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NEURIENE CONCEIÇÃO DA SILVA

A ELEVAÇÃO DAS FRAGILIDADES DOS SISTEMAS DE


PROTEÇÃO SOCIAL NO
BRASIL

Paranaíba-MS
2022
NEURIENE CONCEIÇÃO DA SILVA

A ELEVAÇÃO DAS FRAGILIDADES DOS SISTEMAS DE PROTEÇÃO SOCIAL


NO BRASIL

Trabalho apresentado à Universidade Norte do Paraná -


UNOPAR, como requisito parcial à aprovação do curso de
Serviço Social, para as disciplinas de Ética Profissional em
Serviço Social, Comunicação na Prática do Assistente Social,
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço
Social III, Administração e Planejamento em Serviço Social,
Fundamentos das Políticas Sociais, Ed – Empregabilidade, sob
a orientação dos professores: Patrícia Soares Alves da Silva,
Nelma dos Santos Assunçãi Galli, Pualo Sérgio Aragão,
Valquíria Aparecida Dias Caprioli.

Paranaíba-MS
2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................4

ENTRAVES E EFETIVIDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL.....................................................................................................................................4

CONCLUSÃO...........................................................................................................................8

REFERÊNCIAS........................................................................................................................8
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INTRODUÇÃO

Diante da crise sanitária causada pela covid-19 as necessidades sociais se agravaram e


com elas a emergência de políticas públicas. Contudo, a abordagem utilizada pelo Estado
brasileiro se mostrou ineficiente e contraditória tendo em vista que o número de mortes
continuou subindo exponencialmente tendo famílias consideradas entre as 20% mais pobres
da população e pretos e pardos, inclusive moradoras e moradores das periferias “sem
condições adequadas de saneamento e meios de prevenção” (BOSHCETTI; BEHRING, 2021,
p. 76). Há que se frisar que o SUS (Sistema Único de Saúde) já vinha lidando com poucos
recursos desde 2015, acrescenta-se a isso a precarização do acesso ao trabalho. Diante disso, a
crise sanitária:

faz emergir um universo de trabalhadores e trabalhadoras (mais de 100


milhões de pessoas ou quase 50% da população) que se viram, da noite para
o dia, sem trabalho, sem nenhum tipo de remuneração, sem benefícios
assistenciais e sem condições de seguir buscando nas ruas algum tipo de
atividade precarizada (as atividades informais) que lhes assegurasse uma
forma de rendimento e de sobrevivência (BOSHCETTI; BEHRING, 2021, p.
76).

As políticas públicas encontram grandes entraves na sua implementação e a atuação do


profissional da Assistência Social é dificultada quando trabalha na superação das contradições
do modelo capitalista ainda vigente. Essas dificuldades são explicadas através do resgate dos
aspectos estruturantes anteriores a fim de analisar os avanços e retrocessos bem como os
entraves impostos pela estrutura burocrática do Estado brasileiro e os efeitos da colonialidade
para que se possa construir um modelo de proteção realmente universal, integralizado e
participativo de ofertas e gestão.

Entraves e efetividade do exercício profissional do Assistente Social

A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 houve uma quebra com o


privatismo, focalização, seletividade para dar lugar à universalização de acesso, pacto
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federativo, descentralização político administrativa e participação social. Neste ínterim, há


que se considerar as dificuldades impostas pela política neoliberal ainda vigente na prática,
tanto no campo nacional quanto internacional (LOPES; RIZZOTTI; SILVEIRA, 2020).
Assim, foram elaboradas legislações infraconstitucionais a fim de fortalecer e
regulamentar o exporto na Carta Magna: SUS (Sistema Único de Saúde), SISAN (Sistema
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) e o SINASE (Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo) os quais foram fortalecidos nos anos 2000 com o governo do
Partido dos Trabalhadores (LOPES; RIZZOTTI; SILVEIRA, 2020).
Destarte, apesar dos avanços mencionados, ainda prevaleceu no histórico de
formulação de políticas públicas uma perspectiva de tratamento repressivo das necessidades
sociais, ou seja, subsistiu a moralização da pobreza, controle de produtivos e incapacitados,
frágil alcance sociais, sobreposição de competências e descontinuidades dos programas
(LOPES; RIZZOTTI; SILVEIRA, 2020).
Com isso, o SUAS (Sistema Único de Assistência Social) serve de instrumento para
quebrar tais paradigmas porque considera os problemas sociais como advindos da política
econômica e das lutas entre classes sociais e a partir destas considerações trabalha para
atribuições públicas contínuas, uniformes e reivindicáveis. Considera, ainda, que a
vulnerabilidade advém, para além da falta de renda, da desproteção da educação, saúde e
habitação, por exemplo. Com essa perspectiva, busca: assegurar renda, com programas como
Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada tendo a ferramenta do Cadastro Único o
qual serve como base de dados para os programas sociais; assegurar a segurança de acolhida,
ou seja, fortalecer a rede de acolhimento; assegurar a segurança de convívio a qual desloca o
olhar do indivíduo para a importância pensá-lo inserido em sua comunidade o que leva em
consideração a relação entre cidades e territórios com o propósito de efetivar o direito à
cidade, sociabilidade e acesso aos bens socialmente produzidos; a ampliação de seguranças
socioassistenciais como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de
Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) (LOPES; RIZZOTTI; SILVEIRA,
2020).
Atualmente, pode-se interpretar o cenário provocado pela crise pandêmica do corona
vírus como algo que fez emergir o caráter ultra neoliberal que ofusca os avanços obtidos pela
Assistência Social. Apesar da implementação de estratégias sociais, a exemplo das equipes
volantes as quais teve o objetivo de alcançar populações específicas durante o isolamento,
houve, com a Emenda Constitucional nº 95/16 que congelou os recursos por 20 anos, o
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desfinanciamento acelerado, ou seja, provocou a irregularidade e insuficiência no repasse de


