus

ombros e comido sua boceta com a minha língua. Eu ia fazer você gozar na
minha boca. Deliciar-me com seu mel.

Todos os nervos do meu corpo saltam em resposta à declaração

safada. Excitação nem chega perto de explicar o que estou sentindo. Minha
calcinha está tão molhada que tenho medo de que apareça no vestido.

Mesmo com toda a minha inexperiência, percebo que ele está

tentando me chocar. Quer me mostrar que sou mais uma e que não posso

lidar com a devassidão dele.

Louca em partes iguais, tanto por ousar me tratar como suas outras

conquistas quanto por me subestimar achando que não posso ser boa o

suficiente para aguentar fazer sexo do jeito que ele gosta, o desejo de me

vingar supera a vergonha.

— E quem disse que eu não ia gostar disso? — pergunto, tremendo.

— Quem disse que eu não uso os brinquedos que comprei online para me

satisfazer, fantasiando que é você me tocando? Quem disse que eu não


chamei seu nome quando me dei vários orgasmos? Quem disse que não me
toquei durante o banho, puxando meus mamilos duros, sonhando que fosse

sua boca?

Estou morrendo de vergonha, o coração batendo no ouvido, mas

satisfação se espalha dentro de mim quando o vejo engolir em seco.

Ele dá um passo para perto parecendo um predador e preciso de

muita concentração para me manter de pé. A atração física que sinto por ele
é quase dolorosa.

— Você fez? — pergunta, segurando minha cintura com rudeza.

— Oh, sim. Muitas vezes. Chamei seu nome em todos os orgasmos

que me dei desde aquele dia.

— Eu quero ver. — Rosna.

Sua respiração é ruidosa e estou a ponto de desmaiar de tanta

excitação, mas de repente, a porta se abre.

— Ah, aí estão vocês — Mackenzie diz e não sei se agradeço ou


bato nela. — Estamos indo, Maribelle. Podem terminar essa conversa outro

dia?

Olho nos olhos dele. Eu não quero ir, mas acho que Mackenzie me

interrompeu por uma razão. Confiando nela, me aproximo dele e sussurro.


— Vou fazer essa noite novamente, assim que chegar em casa. Só

que agora, vou imaginar que você está assistindo.

— Maribelle — minha amiga chama outra vez e eu vou. Assim que


estamos do lado de fora, ela pergunta. — O que foi aquilo?

— Pondo minha sedução em prática, embora ache que talvez tenha

exagerado.

— Amor, não há exageros entre um casal. Não deixe que a


hipocrisia do seu pai a contamine. Você é livre para satisfazer seu corpo.

— Por que veio?

— Porque por mais que eu aprove sua iniciativa, não vou deixar que

tenha sua primeira vez em uma sala privada na Hazard. Você e Wyatt

podem até ficar juntos por uma noite, mas nunca permita que ele lhe oferte
menos do que merece. Se não colocarmos limites para a maneira como as

pessoas nos tratam, elas não se importarão. Aprenda a não se contentar com

a entrada. Exija o jantar inteiro, caso contrário, acredite, é preferível voltar


para casa com fome.
Capítulo 22

Dez dias depois

— Eu tenho que te agradecer, minha filha.

— Pelo quê, Mary?

— Ao programar essa viagem e me deixar ir junto, me fez ver que


existe um mundo fora do Texas. Uma semana em um cruzeiro no Caribe e

eu voltei a me sentir como se tivesse dezoito anos.

— E ainda estamos bronzeadas!


— Não é vantagem. Poderíamos pegar sol aqui mesmo na piscina da

sede, mas viajar faz bem. Está parecendo outra pessoa, Maribelle.

— É estranho, né? Passamos pouco tempo fora e ainda assim parece

que saímos de Grayland há séculos.

— Porque viajar renova a alma.

— É, acho que sim, mas agora que as férias acabaram, tenho que
começar a colocar minha vida em ordem. Não há mais como adiar.

— Amanhã pode fazer isso. Já falei com Wyatt e ele a ajudará com a

mudança — diz e meu coração erra as batidas. — Hoje temos a festa na

fazenda de Hudson. Família reunida, banho de cachoeira, comida e bebida.


Pode ter algo melhor do que isso?

Sorrio.

— Tudo bem. Vou só trocar de roupa e podemos seguir direto para


lá — digo, dirigindo-me para a casa de hóspedes.

Enquanto estive fora, soube por Mackenzie que os fofoqueiros da

cidade já começaram a comentar sobre o fato de que aluguei um

apartamento. Agora, mais do que nunca, fico satisfeita que tenha sido em

Caershire. Assim, mato dois coelhos com uma cajadada só: ao mesmo
tempo em que não fico perto do meu pai, mantenho-me longe dos olhos dos
enxeridos de plantão.

E por falar em pai, ele me telefonou pedindo novamente para

conversar. Eu neguei. Ele não vai me forçar a fazer o que eu não quero,

como fez ao longo da vida. Eu direi quando achar que posso me sentar e

ouvi-lo.

— Não está cansada? Eu posso ir na frente.

— A senhora se importaria? É que quero desfazer as malas, mas

prometo que não vou me atrasar.

— Sem pressa, minha filha. Garanto que meu neto providenciou


comida para um exército, se bem o conheço.

O avião de Hudson nos trouxe de Miami, onde o navio ancorou,

para cá.

Mesmo antes do que aconteceu entre mim e Wyatt naquela noite na


boate, eu já decidira que precisava seguir o conselho de Adele e sair por uns

dias. Quando contei sobre meus planos para a matriarca Gray, ela se

ofereceu para me acompanhar.

Sento-me na cama, vendo a tarde cair lá fora.


Foi uma boa viagem. Dancei, comi bem, bebi e me diverti. Até

mesmo deixei que um dos hóspedes do cruzeiro me levasse para um passeio


pelo deck à noite e me beijasse.

Não que eu estivesse com vontade de beijá-lo de volta, mas queria


tirar a prova dos nove se aquela loucura que vivi com Wyatt Gray era real,
porque não importa o quanto eu lute para me sentir uma libélula, o pássaro

dentro de mim, de vez em quando, ainda pensa na gaiola que deixou para
trás.

Eu não quero ser um pássaro, entretanto. Não preciso mais de uma


gaiola. Quero voar livre como a libélula. Arriscar e ter medo do pouso.

Quero o frio na barriga que Wyatt me faz sentir.

Eu quero mais dele, mesmo que, como falou, eu possa me machucar

no processo.

Beijei o cara no cruzeiro. Poderia ter ido além se desejasse, porque


estava em uma cabine separada de Mary Grace. Porém, a exemplo de Dell,
nem minha pele arrepiada ele deixou.

Não quero passar o resto da vida pensando em como seria se eu


tivesse permitido que as coisas entre mim e Wyatt evoluíssem. Eu quero

sentir. Respirar aquele cheiro másculo e único porque só de pensar nele, já


fico quente em todos os lugares.
Determinada, levanto-me da cama e vou tomar um banho.

Será uma festa na cachoeira que fica por trás da casa de Hudson e eu
tinha pensado em usar somente shorts e top, mas Mackenzie me ligou e

falou que Wyatt iria.

Disse-me para tomar cuidado, mas que estava mesmo na hora de

começar a viver.

Olho para minha mala aberta.

Não sou corajosa o bastante para usar um biquíni, mas posso ao


menos colocar um maiô vermelho de peça inteira que comprei no navio.

De qualquer modo, vou estar mostrando bem mais do que ele viu até
agora.

Decido me trocar lá na casa do governador. Se todas as mulheres

estiverem em roupa de banho, eu ficarei também.


Cerca de uma hora depois, já estou na estrada para a Rubi Farm —
soube que Hudson rebatizou a fazenda em homenagem à esposa, Antonella,
já que rubi é sua pedra preciosa favorita.

De repente, aperto os olhos, achando que estou tendo uma miragem.


Há um carro parado no meio da estrada.

Meu coração dispara em uma corrida louca quando vejo quem é.

Desço do veículo, tentando esconder um sorriso. Depois da maneira

que nos separamos naquela noite, talvez o meu devasso não esteja de bom
humor.

Seu devasso temporário — a voz da razão avisa, mas eu não me


importo.

Não estou pensando em casamento. Eu só quero… ele.


Experimentá-lo e ao menos guardar uma noite na memória.

No fim, eu nem mesmo sei se continuarei no campo ou se me


mudarei para Dallas. Tenho pensado a respeito.

Enquanto ando para a picape dele, noto que também me viu chegar,
porque desce.

Olho para o cowboy gostosão, suado e sem camisa.


É, pelo visto, a caminhonete quebrou e que sorte a dele — ou a
minha, que eu estivesse passando nesse exato momento.

Estranho porque o carro dele é novo em folha. O que pode ter

acontecido?

Seu olhar me examina inteira e é raivoso, mas eu não me deixo


abater.

Determinada a conquistá-lo, nem que seja por uma noite, caminho


em sua direção, caprichando no rebolado dos quadris.

Tenho que segurar a risada porque me sinto meio ridícula. Nunca fiz

o tipo sedutora.

Wyatt para na porta da caminhonete e desvia os olhos, focando no


céu e me ignorando agora, mas eu não vou desistir tão fácil.

Danado de cowboy orgulhoso. Será que feri seus sentimentos

naquele dia?

Se eu não tivesse viajado, beijado e dançado com outro cara, seu


comportamento me intimidaria, mas eu já não me sinto tão insegura, então,

abro o primeiro botão da camisa xadrez, logo acima do sutiã e empino os

seios ao ponto de quase me alcançarem o queixo. Se tem algo com que

Deus me agraciou é com uma bela comissão de frente.


Quando volto a encará-lo, está focado em mim.

Olha meu decote e aperta os olhos como se estivesse com raiva, mas
não faço caso de sua expressão fechada.

Qual é o problema do homem? Sai com o Texas inteiro ou não teria

ganhado o apelido de “devasso” e mesmo assim, nesse instante, parece com

vontade de fugir do meu caminho como o diabo da cruz.

Chega! — decido. — Ele pode ainda não saber, mas vai ser meu.

Prepare-se, cowboy, porque estou em uma missão de vida: conseguir

cada grama de prazer que esse corpo sexy puder me proporcionar.

Eu finalmente o alcanço, mas antes que eu possa lhe dizer algo, a


porta do carona da picape dele se abre e uma ruiva desce.

Fico em choque, toda minha coragem se esvaindo como por

encanto. A vontade de dar meia volta é grande e preciso enfiar as mãos nos

bolsos do short jeans para não ceder à tentação de fechar os botões da blusa
xadrez.

Por fora, mantenho o falso olhar de autoconfiança. Ensaiei muito no

meu quarto hoje para quando o encontrasse na festa de Hudson.

Por dentro, no entanto, sinto-me murchar.

— Precisam de ajuda? — pergunto, fingido que está tudo bem.


Antes que ele responda, a mulher se intromete.

— Maribelle, nossa, como você está... diferente. Linda, até! — diz,

como se fosse uma surpresa.

Eu não sei quem ela é, mas o contrário não parece ser verdade.
Quem não conhece a “viúva virgem”, não é mesmo?

Pare com isso, tola. Não permita que o ciúme mine sua

autoconfiança. Você sabia onde estava se metendo. Ele mesmo disse que
não era santo.

Mas também não precisava esfregar o pecado na minha cara, né?

Nossa, como sou idiota!

— Olá — cumprimento a mulher. — Nós já nos conhecemos?

— Todo mundo te conhece — diz, confirmando minhas suspeitas.

— Pois é, sou meio que uma celebridade — respondo, usando


minha veia cômica para disfarçar o quanto me sinto diminuída.

Ela solta um bufo de riso, o que ajuda a dar um pouco mais de

leveza ao meu constrangimento.

Não encaro mais Wyatt, prefiro focar na escolhida da noite.

— E então, querem uma carona?


— Eu quero, sim — ela responde.

— Qual é o problema com o carro? — pergunto ao Gray, mas sem


olhar para ele.

— Pneu furado. — Ele rosna. — É a segunda vez na semana e eu

ainda não tive tempo de providenciar um estepe. O celular não pega nessa

parte da estrada.

Bem feito. Deveria te deixar aí, seu safado.

— Ah, que azar — falo, acrescentando mais pecado à minha recente

lista porque na verdade, eu não lamento nada. — Okay. Bom, eu tenho uma

festa para ir, então se quiserem que eu os leve para onde quer que seja, tem
que se apressar.

A ruiva não perde tempo e senta no banco de trás.

Por que fez isso? Não estão juntos? Se ele fosse meu, eu nunca o

deixaria ir na frente com uma mulher.

Ou então, talvez, as companhias femininas de Wyatt sejam tão

desapegadas quanto ele.

Tanto faz. Eu só quero chegar à casa do governador e esquecer desse

meu plano besta de seduzir o devasso.


Capítulo 23

— Para onde vocês vão? — ela pergunta parecendo zangada, quando


me sento ao seu lado.

— Eu vou para o churrasco na casa de Hudson. Tanya tem outro roteiro

a seguir.

— Eu estava indo encontrar com a minha mãe, mas agora que falou em
festa... — ela diz.

Olho para ela pelo retrovisor mais irritado do que quando vi Maribelle
chegando toda linda na estrada. Antes que eu abra a boca, entretanto, minha

motorista improvisada responde:


— É uma festa em família.

Seu tom não é grosseiro, mas até o mais desatento dos observadores
perceberia que ela está bufando e a situação começa a me divertir.

Não saio com a ruiva desde o bendito trio.

Eu encontrei com Tanya por acaso na estrada e ela me pediu uma carona
até o posto de gasolina, onde a mãe dela trabalha.

— Você não é da família — responde a Maribelle.

— Sou convidada de Mary Grace e ela é a rainha do clã. Agora, se quer


mesmo continuar no meu carro, melhor pensar antes de falar. Eu poderia

mudar de ideia e te deixar a pé.

— Não faria isso. Você é a santinha da cidade!


— Na verdade, estou em busca de um novo rótulo. Santinha e viúva

virgem estão ultrapassados. Tenho pensado em algo mais maligno.


Seguro uma risada porque vejo que ela está falando parcialmente sério e

não duvido que seja por ciúme.

Maribelle merece depois de me deixar louco por dez dias. Passei esse

tempo em que esteve viajando fantasiando com ela se masturbando com um

vibrador e gemendo meu nome.

Limpo a garganta tentando apagar a cena porque ficar com tesão em


uma festa familiar seria ridículo.
— Não vou perguntar de novo. Para onde vai, senhorita? — Maribelle
insiste.

Tomo as rédeas da situação e digo o endereço do posto de gasolina.

Cinco minutos depois, deixamos uma Tanya muito irritada para trás.

— Tem certeza de que não quer ficar com ela?

— Não.

— Não tem certeza?


— Não quero ficar. Ela é passado.

Foi uma frase intencional. Tanto para fazer com que sua expressão

fechada desanuvie quanto para avisá-la de que comigo, em algum

momento, tudo se torna passado.

— Não parecia ser o que ela pensa.

— Eu não posso me responsabilizar pela expectativa alheia, Maribelle.

Vejo-a agarrar o volante com força ao ponto dos nós dos dedos ficarem
brancos.

Ela acelera, como se quisesse chegar à fazenda de Hudson o mais

depressa possível.

Eu nem queria vir, para início de conversa. Disse a mim mesmo que era

para rever a família, mas é mentira. Almocei com eles no domingo passado

quando Dominika, a esposa de Reed, organizou a refeição semanal, para


manter a tradição de Mary, que estava no Caribe.
— Como foi o cruzeiro? — pergunto.

Olho a coxa bronzeada de dourado clarinho. Ela está corada e com um


ar saudável, o cabelo cor de areia tão brilhante quanto ouro puro.

Linda para caralho.


Lembro dos homens virando a cabeça para olhá-la na festa da salsicha e
também na boate. Quantos mais fizeram isso nos dias em que esteve fora?

Sim, é um pensamento fodidamente egoísta, mas incontrolável,


também.

A ausência de resposta me faz voltar a encará-la e quando noto um


sorriso malicioso, como se estivesse guardando um segredo, quero parar o

carro e obrigá-la a falar.


— Nenhuma resposta?
Seu sorriso aumenta.

— Nunca te falaram que a ausência de resposta já é uma resposta?


— Está dizendo isso porque ficou com ciúmes de Tanya. Quando foi

embora naquela noite na boate, me disse que usou brinquedos pensando em


mim, baby. Boa tentativa, mas ninguém passa de uma boa menina para

uma má em tão pouco tempo.


Estou tão distraído tentando provar meu ponto que não percebo que ela
já está estacionando na Rubi Farm.

Desliga o carro e volta a me encarar.


— Então eu sou uma boa menina, né? Sabe que eu e Mary estávamos

em quartos separados? Sabe que eu dancei com vários caras e… até deixei
um deles me beijar?

Meu sangue ferve.


— Só beijos?

— Aham.
Um sorriso pretensioso se espalha pelo meu rosto e observo enquanto
ela coloca a mão na maçaneta e abre a porta.

Antes de sair, no entanto, volta-se para mim.


— Mas oh, baby! Foi você mesmo quem me ensinou que beijos não são

somente na boca, lembra?


Ela desce do carro em seguida, me deixando sozinho para adivinhar se
estava blefando.

