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BRYAN S. TURNER, ed. TEORIA SOCIAL “Traduggo subsidiade pela Fundagio Luso-Americana para © Desenvolvimento we) DEL “Tales Te Badal Companion Sel They (© Blk Pais Ld. 1996 (© Bay Tune 986 “adoro diane pula deea rem gprs por we) DIFEL ening Sal ~DIFEL 2 -iss tril$A. Scoala Taps Nato 195139 Age tog tars feaidia al ci yin Scal 30000 eee i a) ‘Comune as S015 Mariela 868 — Conse do Rit Come de Ot pres e xabanent: Tippee Gums Viet ‘Dep lag 17597212002, ISBN 97239.055-4 Abel 2002 Probie» prow o parc em pba ung do Er 1 Teoria Social Classica ROBERT J. HOLTON Introd A teota socal lsica surgi no século Xx eno inicio dosfculo como um comenti- tio extico 208 princpais frocesos socioecondmicos e politicos que moldaram © mundo ‘modemo, Nio ¢ poste! dfnir a tora social csica de uma forma cara, quer em remo ‘apis, quer em termos temporais. Conrado, de um ponto de visa histo, a veoria social clisica pode ser consderadh como a fise durante 2 qual a elleio sobre a socedade se auto- ‘nomizou da Slosofia social politica e assegurou uma pretensio efectiva 20 exaruo de disc- pla cienfca distin das iéncias nara. O objec desta nova itncia era a propia soce- dade, Neste sentido histo, a tora socal clissica ocupa uma posgi ineermédia entre a pioncra, mas algo difus, fe etecentisa do desenvolvimento da cncia socal ea tora social ‘contemporinea, do pésrguer “ABima-se com feqbéacia que o programa intlecual da tora social cisica foi esabele- cio por dois grandes aconecimentos a Revolugo Frances ea Revolucio Industrial. Os temas imerlgados que emergirum a pate deses aconteriments (ou por ees foram simbolizades) incaem or procesos de desenvolvimento do capitalism e de indusalizario a secularizario € ° individualism, a raconalzacio e o desenvolvimento da burocacia modema, a urbanizario fea expandio da democraca de mass. iso que exes process arrvessaram tanto © Novo ‘amo 0 Velho Mundo a ora socal csc, de um ponto de vista geogrfico,desenvolveu-se ‘ano na Europa como nos Etador Unidos. Contudo,néo adquiriu confguragesidénicas nos dois ades do Anco. ‘A abordagem as adussrevolugSes tem, no enrano, uma grande desvantagem: a pro- jeoslo da teora socal lisa como um comentiro essencialmente do séoulo x2 is muito exnus wansformass luni a ids sc: argumeno rb um apoio superficial com o antincio, em meados do século x0, do nascimento da wsociologian hs cnc da soda formula pelo tfc ancl Ags Comte (1796-1857). O problema com eva intepretacio reside no facto de e apolar numa perspecivahistbrica lmadac eduida: Como Giddens (1979) pblinia,aeota soil oben um omen ‘rio pe enascentisa a rendénciassocitis de longa duracio, muitas das quas, como a tran sigio para 0 capitalismo (Holton, 1985) ou a emergéncia do individualismo (MacFarlane, 1978), jé se encontravam bastante avangadas no slo XVIN. Por outras palavras, nunca 24-onceNs howe uma grande dso entre os mundos pet eps evoluciondis, nem io-pouc ene a teoria socal do séado xv ea do séclo X. ‘Ao analarem ot procesos emexentes de desenvolvimento capitaliva, de democr- zat © de indviusaro, os wéreo dlsicosdesmolvram um ponte de vow etsce em relao a0 mundo contemporineo. Insite chave como o meteado ou indice limo foram problemas em temos dat sus cone csp ae tants. Oconjuno desemas submets a esd ina do 6a mdr soc mos a bm as cuss da opreso sociale consruso de dposivssocias capes de raancay led, a guldade nova formas de comunidades propoos eons mai cod, nents esram compromeids em vrs projets de refrma social ou de tol Aco oa twoviasooligca ann nase a part de compromise morse polices come ds Shenae dad neal Nata re or Pl oda igo nos a ceror medos de orarizagio social mas trae a outarcomence moder nas de pensamen, como