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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA MM. VARA ÚNICA DA COMARCA


DE ARRAIAL DO CABO - RJ.

Processo n. 2007.005.002919-0

Sindicato dos Estivadores de Cabo Frio,


Araruama, Macaé, Campos e Arraial do Cabo, inscrito no Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas sob o número 28.848.729/0001-31, localizado na
Praça Tiradentes, n. 8, bairro Centro, Cabo Frio – RJ, órgão de classe com
existência legal há mais de 80 anos, vem, na qualidade de substituto processual,
por seu advogado infra-assinado (documento de procuração em anexo), em
conformidade com o artigo 297 e seguintes do Código de Processo Civil,
apresentar CONTESTAÇÃO a presente ação de manutenção de posse movida
por COMARP – Companhia Municipal de Administração Portuária, pelos fatos e
fundamentos que passa a expor:

(1). O réu é órgão de classe, representante dos


Trabalhadores Portuários denominados Estivadores, sendo regidos pela Lei n.
8.630, de 25 de fevereiro de 2003, onde preceitua em seu artigo 26 que “o
trabalhador portuário de capatazia, estiva, conferência de carga,
conserto de carga, bloco e vigilância de embarcações, nos portos
organizados, será realizado por trabalhadores portuários com
vínculo empregatício a prazo indeterminado e por trabalhadores
portuários avulsos.” E em seu parágrafo único determina que “a
contratação de trabalhadores portuários de estiva, conferência de
carga, conserto de carga e vigilância de embarcações com vínculo

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empregatício a prazo determinado será feita, exclusivamente, dentre


os trabalhadores portuários avulsos registrados.”

(2). Contudo, é mister ressaltar que o trabalhador


portuário, de acordo com o que preceitua a Lei n. 8.630/2003, tem como
exclusivo o desempenho de suas funções junto ao Porto Organizado dentro de sua
base de atuação, em preferência aos demais trabalhadores, sob a dependência de
requisição do Órgão Gestor de Mão de Obra – OGMO pelo Operador Portuário.
Suas funções estão, assim, intrinsecamente vinculadas à competência do
Operador Portuário nas operações no Porto Organizado.

(3). Assim, de acordo com a lei em comento, a operação


portuária é toda movimentação de mercadorias dentro do porto organizado,
realizada por operador portuário pré-qualificado, sendo um complexo de tarefas
interrelacionadas, resumindo-se em movimentação de mercadorias, içamento,
conferência, arrumação, etc.

(4). Contudo, de acordo com os fundamentos elencados


pela autora, foi firmado contrato operacional com o denominado Estaleiro
Cassinú Ltda., para desenvolvimento de serviços de manutenção na plataforma
PRIDE SOUTH AMERICA, a partir de 08 de setembro de 2007, e que, em virtude
dos trabalhos desempenhados, a lei lhe facultava a não requisição de mão-de-obra
dos trabalhadores portuários avulsos – TPAs.

(5). Alegou, outrossim, a autora, que muito embora


pudesse exercer a função de operador portuário, tal incumbência foi desvinculada
de sua competência em razão do convênio celebrado, que estabeleceu
expressamente a sua proibição quanto ao exercício de tal função, estando
estritamente delimitada ao exercício de autoridade portuária.

(6). Não bastasse, alegou concomitantemente que não


tem competência para criar e gerir o OGMO – Órgão Gestor de Mão de Obra,
tampouco o Operador Portuário, e que sua competência, como autoridade
portuária, se resume exclusivamente à administração do cais e demais
dependências do porto, assim como “autorizar atracação e desatracação de
embarcações, e ainda celebrar contratos operacionais, dentre outros”.

(7). Ressaltou, também, a autora, em sua peça


inaugural, que desde a atracação da referida plataforma, vêm, os Sindicatos das
categorias envolvidas, indagando sobre o pagamento da remuneração da estiva, e

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que os mesmos vêm estabelecendo concorrência com o operador portuário, em


flagrante desrespeito a legislação aplicável a matéria.

(8). A autora, em sua exordial, afirma reiteradamente


que os serviços desempenhados na plataforma em questão não são de
competência dos Trabalhadores Portuários Avulsos – TPAs, e que a situação
presente é para ser resolvida junto ao Operador Portuário, bem como junto ao
OGMO – Órgão Gestor de mão-de-obra, que às vias buscadas se mostram
totalmente desvirtuadas das vias legais.

