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Escola Superior de Relações Internacionais

Mestrado em Relações Internacionais e Desenvolvimento

Cadeira: Teorias e Conceitos de Desenvolvimento

TEMA
GOVERNANÇA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

Mestrando:
Morílio Urgente Docente:
Prof. Dr. Edmundo Macuacua

Maputo, Março de 2022


ÍNDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

REFLEXÃO EM TORNO DAS IMPLICAÇÕES DA GOVERNANÇA NO


DESENVOLVIMENTO ................................................................................................... 2

Governança e Desenvolvimento ................................................................................... 3

Doutrina do Fracasso do Mercado ............................................................................ 4

Boa Governança ........................................................................................................ 5

REFLEXÃO EM TORNO DAS IMPLICAÇÕES DO CRESCIMENTO NO


DESENVOLVIMENTO ................................................................................................... 7

Crescimento Econômico no Desenvolvimento ............................................................. 7

Crescimento Populacional no Desenvolvimento ........................................................ 10

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 12

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 13
INTRODUÇÃO

O presente Trabalho inserido na cadeira Teorias e Conceitos de Desenvolvimento, tem


como pretensão focal abordar sobre Governança, Crescimento e Desenvolvimento. Existe
uma ampla discussão sobre o Crescimento e Desenvolvimento e sobre as suas variáveis,
por um lado, por outro sobre a influência da governança no desenvolvimento. No que
tange a governança, toma-se como base de analise a boa governança que é vista aqui
como factor importante para crescimento e desenvolvimento.

Entretanto, o trabalho tem como objectivo geral “reflectir em torno das implicações da
governança e crescimento no desenvolvimento”, que por sua vez é consubstanciado por
objectivos específicos, que são: analisar a relação entre governança, crescimento e
desenvolvimento económico e; apresentar a doutrina do Fracasso do mercado e apresentar
a análise da relação entre crescimento e desenvolvimento. Em termos metodológicos, o
trabalho baseou-se na pesquisa bibliográfica feita em livros, revistas e artigos científicos
disponibilizados na internet no formato PDF. Tal como afirma Gil (1999:14) que a
pesquisa bibliográfica é baseada na revisão bibliográfica feita em livros, artigos
científicos disponibilizados na internet. Em termos estruturais, o trabalho na primeira
secção, trata da Reflexão em torno das Implicações da Governança no Desenvolvimento,
na segunda secção o trabalha aborda sobre as Implicações do Crescimento no
Desenvolvimento, por fim, o trabalho apresentas as considerações finais.

1
REFLEXÃO EM TORNO DAS IMPLICAÇÕES DA GOVERNANÇA NO
DESENVOLVIMENTO

Segundo Kjær (2004)1 citado por Silva (2010:55), governança é “ato ou maneira de
governar o posto ou função de governo”. Já o termo “governar” é “administrar ou
controlar com autoridade; estar no governo”.

Enquanto que para Catalá (2005)2 citado por Martins e Ramos (2008:05), governança é a
totalidade das diversas maneiras pelas quais os indivíduos e as instituições, públicas e
privadas, administram seus problemas comuns. É um processo contínuo pelo qual é
possível acomodar interesses conflitantes ou diferentes e realizar acções cooperativas.
Governança diz respeito não só as instituições e regimes formais autorizados a impor
obediência, mas também aos acordos informais que atendam aos interesses das pessoas e
instituições. Portanto, percebe-se claramente que a governança deve garantir interesses e
resolver conflitos de todos os grupos envolvidos em uma determinada questão.

De acordo com o Banco Mundial (1992) citado por Gonçalves (2005: 1), a definição geral
de governança é o exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo.
Precisando melhor, é a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos
recursos sociais e econômicos de um país visando o desenvolvimento, implicando ainda
a capacidade dos governos de planejar, formular e implementar políticas e cumprir
funções.

