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Teoria da

argumentação
jurídica
Temas essenciais de língua portuguesa
Unidade de Ensino: 1
Competência da Unidade: Conhecer os temas gerais de
língua portuguesa.
Resumo: Nesta unidade, buscam-se conhecer os aspectos
gerais da comunicação, as abordagens teóricas sobre o ato
comunicativo, com ênfase no discurso, o que são gêneros do
discurso e suas especificações nos domínios documental e
jurídico, bem como os níveis de linguagem e o que caracteriza a
linguagem jurídica.
Palavras-chave: Linguagem; Comunicação; Discurso;
Área jurídica.
Título da Teleaula: Temas essenciais de língua portuguesa.
Teleaula nº: 1
Contextualização
Teoria da comunicação

Funções da linguagem

Teorias do discurso

Gêneros textuais/discursivos

Domínios discursivos documental e jurídico

Revisitando a norma culta

Linguagem jurídica
Teoria da
comunicação e
funções da linguagem
Teoria da
comunicação
Teoria da comunicação
Modelo
informacional
Concepção
racionalista
Transmissão de
informações
Comunicação

Troca simbólica
Perspectiva
culturalista
Interação
Comunicação e linguagem
“[...] a comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do
homem social.”

(BORDENAVE, 1987, p. 19)


Para que serve a linguagem?

Basicamente, a linguagem serve


para a comunicação e,
portanto, para a manutenção das
relações sociais.
Tipos de comunicação

Comunicação verbal

Comunicação não verbal

Comunicação escrito

Comunicação oral
O processo comunicativo

interlocutores
contexto

remetente destinatário
codificação decodificação
mensagem

contato

código
(JAKOBSON, 2003)
Funções da
linguagem
Funções da linguagem

A ideia de que a linguagem tem diferentes funções foi


difundida por Roman Jakobson em seu trabalho
Linguística e poética, publicado, originalmente, em
1960.

A partir dele, Jakobson (2003) defende que em todo


ato comunicativo um dos elementos da comunicação
terá maior relevância, ou seja, cada elemento determina
uma função diferente da linguagem.
Diferentes funções da linguagem

Função Ênfase Características da linguagem


Linguagem objetiva, com vistas à
Referencial Contexto tradução da realidade, à
informação.
Linguagem marcada pela
Emotiva Emissor subjetividade, ligada diretamente às
impressões do “eu”.
Conativa/ Linguagem com tom persuasivo,
Receptor
Apelativa marcada pelo apelo imperativo.
Diferentes funções da linguagem
Função Ênfase Características da linguagem
Linguagem pouco expressiva,
Fática Canal empregada para estabelecer ou
manter o contato.
Linguagem marcada pelo
Mensa-
Poética cuidado estético, com
gem
valorização da forma.
Linguagem usada para explicar
Metalinguística Código a própria linguagem, em uma
atuação conceitual.
No início dos estudos de comunicação, predominou, por
muito tempo, o modelo teórico da comunicação ou
paradigma informacional. Nesse modelo, o que caracteriza a
mensagem e qual é a sua função?

a) A mensagem é um conjunto de trocas simbólicas e sua


Analisando
função é influenciar o destinatário.
uma questão:
b) A mensagem é um conjunto de informações e sua
função é influenciar o destinatário.
c) A mensagem é um conjunto de informações e sua
função é ensinar algo ao destinatário.
d) A mensagem é um conjunto de trocas simbólicas e sua
função é emocionar o destinatário.
e) A mensagem é um conjunto de informações e sua
função é emocionar o destinatário.
Teorias do discurso
Sociointeracionismo
Sociointeracionismo
Teoria de aprendizagem que se situa no campo da
psicologia sócio-histórica.

Seu principal teórico é Mikhail Bakhtin. Fonte: br.freepik.com.


Acesso em: 06 jul. 2022.

Defende que a linguagem não é meramente um código,


mas uma prática social determinada pelas diversas
esferas sociais de atividade humana.

É a partir dessa ideia que se origina o conceito de gêneros


do discurso.
Mikhail Bakhtin
Sendo a linguagem uma prática
social, o ouvinte pode concordar,
discordar, completar e até
interromper aquele que fala,
mostrando, assim, que participa
ativamente da interação.