É claro que estava, digo a mim mesmo enquanto pego meu celular para
pedir ao meu capataz para rebocar a picape. Nem me preocupo em como

vou voltar. Maribelle me trouxe, ela me levará de volta.


Não demoro muito tempo e vou ao encontro da minha família. Depois

de falar rapidamente com todos e por último com a minha avó, escolho uma
cadeira um pouco distante dos outros.
Fico surpreso quando Bryce senta-se do meu lado.
— Não sabia que viria — falo, levantando-me para abraçá-lo. Mesmo
morando em estados diferentes, houve um tempo em que éramos bem
próximos.

Agora, ele vive e respira política, cada vez mais engajado em suceder
Hudson no governo do Texas.

— Eu não podia vir, mas às vezes preciso escapar da cidade grande para
respirar.
Eu entendo o que ele está dizendo. Andei o mundo inteiro, mas mesmo

em minhas viagens, meus pousos sempre eram em cidades do interior.


Nunca pensei em me estabelecer em qualquer lugar fora do campo.

— Vale a pena renunciar a tudo isso aqui pela política? — pergunto.


— Você não entende.

— Não mesmo. Explique-me.


— Eu não quero o poder pelo poder, mas pelo uso que posso fazer dele.
Quero gravar meu nome na história.

— Mesmo que para isso tenha que abrir mão de algumas partes da sua
vida?

— Não vou deixar nada para trás. Eu nunca aceitaria menos do que
tudo.
Antes que eu possa retrucar, meu olhar é preso por um maiô vermelho

que cobre o corpo da mulher que tem tirado meu sono.


Talvez pelo meu silêncio, Bryce vira-se para olhar também.
— Foda-me! Aquela é… Maribelle? A menina que chamavam de
“viúva virgem”?

— Nem pense nisso. — aviso me levantando.


— Ela é sua?

— É só uma questão de tempo — falo, me afastando porque acabo de


decidir que sim, Maribelle será minha.
Há várias outras questões que eu deveria levar em consideração, mas no

momento, a única coisa que consigo pensar é que está na hora de lhe dar o

que nós dois queremos desde a primeira vez em que nos vimos.
Capítulo 24

— Não seja boba, você está linda — Antonella, a esposa de Hudson,


ralha quando tento disfarçadamente me cobrir.

— Estou nua.
— Tanto quanto qualquer uma delas, meu bem. — Mary Grace me

socorre. — Eu preciso falar com você. Se importaria de dormirmos aqui?

Calculei mal a saudade que estou sentindo da família e todos os meninos


decidiram ficar para pernoitar. Até porque, está prevista uma tempestade

para daqui a algumas horas. As estradas podem ficar perigosas.

— Não se preocupe, vó. Vou de carona com ela — Wyatt diz, se


aproximando. — O pneu do meu carro furou e fiquei a pé na estrada.
Maribelle me trouxe e voltarei lhe fazendo companhia.

— Vai dormir na Império Gray? — Mary pergunta, parecendo


desconfiada.

— Não. Vou para casa, mas antes garantirei que Maribelle chegue em

segurança.
— Não se esqueça de que amanhã é a mudança dela.

— O quê? — pergunto, sem jeito.

— Eu lhe avisei de que Wyatt a ajudaria.


Eu havia me esquecido.

— Não há necessidade.

— Claro que há, sim. Nós só fazemos força quando não há homem por
perto, minha filha, caso contrário, cinquenta por cento da utilidade deles

desaparece.
Ouço risadas das mulheres Gray e de repente o governador se junta a

nós e puxa a esposa para um beijo.

— Eu tenho muito mais utilidade do que pegar peso, mulher — diz,

com um olhar malicioso e Antonella se derrete.

— Claro que sim, senhor governador. O bom povo do Texas o ama.

Ele lhe dá uma palmada na bunda e logo em seguida um pequeno


cowboy aparece.

— Não pode batê na minha mamãe, pai. Dama.


Ele coloca as mãos na cintura para mostrar que está falando sério e um
coro de “ownnnnnn” se faz ouvir.

Meu relógio biológico berra ao ver aquilo e por um momento, sinto meu

coração contrair, mas tento afastar a sensação para longe.

Eu quero tanto uma família!

Disfarçadamente, sigo para a cachoeira, torcendo para que ninguém

note.
Quando chego lá, no entanto, dou de cara com Bryce sentado em uma

pedra, só de sunga.

Ele poderia passar perfeitamente por uma escultura de mármore,

tamanha a perfeição do corpo, mas apesar disso, não me atrai como o primo

cafajeste e que, diga-se de passagem, também é uma delícia.

— Veio se refrescar, Maribelle?

Meu Deus do céu, esses homens Gray deveriam ser presos,


principalmente os solteiros. Não bastasse a belezura, ainda tem que ter essa

voz de trovão tão sexy?

— Estou fugindo, na verdade.

— Fugindo?

— Não me leve a mal, adoro sua família, mas passei muito tempo

sozinha com a minha mãe e às vezes sinto falta do silêncio.


Eu hesito antes de entrar e ele percebe.
— Eu não mordo. — Pausa. — Não muito, ao menos. Na verdade, atuo

mais atendendo a pedidos.


Doce Senhor Jesus!

— Bryce. — Ouço a voz de Wyatt atrás de mim, mas não me viro. Ao


invés disso, mergulho na água que está quase morna por causa da alta
temperatura.

Eu não sei por quanto tempo eu nado, mesmo sem ver muita coisa.
Há luzes direcionadas para a água, mas estou feliz de ficar escondida.

Assim, tomo um susto quando Wyatt emerge da água com o corpo


praticamente colado no meu.

— O que você quer? — ele pergunta tão próximo que eu não consigo
me concentrar em nada mais do que nos movimentos de sua boca.
Eu poderia mentir. Poderia fingir que não entendi a pergunta, mas o

relógio da vida está correndo.


Tique-taque. Tique-taque. Tique-taque.

— Ser libélula — respondo antes que me acovarde.


— Quer voar comigo?

Balanço a cabeça de um lado para o outro.


— Não preciso de apoio. Ou talvez precise, mas não quero. Você não é
um “para sempre”, você é só o frio na barriga, a emoção. Basta me ensinar

o caminho e eu vou segui-lo no voo.


Ele não me dá espaço para pensar e eu nem quero isso nesse instante.

Só quero a boca e dentes dele em mim.


Quando me beija, eu me entrego, mas também tomo o que desejo,

arranhando as costas dele, ondulando meu corpo porque eu acabo de


aprender o quanto é gostoso sentir sua estrutura dura contra meus mamilos

sensibilizados.
Não faço ideia se Bryce se foi porque não existe nada nesse instante
além das mãos calejadas de Wyatt nas minhas costas nuas, o cheiro me

dominando e a língua pegando o que anseia.


— Eu quero te foder a noite inteira. Eu sei que é virgem, mas não vou

sair de dentro dessa boceta, Maribelle. Estou faminto.


As mãos apertam meu bumbum com tanta violência que acho que
deixarão marcas, mas eu adoro, gemo, implorando por mais. Então me

lembro de algo e me afasto para tomar fôlego.


— Você ficou com ela hoje?

— Isso importa?
— Para mim, sim.

— Não. Eu não fiquei com qualquer outra desde que te peguei no carro,
na festa da salsicha. Bati todos os meus recordes de dias sem foda desde a
adolescência e é por isso que estou te avisando que vou te virar do avesso

essa noite.
Escondo uma risada no peito dele.
— Sou virgem. Não pode me machucar.
Ele segura meu rosto e me olha tão sério que preciso me esforçar para

lembrar quem somos, caso contrário, corro o risco de entregar mais do que
receberei.

— Eu não vou machucar seu corpo. Prometo. Vou te tratar como a


preciosidade que você é, mas não se apaixone por mim, Maribelle. Eu não
tenho nada a oferecer.

— Eu não vou. Não se preocupe. Eu nem mesmo sei se continuarei em


Grayland por muito tempo.

— Vai se mudar amanhã. Tem um contrato. Não pode ir embora de uma


hora para outra — fala, parecendo zangado.

— Eu só preciso pagar uma multa se eu desistir antes de seis meses.


Mas não quero falar disso agora. Não quero pensar em nada além do hoje.
— Vou te levar comigo.

— Eu sei.
— Não estou falando para irmos embora apenas. Vai comigo para

minha fazenda.
— Eu não…
— Eu não estava brincando, Maribelle. Decida-se.

Engulo em seco, sabendo que estou seguindo um caminho sem volta.


— Vou com você.
Eu fico meio que no automático quando ele me tira da água e me seca
como se eu fosse uma boneca.

— Preciso trocar de roupa.


— Vista um shorts. Não quero esperar — diz.

Um arrepio de desejo atravessa meu corpo.


— Eu vou falar com sua avó, ao menos.
Ele acena com a cabeça, concordando, mas o rosto parece tenso.

Dez minutos depois, sento-me no banco do carona do meu carro. Wyatt

nem perguntou se eu queria dirigir, o que foi uma boa coisa porque sinto
minhas pernas instáveis.

Ele não me toca enquanto conduz, mas de vez em quando, tira os olhos

da estrada e mesmo na penumbra do veículo, sinto a força do seu desejo.

— É sempre assim? — pergunto, tentando entender.


— O quê?

— Você me olha como se quisesse me devorar.

— Eu quero te devorar.
Viro-me para fora, me sentindo uma tola.

Claro que isso é algo que ele faz com frequência. Seria estupidez me

sentir especial.
— Nunca foi assim — fala, e as palavras saem roucas como se fosse

difícil dizê-las. — Eu não quis qualquer outra desde que te beijei porque
elas não seriam capazes de aplacar minha fome.

Volto a encará-lo, mas ele está olhando para a frente.

— E qual é o significado disso?


— Atração como nunca senti — responde e eu repito para mim mesma

que é mais do que suficiente. É além do que senti pelo homem com quem

me casei.

É minha vez de focar na estrada.


— Arrependida? — ele pergunta e a voz soa como um desafio. Como se

dissesse: ainda dá tempo de correr.

— Não. Prefiro assim.


— Assim como?

— Foi honesto comigo e aprecio isso. Você me desperta luxúria.

Quando eu encontrar alguém que me desperte amor, saberei a diferença.


Capítulo 25

Ela não fala nada durante todo o caminho para a Golden Valley e se
fosse qualquer outra mulher, aquilo meio que me desestimularia.
Por nunca ter forjado uma relação emocional com as minhas parceiras,

sexo para mim sempre foi sinônimo de diversão.


Foder gostoso, dar e receber prazer, podendo ir embora no dia seguinte

com a consciência tranquila de que eu e a mulher tivemos um bom tempo


juntos é uma maneira de ter certeza de que joguei um jogo justo, sem iludir

quem quer que fosse.

Sem falsas promessas ou mal-entendidos.


Hoje, entretanto, enquanto pressinto Maribelle torcendo as mãos no

colo, tenho que admitir que estou nervoso, também.


Não é só o fato de que nunca estive com uma virgem, mas porque o

desejo que sinto por ela é de uma selvageria incontrolável.

E há algo mais: quero o corpo dela, mas também quero ver o rosto lindo
se rendendo e me entregando tudo. Testemunhar suas descobertas e ser o

responsável pelos gemidos de prazer.

Desligo o carro em frente à casa da sede e solto seu cinto, puxando-a


para mim e beijando-lhe a boca.

É um beijo primitivo, mas também uma punição por me deixar tão

louco.
Ela não me afasta. Ao invés disso, senta-se no meu colo.

Gemo ao sentir a boceta mal coberta pelo shorts massageando meu eixo.
Agarro as ancas largas, esfregando seu corpo contra o meu.

Parece que voltei a ter quinze anos, quando meus hormônios estavam

em descontrole e não que sou um cara de trinta e dois, que já teve o triplo

de sexo da média dos homens na vida.

Ela me surpreende, beijando e mordendo meu pescoço. Como intuí,

Maribelle é naturalmente deliciosa, mesmo que inexperiente.


A temperatura do carro sobe, mas de jeito nenhum vou fodê-la aqui,

então agarro sua nuca determinado a fazê-la ver que não vamos finalizar
nossa primeira vez em um espaço apertado.
Eu nem chego a falar nada e meu celular começa a apitar alto. Sei o que

o som significa. É aviso de tempestade[26].

Maribelle pula do meu colo porque cresceu na região e está acostumada

com aquilo também.

Pego o aparelho.
— Porra, a chuva que só iria cair de madrugada, vai começar dentro de

alguns minutos. O status também mudou. Estão esperando uma quantidade

de água muito maior do que previram inicialmente. Preciso ir aos estábulos.

Não dará tempo de avisar os meus funcionários e tenho que conferir se os

animais estão em segurança.

— Vou com você.


— Não, vai se molhar. Entre na casa. O código da porta é oito seis nove

um.

— Qual o significado?

— O ano de nascimento da minha mãe, ao contrário.

— Obrigada por pensar em mim — diz, saltando do carro —, mas vou

com você. Não sou uma boneca.

Não dá tempo de discutir, então vou para fora também.


Sentimos os primeiros pingos grossos de chuva e pegando a mão dela,

começo a correr.
Vinte minutos depois, após me certificar de que todas as passagens

pelas quais a chuva poderia entrar estão fechadas e meus animais


protegidos, mas nós dois, encharcados, olho para uma Maribelle sorridente,

descalça, o cabelo grudado no rosto.


Para mim, mais linda do que nunca.
— Por que meus planos com você nunca dão certo? — pergunto.

Seu sorriso aumenta.


— Tinha planos para mim? — Como se lembrasse do que viemos fazer

aqui, seu rosto fica muito vermelho — Quero dizer… huh… sei que viemos
para…

— Foder? — falo, sem medir palavras. Ela decidiu que me quer e não
vou lhe entregar uma versão suave, e sim quem sou. — Sim, nós viemos,
mas eu queria te levar lá para cima, para o meu quarto e te dar a noite que

você merece.
Nesse momento, porém, é impossível. Já deve estar tudo alagado porque

a chuva cai inclemente.


— Eu não me importo. Eu só quero você.

Suas palavras me aquecem inteiro e eu não quero sentir isso.


— Por quê? Você é linda. Poderia ser com qualquer cara. Homens que
poderiam te dar o sonho, o para sempre.

Seu rosto se fecha.


— Não ache que me conhece, Wyatt Gray. Não sabe nada sobre meus

sonhos. Não sabe nada sobre mim. Quer saber por que escolhi você? Porque
estou cansada de ter medo e nada me assusta mais do que o que você me faz

sentir. Cada vez que eu te encontro, é como descer por uma montanha-
russa. Eu fico apavorada, mas louca para descobrir o que acontecerá no fim

da queda.
Eu me aproximo e no meio do caminho, tiro a camisa, botas e o jeans
que coloquei por cima da sunga molhada, quando saí da casa de Hudson.

Não posso mais ouvi-la falar porque suas palavras estão penetrando em
mim e talvez jamais desapareçam.

Sem desviar nossos olhos, corajosa, ela desce o shorts, deixando-o a


seus pés e me olhando desafiadoramente.
Eu a pego no colo com rudez, segurando a parte de baixo de suas coxas

e fazendo com que se enrosque à minha volta.


Dessa vez, é ela quem toma a iniciativa do beijo, puxando meu rosto

com as duas mãos. Furiosa, desejosa, exigindo tudo.


Ela está se entregando, mas não aceita nada menos do que tudo de volta

também e aquilo me deixa louco.


Meu pau duro empurra contra a boceta protegida apenas pelo maiô e ela
rebola, mas depois se afasta e me olha, como se se assustasse com a

sensação.
Provavelmente porque só brincou com o vibrador.
Merda, isso me faz lembra do que disse na boate: que se masturbava
pensando em mim.

— Não sou um cara romântico — aviso.


— Não estou atrás de romance. Quero você.

Mordo seus lábios e depois comando:


— Dessa as alças. Quero ver esses peitos.
Quando ela finalmente se descobre, mostrando os dois seios grandes, as

auréolas ainda maiores do que imaginei, pontudas, rosadas, eu não consigo


resistir a lambê-los.

Ela geme alto, apertando meu cabelo e começo a mamar mais forte.
A loucura de um parece refletir no outro. Febre, paixão, lascívia, tudo

misturado sem qualquer medida.


Minha língua dança, revezando-se entre os mamilos e eu não consigo
ter o suficiente.

As mãos a seguram com força pela bunda, fazendo-a se mover no meu


pau.

Se não fossem os finos tecidos da sunga e do maiô, tenho certeza de que


conseguiria sentir a boceta molhada.
A cada gemido dela, fico ainda mais viciado, sedento, louco para ter

tudo.
Os beijos são duros, rudes, com nossos dentes se chocando.
Eu mordo seu pescoço, chupo em seguida, volto a abocanhar um peito,
mamando o bico durinho.

Ela choraminga de tesão, as unhas cravando em meus ombros.


Puxo o maiô para o lado e o ar deixa meus pulmões ao sentir o quanto

está molhada.
Na primeira passada do meu dedo médio em sua abertura, ela quase
pula no meu colo, cravando as unhas nas minhas costas.

— Porra, Maribelle. Você é muito gostosa.

— Machuquei você?
— Não. Continue, amor.

