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iversos instrumentos gerenciais foram elaborados ao longo das tiltimas décadas com o objetivo de tornar efetivos os comprometimentos sobre responsabilidade social alinhada ao conc de desenvolvimento sus- tentavel feitos no nivel estratégico, sendo que muitos deles jé incluem alguns dos princfpios diretivos tratados no capitulo anterior. Esses instrumentos se reportam ao nivel operacional da gestao da organizagao e, portanto, sio ende- recados as atividades do dia a dia da organizacao com vistas a alcangar efeitos positivos em termos econémicos, sociais e ambientais. Portanto, so compa- tiveis com as varias instancias da gestéo empresarial convencional, tais como gestdo financeira, marketing, produgao, gestao de pessoas, logistica, desenvol- vimento de produtos. A Figura 6.1 presenta exemplos dos instrumentos gerenciais normativos que refletem a convergéncia da responsabilidade social com o desenvolvimento sustentdvel, ou seja, incorporam contribuigées de cada um desses movimentos sob diferentes perspectivas em uma abordagem normativa. Na base dessa figu- ra estdo as fontes de principios diretivos que se tornaram os grandes indutores da criagao de normas de gestao, padrées de relatérios e outros instrumentos para praticas de gestao social responsavel no nivel operacional. As conferén- cias promovidas pela Organizagao das Nagées Unidas (ONU) e suas agéncias, especialmente as conferéncias de Estocolmo e do Rio de Janeiro, de 1972 e 1992, respectivamente, deram grande impulso & criacdo de normas e praticas de gestao para implementar seus objetivos e recomendacées. Na origem desses instrumentos normativos estdo os direitos humanos, as convencées e recomen- dagées sobre relagdes de trabalho da Organizagao Internacional do Trabalho (OIT) e sobre praticas de negécio, como as convengoes anticorrupgao da ONU, 149 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével International Chamber of Commerce (ICC) e Organizacao para a Cooperagao e Desenvolvimento Econémico (OCDE)'. O movimento da qualidade foi e conti- nua sendo um caminho importante para a responsabilidade social, pois retine questdes econémicas com questées sociais e organizacionais. igura 6.1 Instrumentos de gestio responsavel em convergéncias Sustentabilidade Stabe cantina Sutnabiade aca ssos00 || ena || won| | anon | | 885 | | || sxsooo | | wasn 3 | | mma . stone wsane || nid || as W026 vnovmeno Confers as aes Convenes reomendgies ovinena Unter sess anos, ‘are mies tabaios oe Coe esponsablide socal Empesal Deserainerta suave (0bs.: As silas dessa lgura serao comentadas nest capitulo no préximo. Fonte: Elaborado pelos autores. 6.1 MOVIMENTO DA QUALIDADE Como observou um estudioso do tema da responsabilidade social, a organizacao que melhora continuamente a qualidade, ao final, ter adotado um estilo de gestao mais social ou, em outras palavras, alcangado um nivel mais elevado de sus- tentabilidade empresarial’, Tal ideia pode ser verificada, por exemplo, com 0 Prémio Nacional da Qualidade (PNQ) criado em 1992 pela Fundagao Nacional da Qualidade (FNQ), inspirado nos critérios de exceléncia empresarial do Prémio Malcolm Baldrige dos Estados Unidos, considerado o primeiro da série de prémios que seriam institufdos em muitos pafses e regides. Com o tempo, o PNQ foi adqui- rindo feigao prépria e, em 2003, incluiu a sociedade como critério de exceléncia em gestao, como mostra a Figura 6.2. Ver Capitulo 5 deste livro. * Marrewijk, 2003, p. 99. 150 cap(ruto 6 Instrumentos gerencials Figura 6.2 Prémio Nacional da Qualidade (PNQ) ~ Modelo de exceléncia de gestao: Critérios de exceléncia oma € Phen lentes stratéglas Uderanga Ae Processos Sociedade *supayuos asa Fonte: FNQ, 2015, p. 13. O modelo de exceléncia em gestao do PNQ pressup6e que a sobrevivéncia e sucesso de uma organizagao estao diretamente relacionados & sua capacidade de atender As necessidades e expectativas dos proprietarios, dos clientes e da so- ciedade. A exceléncia da gestdo apoia-se em treze fundamentos que representam padrdes culturais internalizados nas organizacdes de classe mundial reconhecidos internacionalmente e que se expressam por meio de seus processos gerenciais e dos resultados alcangados. Esses fundamentos sao: pensamento sistémico, atuacao em rede, aprendizado organizacional, inovacao, agilidade, lideranga transformadora, olhar para o futuro, conhecimento sobre clientes e mercados, responsabilidade social, valorizagao das pessoas e da cultura, decis6es fundamentadas, orientacao por processo e geracao de valor que se realiza por meio dos resultados econdmi- cos, sociais e ambientais que atendam as necessidades das partes interessada: A definicao de responsabilidade social, enquanto fundamento da exceléncia da gestdo, é praticamente a mesma da norma ISO 26000 ha pouco comentada: © dever da organizacao de responder pelos impactos de suas decisdes ¢ atividades, na sociedade e no meio ambiente, e de contribuir para a melhoria das condigoes de * ENQ,2015, p.10-11, 151 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével vida, por meio de um comportamento ético e transparente, visando ao desenvolvi- mento sustentével’, Esses fundamentos sustentam 0s oito critérios de exceléncia da gestdio do PNQ: lideranga, estratégias e planos, clientes, sociedade, informagoes e conhecimento, pessoas, processos e resultados. A Figura 6.2 apresenta esses critérios de acordo com a seguinte l6gica: levando em conta as demandas dos clientes e da sociedade, a lideranga da organizagao desenvolve estratégias e planos que sao executados por pes- soas e processos para gerar resultados. Para isso, informagées e conhecimento devem permear todos os critérios, as varidveis e a propria organizagao°, O que é apropriado para a sociedade atual caracterizada como sociedade do conhecimento. Ocritério sociedade do modelo de exceléncia de gestao do PNQ examina como a organizagao contribui para o desenvolvimento econémico, social e ambiental de forma sustentavel, por meio da minimizagao dos impactos negativos de seus produtos e operagoes e da atuacao ética e transparente. Esse critério se desdobra em dois subcritérios: responsabilidade socioambiental e desenvolvimento social. O subcritério responsabilidade socioambiental refere-se aos processos geren- ciais que procuram verificar o atendimento das seguintes questoes: + Comoasleis, regulamentos e normas ou cédigos de adesdo voluntéria, apli- cdveis & organizagao, sao identificados, analisados e traduzidos em requ sitos de desempenho? * Como a organizacao identifica e trata os impactos sociais e ambientais de seus produtos, processos e instalacdes? + Como aorganizagio se mantém preparada e estabelece procedimentos para responder &s eventuais situagoes de emergéncia e potenciais acidentes vi- sando prevenir ou mitigar os seus impactos adversos? + Como os impactos sociais e ambientais dos produtos, processos ¢ ins- talacoes, assim como as