(9). Entrementes, de acordo com os fundamentos


apresentados pela autora, percebemos que mais uma vez foi omissa, imprudente,
e que em várias passagens falseou a verdade, pois, quando começa alegando que a
plataforma PRIDE SOUTH AMERICA atracou somente para sofrer reparos,
esqueceu-se de dizer que a mesma ocupa uma área de aproximadamente 75
metros, de um porto de aproximadamente 110 metros, impedindo, com isso, em
razão de suas dimensões, que outros navios lá aportem e, consequentemente, que
outros serviços sejam executados, estes de competência exclusiva dos
trabalhadores portuários.

(10). Não bastasse, é público e notório por toda


comunidade, que precedeu a aportagem da plataforma em questão, o pagamento
de valores compensatórios à associação de pescadores de Arraial do Cabo, sendo
mantidos até a presente data com o propósito único e exclusivo de evitar conflitos
com os associados que diretamente estão sendo prejudicados.

(11). Entretanto, é de salutar importância ressaltar que


desde a aportagem da plataforma em questão que os Sindicatos representativos
das Classes de Estivadores, Arrumadores e Conferentes vêm tentando manter
acordo com o autor para que como “Porto Organizado” interceda junto ao
responsável direto da plataforma aludida para que desaporte, haja vista não ser a
autora estaleiro, o qual seria competente para efetivar reparos, mas sim
constituído e aparelhado somente para atender a movimentação e armazenagem
de mercadorias e que sua paralisação, mesmo que breve, gera vultuoso prejuízo ao
trabalhador portuário, ao responsáveis pelas cargas e, principalmente, à
sociedade como um todo, pelo relevo que a movimentação de mercadorias nos
portos representa para as economias local, regional e nacional. Isso é o que
determina a legislação, senão, vejamos, in verbis:

“Lei n. 8.630/03

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Art. 1º. Cabe à União explorar, direta ou mediante


concessão, o porto organizado.

§1º. Para efeitos desta lei, consideram-se:

I. Porto Organizado: o construído e aparelhado para


atender às necessidades da navegação e da movimentação e armazenagem de
mercadorias, concedido ou explorado pela União, cujo tráfego e operações
portuárias estejam sob a jurisdição de uma autoridade portuária;

II. Operação portuária: a de movimentação e


armazenagem de mercadorias destinadas ou provenientes de transporte
aquaviário, realizada no porto organizado por operadores portuários;

(...)”

(12). Como visto, não é de competência da autora, como


porto organizado, manter espaço para reparo em plataformas, tampouco em
navios de qualquer espécie, e, que em razão desta utilização arbitrária e ilegal,
prejuízos incomensuráveis estão sendo suportados pela classe que, atualmente,
está sendo a maior prejudicada, pois, não bastasse à diminuição da movimentação
de cargas no porto, pelo fechamento de empresa de grande porte da região, está
deixando de auferir seus baixos salários pelo redirecionamento de embarcações
de carga.

(13). Sendo assim, haja vista a inércia da autoridade


coatora quanto à efetivação e aplicação de medidas que insurjam contra esses
desvios praticados, mesmo tendo sido por várias vezes notificada pelo autor
(documento em anexo).

(14). É importante também ressaltar que foi omissa a


autora quanto à sua competência, pois, de acordo com o seu órgão regulador,
através da Resolução n. 858, de 23 de agosto de 2007, da Agência Nacional de
Transporte Aquaviário – ANTAQ, suas obrigações são às seguintes, vejamos:

“Art. 10. São obrigações da Administração Portuária:

(...)

XVI. delimitar, sob coordenação da Autoridade Marítima, as áreas


de fundeadouro para carga e descarga, de inspeção sanitária e de

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polícia marítima, bem assim as destinadas a plataformas e demais


embarcações especiais, navios de guerra e submarinos, navios em
reparo ou aguardando atracação, e navios de cargas inflamáveis ou
explosivas;

(...)

XVIII. estabelecer e divulgar, sob coordenação da Autoridade


Marítima, o porte bruto máximo e as dimensões máximas das
embarcações que irão trafegar, em função das limitações e
características físicas do cais do porto;

(...)

XXI. fiscalizar a prestação dos serviços portuários, garantindo


condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia, modicidade nas tarifas e
isonomia no seu acesso e uso, assegurando os direitos dos usuários
e fomentando a competição entre os operadores;

(...)

XXVI. cumprir e fazer cumprir as determinações da ANTAQ;

(...)

XXXVIII. cumprir e fazer cumprir as leis, as normas e


regulamentos, e as cláusulas do contrato de concessão, do convênio
de delegação, de ato ou instrumento, mediante o qual o porto
público esteja sendo explorado;

XXXIX. cumprir e fazer cumprir o regulamento de exploração do


porto baixado pelo CAP;

(...)

XLII. cumprir e fazer cumprir o plano de desenvolvimento e


zoneamento do porto, aprovado pelo CAP;

XLIII. cumprir e fazer cumprir as normas do CAP, visando ao


aumento da produtividade e à redução dos custos das operações
portuárias;
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(...)