aconomia (ovo utlarmo) ea plop, qu pce ‘ment fomecer uma imerpesagi do mundo contemporings ‘A pespecia ds tora clic em elas as procs de mudanga acl contempo- tines era cca mis umbsm, como vemos, un poueo ambivalent (Holme aes 1986 pp. 209-10). Por um ldo, s fora meas da industri captained donc, crap eran its corm cosas dos consrangimentos que a wads mpanta cpu so conémica&libekadepoltca,aumentando asim a cpacidade ds sobadades res. ‘as pra aleangatem ode de uma vida melhor. Pocouto lao, 0 daino ds seeridele reli de vida connie das irri dena taciconas ra visto cane ag pe, fandamente perurbadoe Segundo Nisbet (1967), tensio ene valores smodemos valores raciciona fan- aos presopostos para a suutua cones da scoop aca, Ee co csc representa cima de mado, no ws genera de dicotomias concepts desadas ape mang cal ano cmc nao, cao seauarou sane conto, Nsbe argument ainda que a preocupasses des pines ed, 0 clissicas europeus, como Karl Marx (1818-83), Emile Durkheim (1858-1917), Max ‘Weber (1864-1920) e Georg Simmel (1858-1918) incur ua combinasao parle ie alors smatemas, como a cnn 2 warts ea wierade individ, coh arn pase ‘ménio eoneepeual pofindamenteenrzado no dexjoconsrvador de once de meee. ‘s40 da comunidades (Holton ¢ Turner, 1986, p. 208). (serio ico amercans de nas do sil x e de ino do scl x tnkam uma preocupaiosemchante em intega 0 valores da ince ca rao nen pojecn de reforma social pola. No entaneo,ateoia social dsc, al camo se desanelieu os Fos os Unidos esava mene ent em noes conseradoss de orem socal c mais ds oo ‘salto eo inlvdalmo mora como aspecor iets da comunidad Uns post ‘TEORIASOCIAL GASSICA-25 incur temas pico da ocologa do Novo Mundo, ais como o impacto da imigragio © 0 apel da raga das relates énicas no interior da vida social A Teoria da Sociedade A principal ralizagio da teoria social sia tl como cla evolu durante o século xe © principio do século 2, foi er idenificado e eaborado a maioria dos grandes temas que ‘emergem na consrurio de uma teotia da sociedad (Alexander, 19822). Ese exerciio esth fandado na nogio de quea sociedad € algo de esiencalmene disinto da natura. Contudo, ‘osumgimento da teoria sil dependeu menos de decarabes programitics para ete efit do quedo desenvolvimento de estos expecficos sobre o social que identfcavam quests toS- cas gendrcas ou wanscontexuais A primeira dessa questies é geralmente considerada como © problema da esrutura eda agency. ‘A questio do live ubitio e do deteminismo tem estado presente, desde hd muitos steulos, no interior do discursofilosfico. A discusio procurava saber se os seres humanos sio lives de esolher as suas prépriasacges ou se aquilo que fazer & predeterminado por slgumaforga exema. O quea tora social clissicaconsegui realizar foie transformado esta |questio num problema scioldgico, em ver de manter 20 nivel puramenteBloséica, Dito de outa forma, o problema da esrurura eda acco ¢a verso scioldgia do problema do livre arbfeio edo determinism, Ese problema flesSfio fo efoemulado no contexo das mudan- (5 socioecondmicase plticas que emergiram nos séulos XV e xD O que preocupava 0: ‘eériossocascisicos era saber se os process soca actuais como o capitalism de mer- cao, dvisio do trabalho eo Estado democritico modemo eram capazr de ibertar a Huma ‘dade dos constrangimentosdererminists do pasado ou se servam apenas para constanget a. acpioe comer a liberia, Ito coloca a questi de ober se a esrurra(dereminismo) € cg (lve abo) so aninomiasineconclévesou se podem, de alguma forma, ser econ- cliadas no interior de ua tnia pig teria. ‘Um dos princpais cntributos que a teria social clsica route a este debate fio desen- ‘olvimento do conceitn de esturua socal. Por vesrutura entendese aqueles sistemas