politicas, ages e resultados relativos & respon- sabilidade socioambiental sao comunicados & sociedade, incluindo as comunidades vizinhas? * Como é propiciada a acessibilidade aos produtos e instalagdes da orga- nizacao? + Como a organizagao seleciona e promove, de forma voluntéria, ages com vistas ao desenvolvimento sustentavel? © Td pa. © Ida pita 152 CAPITULO 6 Instrumentos gerenciais O subcritério desenvolvimento social realiza-se por meio de processos geren- ciais com vistas ao atendimento das seguintes questdes: + Como as necessidades e as expectativas de desenvolvimento da sociedade so identificadas, analisadas, traduzidas em requisitos de desempenho e utilizadas para a definigdo e a melhoria da atuagao social da organizagio? + Como a organizacdo direciona esforcos para o fortalecimento da sociedade, executando ou apoiando projetos voltados para o desenvolvimento nacio- nal, regional, local ou setorial? + Como éavaliado 0 grau de satisfacdo da sociedade em relacdo & organizacio? + Como a organizagao avalia o grau de satisfacao da sociedade em relacao aos seus projetos sociais? + ComoasinformacGes obtidas da sociedade sdo analisadas e utilizadas para melhorar a atuagao social? * Como a organizacao avalia e zela por sua imagem perante a sociedade? ‘Transformar questées sociais e ambientais em requisitos de desempenho é caracteristica central do PNQ, inclusive a identificagao de legislagao e normas de adesao voluntaria. Para efeito da concessao do Prémio Nacional da Qualidade, 0 critério sociedade est em um intervalo entre um mfnimo de 50 e um maximo de 80 pontos, sendo que cada subcritério varia entre 20 e 50 pontos. Além desses, outros critérios também contemplam questées tipicas da responsabilidade social ampliada, como qualidade de vida, que faz parte do critério pessoas, e governanga, do critério lideranga. Pode parecer pouco considerando que 1.000 é a pontuagao maxima de todos os oito critérios de exceléncia, sendo que 450 pontos se referem aos resultados subdivididos em cinco tipos de resultados: econdmico-financeiros, sociais e ambientais, relativos aos clientes e ao mercado, relativos as pessoas e rela- tivos aos processos. Os resultados sociais e ambientais variam entre 60 e 90 pontos*, A incluso da sociedade como critério de exceléncia organizacional cumpre um papel importante na disseminagao de boas praticas de responsabilidade so- cial pelo fato de o prémio ter grande respeitabilidade no ambiente empresarial e conferir destaque 4s empresas ganhadoras. Prova disso é a énfase com que as ga- nhadoras apregoam tal fato em suas pecas de publicidade. Além disso, como os resultados constituem o critério mais pontuado, o PNQ contribui para difundir a ideia de que a responsabilidade social empresarial alinhada com o desenvolvimen- to sustentavel é compativel com a obtencao de excelentes resultados financeiros, © que mostra que é possivel superar o dilema sociedade ou lucro. * Id, 2015, 153 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével 6.2 NORMAS INTERNACIONAIS DE GESTAO A atividade de normalizacao internacional, que comeca apés a criagdo da International Electrotechnical Commission (IEC), no inicio do século XX, torna- -se mais intensa com a criagao da International Organization for Standardization (ISO) em 1947, uma federacao internacional formada por organismos de norma- lizagao nacionais. O objetivo da ISO é desenvolver a normalizagao e atividades relacionadas para facilitar as trocas de bens e servicos no mercado internacional © a cooperagao entre os pafses nas esferas cientificas, tecnoldgicas e produtivas. Historicamente, a ISO esteve direcionada ao desenvolvimento de normas técnicas sobre produtos, processos produtivos e métodos de testes e ensaios. Foi somen- te ao final da década de 1970 que ela comecou a produzir as primeiras normas de gestao, as conhecidas pela série ISO 9000, todas relacionadas com a criagao e operagio de sistemas de gestao da qualidade’. Como todo periodo histérico tem algum evento importante que lhe da nas- cimento, pode-se estabelecer o inicio da produgao de normas gerenciais no ano de 1979, quando a British Standard Institution (BSI) criou a norma BS 5750 sobre gestao da qualidade. Seguindo esse exemplo, muitas normas sobre gestao da qua- lidade foram criadas em outros paises, tornando-se um problema para os exporta- dores, pois eles geraram custos adicionais decorrentes da necessidade de atender a varias normas sobre 0 mesmo tema, porém com requisitos ou exigéncias dife- rentes. Quando isso acontece surgem problemas para a circulagao de produtos e servigos em termos internacionais, sendo esse um dos modos de criar barreiras técnicas ao comércio, Por isso, nao tardou muito para que a ISO criasse um comi- 18 especifico para tratar esse assunto, o que resultou na série de normas ISO 9000 sobre gestao da qualidade. ‘Apéso sucesso das normas de qualidade a histéria se repetiu. No final da década de 1980, a BSI iniciou a criagéo de uma norma sobre sistema de gestao ambiental que ficaria pronta em 1992, a norma BS 7750. Isso desencadeou um esforgo para gerar normas semelhantes em diversos paises. A ISO entrou em cena novamente. Um grupo de assessoria, criado para estudar as quest6es geradas pela diversidade crescente de normas ambientais e seus impactos sobre o comércio internacional, recomendou a criagao de um comité especifico para a elaboracao de normas sobre gestao ambiental, que veio a ser 0 Comité Técnico 207. Em 1996, foram editadas as primeiras normas sobre sistemas de gestao ambiental: a ISO 14001 e a ISO 14004. Desde entdo outras normas foram editadas sobre outros t6picos da gestdo am- biental, como auditoria ambiental, rotulagem ambiental e avaliagao do ciclo de Para saber mais, consultar . 154 CAPITULO 6 Instrumentos gerenciais vida do produto. Em abril de 2015 havia mais de trinta normas da familia ISO 14000. Além das normas de gesto da qualidade e do meio ambiente, a ISO elaborou outras séries de normas de gerenciamento, como a série ISO 22000 sobre seguran- ¢a de alimentos, a ISO 27000 sobre seguranga da informac¢ao, a ISO 31000 sobre gestao de riscos e a ISO 51000 sobre gestdo de energia, entre outras. As normas de gestdo sdo normas horizontais, um termo usado para indicar que se aplicam a qualquer tipo de organizagao, independentemente do seu ta- manho e tipo de produto ou processo. Isso é como dizer que nao so normas de contetido, mas sim de procedimentos, que permitem incorporar contetidos di- versos conforme as caracteristicas espectficas de cada organizagao. Elas diferem umas das outras em fungao da disciplina ou do fim a que a norma se presta, por exemplo, qualidade, meio ambiente, relagdes de trabalho, responsabilidade so- cial etc. Porém, todas as normas de gestao da ISO, ou que levem em conta as suas recomendacoes, baseiam-se no ciclo PDCA (do inglés: Plan, Do, Check, Act)’, um instrumento gerencial basico que pode ser brevemente descrito como: + Planejar (Plan): estabelecer os objetivos e metas e programar as aces; «Fazer (Do): organizar e treinar pessoas e implementar as ag6es programadas; + Verificar (Check): monitorar e medir os resultados alcangados em relacao aos objetivos e metas, corrigir aces e relatar os resultados; + Atuar (Act): agir para promover a melhoria continua. Acconformidade legal e a melhoria continua sao requisitos basicos de qual- quer sistema de gestdo da ISO e das que nelas se espelham. A ideia é a perma- nente vigilancia para realizar aperfeigoamentos a todo momento, em todas as atividades, produtos e relacionamentos. Os ciclos PDCA e a melhoria continua sao como a cara ea coroa da mesma moeda. A medida que um ciclo sobre de- terminada questo termina, outro recomega a partir das melhorias obtidas para consolidé-las e ir em frente com novos aperfeigoamentos. Outro elemento co- mum é 0 comprometimento da alta administragao e a formulacao de politicas empresariais globais que irao orientar todas as demais atividades relacionadas ao sistema em pauta. Os sistemas de gestao criados por essas normas devem estar integrados com a gestao global da organizacdo e as especificas, como gestao fi- nanceira, de producdo, de marketing, de compras, desenvolvimento de produtos e outras. Além disso, e talvez o mais importante, sao sistemas orientados para os riscos associados &s suas disciplinas especificas, por isso as aces desencadeadas Técnica desenvolvida na década de 1980 por Walter Shewarte popularizada por Edward Deming, dois grandes expoentes do movimento da qualidade. 155 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével por eles partem da identificaco e avaliacao dos impactos das atividades e dos produtos da organizacao. Quadro 6.1 apresenta uma lista exemplificativa de instrumentos norma- tivos relacionados com a responsabilidade social conforme a perspectiva do desenvolvimento sustentével, alguns diretamente, como os que sero comen- tados a seguir. Muitas vezes, a diversidade de instrumentos existentes acaba se tornando um problema de escolha para os dirigentes nem um pouco trivial. Uma questo téo complexa como a responsabilidade social empresarial, que envolve assuntos tao diversos e com intimeras interacées entre eles, s6 pode ser suficientemente inserida em uma organizagao por meio de varios instrumentos normativos de gerenciamento. Quadro 6.1 Instrumentos normativos de gestao: Exemplos Obj Exemplos + Norma 150 9001 (qualidade) + Norma 150 14001 (meio ambiente) Prover requisitos e + Norma SA 8000 (relacdes de trabalho) orientagdes para criar e + Norma AA 1000 (envolvimento de partes interessadas manter sistemas de gestio, | e prestacdo de conta) programas e atividades, + Norma OHSAS 18001 (seguranga e satide do trabalho) facilitando a mensuracao + Norma 1S0 19600 (sistema de gestdo de compliance) de resultados. + Norma ISO 26000 (diretrizes de responsabilidade social) + Norma ABNT NBR 16001 (sistema de gestdo da responsabilidade social) Garantir a transparéncia da_| + GRI ~ Global Reporting Initiatives comunicago com as partes | - Norma 1S0 14063 (comunicacéo ambiental) interessadas. + Normas de érgios reguladores + Norma ISOITC207/TC76IN 180 + Norma ISO Guia 82 + Norma ISO Guia 83 + PAS 9, Garantir a integracio e compatibilidade entre sistemas de gestao. Fonte: Insprado em Zadeke Ligteringen, 2009. 6.3 NORMAS DE GERENCIAMENTO SOCIAL © Quadro 6.2 apresenta alguns instrumentos normativos sobre responsabilidade social que se destacaram no inicio deste século. A SA 8000 foi criada em 1998, pela Social Accountability International (SA0), a partir da necessidade de padronizacao das atividades sociais em indiistrias globais. Essa norma € considerada por muitos especialistas a mais propicia para aplicacao global em processos de auditoria de 156 CAPITULO 6 Instrumentos gerenciais locais de trabalho, podendo serimplementada em instalacées de qualquer porte, regido ou setor industrial. Quadro 6.2 Normas de gestao selecionadas Norma : ‘ano de gerencial scopo langamento Regulamenta as relag [Adequaco SA.8000 entre organizacies e 0 seu regulamentos e 1997 ambiente interno legislagao Regulamenta as relagBes, ae A100 entre organizagdes eseu | coi Se 1999 ambiente externo ana Laminin Orienta a melhoria continua (OHSAS Boor | 2° desempenho da sadde Melhoria continue 1999 e seguranca por melo da mminimizagao dos riscos Diretrizes sobre * Accountability '$0 26000 | responsabilidade social + Transparéncia ies) + Comportamento ético NBR 16001 * Respeito 3s partes | 2910 Interessadas Social, ambiental | + Respeito ao estado de Sistema de gestBo da e econdmico direito responsabilidade social ~ + Respeito pelas normas Inet sR io | Fequisitos Internacionats de 2on comportamento + Respeito pelos direitos, humanos Fonte: Elaboreda pelos autores. ‘Anorma SA 8000 parte do principio basico de que a empresa deve cumprir as leis nacionais relativas aos empregados e terceirizados e adotar as disposigées das convengées da OIT concernentes aos Direitos e Principios Fundamentais no Trabalho, mesmo quando nao foram incorporadas & legislagao do pais". Sao t6- picos tratados por essa norma: trabalho infantil, trabalho forgado, satide e segu- ranga, liberdade de negociacao e direito de negociagao coletiva, discriminagao no trabalho, praticas disciplinares, hordrio de trabalho, remuneracao e sistema de gestado da responsabilidade social. A partir da criagdo dessa norma, as iniciativas de normalizagao no campo da responsabilidade social se multiplicaram. Criada pela organizacao Accountability, norma AA 1000APS define praticas para prestacio de contas com 0 objetivo de * Veja Capitulo 5 dest livro. Para saber mais sobre a SA 8000, consulte . 157 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével assegurar a qualidade da contabilidade, da auditoria e do relato social e ético. Desenhada para auxiliar empresas, acionistas, auditores, consultores e organi- zagées certificadoras, ela pode ser usada isoladamente ou em combinagao com outras normas ou padroes. A estrutura da AA 1000 contém processos e princfpios para relatérios, prestacao de contas e auditoria. Essa norma é complementada pe- las normas AA 1000AS e AA 1000SES. A primeira fornece uma metodologia para assegurar a aderéncia dos relatos aos principios da norma AA1000 e a qualidade das informagées; a segunda fornece uma estrutura para auxiliar 0 processo de envolvimento com as partes interessadas. Sao trés os princfpios da AA L000APS. O princfpio da inclusao refere-se a0 compromisso de assumir a responsabilidade para com as partes interessadas, ou seja, aquelas nas quais a organizacao causa algum impacto e ou que impactam a organizagao, permitindo que elas participem na identificagao de problemas e contribuam para as solug6es. O principio da relevancia ou materialidade refere- se & identificacao dos assuntos importantes para o desenvolvimento sustentével. 