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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Programa de Pés-Graduagao em Arquitetura PROPAR CONVENIO PROPAR / PUCPR DISSERTACAO DE MESTRADO Alfred Agache em Curitiba e sua viséo de Urbanismo Braulio Carollo Orientador — Professor Douglas Vieira de Aguiar 2002 ce este trabalho a Rosang Braulio Laverda Carollo, pele constante apoio ira insepardvel, e meu filho Agradego a colaboragdo e atencdo cecebida de meus professores, em especial Douglas Aguiar, mea oveatadr e a todos anigns,representado por Luis Salvador Gnoato, meu compa ites formas me incor fs intituigdes e a5 pessoas ligadas a Preteitare Municipal de Curitiba, 1PPUC Casa da Meméria, hem como a Pnttcia Universidade Catiica do Parana, PUC-PR, através do Cars de Arquittara eUrbanismo, que failitaram o desenvalrinento deste ents. A todos, registro meus sinceros agra RESUMO Entre 1940 e 1943, na procura de uma imagem condizente com sua condigao de Capital de Estado e tentando acompanhar as grandes transformagées urbanas que ocorriam na época, Curitiba contrata o arquiteto e urbanista francés Donat-Alfred Agache (1875-1959), que recém executara o Plano do Rio de Janeiro (1927), para elaborar o Plano de Urbanizago para Curitiba. Fato que acaba se tornando o primeiro grande impacto urbano-arquitetdnico na sociedade paranaense do século XX. A presente dissertagao contextualiza essa proposta urbanistica, a partir da formagao profissional de Agache na Europa, sua participagao na Sociedade Francesa de Urbanistas, 0 modo didético de fazer urbanismo, sua experiéncia no Rio de Janeiro e demais trabalhos no Brasil. Além de um simples Plano de Urbanizagao para Curitiba, Agache demonstra técnica e habilidade em enfrentar problemas e habitos sociais, caracteristicas que impéem sua ampla visdo de cidade. 0 processo desencadeado por Agache em 1943, comparado com a realidade urbana anterior, revoluciona a relagao entre o homem e seu meio na forma de ver e fazer arquitetura urbana, acontecimento que deixa um legado cultural paradigmatico, com inimeros desdobramentos, fundamental para o urbanismo da Cidade de Curitiba. ABSTRACT Between 1940 and 1943, when the city looked for to reaffirm its image of Capital of State and tried to follow the great urban transformations that occurred at the time, the French city planner Donat-Alfred Agache (1875-1959), that had just executed the Plan of Rio de Janeiro (1927), is called to elaborate a Plan of Urbanization for Curitiba. This fact became the great urban-architectural impact for the paranaense society of the 20" century. The subject of this essay is the context of the urbanistic proposal, from the professional formation of Alfred Agache in Europe, his participation in the French Society of City Planners, the didactic way to make urbanism, his experience in Rio de Janeiro and his other experiences in Brazil. Besides conceiving a Plan of Urbanization for Curitiba, Agache demonstrated his technique and ability in facing social problems and habits and also his ample vision of the city. The process developed by Agache in 1943, in comparison with the previous urban reality, revolutionized the perception of urban architecture when the subject is the relation between man and environment. This event leaved a para- digmatic cultural legacy with innumerable unfoldings utterly important for the urbanism of the City of Curitiba. SUMARIO INTRODUGAO 06 ALFRED AGACHE E 0 URBANISMO FRANCES 14 ALFRED AGACHE NO BRASIL 28 Sua viséo de urbanism para o Rio de Jangira ——————-—~ 28 Demais experincias no Brasil mm nennnnnnennnennene BD ALFRED AGACHE EM CURITIBA 59 Curitiba antes de Agache - 59 A rececepgio do urbanista na cidade am 94 A concepgao de Agache para Curitiba — CONSIDERACOES FINAIS 71 BIBLIOGRAFIA 184 Agache', professor, tedrico e profissional atuante da Sociedade Francesa de Urbanistas (Société Francaise des Urbanistes - SFU), desenvolve seus conheciments académicas e profissionais no chamado Urbanismo Francés. Seus estudos se iniciam em Paris, na Ecole des Beaux-Arts como aluno do Atelier de Laloux’. Segue-se sua atuagao junto ao Museu Social (Musée Social)’ onde desenvalve atividade durante muitos anos e tem oportunidade de se familiarizar com os métodas sécio-cientificos de Edmond Demolins* A formagao de Agache é complementada pela pratica profissional exercida gragas a0 momento muito especial vivido pela Franga, entre fases de guerras, que Ihe propicia muitas oportunidades. Suas atividades se estendem da Europa, a América chegando até Camberra, na Australia Na década de 40, Agache 6 convidado para executar um plano para a Cidade de Curitiba. Traz consigo todo seu refinamento e formagao hist6rico-artistica e profissional. Inclui-se nessa bagagem, a enorme experiéncia adquirida pela pratica, de uma quantidade invejével de planos urbanisticos. Soma-se também, sua vivéncia como integrante da SFU e suas experiéncias como professor junto ao Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris (institut d’Urbanisme de I'Université de Paris}, criado por Marcel Poete, a partir da Escola Pratica de Estudos Urbanos e Administragao Municipal (Ecole Pratique d'études Urbaines et d’Administration Municipales) Agache também integra 0 corpo docente do Colégio Livre de Ciéncias Sociais - CLSS (College Libre de Sciences Sociales), onde convive permanentemente com sociélogos @ economistas muito compromissados com as teses reformadoras de Frederic Le Play’. Nesse contexto desenvolve seu interesse pela visdo cartesiana-positivista, praticando investigagao cientifica com base metodolégica, principalmente no campo da sécio-economia. Um dos fatos relevantes que Agache presencia com seu envolvimento nas academias, foi a famosa e histérica polémica entre os destacados intelectuais estudiosos da sociologia, Emile Durkheim e Gabriel Tarde: por um lado, "sate Ps, Per Suitaume (R617), enone «sig anes. rin um nto pte Imestagn cea pr plat ye eats fd, a 155,» tes Ede yates Cs ie Svcs. Puie aves Emp (HS) ea Flom Sui (HE) toe wis tessa rad aio aconusiaetanhem co engi dis, 1 as propostas relativas aos aspectos do «social solidarion, das questées da «consciéncia coletiva», das idéias e teses sobre a «divisdo do trabalho» e sua aplicagao metodoldgica (Durkheim); por outro, as questdes da «psicologia social», da difusao das idéias dentro do processo notavel do «aprendizado através da imitagao» (Tarde) David Underwood? (1991) expde resumidamente esse quadro da seguinte forma: «Primeiramente foi a linha positivista da escola de Fédéric Le Play, praticada por Edmond Demolins (1852-1907), editor do jornal La Science Sociale, no qual Agache publica muitos artigos. Demolins e seus seguidores desenvolvem o método monografico de Le Play @ nao medem esforgos na classificagao dos fatos sociolégicos correspondentes. Uma Segunda corrente foi a psicologia social de Gabriel Tarde (1843-1904), 0 mais importante sociélogo antes da chegada a Paris em 1902 do responsavel pela moderna sociologia Francesa, Emile Durkheim (1858-1917). *UnDeAMDOD. 