englo- bantes de rele socias que surgem como forgas aparentemente extern, determinanes das vidas dos individuos. Apsar das ocigens da idea de esturura socal remontarem ao llumi- sismo do séeulo Xvi, a teria socal cissica do século XX geou os dois contrbutos mais influentes para a dscussip das reagGes entre esruurae agen que esto ascocados, respeci- ‘vament, i figuras de Kal Marx ede Emile Durkheim. Karl Marx Karl Mane aborda a questi da srurura da agen partir da proposcio de que sdo os sere humanos, mais do que frgas soc enlobants, que fem a hist por iso, do forma &socedade. Contudo, logo de sguida, Max relaiviza ete argumento a0 afr: mar que of actres soci no fzem a histriaineiemente da forma como desea. ‘A ao para tal reside no facto de a sogo humana se desenvlver no interior de rlages socials que astumem o edie de esrtursenglbantes. Eras exrunsas deriva da base 26-ontaens ‘material da vida social no de wm qualquer domino difso das iis. Para Mary a chave dessa estas enconta-se no modo de producto, Este concito referee no 6 aos in ‘tumentos tnicos de proao mas, em especial sel oii que dio orgem a dre tos de propriedade privada sobre os recursos econdmicos. A imporinca que Max aul cs aspects mates da vida social é também um comenxios Revlugao Indust 20 desenvolvimento das relagdes de merado capitalise que excvam a tansformar rapid ‘mente a Europa do seu empo. Segundo Mar, a aco social ¢ 0 cuso da hina mana 5 podem sex comprecdidos ‘m termos do impacto das esrutus socias sobre os gruporscais. Os dts de propri. dade vem a sociedade em dite lass soa, defnidas em cemos da su lagio com 2 fs de er enti consis no ner a de pai, apn a penpecia, 0 modo de produc eclavaga graces de popitrios de scraosecases de exravos 0 modo de produto feudal gera senor feuds esr, enquanto que o modo de produ cplsa cia apts e ssalarador. Par Mar, as trans de case or ginam grupos dominanes com dritos de propiedad c com pode cujosinterese so ive $05 porencialmente conn com os das cases suboninaas destiuidas de disc de poder O principal reeuso econémico das laser subordinada €0 seu trabalho que, no ‘tanto, €contolado por outros através da emus de dios de propricdae no eabalho ‘ou através do rendimento proveniente de insingbe como aesavans, a servidio €0 met. ado de wabalho. lato que esta € uma repeeentagdo exquemdca de um proceso hisrco muito mais completo, no qual as esrutias de case raramente adquirem a forma de una opis bina entre duas cases polarzadas Pas Marx, verdadeirapclaizario tales s enconte apenas os confltas ireduies entre capital e trabalho gerados pela ascenio do capa lsmo, Apear disso, Max éda opin que or confit de intzescs mattis que emergem™ sas esruturas do modo de produo tendem a gear formas de aco socal alec, ee dasa cabo porindividuos que ocupam posigéesemlhantes no interior da estrutura deca sex. Fras lutas de case si visas por Marx como a principal causa da mudanya soca, © sentido profundo das revoluyes soci eo element principal na transigio de um tipo de seciedade par ono, ‘Un dkimo aspect desta discus, pic d teria social lisic do scl x0, € con- cep que Mans apresenta da macanga social como proceso eolucionisa (pra coment fos adiconas sobre o evelucionismo vejese Nisbet, 1967) Pan Mars histria humana pode ser vita como a eeario progrestiva de uma igicaevoluconit, No enanto, al deve ser compre nos termes idealists de Hegel (1770-1831), oinfuente Esa pe decesor de Mar, ou sa, como a realizarso progreciva do ded ds liberdade univers na realidad humana. Em ver dso légica evolucnisa de Mar based numa pespesiva designada de materialsmo histo que foi deenvolvida em conjunto com o seu cologa eich gel (182099, Ente conccto baeia-se em dois pos de luas eiadas plas condiges matriis