0 principio da responsabilidade decorre dos dois anteriores e diz respeito & ca- pacidade de resposta da organizagao as consideracées das partes interessadas”, O Quadro 6.3 presenta um resumo dessas duas normas. Quadro 6.3 Normas SA 8000 e AA 1000: Resumo ‘SA 8000 ‘AA 1000 Criada pela Social Accountability International | Criada pelo Institute of Social & Ethical (sal) em 1997 Accountability (Accountability) em 1999 Norma voluntéria que especifica requisitos de 7 Norma voluntéria nao certificével responsabilidade certificaveis Foco: puiblico interno. Atender &s leis trabalhistas e principios de convencdes e recomendagdes da OIT Foco: assegurar a qualidade da contabilidade, auditoria e relato social e ético Questo bésica: engajamento das partes Questo bisica: relagies de trabalho inte reseadas (aolahoaidera Aplicével a qualquer organizacao independentemente do porte e do setor de atividade Fonte: Elaborado pelos autores. Anorma OHSAS 18001 (do inglés: Occupational Health and Safety Assessment Series) estabelece requisitos para criar e manter um sistema de gestao da seguranga "© Para mais informagbes sobre as normas AA 1000, consultar . 158 CAPITULO 6 Instrumentos gerenciais e da satide ocupacional. Entrou em vigor em 1999, apés estudos de um grupo de organismos certificadores (Bureau Veritas Quality International, Det Norske Veritas, Lloyds Register Quality Assurance etc.) e de entidades de normalizagao do Reino Unido, Irlanda, Australia, Africa do Sul, Espanha e Malasia. Esses estudos ocor- reram apés a recusa da ISO em escrever uma norma sobre satide e seguranga do trabalho devido a oposigao da OIT, que possui suas prdprias diretrizes, recomen- dagées e guias sobre esse assunto. A criagao dessa norma levou em conta algumas normas nacionais jé existentes, como a BS 8800, conforme jé mostrado na Figura 6.1. AISO mudou de ideia quanto ao seu envolvimento nesse tema e criou em 2013, 0 Comité de Projeto 283 (ISO PC 283), para desenvolver normas sobre gesto da satide e seguranga ocupacional, cuja primeira norma, a ISO 45001, que contém re- quisitos de um sistema de seguranga e satide operacional, foi publicada em 2016". A estrutura de requisitos de um sistema de gestio da seguranca e satide do trabalho, de acordo com a norma OHSAS 18001, encontra-se no Quadro 6.4. Esta uma norma certificdvel. Jé a OHSAS 18002 apresenta diretrizes para auxiliar a implantagao e manutengao desse sistema. A implantagao dessa norma baseia-se no compromisso da empresa com a redugao dos riscos decorrentes do trabalho coma melhoria continua de seu desempenho em satide e seguranca dos traba- Ihadores. A norma apresenta uma postura prevencionista ao atribuir importancia & promogao da satide e a prevengao de danos e doencas. Apresenta também re- quisitos para ampliar a comunicacao, participagao e consulta com as partes inte- ressadas. Como ¢ recorrente em todas as normas de gestao, esta também buscou ampliar a compatibilidade com as normas ISO 9001 e ISO 14001". Normas que estabelecem requisitos para criar e manter sistemas de gestdo da responsabilidade social foram criadas em diversos paises, tais como Austrélia, Brasil, Canadé, Dinamarca, Espanha, Franca, Israel, Japao, México, Portugal. Esse fato levou a ISO a produzir uma norma de responsabilidade social, a ISO 26000. Porém, esta nao é norma de requisito, mas de diretrizes para tratar da responsabilidade social em qualquer tipo e tamanho de organizacao. Ou seja, a ISO agiu de modo diferente dos casos comentados anteriormente, nos quais a0 criar normas sobre gestao da qualidade e gestao ambiental eliminou a necessi- dade de normas nacionais. Por isso as normas criadas em varios paises, como 0s citados acima, que estabelecem requisitos para implantar e manter sistemas de gestao da responsabilidade social, nao s6 continuam validas como se aper- feigoaram sob a influéncia da ISO 26000. Esse assunto serd tratado com detalhe no préximo capitulo deste livro. ® 180 2016. "= Para mais informagoes sobre as normas OHSAS, consultar . 159 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentavel Quadro 6.4 Estrutura de requisitos da OHSAS 18001 Clausula | Titulo do Requisito 4a Requisitos gerais 42 Politica de Seguranca e Sadde Ocupacional (5S0) Identificagao de perigos, avaliagao de riscos e determinagées de controle Requisitos legais e outros Objetivos e programas 43 Planejamento Recursos, funcdes, responsabilidades, accountability e autoridade Competéncia, treinamento e conscientizagao Comui ca Implementaco | #43 participacao e consulta eoperacses — | 4.4.4 | Documentacdo 4.4.5 | Controle de documentos 4.4.6 | Controle operacional ras .tt.7 | Preparagio e respostas a emergéncia | 4.52 | Medicao e monitoramento do desempenho 14.5.2 | Avallacdo do atendimento a requisitos legais e outros | Investigagao de incidentes, nao conformidade, aco corretiva e aco preventiva 4.5.4 | Controle de registros Auditorla interna 4.6 Analise critica pela administragao 45 Verifeagto [asa Fonte: OHSAS 18001, 2007. 6.4 INTEGRANDO DIFERENTES SISTEMAS DE GESTAO Uma dificuldade adicional existente no dia a dia das empresas consiste na integra- cdo entre os diversos sistemas gerenciais implantados. De fato, sistemas certifica- dos requerem auditorias periddicas de avaliagao e, muitas vezes, essas auditorias se sobrepdem quando os sistemas nao esto integrados, de modo que algumas reas criticas, como operagées e divisdo comercial, sao auditadas de duas a trés vezes por semestre, para cobrir os requisitos da ISO 9001, da ISO 14001, da OHSAS 18001 e da SA 8000. Além do gasto com homem-hora e dedicagao, as auditorias aumentam o clima de tensdo entre as dreas, o que torna ainda mais premente a necessidade de integracao entre os diversos sistemas implantados. 160 CAPITULO 6 Instrumentos gerenciais 6.4.1 Compatibilizacao de sistemas de gestao Para superar as dificuldades decorrentes de dois ou mais sistemas de gestéo, foram criadas normas de integracao dos sistemas de gestio criados pela ISO e dos que se baseiam nelas. A ISO criou um grupo especialmente designado para estudar a integracao de sistemas de gestao da qualidade e ambiental em 1998, o Joint Task Group (JTG), que gerou o documento ISO/TC 207/TC176 N18 contendo recomen- dagdes sobre compatibilidade e integracao entre os sistemas de gestdo da qualidade edo meio ambiente, portanto, especifico para os sistemas criados e mantidos de acordo com as normas ISO 9001 e ISO 14001, respectivamente. Esse documento define compatibilidade como a adequagao de normas similares para uso conjun- to sob uma condigao especifica, visando preencher requisitos relacionados sem causar interagées inaceitaveis. Isso significa que elementos comuns dos sistemas podem ser implantados pela organizacao de maneira compartilhada, como um todo, ou em parte, sem duplicagao ou imposigao de requisitos conflitantes. Anorma ISO Guia 83, criada com a concordancia de todos os presidentes de co- mités e subcomités que produzem normas de sistemas de gestao na ISO, é um guia para a integracdo de sistemas gerenciais, Ela se baseia na ideia de que os sistemas de gestao, mesmo tratando de assuntos ou disciplinas diferentes, possuem requisi- tos comuns que podem ser integrados. A norma estabelece a estrutura de requisi- tos para orientar a criagao de novas normas de sistemas de gestao e as revises das ‘que j4 existem para facilitar a integragao dos sistemas. No futuro, todas as normas de gestio sero compativeis, pois adotardio os mesmos termos e definigdes ea mes- ma estrutura de requisitos constitufda pelas clausulas apresentadas no Quadro 6.5. Quadro 6.5 Sistemas de gestado: ‘strutura comum Céusula | Assunto Fase do ciclo PDCA Escop0 2_| Referéncias normativas 3_| Termos e def 4 | Contexto da organizacao 5 _| tideranca 3 hanaienano Planejaridesenvolver 7__| Apololsuporte 8 | Operacdes | Fazer/implantar 9 | Desempenho e avaliacdo Checarlavaliar 10 __| Melhoria Agirimethorar Fonte: Resumido de ISO Gulde a2. 