Fonte: br.freepik.com.
Acesso em: 06 jul. 2022.
Dessa forma, podemos dizer que a teoria sociointeracionista da linguagem
inova ao rever três aspectos:

 o papel do destinatário/receptor/ouvinte na
comunicação, dizendo que esse tem um papel ativo, e
não passivo;
 a própria noção de comunicação, que deixa de ser
unidirecional e passa a ser dialógica;
 a noção de língua, que deixa de ser tratada como
instrumento de comunicação para ser tratada como
um meio de interação social.
Análise do discurso
Análise do discurso

 A Análise do Discurso (AD) tem como ponto de


partida a conciliação entre três campos disciplinares:
a Linguística, o Marxismo e a Psicanálise.
 Para a AD, não interessa a noção de falante
empírico, mas a noção de sujeito.
 É por meio do discurso que é possível ter acesso a
esse sujeito e à sua relação com o real natural e
social.
Formação imaginária
[...] são determinadas por dois mecanismos: a capacidade de o sujeito se
antecipar ao seu interlocutor, ou seja, de se colocar no lugar dele para
saber como dirigir seu discurso; e as relações de força que são determinadas
historicamente e que determinam o lugar de onde se fala.

Antecipação
Colocar-se no lugar do outro
Saber como dirigir seu discurso
Análise do discurso

A importância da AD está em propor um novo olhar


sobre o discurso capaz de identificar as diferentes
ideologias que marcam uma sociedade e que
sustentam os seus discursos, uma vez que, ao
interpretar um discurso, a AD deseja saber não O QUE
é dito, mas sim COMO algo é dito.
Considere a seguinte situação:
• Depois de mais de um ano sem receber aumento de
salário, os motoristas de ônibus do transporte público de
determinada cidade realizaram uma assembleia para
decidir se fariam greve ou não para reivindicar melhores
salários.

• Nessa assembleia, uma quantidade de motoristas tem a


chance de tomar a palavra para defender ou discordar da
declaração da greve.

• Alguns apresentaram-se favoráveis à greve e outros não.


Analisando a situação:

A noção de sujeito da AD é capaz de explicar essa diferença


de discurso entre falantes que compartilham das mesmas
condições sociais.

O que explicaria essa diferença é a imagem que esses


sujeitos fazem de si e do outro, ou seja, o imaginário com o
qual eles se identificam ou não, o que a AD chama de
formação imaginária.
Domínios discursivos
Gêneros
textuais/discursivos
As ideias do russo Mikhail Bakhtin

Os textos devem ser abordados


considerando o seu funcionamento
e o seu contexto de produção,
tanto para a leitura como para a
produção.

Fonte: www.parabolablog.com.br
Acesso em: 06 jul. 2022.
O que são gêneros textuais/discursivos?

“São textos materializados em situações


comunicativas recorrentes, encontrados em nossa
vida diária e que apresentam padrões
sociocomunicativos característicos definidos por
composições funcionais, objetivos enunciativos, e
estilos concretamente realizados na integração de
forças históricas, sociais, institucionais e técnicas.”
(MARINS, 2017, p.1550)
O que são gêneros discursivos?
 Não é um modelo estanque, com estruturas rígidas;
 Não se pode tratar independentemente de sua
realidade social e de suas relações com as atividades
humanas;
 Sua determinação não se dá pela forma, se dá pela
função.
 Não é fruto de invenção individual;
 Necessário para interação, interlocução humana.
As três dimensões que definem um gênero

Conteúdo • Os conteúdos que são dizíveis


temático em um gênero.

• Unidades linguísticas
Estilo verbal
selecionadas.

Construção
composicional • Estrutura particular dos textos.
Domínios discursivos
documental e jurídico
O que são domínios discursivos?

“[...] esferas ou campos de atividade humana – já que


toda atividade humana se entretece de discursos – são
a instância organizadora da produção, circulação, Fonte: br.freepik.com
Acesso em: 06 jul. 2022.
recepção dos textos/enunciados em gêneros de
discurso específicos em nossa sociedade” (ROJO,
2014, [s.p.]).
Domínios discursivos documental e jurídico

Textos cuja finalidade é desencadear ou registrar


alguma ação que tenha valor legal.

Eles são geralmente realizados em suportes específicos,


por pessoas que foram investidas de autoridade para
realizarem atos jurídicos.

Isso está relacionado ao que chamamos de fé-pública,


ao qual o escrevente do cartório está investido.
Domínios discursivos documental e jurídico
 Ainda que esses dois domínios se cruzem com frequência no uso cotidiano
da língua, eles apresentam algumas diferenças que os separam:

Domínios discursivos jurídicos

Textos que compõem um


Exemplos: petição,
processo judicial e seus
sentença, lei, recurso,
atores têm
decisão judicial.
necessariamente
representação jurídica.
Domínios discursivos documental e jurídico

Domínios discursivos documental


Textos que podem compor um processo
judicial, como uma prova, por exemplo,
mas não necessariamente, uma vez que Exemplos:
seus atores não precisam ser investidos cartas formais,
de autoridade jurídica e que se atas, ofícios,
compõem também de textos que abaixo-
funcionam em outras esferas da vida assinados.
pública, como a esfera política.
Situação-problema
Situação-problema

Você atua em um escritório de advocacia especializado


em mediação de conflitos. Um dos estagiários
supervisionados por você foi incumbido de redigir a
versão preliminar de um parecer sobre um caso em
análise. No entanto, ao ler o documento, você percebeu
um rebuscamento excessivo na linguagem, o que
dificultou a compreensão do conteúdo. Assim, você
precisa orientá-lo para uma revisão do documento.