04. ad Apache, Foch Seip. ad Mer anism in ranch avd Bra JA: Jone 191.9135 (af. othe 0h pot bra stl f Fd U led by Eioud Dems (152-10 eto the joa L ieee scl, in mh Agee paisa sel aces Dn ad isle taped he nonpaphi ebd o LPayan sesd peat forces in th lassiiatin af silica “Tat” The sucend exert wast Tare (A219), the fem sl moder fren socio, Eile Dart (1ESE-I97). ad's sc cial pyle in Pris pic othe ail in 182 al he dae 4 of ca aleacs fess finan cet spay, ak he enpasie the ingens ‘nmasiations i the disi nas The hit erent waste soi ily a6 na pileup 1 Duin, has wo aati his maori, hails oe Bein jour Camde he india ad scl liay™ thang he lini comin acti athe ine pian oie ats, A sociologia de influéncias culturais de Tarde, focada na imitagao e difusao das inovagées a partir de um centro para a periferia, enfatiza a importancia do processo de difuséo na comunicagao das massas’. A terceira corrente foi a ideologia social e a filosofia moral de Durkheim, como isso foi articulado nos seus principais textos, os artigos do jornal Durkheiniano L'Anée Soviologique, em seu mais celebre debate com Tarde, no relacionamento entre a individual e o coletivo. O sistema de Durkheim forgava a subordinagao da consideragao individual sobre 0 total, social solidério, através de imposigéo moral da consciéncia coletiva e seu método sociolégico de aplicagao universal.» "amon, us p18, Ge heey aed rnin abl ar, se Tako. Gai Tat sn Sci anes 198, Accoring Cl, Ts 2 Seon, 10051, * nDenMOOD. Ops Gt 15. The eatae om Darin (1850-187) i eho, ud his intone is iment se espe Sots, Ene uti sila Wn, Raronsener, 1757. Aan ae Sho: A Sytem ad Coops bilionph,ona, 187; Ha lnigtenmnt and Despair; A istry of Sucaloy, Cambie, 18 Devaney, alent Cis, 1nd ie 1, Din’ am. Wit, ele tril ssa, Fars, 100; Ues eyes 1 métade sa ais ESL 105 he ls Scilla, eno, 10, e Suite Pai 1; Leelee fa viene. Pris 1812 I emery Fens of Reus Li on, TEE): swale (Cous de 14021803 2 le Son ducati. leene, 1880) ' caine 12 an 40, du hey haa ined yas heap te Ht esis, ods, ad authariy, while Tare cepseated the triton yeni’ the ici tnd, Outi’ sit it aston ia tha arto nn gun ites, Gail ad, 710, Esse debate 6 um exemplo do nivel cultural da Franga e de Paris que Agache vive. Momentos como esse, também integram e despertam em Agache, seu permanente interesse pelos estudos do processo social. A sociologia foi seu campo e motivo de agdo preferidos. Essa visio marca toda sua vida profissional e transparece na forma de trabalhar e agir. Seus escritos, planos e projetos urbanisticos confirmam esse interesse. No texto’, Reconstruire nos cités détruites, Notions d’urbanisme s‘appliquant aux villes, bourgs e villes, verdadeiro tratado de urbanismo compromissado com aspectos sociais, pode-se sentir essa visdo, Trata-se de um manual de novos julzos a ser utilizado na reconstrugao das cidades francesas arrasadas na Primeira Guerra Mundial A atuagdo de Agache se desenvolve nessa Paris efervescente do inicio do século XX, onde acompanha de perto as politicas francesas e européias que antecedem @ petmeiam a Primeira e Segunda Grande Guerra. Nessa oportunidade engaja-se como profissional, nos movimentos de reconstrugao, Colabora de forma integral e participa das grandes mudangas que se seguiram. Contribui, na prdtica e na teoria, com idéias que transformam e fazem reconstruir toda da sociedade atingida pelas querras, em especial, nos aspectos relacionados com o urbanismo. Cria manuais de procedimentos, teoriza e publica diversos trabalhos, como o executado no Rio de Janeiro"? denominado «a Remodelacion d'une Capitale (Paris, 1932)» "a ousing— uot a ene, 10, Fmam Edt a et jake (line eps Svat), 1, ‘nyse oat; sada ot ile tes, pa Canara Comic eMac; L ane il 104 com sai hans ~ Ls dcomets a pays, Be Flic ea — Re te ss is vis, ies banon sépquant ail, oars ies, bia Aran Cale, 87 " ABAEE, ont Ald La endetain €e Capt: Anapenen, tension Enblissemnt Cole oe Uns, Sci unpre € hes, Pri, 189 Sem contar os inémeros planos executados para diversas cidades francesas da importancia de Dunquerque, Poitiers @ outras. Créditos que integram a escola francesa de urbanismo representado pela Sociedade Francesa de Urbanismo, a SFU Os novos enfoques utilizados pela SFU, com posicionamento mais cientifico, mais metodolégico, se contrapoem ao modelo tido como exemplar na época desenvolvido entre 1830 e 1848, em Paris, e executado por Haussmann. Proposta copiada em muitos lugares, inclusive no Brasil, a exemplo das reformas implantadas por Pereira Passos no Rio de Janeiro. Como se pode ver na «Histéria de la arquitectura modernan, de Benévolo (1999), uma das marcas das interferéncias a partir de Haussmann, foi o arrasamento indiscriminado de parte da cidade antiga, Esse conceito, de earrasamenton, difunde-se em todo mundo, de forma, imperativa, sem maior respeito com as populagées instaladas nesses locais. Plano muito apregoado por técnicos e higienistas como medida sanitarista e até como remédio para os males urbanos da época Em nome de uma moderidade, esse modelo, em especial o detalhe do «arrasamento», fica denotado como ideal de interferéncia urbana, com vistas a recuperacdo urbanistica de éxito. Obras executadas em geral sobre parte de cidades, comprometidas pela ocupagao desordenada, em consequéncia do crescimento explosivo da época industrial. 0 modelo haussmanniano fica caracterizado pela nao preocupagao da cidade como um todo e também por ser ainda uma intervengao pontual ou setorial, Sua agao remanesce ainda da «época dos melhoramentos». Independentemente dessa visio critica, a obra realizada por Haussmann aleanga uma enorme projecdo e influencia quase todas as administragdes das grandes cidades nessa 6poca, Transforma-se em exemplo de interfer@ncia urbana de grande sucesso O novo posicionamento, do Urbanismo Francés, também Sociolégico ou Urbanismo Formal, proposto pela SFU @ por Agache, além de utilizar novas técnicas procura maior precisdo em todos os sentidos se valendo de inovacdes, como levantamento por aerofotos e projegdes mateméticas conquistadas através de pesquisas cientificas, a partir de informagées sociais e cadastrais. A cidade enfocada como um organismo, um todo vivo e nao fragmentavel. Enfatiza também um crescente e permanente envolvimento da sociedade nas discussdes urbanas. Dentro desse enfoque, prega a conscientizacao de todos como ponto essencial para 0 sucesso de qualquer intervengao na cidade. Para melhor compreensao de Agache em Curitiba, opta-se por um caminho que percorra seu longo processo de aprendizagem no inicio do século XX, sua atuagéo como profissional a construgao de sua visdo urbanistica, seu urbanismo praticado no Brasil, a comegar pelo convite formulado para desenvolver uma proposta para 0 Rio de Janeiro. Sempre tendo em vista 0 objetivo inicial, desenvolve-se estudos sobre o Plano proposto e apresentado para Curitiba, enfatizando os principais pontos arquiteténicos @ urbanisticos. Procura-se também mostrar 0 modo de relacionamento que Agache implementa no desenvolvimento do Plano, seu modo de agir com a populagao e administragéo municipal. Procura-se evidenciar as caracteristicas de seu exercicio profissional e mostrar seu dominio no campo da ciéncia social, que a SFU transporta a0 novo mundo do «urbanismen, assim por ele batizado. 