Com base na ideia de governança supracitada, duas questões revelam-se de grande


importância no que se refere ao conceito de governança empregue pelo Banco Mundial,
que são: a questão da boa-governança e a questão de procedimentos e práticas
governamentais. Santos (1997: 340-341)3 citado por Gonçalves (Ibid) advoga que, a ideia
de que uma boa-governança é um requisito fundamental para um desenvolvimento
sustentado, que incorpora ao crescimento econômico equidade social e também direitos
humanos. Banco Mundial (1992) e Diniz (1995: 400)4 citados por Gonçalves (Ibid)

1
Kjær, A. M. (2004). Governance. Wiley-Blackwell.
2
Catalá, JOAN PRATS i. Governabilidade democrática na América Latina no Final do Século XX. In:
Pereira, L. C. B.; Spink, P. K. Reforma do Estado a Administração pública Gerencial. 6 ed. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2005.
3
Santos, Maria Helena de Castro. “Governabilidade, Governança e Democracia: Criação da Capacidade
Governativa e Relações Executivo-Legislativo no Brasil PósConstituinte”. In: DADOS – Revista de
Ciências Sociais. Rio de Janeiro, volume 40, nº 3, 1997. pp. 335-376.
4
Diniz, Eli. “Governabilidade, Democracia e Reforma do Estado: Os Desafios da Construção de uma
Nova Ordem no Brasil dos Anos 90”. In: DADOS – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, volume
38, nº 3, 1995. pp. 385-415.

2
referem que a questão dos procedimentos e práticas governamentais na consecução de
suas metas adquire relevância, incluindo aspectos como o formato institucional do
processo decisório, a articulação público-privado na formulação de políticas ou ainda a
abertura maior ou menor para a participação dos setores interessados ou de distintas
esferas de poder.

Governança e Desenvolvimento

Independentemente do nível de desenvolvimento de um país, o fim manifesto e último da


governança é assegurar níveis acrescidos de bem-estar social, conjugando o
desenvolvimento económico (criação de riqueza) com a qualidade de vida (educação,
saúde, ambiente, segurança, habitação, urbanismo, mobilidade, etc.). O caminho trilhado
na prossecução deste fim tem oscilado entre opções de governança que enfatizam o
Estado ou, por contraponto, os mercados, ou, ainda, por aquelas que visam o equilíbrio
da ação do Estado com a dos mercados (Carvalho, 2017).

Segundo Baland et all (2010:7), a governança é um assunto retórico, a concepção do


mesmo pode variar de contexto para contexto, no entanto, para melhor compreender a
governança no desenvolvimento um estudo sobre as políticas econômicas do
desenvolvimento deve ser feito. Uma governança fraca não é produção de fatores
externos, mas sim o resultado de decisões políticas e por consequente reflectem-se nas
instituições políticas e fontes de poder nas sociedades em que ocorrem os processos
políticos.

Ademais, tendo em conta a ideia do autor acima referido, percebe-se que as instituições
fazem parte do processo de desenvolvimento e que as mesmas torna-se fracas por conta
das falhas que advém do processo decisório político. Rodrik (2000: 8) advoga que todas
economias avançadas tiveram que criar instituições físicas e monetárias que
promovessem a estabilidade. Tendo aprendido as consequências negativas de não ter tais
instituições. No entanto, as instituições promovem o desenvolvimento e é da competência
de um governo forte criar as mesmas. Ainda na mesma senda, North (1990)5 e Pomerantz
(2011)6 citados por Carvalho (2017: 2) afirmam que a consciência de que as instituições
são um ingrediente fundamental para uma governação eficaz, apta a promover políticas

5
North, Douglass C. 1990. Institutions, Institutional Change and Economic Performance. Nova Iorque:
Cambridge University Press.
6
Pomerantz, Phyllis R. 2011. “Development Theory”. Pp. 160-178 in The Sage Handbook of Governance,
editado por Mark Bevir. Londres: Sage Publications.

3
facilitadoras do desenvolvimento, através do bom uso dos recursos disponíveis ou a
disponibilizar pelas agências financiadoras, levou à emergência das preocupações com a
governança nos anos 90, facto a que não foi alheia a proeminência assumida pelo novo
institucionalismo económico.

