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A HISTORIA CULTURAL DE MICHEL FOUCAULT Maria Teresa Sokolowski Queiroz! INTRODUCAO, A histéria da cultura ocidental descrita por Michel Foucault baseia-se na relagio entre saber, poder e regime de verdade. Niio que exista em Foucault uma teoria geral do poder, pois ele no o considerou como uma realidade que possuisse uma natureza, uma esséncia ¢ caracteristicas universais. O poder no seria unitirio ¢ global, mas possuiria formas dispares, heterogéneas, em cons- tante transformagio. Nao seria um objeto natural, mas sim, uma pritica social. Segundo Foucault, os poderes se exercem em niveis variados ¢ em pontos dife- rentes da rede social, ¢ neste complexo os micro-poderes existem integrados ou nao ao Estado, o que nio quer dizer que o poder se situa em outro lugar, que nao o Estado, Para ele os poderes nao estio localizados em nenhum ponto espe- cifico da trama social, funcionam como uma rede de dispositivos, na qual tudo esté interligado. O poder nao é algo que se detém, como uma propricdade, é algo que se exerce; nao existe o poder, existem priticas ou relacdes de poder. Resumidamente, para Foucault, o poder nao € um objeto, uma coisa, é uma relacio. A investigacio foucaultiana da relagio entre poder e saber estabelece uma profunda reciprocidade. Parte do principio de que nao hé saber neutro; todo ele € politico, porque sua génese est nas relagdes de poder. Uma relacao de poder implica a constituicio de um campo de saber e, por outro lado, todo saber cons- titui novas relagées de poder. O poder forma o saber e todo saber é dotado de poder. Hi outros aspectos importantes na andlise foucaultiana da relagao entre saber e poder. Um deles € a rejeigio da nogio exclusivamente negativa do poder, que © valoriza como uma forga de proibigao. Foucault defende que 0 poder deve ser considerado como uma rede produtiva que atravessa todo 0 corpo social, muito mais do que uma instincia hegativa, que tem por fungio reprimir, Segundo ele, se 0 poder fosse somente repressivo, ele no seria obe- decido. O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é que ele nio possui sé uma vertente negativa. O poder possui uma positividade produtiva e transformadora, porque ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso ¢ rituais de verdade, Portanto, o poder nao s6 reprime, mas também pode criar a verdade e a sua prépria legitimacao. + Maria Teresa Sokolowsi Queiroz é Doutora em Educagio pela Universidade Metodista de Piracicaba, COMUNICAGOES + Cademado Program de Ps-Graduagio em Educicie » Ano 10 * N* 2+ dezemibo de 2008 19, Uma sugestio interessante de Foucault é a de que, se nos propusermos a provocar transformagSes nos saberes ¢ nos discursos, deverfamos partir de locais menos auspiciosos, menos promissores. Segundo ele, o papel do intclec- tual, no caso 0 historiador, que quer promover transformaches, é tentar denun= iar as escritas da histéria, que s6 valorizam aquilo que jé est legitimado, ¢ procurar dar lugar aos saberes ¢ aos discutsos, que dentro dos limites de uma determinada cultura nao sio considlerados qualificados. Outra possibilidade de Promover transformagées seria a de o intelectual permanecer nos limites do saber erudito, aquele que dentro da nossa cultura € considerado qualificado ¢ legitimo, ¢ optar pelo estudo de objetos, que até entio nio foram tidos como dlignos de serem pesquisados, tratando-os com o rigor necessério de uma pes- ~equisa erudita, Estas sto as idéias principais deste artigo, mas, antes de inicié-lo, é impor- tante ressaltar 0 cuidado que se deve ter, a0 utilizar 0 conceito foucaultiano de poder, sobretudo quando 0 objetivo for geral ¢ englobante. Isto porque, a0 for muli-to, suas andlises resultavam de objetos limitados e particulares — as insti- tuig6es —, ¢ tentar universalizd-las seria problemiatico. Os estudos de Foucault sobre as relagbes de poder se adaptam As instituicées do tipo prisio, hospital, escola, exército ou fabrica. A