Ando com ela para o quarto que meus homens usam quando dormem na

sede. Sei que não é o ideal, mas está limpo e é mais confortável do que o

feno.
Quando chegamos lá, fecho a porta. Ainda que eu saiba que a chance de

que alguém apareça é remota, me sinto possessivo sobre Maribelle.

Deito-a na cama, mas ela não aceita ficar esperando, entretanto. Volta a
se levantar e sem me encarar, desce o maiô até ficar completamente nua.

Estou paralisado por sua beleza. A cintura fina, os peitos, a boceta de

pelos aparados e em um tom mais escuro do que o cabelo.


Eu me afasto para olhá-la.
— Sente-se na beira da cama.

Ela hesita somente por uns segundos antes de me obedecer.


Eu me ajoelho à sua frente e deixo as mãos percorrerem as coxas, que

ainda estão juntas.

Sua vergonha me excita ainda mais, porque eu sei que apesar de


inocente, ela tem muito fogo dentro de si.

Ela me observa e percebo que está assustada, mas também curiosa.

Seguro as duas coxas e as afasto. Ela resiste.

— Eu quero vê-la.
Ela cede e está tremendo sob meus dedos.

O cheiro de sua excitação, doce e feminina, atinge meu olfato e eu não

posso esperar mais para prová-la.


Baixo a cabeça, beijando cada uma das coxas.

— Disse que usou os brinquedos. Eu quero ver como faz — digo,

enquanto com os polegares, separo os lábios de seu sexo.


Está brilhando de tesão, o clitóris duro, pedindo minha língua.

— Eu menti. Nunca consegui ter um orgasmo sozinha.

— O quê?

— Não sei fazer. Já tentei.


— Eu vou te punir por me deixar louco todos esses dias pensando em

como gozava sem mim, Maribelle.


— Como?

— Você vai usar seus brinquedos para que eu assista.

— Ai, meu Deus… não pode me dizer essas coisas… eu…


Abaixo a cabeça e sem prepará-la, sugo o clitóris.

Ela faz um som delicioso e tenta fechar as pernas. Eu não permito e aos

poucos seu quadril começa a se erguer, oferecendo-se para mim.

Coloco suas mãos sobre cada mamilo.


— Brinque com eles. Puxe-os enquanto eu como sua boceta.

Trago suas coxas para os ombros, como prometi que faria e beijo seu

sexo de boca aberta.


Sorrio quando sinto-a se deitar na cama, não resistindo mais quando

amplio suas coxas.

Ergo a cabeça e fico louco quando vejo-a massagear os seios,

amassando-os como se precisasse de mais e mais.


Mordisco os lábios de seu sexo e rodo a língua no feixe de nervos

inchado. Enfio um dedo em sua abertura, mas não empurro porque não

quero machucá-la.
Meu pau salta dentro da sunga enquanto assisto a boceta me engolir.

Ela é apertada para caralho e a vontade de entrar naquele calor intocado

beira o desespero.

Engulo seu desejo, a língua se fartando no interior melado do sexo.


Os gemidos de Maribelle são a porra de um afrodisíaco e não demora

até que ela me entregue seu gozo, movendo-se em círculos, ensopando


minha boca.

Ela viaja em seu prazer por alguns segundos, enquanto beijo o interior

de suas coxas, mas em seguida se senta, nua e linda.


Pegando-me de surpresa, desliza para o meu colo, no chão, passa os

braços em volta do meu pescoço e me beija.

— Nunca vou me esquecer de hoje. Nunca vou me esquecer de você.


Capítulo 26

Eu deveria impedi-la de dizer aquilo, mas quero ouvir porque ela parece
sincera.
Maribelle roça a testa no meu queixo, mesmo que uma sombra de barba

já apareça e tenho certeza, a esteja arranhando.

Afasto-me para olhá-la e gosto de ver a pele marcada por mim.

Ergo-me com ela em meus braços e me sento na cama.


Ainda estou de sunga, mas consigo sentir os lábios da boceta dela se

abrindo para encaixar meu pau.


Levanto-a, fazendo com que se ajoelhe e volto a mamar seus peitos,

mas não é o bastante. Não importa o quanto eu sugue ou morda, eu quero


mais.

Suas mãos correm pelo meu tórax e passeiam até o abdômen, mas
param, como se se sentisse intimidada. Não deixo que as retire, levando-as

até minha extensão rígida.

Ela ofega. Surpresa e curiosa, roça o cós.


Prendo o fôlego.

— Desça a sunga. Toque meu pau.

— Como você fez comigo?


— Como quiser, linda. Sou seu.

Ela sorri sem me encarar e depois, me empurra de costas na cama.

Com a cabeça baixa, os cabelos longos servindo como uma cortina


protetora, tira minha sunga.

Não costumo deixar que me dispam, mas saber que tudo é uma primeira
vez para ela me excita demais.

Meu pau salta duro e grosso, apontando para o alto.

Eu a puxo para mim, mas apesar de nossos sexos estarem alinhados e

ela muito pronta, não quero apressar nada, então a sento em minhas coxas.

— Me masturbe.

— Eu não sei fazer.


Pego sua mão delicada e levo ao meio de suas coxas, lubrificando a

palma e os dedos com sua excitação. Depois, trago-a para o meu eixo.
— Aperte em volta e mova.
— Ajude-me.

Porra, ela vai roubar o pouco que sobrou do meu juízo. Nunca imaginei

que ensinar uma mulher me deixaria tão louco.

Aperto sua mão em meu entorno, movendo-a como eu gosto e quando

gemo, ela sorri.

— Acho que entendi.


Ela ousa cada vez mais, ora apertando, ora acelerando a velocidade e

vê-la testar o que me dá prazer eleva meu desejo à lua.

Recolho um pouco do meu pré-gozo.

— Abra a boca — mando com um dedo na frente de seus lábios. —

Chupe meu tesão.

Ela começa tímida, mais com poucos segundos está mamando gostoso.

Eu a tiro de cima de mim e deito-a na cama. Monto seu tronco e pincelo


seus lábios com meu pau. Não empurro, deixando que se acostume, mas ela

abre a boca espontaneamente.

— Era isso o que aquela mulher ia fazer com você?

Não espera que eu responda, lambendo a cabeça do meu eixo.

— Não existe ninguém aqui. Só nós dois, Maribelle.

— Acho que sou competitiva — diz, chupando de boca aberta agora.


Urro, completamente perdido na visão dela me mamando.
Não existe competição para você, mulher.

— Mais. Tome mais. Preciso mais profundo.


Seguro sua cabeça, levantando-a um pouco da cama e empurro. Ela

geme em torno do meu sexo e suga tanto quanto pode.


— Eu não consigo mais esperar. Pode brincar o resto da noite com meu
corpo, mas agora, quero comer essa boceta. Estou sonhando com isso.

Ergo-me e pego um preservativo na carteira em meu jeans.


Abro suas pernas para mim, plantando seus pés na cama.

Deixo minhas mãos passearem por sua cintura e fico com ainda mais
tesão quando sua respiração encurta, como se estivesse sem fôlego.

— Eu quero você me montando, mas não agora. É muito apertada. Não


vou te machucar além do necessário.
Mergulho entre suas coxas, tomando seus lábios e sentindo a cabeça do

meu pau roçar a abertura.


— Ahhhhhhh… — geme.

— Maribelle, a linda. — Ela abre os olhos, há uma pergunta ali. — É


assim que te chamo na minha cabeça.

Sou recompensado com um sorriso tímido e sexy para cacete.


— Eu quero tanto você, Wyatt. Pensei que havia algo errado comigo
porque eu achava alguns homens bonitos, mas nunca senti desejo. Bastou

eu olhar para você naquele dia na loja…


Empurro nela, começando a penetrar sua boceta bem devagar.

— Continue.
— Eu queria provar você desde o primeiro dia. Ficar suada e ser

mordida. Sentir sua boca. Meu corpo ficou em chamas somente de pensar
nisso.

Jesus Cristo!
Puxo seus quadris, mantendo-a imóvel e fazendo com que me receba
mais um pouco.

Geme alto, mas seu rosto se contrai, com uma expressão de dor.
— Sinto muito.

— Shhhh… não estamos com pressa. Estou louco por você. Não
importa quanto tempo demore para que eu esteja dentro dessa bocetinha.
Nem que leve a noite inteira, não vou desistir.

Substituo meu pau por um dedo e ela começa a relaxar à minha volta.
Insiro um segundo e começo a bombear, preparando-a para me receber. Está

pingando de tesão.
Ela se mexe, rodando as ancas e murmurando meu nome.

Provoco os mamilos, mordiscando, mamando, mas sem parar de


estimulá-la com meus dedos. A boceta por dentro é quente e muito
molhada. As paredes internas são como uma deliciosa prisão.

— Eu quero tentar de novo. Preciso de você dentro de mim.


Movo as mãos para sua bunda, levantando-a da cama para angulá-la
melhor e empurro devagar, testando.
Morde o lábio, para conter um grito.

— Não pare. Só faça. Eu sou uma libélula — fala, tentando brincar, mas
sei que sente dor. Sou um cara grande em todos os sentidos.

Pego seu mamilo na boca, sugando com força, arranhando os dentes,


chupando e quando ela choraminga pela minha aspereza, mas ao mesmo
tempo, rebola sob meu corpo, a carne de sua boceta tão quente que eu

consigo sentir através do preservativo, percorro todo o caminho dentro


daquele canal apertado.

— Oh, meu Deus… — grita. Eu fico tonto de tesão e também com um


pouco de dor, porque Maribelle é apertada como um torno.

— Olhe para mim. Você é deliciosa.


Eu não me movo ainda.
Ela me encara e há lágrimas em seus olhos, mas não me pede para sair.

Começo a me mexer devagar em um vai e vem lento, deixando que ela


dite a velocidade por agora.

Quando começa a gemer, seguro suas coxas em meus antebraços, saio e


entro inteiro, cavando fundo.
Murmura baixinho, em um lamento de tesão.

— Geme mais alto, gostosa.


Impulsiono em um movimento longo e paro no fundo do seu corpo.
Preciso apertar os olhos por um instante porque nunca senti nada
parecido. O corpo meio dormente pelo desejo.

Saio e mergulho outra vez. Ela agarra meus ombros, usando-os como
alavanca para vir ao meu encontro.

Sua boceta se contrai, apertando-se à minha volta em pequenos


espasmos e eu sugo seus mamilos, tentando me concentrar em qualquer
coisa que não seja a contração de seu sexo que está me deixando perto da

ruptura.

Eu sempre me orgulhei de só gozar quando queria, mas com ela, não sei
até onde meu controle irá.

Com os cotovelos apoiados na cama agora, meto em golpes longos,

atento ao rosto dela e, ao mesmo tempo, perdido no confinamento estreito

de sua boceta.
As reações de Maribelle me transportam para um lugar em que todas as

minhas determinações de não me envolver além do físico são postas em

suspenso.
Nesse momento, eu quero tudo.

Eu quero seus gemidos, mas também a certeza de que vou voltar para o

calor de sua boceta. Quero fodê-la por dias a fios, sentir seu cheiro,
memorizar a voz rouca gritando meu nome.
Prendê-la aqui na fazenda, enchendo-a com o meu pau e alimentando-a

com meu gozo.


O desejo primitivo, animalesco, joga minha racionalidade para o inferno

e minha ereção engrossa com o pensamento, obrigando-a a se esticar mais e

mais para me acomodar.


Maribelle urra e arranha minhas costas em resposta.

Puxo suas pernas, prendendo-as em volta da minha cintura e ela se

agarra aos meus ombros, morde meu peito, suga meu mamilo.

Selvagem, minha virgem safada.


Desço a mão entre nossos corpos, tocando seu broto inchado e quando

ela começa a respirar pesado, sei que vai gozar em mim.

Ela implora por mais e eu empurro em sua boceta, metendo rápido, sem
pena.

Seguro-me no fundo de seu corpo e ela se abre mais.

Morde minha boca e suas pernas convulsionam. Fico perdido,


assistindo-a alcançar o próprio prazer.

As bochechas estão vermelhas, os mamilos arrepiados. A boca

sussurrando promessas e juras.

Saio dela, deitando-a de bruços. Mantendo suas pernas fechadas, meto


outra vez e passo um braço em volta de seu pescoço, alcançando o outro

ombro.
Só os meus quadris se movem, constantes, meu pau penetrando-a bem

fundo.

— Aguenta mais forte?


— Ensine-me. Quero te entregar tudo.

— Não fale isso — rosno, me sentindo instável.

— Eu quero tudo. Dar e receber tudo.

Mordisco sua orelha e por alguns minutos, diminuo o ritmo.


Ela ofega, me dizendo que vai gozar de novo.

Recomeço a fodê-la duro, mas ela não recua, ao contrário, empina a

bunda.
As contrações em volta do meu pau tornam impossível segurar o

orgasmo por mais tempo, então toco sua boceta, dedilhando o clitóris.

Ela vira o rosto, buscando minha boca, sugando minha língua e bato

duro em seu sexo, comendo-a sem descanso.


Com um grito, ela encharca minha mão.

Um som gutural sai do fundo da minha garganta quando me entrega seu

prazer e apenas então, permito-me chegar ao clímax.


Beijo-lhe pescoço e coluna, sem deixar meu peso cair sobre ela. Não

consigo acalmar minha respiração, mesmo depois de quase um minuto.

— Tudo bem? — pergunto quando ela fica estranhamente quieta.

Não responde e saindo devagar de seu corpo, a giro sob mim.


— Hey, eu te machuquei?

Seus olhos estão fechados e ela faz que não com a cabeça.
— Olhe para mim.

— Eu não quero.

— Por que, não?


— Não devemos compartilhar emoções. É só sexo e nesse momento,

estou me sentindo sensível aqui — diz, pousando uma mão sobre o coração.

— Olhe para mim, Maribelle — peço novamente.

Custa um pouco a obedecer e quando o faz, aquelas duas joias azuis


esverdeadas estão brilhando.

— Eu não esperava que fosse assim.

— Assim como?
— Você me tirou da Terra, Wyatt. Por todo o tempo, você me

transportou para um lugar desconhecido. Voltar à realidade agora é

assustador.
Capítulo 27

Acordo com o barulho da chuva forte e em um primeiro momento,


assusto-me ao me dar conta de onde estou, principalmente quando sinto um
corpo quente às minhas costas.

Então eu me lembro.

Wyatt.
Giro na cama e pego-o me observando.

Ele não brincou quando disse que me viraria do avesso. Ainda não

clareou o dia, e já me deu ao menos seis orgasmos. Dois, com a boca.


Desvio dos olhos dele, me sentindo estranha.
Não porque estou nua, essa parte, incrivelmente não me deixa

encabulada, mas porque a intimidade é um pouco sufocante.


Tenho vontade de me levantar e tomar espaço para poder processar o

que aconteceu.

Somos tudo e ao mesmo tempo, não somos nada.


Casual.

Testo a palavra na minha cabeça, mas o que a razão e o coração dizem

são díspares. Como pode haver casualidade em uma ligação depois que
duas pessoas se entregam como fizemos?

— O que está pensando? — ele pergunta sem a costumeira ironia.

— Você não dormiu. — Disfarço.


— Não, estou muito agitado para conciliar o sono.

— É sempre assim? — Levo um segundo para me arrepender da


pergunta. — Esquece, eu não quero saber.

Ele fica em silêncio, como se fosse falar alguma coisa, mas depois

mudasse de ideia.

— A chuva diminuiu um pouco, mas vai voltar mais forte em algumas

horas. Vamos para minha casa.

— Tenho que ir para a Império Gray.


— Não, eu liguei para Mary. As estradas estão fechadas, árvores caíram.

Todos ficaram na casa de Hudson. Nossas fazendas têm geradores, mas as


que não, estão no escuro, assim como parte do Texas. Meu primo deu uma
declaração do escritório da fazenda decretando estado de calamidade e

dizendo para ninguém sair de casa.

— Oh, meu Deus! É tão sério assim?

— Muito.

— Meu pai…

— Já mandei que um dos meus homens, cuja namorada mora perto da


casa dele, o verificasse. Ele foi viajar, Maribelle. Segundo a vizinha, está

fora do Texas.

— Oh! Eu sou uma idiota mesmo. Claro que com toda a liberdade,

agora que é viúvo, ele iria aproveitar mais do que nunca.

Wyatt ouve meu desabafo em silêncio.

— Vamos para minha casa. Deve estar com fome.

— Por que fez isso? Mandar verificarem meu pai, quero dizer.
— Porque mesmo que o odeie, ele é seu pai. Eu conheço o sentimento.

Essa dualidade entre raiva e culpa.

Eu estava me levantando, enrolada no lençol, mas volto a me deitar.

— O que há de errado na sua relação com seu pai? Ele teve alguma

coisa a ver com a morte da sua mãe?

— Não quero falar sobre isso. — ele me corta — Vamos para a sede
antes que a tempestade aumente outra vez.
Parcialmente chateada, tento me levantar. De uma certa maneira me abri

com ele no dia da festa da salsicha e ele não está demonstrando a mesma
confiança.

Wyatt é mais rápido e depois de passar um cobertor em volta do meu


corpo, me pega no colo.
— Eu posso andar.

— Não vou arriscar que caia nessa chuva.


Solto um bufo mal-humorado.

— Não pode fazer algo para me irritar e depois ser um lindo.