161 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével As trés primeiras cléusulas jé eram adotadas em todas as normas técnicas e de gestdo. A diferenga é a existéncia de termos de definicdo comuns a todas as nor- mas de gestdo. Algumas dessas definig6es podem ser vistas no Glossario no final deste livro. As novidades mais significativas estao nas clausulas 4 e 5. A cléusula 4 desdobra-se em quatro subcléusulas: entender a organizagao e seu contexto; entender as necessidades e expectativas das partes interessadas; determinar 0 escopo do sistema de gestao; e XXX sistema de gestao, na qual XXX indica onde a disciplina especifica est inclufda no texto normativo comum; por exemplo, gestao ambiental se for a ISO 14001, qualidade se for a ISO 9001. A cldusula 5 estabelece requisitos para que a alta administragao e as pessoas que desempenham fungao importante no sistema de gestao demonstrem lideranga para conduzi-lo. Com o objetivo de integrar sistemas, a British Standard Institute (BSI) criou a norma PAS 99 (Publicly Available Specification) na qual especifica requisitos comuns para sistemas de gestao, particularmente os sistemas baseados nas nor- mas ISO 9001 e 14001, OHSAS 18001 e ISO/IEC 22000 (gestao da seguranca ali- mentar) e 27001 (gestao da seguranga da informagao). Em outras palavras, é uma norma de requisitos para sistemas de gestao integrados, portanto, passivel de auditoria para efeito de certificagao. Sua versio atual adotou as recomendages da norma Guia 83, comentada hd pouco. A Figura 6.3 mostra esquematicamente como 0 PAS 99 promove essa integracao, e 0 Quadro 6.6 apresenta a estrutura de requisitos comuns com base na ISO Guia 83. As regulamentacées da OIT e do Ministério do Trabalho para o sistema de gestao da satide e seguranga ocupa- cional e o Cédigo de Defesa do Consumidor para o da qualidade s4o exemplos de requisitos especificos. Figura 6.3 Compatibilizacao de sistemas de gestao: PAS 99 Requisitos | Requisitos Requisitos Requisitos __Requisitos especiticos especificos especificos especiicas _especificos doSGk —doSGQ.—«doSGSS—d0SGR de outros sistemas de gestdo R) (0) (a) Q) ) (R) (0) AQ Ss RO Requisitos | Requisites || Requisitos Requisitos Requistos Requisitos comuns | comuns | comunscomuns—comuns comuns Fonte: Adaptado de BSI, 2006. 162 CAPITULO 6 Instrumentos gerenciais Quadro 6.6 PAS 99: Estrutura de requisitos Requisitos Ciclo PDEA 1. Escopo 2. Referéncias normativas 3. Termos e definicdes 14, Contexto da organizacao 4a. Conhecendo a organizacio e seu contexto 4.2 Conhecendo as necessidades e expectativas das partes interessadas 4.3, Determinando 0 escopo do sistema de gestao 4. Sistema de gestio 5. lideranca 5.1. Lideranga e comprometimento 5.2. Politica 5.3. Fungées, responsabilidades e autoridades Planejamento (Plan) 6. Planejamento 6.1. Agées para neutralizar riscos e capturar oportunidades 6.2. Objetivos e planejamento voltados para riscos e oportunidades 7. Suporte 7a. Recursos 7.2. Competéncias 73. Conscientizacao 7.4. Comunicago 75. Informacao documentada 8. Operacao 8.1. Planejamento e controle operacional Fazer (Do) 9. Avaliacao do desempenho 9.1. Monitoramento, medico, analise e avaliag3o 9.2. Auditoria interna 9.3. Andlise critica pela alta administragao Verificar (Check) 10. Melhoria 10.1. Nao conformidade e acao corretiva Atuar (Act) 10.2. Melhoria continua Fonte: 881, 202, Acompatibilidade nao requer necessariamente textos idénticos, embora quanto maior a similaridade entre eles melhor para o processo de integragao. O grau de compatibilidade ¢ fungao da necessidade e da estratégia organizacional. Quanto mais avangada a similaridade, mais comuns serao as atitudes dos dirigentes, tra- balhadores e outros envolvidos nos sistemas de gestao e, consequentemente, as agdes gerenciais estardo mais alinhadas entre si e com as estratégias da empresa. 0 Quadro 6.7 traz exemplos de niveis minimos e maximos de compatibilizagao e integragao dos sistemas gerenciais. 163 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentavel, Quadro 6.7 Exemplos de niveis de compatibilizacao por elemento do sistema de gestio Elemento do sistema | Minima compatibilizacao Maxima compatibilizagéo Uma por unidade, alinhadas Polit Missi, Visho e Volores Unica para toda a organizagao Correlacionados por algum Objetivas distintos por unidades, | 1 t-umento de gerenciamento, Djetivos e metas | relacionados com suas politicas biel ele politics | por exemplo, pelo balanced especiticas scorecard Procedimentos andlogos para | Nivel de documentagdo Implantagio reas comuns: RH, Produgéo, _| e detalhamento comum, operacio Marketing, P&D, Assisténcia respeitando-se as particularidades Técnica ete. dos processos produtivos Auditorias internas alinhadas com Auditorias internas separadase —_| 0 andamento das acées corretivas auditorias externas harmonizadas | compartilhadas. Auditorias externas unificadas Sistema de avaliagSo ‘AgBes corretivas e preventivas Modelo tinico para gerenciar Melhoria continua | supervisionadas por mecanismos | e compartilhar acées corretivas diferentes conforme o sistema _| e preventivas Comités se reportam a um Anélises criticas Comités separados por unidades comité central Fonte: Elaborado pelos autores. Figura 6.4 Graus de integragao dos sistemas Grau de compatibilidade = (00cm Diretrizese —_Diretrizes comuns e Sistemas isolados Sistemas comuns__ Sistema tinico pottias F ; empresaiis Poles aiferentes | potas aferentes seis comuns Documentacao dnica para Documentagio de iret ‘i Documentagdo | cadasistoma ce | Settzes police | Documentasdo sa sstoma de | eparada para os | Unica oe Procedimentos @ praticas Fonte: Elaborado pelos autores. 