2 A forma contextualizada e comparativa ¢ 0 caminho que se trilha para enfatizar seu método de trabalho, seu urbanismo e 0 Plano proposto para Curitiba. Como fechamento, procura-se mostrar uma Curitiba atualizada, como testemunho das idéias e concretizagoes formuladas por Agache. ALFRED AGACHE E 0 URBANISMO FRANCES Na Europa, entre o final do século XIX e a Primeira Guerra Mundial ocorrem nas cidades grandes transformagoes morfolégicas, econémicas e sociais que motivam a sociedade tomar novos procedimentos urbanos Dentro deste novo quadro que envolveu todo tipo de inovagées, surgem novos servigos e equipamentos, que também modificam os tradicionais espagos e paisagem das cidades. Essa nova 6tica urbanistica exige que técnicos comprometidos com o assunto, passem a observar mais 0 lado cientifico. E na constante busca em dar respostas positivas as grandes necessidades sociais, muitas situagdes urbanas so questionadas, a exemplo da habitacao social @ sua produgao. Procura-se néo sé aumentar numero de habitagdes, mas melhorar também os aspectos relativas a higiene, salubridade e distribuicao espacial. Na tentativa ainda de continuar avangando, as cidades recebem novas fungdes, bem mais especificas, como a industrial, comercial ou mesmo habitacional. Para efetivagdo e manutengao dessas tendéncias, as cidades também recebem a incumbéncia de previsdo de reas ou mesmo de setores visando antever a expansfo urbana Todas estas inovagées forgam instalagdo de mais infra-estrutura, principalmente em servigos piublicos, como redes de agua, energia elétrica, esgoto, gas etc., que na época era novidade. Esse movimento que se institucionaliza e se desenvolve na Franca, fica conhecido e recebe muitas denominacoes como: Sociological Urbanisme Parlant, Urbanismo Sociol6gico, Urbanistica ou Urbanismo Formal, Urbanismo Cientifico ou simplesmente Urbanismo Francés. Catherine Brant! (1996), nos lembra que este movimento francés possui alguns momentos fundamentais, a comecar pela conferéncia de Town Planning, organizada em Londres 1910, por Raymond Unwin e 0 Royal Institute of British Architects, com 0 objetivo de colocar em discussao 0s «problemas arquitet6nicos que abrangem o crescimento das cidades». Nessa ocasiao, foram expostos projetos, documentos @ obras tedricas, onde Eugene Hénard e Robert de Souza, integrantes do Museu Social, apresentam com destaque novos planos para Paris, «Nés podiamos somente exibir 0 passado de Haussmann, que data de sessenta anos; as estrangeiros nos oferecem obras vivas do presente, @ de um presente fundado sobre um principio totalmente diferente». Na oportunidade Hénard langa o texto «As Cidades do Futuro» (Les Villes de I’Avenir), muito difundido em revistas especializadas na época. "ana, cat Dea le gan asin, us ails apliaa. eCiade pva «agi. lat Quis isi «Rta ema rgeigi) Eager, 198. p 172 A presenga francesa, comandada por Hénard comega a aparecer. Destacam-se como vimos, Robert de Souza, e Agache. Entre os estrangeiros figuram nomes como: Howard, Stibben, Ebeestadt, Burnham, Patrick Gedes, Mulford Robinson, que também comparem nesse encontro em Londres. No mesmo ano, situagdo similar acontece quando do Congresso de cidades e exposigao de planos de cidades (Staidtebau Ausstellung), em Berlim, logo apés 0 concurso «As transformagoes futuras de Berlim» Segue-se uma série de importantes encontros, entre eles 0 «Primeiro Congreso Internacional sobre construgao de cidades e organizagao da vida municipal» em Gand, 1913. Nesse congresso foram apresentados projetos de Bérard @ Agache para duas novas capitais, New-Guayaquil, no Equador, ¢ Yass Canberra, na Austrdlia, ambos premiados com medalhas de ouro Pode-se observar que nesse periodo, os arquitetos da corrente modernista, que mais tarde discordariam da morfologia das cidades tradicionais, ainda nao tinham se posicionado sobre o urbanismo, conforme nos lembra Lamas (2000): endo se ligando ao ordenamento urbano, permitiram 0 crescimento da Urbanistica Formal até o final da Segunda Guerra Mundial, quando passam a influenciar definitivamenter’ "AS, ot Marfa aoa da ise. Feta Clete bn. ibe. 200. 18 Lamas (2000) também em seus estudos sobre a «Urbanistica Formaly, dé esse entendimento pelo lado visual: «A escola francesa caracterizada pela utilizagao de tragados classicos, quadriculas, pracas e perspectivas — trabalhadas a aquarela e carvao, em impressionantes desenhos que fixavam o ordenamento visual Estas caracteristicas fariam do urbanismo um artigo de exportacdo, prestigiando a irradiagdo da cultura Francesa»®. Por outro lado também 6 enfatizada, por Marcel Poate, como uma «ciéncia da observagdo» que seria: «um organismo com vida propria que ndo a soma das vidas particulares» Montaner (1997) sintetiza este perfodo conturbado de in(cio de século como: «se consumiu em uma grande transformacao ao abandonar paulatinamente as estruturas da realidade e buscar novos tipos de expressao no mundo da maquina, da geometria, da matéria, da mente @ dos sonhos, com o objetivo de romper e diluir as imagens convencionais e ir buscar formas completamente novas. Os recursos basicos destas transformagées foram os mais diversos mecanismos que possufam na abstragdo como superar as estruturas das artes representativas: invengdo, conceituacao, simplificacao, elementarismo, justaposi¢ao, fragmentacdo, interpretacao, simultaneidade, associagao ou collagen’. Nesse contexto, a Franga promove e institucionaliza este movimento, que teve seu inicio a partir do Museu Social (Musée Social), e na seqiéncia, a Sociedade Francesa de Urbanistas (SFU). Sempre apoiando a divulgagao dessas novas idéias, em especial nas duas revistas periddicas "US, J EE) Ops 25 * MDLTMER, Josep ML U2 00 Gusto, AS, Beton 1997. 9.8 dad sopra, Arutectr, ate y pncenient el site da Sociedade. Uma se encarregando da divulgagao @ propaganda, Le Mouvement Social, sucedida, a partir de 1904, pelo Bulletin da Sociedade; e outra dedicada ao estudo cientifico dos fendmenos sociais a partir da observagao met6dica dos fatos, La Science Social. A SFU® nasce a partir da Segao de Higiene Urbana @ Rural do Museu Social de Paris (S.H.ULR. du Musée Social de Paris}, onde Agache trabalha a partir de 1902. Durante esse periodo, Agache se incumbe das tarefas administrativas e se envolve por muitos anos. Nesse proceso, chega responder pessoalmente por todos 0s assuntos, e por agilidade, fornece seu préprio endereco, como endereco institucional. Sendo um dos fundadores e principal executivo da SFU, obriga-se a manter contato permanente com os associados @ com personalidades de destaque do mundo politico. Nessa sua fungdo, interage com colegas, a exemplo de Eugene Henard®, que foi seu primeira diretor, e outros como: Henri Prost, Leon Jaussely, Forestier, Hebrard, Parenty, Jacques Gréber, De Souza, Tony Garnier, Marcel Podte No Museu, Agache também tem a oportunidade de se relacionar com André J. Siegfried, um de seus diretores, que posteriormente assume o Ministério do Comércio da Franga. Como Ministro e no decorrer de sua carreira, Siegfried, continua a promover a SFU, "LIAS, Jot Opus ip, 28, 88 Fada om 182, 00 primes membas ondadrs for el at, Men Pas, fape Mana Loe sel, led yeh eink Aun, nd eh, foes Head Feresie Pare, De Sua Tony ae, «Gees isle, presidente basin "Arita, wanna (848-173). Publius om 1903, om Pais, tbs sures tantra 6 ai Inert 4 Cato (rane ilar abl, oer edens vei om asagen sive disia). foie axa eam de ams paraded Pai. Nesse sentido, a partir da Primeira Guerra Mundial, instaura uma série de dispositivos legais e administrativos visando implementar 0 Urbanismo Formal praticado pela SFU @ sua nova forma de se fazer urbanismo Um desses exemplos ¢ a promulgagao da «Lei Cornudet’» Legislagao que obriga todas cidades acima de um determinado porte possuir um plano regulador urbano. Essa nova exigéncia agrega ao urbanismo novo valor, mais coerente com sua crescente importancia. 