— Ser um lindo eu não tenho como controlar — diz, dando uma

piscadinha e meu coração se alivia da compressão em que estava na mesma


hora. — Quanto à parte da irritação sou meio que um especialista em deixar
as mulheres loucas e nem sempre em um bom sentido.

Fecho a cara outra vez. Não gosto de ouvir sobre as outras, mesmo

sabendo que dariam para encher o Texas Memorial Stadium[27].

— Quanto tempo acha que terei que ficar aqui?


— Por que a pressa de ir embora? Ansiosa para se mudar?
Não respondo. Não quero falar sobre isso agora. Entre cochilos e

acordar durante a madrugada, cheguei à conclusão de que quero ir embora.


Não para Dallas, como havia pensado a princípio, mas para Houston, bem

mais distante.
O que aconteceu entre nós não é algo que eu vá esquecer. Apesar de

tudo o que falei, sou burra o bastante para me apaixonar por Wyatt se ficar
por perto. Muito pior do que isso, nunca estarei preparada para vê-lo

retomar a vida de devassidão que levava antes de me conhecer.


Ele cobre minha cabeça no meio do caminho e mesmo me sentindo

chateada, não posso deixar de pensar que, ainda que mulherengo, Wyatt
Gray é cavalheiro.
Quando chegamos no hall da casa dele, o chão começa a ficar

encharcado.
— Ai, meu Deus.

— Esqueça isso. Vamos tomar um banho. Não a quero resfriada.


— Você é muito mandão.
— Sou. Não tenho como negar. Vou cuidar de você, Maribelle.

Solto-me dos seus braços.


— Melhor anfitrião do mundo — brinco.

— Não me respondeu por que está com pressa de ir embora daqui.


— Mudei de ideia, quero tomar banho. Estou com frio.

Ele volta a me pegar no colo e começa a andar por um corredor longo.


Abre uma porta e me deparo com uma suíte tão grande que caberia minha
antiga casa inteira dentro.
Sem falar nada, me senta na bancada da pia e começa a encher a
banheira.
Fecho o cobertor em volta do corpo, batendo o queixo, mas o frio passa

na hora, quando vejo Wyatt tirar o jeans.


— Vai tomar banho comigo?

Ele olha para trás com um sorriso que faz meu coração vir à boca.
— Aham. Ou vai ter coragem de me deixar com frio?
Não espera a resposta e tira o cobertor da minha mão, deixando-me nua

e se encaixando no meio das minhas pernas.


— Por que não me respondeu quando perguntei a razão da pressa de ir

embora?
— Por que temos que conversar sobre detalhes se combinamos que só

teríamos o hoje?
— O “hoje” pode se estender por vários dias se a situação perdurar.
Ele me puxa pela mão e me leva para a banheira, entrando atrás de mim,

mas eu giro em seus braços e vou para o outro lado, tomando distância.
— Já passou mais do que uma noite com uma mulher?

— Não.
— E me quer aqui? Sei que é uma situação sobre a qual não temos
controle, mas no fim dos próximos dias, há uma chance de que você esteja

me odiando.
— Há sempre essa possibilidade.
Faço uma cara zangada.
— Ou que eu chegue à conclusão de que o devasso só serve como

amante.
— Isso eu mesmo posso dizer, porque é verdade: sei usar meu pau, mas

minha boca ou atitudes provavelmente vão te machucar.


Cansada daquela conversa que não tem qualquer sentido, fecho os
olhos, recostando na banheira e aproveitando a quentura da água.

— Você não vai ter chance de me machucar. Eu transformei o que

Mackenzie me ensinou em um mantra: só fazem conosco o que permitimos.


Acho que o assunto está encerrado, mas de repente, sinto a água se

mover.

— Fique comigo por uns dias — diz, me puxando e me fazendo montá-

lo.
— Acabou de me dar um aviso de que poderia me machucar, Wyatt. O

que você quer de mim, pelo amor de Deus? Eu não sei jogar, então tudo o

que estou pedindo é que me mostre quais são as regras para que eu possa
não fazer papel de idiota depois. Isso aqui era para ser por uma noite como

todas as suas transas.

Eu consigo sentir a tensão emanando dele.


— Eu quero mais disso que tivemos e se a vida está nos dando a chance

de passarmos uns dias juntos, para que fugirmos?


A antiga Maribelle quer se esconder e dizer para ele que ficaremos esses

dias como amigos, mas o que tivemos foi bom demais para que eu consiga

abrir mão.
— Não vou fugir. Vamos ficar juntos aqui, pelos dias que durar a

tempestade. Depois, você está livre de mim.

Sinto-o inchar sob meu corpo e me movo para sair, mas não sou rápida

o bastante porque com um movimento, ele entra em mim.


Gemo, sabendo que devemos parar porque eu não tomo pílula.

— Não.

— Estou limpo. Nunca fodo sem preservativo.


— Eu não uso pílula. Um filho não planejado é algo que nenhum de nós

precisa.

— Não vou gozar dentro de você.


— Meu Deus, você é o pecado encarnado, Wyatt Gray. Só de ouvi-lo

falar assim, tudo o que eu quero é senti-lo me enchendo, me molhando toda

por dentro, mesmo tendo certeza de que não devemos.

— Porra, Maribelle.
Ele me vira, me fazendo sentar invertida e em seguida, me faz descer

toda em seu sexo duro.


— Wyatt… — gemo, sem controle, enquanto segurando minha cintura,

me faz cavalgá-lo. Meu sexo o aperta e eu desço minha mão para o meu

ponto de prazer, precisando de mais. Ele a afasta.


— Eu te dou isso.

Fricciona meu clitóris com habilidade, ao mesmo tempo em que alcança

um lugar dentro de mim que começa a me deixar tonta.

— Gosta disso, menina safada?


— De tudo o que faz comigo. Não pare. Me dê mais.

Ele se levanta da banheira, sem sair de dentro do meu corpo e me faz

espalmar as mãos na parede.


Segura meu bumbum com brutalidade e estapeia.

Grito, mas empurro para trás, querendo mais.

Passa um braço pela minha cintura e a outra mão enrosca no meu

cabelo, trazendo minha cabeça para cima.


— Você adora isso, princesa?

— Ahhhh…

— Jesus, Maribelle, estou viciado nesses gemidos.


Ele me beija a boca na contramão dos movimentos dos quadris, bem

lento, me saboreando.

É mais letal do que se fosse lascivo, porque é íntimo e apaixonante.


Obrigo-me a focar no físico e pego sua mão, trazendo-a para o meu

sexo.
— Peça.

— Me faça gozar.

— Ah, porra.
Acaricia-me como se soubesse exatamente o que eu preciso e não

demoro muito a me render ao desejo.

Ele me faz reclinar na borda da banheira e me possui por mais alguns

segundos, antes de sair do meu corpo. Sinto os jatos do seu prazer


escorrendo no meu bumbum e tremo toda.

Wyatt volta a me erguer, me abraçando, trazendo minhas costas contra

seu peito.
Não fala nada e eu prefiro assim. Não quero promessas, mas não sou tão

forte para renunciar ao hoje.


Capítulo 28

— Não tem que trabalhar?

— Está me enxotando da cama, mulher?


— Não — respondo, porque não sou uma mentirosa. — Apenas
estranhando. Para um cara que preza tanto a liberdade, está se saindo uma

boa companhia.

— Só boa?
Reviro os olhos e tento me levantar, mas ele me puxa para debaixo de

seu corpo, se deitando entre as minhas pernas.

— Não, maravilhosa, senhor cowboy. Pronto, massageei seu ego


suficientemente agora?
Ele beija meu pescoço, descendo a língua pelo meu colo, enquanto o

quadril se move, o sexo muito perto de se encaixar em mim.


— Você é um vício, Maribelle.

Tento sorrir, mas por dentro, as borboletas insistem em acrobacias muito

loucas.
Você também, Wyatt Gray.

— Vícios não são bons — digo.

Estou apavorada pela intimidade que está se formando entre nós. Hoje é
o terceiro dia de tempestade e não quero me acostumar a acordar nos braços

dele.

Achei que a partir do momento em que fizessem vinte e quatro horas


que eu estava aqui — já acima do recorde dele com mulheres —, Wyatt

começaria a dar sinais de que estava entediado, mas não.


Ele me segue pela casa e passamos literalmente setenta e duas horas

grudados.

— Não são ruins se é você quem os escolhe.

Ele gira os quadris e eu gemo, mas então, quando já estou certa de que

ganharei mais um orgasmo, ouvimos alguém bater na porta.

— Porra!
— Acho que deve atender. E se for um problema com os animais?
Ele fecha a cara, mas depois de resmungar, pega um jeans, sem vestir
cueca, e sai do quarto.

Segundos depois, volta.

— Não saia da cama.

Não faço caso de seu tom autoritário.

Corro para o banheiro e entro embaixo da água quase fria.

Deus, o que estou fazendo? Quanto mais ficamos perto um do outro,


maior a ilusão de que vivemos um relacionamento regular se aprofunda no

meu coração.

Ele deixou bem claro antes de virmos que não se tratava disso e eu não

quero me machucar.

Estou entrando no quarto novamente, minutos depois, quando o

encontro sentado na cama.

— Você não me esperou.


Seu tom é completamente diferente de minutos atrás. Não há mais nada

de brincalhão em seu rosto também e eu me sinto estranhamente

envergonhada.

Aperto a toalha em volta do corpo.

— Eu precisava de um banho — falo, somente para segundos depois ter

vontade de bater em mim mesma.


Não tenho motivo para me justificar.
Ele se levanta da cama.

— E eu precisava de você.
— Do meu corpo, você quer dizer — falo, tentando mostrar que não

tenho dúvida do que ele quer em mim.


— De você.
— O que queriam ao baterem na porta? — mudo de assunto. — Os

animais estão bem?


Ele acena com a cabeça, o rosto sério.

— O que houve? Está me deixando preocupada.


Para a poucos passos de mim.

— A chuva vai cessar hoje, por volta das seis. As estradas já estão
liberadas.
— Ah, que bom — digo e nesse instante poderia ser premiada como

uma atriz digna do Oscar. — Vou precisar das minhas roupas.


— Não tem que ir embora hoje só porque a chuva vai parar.

Tento controlar minha língua e manter a dignidade, mas quer saber?


Cansei de fingir que as coisas não me machucam.

— E então, o quê? Temos a nossa despedida e você me deixa na


Império Gray amanhã? Não. Acho melhor pararmos por aqui.
— Por que quer ir?
Ele parece realmente confuso e se fosse com qualquer outro, eu me

sentiria meio que uma vadia por estar agindo assim, mas esse é Wyatt Gray,
o homem que me disse para não me apaixonar. O mesmo que me falou que

fora o pau, nada de bom poderia vir dele porque eventualmente me


machucaria.

— Diga-me porque devo ficar, Wyatt.


Estou me expondo, mostrando a vulnerabilidade e o sentimento de
inadequação que sempre tive em relação ao mundo, mas nesse instante, ele

vale a pena.
Ele me encara.

Fale alguma coisa — peço em pensamento porque mesmo que ele não
consiga admitir, sei que o que aconteceu entre nós foi mais do que sexo.
Entretanto, os segundos persistem e ele se mantém em silêncio.

Aos poucos, meu coração vai rachando, se fragmentando.


Ainda que eu tente impedir isso, não consigo deter a sensação de que

estou perdendo algo que não vou encontrar nunca mais.


Engulo em seco, desviando os olhos.

— Preciso das minhas roupas — repito.


Ele está dirigindo meu carro enquanto o capataz nos segue com um dos

veículos da Golden Valley.


Fizemos o percurso até a Império Gray sem trocar uma palavra e

quando chegamos, dou graças a Deus que Mary Grace ainda esteja na casa
de Hudson, como Wyatt me disse mais cedo.
A avó deles é muito perceptiva e mesmo tentando o meu melhor, não

consigo disfarçar o que estou sentindo.


Amanhã estarei bem — digo a mim mesma.

Tudo o que preciso é de uma boa noite de sono. Farei minha mudança e
finalmente vou começar meu voo solo.
Ele desce do carro e abre a porta para mim. Pega minha mão e começa a

andar para a casa de hóspedes.


Eu me sinto uma idiota porque deveria mandá-lo se afastar, mas não

consigo.
— Amanhã venho te buscar. Dez é um bom horário para você?

— Não precisa. Eu tenho pouco mais do que uma mala. Mary Grace é
que é excessivamente zelosa.
Seu rosto se mantém oculto nas sombras e eu não consigo ver a
expressão, mas intuo que esteja aborrecido.
— Esteja pronta às dez, Maribelle.

Ainda que as palavras soem como uma despedida, ele não vai embora.
Ergue a mão e toca minha bochecha e eu nunca tive que exercitar tanto o

autocontrole na minha vida.


O desejo de baixar o rosto e pegar mais do carinho é muito grande, mas
isso só vai me machucar.

O que está acontecendo não é um jogo. É a minha vida e o meu coração.

— Eu não tenho nada a oferecer além de sexo.


Você tem muito a oferecer, mas não quer se arriscar a perder a

liberdade.

— Eu já entendi o recado, Wyatt. Vai ficar tudo bem. Boa noite.


Capítulo 29

— Não estou com fome, vó — falo, depois de beijar Mary Grace.

Ela insiste para que eu me sente para comer um pedaço de bolo com
café, mas além do fato de que não tenho por hábito fazer a primeira

refeição, se fosse o caso, por conta do trabalho na fazenda, a essa hora já


seria quase o almoço.

— O que há com você? — ela pergunta.

— Nada.

Segundos depois o meu “nada” entra, linda e loira, com o rosto

parecendo descansado de uma boa noite de sono.


É difícil controlar o desejo de ir até onde está e a puxar para um beijo.

Jamais senti essa necessidade por mulher alguma. Sou do tipo que quando
digo que algo está acabado, viro as costas sem qualquer problema.

Não é o caso aqui porque mesmo sabendo que a separação é

necessária, meu corpo grita que ela é minha.

Ainda sinto o calor de sua pele e seu cheiro. Passei a noite


relembrando os gemidos.

Estudo-a com atenção.

Maribelle me pegou de surpresa ontem ao tomar a decisão de ir

embora. Eu estava esperando que tivéssemos mais tempo juntos.

Mais tempo para quê, cretino? — minha consciência berra e antes que

eu possa pensar na resposta, a deusa loira diz:

— Bom dia, Wyatt. Estou pronta.

Noto que Mary Grace olha de um para o outro, tentando entender a

situação.

Claro que ela intui algo porque sabe que Maribelle passou mais de três

dias comigo na Golden Valley, mas não diz nada.

Vejo minha avó andar até ela.


— Vai me telefonar para avisar que chegou bem, minha filha? —
pergunta, colocando uma mecha de cabelo de Maribelle atrás da orelha. —

Sabe que está indo porque quer, por mim poderia ficar por tanto tempo

quanto desejasse.

— Eu tenho certeza disso, Mary e não vou viver o bastante para lhe

agradecer todo o carinho e apoio que me deu depois da perda da minha

mãe. Você sempre terá um lugar no meu coração.

— Não gosto desse tom de despedida. A partir de agora, quero você

aqui nos almoços de domingo. Acaba de ganhar uma família barulhenta,

Maribelle. Quanto a me agradecer, faça vivendo uma boa vida, meu bem.

— Esse é o plano, Mary — diz, dando um beijo na minha avó.

Quando chegamos ao hall, vejo que um dos empregados de Mary

Grace já carregou minha picape com duas caixas de Maribelle, então pego a

mala que restou.

— Só isso? — pergunto.

— Não tenho muito. Estou começando do zero e não é ruim de todo

porque posso escolher quais lembranças posso carregar na bagagem.

Literalmente.
Aquilo me faz sentir esquisito e eu me pergunto se serei uma dessas

lembranças.

A sensação piora porque acabo de chegar à conclusão de que não

quero ser uma lembrança. Eu ainda preciso do “hoje” com ela.

— Vou te seguir com meu carro — diz.

— Não, já providenciei para que um dos meus empregados leve seu


CRV, que aliás, você precisa trocar. O lixo seria um excelente lugar para ele.

— Não fale assim do meu menino, se não fosse meu CRV, teria ficado
a pé naquele dia na estrada — responde, malcriada.

Prefiro ver esse lado dela do que a apatia, principalmente porque acho
que sou eu o responsável por estar tão calada.

— Estou preocupado com sua segurança.

— Obrigada, mas posso me cuidar.

Entra no banco do carona e afivela o cinto. Quando me sento também,

suspira e diz:

— Perdoe-me se fui grosseira. Não quero brigar, Wyatt. O que tivemos


foi especial para mim e vou me lembrar de você para sempre.

— Lembrar?
— Estou pensando em ir embora para Houston — fala, olhando pela

janela.

— Por minha causa?

Ela me encara.

— Não, por minha causa. Tenho a cabeça um pouco ferrada por viver

naquela ditadura louca do meu pai durante tantos anos. Fui atrás de ajuda.
Passei a ouvir uns podcasts de psicólogos. Nada do tipo: vá lá e faça; e sim,

daqueles mais suaves: respeite seus limites. Corte o que não te faz bem.
Não mergulhe num ciclo vicioso de autopiedade.

Engulo em seco, pela primeira vez enxergando o quanto Maribelle é


corajosa.

Uma mulher de vinte e sete anos que decidiu arriscar ao invés de se


esconder na zona de conforto, mesmo sem ter qualquer um para ampará-la

nos primeiros passos caso tropece.