recursos do Fundo Nacional de Assistência Social aos Fundos Municipais.
Faz parte da proteção aos direitos sociais a existência de Sistema de Proteção Social
amplo, democrático, estatal retributivo e com serviços integrados e de qualidade bem como
uma reforma tributária e agrária, ou seja, reformas estruturantes que possibilitem o
enfrentamento das desigualdades sejam elas de origem étnico-racial, de gênero ou social
(LOPES; RIZZOTTI; SILVEIRA, 2020).
O contexto pandêmico acelerou a percepção de que há a necessidade de proteção
social capaz de oferecer serviços e benefícios de forma integral a fim de prevenir violações e
amparar as ‘vítimas’, reduzir as desigualdades territoriais, além de dar a devida importância
aos movimentos sociais (LOPES; RIZZOTTI; SILVEIRA, 2020).
Como estratégia para o repasse de recursos financeiros na pandemia foi aprovado o
auxílio emergencial no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) o qual foi modificado pelo
Congresso Nacional para o valor de R$ 600,00 (seiscentos reais). É alarmante que dos 108
milhões de cidadãos que pleitearam o auxílio emergencial, apenas 68 milhões das solicitações
foram deferidas sendo que, por outro lado, 4,2 milhões de trabalhadores requereram o seguro
desemprego até agosto de 2020 (BOSHCETTI; BEHRING, 2021). Conforme colocação dos
autores:

Este debate envolve como prover as necessidades mais elementares para as


maiorias que hoje — no Brasil e no mundo — não encontram emprego ou,
quando o encontram, se deparam com uma imensa precarização, baixos
salários, superexploração. Os programas de “transferência de renda” que se
espraiam nos países capitalistas desde a crise da década de 70 longe estão de
serem políticas de esquerda, mas têm sido sucessivamente utilizados por
partidos de direita e da social-democracia, com diferentes tonalidades e
abrangência, diante da incapacidade de o capitalismo assegurar pleno
emprego. Em sua origem, foram defendidos por neoliberais como Milton
Friedman, sempre com valores baixíssimos para não desestimular o trabalho,
mesmo que não haja trabalho para todos e todas. O Bolsa Família, que
resultou da unificação de vários auxílios assistenciais pontuais e focalizados,
foi implantado no Brasil em 2003, no início do governo Lula, na esteira de
expansão desses programas em toda a América Latina. Essa era nossa crítica
ao Programa Bolsa Família: seu não reconhecimento como direito social, o
que possibilita seu uso de forma clientelista, seus valores extremamente
rebaixados, sua ínfima parte na alocação do fundo público, mas com grande
saldo político (BOSHCETTI; BEHRING, 2021, p. 78-79).

A questão do planejamento no Brasil é envolta de tecnicismo e burocratização o que


culmina com a divergência entre os objetivos do que foi efetivamente alcançado ao
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implementar os projetos sociais, políticas e programas. Contudo, para superar tal divergência,
segundo Oliveira (2006), existe a necessidade de focalizar no processo.
Conforme o entendimento de Oliveira (2006), para além de formular planos a partir da
“tomada de decisões políticas, reuniões de discussão, mapas detalhados, modelos matemáticos
e cenários, criação de legislação e distribuição de responsabilidades” (OLIVEIRA, 2006, p.
27) bem como além de focar na implementação se faz necessário ver o processo de
planejamento e implementação de forma complexa a fim de abarcar.
Desta forma, em relação a literatura de planejamento e implementação de políticas
públicas destaca-se as que possuem uma perspectiva top down, ou seja, que as decisões
devem ser tomadas por autoridades e a perspectiva bottom up a qual leva em consideração a
realidade de pessoas que serão público-alvo das políticas (OLIVEIRA, 2006). Assim, é
preponderante a necessidade de abarcar tanto as informações técnicas no que concerne a
realidade da população bem como as limitações existentes no planejamento para gerar
confiança e segurança aos cidadãos que serão acolhidos.
Com base nisso, pode-se acrescentar a responsabilidade do profissional da Assistência
Social de interpretar a realidade de forma crítica. Isto é possível, conforme Moraes e
Martinelli (2012), considerando a influência das relações entre estrutura, conjuntura e
cotidiano o que compõe um processo dinâmico.
A partir destas considerações surge a categoria mediação. Trata-se de uma abordagem
a fim de suplantar a imediaticidade (aparência) para fazer emergir a essência (MORAES;
MARTINELLI, 2012). Assim

a mediação é própria da ontologia do ser social, ela está presente na


sociabilidade do ser social. Portanto, sustenta-se na perspectiva da relação
homem (ser social) e natureza (ser natural) (primado econômico do ser
social), ou seja, o trabalho assume o primado de condicionador da existência
humana. É um processo no qual se propõe reconstruir, histórica e
ontologicamente a forma de existência do ser social e, portanto retoma o
cerne do processo constitutivo do ser social, a produção e reprodução da vida
humana (MORAES; MARTINELLI, 2012, p. 3).