0 urbanismo passa a ser visto como matéria culturalmente exportavel e com importéncia econémico-social para a Franca Dentro dessa politica promocional, a Franga utiliza com competéncia todo veiculo de comunicacao disponivel na época, destacando-se as famosas Exposigdes Mundiais do inicio do século, Nessas oportunidades, a SFU se encarrega de expor seus trabalhos e promover palestras e a diplomacia francesa, cumprindo seu papel, convida autoridades de todo mundo para participar do evento, como uma das maneiras de promover este novo produto. Desta forma o Museu Social, sociedade fundada para 0 desenvolvimento da iniciativa privada e da divulgago da ciéncia, auxiliado por campanhas na imprensa, gradativamente passa a receber novas e importantes fungoes, As responsabilidades aumentam e se tornam permanentes. Assumem a coleta, estudo, desenvolvimento @ interpretagées das estatisticas no plano social @ econdmico de Paris e, num segundo momento, de toda a Franca, Os encargos passam a ter cardter oficial @ de acesso publico a toda sociedade. "tide 14 te wage de 181 Ayrasestta ple Minis Cnudet Ohigoa ta aca com mais 1.0 atts 5.10 guise crscinein sper TES, ninterioexeiseceneamris ‘ingen, ess um plae stro plate aha, Como integrante do corpo de técnicos do Museu, Agache estreita suas relagao néo sé com a sociologia, mas com todo 0 mundo experimental que ali se desenvolve; também passa a conviver diariamente com todo tipo de pesquisa, coleta, andlise, aplicagao e interpretagdes de pardmetros s6cio-econdmicos, fonte e base permanente de informagées para desenvolvimento de seus futuros trabalhos. Conforme Catherine Bruant, 0 proprio Agache testemunha em 1935 que: «foi a combinagao particular de seus estudos de Ciéncia Social com a arquitetura que 0 conduziram ao urbanismo. Mais do que preocupacées morais ou doutrindrias de agao social ¢ um procedimento cientifico de projeto que o urbanista Agache vai encontrar junto a Ciéncia Social. Ela o faz passar de uma tipologia social a uma tipologia espacial e autoriza a tradugao formal da formula social de um territério no planejamento dos diferentes elementos que _condicionam uma aglomeracao urbana. A partir desse encontro, concebe a idéia de uma cidade organica onde as formas sociais se superpéem e onde a previsao consiste em reformar para curar, a fim de indicar o significado de uma evolugao natural dos tipos sociais e espaciais. Disto ele deduz o elemento central de sua doutrina urbana: 0 zonning como planificagao urbanistica dessa evolugao positiva da cidade.»* Agache & convidado a participar de palestras no Rio de Janeiro gragas a sua permanente atuacao frente a SFU, que Ihe propicia essa oportunidade. A presenca constante de seus trabalhos, juntamente com todo 0 grupo da SFU, nas feiras internacionais além de congressos @ encontros, causa impressao positiva na sociedade especializada. 0 convite para trabalhar no Bra como também em Curitiba, se origina dessas agoes, "HRUAM, Cn ii «Pes (105) pas it. 186 u A sinergia entre o Museu Social, a SFU com seus associados intelectuais, novos urbanistas, sociélogos, historiadores, economistas, empresdrios estabelece condigées para aflorar esses novos entendimentos sobre as interferéncias nas cidades. Esse grupo, como vimos, a partir do desenvolvimento da sociologia, se contrapdem a urbanistica francesa desenvolvida até entdo baseada em Haussmann, Essa visdo mais cientifica e apoiada em pesquisas sécio-econdmicas se apresenta cada vez mais metodolégica. A confirmagdo se faz, na pratica, através dos numerosos planos*, onde a SFU teve oportunidade de aprimorar sua metodologia, Tanto nas experiéncias no continente Europeu, como no mundo colonial da época Os trabalhos apresentados pela SFU também se difundem e se notabilizam mundialmente pela competéncia, qualidade, seriedade. As dltimas publicagoes que tratam especificamente desse assunto, como em José Lamas (2000), atribuem essa importancia ao conjunto da obra. A SFU nesse seu conceito encerra o tempo os planos parciais, e parte a enfocar a cidade cada vez mais como um ser vivo: um todo nao passivel de segmentacao. David Underwood (1991) em sua tese comenta: «Para 9s socidlogos ¢ economistas, do Museu Social e os novos urbanistas da SFU, higiene urbana, progresso moral @ prosperidade econdmica dependem nao s6 de uma boa circulagdo™, mas também de uma boa organizacao social @ das disponibilidades de dados confidveis socio- "Gans ei conus om enue intencinnie eel de lun bales pr mento (00: sueda, 80, ana, Toes, Geli — Jue Gaya Heda, 810; amd 103 (opr motte uy), cata fo Usha — gad Ger; Padi, aw, Monta ana — Jaques Gir’; Hate Coablanea, Fay, Manabe, Mela, feita, lai, Istanbul, 1 plan da opin Pisin yey. Jean Hae Fat; Buns ies, Prgue Cusde "tia, Pa, ton Gia, anf: Salis 91, Ba, ug, a Pon Pa eh — He "aba Heroes cater de eltion n econdmicos, através dos quais as organizagdes possam estudar e fazer urbanismo. Um dos maiores acertos do Museu Social foi demonstrar para a categoria profissional, através de seu trabalho, convincentes andlises estatisticas, com ilustragées, grdficos, tabelas, como nos podemos encontrar nos planos de Agache, um sucesso de variedades @ ensinamentos de como fazer planejamento»"’. Bruand!? (1997) também observa sobre Agache itens similares a Underwood Para a SFU, este novo modo de desenvolver urbanismo possui um entendimento multidisciplinar. Engloba, além da sécio-economia e da higiene, 0 proprio progresso material e humano, Isso, de maneira global, confirma-se nos projeto de Agache e diretamente nos planos para as cidades do Rio de Janeiro e mesmo de Curitiba, a ser enfocado nesse trabalho. Através das anotagdes abservadas em Underwood, Bruand e Catherine Bruant ficam-se certificadas as principais preocupagdes de Agache, da SFU e do urbanisma praticado pelo Urbanismo Formal Francés, que formam um idedrio a ser seguido ° MMEEWOOD, BA fed Aaee, rene Sui, and re Uhm in neh Br, ane 190, p19, adage propia fa th saves, af ennai ofthe Moste Sci 6 (he ea bans te 51, tn Agena pass, ad ean prspry depend ot ast 0 go ciation, bu as mgd scl expanicion ado thea of kl saiacnoie ata hough wih it egancain cad bead a etitd akin Ooo te jag ofthe Maat Sci wa sae te wah se, hugh labora, iio eatisial anion ingress chars, ale, nd raph sucha efi ie hgh play, be sacess avai fate pang erie, "ARUAD, Tes. Ci 9.35 mi al onde tna ta 25 egal asia lees ide aia: acs 0 des nea anion coma ea dpa ets ue ian ses sida gris arts bir, asia al, eae ts cosa) asaya e mua de bites, ilies «2 eat aes is, sue dviom sr item sbsl. faa lo spots psp rama ciel ign enw snes pias uel cebu sa ype yr a dais. n Levando-se em conta que estes fatos antecedem © movimento modernista, vé-se também que o urbanismo praticado por Agache tem mais a ver com a configuragao de uma cidade tradicional, do que as propostas baseadas nos principios modernistas. Sdo por detalhes, como a questao do lote e quadra, que se pode identificar, pois Agache define claramente seus limites, separando claramente o pablico, do privado. 0 modernismo, ao contrario, explora um conceito de nao divisao e da continuidade espacial Verifica-se hoje que os caminhos trilhados pela corrente modernista e 0 urbanismo praticado pela SFU se contrapuseram em muitos pontos. Principalmente frente a modelos como o Plan Voisin e a Ville Radieuse, que resumem 0 ideal da cidade modernista, com extensas reas, construgdes verticalizadas, pilotis, permitindo visuais abertas € conseqiientemente liberacao do solo urbano. Estas duas propostas, além de sintetizarem as visoes modernistas, compdem 0 processo de formagao da cidade contemporanea e resumem 0 pensamento sobre ela, imperando logo apés a Segunda Guerra Mundial As propostas formuladas pela SFU pregam uma cidade desenhada e voltada para a escala do homem, com ruas, quadras e@ parcelamento em lotes individuais; com urbanizagdo estruturada, eixos hierdrquicos, valorizacéo de seus aspectos monumentais, sem esquecer pequenos espagos abertos como pragas, arborizagées e percursos. Essa posicéo se enquadra nas leituras mais contempordneas, feitas por Rossi, Aymonino e os irmaos Krier na década de 60. Nesse momento, os arquitetos redescobrem os valores da cidade tradicional, com suas complexidades, arquitetura e significados, questionando as propostas modernista, que resultaram na perda de a identidade, segregagao de bairros ou deterioramento geral, que Jacobs" (1965) muito bem critica Lamas (2000) também chega a comparar esse urbanismo contemporaneo, 0 mesmo visto