— Por que Houston? — pergunto, fingindo que isso é importante,

quando a questão é que realmente não quero que ela vá a lugar algum.

— É longe daqui.

— O que isso significa? Caershire já não é longe o bastante?


A estrada ainda tem alguns pontos alagados, mas na maior parte já dá
para dirigir em segurança porque os homens de todas as fazendas se uniram
para consertar os trechos mais atingidos.

De qualquer modo, estou conduzindo com mais cuidado do que faço


normalmente.

— De todas as pessoas, achei que você seria aquele que mais me


entenderia. Mary me disse que rodou o mundo inteiro. Não parava em lugar

algum.

— Passado. Vim para Grayland para fazer daqui meu destino final.

— E o resto da sua família? Não sente falta deles?

— Da minha família “original”, você quer dizer? Ou do restante?

— Restante?

— Filhos da outra. Minha madrasta.

— Ah, sim. Eu nem sabia que você tinha uma. Nunca fala deles.

— Porque me trazem más lembranças. Eu odeio meu pai.

— Entendo o sentimento e sem querer me meter, não é lá muito


saudável. Odiar alguém, quero dizer. O ódio, como o amor, exige
dedicação. Você acaba pensando na pessoa todos os dias, muito mais do que
ela merece. Permite que ela more dentro da sua cabeça e a carrega consigo
o tempo todo.

— E o que fazer, então?

— Não sou a dona da verdade, mas acho que o esquecimento, esse sim

é o melhor caminho. Deixe o mal livre para fazer suas maldades. Viva uma
vida plena. Eu poderia passar anos lamentando o que meu pai fez para

minha mãe, mas não vou, caso contrário, ele continuará tendo poder sobre
mim, mesmo à distância.

— Parece mais madura do que eu, às vezes.

Dá de ombros.

— Sou mulher, acho que é natural. Processamos sentimentos e


emoções de maneira diferente.

Penso no que está me dizendo.

— Tenho um irmão mais velho, Thaddeus e dois meios-irmãos, Kayde

e Duke.

— Todos Gray?

— Sim, meu pai é Gray, então mesmo se casando de novo, passou o

sobrenome adiante.
— Jesus, não acho que o mundo esteja preparado para isso. Solteiros?

Aceno com a cabeça, já de mau humor com o interesse repentino.

— Por quê?

— Curiosidade. Se todos tiverem a sua fama, não vai sobrar uma

donzela no Wyoming.

Normalmente esse tipo de piada não surtiria qualquer efeito em mim,


mas estou com um humor fodido.

— Não saio com outra mulher desde que dançamos na festa da

salsicha.

Ela não fala nada por um tempo. Só volta a olhar para fora.

— Está livre, agora. É só uma questão de tempo até que volte à sua

rotina — finalmente diz.

Mais irritado agora, dou seta e paro o carro na margem da estrada.

— Não quero voltar à minha rotina, por enquanto — ela não responde
e sei que falei merda. — Não quero voltar à minha rotina por um longo

tempo.

Finalmente tenho sua atenção.

— O que isso significa, Wyatt?


— Vamos tentar.

— Tentar o quê?

Respiro fundo antes de dizer o que preciso. Estou dando um passo

largo para um caminho inexplorado em minha vida, mas preciso ter certeza
do que Maribelle é para mim. Se eu virar as costas ao que temos agora,

acho que vou lamentar para sempre.

— Não estou propondo casamento. — começo e seu rosto se fecha. —


Merda, não era isso o que eu queria dizer. Sou um cara grosso, Maribelle,

não importa quantos milhões eu tenha no banco. O que estou tentando falar

é que não posso fazer promessas de um para sempre porque não sei se isso

se encaixa em mim, mas quero você em um relacionamento regular. Não


quero que o que temos acabe.
Capítulo 30

— Quer namorar comigo? — pergunta, parecendo incrédula e o tom de

espanto dela é quase ofensivo.

— Quero que seja minha. Não sei se o nome disso é namoro. Não
estou acostumado com rótulos, principalmente com os dados aos casais.

Ela não responde como eu pensei que faria, o que não faz nem um

pouco de bem ao meu ego.

— O que eu falei de errado?

— Nada, é que acho que está confundindo as coisas. Passamos mais

tempo juntos do que você costuma fazer com suas companhias temporárias.
Eu fui aquela que partiu, e não você, como também parece ser seu hábito —

deixar corações sangrando, quero dizer — então, acho que talvez esteja
vendo mais sobre nós dois do que há na realidade. Dê uma semana e em

pouco tempo, vai se entediar.

Arranco com o carro, puto porque pela primeira vez estou me abrindo
para uma mulher e ela não me leva a sério.

— Ou talvez seja você quem é covarde demais para se arriscar. Querer

ser uma libélula e ser uma de fato são coisas completamente diferentes,

Maribelle.

Meia hora depois, já descarreguei suas caixas e mala e sei que deveria

ir embora, mas não vou desistir tão fácil.

Tenho um gênio infernal e com certeza sou mal-acostumado,

principalmente no que diz respeito às mulheres, mas Maribelle vale a pena.

Depois que a raiva por sua resposta passou, tirei a cabeça de dentro da
minha própria bunda e vi que, para ela, a situação é muito arriscada

também. Minha reputação está longe de ser a de um príncipe encantado.


— Você está com medo do que temos — acuso, sem qualquer
diplomacia.

— Apavorada, na verdade — responde, me surpreendendo pela

honestidade. — Criei todo um esquema protetor durante a noite passada

porque o que nós vivemos na Golden Valley foi incrível. Eu não quero me

machucar ou iludir. Daí hoje você chega e vira meu mundo de cabeça para

baixo outra vez.

Está parada do outro lado da sala do apartamento, que apesar de

bonito, mais parece um estúdio de tão pequeno.

Não sei como alguém consegue morar em um lugar assim. Edifícios,

quartos de hotel me fazem sufocar. Sou um animal selvagem no sentido

mais completo da palavra.

Gosto de correr livre, andar sem camisa, sentir o sol queimando a

minha pele.

— Você faz com que eu questione todas as minhas certezas —

confesso.

— Quais seriam?

— O histórico dos meus pais é uma merda. A minha mãe foi embora

comigo para Grayland porque ele a traía. Eu ainda era pequeno, mas
entendi que papai a magoou ao ponto de que ela teve que deixar tudo para

trás.

— Toda história tem dois lados, Wyatt.

— Até a dos seus pais?

— Sim, até mesmo a dos meus pais. Eu adorava minha mãe, mas como

te falei, as traições dele começaram bem antes que ela adoecesse. Não
acredito que jamais tenha descoberto. Ela fez uma escolha. Colocou-o

acima de si mesma.

— O que é um erro, segundo pensa — afirma.

— Acredito que sim. Eu não tenho experiência em vida a dois, mas


tenho discernimento para diferenciar o certo do errado. Na minha cabeça, é

errado para o nosso coração continuar com alguém que nos faz mal.

— Minha mãe tentou recomeçar e foi pega pelo destino. Talvez se

tivesse ficado no Wyoming, ainda estivesse viva.

— Não tem como saber. O que aconteceu?

— Tínhamos acabado de chegar a Grayland. Eu não me lembro direito,


mas sei que ela parou em uma farmácia e pediu que eu esperasse no carro.

Eu não entendia porque não íamos logo para a casa da vovó Mary. Estava
cansado e com fome.
— Por que veio com ela?

— O quê?

— Disse-me que tinha um irmão mais velho. Ela o deixou para trás,
mas trouxe você. Por quê?

Sinto a culpa me inundar.

— Eu não queria vir, mas minha mãe sempre foi frágil e mesmo sendo

uma criança, entendia que ela precisava de mim.

Ela balança a cabeça.

— O que foi?

— Era você quem precisava dela, Wyatt. Independentemente do que

aconteceu com o relacionamento dos seus pais, é um peso muito grande


para uma criança carregar.

— O que eu podia fazer? Ela me disse que ele a traía. Mesmo grávida,
ele não parou de trair, por isso mamãe foi embora.

— Perdoe-me pelo que eu disse. Não quis parecer insensível.


Continue.

— Ela demorou alguns minutos na farmácia, depois veio para o carro


dizendo que iríamos para a casa de Mary na Império Gray, mas antes,
precisava parar na estrada.

— Por que procurar ajuda de Mary? Por que Grayland?

Dou de ombros.

— Passávamos as férias aqui. Acho que ela se sentia segura na cidade.

Mesmo que o parentesco da minha avó fosse com meu pai, Mary Grace tem
um coração do tamanho do Texas e sempre tomaria partido do lado certo.

— Sim, eu consigo ver Mary fazendo isso. Ela é muito justa.

— Quando mamãe parou o carro, a estrada estava deserta. Eu a vi sair

e não achava direito que ficasse grávida, no sol quente, sozinha, então,
saltei também. Lembro-me de avistar um veículo. Não posso lhe dizer o
modelo, mas a cor, sim. Era branco. Vinha rápido e minha mãe ficou no

caminho, como se fosse alguém conhecido. Entretanto, eu vi que o carro ao


invés de diminuir, estava acelerando e puxei a mão dela, apavorado.

— Ai, Jesus Cristo!

— Ela não cedeu. Apenas continuou parada do mesmo jeito. Não

poderia narrar os fatos com certeza, mas no último instante, ela olhou para
mim e depois, me empurrou para o acostamento. Quando caí, bati com a

cabeça e desmaiei. Acordei no hospital, horas depois. Minha mãe e irmão


estavam mortos.
Ela vem para mim e se agarra ao meu corpo.

Não gosto de consolo. Nunca o aceitei, mas Maribelle é única em


minha vida. Algo sem nome, inesperado e inexplicável, então, ao invés de

rejeitá-la, eu a puxo de volta, trancando-a em um abraço.

Mantenho-a apertada ao meu corpo, mas não é o suficiente, então, sem


perguntar, ando para a única porta além do banheiro. Como esperava, é um

quarto.

Eu não sei quanto tempo se passa do momento em que a coloco no

chão até que nós dois estejamos nus, mas quando me dou conta, estou entre

suas pernas, profundamente enterrado em sua boceta, fodendo-a lento.

Nenhum de nós fala, mas eu nunca me senti tão ligado a outro ser
humano quanto nesse instante e sei que é recíproco.

Os corpos ondulam suados e famintos, como se a separação não

tivesse sido somente por uma noite, mas dias, semanas.

Ela tranca as pernas à minha volta e me abraça como se jamais fosse


me soltar.

Eu a beijo, engolindo seu fôlego, me oferecendo como comida, bebida,

ar.
Ainda que nossas mentes não entendam o que está acontecendo,

nossos corpos o fazem.

Não saio de dentro dela depois que gozo. Não paro de encará-la porque

temo que se piscar os olhos, vai desaparecer.

— Fique comigo. Não tenho muito a oferecer além de um coração

virgem, mas estou dando-o a você. Eu não sei o que é o amor entre um
homem e uma mulher. Não sei se sou capaz de amar, mas nunca senti isso

que sinto por você.

— Eu quero tentar, mas precisa pular comigo nesse abismo


desconhecido, Wyatt. Não me engane. Não nos sabote. Não estou pedindo

por promessas, e sim, por entrega.

— Não vou a lugar algum, Maribelle. Nem fisicamente, nem dentro da

minha cabeça. Tem minha palavra.


Capítulo 31

Dias depois

A campainha toca pouco depois do almoço, enquanto eu estava


pesquisando negócios online que poderia administrar de dentro de casa.

Algum tipo de franquia que me permitisse ter uma jornada de trabalho

flexível.
Desisti de fazer faculdade. Quero ser empresária. Não tenho mais idade

e para ser franca, nem paciência para frequentar um campus com alunos de

vinte anos querendo viver a vida como se não houvesse amanhã.


Ando até a porta já sorrindo, me preparando para encontrar com o meu

namorado.
O sorriso aumenta porque mesmo em pensamento, a palavra soa bem.

Desde o dia em que me mudei, Wyatt ficou mais aqui do que na fazenda

dele. Ele insiste que eu vá para a Golden Valley, mas estou comprometida
comigo mesma a não ceder sempre.

Não é que eu queira impor meu ponto de vista, mas sim porque Wyatt é

mandão e controlador. Não saí da casa do meu pai para cair em outra
armadilha.

Ponho a mão na maçaneta, pensando na viagem que faremos.

Hoje vamos para o Wyoming para o aniversário de trinta e quatro anos


do irmão mais velho dele, Thaddeus, e estou muito ansiosa. Não tanto pela

relação familiar mal resolvida de Wyatt com os parentes, mas porque parece
que estamos caminhando em passadas largas e estou morrendo de medo de

perder um dos sapatos pela estrada.

A campainha toca outra vez me despertando do transe, mas quando abro

a porta, não é o meu cowboy lindo quem me espera no corredor, e sim, meu

pai.

Sem medo de errar a última pessoa que eu gostaria de ver.


— O que o senhor está fazendo aqui, pai? — pergunto, chocada, mas

logo em seguida me corrijo. — Não, esquece o que eu falei. Primeiro me


responda como soube que eu estava morando em Caershire.
— Não vai me convidar para entrar? Sabe que precisamos conversar.

Em um primeiro momento, penso em mandá-lo embora, mas em

seguida percebo que fugir não é a solução. Já adiei essa conversa ao

máximo e quanto mais cedo esclarecermos o que penso a respeito dele,

mais rápido me livrarei.

Estou me preparando para deixá-lo passar, mesmo contrariada, quando o


elevador se abre e Wyatt sai dele.

Ai, Jesus!

Olha de mim para o meu pai, inicialmente parecendo confuso, mas

autoconfiante como é, logo se aproxima e sem a menor cerimônia, me beija.

— Pai, esse aqui é o… — começo, quando nos separamos.

— Seu amante Gray — diz, as palavras saindo como se estivesse com

nojo.
Fico louca com a hipocrisia, mas antes que tenha tempo de reagir, Wyatt

está em cima dele, segurando-o pela gola da camisa.

— Nunca mais trate sua filha assim. Não tem moral para falar do nosso

relacionamento. Maribelle é uma mulher livre. Minha namorada e não tem

que lhe dar satisfação.

A empáfia do meu pai murcha na hora. Como todo valentão, ele só se


impõe para quem considera mais fraco, aparentemente.
— Esquece isso, Wyatt — peço, segurando o braço do meu namorado.

— Não vale a pena.


Ele ainda resiste um pouco antes de finalmente soltá-lo.

Entretanto, não sai do meu lado quando digo:


— Teve sua chance de conversar comigo, pai, e a desperdiçou. Não
temos mais o que falar. Nada do que tentar explicar, vai mudar o fato de que

traiu minha mãe a vida inteira. Não é isso apenas, no entanto, que torna
impossível nossa convivência, é porque eu não admiro mais o senhor. É um

hipócrita e vive dentro de uma mentira. Se fosse um safado assumido,


mesmo com o que fez, talvez fosse capaz de perdoá-lo, mas você é tóxico.

Um vampiro emocional que destrói tudo pelo caminho. Estamos acabados.

Wyoming
Eu não tenho certeza do que estava esperando, mas baseado na relação

destruída de Wyatt com o pai, segundo suas próprias palavras, achei que
encontraríamos um dos irmãos na pista de pouso quando o helicóptero

aterrissou na terra dos Gray, mas não.


Tento não mostrar espanto quando vejo uma versão mais velha de

Wyatt, ainda muito lindo, mas com um rosto sem a alegria do filho.
Viemos de carro, em uma viagem de mais vinte e quatro horas no total
porque pernoitamos na estrada. Wyatt, como todo cowboy, prefere dirigir a

voar.
Conversamos pelo caminho e pedi que, pelo bem de seus irmãos,

tentasse não se desentender com o pai.


Contou-me que há mais de dois anos não volta para casa, então tenho a
esperança de que a raiva entre os dois tenha diminuído.

— Você deve ser Maribelle — o homem mais velho diz e franzo a testa,
pensando em como no céu ele pode saber disso.

Como se adivinhasse minha confusão, Wyatt se abaixa para falar no


meu ouvido.

— Um dos meus irmãos deve ter lhe contado. Falei com eles que a
traria.
— Ah, sim — digo, muito sem jeito por estar em meio àquela guerra

fria. Dou um passo à frente. — Boa tarde, senhor Gray. Obrigada por me
receber.
— Apenas Montgomery, Maribelle. Posso lhe chamar assim?
— Claro.

— Filho — diz, se voltando para o meu namorado.


— Boa tarde, Montgomery — Wyatt responde formalmente.

Sinto meu estômago retorcer. Deus, será que o fim de semana será todo
assim?
Para meu alívio, dois veículos se aproximam com rapazes idênticos.

Olho surpresa de um para o outro.


— Não me disse que tinha irmãos gêmeos — acuso porque Wyatt nem

precisa falar nada. Eles são muito parecidos com o pai e com o meu
cowboy, só que loiros.

Ô genética abençoada!
— Oi, linda.
— Oi, boneca.

Eles falam quase ao mesmo tempo.


— Nem pensem nisso — Wyatt rosna e os três Gray do Wyoming riem.

— Eu sou Kayde — um deles se apresenta —, e ele é o Duke. —


Aponta para o irmão.
— Vou confundir vocês durante o fim de semana — aviso.
— Não se preocupe com isso. Conseguimos enganar até mesmo o nosso
pai. Agora vamos embora porque minha mãe está nos esperando para o
almoço.