CULTURA: DETERMINACAO DO LUGAR DO MESMO. EDOOUTRO Foucault se interessou pelo estudo da cultura ocidental, quando se depa- Fou com uma classificagio dos animais de uma certa enciclopédia chinesa, onde esti escrito que: Os animais se dividem em: a) pertencentes ao imperador, b) embalsameados, ¢) domesticades,d) leitGes,e) sereias, ) fabulosos, g) ces em liberdade, h) includes na presente classifica, i) que se agta como lowes, j) inumerdveis, k) desenthados com um pincel muito fino de péto de camelo, I) etcetera, m) que acaba de quebrar a bila, n) que de longe parecene moscas (FOUCAULT, 1995, p.5).. Este texto o fez rir por um longo perfodo, mas acabou gerando um mal- estar, quando o levou a confrontar a sensacio de consolo, experimentada pelas utopias, com a inquietacio trazida pelas heterotopias. As utopias, mesmo que sejam quiméricas, apaziguam nossos pensamentos, propondo-nos relagdes harmoniosas, lugares maravilhosos c o aprimoramento do senso estético. As heterotopias se opdem a isto, pais solapam secretamente a linguagens, porque impedem de nomear isto ou auto, por- que fracionain os nones comuns ou osemaranbam, porque arruinam de anterndo a “sintaxe”, e ndo somente aguela que constr as frases — aquela, menos manifsia que 170 COMUNICAGOES Cademo do Programa de Pée-Graduacicem Educigio * Ano 10* N*2* derembyo de 2003 autoriza “manter juntos” as palavras ¢ as coisas. Eis por que as utopias permitem as _fabulas os discuros:ituamse nas linhasretas da linguagem, na dimensdo funda ‘mental da fibula; as helerotopias dessecam o propdsifo, estancam as palavras nelas priprias, contestam, desl a raiz, toda possibilidade dle gramtica; desfaxeen os mitos ¢ imprime eseritdade ao lirismo das fases (FOUCAULT, 1995, p 8). Isto levou Foucault a escrever um modelo alternativo da hist6ria da cul- tura, procurando fimdamentalmente escapar do conceito de totalidade mar- xista e dos historiadores dos Annales e produzir uma historia geral. No livro A arqucologia do saber ele justifica sua escolha, quando expoe que na historia total 08 aspectos econdmicos, politicos, sociais ¢ culturais sao dirigidos por uma mesma causalidade, ou por “uma Gnica e mesma historicidade”. J4 a histéria geral de Foucault é uma histéria com comegos, mas sem causas. “Uma descrigao ‘otal reine todos os fendmenos ao redor de um tinico centro ~ um principio, um significado, uma visio de mundo, uma configuragao geral; uma historia geral, ao contrio, mobilizaria o espaco da dispersdo” (FOUCAULT, 1986, p. 10). Na sua historia cultural ele trabalha com a nogio de descontinnidade, que seria a possibilidade de crosao, que vem de fora, do espaco, que estaria do outro lado do pensamento, que fiz. com que nao mais se possa pensar um pen- samento, levando a inauguragio de uma nova forma de pensar. Uma desconti- nuidade acontece, quando num determinado perfodo uma cultura deixa de pensar como o fizera até entio e se poe a pensar outra coisa e de outro modo. Foucault contrapde-se a linha historiografica, que entende a diferenca como erro a ser corrigido, encontrando nela uma diferenga menor e dentro desta uma outra ainda menor, e assim sucessivamente até o limite ideal, que seria a ndo diferenga da continuidade. Seu método baseia-se na andlise das dife- reneas, procurando dizer em qué exatamente consistem e como elas podem conduzir As transformacées, que levario a descontinuidade, mas Dizer que uma formagéo discursva subsite outra no é dizer que todo van Ptindo dle objetos, enunciagdes, concetos,excolhas tebrcas absolutamente novas, surge jé armade organizado em sm texto que ostuaria de wma vez por las; mas sim que ccontecea uma iransformacio geral de relages que, entretanto, néo aliera forcosa- ‘mente todos os elementos, que os enuincadosobedecem a novas rgras de formagdo ¢ no que todos os objetos ou conceit, todas as enunciagies ou toda as escolhastericas desaparecem. Ao contrdrio, a partir dessas novas regras, podem ser descrtos anal szadosfenémens de continuidade, de