O poema "O VELHO PESCADOR" de Niro
Carper narra a historia de Seu Joao, um
pescador idoso que encontrava sua
subsisténcia no mar. Trabalhava arduas
horas, pescando com o amigo Rafael. seu
companheiro de jornada. O poema destaca
a rotina diaria de Seu Joao, desde o
momento em que comecava seu dia ao lado
de sua esposa, até as longas horas de pesca
no mar.
A narrativa explora temas de vida apés a
morte, a aceitacao da morte e a
continuidade do espirito em — outra
dimensiaio. Através da jornada de Seu Joao.
o poema convida o leitor a refletir sobre a
existéncia e a transicao entre mundos,
enquanto o personagem se despede do
mundo que conheceu e parte para uma
nova realidade.@ VELHB PESCABGR
Trabalhar de pescador
Era mesmo necessario,
Do grande mar retirava
O seu sustento diario.
Assim, de segunda a sdbado
Cumpria esse seu fadario.
Seu Jodo ja completara
Os setenta anos de idade.
Casado com dona Amélia
Desde a sua mocidade.
dor.
Sempre fora pe
Com grande dignidade.
Saia de casa cedo,
Ainda de madrugada,
Tomava um café bem forte,
Beijava a esposa amada,
Depois ia para o mar,
Sua segunda morada.
Seu compadre Rafael.
Parceiro de pescaria,
Durante todo esse tempo
Sua unica companhia,
Pescava com ele a noite
E também durante o dia.As vezes eles ficavam
Por cinco dias no mar,
Num rancho de pescadores,
Pescando para salgar.
Na volta vendiam tudo,
Assim podiam lucrar.
Seu Jodo era do tipo
Que esbanjava simpatia,
Falava com todo mundo,
Contava historia e sorria,
Era bastante querido
Por todos da freguesia.
Na noite de lua nova
O pior aconteceu:
Seu Jodo teve um ataque
E suas forcas perdeu,
Como estavam dentro d’égua
Rafael nao percebeu.
Quando Rafael notou
Seu compadre se afogando
O tirou logo da agua,
Para a vila o foi levando.
Ja havia amanhecido
Quando ao porto foi chegando.Homens que estavam ali
Ja cuidaram de ajudar,
Alguém trouxera uma rede,
Para poderem levar
Seu Joao a sua casa
Ou ao posto do lugar.
Uma semana depois,
Seu Jodo muito animado.
Voltaria ao seu trabalho,
Como estava acostumado,
Mas algo na sua casa
Estava muito mudado.
Sua esposa la na cama,
Nem sequer se levantou
Para fazer o café,
Que ele mesmo preparou,
Apoés toma-lo bem quente,.
Para a cama retornou.
Mas ela nem lhe olhou,
Se mostrava indiferente.
Ele Ihe fez um carinho.
— Minha velha, estas doente?
Percebeu sua tristeza
Que era bastante aparente.Ele falou: — Minha velha,
Eu sé vim me despedir,
A maré ja esta alta
Por isso tenho que ir —
Beijando no rosto dela,
Tratou logo de sair.
Muito t
“Por que ela esta assim?
te ele pensava:
Nao me disse uma palavra
E nem olhou para mim.
Mas o que sera que eu fiz
Que ela achou demais ruim
Ta triste pelas ruas,
Sempre ao falar com alguém
Ninguém respondia nada.
las 0 que esse povo tem?
Era s6 o que faltava.
Me ignorarem também.”
Foi a casa do compadre,
Chamou. na porta bateu,
Esperou alguns minutos,
O outro nao Ihe respondeu.
— Até vocé meu compadre?
O que foi que aconteceu?Seu Jodo mais triste ainda
Se dirigiu para o porto,
Levava o remo no ombro,
Com a idade estava torto.
“Pelo menos na maré
Eu terei algum conforto.”
Entrou na sua canoa.
Foi remando contra o vento,
O sol ja se exibia
Na borda do
Ele ia assobiando,
irmamento.
Mas triste em seu pensamento.
O vento frio da manha
Soprava em seu velho rosto.
“Nao pensei que nesta idade
la ter tanto desgosto.
S6 voltarei para casa
Quando o sol estiver posto.”
Um bando de gareas brancas
Passou bem perto voando:
O magarico peralta
Estava se alimentando:
E um casal de guaxinins
Na beirada namorando.?assou o dia no mar,
Como estava acostumado,.
S6 retornou & tardinha,
Seu corpo velho, cansado.
Muita gente em sua casa,
Ele ficou espantado.
A sua esposa na frente,
Aparéncia de abatida.
Ele pegou na mao dela:
— Mas o que houve querida?
— Finalmente estamos juntos!
Ela falou em seguida.
— Me diga por que foi que
Me ignoraste mais cedo?
E todo esse povo aqui
— Meu velho. nao tenha medo.
Vamos até nossa sala
Que te revelo o segredo.
Na sala havia um caixao
Com a tampa levantada,
Quando o seu Jodo olhou
Viu a sua esposa amada.
— Querida tu estas morta?
— S6 a matéria e mais nada.
?Seu Jodo nesse momento
O seu estado entendeu:
— Quer dizer que eu estou morto?
Quando foi que aconteceu?
— Foi na semana passada.
A mulher lhe esclareceu.
— Vocé sofreu um infarto
E na maré se afogou,.
O compadre lutou muito
No entanto, nao te salvou,
O teu espirito confuso
Tal fato nao processou.
— Eu fiquei bastante triste
Na hora que percebi
Que nao falavam comigo.
Mas sem saber que eu morri,
Até vocé meu amor —
u também muito sofri
Foi um golpe muito duro,
Te perder tao bruscamente,
Tanto que nao suportei.
O meu desejo somente
Era morrer pra ficar
Com vocé eternamente.ara o nosso eterno lar
Agora temos que ir —
Ele falou: — Um momento,
Preciso me despedir.
Vocé vai me acompanhar
Ou eu nao vou conseguir.
Olhando para as pessoas
Que estavam ali pertinho:
— Adeus compadre e comadre,
Adeus a todo vizinho.
Adeus ao velho e ao moco,
Adeus ao meu cachorrinho.
Em frente da casa disse:
— Adeus morada tao boa!
Se dirigiram ao porto,
Embarcaram na canoa:
— Adeus porto, adeus maré,
Adeus a toda pessoa.
Por aquele mar tao calmo
A canoa ia seguindo,
Seu Jodo olhava tudo
E triste se despedindo:
— Adeus av
s. adeus peixes,
Adeus que eu ja estou indo.No ponto onde praticava
Sempre a sua pescaria:
— Obrigado igarapé
Por peixes a cada dia.
Agora nao pesco mais.
Tenho outra moradia.
Obrigado muruada
Por me dar o meu sustento,
Hoje ja nao sinto mais
O sopro frio do vento.
E tudo o que era meu
Ira ficar ao relento.
Varias estrelas piscavam
Os chamando da amplidao.
A canoa prosseguiu
Seguindo uma direcio,
Levando o casal de espiritos
ara a outra dimensao.
FIM
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