Portanto, é reconhecido o protagonismo do Estado na promoção do desenvolvimento e


suas respectivas funções com base no processo de governança que por vezes se traduz na
liderança. De acordo com krugger (1990: 9), os economistas do desenvolvimento actuais,
reconhecem o papel do governo na promoção de infraestruturas assim como em facilitar
o desenvolvimento económico. Ademais, foi concluído que os governos tomam um papel
de liderança na alocação de investimentos, controle da economia, portanto, intervir no
mercado para compensar os fracassos do mesmo.

Ademais, dá-se destaque no fracasso do mercado na promoção do desenvolvimento e a


necessidade da intervenção do Estado ou Governo para poder resolver o fracasso do
mercado de modo a se alcançar o desenvolvimento. No entanto, importa aqui trazer ou
fazer uma breve discussão sobre a doutrina do fracasso do mercado.

Doutrina do Fracasso do Mercado

Segundo Jackson et all (2019:1), os fracassos ou falhas do mercado fazem com que seja
difícil o alcance da eficiência econômica através do mecanismo de distorção de preços e
a distribuição normal de bens e serviços, através disto, não se atinge o bem-estar.
Portanto, esses componentes são incorporados nos tecidos socioeconômicos na maior
parte dos países em desenvolvimento, apoiado pelo mau funcionamento das estruturas do
mercado e sistemas econômicos, que por sua vez têm a função de promover uma
economia de mercado resiliente para tais deficiências econômicas.

Lemos (1999) argumenta que as falhas existentes (externalidades, custos de transação,


bens públicos, etc) nos mostram de forma cristalina que o mercado não consegue resolver
todos os problemas relacionados com a alocação dos escassos recursos de uma
determinada sociedade. Em economias de mercado, a ocorrência dessas falhas ou
imperfeições fundamentam a atuação do Estado na atividade econômica. Ao passo que
Wolf (1979: 138) esclarece que analistas políticos argumentam que a existência de falhas
no mercado apresenta uma justificativa necessária, mas não suficiente para políticas
públicas intervencionistas, ou seja, intervenção do Estado no Mercado.

4
No que tange ainda a questão de alocação de recursos, Arndt (1985:151-152) argumenta
que as ideias clássicas e neoclássicas advogam que numa economia com uma
concorrência perfeita e com ausência de externalidades, o mercado opera através dos
mecanismos de preço para assegurar a alocação ótima de recursos, de forma estática e
dinâmica, entretanto, este mecanismo foi desenvolvido para se focar em três pontos
principais. Primeiro, os preços podem dar sinais errados parque os mesmos podem ser
distorcidos pelo monopólio ou outras influências. Segundo, os sindicatos assim como
outros fatores de produção podem responder aos sinais dos preços de forma inadequada
ou mesmo perversa. E por fim, por mais que haja prontidão para responder de forma
apropriada aos sinais dos preços, os fatores de produção podem ser imóveis, incapazes de
se mover de forma rápida. De modo geral, os três pontos da componente dos mecanismos
são referidos como, mecanismo da sinalização, resposta e mobilidade.

Portanto, devido a incapacidade de o mercado atender algumas demandas, a questão da


perspectiva para o desenvolvimento fica comprometida, por conta das falhas na resolução
de tais problemas que por si só o mercado não consegue responder. Eis a razão e
justificativa da intervenção do governo no mercado.

Boa Governança

Austrian Development Cooperation (2011) advoga que no contexto político e


institucional que assegura os direitos humanos, princípios democráticos e o Estado de
Direito, define a boa governança como sendo a transparência e responsabilidade na gestão
dos recursos humanos, naturais, econômicos e financeiros para propósitos de equidade e
desenvolvimento sustentável. Da mesma forma, o Banco Asiatico de Desenvolvimento
deixa entender que a boa governança implica que o exercício da autoridade investida e
responsável, transparente, previsível, participativa e dinâmica7.