retro e de epetiéo (FOUCAULT, 1986, p-197). Ahist6ria cultural de Foucault estabelece periodizagées bascadas nas des- continuidades do Renascimento ¢ nas eras classica e moderna. A investigagiio arqueolégica mostrou duas grandes descontinuidades na epistémé da cultura ocidental: aquela que inaugura a idade clssica (por volta dos meados do sécuilo XVII) e aquela que, COMUNICAQOES + Caemo do Programs ie Pe Graco em Eu * na 10+ NY 2+ devembro de 2003 71 no inicio do século XIX, marca o limiar da nossa modernidade. (FOUCAULT, 1995, p.12) Foucault aponta quais sio os fatos histérico-culturais, que o levaram a estabelecer o que chamou de idade cléssica ¢ idade moderna, O classicismo tem inicio “quando 0 pensamento cessa de se mover no elemento da semelhanca. A similitude indo é mais a forma do saber, mas antes a ocasido do erro. A idade do semelhante fechou-se sobre si mesma (FOUCAULT, 1995, p. 66). Quanto 4 outra grande descontinuidade Foucault (1995, p. 333) consi- dera que we A modernidade comeca quando 0 ser humano comeca a existir no interior de seu organism, naconcha de sua cabo, na armadura de seus membrose ent meio a toda 4 neroura de sua fisiologia; quando ele comega a existir no coragao de wm trabalho «ajo principio o dontina e cujo produto the escapa; quando aloja o seu pensamento nas dobras de ima linguagem, tao mais vetha que ele néo pode dominar-the as sig nificagies, eanimadas, contudo, pela insisténcia de sua palavra. Poréin, mais fan- damentalmente, nossa cultera transpés 0 limiar a partir do qual reconhecems Hossa modemidade, no dia en que a finitude foi pensada numa referéncia intermindvel a si mesma, Neste contexto cultura significa agrupamento de saberes ¢ praticas sociais, que enquadram uma sociedade. Os limites do quadro, ou a sua mol- dura, onde a sociedade se insere, colocam-lhe suas possibilidades de nomear, falar, pensar. Se considerarmos a classificagio dos animais da enciclopédia chi- nesa, constataremos que, por mais que tentemos, dentro dos limites da nossa cultura ocidental, levar em consideragio aquela ordenagio dos animais, nao conseguiremos assim os classificar, pois, nos limites daquele quadro nao nos é possivel nomear, falar, pensar. Trata-se de outra cultura. Fazer uma anilise sob a ética cultural foucaultiana pressupde a determi nagio do lugar do Mesmo ¢ do Outro. Num sentido mais amplo o Outro é 0 limite de pensamento para uma cultura, ow seja, aquilo que para uma cultura ultrapassa a sua possibilidade de nomear falar, pensar. Num sentido mais par- ticular o Outro € aquilo que para uma cultura é a0 mesrno tempo interior € estranho, que significa a sua exce¢io. E aquilo que ao mesmo tempo precisa ser excluido, para conjurar-Ihe 0 perigo interior que constitui, mas precisa ser inclufdo, para reduzir-Ihe a alteridade, para diminuir a desordem; o espago do Mesmo € 0 espago da ordem das coisas, daquilo que para uma cultura € a0 mesmo tempo disperso e aparentado, a ser distinguido por marcas e recolhido em identidades. im (COMUNICAGOES + Calero do Programa de Pie Gradagiotem Educagio* Ano 10 © N2® deze de 2008, O RENASCIMENTO E AS NOVAS DISPOSICOES DO SABER: ASEMELHANCA SE DESFAZ Foucault (1986, p. 206) definiu o saber como sendo: O conjunto dos elementos que deven: ter side formados por wma prética discursiva, ‘para que, eventuaente, se constitute unt disco cientifico, espeifcado nto sé por sa forma ese sign, mas também pelos objetos de que se acupa, as tpas de enurciagao {que pe em jogo, os conceitos que manipula easestatégias que utilize. Exes elemenios sco formadas de maneira regular por sma prétca discarsiva e indispensdveisd cons- tituigao de uma ciémcia, apesar de nao se destinarem necessariamente a the dar lugar Un saber € aquilo de que podemas falar em uma pritica dscursiva que se encontra «assim especfcada: 0 domtinio consttuldo pelos diferentes objetos que irdo adquirir ou ‘no uns status centfico; 0 espago em que o sujeito pode temnar posigao para falar dos objetos de que