Para solucionar esse problema, como será sua abordagem?


Problematizando a Situação-Problema
• Cada texto, ao ser elaborado, deve atender às especificidades do domínio
discursivo de que faz parte.
• Os gêneros discursivos jurídicos apresentam características próprias da
área em que circulam, como certas terminologias.
• A norma culta deve orientar a redação de textos jurídicos, dada a
formalidade que lhes é inerente.
• O “juridiquês”, marcado pelo rebuscamento excessivo
da linguagem, deve ser evitado.
Resolvendo a Situação-Problema
Todo texto deve ser
Estratégias gerais para a resolução:
claro e correto,
atentando-se às marcas
• análise colaborativa do texto; linguístico-enunciativas
• execução de nova seleção lexical; do gênero em que se
• revisão linguística do parecer. enquadra.
Observando a
linguagem
Revisitando a
norma culta
Preconceito linguístico
Não encontra base científica em estudos aprofundados sobre a língua e
frequentemente, produzem desvalorização de certos usos da língua, isto é,
de certas variedades linguísticas.

Fonte: br.freepik.com
Acesso em: 06 jul. 2022.
Norma padrão
 Conjunto de regras codificadas da língua.

Está na “gramática”.
Norma culta
 Conjunto de regras linguísticas factualmente usadas
pelos falantes cultos.

Está no “uso”.
Adequação da linguagem
 A linguagem deve ser adequada ao contexto
comunicativo.

Isso exige
conhecimentos
relativos ao sistema da
língua e à sua norma.
Registro formal x Registro informal

Linguagem formal: Linguagem informal:


Nível maior de cuidado Nível maior de
e organização, com espontaneidade, com
atendimento aos incidência de
padrões normativos da expressões e
língua. construções coloquiais.
Linguagem jurídica
Linguagem jurídica
 Na área jurídica faz-se o uso constante da linguagem
formal, tanto na oralidade quanto na escrita;
 É característico dos textos jurídicos o uso de termos
técnicos e em latim;
 Verifica-se que a área jurídica possui uma linguagem
própria, que a especifica em relação à linguagem
usual, seja em razão de expressões ímpares, seja em
virtude da consagração de um termo com sentido
distinto daquele comumente utilizado.
Linguagem jurídica
 Pode ser caracterizada como:

Linguagem de grupo

Linguagem técnica

Linguagem tradicional
“Juridiquês”

O termo juridiquês surgiu para denominar o uso


excessivo de rebuscamentos, termos técnicos e
expressões latinas em documentos do domínio
discursivo jurídico, que acaba prejudicando a leitura
e compreensão desses documentos. Trata-se de
uma crítica à prática jurídica, que valoriza essa
linguagem que dificulta o acesso da população em
geral aos recursos e mecanismos do Direito.
Críticas à linguagem jurídica
 Em primeiro lugar, a linguagem jurídica não é
compreendida por um não jurista/leigo, de modo que,
ainda que a mensagem (letra de lei ou mesmo uma
decisão judicial) seja transmitida para um público culto,
ela corre o risco de ser recebida como um jargão.
 Em segundo lugar, faz parte dos signos anunciadores
certas palavras que só encontram sentido se
amparadas pelo olhar jurídico, as quais podem ser
denominadas de termos de pertinência jurídica
exclusiva.
Reflita:
É importante encontrar
um equilíbrio entre a
linguagem formal e a
acessibilidade ao texto
jurídico?

Fonte: https://bit.ly/3bRm12E.
Acesso em: 06 jul. 2022.
Recapitulando
Recapitulando
Teoria da comunicação

Funções da linguagem

Teorias do discurso

Gêneros textuais/discursivos

Domínios discursivos documental e jurídico

Revisitando a norma culta

Linguagem jurídica
Referências
BAKHTIN, M./VOLOSHINOV, V.N. Marxismo e filosofia da
linguagem. São Paulo: Hucitec, 1979.

BERTAGNOLI, Danuza Lopes; CARVALHO, Fernanda Lara de. Teoria e


argumentação jurídica. Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2016.

BORDENAVE, Juan E. Díaz. O que é comunicação. 1. ed. São Paulo:


Brasiliense, 1987.

JAKOBSON, Roman. Lingüística e comunicação. 15. ed. Trad.


Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1995.

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