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bbundinha redonda, que morava em um migueiro na Floresta dos Jatobas. Ali, havia sempr muita comida, e todas as formigas Para quem, de longe, olhava aquela fila enorme de formiguinhas, Sofia era bem parecida co ‘outras formigas. Mas bastava conhecé-la melhor para er a diferenca. Sofia tinha a estranha mania de querer saber © porque disso, 0 porque daquilo... Fazia mui perguntas e nunca se contentava com as Seus amigos, viviam tentando ajudéla a ent as regras do formigueiro Por que temos que andar enfileiradas? ofia, para nao nos perdermos no — Ora, Sofia, porque som E por que nao podemos sair para passear, brinear e conhi mundo’ Psi! Fala baixo, Sofia. J formiga-rainha escuta voce dizer uma coisa dessas..?! — Cada formigueiro tem suas regras — explicou uma formiga mais velha, E voce ja esté bem grandinha para aprender as regras do nosso formigueiro! Soffa resolveu, entio, ler 0 manual do formigueiro: Regra I: Cada formiga deve conhecer as suas obrigacées e saber de cor as regras do formigueiro. Regra Il: Desde cedo, as formigas operdrias precisam trabalhar para ganhar seu sustento, Regra Ill: No formigueiro da floresta dos Jatobés ndo se pode desperdicar tempo com conversas ou pensamentos intiteis. Regra IV: No formigueiro da floresta dos Jatobés nao se pode cantar nem fazer barulho. Regra V: Todas as formigas devem estar atentas 4s ordens da rainha, Regra Vi: Ao sair para buscar comida, as formigas devem andar enfleiradas, sem olhar para cima, nem para os lados. Regra Vil: Se alguma formiga ndo trouxer sua folhinha naquele dia, no dia seguinte deveré pagar dobrado sua racio de comida, yra VII: Ninguém deve se afastar do formigueiro, nem usar outro caminho sendo aquele marcado no chao. Regra IX: Ninguém deve ter idéias diferentes, nem questionar as regras da rainha. Regra X; Todas as formigas estao proi falar com estranhos. uutros caminhos...? E por que no podemos ter idéias diferentes... E por que nao poder onversar Sofia gostava mesmo era de ler historias. E na sua o que 0 mundo la fora 6 bem maior do {que nés imaginamos. Devem existir outros caminhos que lever a outros lugares diferentes... Devem existr outros formigueitos, com muitas formigas. Dever existir outros bic ores e tamanhos diferentes... Ah! Um dia eu juro que vou conhecer o mundo... © tempo passou e Sofia jé tinha idade para aprender 0 oficio das formigas operérias: sair enfileirada, junto com as outras formigas, para buscar comida Todos os dias, de manha bem cedinho, a formiga- rainha tocava o sino para acordar as operatias. Depois, organizava a fila, por ordem de tamanho, ‘e mandava-as para fora do formigueito, atrés de comida. Na volta, esperava na porta, junto com as formigas-sentinelas, para receber as folhinhas que traziam, Cada dia que passava, © monte de folhas ia ficando maior. Numa manha, quando as formigas saiam enfileiradas, um barulhinho chamou a atenc&o de Sofia, A formiguinha se afastou um pouco, s6 para ver ‘© que era aquilo. = Quem é voc#? — perguntou. —Sou uma cigarra. —E 0 que voce faz? —Eu canto, canto muito, E vocé, quem €? 