— Não podemos fazer isso. Sua madrasta está nos oferecendo uma

refeição.
Estamos descarregando as malas na casa da sede da fazenda de Wyatt e

ele mantém o mesmo rosto fechado desde quando se encontrou com o pai.

Também se esquivou do convite para o almoço e Mabel, a madrasta


dele, gentilmente trocou para um jantar.

— Podemos fazer o que quisermos.

— Ela não tem culpa, Wyatt. Mesmo que seu pai seja um traidor, sua

madrasta não tem culpa.


Ele cola nossas testas.

— Você é uma pessoa melhor que eu — diz.


— Sou não, lindo, só acho que você tem que acertar suas contas com

quem é de direito, não descontar em sua madrasta.


— Sou imperfeito para caralho, Maribelle. Como posso ter tanta sorte,

depois de todas as merdas que já fiz, que ainda me aceite como seu homem?

— E por falar em homem, meu corpo precisa dos seus serviços, senhor.
Sua expressão muda de mau humor para desejo em uma piscada e eu

não me sinto culpada por usar sexo para fazê-lo relaxar.

— Eu quero batizar cada um desses cômodos. Não sei quando me trará

de novo ao Wyoming.
Era para ser uma brincadeira, mas o rosto dele fica sério.

— Minha casa agora é em Grayland, mas vou trazê-la aqui quantas

vezes quiser, Maribelle.


Meu coração dispara ao ver que ele está fazendo planos para o futuro,

mas empurro a euforia porque prometi a mim mesma que viveria um dia de

cada vez.
— Não me enrole, cowboy. Leve-me para um passeio. Quando acabar

de me mostrar a casa, estará faminto, eu prometo.


Correndo o risco de chatear Wyatt, simpatizei com a esposa do pai dele.

É uma mulher pequena e doce, muito parecida, em seu jeito agregador, com

Mary Grace.

Apesar disso, o silêncio na mesa de jantar é tão sólido que daria para
cortar com uma faca, assim, me surpreendo quando o mais velho, que

também é o aniversariante e até agora o mais mal-humorado, pergunta:

— Há quanto tempo está saindo com meu irmão, Maribelle?


— Thaddeus… — meu namorado rosna, mas eu não levo a pergunta a

mal, afinal de contas, Wyatt é irmão caçula dele, por parte de mãe.

— Está me perguntando quando foi que eu roubei o coração do

devasso? — Ouço os gêmeos rirem, mas mantenho a expressão falsamente


séria quando me viro para meu cowboy. — Quando foi que descobriu que

sou sua eleita, lindo?

Ele me pega de surpresa ao segurar minha mão e beijar a palma.


— No dia em que ouvi sua risada naquela loja. Nem tinha visto seu

rosto ainda e já sabia que você era minha.


Capítulo 32

— Obrigada por sua tentativa nesses dias de transformar nossa


reunião familiar em algo próximo do normal — Mabel diz, quando paro

para descansar após várias danças com o meu cowboy.

Depois da declaração na frente da família ontem, Wyatt mudou. Não

é nada específico, e sim como se, ao definir para ele mesmo quem sou em

sua vida, tivesse transposto uma barreira.

Nós quase não dormimos na noite passada. Ele estava insaciável, me


tomando uma e outra vez, como se não pudesse obter o suficiente.

Wyatt carinhoso é infinitamente mais perigoso do que o sedutor e eu

não tenho mais como esconder que estou completamente apaixonada.


— Não acho que tenha feito um trabalho tão bom assim — falo,

lamentando a situação deles. Com o clima tenso, todos acabam


machucados. O pai, Montgomery, parece carregar o peso do mundo nas

costas e mesmo que eu entenda que talvez mereça aquilo, não consigo

deixar de sentir pena, porque, ao contrário do meu, parece realmente amar


Wyatt.

— Foi muito melhor do que eu esperava. Há anos não fazíamos uma

refeição em família.

— Posso perguntar uma coisa? Já peço perdão por antecipação se


estiver sendo indiscreta.

— Claro que sim.

— Tanto Wyatt quanto Thaddeus são filhos da primeira esposa de

seu marido.

— Sim, ambos são filhos de Connie.

— Por que Thaddeus não odeia o pai como Wyatt o faz? Quero

dizer, seria normal ou ao menos esperado, certo?

— Não cabe a mim falar mal dos mortos.

— Eu não sei se entendi.


— Thaddeus sabe a verdade. Não era meu marido quem traía a mãe
deles, era o contrário.

— O quê?

— Ela tinha amantes, inclusive funcionários de Montgomery. Ele

aguentou o quanto pôde pelo bem dos filhos, mas por fim, colocou um
ponto final.

— Mas ela estava grávida!

— Sim, de outro homem. De qualquer modo, ele sugeriu que ela

ficasse na fazenda, com as crianças e ele compraria uma propriedade

vizinha. Connie não quis. Queria ser livre e foi embora.

— Então por que levou Wyatt?

Ela dá de ombros.

— Para se vingar, eu acho. Wyatt e o pai eram muito unidos.

Sinto meus olhos se encheram de lágrimas.

Jesus, quanta dor desnecessária.

— Por que seu marido não contou a verdade ao filho?

— Ela já havia feito a cabeça dele. Como competir com a palavra de

um morto? Além do mais, a forma como morreu traumatizou Wyatt por ter
sido na frente dele. Ele acha que deveria tê-la protegido.

Começo a chorar de verdade e ela me abraça.

— E quanto a você, Mabel? Por que meu namorado não te trata

bem?

— Eu era a melhor amiga de Connie. Sempre fui apaixonada por

Montgomery, mas ela o seduziu e engravidou, o que onde moramos, o


deixou sem alternativa a não ser assumir a paternidade casando-se com ela.

— Vocês dois… hum… durante o casamento?

— Não. Montgomery é um homem honrado. Ele me amava, mas

nunca me procurou antes da morte de Connie.

Deus, é muita dor junta.

— Ainda acho que deveria ter falado a verdade para ele.

— Não cabe a mim revelar nada, Maribelle. É uma decisão do pai


dele. Como se não bastasse, tem a maneira como ela morreu.

— Sim, sei que foi atropelada. Wyatt me contou que acha inclusive
que o motorista avançou com o carro de propósito.

— Exatamente.

— Está me dizendo que ela foi assassinada?


— Os peritos que viram as marcas dos pneus no chão disseram que

o motorista não tentou frear.

— Por que alguém mataria uma grávida?

— O que vou te contar é apenas um palpite, Maribelle. Nunca


saberemos a verdade, realmente.

— Prometo que não falarei nada a ele.

— Montgomery não acha que Connie decidiu ir para Grayland por


causa de Mary Grace.

— Não?

Ela balança a cabeça de um lado para o outro.

— Ela foi atrás do amante. Do pai do bebê que estava esperando.

— Oh!

— Achamos que esse homem a matou e ao filho também.


Mais tarde, naquela noite

— Já considerou que algumas de suas certezas não são exatamente

como pensa? — pergunto, deitada sobre o peito dele depois de fazermos


amor duas vezes.

— Já, sim. Você é um ótimo exemplo disso.

— Não pode me dizer essas coisas depois de me dar três orgasmos,

cowboy. Fico indefesa.

— E quem disse que não é esse mesmo o plano?

— Me deixar vulnerável?

— Não, fazer você se apaixonar por mim.

— E se eu já estiver?

Estava fazendo círculos lentos com os dedos sobre seu peito, mas

ele me para, segurando minha mão.

— Desde quando?

— Acho que desde o primeiro dia. Quão ingênua isso me faz?


Apaixonei-me pelo meu primeiro tudo, mesmo ele me avisando que não
deveria me envolver.

— Esse cara de quem está falando é um idiota, princesa.

Rio sem jeito porque não planejei me declarar.

— Ele tem seus momentos de sabedoria — começo e ganho um tapa

na bunda.

— E o que mais?

— Hein?

— O que há nesse cara para que tenha certeza de que o ama?

Levanto o rosto para encará-lo.

— Eu nunca poderia colocar tudo em palavras, Wyatt. Não há nada

que explique o amor que sinto por você.

— Comparado a você sou podre, Maribelle.

— Não, você é bom e generoso. Talvez excessivamente mulherengo,


mas aqui dentro — digo, pousando a mão no peito dele —, há amor e

bondade.

Ele me puxa para cima de seu corpo e o lençol nos separa, o que me

diz que quer conversar e não sexo.


— Eu só me envolvi antes de você com mulheres que não me

despertavam nada além de atração física. Não queria uma ligação mais
profunda porque tinha medo de ser como ele.

— Seu pai?

— Sim. Eu não queria destruir a vida de alguém como ele fez com a

minha mãe, então, escolhi relacionamentos casuais, geralmente que não


passavam de uma noite.

— Até me encontrar.

— Até encontrá-la. Eu não consegui desviar de você e tentei. Muito.

— Mas eu te conquistei.

Ele balança a cabeça, afirmando.

— Você era virgem no corpo e eu, no coração. Acredito que

estávamos destinados.

— Acredita em destino?

Antes que ele responda, meu celular toca.

— Quem pode ser a essa hora? — pergunto.

— Atenda. Mary Grace diz que telefonemas de madrugada nunca

são uma boa coisa.


Como se para confirmar o que ele falou, quando olho na tela, vejo o

número da avó dele.

— É ela, que estranho…

Ele se levanta e acende a luz.

— Alô?

— Maribelle, minha filha, sinto muito ligar a essa hora, mas

aconteceu uma emergência.

Sinto meu coração bater em um ritmo preocupante porque algo me


diz que não vou gostar do que ouvirei.

— O que aconteceu?

— Seu pai. Não sei como contar isso, mas não há maneira de

diminuir o impacto da notícia. Ele foi assassinado.

Pulo da cama.

— Assassinado?

Wyatt me encara e em segundos já está vestindo um jeans e

telefonando para alguém.

— Como aconteceu algo assim? — pergunto.


— A menina que ele se envolveu quando foi preso, ao contrário do

que se disse, não era uma prostituta, era filha de um militar viúvo. Seu pai
a seduziu. O homem descobriu tudo e foi até a casa dele hoje à noite. Pelo

que a vizinha contou à polícia, ela viu alguém tocando a campainha e

quando Jebediah foi atender, o militar lhe descarregou uma arma em cima.

— Estou indo para aí.

— Sinto muito, meu amor.

— Obrigada por me avisar.

— O que aconteceu? — Wyatt pergunta assim que desligo.

— Meu pai foi assassinado. O pai de uma menina que ele seduziu o
matou hoje.

Sento-me na cama como um robô, sem acreditar que aquilo

aconteceu.

— Vamos voltar para Grayland, amor.

— Eu nem sei o que fazer.

— Não se preocupe. Vou cuidar de tudo.


Dias depois

Enquanto vejo, pela segunda vez em um espaço de poucas semanas,


o corpo da outra pessoa que contribuiu para o meu nascimento ser

enterrado, tento me concentrar nas palavras de Mary Grace.

Mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer, meu amor. É triste, mas
também a realidade. Seu pai traiu e enganou. Dessa vez, entretanto, se

meteu com a família errada.

O estranho de tudo, é que apesar de lamentar a perda da vida dele

como lamentaria de qualquer ser humano, sinto-me emocionalmente

desligada, como se não fosse meu pai quem estou enterrando, e sim, um
desconhecido.

Só agradeço a Deus que minha mãe não tenha presenciado aquilo.

Ela morreria de desgosto.


— Eu vou te ajudar a desmontar a casa — Wyatt diz.

— Queria dizer que não precisa, mas me sinto exausta.

— Estou com você, baby. Não vou a lugar algum.


Capítulo 33

— Podemos fazer isso outro dia, se você quiser.

Ela está sentada e ficou calada por todo o tempo em que separei as
pastas de documentos no escritório de Jebediah Davenport.

Todas as coisas da mãe dela já foram doadas porque a própria

enfermeira que cuidava de Loretta providenciou isso. Maribelle disse que


mandará os pertences do pai, inclusive móveis e roupas, para caridade, mas

precisamos examinar os documentos para ver se tem algo importante que


precisa ser guardado.
— Se não se importar, prefiro resolver tudo de uma vez. Não tenho

boas lembranças daqui, Wyatt.

— Tudo bem. Só falta examinar uma gaveta.

— Pode pegar aquela caixa ali no alto da prateleira, também? Fui eu

quem a escondeu dele no dia que descobri sobre as amantes. Fiquei com

raiva e quis que ele não tivesse mais acesso às fotografias. Agora vejo que
deveria tê-las queimado.

— Qual delas?

— A que está por trás de tudo. Quer uma escada?

Pela primeira vez depois que descobrimos da morte do pai dela,


consigo sorrir. Não porque lamente o que lhe aconteceu. Para mim, o

homem não passava de um filho da puta, mas porque Maribelle esteve

muito calada e abatida.

— Mulher, reparou na minha altura? A cabeça quase bate no teto!

Oferecer-me uma escada é ofensivo.

Ela me devolve um sorriso, mesmo que sem o brilho habitual de

sempre.

— Esqueci que meu namorado é um gigante.

Antes de mover a caixa, volto-me para ela.


— Vai ficar tudo bem, amor.

— Eu sei.

— Sabe, mesmo?

— Espero que sim. Nós não tínhamos mais qualquer ligação

emocional, mas ainda assim, papai era tudo o que me restava.

Trinco os dentes porque não quero ser um babaca.

— O que está pensando? — pergunta.

— Não vai querer saber, linda.

— Quero, sim.

— Ele não merece uma lágrima ou pensamento seu. Nessa situação

presente, Maribelle, o ditado “antes só do que mal acompanhado” não

poderia ser mais perfeito.

— Eu sei. Não estou lamentando a morte dele em si, mas me

perguntando o que teria sido diferente se a minha mãe tivesse se casado

com outro.

— Já me fiz a mesma pergunta em relação à minha, e acredite-me


quando digo que é um exercício mental inútil. Nunca saberemos.
Ergo o braço para puxar a caixa, mas calculo mal a distância e todo

o conteúdo cai no chão.

— Merda!

Abaixo-me para recolher as fotografias e calcinhas, desprezando


ainda mais o morto, quando meus dedos congelam.

Eu me levanto com a imagem na mão, sem querer acreditar.

Olho para Maribelle e outra vez para foto, ácido se espalhando no


meu estômago.

— Wyatt, o que houve?

Estudo o rosto da mulher que eu amo e volto a focar na fotografia.

— O que diabos a foto da minha mãe está fazendo aqui?

Ela se levanta em um pulo, pálida e tenta tirá-la da minha mão, mas

eu não permito.

— O quê? Sua mãe? — repete, mas ao mesmo tempo, vejo que

empalidece.

A bile sobe à minha garganta.

— Não, porra! Você sabia que eles eram amantes? Que tipo de jogo
doentio fez comigo, Maribelle? Por que não me contou desde o começo?
— Eu não…

Não espero a resposta. Saio da casa completamente louco,


desesperado.

Não sei por quanto tempo dirijo até que exausto, já noite, paro na
beira da estrada.

Meu celular toca e vejo que é Thaddeus. Ignoro-o, mas ele continua
insistindo.

— Você sabia — acuso, quando atendo. — Vocês todos sabiam que


ela tinha um amante e nunca me contaram.

Eu não tenho dúvidas de que foi Maribelle quem ligou para ele,
então vou direto ao que me interessa.

— Vários — diz.

— O quê?

— Ela tinha vários amantes, Wyatt.

— Todos vocês me enganaram, porra. Inclusive ela.

— Não. Quando vocês estiveram aqui, Maribelle teve uma conversa

franca com Mabel e nossa madrasta lhe contou sobre a infidelidade da


mamãe. Sua mulher não tinha como saber que o amante de Connie em
Grayland era o pai dela. Ninguém sabia quem ele era ou teríamos ido
atrás.

— Por quê?

— Porque papai acha que quem matou nossa mãe foi esse homem.

O mesmo que a engravidou, mas que para se livrar da amante indesejada,


assim como do bebê, cometeu um crime.

— Jesus Cristo!

— Venha para casa, Wyatt. Já passou da hora de você e papai

conversarem.

Sei que ele tem razão, mas na minha cabeça, eu só vejo a imagem de
Maribelle. Sua desolação e medo quando fui embora.

— Tenho que voltar para Grayland. Preciso falar com ela.

— Não, o que você precisa no momento, é acertar as contas com


seu passado. Enquanto houver dúvidas e mal-entendido, nunca poderá
seguir em frente, meu irmão.
Wyoming

Desço do carro em minha terra natal pela segunda vez em menos de


uma semana, mas hoje, vim de avião.

Durante todo o percurso, tentei falar com Maribelle, mas o telefone

só ia direto para a caixa postal, então liguei para Mackenzie e pedi que
fosse verificá-la.

Não me espanto quando vejo papai me esperando e observo seu

rosto para tentar detectar qualquer mudança.

Não há nada de diferente. Tem a mesma expressão exausta de


sempre.

— Por quê? — pergunto assim que estamos frente a frente. — Por

que permitiu que eu te odiasse todos esses anos, pai?


— Você já havia sofrido demais, Wyatt. Criou uma imagem de sua

mãe na cabeça, não cabia a mim destruí-la.