164 CAPITULO 6 Instrumentos gerenciais Os resultados esperados da integracao dos sistemas de gestdo ocorrem nos ni- veis estratégicos e operacionais. Dependendo da maturidade estratégica e gerencial da organizacao, a compatibilidade dos sistemas pode variar, conforme ilustrada na Figura 6.4. No estdgio de sistemas alinhados, tipicos de processos de integracao em estagio inicial, tanto as politicas quanto as praticas dos diferentes sistemas de gestdo sao distintas. Um estagio de integragao intermediario apresenta sistemas com diretrizes comuns, mas com politicas e praticas diferentes. Uma integragao completa envolve uma estrutura unificada, texto tinico para diretrizes e politicas e uma documentagao tinica ¢ integrada, o que significa, na pratica, a existéncia de um tinico sistema de gestao. 6.5 COMUNICACAO COM AS PARTES INTERESSADAS A comunicacao com as partes interessadas é um elemento central em todos os sis- temas de gestao criados segundo as normas gerenciais citadas neste capitulo. Essas normas nao indicam um tipo particular de relatério ou qualquer outro instrumento de comunicagao, o que é coerente com o fato de serem criadas para funcionar em organizages de qualquer tipo, tamanho esetor econdmico. Por isso elas nao espe- cificam contetidos. Assim, os instrumentos de gestao e seus contetidos dependem das estratégias, das politicas, dos princ{pios diretivos adotados, dos objetivos, dos programas propostos, bem como das caracterfsticas da organizagao, do seu en- torno e do marco regulatério. Do mesmo modo, as comunicagdes com as partes interessadas também variam de empresa para empresa em termos de formatacao, contetidos e usuarios. As consideragées sobre comunicacao nas normas mencionadas, bem como em normas especificas sobre comunicagao, como a norma ISO 14063, assentam- -se em trés ideias basicas: 1. acomunicagio é um processo de compartilhamento de informacdo com grupos de interesse a fim de construir confianga, credibilidade, cooperacao e conhecimento sobre as questdes pertinentes aos sistemas de gestao; 2. acomunicacao ¢ um proceso orientado a partir do comprometimento da alta administragao, dos principios diretivos, da politica geral (por exemplo: politica ambiental, da qualidade, da satide e seguranga) e da politica espe- cifica de comunicagao; 3. acomunicagdo requer 0 contato continuo ou frequente com as partes inte- ressadas. Por exemplo, a norma ISO 14063 define comunicagao ambiental como um processo conduzido pela organizagao para fornecer informagGes e estabelecer 165 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével um didlogo com partes interessadas, internas e externas, com 0 objetivo de encorajar um entendimento compartilhado sobre questes, aspectos e desempenho ambien- tal, A politica de comunicagao deve enunciar com clareza as seguintes questoes: compromisso de envolver-se em didlogo com as partes interessadas; divulgar as informagoes sobre o desempenho ambiental da organizacao; estabelecer critérios de importancia da comunicagao ambiental interna e externa para a organizaga implementar a politica e prover os recursos necessarios; e enderecar a comuni- cacao para as questdes ambientais chaves.” Os meios de comunicagao, os forma- tos, a periodicidade e os contetidos das comunicagGes nao serao os mesmos para todas as partes, Difere, portanto, do modelo padronizado enderegado ao ptiblico em geral, como o relatrio de sustentabilidade que sera comentado em seguida. A Global Reporting Initiative (GRI) é uma ONG sediada em Amsterda que promove a elaboragao e publicagao de relatérios de sustentabilidade pelas or- ganizagdes de qualquer tipo como meio de contribuir para o desenvolvimento sustentavel. Ela atualiza periodicamente os padrdes para a criacao de relatérios de sustentabilidade levando em conta o didlogo com miltiplas partes interessa- das com 0 objetivo de obter um elevado consenso sobre o modo de produzi-los. O relatério de sustentabilidade baseado no padrao GRI deve prover uma visao balanceada e realista do desempenho da organizagao nas dimensdes do desen- volvimento sustentavel, incluindo aspectos positivos e negativos. Atualmente é a mais importante iniciativa em termos de relat6rios de sustentabilidade, com uma expressiva adesio de empresas em todos os continentes. A GRI criou em certos paises 0 Ponto Focal com 0 objetivo de promover os relatérios de sustentabilidade segundo os seus padres e orientar a sua elaboragao pelas organizagoes locais. 0 Brasil foi o primeiro pats a ter um Ponto Focal, hoje sediado no Instituto Brasileiro de Governanga Corporativa (IBCG)". uso de relatérios de acordo com padrdes GRI permite comparar a evolugao do desempenho da empresa ao longo do tempo, bem como comparat 0 desempenho de empresas que atuam no mesmo setor ¢ identificar as que so lideres em suas dreas de atuacao. A padronizacao evita que sejam divulgadas apenas as questes nas quais se identifica bom resultado e, com isso, crie-se uma falsa imagem. Além disso, ao atender tais padroes, uma empresa estaria considerando os interesses de mtiltiplos stakeholders, j4 que os padrées sao revistos periodicamente por meio de consultas ptiblicas em escala. Tal entendimento, porém, é uma simplificacao para contornar os problemas da diversidade de stakeholders e da dificuldade de consider4-los para efeito de gestao. 180, 2006. ™ Para mais informagdes sobre a GRI, ver . 166 capiTULO 6 Instrumentos gerenciais Esses argumentos possuem pontos vulnerdveis. As comparagées entre empresas nem sempre fazem sentido, pois cada uma possui suas especificidades. Mesmo duas empresas que oferecem 0 mesmo tipo de produto no mesmo bairro apre- sentam muitas particularidades que podem tornar a comparacdo inécua. Apesar disso, eles so aceitaveis desde que a prioridade nao se inverta, ou seja, o relato deve referir-se aos processos realizados em decorréncia dos comprometimentos, das decisdes tomadas, do envolvimento com as partes interessadas e das avalia- oes efetuadas. Muitas empresas se preocupam mais intensamente com os relatérios do que com 0 fazer, o que s6 contribui para aumentar o ceticismo em relagao & respon- sabilidade social das empresas em geral e aos relat6rios de sustentabilidade pu- blicados. Nao sao poucas as que criam departamentos exclusivos para cuidar dos relatérios, com pessoas dedicadas apenas a isso e que realizam seus trabalhos sob vigilancia rigorosa dos dirigentes, para que saiam conforme encomendaram. De tempos em tempos, 0s relatérios sao publicados em edi¢des de luxo com muitas fotos de criangas sorridentes, idosos alegres, grupos com diversas origens étnicas de maos dadas, todos sempre contentes e felizes da vida. Usam papel reciclado ou certificado para dar a ideia de que protegem 0 meio ambiente. Mas nada disso tem valor quando sao elaborados sem o envolvimento efetivo das partes interes- sadas, a quem os relatérios so enderecados. Os relatérios devem espelhar com fidedignidade o que foi planejado e execu- tado, assim como as dificuldades e obstdculos que impediram alcangar as metas estabelecidas. Em primeiro lugar, a organizagao deve estabelecer o que pretende fazer no campo da responsabilidade social com base em didlogos com as partes interessadas e comunicar suas decis6es. No caso das partes que ainda nao existem, como as geragdes futuras, e das que nao possuem condigdes para se