da Hlumanidade.O peimeir lua para superar slimiesimpposts pela nature, O segundo lua para climinar as consequéncias alienantes que as vrias formas de diets de pro. predade privada iveram a longo da histria hrmana, Ess iciospivados, eo poder que “TEORUA SOCML CASSCA 27 ‘osacompaha, imitam 0 potencial rador que Marx atrbui& Hamanidade. Para est autor, ‘es lua hiserca sb pode ter um fim «so o tabalho, o alicerceesencal da criatvidade humana, sjaorentado por relaées de propriedadecooperativae torment colectivizada€ to pores de prope piv © eoaconlamo de Mary pode xt nto conse ‘alo tleoldgico, uma vez que considera que a his sen um design fia (a). Este ‘nada menos do que o triunfo da iberdade humana sobre anecesiade estar deexplorco e sobre desigualade, cacti das configuapies soi sents na pro- predade privada, ‘So vio fSentdos em que se pode considerar Mar como um teéric social cisco tio. Em primeio lug, tem uma clara concepsio do esoca como dominio disinto da szureza, um dominio proresivamentecriado e expandido através da aio humana. Em segundo lugar, procura dar uma explicagio sciolgica da rego entre earuura social Go humana, racionando tl dscusio com uma tenia da evolugio social. Os seus con- ‘eto chave de modo de producio de lienaioe de uta de dase fm sido de uma enorme imporéinca para o desenvolvimento da tora social ao longo do século Xx. O préprio mar- ‘iumo fundow ¢ ajudou a extabelecer uma rica e sofsticada tadio de andlie da dindmica do modo de produsfo capital, entrada na dscusio de procesos esruruais, como a ‘ancentrago monopolisa, a expunsio imperalsa eo rdpido aumento da iterferéncia do ado na vida econémica. Nenhum dses proceso era claro e evidenteno tempo em que ‘Marx viveu. O marxismo teve ainda uma influgnca profunds, quer na forma como sean liam os procesos de mudang histrica de longa durago, quer nos exudes do desenvovi- smento do Terceiro Mundo. 'No enranro, pari da ima década do século x, a influénca do maximo tem vindo a diminuir As caus dso sto altamente complezse, em grande medida, tio mais rla- Cionadas com dindmicas soca contemporinas do que com defcincasnedecsuais inten seca teora soil de Mars Tai dindmicasinluer a vigorosa permantnca do capitalism crquanto sem soc, 0 facaso das Sociedadessocilisas ¢comunisus da Risa e da Earopa de Leste ea cricas ambienalisas que 0 Ocidente em da natures enquanto dom- 1p que deve ser manipulado e dominado. Apesar disso, hi ainda um conjnto de impor- ‘ants imitagéeseércas na obra de Marx que exigem uma andlse mais pormenorzada, Em primeio lugar, Marx no resolve o problema da eruturae a agen. Por ouras lavas, Marx io conseguiu cia um idioma térco evel, capa de rewesentar a vida. fecal como algo esruturalmenteorganizado a0 mesmo tempo, abero a ua reconstrusio aciva por parte dos actores soca. Em vez dso, a sua obra, as subsequent escolas de ins- ago manssa,tém sido atravesadas por uma tensio instvelenre das posgdes aparen- Tementeincompatves, Por um lad, existe uma andlsedasinsiuigGesvocaisexternament® ‘arunlsa e que concede pouco epg para aco humana activa, al como ex patente «em o Captal® (1867-85-94). Por out lado, verfic-se uma énfseforemente oluntaita, ‘loads no pape activo desempenhado pela aceo humana no proceso de modelo da. sededade e da mudanga social (al como se apresena no lio de Mars, Clas Sages Eo orc: O Capi Ci de omomia Plica ta de ot ara Moun ea Lio: Bi- ‘wi Arete, 1990, a ame I-10 proce de prado apt (de) Famee, 1848-50* (1850). Nem a obra de Mare, nem a subsequent radigo marisa foram, ‘bem suceddasnaresolugio do dualsmo da esrucua e da agency. Contuda, como iremoe ver ‘mais frente, este dualsmo nio ¢ exclusive de Marx ou do matssmo,

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