Segundo Kraipornsak (2018: 93), a boa governança tem sido considerada o factor chave
que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento económico moderno. A boa
governança tem aumentado a competitividade dos Estados e ajuda a manter as economias
operando de forma eficiente. Do contrário, uma governança fraca faz com que a economia
não atinja o seu potencial. A corrupção como componente da má governança demonstra
que apenas uma parte dos recursos é aplicada às atividades econômicas. Como

7
Disponivel em https://ww1.issa.int/pt/guidelines/gg/174436. Aacessado as 13/04/2022.

5
consequência, a população não ganha por completo os benefícios dessas atividades
econômicas.

De acordo com Kiely (2013: 68), o Banco Mundial vê a boa governança como sendo o
fim, justifica dizendo que tal fim refere-se a um sinônimo com o sentido de gestão do
desenvolvimento. Portanto, Banco Mundial (1992: 1) argumenta que tal gestão do
desenvolvimento requer não só um governo limitado, mas sim um governo melhor, aquele
que concentra seus esforços pouco na intervenção direta e mais na promoção da
produtividade do mercado. Entretanto, a boa governança promove o desenvolvimento.

De acordo com o Banco Mundial (2002, 10)8 citado por Frey (2008: 50), a importância
da boa governança reside fundamentalmente no apoio das transações efectivas do
mercado. E como consequência, promoverá o crescimento e a redução da pobreza.
Portanto, na visão do Banco Mundial a questão da boa governança é uma questão central
para a redução da pobreza através de seus efeitos irrefutáveis no crescimento econômico
no geral. Ao passo que Kraipornsak (2018: 94) argumenta que a boa governança tem sido
aceite como prioridade no desenvolvimento econômico, especialmente nos países em
desenvolvimento. A boa governança pode ser assumida como um suporte para robustecer
a economia, enquanto promove a eficácia e eficiência do desenvolvimento.
Consequentemente, a boa governança é categorizada como sendo um dos Objectivos do
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (2007 a 2017).

8
World Development Report 2002: Building institutions for markets. Washington DC: The World
Bank/Oxford University Press. http://www.worldbank.org/wdr/2001/fulltext/fulltext2002.htm, on
26/11/2007 (accessed November 26, 2007).

6
REFLEXÃO EM TORNO DAS IMPLICAÇÕES DO CRESCIMENTO NO
DESENVOLVIMENTO

Abordar em torno do assunto crescimento no desenvolvimento é uma questão deveras


complexa por conta de sua multidisciplinaridade, pois o crescimento pode ser abordado
no âmbito econômico assim como populacional, como vem sendo discutido pelos
clássicos e neoclássicos nos paradigmas de desenvolvimento. No entanto, para o
desenvolver desta seção, o crescimento será abordado, numa primeira fase no âmbito
econômico e por último no âmbito populacional.

Crescimento Econômico no Desenvolvimento

O mundo vive uma era de abundância e prosperidade nunca antes atingido, os avanços
tecnológicos registrados no século XX transformaram a economia mundial. A era da
digitalização alterou as prioridades das sociedades. O Estudo do crescimento econômico
remete, de forma objetiva, às teorias clássicas e pós-clássicas, pois, o estudo desta
temática tem as suas bases naquelas.

Os autores clássicos baseados no método idealista racionalista, acreditavam que a


mudança é individual, ou seja, as sociedades são movidas por egoísmo e as teorias pós-
clássicos mudam ligeiramente a concepção sobre como alcançar esse bem-estar social.
Não há confrontação de ideias entre os clássicos e os pós-clássicos, estes últimos utilizam
ideias dos clássicos para fundamentar suas ideias e usar o desenvolvimento através de
medidas macroeconômicas. A polêmica só foi criada depois por Lewis e Nurse que
enfatizam as variáveis não econômicas para o crescimento e desenvolvimento sem
distinguir estes dois termos9.