representarem diretamente, como as criangas, os incapacitados e os constituintes nao humanos do meio ambiente, 0s acordos e as declaragdes intergovernamentais que trazem disposicdes sobre eles conforme as propostas do desenvolvimento sustentavel po- dem ser invocadas como parte desse didlogo. As autoridades eas entidades que as apoiam eas defendem podem dar contribuicdes importantes, na medida em que sao portadoras de conhecimentos especificos sobre os interessados sem voz ativa. Em segundo lugar, a organizacao deve se esforcar para cumprir o que se pro- pés a fazer, o que significa colocar em prova as intengoes, uma vez que para isso 6 necessdrio alocar recursos, reorientar atividades, executar planos, enfim, tra- balhar para colocar em pratica o que foi proposto. Por fim, deve relatar o que fez, também com base no diélogo com as partes interessadas, utilizando linguagem adequada & compreensao das diferentes partes. Desse modo, as atividades para comunicar o desempenho nas diversas dimensoes da sustentabilidade tornam-se 167 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével também uma etapa do préximo ciclo de atividades, na qual a organizacao avalia os resultados alcangados e estabelece o que pretende fazer. 6.6 GOVERNANGA CORPORATIVA Em termos gerais, governanga refere-se as relacdes de poder dentro de uma organi- zac4o, o modo como diferentes agentes resolvem contflitos relativos & sua diregao. Pode-se dizer, grosso modo, que se trata da forma de exercer o poder. A palavra go- vernanga foi empregada pelo Banco Mundial com respeito aos governos dos paises e sua capacidade de promover ajustes macroecondmicos que dependiam de re- formas dos Estados. A governanea seria, dessa forma, a capacidade do governo de exercera sua autoridade para a consecugao dos objetivos de politica econdmica®. ‘Agovernanga é um importante tema da responsabilidade social amplamente considerada e aplicavel a organizacoes de todo tipo e porte. Uma definicdo simples, mas nao menos precisa, é: sistema pelo qual uma organizagao toma decisoes e as implementa na busca de seus objetivos". Ou seja, é algo essencial a qualquer or- ganizaco independentemente de tamanho, natureza juridica e setor de atividade. No ambiente de negécios, governanga é aplicada de modo especifico as socieda- des anénimas, e seu objetivo é dar seguranga aos investidores, facilitar 0 acesso ao capital e reduzir o custo de sua captacao. Sua fundamentagao encontra-se em grande parte na teoria do acionista e na teoria da agéncia”. Segundo o Instituto Brasileiro de Governanga Corporativa (IBGC), a gover- nanga corporativa ¢ o sistema pelo qual as organizag6es sao dirigidas, monitora- das e incentivadas, envolvendo 0s relacionamentos entre proprietdrios, conselho de administracao, diretoria e érgaos de controle. A boa governanca deve tornar a gestao essencialmente livre de abusos, de corrupgao e decisdes temerdrias por parte dos dirigentes dessas sociedades, com o objetivo de assegurar 0s interesses de todos os acionistas"*. Desse modo, segundo o IBGC, uma boa governanga ba- seia-se nos seguintes principios. + Transparéncia: obrigacao de informar as partes interessadas as informagoes, que sejam de seu interesse e nao apenas aquelas impostas por disposigdes de leis ou regulamentos. Além das informagées econémico-financeiras, outras que norteiam a acao gerencial e conduzem a criagao de valor também devem ser contempladas. © World Bank, 1992, “ ABNT, 2010, definicao 2.13, © Ver Capitulo 1 Ver cwwwibge-org.br>. Acesso em: 30 abr. 2007. 168 capiTULO 6 Instrumentos gerenciais + Equidade: tratamento justo a todos os sécios ¢ demais partes interessadas. Praticas e politicas discriminatérias, sob qualquer pretexto, sao totalmente inaceitaveis. + Prestagdo de contas: os agentes de governanca, isto 6, sécios, conselheiros de administragao, executivos/gestores, conselheiros fiscais e auditores, devem prestar contas de sua atuagao, assumindo integralmente as consequéncias de seus atos e omissées. + Responsabilidade corporativa: os agentes de governanga devem zelar pela sus- tentabilidade da organizagao, visando a sua longevidade, incorporando consi deracées de ordem social e ambiental na definigdo de negécios e operacoes. ‘base da governanga corporativa encontra-se na legislacao societaria, que, em- bora varie de pafs para pais, recebe pressao constante para se harmonizar em decor- réncia da globalizagao dos mercados de capital. No Brasil, essa legislagao encontra-se no Cédigo Civil e mais especificamente na Lei n. 6.404, de 1976, que estabelece a estrutura administrativa das companhias ou sociedades anénimas, ou seja, empre- sas cujo capital é dividido em acGes. Essa lei estabelece que a administracao dessas empresas é competéncia do conselho de administragao eda diretoria, ou somente da diretoria se assim dispuser o seu estatuto. As companhias de capital aberto devem, obrigatoriamente, ter um conselho de administragéo composto, no minimo, por trés membros eleitos pela assembleia geral e por ela destituiveis a qualquer tempo. Aassembleia geral ¢ 0 6rgao com poderes para decidir todos os negécios relativos ao objeto da companhia e tomar as resolugdes que julgar convenientes a sua defesa e desenvolvimento, Além desses drgaos, essas empresas devem constituir um con- selho fiscal composto de trés membros no minimo e cinco no maximo, acionistas ou nao, eleitos pela assembleia geral. O conselho fiscal tem, entre outras, a atribuicao de fiscalizar os atos dos administradores e denunciar ertos, fraudes ou crimes que descobrirem aos érgaos de administragao ou, se estas nao tomarem providéncia, & assembleia geral. Deacordo com o IBGC, toda organizacao deve ter um cddigo de conduta elabo- rado pela diretoria com base nos principios e politicas definidos pelo conselho de administragao e por este aprovado. O cédigo deve valer para funciondrios, diretores, sécios, conselheiros, fornecedores e demais partes interessadas na empresa e cobrir, entre outros, os seguintes assuntos: + cumprimento das leis e pagamento de tributos; + operagdes com partes relacionadas; + uso de recursos da organizacao; + conflito de interesses; 169 Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével + informagées privilegiadas (insider information); + politica de negociacdo das ages da empresa; + processos judiciais e arbitragem; + denunciantes (whistle blowers), prevencao e tratamento de fraudes; « pagamentos ou recebimentos questionaveis; + contribuigdes e doacées voluntérias, inclusive politicas; + recebimento de presentes e favorecimentos; + direito a privacidade; * nepotismo; + meio ambiente e seguranga no trabalho; + discriminagao no trabalho e exploragao do trabalho adulto ou infantil; + assédio moral ou sexual; + relagdes com a comunidade”. ‘As doagoes filantrépicas, questao central da abordagem do acionista”, é um as- sunto para o cédigo de conduta com vistas a gerar transparéncia sobre a utilizagao dos recursos dos sécios. A