Desta feita, tem-se a necessidade de apreender a realidade em sua totalidade. Ao levar


em consideração esta perspectiva admite-se os problemas sociais como complexos em
contrapartida da perspectiva que os considera de maneira isolada. Através da primeira
abordagem pode-se compreender as lutas entre a conservação da ordem social e a necessidade
de superá-las (MORAES; MARTINELLI, 2012).
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A efetividade da atuação do profissional da Assistência Social se dá ao adotar como


metodologia a tríade singularidade, universalidade e particularidade, assim, sua intervenção
deve superar a imediaticidade envolta de técnicas, metas e inserção territorial, ou seja:

Apreender que as grandes determinações sociais tais como: relações sociais


de produção, relação capital-trabalho, leis de mercado, relação entre Estado e
sociedade, lei da mais-valia, entre outras, devem ser particularizadas. E,
assim, apreender que as grandes leis e/ou categorias históricas do ser social
podem estar interferindo nesse ou naquele problema/fenômeno que o
profissional está enfrentando (MORAES; MARTINELLI, 2012, p. 8).

Diante da categoria exposta, a ética do profissional da assistência social torna-se mais


próxima do cumprimento dos Direitos Humanos ao atuar. Tendo em vista a sociedade
burguesa em que está inserido, conforme os ensinamentos de Magri et. al (2013), os direitos
sociais ficam em segundo plano frente a valoração dos direitos civis e políticos. A história da
construção, legalização e efetividade dos Direitos Humanos é baseada na luta de classe
(MAGRI et al, 2013) o que permitiu a ampliação e afirmação desses direitos.

CONCLUSÃO

Pelo exposto, é através da visão crítica que o profissional da Assistência Social pode
superar as adversidades. Assim ele pode enxergá-la para além do senso comum alcançando
sua essência e atingindo uma atuação pautada na afirmação dos direitos humanos. Para tanto,
a metodologia da mediação, a qual não só considera os fenômenos imediatos, mas busca
refazer o processo reconstrução do ser social lhe permite amparar a população mais atingida
pela covid-19 de modo a superar a burocratização, ou seja, a partir da realidade que considera
os recortes de raça, gênero, étnica e territorialidade.

REFERÊNCIAS
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BOSCHETTI, Ivanete; BEHRING, Elaine Rossetti. Assistência Social na pandemia da


covid-19: proteção para quem?. Serviço Social. São Paulo, n. 140, p. 66-83, jan./abr. 2021.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/a/Wbf86mT4vwX6HvnSyRy3kkD/?
format=pdf&lang=pt. Acesso em: 05 de mai de 2022.

LOPES, Marcia Helena Carvalho; RIZZOTTI, Maria Luiza; SILVEIRA, Jucimeri Isolda.
Configuração do sistema de proteção social brasileiro e seus desafios: um olhar para o
Sistema Único de Assistência Social no contexto de pandemia. 2020. Disponível em:
https://direitosfundamentais.org.br/configuracao-do-sistema-de-protecao-social-brasileiro-e-
seus-desafios-um-olhar-para-o-sistema-unico-de-assistencia-social-no-contexto-de-pandemia/.
Acesso em: 05 de mai de 2022.

MAGRI, Edite et al. Direitos Humanos e o Serviço Social. In: Congresso Catarinense de
Assistentes Sociais. Agosto. 2013. Disponível em:
https://cress-sc.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Direitos-Humanos-e-o-Servi%C3%A7o-
Social.pdf. Acesso em 05 de mai de 2022.

MATTEI, Lauro Francisco. Sistema de proteção social brasileiro enquanto instrumento


de combate à pobreza1. Revista Katálysis, v. 22, p. 57-65, 2019.

MORAES, Josiane. MARTINELLI, Maria Lúcia. A importância categoria mediação para


o Serviço Social. XX Seminário Latino-americano de Escola de Trabalho Social. 2012.
Disponível em: http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/Y6O09Vi7X17oOE584R0e.pdf.
Acesso em 05 de mai de 2022.

OLIVEIRA, Jose Antônio Puppin. Desafios do Planejamento em Políticas Públicas:


Diferentes Visões e Práticas. Revista de Administração Pública do Rio de Janeiro. mar/abril
de 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rap/a/nJqFsXyTfDk8W8SVRRVFfgw/?
format=pdf&lang=pt. Acesso em: 05 de mai de 2022.

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