Tampo o rosto com as mãos, pensando nos anos em que percorri o

mundo inteiro, evitando voltar para casa a todo custo, me ausentando de

Natais, aniversários, dias de ação de graças.

— Eu tinha o direito de saber.

— Não estou dizendo que acertei ao lhe esconder a verdade, meu

filho, mas que pensei estar fazendo o que era melhor para você.

— Eu quero ouvir tudo. Não se esqueça de qualquer detalhe. Não

me mantenha mais em uma bolha. Não preciso ser protegido. Guiei minha
vida até hoje de uma maneira que eu nunca enganasse alguém porque não

queria ser igual a você, que para mim, era um traidor, e no entanto, a

traidora era ela.

— Sua mãe não foi feita para o casamento.

— Conte-me.

Ao invés de irmos para a sede, seguimos para o celeiro.

Depois de nos servir uma dose de uísque, ele começa a falar.

Eu lhe pedi que não me escondesse mais nada, mas não tinha ideia
do mal que minha mãe lhe causou por todos os anos em que estiveram
casados.

— Eu destruí nossa família — digo, quando ele termina.

— Não, Wyatt. Você quase destruiu a si mesmo. Eu nunca deixei de

te amar, filho. Eu jamais desistiria de você.

Vou até onde ele está, meu corpo todo tomado por uma forte

emoção.

— Eu não mereço ser feliz, pai. Julguei-o e condenei sem lhe dar a

chance de se explicar. Magoei a mulher que amo sem ouvi-la.

— Você é humano, Wyatt e nós, humanos, somos imperfeitos.

— Perdoe-me.

— Pelo quê? Você só escolheu um dos lados, baseado na verdade

que conhecia. Como eu disse antes, nada mudou dentro de mim. Eu te amo,
meu filho. Agora se quer um conselho de um homem que quase perdeu o

amor da vida dele, vá atrás da sua garota. Não a deixe escapar. Maribelle é

preciosa, Wyatt. Ela lutou por você mesmo vendo suas partes quebradas.

Foi corajosa o bastante para desafiá-lo, convidando-o para a dança,


entregando-lhe seu amor. Não se encontra uma mulher assim a cada

esquina.

— Ela não atende o telefone.


— Mas vai atender, eventualmente. Entre comigo. Descanse e

amanhã, volte para Grayland. Não a perca.

— Não vou. Prometo. Maribelle é minha.


Capítulo 34

No dia seguinte

— Deveria ligar o seu celular.

— Não quero falar com ele por telefone, Mackenzie. A conversa que
teremos será olho no olho.

— Você mudou tanto, Maribelle. Da menina tímida, que quase se

desculpava por respirar mais forte, a alguém que se dá valor. É lindo de se

ver.
— Acho que nunca fui tímida, sabe? Era reprimida, acanhada. Tímida,
não. O engraçado é que com Wyatt, sempre me senti corajosa. Apesar de

toda aquela aura de dono do mundo que tem, que acho que é um traço

familiar dos homens Gray, eu me sentia com liberdade, dizendo o que eu

pensava.

— Você o ama.

— Amo, sim. Muito. Eu me apaixonei rápido, Mackenzie. Meu único

consolo é que sei que ele sente o mesmo.

— Eu adoro essa nova versão Maribelle segura, minha linda. Depois

de tudo o que passou, merece ser feliz.

Olho para minhas mãos.

— Não te contei a história toda.

— Não?

Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.

— Quando estive no Wyoming, a madrasta de Wyatt me revelou que o

pai dele acha que o homem de quem Connie engravidara, ou seja, meu pai,

foi quem a matou atropelada.

— Meu Jesus Cristo, Maribelle! Acha que ele seria capaz de algo
assim?
— Não sei, Mackenzie. Há alguns meses, se me perguntassem eu o

defenderia com unhas e dentes, mas agora, não.

Ela parece pensar por um tempo antes de dizer.

— Sabe que sou fascinada por programas de investigação criminal, né?

— Não, eu não sabia.

— Sou, sim. Não perco um. Callum até brinca que vou abrir um

laboratório aqui em Grayland, tipo aquele Parabon. O que estou tentando


explicar é que de tanto assistir esses programas, aprendi uma coisa ou outra.
Há uma maneira de descobrir se Jebediah era mesmo o pai do bebê da mãe

de Wyatt.

— Como?

— Teste de DNA. Basta que façam a exumação do corpo dela, assim


como o do feto. Depois, talvez tenham que fazer com o do seu pai, também.

Não tenho certeza. Assim, seu namorado obterá as respostas. No lugar dele,
eu iria querer saber. Não parei até colocar o homem que matou meus pais

atrás das grades e em seguida, vê-lo sendo sentenciado à morte.

Fico em silêncio por um tempo, de repente a coragem se esvaindo.

— E se ele não puder conviver comigo? Sou a filha do homem que


destruiu a família dele.
— Se o seu pai fez mesmo aquilo, Maribelle, nós nunca saberemos.

Tenho que concordar que, se o bebê era filho dele e há uma grande chance
de que sim, suas atitudes foram as de um monstro. Porém, não foi ele quem

destruiu a família de Wyatt. A própria Connie fez isso. Claro que ela não
merecia morrer e nem o pobre bebê inocente, mas de onde vejo, o que

aconteceu foi uma espécie de dominó do destino. Uma peça caiu e todas as
outras rolaram em sequência.

— Acha mesmo isso?

— Sim e se Wyatt a amar de verdade, nunca a culpará pelo que

aconteceu.

Meia hora depois, ela se despede.

— Tem certeza de que não quer ir para minha casa?

— Tenho, sim. Ele vai voltar, Mackenzie, nem que seja para

colocarmos um ponto final em nossa história.

Vou para o banho, o corpo moído da noite praticamente insone.

Não sei quanto tempo passo embaixo da água quente. Estou relaxada e
não quero sair, mas quando braços fortes, ainda vestidos em camisa me

circundam e eu sinto o jeans roçando em minha pele, acho que estou


sonhando.
Viro-me para encará-lo.

— Você voltou. Eu sabia que voltaria.

Ele não responde, ao invés disso, me pega no colo e beija, não com
luxúria, mas com a alma.

Urgente, mas não sexual.

Ele me diz com o corpo muito mais do que seria capaz com a boca.

Quando nos separamos para respirar, desliga o chuveiro.

— Como pode ter tanta fé em mim?

— Tive fé no nosso amor. Eu não sei nada sobre casais, mas sei sobre
nós dois. Talvez não nos declaremos com frequência como algumas pessoas

fazem, mas presto atenção em você, Wyatt. Sei o que é não ser amada. Eu
soube diferenciar quando passou a me dedicar seu amor. Você me respira.

— Eu te respiro, minha linda.

Abraço-o e deito a cabeça em seu peito.

— Sinto muito por tudo. Nunca poderia te dizer o quanto lamento.

— Não é culpa sua.

— Foi para o Wyoming, né?

— Como sabia?
— No dia em que saiu da minha casa, liguei para Thaddeus. Eu tinha
quase certeza de que depois que conversassem, você iria procurar seu pai.

— Como pode ser tão maravilhosa, Maribelle? Eu não te mereço.

— Eu não sou. Meu pai morreu e eu não lamento. Principalmente se

ele foi o responsável por…

Ele cola nossas testas.

— Ele não merece seus lamentos. Nunca mereceu.

— Mackenzie disse que há uma maneira de descobrir se foi mesmo ele


que…

— Sim, eu sei. Thaddeus falou a respeito, mas se ele desejar ter a

confirmação, que corra atrás. Não quero saber. Não me importo. Vivi por

muitos anos torturando meu pai por algo que ele não teve culpa. Cresci
amando minha mãe e odiando-o. Qualquer coisa que eu devesse a ela, já

paguei. Chegou a hora de vivermos nossa vida, princesa.


Fazenda Golden Valley

Dois meses depois

— Ninguém pode saber ou minha reputação estará arruinada — falo,

tampando o rosto e gargalhando.

Fecho o notebook, encerrando a reunião que acabei de ter com o dono


da empresa a qual acabo de adquirir: produtos eróticos online, que acabei de

rebatizar de Doce Pecado.

— Pensei que ela já havia se perdido quando começou a me namorar.

— Ah, sim, sem dúvida. Mas ainda tenho essa aura de boa menina.

— Gosto assim — ele diz, me puxando para o colo. — Uma boa

menina na rua, uma safada na minha cama.

Olho-o, disfarçando um sorriso, em um misto entre envergonhada e

excitada com o que vou propor.

— O que está me escondendo, mulher?


— Eu tenho uma caixa fechada com um dos produtos que colocarei à

venda… então estava pensando, bem que podíamos experimentar juntos.

— Espera… caixa fechada? Não me disse que brincava com seu


vibrador?

— Eu te disse que nunca tinha conseguido um orgasmo sozinha.

— Sim, mas achei que havia ao menos tentado.

— Com o vibrador, não. Tentei me tocando…

Ele rosna e se levanta.

— Onde está?

— Como sabe que eu trouxe hoje?

— Porque aprendi a te conhecer. Sei que não começou com essa

conversa à toa. Claro que já tem um plano. Agora me diga onde está.

Pego sua mão e o levo para a biblioteca, que ele também usa como
escritório, e tiro uma caixa de dentro da gaveta.

Quando volto a encará-lo, seus olhos estão mais escuros e sinto frio na

barriga porque sei que meu devasso selvagem foi despertado.

— Pretendia me surpreender?

— Aham. Quando estivesse ao telefone.


Ele se senta na cadeira e me põe em cima da mesa.

Ainda não mexe na caixa onde está o vibrador.

— Tire a calcinha, Maribelle.

— Hum… acho que não.

— Maribelle…

— Como poderia fazer isso, senhor? — digo, erguendo o vestido em


minhas coxas apenas o suficiente para que ele veja que não estou usando

nada.

— Porra!

Ele me entrega a caixa.

— Queria me provocar? Mostre-me. Erga os pés em cima da mesa.


Quero ver essa boceta.

Chega a cadeira para trás, se afastando de mim.

Ao invés de fazer o que ele pede, tiro o vestido pela cabeça, ficando

completamente nua.

Vejo uma veia pulsar em seu pescoço e atestar o descontrole dele me

enlouquece também, mas agora que comecei, vou até o fim.

Abro a caixa devagar e sinto seus olhos atentos como os de uma águia.
Confiro se o brinquedo veio com pilha, como dizia o manual de

instruções no site, e o ligo, sem encarar Wyatt.

Planto os pés na mesa e acaricio a parte interna da minha coxa com o

vibrador, a mão puxando o mamilo esquerdo.

O brinquedo está perto do meu sexo, mas mesmo sem colocá-lo sobre

meu clitóris ainda, apenas o movimento na minha coxa já me faz gemer.

— Jesus, mulher. Eu não consigo resistir.

Ele se aproxima, ainda na cadeira e toma o brinquedo da minha mão.


Com os olhos fixos em mim, abocanha meu mamilo, enquanto toca meu

clitóris com o brinquedo.

Gemo alto, chocada com o prazer desconhecido.

— Você quer gozar? — pergunta.

Ansiosa, balanço a cabeça fazendo que sim.

Ele volta a provocar meu clítoris e eu choramingo.

— Tão sensível, porra.

Uma de suas mãos segura meu peito inteiro, amassando e logo

substitui pela boca faminta, revezando-se entre os dois.


Provoca meu sexo com o vibrador, mas apesar de ser muito gostoso, eu

quero mais.

Empurrando sua mão, desço para o seu colo e desço o zíper do jeans.

Ele me dá um sorriso safado, talvez por conta da minha urgência.

Olhando em seus olhos, deixo meu corpo afundar no sexo rígido e nós

dois urramos alto.

Ele me manda rebolar e estapeia meu bumbum.

Wyatt é um depravado na hora do sexo e eu amo cada coisa suja que

sai da boca dele.

Nos perdemos em uma cavalgada por vários minutos. Eu rebolo, subo

e desço, insaciável.

— Assim, princesa. Goze no meu pau.

Quando seu dedo me toca por trás, grito, me rendendo em um orgasmo

que parece durar para sempre.

— Ahhh…

Ele sai de mim, me deita em cima da mesa e bebe meu prazer. Não

parece satisfeito porque puxa meus pés para seus ombros e torna a me

penetrar profundamente.
Estou sensível e choro com o ataque implacável, mas rebolo de
encontro ao seu corpo.

Ele me possui por vários minutos, empurrando dentro do meu corpo.

— Vou gozar. Eu te amo, Maribelle. Você inteira. Cada pedaço.

A declaração faz com que eu me renda outra vez, nosso gozo se


misturando, os pelos roçando, os gemidos consumidos na boca um do outro.

— Eu te amo, cowboy. Eu sempre vou te amar.


Capítulo 35

Wyomin g

Dia do Casamento
Seis meses depois

— Mantendo a tradição da nossa família, Maribelle vai casar


grávida e de botas brancas! Uhuuuu! — Mackenzie grita, animada e as

outras mulheres Gray riem.

— Opa, falem por vocês. Eu casei de botas coloridas. — Dominika


debocha. — E também tive o bebê antes.
— Não importa a ordem — Antonella brinca. — Somos um clã.

— Gente, quantos irmãos solteiros Wyatt tem mesmo? — Adele


pergunta.

Balanço a cabeça, rindo. Elas não pararam por um segundo sequer

desde que chegaram anteontem.

— Só estão tão assanhadas porque Mary Grace saiu com a sogra de


Maribelle — Becca fala. — Duvido que teriam coragem de dizer isso com

as duas por perto.

Ouço-as implicarem umas com as outras, mas mal presto atenção.

Estou flutuando. Completamente encantada com meu vestido de noiva e


minha barriguinha de gravidez de cinco meses.

Parar de tomar a pílula foi uma decisão de comum acordo porque

nós dois queríamos filhos logo e com a correria por conta do sucesso que a

minha empresa de produtos eróticos vem fazendo, melhorando a vida

sexual das mulheres dos Estados Unidos, fomos adiando a data do


casamento.

Na verdade, até mesmo o pedido foi meio louco.

Estávamos dormindo.
Eu tinha passado um dia de TPM infernal. Wyatt me mimou com
chocolates e carinho, mas mesmo assim, eu quis dormir cedo. De

madrugada, ele acendeu a luz do abajur e disse que queria aquilo para

sempre.

Lembro que brinquei e falei que ele era masoquista, porque sou tão

chata na TPM que nem eu mesma me aguento.

Seu rosto estava sério quando disse que não se importava. Faria um

estoque de chocolates em casa, desde que eu aceitasse ser a esposa dele.

Eu, que já estava sensível, passei uma meia hora chorando e mal

notei quando ele abriu a mesinha de cabeceira e tirou o anel.

Quando perguntei porque justo naquele dia em que eu estava me

comportando como uma megera, ele falou que planejou aquilo para que eu

entendesse que não era só sexo, ele me queria em qualquer momento.

A família inteira vibrou com nosso noivado e começou a organizar a

festa, mas para mim o que importa é o nosso amor. O que vai acontecer

daqui a pouco é apenas um protocolo que formalizará aos olhos do mundo


que somos um do outro.

Porém, minha barriga começou a aparecer muito. Mary Grace disse

que pelo bem do bebê, era melhor que eu fizesse de Wyatt Gray um homem

honesto, como diriam as carolas de Grayland. E assim, aqui estamos nós.


Fecho os olhos por um instante, pensando na minha mãe e faço uma

oração para que ela, de onde estiver, proteja minha união e também o
netinho.

Sim, vamos ter um menino. Já até escolhemos o nome: Banks Gray.

— Eu amei a paisagem do Wyoming e também os novos parentes —

Antonella diz. — Não sei porque essa parte da família não frequentava
Grayland.

Penso na resposta.

— Acho que porque tanto para o pai quanto para os irmãos de Wyatt

o Texas traz más lembranças — respondo.

Todas elas já sabem da história completa, agora. O próprio Wyatt

fez questão de contar.

— Eu tinha me esquecido disso — a esposa de Hudson se desculpa.

— Não tem nada demais. Não fique constrangida.

Eu não me sinto mal pelo que aconteceu no passado. Tive uma


conversa longa com Montgomery e ele me assegurou que, para a família,
sou a mulher de Wyatt, não importa quem foi meu pai.

Ouvimos uma batida na porta e sorrio quando vejo meu sogro.


— Pronta, boneca? — pergunta.

— Mais pronta impossível.

— Você é a noiva mais gostosa do mundo, Maribelle Ann Gray.

— Deus, devíamos ter esperado pela noite de núpcias como


qualquer casal normal, Wyatt — respondo, gemendo, enquanto rebolo de
costas para ele, as mãos espalmadas na bancada do lavabo.

— Casou-se com um devasso safado, princesa. Não com um cara


normal. Minha fome por você não diminui e não se preocupe quanto à noite

de núpcias. Eu não vou te deixar dormir hoje.

— Eu amo essa versão devasso, marido. Não mude. Me dê cada

vez mais.
Epílogo 1

Um ano e meio depois

— O que está pensando, amor? — ele pergunta quando me vê

sorrindo.

Aponto para o lugar onde Montgomery brinca com o nosso filho.