se ccupa em seu discers; 0 campo de coordenagio e de subontinagio dos enserciaios em que os conceias aparece, se definems, se aplicanse se srangfor- ‘mam fnalmenie, um saber se define por pasibildades de wtilizacao e de apropria Go ofreidas pelo discurso, Hd saberes que sao independentes das eiéncas (que ndo “cio nem sea eshogo histbrico, nen o avesso vivid); mas nao bd saber sem wma pod ica dscursiva definida, e toda prética discursva pode definit-se plo saber que ela forme. Um ponto central de sua anilise diz que: Saber e poder se implicam mutuamente: néo hd relagao de poder sem constitaigdo de sum campo de saber, como também, reiprocamente, todo saber consttui novas rela~ «Ges de poder. 'Tedo ponto de exerccio do poder é, co mesmo tempo, stm lugar defor smagao de saber. A relago ainda € mais inrinseca: &0 saber enguanto tal que se enconira dotado esatutariamente, insttacionalmente, de determinado poder. O saber funciona na sociedade dotado de poder. E enquanto & saber que tem poder (FOUCAULT, 1989, p30q) A teoria foucaultiana sobre o saber ¢ 0 poder baseia-se ainda num terceiro clemento, que éa-verdade. Ele defende que a verdade nao existe fora do poder, ou sem poder, e que cada sociedade possui seu regime de verdade, que seria: Os tipos de discurso que ela aothe¢ faz ficionar como verdadeiros; os mecanismmas € as insténcias que permitem distingur os enunciados verdadeiros dos falsos, a ‘martira como se sanciona uns e outros; as téenicas¢ 0 procedimentos que sao valo- rizados para a obtengao da verdade;o estatuto dagueles que ténto encargo de dizer 0 que funciona como verdadeiro. A verdade seria, entio, 0 conjunto das regras segundo as quais se distinge 0 verdadeire do flso e se atribu ao verdadero efeitos espectfios de poder. FOUCAULT, 1989, p. 12) Foucault (1989, p. 13) esclarece que em nossa sociedade o regime de ver- dade tem cinco caracterfsticas historicamente importantes: COMUNICAGOES + Cader do Progam de Pés- Grado em Educiclo + Apo 10+ 2+ deaembro de 2003 ry A “verdade” €centrada wa forma do discurso ciennifico e nas instituigbes que 0 pro- duzem; esid submetida a uma constante incitagéo econdmica e politica (necessidade de verdade tanto para a producio econémtica, quanto para o poder politico); é objeto, de vérias formas, de uma insensa difusio e de um imenso consime (creula nas ins- tituigGes educacionais on nos meios de informacao); € produzida e transmitida sob 0 ‘controle, nao exclusivo, mas dominant, de algumtas instancias polltica eeconSmicas (universidades, extrte, escriusra, meios de conusnicagio)senfim, é objeto de debate politico ede confronto social. Até o final do século XVI 0 saber tinha uma caracteristica fundamental, que era ade se mover dentro dos contornos da semelhanca. A semethanga desempenhou um papel constritor no saber da cultura ocidental. Poi “= cla que, ent grande parte conduzziu a exegesee a interpretagdo dos textos: foi ela que organtizou 0 jogo das simbolos, permitiu o conhecimento das coisas vistueise invist- eis, guiow a ate de representé-las. O mundo enrolava-se sobre si mesmo: a terra sepetindo 0 ct, 0s osos mirando-se nas esrlas e a erva envolvendo nas suas hustes a segredas que serviam co homer. A pintura imitava o epago. E a representagio — _foss ela fea ous saber — se ava como repetico: teatro da vida ox espelbo do mundo, tal era 0 titulo de toda Finguagem, sua maneina de anunciar-se e de formar sou dircito de falar, (POUCAULT, 1995, p. 33) A Renascenca criou as condicdes, que levaram a cultura ocidental a softer no inicio do século XVII uma profisnda descontinuidade, quando 0 pensa- mento parou de se mover no contexto da semelhanca. A similitude deixou de ser a forma do saber ¢ transformou-se na ocasio do erro. O fim da idade do semelhante deixou para trés um conhecimento misturado ¢ sem regra, onde tudo se aproximava da casualidade das experiéncias, das credulidades ou das tradigées. Hi dois pensadores, que se destacaram como criticos da semelhanca: Bacon (1561-1626) ¢ Descartes (1596-1650). Acritica de Bacon nio se refere 2s relagdes de ordem e de igualdade entre as coisas, mas ao espirito ¢ as jlusoes, as quais clas podem estar sujeitas. Para Bacon (1988, p. 23) intelecto huzmano, meré de suas peculiarespropriedades, facilmente supée maior order ¢ regularidade nas coisas que de fato nelas se encomiram. Desse modo, como na natureza existe muitas coisas singularese cheias de disparidades, aquele tana _gina paraleismos, corespondéncias e relacées que nao existem. Dai a supasigao de {ue no césfodos.os compos devem mver-se em crculas perfitos. A critica cartesiana da semelhanga ¢ de outra natureza. Descartes recusou a semelhanca como forma primeira ¢ fundamental do saber. A semelhanga seria um lugar de desordem, que cumpre analisar em termos de identidades e de diferencas, de medida e de ordem. Sua rejeigio & semelhanga nio se baseia m4 COMUNICAGOES + Cadems do Program de Pér-Giidgio am Educa * Ano 10* NY 2+ dezcnbro de 203 numa proposta de abandono pelo pensamento racional do ato de comparagio, a0 contrario, sugere stia umiversalizagio, dando-lhe sua mais pura forma. (Fou- cault, 1995, p. 67). ‘Tudo isso acarretou profindas conseqiiéncias 4 cultura ocidental. A semelhanca, que outrora era categoria fundamental do saber, desagregou-se numa anilise feita em termos de identidade ¢ de diferenca. A comparacio dei- xou de revelara ordenacio do mundo, passando a ser feita segundo a ordem do pensamento, conduzindo-o do simples a0 complexo. Dat, toda a epistémé da cultura ocidental se modifiou em suas disposies funda mentais. E em particular o dominio empirico onde 0 homem do século XVI via stinda estabelecrem-se os parentecas, as semelhancas ¢as afinidades e onde se entre~ cruzavam sem fim a linguagem e as coisas ~ todo ese campa imenso vai assumiz tama configuragéo nova. Podemos, se qusermos, designé-to pelo nome de “raciona~ liso”. (FOUCAULT, 1995, p. 69) Os movimentos iniciados pela Renascenga ajudaram a inaugurar a Idade Moderna. Foi iquela época, que comegou a surgir uma mentalidade individua- lista; a diversificacio do conhecimento humano e dos érgios de transmissio do saber e os principios fundamentais para o desenvolvimento da ciéncia moderna. © CREPUSCULO DA ORIGEM E © ALVORECER DA FINITUDE NA ERA MODERNA: A COETANEIDADE DO HOMEM EO IMPENSADO No comeco do século XVII a cultura ocidental sofreu uma descontinui- dade provocada, dentre outros fatores, pelo humanismo renascentista, pelo empirismo c pelo racionalismo. Uma descontinuidade desfaz as possibilidades de o saber percorrer os mesmos caminhos, que vinha fizendo até entio. Uma cisio comega a tomar corpo ¢ vai levando-o a se acomodar em novos espagos, causando 0 desloca- mento das disposigbes epistemolégicas, ¢ tais mudancas fazem com que as coi- sas passem a ser reconhecidas, expostas, classificadas e sabidas de uma outra maneira Mutag6es dessa natureza aconteceram também no final do século XVIII, quando outra profunda descontinuidade desprendeu o pensamento ocidental do lugar, onde estava acomodado, impulsionando-o para um outro espaco de percepgio das coisas. Este novo espago multifacetado recebeu 0 nome de modernidade. A epistémé moderna surgitt, portanto, nos dltimos anos do século XVII e ainda hoje abarca o lugar, onde nosso saber s¢ aloja. O saber moderno foi se firmando segundo uma tendéncia, que uniu a historicidade da economia, a finitude do homem e o aprazamento de um fim da Hist6ria. Foi nesse sentido que o saber moderno distanciou-se do saber clis- COMUNICAQOES + Cademo do Programa de Pse-Graduacio em Educigio * Ano 10 * N° 2 deserra de 2003, 15 sico, pois no pensamento dssico, a utopia furicionava antes como um devaneio de origem. (FOUCAULT, 1995, p. 277) No classicismo 0 transcorrer das coisas tinha como parametro a sua ori gem, o que fazia com que as representagSes jamais perdessem de vista aquilo que elas representavam. Tudo se desdobrava como se fosse um quadro, que reproduzisse cada coisa em seu