David Hume, teórico clássico, que pode ser considerado um dos fundadores das teorias
de crescimento e desenvolvimento acreditava ser o crescimento econômico um poderoso
agente nas mudanças econômicas e sociais, entretanto essas mudanças econômicas
dependiam muito de mudanças não econômicas10. Entretanto, o problema econômico
continua a consistir na necessidade de satisfazer as necessidades das pessoas, dados os
escassos recursos disponíveis e a tecnologia existente.

9
http://www.pet-economia.ufpr.br/banco_de_arquivos/00020_TRABALHaO.PDF.
10
Ibid.

7
A literatura económica, segundo Freitas (2011), duas correntes distintas concorrem para
a análise do crescimento económico da economia de um país, ou região. Para este autor
a análise pode ser feita através do Produto Nacional Bruto (PNB), ou através da análise
do Produto Interno Bruto (PIB),

O mesmo autor, citando Martins (2003: 544) refere que, o crescimento económico é o
processo de crescimento do PNB per capita, em função da melhoria no padrão de vida da
sociedade e pelas alterações essenciais que possam ocorrer na estrutura da actividade
económica. Acrescenta ainda, que é o crescimento da capacidade produtiva de uma
economia no decorrer do tempo, geralmente medido pelo aumento do Produto Nacional
Bruto ou do produto per capita no decorrer do tempo. Por outro lado, Martins (Ibid)
citando Rutherford (1995: 116) acrescenta novas variáveis para além do PNB na medição
do crescimento económico definindo como crescimento da produção total de uma
economia, avaliado por aumento do Produto Nacional Bruto real causado por aumento na
oferta de factores de produção ou da produtividade.

Na outra corrente, Freitas (2011), refere que os autores desta linha defendem o PIB como
medida de crescimento econômico. Citando Gordon (2000:196) em economia o
crescimento económico é o estudo das causas e das consequências de um aumento
sustentado do PIB real por pessoa. E prossegue, argumentando que crescimento
económico de uma forma precisa e concreta é o aumento percentual anual do PIB ou do
PIB per capita. O crescimento corresponde, portanto, a taxa de crescimento do PIB.

Ainda, para Freitas (2011), a corrente de pensamento que privilegia o PIB como medida
do crescimento econômico tem maior peso de aceitação. O crescimento económico
analisado em termos do PIB mede o aumento da riqueza criada numa económica, país ou
região, pelas unidades institucionais residentes, segundo o critério de territorialidade,
enquanto analisado em termos de PNB, mede o aumento da riqueza criada pelas unidades
institucionais residentes de uma economia, país ou região independentemente do local
onde foi obtida, segundo o critério da nacionalidade.

Para Freitas (2007) o crescimento econômico é o crescimento contínuo da renda per capita
ao longo do tempo. E por seu turno Celso Furtado (2004: 484)11 citado por Bresser-Pereira
(2008:4) refere que o crescimento econômico, tal como o conhecemos vem se fundando

11
Furtado, Celso (1967) Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Companhia
Editora Nacional.

8
na preservação de privilégios das elites que satisfazem seus afãs de modernização, e o
desenvolvimento é o mesmo fenômeno do ponto de vista de suas repercussões no
conjunto econômico de estrutura complexa que o inclui o anterior. E acrescenta que, o
crescimento é o aumento da produção, ou seja, do fluxo de renda, ao nível de um
subconjunto especializado.

Para Correia (2005) o crescimento econômico é um conceito restrito, porque foca-se no


aumento quantitativo das capacidades produtivas e não na transformação qualitativa da
estrutura econômica. A teoria de crescimento econômico procura encontrar fatores
determinantes da taxa de crescimento econômico, e identificar políticas que fomentem o
seu aumento.

Destes conceitos podemos aferir que o crescimento está intrinsecamente ligado ao


aumento quantitativo da produção, isto é, do PIB.