por Rossi, Aymonino @ os Krier, por ele denominado de «Novo Urbanismon, com 0 «Urbanismo Formal» praticado pela SFU. Em seu ponto de vista, o urbanismo contemporaneo, 0 Novo Urbanismo, pode se identificar como um urbanismo: «que tem centrado a sua atengao em torno das questdes da forma urbana, recuperando para a cidade espagos simples quanto tradicionais: a rua ou a praga, e elementos morfolégicos de desenho como Arvore alinhada ou continuidade dos volumes construidos e das suas fachadas», Nessa linha observa ainda que existe a mesma vontade de continuacao dos espacos da cidade antiga. Reconhece o valor do desenho na producao da cidade coloca a arquitetura como disciplina no complexo sistema de produgao do espago urbano. Como foi visto, o Urbanismo Formal, além de suas preacupagées espaciais, obtém toda sua fundamentagao social e se desenvolve apoiado nos ensaios e modelos tedricos positivistas de Le Play. A isso, somam-se as experiéncias e entendimentos sécio-psicolégicos de Gabriel Tarde de Emile Durkheim, que propiciam as bases cientificas para sua formatagao metodoldgica Agache, por permanecer um longo periodo na instituicao, se responsabiliza pelo embasamento teérico da SFU, Underwood'® (1991) comenta que Agache passa a divulgar ACOH, Jone, The Dat adie fat nian its ~The Flr of Tu asin. Penske Asai. Visa, Pic in Pi le, 118, "(A MAS 2 (008 Ops 9.28, " HMBERWDD, (181) bus Gi 9.135 euebe was egsed oth esa wea af arses of Foch sacilgy btwn 180 an 1816, u suas idéias e métodos por todas as mais importantes escolas de sociologia da Franga entre 1890 e 1915, a lembrar, o primeiro curso formal de urbanismo na Franca, ofertado pela SFU junto ao Collage Libre des Sciences Sociales, em 1914, em Paris. Nota-se também, em suas exposicdes, palestras ou defesa de seus planos, que Agache assume sempre um posicionamento de professor. Nessas ocasides promove didaticamente seus conceitos sobre essa nova disciplina, ‘0 urbanismo. Termo, alias, que Agache assume em parte a paternidade, pois 6 um dos primeiros a usar e promover do termo «urbanisme», como ele préprio cita em 1930: weste vocdbulo: urbanismo, do qual fui padrinho, em 1912», E continua, «6 agora universalmente empregado, sendo mais expressivo do que 0 vocdbulo alemao stadteblau 0 Inglés town planning, por serem estes Ultimos mais aplicéveis as construgdes»'*. Todo esse esforgo cresce em conjunto com a SFU, logicamente se sobrepondo, as bases tedricas da Beaux-Arts e, como Underwood (1991), as trés das mais, importantes correntes sociol6gicas francesas. Desta forma, este novo urbanismo francés estabelece uma metodologia cientifica para execugdo de planos com muita praticidade @ eficigncia, sempre abordando com pluridisciplinaridade a questao e centrando suas preocupagdes no «ser urbano» (tre urbain)"” Sobre esta nova forma de fazer urbanismo, além de textos teéricos, destaca-se 0 curso realizado na «Exposi¢ao Internacional Urbana» realizada em Lyon, em 1914. Nessa oportunidad Agache realiza 0 curso «Plano de Cidades», " AGAEME. A. (190) Opus Ei i, idade do i de Jn. 8. WU, Mae, ndoctin 4 Fahne. Bin. Pai 1928, AS Opus it. p28 % onde promove a nova disciplina «urbanismo», que comegava a ser difundida metodologicamente como disciplina Encontra-se em Marcel Poéte, um dos mais destacados integrantes da SFU no ensino dessa nova investigagao urbana, e que cria os fundamentos de andlise histérica e morfolégica das cidades. Para Poete, o urbanismo seria a «ciéncia da observagao» e «para qual cada cidade seria «um organismo com vida propria que nao a soma das particulares»'® Em Agache pode-se também encontrar artigos teéricos, a exemplo do que publica em «Cidade do Rio de Janeiro, remodelagdo e embelezamento. (Paris, 1930)», considerado um tratado metodolégico de urbanismo. Nesse, Agache se preocupa com o perfil desse novo profissional: «0 urbanista nasce urbanista; é um dom inato» e ainda «€ preciso para ser urbanista ter a sensibilidade, sentir como um artista e poder exteriorizar, plasticamente, 0 quadro onde todos os efeitos sociais da vida se manifestem em imediata coordenagdo». Neste contexto de agitagao revolucionéria do inicio do século XX, a escola francesa de urbanismo se distingue pela presenca e pelo debate tedrico, por seus experimentos @ por suas grandes realizagoes. Pode-se afirmar que o Urbanismo Formal praticado pela SFU, por sua producao foi responsével pela irradiagao internacional do urbanismo, tanto pela quantidade como pela qualidade. $6 lembrando, seus trabalhos, foram executados para os maiores centros urbanos da época, como Paris, Sao Petersburgo, Rio de Janeiro, Chi- cago, Istambul, Handi, Filadélfia, Otawa, Montréal etc. "UA, (OE) Bus Gi 28 % Agache colabora, produzindo, o Plano para Camberra, em 1913 onde recebe a «medalha de ouro» como prémio pelo concurso; Plano de Urbanizacao de Paris; Plano de Urbanizagdo de Dunquerque; Plano de Urbanizagao de Poitier; Plano de urbanizagéo de Dieppe; Plano de Urbanizagao de Orleans; Lisboa, Costa do Sol, 1933, além de projetos de arquitetura como, La Boucherie Modéle E.C.° Paris, 1917 e alguns equipamentos como La Maison de Tous, na Exposigao de Artes Decorativas,1925; além da Exposigao do Progresso da Ciéncia em Lille, 1939, independentemente de suas estadas no Brasil, 1927 e 1939 0 Urbanismo Formal praticado pela SFU acaba, abruptamente, com o fim da Segunda Guerra Mundial, em pleno esplendor de sua maturidade e em franco exercicio, Lamas'® (2000) confirma: «ainda devidamente apetrechada e pronta para responder qualquer desafio, sendo substituidas pelos novos, da arquitetura moderna, funcionalistas, através de acao do Ministro Claudius Petit, com a contratagao de jovens a partir das Unités d’Habitation de Le Corbusier». Soma-se a estas agées, as alteragoes na Lei Cornudet” que desestimulou a obrigatoriedade de plano reguladores em cidades acima de 10.000 habitantes, que mantinha em atividade a grande maioria dos profissionais na Franga na época AWA. 2200) Opus p26 Lida 14 tu nage de 118 Apeantata ple Minis Corde Com svi ara aa ita tom ase da TOAD baie, ue eons, psu um pla 0 gear aha, Apa o88 conaga a neta opti pl 2. Etaoin ettl « camprnate¢teserohiente do raion patie pl SFU, Fra, n ALFRED AGACHE NO BRASIL Sua viséo de urbanismo para o Rio de janeiro A importéncia de se analisar, inicialmente, a situagdo que se verifica no Rio de Janeiro com a chegada de Agache, prende-se a disponibilidade do livro' de sua autoria, conhecido como «Cidade do Rio de Janeiro, Extensao, Remodelacao, Embelezamento», publicacao sobre 0 Plano por ele proposto para essa Capital, que engloba uma sintese da viséo urbanistica de Agache, que o torna um tratado de urbanismo. Este urbanismo, que possui varias denominagdes 6 chamado por Underwood de «a Sociological Urbanisme Parlant», que se pode entender como um urbanismo social, com potencial falante ou pedagégico. Lamas se apropria do nome, «Urbanismo Formals, para desenvolver seus estudos sobre morfologia urbana nessa mesma época na Franga. A razo maior de Agache vir ao Brasil trabalhar, é o problema crénico, apresentado pela cidade do Rio de Janeiro, de esgotamento das possibilidades de assentamento urbano nos entremeios de sua configuracao topogréfica. u No século XIX, 0 Rio de Janeiro, ainda Capital do Brasil, apresenta um crescimento muito acelerado, que densifica @ aumenta sua concentracao urbana em partes da cidade, comprimindo-se a nivel critico entre suas antigas estruturas coloniais, obviamente enfrentando cada vez maiores problemas urbano-sanitarios. Com 0 permanente apoio do Governo Federal, a cidade do Rio de Janeiro anteriormente a vinda de Agache, ja tinha permitido que Pereira Passos, a partir de 