devido lugar, enfatizando as equivaléncias, as vizinhangas ¢ as préprias diferenas. A modernidade pés fim a esta utopia, desviando 0 olhar clissico atento 3 origem para um ontro ponto, passando a compreender as coisas sob o prisma da finitude. No séailo XIX, a utopia concerne ao crepsculo do terspo mais que a sua “Guurora: é que o saber ndo é mais constitutdo ao modo do quadro, mas ao da série, do enca- deamento e do devir. (FOUCAULT, 1995, p. 278) O devir passaa fimcionar comoa grande promessa, que trard pelos bracos da Histétia a verdade antropoldgica do homem. Quando Guy Bourdé e Hervé Martin (1983, p. 159), nos seus estudos sobre as diferentes escolas histéricas, analisaram a relagio do marxismo com a hist6ria, exemplificaram o funciona- mento da utopia referente ao creptisculo do tempo: Mars nfo escapa ao seu ambiente intelectual, ao evolucionismo do séeulo XIX. Como Hegel e outros pensadores de menor envergadura. Marc mantém a idéia de sum senlido da histéria, de uma finatidade das accées humanas. Para Maro movi- ‘menta inteiro da histéva, qualifcado de pré-histria, aparece como ism acto de pro- criagio do comunismo. Ao fim de uma longa evolugdo, marcada por dolorosas contradigies— crises, epidemias, migragdes, gueras, et, ~a histéria deve parir uma sociedad comunista de paz e de abundancia. O futuro radioso ds marxistasoferece alguna analogia com 0 paraiso dos cristfos. O fim do pensamento clissico desencadeou outros fendmenos, como a transformagio da historia natural em biologia, a andlise das riquezas em econo- mia, a reflexio sobre a linguagem em filologia ¢ o profido ¢ marcante acon tecimento, que foi o surgimento do homem. Segundo Foucault, o homem é uma criagéo do pensamento modermno, pois, antes do final do século XVIII ele nao existia. Nao que o pensamento anterior 4 modernidade deixasse de perceber, sob algumas formas, a existéncia dos seres humanos, ou deixasse de destacar um lugar privilegiado aos seres humanos na ordena¢io do mundo. A histéria natural, a andlise das riquezas e a gramatica do perfodo clissico reconheciam o homem, e mesmo 0 pensamento anterior ao classicism reconhecia o espfrito ¢ 0 corpo do ser humano. Mas ha uma diferenca: no pensamento pré-moderno nao existia uma consciéncia epis- temoldgica do homem como tal, que 0 isolasse num dominio préprio e espe- cifico. 176 COMUNICAGOIS + Cademo do Programa de Pas-Graduagio cnn Educagia * Ano 10 + N+ deem de 2008 Acriacéo do homem moderno ni foi, contudo, 0 fato fundamental, que fez a nossa cultura entrar para a era moderna, O marco cultural inicial da nossa moderidade aconteceu, no dia em que a finitude foi pensada numa referencia inter- mindvel asi mesma, (FOUCAULT, 1995, p. 334) Pensar epistemologicamente o homem, na sua existéncia corporal, falante ¢ laboriosa, decorreu do fato, este sim preponderante, de a finitude ter surgido. O homem moderno existe s6 porque a nossa cultura foi capaz de pen sar 0 finito, a partir dele proprio. Amodernidade resultou de uma descontinuidade, que mudou o lugar da andlise, que anteriormente era o da similitude, e passou ascr o lugar do homem em sua finitude. Sob a analitica da finitude o homem foi entendide como um ambiguo duplo empirico-transcendental, de objeto para um saber ¢ de sujeito que conhece. Estabeleceram-se, a partit dessa descontinuidade, duas possibili- dades de anélise. Numa delas verificou-se que o conhecimento tinha condigdes anatomofisiolégicas, partindo de teorias, que tinham o corpo como objeto principal — estudo dos mecanismos sensoriais, da percepgdo, dos esquemas neuromotores, etc. ~ criando uma espécie de estética transcendental dentro de uma natureza do conhecimento humano. E é a prépria natureza do conheci- mento humano, que Ihe delimita as formas e que pode, a0 mesmo tempo, ser- Ihe manifestada nos seus préprios contetidos empiricos. A outra anilise enfati- zava a existéncia de uma historia do conhecimento humano, procurando demonstrar que o conhecimento tinha condig6es