XLVI. promover a remoção de embarcações ou cascos de


embarcações que possam prejudicar a navegação das embarcações
que acessam o porto;

(...)

XLVIII. suspender operações portuárias que prejudiquem o bom


funcionamento do porto, ressalvados os aspectos de interesse da
autoridade marítima responsável pela segurança do tráfego
aquaviário;

(...)”

(15). Como visto, os representados do réu têm direito


líquido e certo a liberação do espaço ocupado pela plataforma em comento por
três razões distintas e sucessivas: a perda de serviços pelo desvio de embarcações
que poderiam atracar no porto; a redução de seus salários; a baixa movimentação
do porto.

(16). Incontestável, por todas as razões supra referidas,


a presença consistente da omissão do autor, pois, não é de hoje que está
desvirtuando os fins do porto do forno do Município de Arraial do Cabo, pois,
além de estar utilizando o porto em questão como se fosse porto particular, vem
negligenciando reiteradamente serviços de competência dos Trabalhadores
Portuários Avulsos – TPAs, através de ausência de fiscalização junto aos
tomadores de mão-de-obra, quanto ao enquadramento dos serviços que lá estão
sendo desenvolvidos, de acordo com a Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993.

(17). Quanto às reuniões realizadas, em que estiveram


presentes os representantes das classes trabalhadoras envolvidas, bem como os
representantes diretos do Porto do Forno, é bom que se deixe claro que o que
estava sendo reivindicado era justamente a fiscalização nos serviços
desenvolvidos pelos tomadores de mão-de-obra, que não é de hoje que estão
tendo autonomia para definir o que é de competência dos TPAs, bem como o
fomento a concorrência no Porto do Forno, pela majoração de valores de
prestação de mão-de-obra dos TPAs. O que não corresponde com a verdade foi o
pedido de valores pelos órgãos de classe, o que seria até justo, se formos pensar
em medidas compensatórias pelos danos causados, mas sim a busca de um meio-
termo.
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(18). Quanto a mobilização carreada pelos sindicatos de


classe, mister se faz ressalvar que não houve uma mobilização que, como alegado
pelos representantes do autora, viesse a impedir o livre acesso de pessoas e coisas,
tampouco acarretou prejuízos de ordem financeira para mesma, pois, se está
havendo prejuízo financeiro para alguém, esse alguém são os Trabalhadores
Portuários Avulsos – TPAs, e tampouco houve ameaças ou qualquer outro tipo de
violência, restando assente somente uma reivindicação dentro dos padrões
eminentemente legais, em defesa de direitos incomensuráveis, pois a Constituição
Federal assim ampara, in verbis:

“Constituição Federal:

Art.9º - É assegurado o direito de greve, competindo aos


trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que
devam por meio dele defender.”

(19). Informa, outrossim, o autor, que denúncias foram


protocolizadas junto ao Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro,
FITITMARP, Docas do Rio de Janeiro, Antaq – Agência Nacional de Transportes
Aquaviários, no dia 11 de outubro de 2007, e espera, com isso, que as
irregularidades sejam sanadas.

(20). Finaliza o réu alegando que medidas infundadas


precisam ser rechaçadas pelo nosso ordenamento pátrio e por nossos pretórios,
que, vem diuturnamente pugnando pelo fim de utilização de bens públicos em
benefício próprio e para fins políticos, primando pelos princípios comezinhos da
administração pública, quais sejam, a legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, e o da eficiência.

Em face de tudo o que foi exposto, requer-se o seguinte:

(a). Que sejam julgadas improcedentes às alegações


ministradas pela autora, por não ter o réu incorrido em qualquer ato que pudesse
efetivamente ter turbado a posse da autora, mas sim uma manifestação
legalmente amparada em lei, rechaçando, assim, pedido infundado referente a
manutenção de posse;

(b). que seja cassada liminar de manutenção de posse


concedida, haja vista estarem ausentes o fumus boni iuris e o periculum in mora,
norteadores e balizadores de tal pedido, e por estar em descompasso com todo

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nosso ordenamento pátrio, reconhecendo, outrossim, a legalidade da


manifestação desencadeada;

(c). a improcedência do pedido relativo a interposição


de multa, bem como dos ônus sucumbenciais;

(d). a condenação da autora nas custas processuais e


honorários advocatícios, estes na proporção de 20% sobre o valor da causa.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova


em direito admitidos, especialmente documental, testemunhal e depoimento
pessoal do representante legal da autora.

Termos em que,

espera deferimento.

Arraial do Cabo, de de 2007.

Marcelo Carlos Castro


OAB-RJ 109.428

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