1904, executasse grandes intervencées urbanas, que rasgam e abrem sua velha malha, como Haussmann (1850-70) fez em Paris. Esse exemplo € sequido pelo Rio, como em muitas outras grandes cidades, pelo resultado aparente e enorme sucesso aleancado, comprovando ser 0 parmetro de melhoramento urbano no final do século XIX de melhor aceitagao 0 Plano de Haussmann para Paris atinge somente uma parte da cidade de Paris. Permeia sua antiga malha medieval com implantagao de grandes eixos de arruamentos e estabelece um ordenamento para a arquitetura, disposta ao longo destas novas avenidas e ruas. Nessa oportunidade, surgem também novos conceitos de circulagdo para vetculos e pedestres, a exemplo das rotat6rias e galerias cobertas. A cidade, rapidamente obtém uma leitura espacial mais clara e aberta. O poder pablico aproveita para implantar mais infra-estrutura de servigos como 4gua, esgoto, energia etc. Enfim, realiza-se uma corajosa interferéncia urbana, que, no final, 0 mundo da época vé como um enorme sucesso. A obra realizada por Haussmann & a Paris tradicional que se conhece hoje, com suas edificagdes obedecendo ao mesmo critério de alinhamento e altura, e com seus telhados formando as famosas «mansardas» 4 Ain de Janeiro — (4) Mote do Castle, Vista dy ladeira de acoso i de Janice — (08) Marco de Castle om deneligie Vista do compenn do Cig Jesute patvalnente denolid, iv de Janeiro — (4) fspago ering pela arasaneate io Mora do Catala, A cidade do Rio de Janeiro, sempre em busca de melhoramentos, procura se espelhar em interferéncias de comprovado sucesso, vé a experiéncia de Paris como possibilidade de inspiracao e uso. Nessa ocasido, se inicia uma fase de obras em busca de espaco para atender suas necessidades imediatas de expansao que visava resolver, como vimos, os tormentosos problemas de saneamento e alta densidade de alguns bairros de baixa renda, além de buscar, 0 na época chamado, embelezamento urbano. Dentro dessa linha, uma das opgdes vista como solugdo 6 o arrasamento de morros em busca de dreas mais abertas. O Rio de Janeiro, optando pela solucao, permite a derrubada de morros que moldavam seu relevo e que também configuravam a malha de antiga cidade colonial 0 morro do Castelo foi um dos escolhidos para 0 arrasamento. Estava incrustado entre outros, com uma ocupagéo muito antiga e pobre, uma favela tipica do Rio de Janeiro, cheia de mocambos, expondo uma desordem que nada tinha a ver com a imagem de uma Capital federal Nesta empreitada, cria-se um grande vazio urbano e faz-se desaparecer testemunhos e marcos arquiteténicos referenciais de outras épocas, como 0 Colégio Jesuita, prejuizos incalculaveis, no devidamente avaliados na ocasiao Mesmo com todas essas interferéncias, a cidade do Rio de Janeiro nao consegue solucionar o problema de falta de espaco para sua expansdo urbana e facilitar 0 fluxo de uma cidade que nao para de crescer. Vislumbrando necessidade de crescer e expandir-se mais facilmente, decide também por investimentos em aterros maritimos. u Permite obras de aterro que comecgam a invadir a orla litoranea, a partir do inicio do século XX. Essa solugao possibilitaria, mais tarde, a conexao do centro com a zona sul da cidade No final do século XIX e infcio do século XX, 0 Rio de Janeiro reflete 0 ideal para 0 pafs, Tudo que se relacionasse com um «mais modernov deveria, dentro da visdo carioca, surgir via Rio de Janeiro, considerado também um tipo de termémetro nacional, tanto politico como social. Agache capta essa situagao, esse sentir carioca, @ logo em seus primeiros momentos no Brasil, resume este panorama em poucas palavras: «Rio de Janeiro, a porta do Brasil. 0 progresso, a dinamica econdmica e o desenvolvimento acelerado das cidades fazem surgir novos segmentos @ setores econdmicos. A economia do café, um dos principais itens econémicos, se modifica com a crise das oligarquias. Esboca-se timidamente um inicio industrial, Despontam-se novos empreendimentos e muitos movimentos sociais eclodem pelo pais inteiro. Toda essa agitagdo politica, econdmica e cultural, colabora para a formagao do pensamento urbanistico brasileiro, a exemplo da conhecida «Semana de Arte Modernan realizada em Sao Paulo, em 1922. Era um momento de reflexao para 0 mundo das artes e para a propria arquitetura brasileira que comega a se adaptar a esses tempos. Mario de Andrade encabega este movimento de intelectuais, inicialmente paulistas, que véem nas comemoragées do Centendrio da Independéncia, motivo para conectar 0 Brasil as novas realidades que aconteciam na Europa, em especial com os movimentos sociais, como 0 avango comunista, e artisticos, como os sugeridos pelo Manifesto Futurista de Marinetti. u Hie de Janeiro ~ (C0). plana de Castelo Com grande agressividade, através de uma semana de eventos, este grupo artistas e intelectuais, prega a diviséo das mentalidades, a ruptura do velho @ a instalagao do novo. Tudo baseado na implementagao de uma maior ebrasilidade», mais independéncia, negacao ao passado em especial ao dominio europeu ‘Sao Paulo gradativamente assume a vanguarda moderniza- dora. A Semana de Arte Moderna se torna um dos grandes referenciais da época. Porém, o Rio de Janeiro continuaria sendo o centro do poder e das disputas, dos desejos e de toda simbologia que sempre envalve uma Capital Federal. Esse potencial permanentemente renovado pelos anseios de progresso e de modernidade, j4 conhecidos na Europa e América do Norte Comega a despontar um novo idedrio nacionalista, que encontra sua realizacdo e ancoragem maxima nas comemoragées do Centenario da Independéncia. Torna-se um dos motivos que geraram a tomada de deciséo, do entdo prefeito carioca Carlos Sampaio (1920), de efetivar 0 arrasamento do Morro do Castelo. Obra planejada no intuito de criar espago para a futura exposicao comemorativa e festejas. Servigos estes que duram quase dez anos e resultam no espaco que atualmente se desenvolve 0 aeroporto Santos Dumond Toda esta agitacao social culmina com os movimentos politicos do periodo Vargas. Inicialmente 0 novo espaco do aterro nao tem objetivo especifico, a nao ser solucionar aspectos higienistas e estéticos. Porém o interesse aumenta @ logo se transforma em objeto de grande polémica, principalmente entre profissionais da drea técnica. 2 Arquitetos através dos Institutos ICA/IAB, engenheiros através do Clube de Engenharia e a Escola Politécnica Todos, em suas respectivas revistas, deflagram seus pontos de vistas, em geral nao coincidentes. Um dos produtos e providéncias advindas dessa discussao foi o convite formulado ao entao professor Agache, para vir ao Brasil. Sua visita, antes de tudo, visava cont com a polémica existente e trazer consigo 0 que de mais contemporaneo em urbanismo se empregava na Europa, colaborando desta forma com a cidade do Rio de Janeiro em dar o melhor destino as novas areas do aterro Nessa época era comum nosso administrador piblico procurando se atualizar, recorrer constantemente a participago de eventos europeus. Entre as muitas oportunidades oferecidas, destacava-se por varios motivos, as Grandes Exposigdes Mundiais. Inicialmente pelos contatos pessoais, pelas novidades técnicas apresentadas e pela concorréncia estabelecida entre os paises expositores em divulgar seus produtos, A arquitetura foi um dos meios utilizados para mostrar a capacidade e moderidade entre os pafses expositores. Pode-se aquilatar a importancia dada a esse assunto, pela dimensao e esmero das préprias instalagoes, a comegar pela primeira, em Londres, 1851, com 0 Palacio de Cristal de Paxton. A expectativa popular era de aguardo ansioso, devido a intensa propaganda. A cada nova exposigao, propostas inovadoras apareciam, sempre