historicas, sociais e economi- cas.Criou-se uma espécie de dialética transcendental, que entendia que a hist- ria do conhecimento humano poderia, ao mesmo tempo, ser dada ao saber empirico e ditar-Ihe suas formas. O surgimento do homem, corfio uma figura no campo do saber, teve como conseqiiéncia a descoberia de clementos, que nao poderiam ser dados & sua reflexio ou & sua consciéncia: Mecanismos obscures, dterminagées sem figura, toda uma paisagem de sombra a que, direta ow indiretamente, se chamou inconsciente. Nao € 0 inconsciente aquilo que sed necssariamente ao pensamento centfco que 0 homem aplica a st mesmo quando parade pensar na forma de refleaio?.O homem.e oimpensado so, a nivel arqueolégice,contemporéneos. O homem neo pide desenhar-se como une figura na epistémé, sr que o pensamento simultaneamente descobrisse, ao mesmo tempo emt sie fora de si, nas suas margens mas igualmente entrecruzacos com sta prépria ‘rama, uma parte de noite, uma espessuna dparentemente inerte em que ele esté imbricado, um impensado que ele contém de ponta a ponta, mas onde do mesmo modo se acha preso. (FOUCAULT, 1995, p.342) Pensar o impensado, ou reconhecer a existéncia do Outro, transformou- se numa caracteristica intrinseca do pensamento moderno. Nas diferentes for COMUNICAGOES + Cademe do Programe de Pés-Graduugio-em Educa * Ano 10+ N°2+ descr de 2008 ne mas, que o saber tomou a partir do século XIX, 0 Outro vem fazendo-se pre- sente ininterruptamente. © Outro vem acompanhando os discursos da filosofia, da psicologia, da economia, da biologia, da antropologia, da hist6ria ete. Quando pensamos em nés mesmos enquanto uma individualidade, a pos- sibilidade do Outro pode fazer-se presente, quando, por exemplo, a doenca nos mostra a possibilidade de um organismo conviver com a anormalidade, ou quando percebemos a possibilidade da nao reflexao, da existéncia do inconsciente. A percepcio do Outro pode, ainda, ultrapassar os limites da individualidade ¢ se alojar nos espagos sociais € culturais. Todorov (1993, p. 3) esclarece isto no seguinte texto: Pade-se descobrr os outros em si mesmo, e perceber que ndo se é uma subsiancia hhomogénea,e radicalmente diferente de tude o que nao é si mesmo; et € unt outro. ‘Mas cada um dos outros € um eu também, sujeito como ex... Posso conceber os outros como uma abstragio, como ama insténcia da configuragao psiguica de iodo indivi= uo, como 0 Outro, outro ou owirem em slagio a mim. Ou entio como um grupo social concreto ao qual nds no pertencemes. Este grupo pode ester contido numa sociedade: as mulheres para as homens, as ries para os pobres, as loucos para os “normais”. Qu pode ser exterior a ela, uma owtra sociedade: seres que em tudo se aproximam de nds, no plano cultural, moral histérico, on descontecides, esirangei- 1s que chego a hesitar ens recombecer que pertencernas a uma mesina espiit, Foucault (1995, p. 343) esclarece que o impensado, ou 0 Outro, nunca foi refletido por ele proprio de um modo auténomo, mas recebeu a forma complementar ¢ o nome invertido: Foto An sich ent face do Fir sich na fonomenclogia hegeliana; oi o Unbewusste para Schopenhaver; foi o homens alienado para Mars; nas andlises de Hassel, 0 implicto, 0 inatural, 0 sdimentado, 0 néo-fetuado: de tado modo, o inewotével duplo que se ofeece ao saber refetide como a projec confusa do que é 0 homem na sua verdade, masque desenipenta igualmente 0 papel de base prévia a parti da qual 0 home deve reair-se a si mes es interpelar a sua verdad © homem e o impensado sao contemporaneos e Foucault (1995, p. 340) demonstra isto, comparando 0 cogito moderno com o de Descartes: Para Descartes tatava-se de trazerd hz 0 pensamento come a forma mais geral de todas esses pensamentios que so o ero € a isa, de maneira a conjurar-Iheo perio, cont 0 risco de reencontré-tos no final de sua tentativa, de explicd-los e de propor ent 0 método para evité-tos. No cagito modern, trata-se, co contréio, de deixar naler, na sua maior dimensio, a distancia