Com efeito, para Santana (2012) o crescimento econômico tem sido visto como solução
para a variedade de problemas, argumentando-se frequentemente que ele se constitui na
única esperança para redução ou eliminação da pobreza. Porém, o crescimento
quantitativo, isolado, tornou-se insuficiente para garantir o desenvolvimento das nações.
O facto é que, na actualidade, o crescimento reivindica, além da riqueza material, o
cuidado associado à dimensão sócio- económica.

Santana (ibid) analisa o crescimento econômico e identifica os factores que o sector


público pode conduzir para a produção de políticas que estimulam o processo de
crescimento econômico designado por políticas estruturais, e menciona por exemplo:

➢ Promoção de um nível de poupança apropriado para fixar um défice orçamental


público adequado e introduzir incentivos à poupança ou ao consumo privado.
➢ Formação de capital humano - promover ensino e formação profissional, a saúde
pública, e reter o capital humano existente.
➢ Apoio à inovação e difusão de tecnologia - incentivar a investigação e
desenvolvimento, a inovação, a criação de redes empresariais e a divulgação de
informação.
➢ Investimento em infra-estrutura públicas - escolas, hospitais, estradas, e fornecer
bens públicos que contribuem para a competitividade das empresas ou que
reduzem os seus custos.

9
➢ Regulação dos mercados - definir políticas concorrenciais e proteger os direitos
de propriedade.

Por sua vez, Freitas (2007), identifica que o crescimento econômico depende de
determinados factores e enumera cinco considerados cruciais, nomeadamente; (1)
aumento na força de trabalho, (2) aumento de stock de capital, (3) melhoria na qualidade
de mão-de-obra, (4) melhoria tecnológica e (5) eficiência organizacional.

De forma geral, no concernente ao crescimento econômico percebe-se que este tem sido
a resolução de alguma parte dos problemas que afetam o funcionamento normal de um
país, principalmente, na questão da redução da pobreza. Outrossim, existem duas
correntes que têm sido predominantes no que refere à análise do crescimento econômico,
estas têm dado bases suficientes para a observação do crescimento econômico dos países,
fala-se concretamente do Produto Nacional Bruto e o Produto Interno Bruto, onde na
primeira corrente centra-se na variável de nacionalidade e a última centra-se na variável
de territorialidade em termos aumento da riqueza criada numa económica. E por fim,
entende-se que existem factores sobre os quais o crescimento econômico depende, que
são: o aumento da força de trabalho; a melhoria de stock do capital; a melhoria da
qualidade da mão-de-obra; melhoria tecnológica e a eficiência organizacional, entretanto,
os países devem comportar esses fatores para alcançarem o crescimento econômico e
posteriormente, o desenvolvimento.

Crescimento Populacional no Desenvolvimento

De acordo com Bastos (2006: 302), o ritmo de crescimento populacional é um dos


factores que determinam o tamanho da força de trabalho de uma economia. Nesse sentido,
a dinâmica demográfica pode se constituir em elemento que contribui para pressionar o
mercado de trabalho, pois um crescimento populacional elevado requer maior capacidade
de geração de emprego pela economia para absorver produtivamente as pessoas que
ingressam no mercado de trabalho.

Fontana et all (2015: 115), esclarece que em 1798, Thomas Robert Malthus escreveu a
mais famosa obra sobre questões demográficas, que por sua vez, foi à primeira teoria
demográfica de grande repercussão nos meios acadêmicos, políticos e econômicos e até
hoje é a mais popular de todas, apesar das falhas que apresenta. Preocupado com os
problemas socioeconômicos (desemprego, fome, êxodo rural, rápido aumento

10
populacional) decorrentes da Revolução Industrial e que afetaram seriamente a Inglaterra,
Malthus expôs sua famosa teoria a respeito do crescimento demográfico.

Em sua teoria Malthus afirma que as populações humanas, se não ocorrerem guerras,
epidemias, desastres naturais, entre outros, tenderia a duplicar a cada 25 anos. Ela
cresceria, portanto, em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32...). Já o crescimento da
produção de alimentos ocorreria apenas em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10...), (Ibid).