umas querendo superar a outra. $6 para se dimensionar a que nivel se chegou, vé-se que a Torre Eiffel, icone de Paris e da Franga, & um marco comemorativo da Exposigao Mundial, realizada em Paris, em 1889 0 A SFU, sempre atendida por seu secretério geral Agache, sempre se apresenta nesses espagos, com total apoio do governo francés, que procura promover suas politicas, em especial as que envolvem o novo urbanismo francés, mostrando suas realizagées. Por estar sempre atuando @ presente, Agache foi o primeira nome a ser lembrado e convidado para visitar 0 Rio de Janeiro. Outros nomes também sao lembrados pelas sucessivas administragoes municipais cariocas de Carlos Sampaio (1920/22), Alaor Prata (1922/26) e Ant6nio Prado Jdnior (1926/30) Inicialmente se imaginava convidar quatro destacados nomes do urbanismo da época: Stubbem, Bennet, Jaussely e Agache? Agache, nessa época, ja tinha adquirido fama universal por seus artigos, livros’, teorias, conferéncias e mesmo por trabalhos executados*, foi o primeiro a desembarcar no Brasil. Sua chegada ao Rio de Janeiro, oficialmente se justifica para realizar uma série de palestras. A imprensa carioca destaca a presenga de Agache em nivel nacional enfatizando seus trabalhos. Na oportunidade, evidencia a medalha de ouro recebida, recentemente, pela proposta urbanistica para a cidade de Camberra®, capital da Australia. "LUM dna itis, Shins vo B.S al, EP, Sei Boe, 199. 28 SIM, Li Ae te led Sonat yohe ov Bai nui Cva de Giese «Seat Pech or Cidade, pr "atoning question Lanes. ia Ln, 184; Lait ji (ian Cie Soi). in de ane. 181; nsdn ons, Flic Aan Paris. 114 Reena in Gai adn Basie 1889. Conqrsso de Moubaix 181; Cts jis et ills fates, Ciara de hain ~ Ls de La gan wie sos ets tits, latins hans sigan aves, bury vilges. rie hmaed Ca Pais La ensue madre, Comment ote ae wil Ou en x Fetxine, 1923 "a tps ot ace: os aes de Utah Pi, jtenete em iar Past de Dames fe Fars: gp; eas "ANU, dan, exif iis. IE Pras, 14, 0 Concur interacial Apache apie om otc ugar. inion lua, altar arly Sia (iin de Fak Lop Weigh), grpate Gritin am yond sxpl de dacenho wae, npc «marca pus proaiads, 4" Através de palestras, entrevistas coletivas e de grande campanha publicitéria, Agache imps-se gradativamente aos administradores da cidade e representantes empresariais, como profissional preparado e capaz. Ao final desta primeira rodada de conversagées, chega a convencé-los em sua contratagao, impedindo habilmente que seus concorrentes fossem convidados a visitar 0 Rio Janeiro. A proposta de Agache para a grande esplanada, do Castelo, viria a se chamar de «Plano de Extenséo, remodelamento e@ embelezamento da cidade do Rio de Janeiro». Tendo uma maxima ao iniciar os trabalhos, 0 slogan: «Rio moderna e civilizada como Paris»®, Logo em sua chegada, Agache recorre diplomaticamente com toda sua experiéncia com teorias e metodologias sociais. Suas observagdes e comprovagées sociolégicas comecam novamente a se evidenciar. Recorre a seus estudos quando das reconstrugdes das cidades da Franca, onde notou que, por imitagao, todas as cidades queriam ase parecer com Paris» Gracas a seu exercicio profissional, Agache nota que, por tendéncia e aceitacao piblica, pode aplicar também para a cidade do Rio de Janeiro, a argumentacao, 8 anteriormente muito utilizada, baseada na psicologia social de Tarde (difusdo das idéias por imitacao). Dai sua estratégia inicial de marketing com o slogan: «Rio moderna e civilizada como Paris». "anne, (18) Epes 9 13 6 Nesses seus primeiros momentos frente a sociedade do Rio, Agache enfrenta um perfodo de convencimento com muita polémica, principalmente com profissionais da engenharia. Essa polémica envolve o grupo de pessoas @ empresas que tradicionalmente dominam todas as questées relativas a obras e interferéncias na cidade. Criticas como as do engenheiro Costa Moreira refletem 0 nivel dessa polémica: «0 novo Rio de Janeiro nao poderd ser a capital representativa da nacionalidade, se seus aspectos estruturais nao exprimirem as aspiragdes de progresso material e de intensa atividade criadora.» E continua, « Uma cidade metropolitana nao é 0 espelho, 6 também uma escola, Um foco de itradiacao das correntes que estimulam a agao coletiva de todas as populagoes do pais». Esta situagao ¢ aproveitada por Agache pedagogicamente para impor o aceite e crescimento da nova rea profissional que desponta atrelada 8 arquitetura, o do urbanismo, que, incansavelmente, prega em todas as oportunidades possivei A contratagéo de Agache marca nao sé 0 inicio de sua longa peregrinagao profissional pelo Brasil, mas também, novos tempos para 0 urbanismo e de novos entendimentos: um paradigma para o Brasil, tanto pelo fato realizado como pela importancia despertada a partir desta realizacéo. Conforme declaracéo da engenheira Carmem Portinho, atuante na Prefeitura do Rio de Janeiro na época, e uma das primeiras profissionais a se graduar no Brasil: «Urbanismo, s6 depois de Agachen. A chegada de Agache ao Brasil coincide com momentos de grandes conflitos sociais, a comecar pelas grandes mudangas no dominio da economia das oligarquias cafeeira. % Conjuntamente se intensificam as atividades socio- culturais e em especial, as politico-militares que culminam com a ditadura de Vargas, como o «Estado Novo», dentro da chamada eEra Vargas», 1930 a 1945. Agache inicialmente pensa em aplicar para 0 Rio de Janeiro um rotineiro plano urbanistico, dentro do enfoque metodolégico da SFU. Para sua surpresa, enfrenta uma situagao de complexidade social quase que cadtica. Esta situagao nao prevista exige muita diplomacia, habilidade de posicionamentos, cautela nas solugdes, visdo politica, além das concernentes questoes estéticas, técnicas e ideolégicas do projeto, tanto apregoadas pelo seu Urbanismo Formal Por nao ter obtido estas informagdes e mesmo desconhecer 0s movimentos internos, a exemplo da Semana de Arte Moderna, Agache procura rapidamente se adaptar a essa imensa salada contextual social em que 6 envolvido. Gracas & sua experiéncia e convivio no Museu Social, compreende e modifica rapidamente sua primeira visao, que propunha: «Rio moderna e civilizada como Paris». Propoe, através de sua agucada percepcao e estudos, como jé foi lembrado anteriormente, fazer do Rio um tipo de «entrada ou porta do Brasil ou América». Cria um projeto com a idéia guia baseada em um «Portal Monumental», interfaceando o mar com a enorme «esplanada do aterron. Idéia que gerou muita polémica, uma vez que Mestre Valetin, no século XVIII, j& possutra esta intuicao, ao deparar com a configuragdo de montanhas que envolvem 0 Pao de Agdcar, imaginando ser ali, a porta do Brasil 0 projeto do Portal compoe-se de um complexo de duas majestosas colunas e escadaria, que a partir da esplanada se abre em um cendrio espetacular para o mar. n A idéia simb6lica bésica estava em marcar uma entrada monu- mental para a esplanada do Castelo. Este espago aberto, uma enorme praga seca, semi-circular, seria circundada por edificios institucionais como o Palacio das Indistrias, 0 Senado e Camara dos Deputados. Destacando-se 0 eixo central a partir do Portal até ao auditério central, formando a principal sala deste complexo arquitetonico Art Déco. Nas palavras de Agache: «Além de tudo, nos terrenos conquistados ao mar, frente a bafa e em lugar de honra, se localizaré 0 centro governamental federal num conjunto que dard obra do homem, a nota grandiosa que ainda falta a cidade. O Rio de Janeiro oferecera, assim, & admiragao do visitante chegado por mar, uma entrada monumental correspondente a importancia e aos destinos da capital.” Conforme Underwood, o plano, que teve o «Complexo do Portal» como elemento