10 —Meu nome é Sofia. Sou uma formiga, — Venha comigo, Sofia! Venha conhecer a minha familia! — Bem que eu gostaria, mas preciso voltar para a minha fila. Sou uma operatia e ando o dia todo atrés de comida, — Que pena! — disse a cigarra No final da tarde, quando as formigas voltavam apressadinhas, Sofia correu e entrou de novo na fila, A formige-rainha esperava na porta do formigueiro, para conferir as folhinhas. — Onde esté a sua folha, Sofia? E antes que ela dissesse qualquer coisa: —Bem... amanha voce me deve duas folhinhas. A noite, Sofia custou a pegar no sono. Seu coracéo batia acelerado ao se lembrar da cigarra — Ah! Como eu gostaria de aprender a cantar, como as cigarras...! No dia seguinte, saftam novamente as formigas, enfileiradas, 2 No caminho, alguma coisa chamou a atencao de Sofia. — Que lindo! O que sera aquilo? Sofia foi até la para ver aquele bando colorido, voando de um lado para 0 outro, — Quem sao voces? — Somos borboletas! —Eo que fazem? —Voamos, passeamos muito, pousamos nos canteiros de flores... E voce, quem 6? — Meu nome é Sofia. Sou uma formiga, —Venha passear conosco, Sofia —Bem que eu gostaria, mas preciso voltar depressa para a minha fila. Sou uma operdria e ando o dia todo atrés de comida, — Que pena! — disseram as borboletas. No final da tarde, as formigas voltavam. apressadinhas. Sofia correu e entrou de novo na fila A formiga-rainha esperava na porta do formiguei- ro. — Onde esto suas folhas, Sofia? E antes que ela dissesse qualquer coisa: Bem... amanha vocé me deve trés folhinhas. A noite, Sofia custou a pegar no sono. Seu cora- ‘cao batia acelerado ao se lembrar daquele bando colorido de borboletas. No outro dia, logo de manhazinha, sairam as formigas, enfileiradas. No caminho, outro barulhinho. — Quem é voce ? — Bu sou um grilo, =O que voce faz? —Eu pulo, me escondo na grama e brinco de esconde-esconde com os meus amigos. —Meu nome é Sofia. Sou uma formiga. —Venha brincar comigo, Sofia! 16 — Bem que eu gostaria, mas preciso voltar para minha fila = Que pena...! disse o gril. No final da tarde, Sofia correu e entrou de novo na fila A formige-rainha esperava na porta do formigueiro, para conferir as folhinhas. — Onde estio suas folhas, Sofia? E antes que ela dissesse qualquer coisa: —Bem.., amanha vocé me deve quatro folhinhas A noite, Sofia custou a pegar no sono. Seu coragio batia acelerado ao se lembrar do gril. Imaginava-se pulando de um lado para outro, brincando de esconde-esconde. Na manha seguinte o que chamou a atencao de Sofia foi alguma coisa que morava la no alto. Olhou para cima e ficou encantada com o que descobriu. = Quem € voce? — Eu sou um passaro, um bemte-v. Eo que woes faz? — Voo até 0 alto das arvores, brinco com os ‘meus amigos, canto “bem-te-v... bem-te-il” Evocé, quem &? —Meu nome é Sofia. Sou uma formiga. —Venha conhecer meus amigos. —Bem que eu gostaria, mas preciso voltar depressa para a minha fila. Sou uma formiga operaria © ando o dia todo atrés de comida, — Que pena! - disse o bemm-te-i. No final da tarde Sofia correu e entrou de novo na fila ‘A formiga-rainha esperava na porta do formigueiro. = Onde estio suas folhas, Sofia? —Bem... amanha voce me deve cinco folhinhas. A noite, Sofia custou a pegar no sono. Seu coragao batia acelerado ao se lembrar do bent-tevi. Imaginava-se voando, cantando. E assim, a cada dia Sofia ia descobrindo novas surpresas: uma minhoca, um caracol, uma joaninha, um joao-de-barro. A noite, ao deitar, tinha lindos sonhos! Mas sua divida ia aumentando cada vez mais. Agora, jé devia sete folhinhas. Depois oito, depois nove, depois dez. Ai, entdo, a formiga-rainha perdeu a paciéncia: — Sofia, vocé ja me deve dez folhinhas. Amanha, sem falta, voce vai me trazer todas, de uma s6 vez. E se no trouxer as dez folhinhas que esta devendo, terd que deixar o nosso formigueiro. No dia seguinte, Sofia saiu do formigueiro muito triste. Nao sabia 0 que fazer e passou o dia todo pensando. 