No começo, mesmo com tudo o que conversaram, Wyatt resistia um

pouco em visitar o pai, mas aos poucos fui construindo uma ponte entre os

dois e a chegada de Banks ajudou muito a consertar pedaços quebrados do


coração dos dois Gray orgulhosos.
Por mais que eu despreze meu pai, Mackenzie tinha razão. Connie e

o anjo inocente que carregava não mereciam a morte que tiveram, mas a
mágoa causada entre meu marido e o pai foi culpa dela, sim.

Wyatt observa meu sogro com o neto.

— Eu perdi tanto tempo longe dele. Um tempo que nunca vou

recuperar.

— Talvez não precise. Acredito que alguns momentos da vida,

mesmo os de sofrimento, temos que atravessar. Passamos a valorizar mais

os nossos entes queridos depois. Seu pai também errou ao esconder a


verdade. Ele quis te proteger, mas acabou machucando seu coração.

— Eu não consigo odiar minha mãe. Cada vez penso menos nela,

mas não sinto ódio.

— E nem seria saudável se o fizesse. Desprezo meu pai, mas não o

odeio. Na verdade, tenho me empenhado em esquecê-lo.

— Minha mulher é uma sábia.

— A vida pode nos surpreender, cowboy. Eu morava dentro de uma

concha, murchando, permitindo que meus desejos se atrofiassem para

corresponder ao que eu acreditava serem as expectativas de um homem

bom. Precisei me machucar, ter a venda arrancada diante dos meus olhos,
para finalmente entender que se eu não respeitar meus sonhos, as pessoas
passarão por cima deles como um trator.

— Não eu, Maribelle. Ver você feliz é meu objetivo de vida. Minha

fortuna — diz, me puxando para o colo e beijando. — E por falar nisso,

verifique sua conta bancária.

— Não — digo, fechando a cara. — Você não fez isso, Wyatt.

— Fiz, sim. Quando me casei com você antes que completasse trinta

anos, acabei forçando-a a abrir mão de sua herança[28] e pensão. Nada mais

justo do que repor o que lhe impedi de ganhar.

— Eu não preciso de herança. Sou uma empresária agora, baby.

— Sim, uma empresária do ramo da sacanagem. Por falar nisso,

encomendei os brinquedos que você postou essa semana no site. Estão lá

em cima. Preciso testar, senhora. Aconselho-a a se empenhar na

apresentação do produto ou posso fazer uma avaliação negativa.

Dou risada.

— Você é muito descarado, Wyatt Gray — digo, quando ele se

levanta comigo no colo na frente da família inteira e começa a andar para a

casa.

— Sim, eu sou. E tarado por você, também.


— Continue, Gray. Não vai me ouvir reclamar.
Epílogo 2

Anos depois

A família dos dois estados está reunida para comemorar a vitória de

Bryce para o Senado. Anos atrás, Hudson se despediu de uma vez por todas

da vida pública e meu primo ocupou seu lugar como governador.

A sala está uma bagunça.

Temos tantas crianças que parece que um circo foi montado na casa

de Mary Grace.
Minha avó adora essa movimentação toda e não para nem por um

minuto.

Sorrindo, abraçando, sendo ela mesma. Nossa matriarca e também

nosso norte.

— Meu Deus do céu! Esse açúcar todo vai significar uma noite em

claro — Maribelle diz, parecendo chocada.

— Para Callum e Mackenzie, né? É a vez deles ficarem com as

crianças da família.

— Pode deixar, tia Maribelle, que eu vou tomar conta de todo

mundo — a irmãzinha de Mackenzie diz, com uma expressão séria.

— Nós vamos, Blaire. Deixa comigo. — Dante, o filho mais velho

de Hudson, aparece ao lado dela e afirma, mas a menina lhe vira as costas.

— Hey, dona Blaire, que história é essa de deixar Dante falando


sozinho? — a irmã dela ralha.

— Ele é muito mandão, Mackenzie. Eu nem pedi ajuda!

— Está aí algo que não se pode negar: os homens Gray são mandões

demais. — Minha esposa gargalha.

Eu a puxo para sussurrar em seu ouvido.


— Você gosta do meu jeito bruto, mulher. Se o mundo soubesse
quem é você entre quatro paredes, o apelido de devassa seria seu.

— Só com você, cowboy. Sou toda sua.


Aviso: nas próximas páginas, você encontrará o bônus do quinto livro da

série Alma de Cowboy e de mais outras séries.


Bryce Gray

Anos depois

— Tem certeza de que quer mesmo isso? Sabe a quantidade de restrições

que uma vida como senador envolve?

Ele veio me parabenizar antes dos outros, assim que soube da minha

vitória nas eleições para o senado.

— Agora não tem mais jeito. Eu venci. Além do mais, era o caminho

natural, Hudson. Não me vejo fazendo outra coisa.


Ele me olha, sério.
— Já sabia disso quando assumiu o governo do Texas e mesmo que até

agora tenha se saído muito bem mantendo-se solteiro, se visa mesmo ser

presidente um dia, terá que se casar. É praticamente uma exigência por

parte dos eleitores. Não acredite que o mundo mudou, Bryce. Esposa e

filhos passam uma imagem de confiabilidade ao eleitorado. Terá que parar

com seus relacionamentos de no máximo dois meses.


Sorrio.

— Eu melhorei muito em relação ao passado. Antes não duravam uma

semana.

— E deu muita sorte de não ter deixado vários Gray pelo caminho.

— Posso ter sido um safado quando mais novo, mas nunca

irresponsável. E jamais viraria as costas para um filho.

— Tudo bem, irmão. Estou feliz que seja o nosso novo senador. Muito
orgulhoso de sua trajetória também, mas se quer mesmo que a Casa Branca

seja sua residência um dia, terá que fazer alguns ajustes. Casar-se, o maior

deles.

— Já tenho alguém em mente.

— O quê? Está apaixonado?

— Claro que não. Será uma união de conveniência. Estou velho demais
para me apaixonar. Se não aconteceu até agora, qual é a chance?
Ele sorri.

— Eu também pensava assim e agora tenho esposa e três filhos — diz.


— Fico satisfeito só com a parte da esposa, obrigado. Não preciso de

filhos. Vocês não param de trazer crianças para a família. Já está de bom
tamanho.
— Continue se iludindo — diz, me dando um abraço. — Se quer um

conselho, esqueça isso de casamento de conveniência. Já estive em um e foi


uma experiência infernal. Procure uma boa mulher e faça dela seu lar.

Depois que ele sai, vou até a janela do meu gabinete.


Sim, eu pretendo encontrar uma boa mulher e já tenho um nome,

inclusive. Uma garota dócil e calma como uma enseada.


Mas, infelizmente, não é o rosto da candidata perfeita, que surge na
minha mente, mas o de uma ruiva inquieta e atrevida que me fez ter vontade

de pegá-la contra uma parede, fodendo duro desde a primeira vez em que a
vi.

Louise, a irmã mais velha, orgulhosa e sexy como o inferno.


Roman[29]

Fleur.
É esse o nome dela.

A garota a quem eu resgatei da seita[30].

Uma das esposas dos malditos anciões.

A mesma que pedi a Jaxson para dar um lar.


Ela não chegou a ficar muito mais do que um ano na Império Gray e depois

se mudou para Dallas. Sei que no período em que passou na fazenda de


Mary Grace, fez terapia, mas não acredito que psicólogo no mundo

conseguirá colar suas partes quebradas.

Ela terá que aprender a lidar com o passado. Não há opção.


Eu nunca a perdi de vista. Vigiei-a à distância porque ainda que eu lute

contra, algo dentro de mim diz que Fleur é minha para proteger.
Sei que não deveria desejá-la. Ela não está pronta. Acho que nunca estará.

A opção, entretanto, é permitir que a garota se perca de vez. Não vai

acontecer.
Chega de esperar.

Eu a quero e a farei minha.


Thaddeus

— Eu não a quero em minhas terras, pai.

— Por que a antipatia pela garota?

— Ela está procurando problema. Ninguém precisa ser um gênio


para perceber que Arabella pertence tanto ao campo quanto um elefante a

uma loja de cristais.

— É a sobrinha de Mabel, Thaddeus. E ficou órfã.

— Não é um bebê. Já tem idade legal para se cuidar.

— O que diabos há com você? Nós, os Gray, não viramos as costas

aos parentes.

— Ela não é nossa parente.


Tiro o chapéu, irritado para caralho, passando a mão no cabelo.

— Eu não vou mais falar nada. Apenas tenha certeza de que ela não
pisará na minha fazenda.

Saio do escritório dele e quase esbarro na menina.

— Estava ouvindo nossa conversa, enxerida?

— E por que eu faria isso se já sei o que foi dito?

— Nesse caso, por que não segue a dica e pega seu rumo?

— Você não manda em mim, Thaddeus Gray. Não vim para ficar
com você, mas com titia.

— Eu não a quero mais indo ao bar. Não tem idade legal para isso.

— Ah, então é esse o motivo de sua raiva, primo? Ou por que ficou
me bisbilhotando enquanto eu nadei no rio ontem?

Aproximo-me dela e me abaixo para sussurrar.

— E o que teria de interessante para eu olhar, baby? Você

praticamente usa fraldas, ainda.

— Seu bastardo!

— Pirralha malcriada. O que é preciso para que você suma? Eu te

compro um apartamento na cidade, Arabella. Apenas vá embora.


— Eu não preciso de você, Thaddeus. Prefiro passar fome a aceitar
alguma coisa sua.
PAPO COM A AUTORA

Espero que tenham apreciado acompanhar a história de amor da linda


Maribelle e nosso delicioso e safado Wyatt Gray.

Apesar de ser um lançamento “surpresa”, era uma história que rondava


minha cabeça há muito tempo.

Eu amei o casal e a mudança que o amor e perdão trouxeram para o


coração do nosso Gray do Wyoming.
Um grande beijo e até o próximo livro.

D. A. Lemoyne
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Obras da autora
Seduzida - Muito Além da Luxúria (Livro 1 da Série Corações
Intensos)
Cativo - Segunda Chance (Livro 2 da Série Corações Intensos)

Apaixonada - Meu Para Sempre (Livro 3 da Série Corações


Intensos)
Fora dos Limites (Livro 1 da Duologia Seduza-me)
Sedução no Natal - Conto (Spin-off de Seduzida e Cativo)
Imperfeita - O Segredo de Isabela (Livro 4 da Série Corações
Intensos)

Isolados - Depois que Eu Acordei (Livro 5 da Série Corações


Intensos)
Nascido Para Ser Seu (Livro Único)

168 Horas Para Amar Você (Livro Único)


Sobre Amor e Vingança (Livro 2 da Duologia Primos Lykaios)
168 Horas Para o Natal (Conto de Natal - Spin-off de 168 Horas
Para Amar Você)

Uma Mãe para a Filha do CEO (Livro 1 da Série Irmãos Oviedo)


A Protegida do Mafioso
O Dono do Texas (Livro 1 da Série Alma de Cowboy)

Um Bebê Por Contrato (Livro 2 da Série Irmãos Oviedo)


A Obsessão do Mafioso (Livro 1 da Série Alfas da Máfia)

Uma Família Para o Cowboy (Livro 2 da Série Alma de Cowboy)


A Esposa Contratada do Sheik (Livro 1 da Quadrilogia Casamentos

de Conveniência)

Como Domar um Mulherengo (Livro 3 da Série Irmãos Oviedo)

Um Anjo Para o Mafioso ( Livro 2 da série Alfas da Máfia)


O Herdeiro do Cowboy (Livro 3 da Série Alma de Cowboy)

Um Bebê Para o Italiano (Livro 1 da Série Bebês Inesperados)


Sob a Proteção do Bilionário(Livro 2 da Duologia Seduza-me)

Bastardo Apaixonado (Livro 4 dos Irmãos Oviedo)


Proibida Para o Cowboy (Livro 4 da Série Alma de Cowboy)

A Eleita do Grego (Livro 1 da Duologia Primos Lykaios)

Destinada ao CEO (Spin-off Irmãos Oviedo – A História de Isabel e


Stewart)
A Princesa Seduzida pelo Magnata (Livro 3 da Quadrilogia
Casamentos de Conveniência)
A Esposa Inocente do Mafioso (Livro 3 – Série Alfas da Máfia)

A Mãe da Minha Menina (Irmãos Oviedo – Livro 5)

Seduzida Por Contrato (Irmãos Kostanidis – Livro 1)

Sob o Domínio do Mafioso (Série Honra Irlandesa - Livro 1)


Deliciosa Armadilha (Livro 1 da série Feitiço Italiano

Como Encantar seu Príncipe (Livro 3 da série Bebês Inesperados)

Um Herdeiro Para o Sheik (Spin-off de A Eleita do Grego)

O Devasso e a Viúva Virgem (Spin-off da série Alma de Cowboy)


Spin-off Duologia Seduza-me

Livro 5 da série Alma de Cowboy


SOBRE A AUTORA

D. A. Lemoyne iniciou como escritora em agosto de 2019 com o


livro Seduzida, o primeiro da saga Corações Intensos. De lá para cá, foram
várias séries de sucesso como Alma de Cowboy, Irmãos Oviedo, Irmãos
Kostanidis entre outros.
Sua paixão por livros começou aos oito anos de idade quando a avó,
que morava em outra cidade, a levou para conhecer sua “biblioteca”
particular, que ficava em um quarto dos fundos do seu apartamento. Ao ver
o amor instantâneo da neta pelos livros, a senhora, que era professora de
Letras, presenteou-a com seu acervo.
Brasileira, mas vivendo atualmente na Carolina do Norte, EUA, a
escritora adora um bom papo e cozinhar para os amigos.
Seus romances são intensos, e os heróis apaixonados. As heroínas
surpreendem pela força.
Acredita no amor, e ler e escrever são suas maiores paixões.

Contato: dalemoynewriter@gmail.com
[1]
Cidade fictícia, criada especialmente para a série Alma de Cowboy e que pertence à família Gray.
[2]
Aqui ele faz uma piada em referência às propriedades na Idade Média, onde havia um senhor
feudal, dono de grandes extensões de terra e os vassalos. No caso, brinca com o fato dos Gray serem
donos não somente de Grayland, como possuírem várias propriedades nas cidades vizinhas.
[3]
Todos são protagonistas da série Alma de Cowboy.
[4]
Fazenda que pertence a Mary Grace, avó dos homens Gray.
[5]
Esse episódio é narrado no livro 3 da série Alma de Cowboy: O Herdeiro do Cowboy, que conta a
história de Reed e Dominika.
[6]
Protagonista de O Herdeiro do Cowboy, livro 3 da saga Alma de Cowboy.
[7]
Episódio narrado em O Dono do Texas e Uma Família para o Cowboy, livros 1 e 2 da saga Alma
de Cowboy, respectivamente.
[8]
Essa personagem é avó dos Gray e aparece em todos os livros da saga.
[9]
Protagonista de Proibida para o Cowboy.
[10]
Corn bread é uma pão de milho típico do sul dos Estados Unidos.
[11]
Honda CRV.
[12]
Pseudônimo de Martina Oviedo, protagonista de Como Domar um Mulherengo.
[13]
O tipo de motel a que ela se refere não é o que conhecemos no Brasil, em que as pessoas vão para
encontros sexuais, e sim, um hotel barato, geralmente em beira de estrada e que é muito raro se
passar mais do que uma noite.
[14]
Nome fictício da fazenda de Wyatt.
[15]
O apelido de Hudson Gray, protagonista do livro 1 da série Alma de Cowboy é “dono do Texas”,
que também é o título daquela obra.
[16]
Essa personagem foi mencionada(não pelo nome) em uma conversa entre Jaxson Gray,
protagonista de Proibida para o Cowboy e Roman, o chefe dos seguranças de Beau LeBlanc,
protagonista de Sob a Proteção do Bilionário. Tanto Roman como Fleur serão protagonistas de uma
novela muito em breve.
[17]
Essa seita é detalhada tanto em Sob a Proteção do Bilionário, livro 2 da duologia Seduza-me,
quanto em Proibida para o Cowboy, livro 4 da série Alma de Cowboy.
[18]
Essa instituição é mencionada tanto em Fora dos Limites, livro 1 da duologia Seduza-me, quanto
em Imperfeita e Isolados, livros 4 e 5 da série Corações Intensos.
[19]
Protagonista de Proibida para o Cowboy.
[20]
Filho de Becca e Jaxson Gray, protagonista de Proibida para o Cowboy.
[21]
Cidade fictícia onde Mackenzie morava antes de se casar com Callum.
[22]
Essa agência é mencionada em Uma Família para o Cowboy.
[23]
Rede de boates que pertence a Beau LeBlanc, protagonista de Sob a Proteção do Bilionário.
[24]
Protagonista de Sob a Proteção do Bilionário.
[25]
Marca famosa de chapéu.
[26]
Nos Estados Unidos há aplicativos que avisam os moradores quando haverá chuvas fortes,
furacões, etc.
[27]
Estádio de futebol americano no Texas. Já mudou de nome várias vezes.
[28]
No caso, como Tilbot não tinha parentes vivos e ela perdeu o direito de receber a herança, ficou
tudo para o governo.
[29] Esse personagem aparece em Sob a Proteção do Bilionário e Proibida para o Cowboy. Ele é o
chefe dos seguranças de Beau LeBlanc.
[30]
É a temática do livro Sob a Proteção do Bilionário e também mencionada em Proibida para o
Cowboy.

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