principal, lembra as perspectivas visiondrias de Ledoux e Boullée. Passa também pela arquitetura da época do fascismo na Italia ou do nazismo. De uma arquitetura atrelada ao Estado. Com linhas semelhantes estao as diretrizes monumentalistas o Realismo Socialista na Unido Soviética, como o Palacio dos Soviéticos de lofan (1934), ou do Terceiro Reich com Albert Speer, empregadas também, na Exposigéo Mundial de Paris em 1937°. Todas estas conotagdes podem-se verificar através dos notaveis desenhos que Agache' produz em seu projeto para o Rio. Sao diversas pranchas de desenhos perspectivados, bem caracteristicos dessa época, utilizando a técnica de aquarela. "AGREE Aled Cidade do evdeonetoomialeonet as, fear se, 180.161, *annernaan (881) Opus it p19 "SMAMPTER, ened, Hs Cc Rie de Js, extn, da AgiteteeMetaan, She Pol ars Fes, Ver is ap. 26, Aiea Eta: Kaa representa, p. 258 "BAC, Ad. pus (190 tp. 214 ip (aa Perspeia de Pata u Flona Agathe para fio de Jani ~ in Underwood) Datale:perspectiva de portal A mais destacada delas, uma perspectiva com vista a partir da bala de Guanabara, mostra a esplanada devidamente ordenada em todo seu entorno e seu monumental eixo, tendo o Portal como ponto central de interface com o mar. Neste momento Agache prefere reforgar os detalhes dos espagos abertos, do que detalhar os edificios do entorno. A partir desta enorme praca semi-circular partem duas largas avenidas, com 64 metros de largura, como raios prolongados, cada uma em sua diregao, seguindo simbolicamente para 0 interior do Brasil, Nesta simbologia, as avenidas, como artérias, partem e se ramificam, estendendo-se a dominar todo o pais. 0 projeto reforga a idéia do Rio de Janeiro como centro @ comeco do Brasil, palco e convergéncia dos grandes acontecimentos. Ao reforgar esta intencao, Agache procura dar & Nagao seu principal palco civico, principal lugar pblico. Espaco para realizar as grandes cerim6nias, paradas e recepcées. Imagem cativante para um governo ditatorial como 0 que Vargas realizou Convém observar que mais tarde a palavra «esplanadan, entendida como «Porta do Brasil» foi também utilizada em Brasilia. Mais curioso se torna se observarmos também que Lucio Costa, Afonso E. Reidy, e tantos outros importantes arquitetos, j4 estavam ligados a este contexto, como funcionérios da prefeitura do Rio, como participando indiretamente através de conselhos consultivos existentes na época, como por exemplo, 0 Conselho da Cidade. ” Na seqiéncia, Agache amplia todo seu discurso @ prope reviver também algumas «expressées de esperangay, como jé se empregara em outras épocas, pelo Presidente Rodrigues Alves (1902-1906)". Este novo posicionamento se coadunaria mais com a esperanga de uma «brasilidade» pregada pelo idedrio da Semana de Arte Moderna, do que um Rio de Janeiro como simples espelhamento de Paris, como inicialmente foi imaginado. 0 objeto principal de sua contratagao resumia-se preliminarmente em uma proposta de urbanizagao para a 4rea da esplanada, resultante do arrasamento do Morro. do Castelo e mais alguns complementos envolvendo questdes como: congestionamento de tréfego da drea central da cidade; abastecimento de agua e outras questdes de saneamento, além de prever areas para expansdo urbana. Esta iltima, tentando barrar 0 crescimento das favelas. Todo esse escopo de fato envolvia uma proposta parcial para a cidade, a partir de um vazio urbano criado pela esplanada. Todo esse cendrio contratual, essa realidade, entra em choque com suas propostas te6ricas e principais conceitos promovidos pelo SFU. Pois, foi visto que 0 Urbanismo Formal, que prega a cidade como um todo, um «ser Gnico» indivistvel Agache se obriga a ampliar seus estudos.Torna-o mais abrangente, inserindo uma conotacao metropolitana- regional. Estuda as influéncias de cidades préximas, como Petropolis e Teresépolis, a Ilha do Governador Paquet4 consideradas na época recantos perdidos' -HMMERNDND, (88) Ou. Ci p11 astern in he pate wu wil be star aw he intenan of workin te far each of coun tat has Land felts, lint fall pope aud none naling pps ral sats faites UA (187) Gp Ci. 198 Aproveita para mostrar sua ampla viséo e preocupagao com 0 futuro, frutos da escola francesa, de um urbanismo encarado como ciéncia, «ciéncia da observagaor, conforme Marcel Podte: «um organismo com vida prépria que nao a soma das vidas particulares»"* Esta nova proposta, vislumbrando um plano geral, procura criar uma imagem para a cidade mais adaptada aos novos tempos. Poder-se-ia hoje dizer politicamente mais correta, mais apropriada para cidade Capital do Brasil. Agache nao sé considera 0 lado estético, mas se preocupa com o crescimento demografico em sua expansao vertical e horizontal. Nestes novos estudos, envolve pontos marcantes da arquitetura da cidade, que também sao fundamentos econdmicos peculiares, como o porto, as dificuldades de circulagao e congestionamento de tréfego. A questao hidrografica, complicada principalmente pela ocupacgao desordenada de dreas, que impede o escoamento em sua acidentada topografia, recebe um tratamento especial. Emprega o forte lado técnico do seu «urbanismo cientifico», lado sustentado por andlises estatisticas baseadas em levantamentos de dados existentes e coletado ,«in loco». Utiliza novas técnicas a exemplo do recurso de fotos aéreas como auxilio para informagao urbanistica, talvez o primeiro registro ofi no Brasil, Agache ancora sua proposta em duas fungdes principais: a «politico-administrativay, como capital do Brasil, @ «econdmicay, como seus aspectos comerciais, industrials e habitacionais. Incluem nestes itens também assuntos espectficas da cidade como: porto, mercado e expanséo urbana. ® WAS (40) Bs p28, hao para ode Jans 1850 — Aace (08) Perapetiraatvea dv Centro Monumental dos Banas de Intarchaia dus Megocios idealizads por Agate 0 Plano de Agache para o Rio de Janeiro, compde-se de trés partes distintas. Inicialmente apresenta uma introdugdo analitica antropogeografica onde constata os grandes problemas sanitérios da regido. Na segunda, © préprio plano, onde mostra o desenho urbano proposto. Parte do entendimento «Porta do Brasil, na grande esplanada, e uma malha com formas radioconcentricas em forma de estrela. Parte de uma proposta de um sistema triaxial e nao radio-perimetral, devido a topografia do local. Explora uma hierarquia de ruas @ avenidas a partir de grandes eixos. Cria quadras bem marcadas, como se vé em sua proposta de desenho, conformando-se com sua malha vidria existente. Em alguns pontos propée rotatéria, para facilitar a circulacdo vidria, como as de Henard em Paris. Toda esta articulagao espacial encaixa-se perfeitamente em todo o sitio da esplanada. Além de conectar-se com a malha existente, se ramifica regionalmente por artérias principais, integrando um sistema maior. Finaliza com capitulos dedicados a questao especifica de saneamento. Dedica uma boa parte de sua proposta com andlises técnica e solugdes apropriadas para casos especificos. Procura sempre entender a cidade de forma global. Dentro de sua visdo social, Agache também néo discrimina ou aconselha inicio ou como executar os trabalhos de implementagao do plano, Procura nao se envolver em uma posstvel polémica de beneficiar uns, indistintamente, em detrimentos de outros, que seria uma outra questao, ligada mais diretamente ao poder executivo. Alids, seré dominada pelo grupo da engenharia, assunto que jé tivera contato logo no inicio de sua chegada ao Rio de Janeiro. 0 sistema vidrio, que integra @ marca o desenho urbano de sua proposta, procura fundamentalmente atender as questbes de circulagao e de eficiéncia técnica geral. a

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