legislagao brasileira, acompanhando o resto do mundo, profbe o administrador de cometer liberalidades & custa da companhia, por exem- plo, fazendo doacées para acées filantrépicas, mesmo quando meritérias. Somente o conselho de administracao, ou a diretoria, pode autorizar atos gratuitos em be- neficio dos empregados ou da comunidade". Para o IBGC, 0 conselho de admi nistragao 6 0 6rgao responsavel pela aprovacao de desembolsos relacionados com politicas, como verbas para campanhas eleitorais. Anualmente, a organizagao deve divulgar, de forma transparente, todos os custos com as atividades voluntarias”. Em 2000, a Bolsa de Valores de Sao Paulo (Bovespa) implantou os niveis diferen- ciados de governanca corporativa, segmentos especiais de listagem desenvolvidos com 0 objetivo de proporcionar um ambiente de negociacao que estimulasse, si- multaneamente, o interesse dos investidores e a valorizagao das companhias. Essa pratica ja havia sido adotada em varios paises, como Alemanha e Itélia, quase sem- pre com 0 objetivo de promover a dispersao do capital atraindo mais investidores ao mercado de capital devido ao aumento da transparéncia e do rigor na condugao das sociedades anénimas. ‘As empresas listadas nesses segmentos oferecem aos seus acionistas e investi- dores melhorias nas praticas de governanga corporativa que ampliam os direitos societarios dos acionistas minoritérios e aumentam a transparéncia por meio da ° IBGC, 2008. » Ver Capitulo 1 2 Brasil, 1976, art. 154 = IBGC, 2009. 170 capiTULO 6 Instrumentos gerenciais divulgagao de informacées em maior volume e melhor qualidade. O Quadro 6.8 apresenta os requisitos para que as empresas possam aderir aos niveis de gover- nanga estabelecidos pela Bovespa. O cumprimento das legislages aplicdveis a esse tipo de empresa, como a Lei das Sociedades Anénimas (Lei n. 6.404, de 1976), nao 6 considerado suficiente para alcangar os niveis de governanca especificados pela Bovespa. A qualidade das relagdes entre os acionistas e os dirigentes e da comuni- cacao entre eles 6 que faz.a diferenca. Quadro 6.8 Niveis de governanca segundo a Bovespa Nivel de Requisito adicional a legislacso governanca | "es! eislaga + Permite a existéncia de agdes ordindrias (OK) e preferencials (PN), conforme legislagao. + N3o ha percentual minimo de agBes em circulagao. + Conselho de administraczo compasto no minimo por trés membros, canfarme legislacao, + No ha regras para acumulacio de cargos. + Reunio pablica anual facultativa + Concessio de tag along: 80% para acdes ON, conforme a legislacSo. Tradicional + Permite a existéncia de agdes ON e PN com direitos adicionais. + Minimo de 25% de acies em circulacéo. + Consetho de administrag3o composto no minimo por trés membros com mandato unificado de até dois anos. + Presidéncia do conselho e principal executivo exercidas pela mesma pessoa, caréncia de trés anos a partir da adesio. + Reunio pablica anual obrigatéria, + Concessio de tag along: 100% para ages ON e PN. Nivel 1 + Permite a existéncia somente de aces ON. + Minimo de 25% de acdes em circulacao. + Conselho de administraczo compasto no minimo por cinco membros, dos quais pelo menos 20% devem ser independentes com mandato unificado de até dois anos. Nivel 2 + Presidéncia do conselho e principal executivo exercidos pela mesma pessoa, caréncia de trés, anos a partir da adesio. + Reunio pablica anual obrigatéra, + Concessio de tag along: 100% para acbes ON. + Adesio abrigatiria a CGmara de Arbitragem * Permite a existéncia de agdes ON e PN. + Minimo de 25% de aces em circulacao até o sétimo ano. + Conselho de administrago composto no minimo por tiés membros conforme a legislagSo, + N3o ha regras para acumulaco de cargos. + Reunio piblica anual facultativa + Concessio de tag along: 100% para agBes ON. + Adesio obrigatoria 8 Cémara de Arbitragem. Novo Mercado + Permite a existéncia de agdes ON + Minimo de 25% de agSes em circulacdo até o sétimo ano. + Consetho de administrago composto no minimo por trés membros conforme a legislac3o. + Nao ha regras para acumulacdo de cargos. + Reunio pablica anual facultativa + Concessio de tag along: 100% para acies ON. + Adesio & Camara de Arbitragem, Bovespa mals Fonte: Elaborado a partir de dados disponivelse 9 out, 2015, m Responsabilidade social empresarial e empresa sustentével Vale mencionar que o mercado de capitais tem dado sinais de que é vantajoso atuar com responsabilidade social alinhada ao desenvolvimento sustentavel. A crescente demanda por parte da sociedade de boas praticas empresariais, e que nao raro se transformam em novas leis, tem levado muitos investidores a dar pre- feréncia para as empresas que se mostram responsaveis em termos econémicos, sociais e ambientais, uma vez que, em tese, acumulariam menos passivos ao longo do tempo que poderiam ser exigidos algum dia. ‘Varios esquemas foram criados para informar aos investidores sobre a gestao das empresas nesses dominios de sustentabilidade econémica, social e ambien- tal. Um dos mais conhecidos sao os Dow Jones Sustainability Indexes, da Bolsa de Valores de Nova York®. No Brasil, a Bovespa criou o Indice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que retine as empresas que se destacam nessas trés dimen- sdes da sustentabilidade empresarial e em governanga corporativa para formar uma carteira especifica de agdes que represente o benchmark brasileiro para operadores no mercado nacional e internacional. Iniciativas como essas pro- curam criar referéncias para os produtos financeiros baseados no conceito de empresa sustentavel, a partir de um sistema de gestao adequado a politica de responsabilidade social. 6.6.1 Demonstrativos e relatérios obrigatérios Um componente importante da governanga corporativa das sociedades anéni- mas é a comunicagio estabelecida pela legislacao societaria, A Lei das Sociedades Anénimas estabelece que ao final de cada exercicio social a diretoria deve elaborar, com base em sua escrituracao mercantil, as seguintes demonstragées financeiras: balango patrimonial, demonstracao dos lucros ou prejutzos acumulados, demons- tracdo do resultado do exercicio, demonstragao dos fluxos de caixa e, no caso das companhias abertas, demonstracao do valor adicionado. Essas demonstrages devem exprimir com clareza a situagao patrimonial da companhia, bem como as mutagGes ocorridas no exercicio. A demonstracao do valor adicionado refere-se ao valor da riqueza gerada pela companhia, a sua distribuigao entre os que contri- butram para a sua geracao, como empregados, financiadores, acionistas, governo € outros, bem como a parcela da riqueza nao distribuida®. As sociedades de grande porte, mesmo nao constitufdas sob a forma de so- ciedade por ades, devem adotar as mesmas regras estabelecidas para estas pela Lei n. 6.404 de 1976 para a elaboragao das demonstragées financeiras e a ® Sobre esse indice, consultar . & Sobre esse indice, consultar

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