Ao passo que Keynes e Smith mostram-se optimistas sobre a influência do crescimento


da população no desenvolvimento. Tal como afirma Meireles (2011: 14) citando Coleman
(2007: 2) que diante de uma população estacionária, os “dois demónios Malthusianos
poderiam ser mantidos em equilíbrio, com um aumento do consumo, uma distribuição
mais equitativa dos rendimentos e uma redução das taxas de juro. Assim como afirma
Meirales (2011: 13) que Keynes considerava que o declínio da população teria como
consequência “o subemprego de recursos” e a baixa procura, que poderia resultar em
desemprego. No entanto, Keynes apresenta uma visão positivista daquilo que seriam as
consequências do crescimento da população no desenvolvimento.

Entretanto, se a população crescer de numerosa pode ocupar-se, principalmente, no sector


primário e distribuir-se de forma atomizada pelo território que ocupa. O objectivo do
desenvolvimento consiste na aplicação dos sectores secundário e terciário, através da
libertação da mão-de-obra da agricultura, pelo aumento da sua produtividade neste sector.
Esta estratégia conduz à proletarização das populações rurais, urbanizando-as, criando
nas cinturas das grandes cidades o que se poderá designar por focos de misérias
(Desroche, 1978).

De modo geral sobre o crescimento populacional, denota-se que o mesmo pode ser
interpretado de formas diferentes no que se refere ao desenvolvimento, primeiro temos a
ideia tradicional das consequências negativas do crescimento populacional sobre
desenvolvimento apresentado pelo Malthus, porém, percebe-se também que o
crescimento populacional tem consequências positivas sobre o desenvolvimento, o que o
teórico Adam Smith prega em sua teoria, onde refere que o crescimento elevado
populacional permite a divisão do trabalho e, por consequência, reflecte-se numa
produtividade elevada. Assim como o Keynes com sua ideia de subemprego de recursos,
como consequência do declínio da população.

11
CONCLUSÃO

O desenvolvimento tem sido a preocupação principal dos países, o processo para o


alcance do mesmo tem sido uma questão muito debatida no âmbito académico. Portanto,
nesta pesquisa foi analisado o desenvolvimento em duas perspetivas, sendo que nas
perspetivas de governança e crescimento. No que tangue a governança denota-se que o
desenvolvimento é muito exigente, na medida em que o mesmo estabelece uma condição
para o seu alcance. Nessa perspetiva o desenvolvimento pode ser alcançado a partir de
uma boa governança, que por sua vez, com base no Banco Mundial é o fim de tudo, onde
existe uma gestão do desenvolvimento. Porem, a governança pode não proporcionar o
desenvolvimento quando não é alinhado aos princípios da boa governança. De modo
geral, a má governança retarda o desenvolvimento e propicia alguns malefícios ao
mesmo, como por exemplo, a corrupção.

No que tange ao crescimento, denota-se que para abordar sobre o desenvolvimento numa
perspetiva de crescimento, é necessário ter em conta dois principais conceitos,
crescimento económico e crescimento populacional. Em relação ao crescimento
económico entende-se que é alcançado a partir de dois principais indicadores, o Produto
Nacional Bruto e Produto Interno Bruto. Em relação ao crescimento populacional existem
abordagens pessimistas e optimistas que argumentam em torno crescimento populacional
no desenvolvimento. Na base da abordagem optimista, o crescimento populacional traz
estabilidade entre a oferta e procura de bens e serviços. E na base da abordagem
pessimista, o crescimento populacional é prejudicial ao desenvolvimento, no sentido de
que esta promove disparidade entre a oferta e a procura, entretanto, para sanar essa
disparidade deve haver uma redução da população. Contudo, a relação entre a governança
e crescimento assumem posições favoráveis ao desenvolvimento assim com
desfavoráveis ao mesmo.

12
REFERÊNCIAS

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Tecnologica: Crescimento Economico, Desenvolvimento Sustentavel e Novacao
Tecnologica. Univesidade de São Paulo. São Paulo-Brazil.

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