2 A tarde, quando as formigas voltavam enfileiradas, Sofia juntou-se a elas. Nao trazia nem uma folhinha, mas por dentro estava cheia de coragem! Ao chegar na porta do formigueiro, fol dizendo logo, bem alto, para todas as formigas escutarem: — Estive pensando. A vida das formigas-operdrias € tao sem-gracal Todos os dias so sempre iguais. ‘Andamos de cabeca baixa, olhando para o chao, uma atrés da outra, s6 em busca de comida. Vocés no imaginam como é lindo o mundo 16 fora...! Foi uma confusio! Num instante, as formigas se espalharam pelos corredores do formigueiro e, alvorocadas, comecaram a discutir a questo, ‘As mais rabugentas diziam: — Prendam a Formiga Sofia! Ela desobedeceu as regras do formigueiro! ‘As mais invejosas diziam: —Deixem a Sofia sem gua e sem comida por uma semanal 2 ‘As mais amigas, aquelas que gostavam de verdade da Sofia, diziam: ~Esperem! Sofia descobriu coisas muito importantes. Primeiro vamos ouvir o que ela tem. para dizer. A formiga-rainha chamou todas as formigas guerreiras, colocando-as de prontidao. - Agora, no quero ouvir nem mais uma palavral Cada um deve ir para 0 seu aposento e permanecer ‘em silencio até segunda ordem! Depois, chamou Sofia e fez uma porcao de per- guntas. Durante a noite, a formiga-rainha nao conseguits pregar o olho. Preocupada, andava de um lado para © outro. =O que fazer? Como resolver essa situacdo? E passou a noite toda pensando, No dia sequinte, as formigas foram convocadas para uma assembiéia muito importante. A formiga- rainha combinou que todas teriam direito & palavra, porém, uma de cada vez. ‘A reunido foi demorada e, depois de muita discus- sio, a formige-rainha resolveu fazer uma proposta —Estive pensando... A formiga Sofia infringiu algumas regras do formigueiro. Por ser uma formiga-operéria ter que pagar todas as folhinhas ‘que deve. Mas... por causa da sua coragem, Sofia acabou descobrindo coisas muito importantes sobre a vida que existe do lado de fora. Coisas que nés também precisamos conhecer. Por isso, a partir de hoje, vamos nos revezar: um dia metade das formigas do formigueiro vai trabalhar e as outras vo sair por ai para descobrir o mundo. No outro dia, as que estavam trabalhando vao passear e as ‘outras vo trabalhar. ‘As formigas gostaram da idea e aplaudiram contentes, Desde esse dia, mudou um pouco a histéria daquele formigueiro. La dentro, a comida j4 ndo é tao farta ¢ as formigas ja nao sao tao gordinhas. Mas quando chega o inverno, 6 uma verdadeira festa! Tantos sonhos, tantas emocées, tantas historias para contar... E hoje, eu posso até dizer que esse 6 0 formigueiro mais alegre de toda a floresta dos Jatoba. Nice anos apron, Mrs Gn, ase nih nc and pb eo, seguindo trilhas, descobrindo caminhos. Aprendi a nadar no rio, pisando nas pedras e sentindo 0 movimento dos peixinhos que nadavam a minha volta. Sempre gostei de andar descalea, brincar na chuva, pisar na enxurrada e subir até o alto das érvores. Hoje, ainda trago comigo um pouco da crianga que eu ful. Gosto de fazer longas caminhadas, de sentir 0 cheiro das flores, das frutas, da terra molhada, ‘0 cheiro do pao de quetjo quentinho, saindo do forno, [Nao sou velha nem sébia o bastante para dar receitas de vida. Mas pens’ ‘ue a “tal felicidade", que todo mundo procura, é algo muito mais simples de ‘que parece, Como saborear os pequenos bons momentos e ter amigos de verdade. Com as criancas aprendi que a vida no ¢ para ser levada tao a sétio. E preciso ter tempo para brincar, sonar, rir, ler e inventar hist6rias. Meu sonho, hoje é viajar pelo mundo todo. Conhecer lugares e pessoas diferentes. E continuar escrevendo, sempre. E quem sabe, um dia, ver uma porcio de netinhos & minha volta, puxando o meu casaco de vovozinha e dizendo: —Ah, Vow! Conta mais uma historia. S6 mais uma! Nye Ribeiro Revolucaomostormigueiro INvelitiberto PO een ets

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