que, a wre tempo, separa e relia 0 pensa- mento presente asi com aguilo que, do pensemento, se enreéza no ndo persad; ele precisa perconer, reduplica ereativay, sob uma forma explicit, a antculago do pen. samento cons que nele, em tomo dele, debaico dele, ndo é pensamenio, mas que nem por isso the & etranho, segundo ama iredutivel, uma intransponivel exterior dade. Sob essa forma, 0 cogito ndo sexd, portant, a sibita descobertailuminadora rm (COMUNICAGOES + Caemo da Programa de Pos-Gruio i Edveaio * Ane IO * N®2* dezembro de 208) de que todo o ponsamento é pensado, mas a interregagio sempre recomegada para saber como o pensamento habite fora daqui, e, no enlanto, 0 mais préximno de si mesmo, como pode ele ser sob as espécies do no pensante Aepistémé moderna formou-se, portanto, no final do século XVII e até hoje fandamenta o pensamento ocidental. Foi a partir dela que se esbocou a maneira de ser singular do homem e também se tornou possivel analisé-lo empiricamente. O ato de refletir passou a percorrer um quadrilétero, que pos- sui como vértices o liame das positividades com a finitude, a reduplicagao do emptrico no transcendental, a relagdo perpétua do cogito com o impensado, o distanciamento ¢ 0 retorno da origem definindo para nds 0 modo de ser do homem. (FOUCAULT, 1995, p. 351) © campo de evolucio da epistémé modema ordenou-se tanto no sen tido filoséfico como no sentido cientifico. © termo ciéncia confunde-se em certas ocasides como uma producio do saber moderno. Entretanto, ciéncia ¢ modernidade nio so conceitos contemporineos, pois o proprio conceito de “cién- a” varia de uma época para outra, de uma linguagem para outra, de wma cultura para outra, (SCHWARTZMAN, 1981, p. 47) O termo ciéncia 6 anterior ao period modemo, mas existe, isto sim, um modo moderno, peculiar a esta era, de se fazer ciéncia. Na visio foucaultiana o dominio da epistémé moderna aloja-se num espaco tridimensional. Num deles estariam as ciéncias matematicas e fisicas. Numa outra dimensio estariam as ciéncias empiricas que estudam a lingua- gem, a vida, ¢ a producio ¢ a distribuicio das riquezas. Estas duas dimensoes podem estabelecer um plano comum entre si, pois existe a possibilidade de se aplicar proposigSes matemiticas na Tingiifstica, na biologia e na economia. A terceira dimensio é a da reflexto filos6fica, que € o lugar do Mesmo. A filosofia relaciona-se com as empiricidades, quando faz surgir reflexes filoséficas sobre a vida, o trabalho ¢ a linguagem; relaciona-se, também, com as ciéncias mate- maticas, na medida em que se prope a formalizar o pensamento. Aepistémé moderna carrega dentro de si uma ambigitidade, um domi- nio que num s6 tempo estd excluido desse triedo epistemoldgico, pois nao pode ser encontrado em nenhuma das dimens6es, mas poderia se incluir nele, pois € nas pequenas fendas entre essas trés dimensdes que ele se aloja. Trata-se do dominio das ciéncias humanas. A exclusio deve-se ao fato de elas nao pode- tein ser localizadas em nenhuma das trés dimensées. Mas acabam se incluindo, porque utilizam de uma forma peculiar uma formalizagio matemitica; podem levar em consideragio os conceitos biolégicos, os econémicos ¢ os lingiiisticos; e podem, ainda, extrair elementos das reflexes filos6ficas. Essa modificacio profunda na disposigio do saber entrelagou-se com outras transformagées, que a cultura ocidental vivenciou entre 0 final do século XVII € 0 inicio do século XIX, e que até hoje formam o solo fértil, onde esta- COMUNICAGOES + Caerno do Program de Ps-Graduagi em Edncagio * Ano 10+ N°2+ dezemibro de 2003 179 belecemos nossa possibilidade de reflexio, ou reconhecemos que, em certas circunstincias, nos deparamos com a impossibilidade de pensar. Como existe uma relagio intrinseca entre o sabere o poder, as mudancas naquele influenciaram as modificagées nas relagdes de poder. A modernidade representou também novas formas de se exercer 0 poder, acarretando o estabelecimento de um regime de verdade proprio desta era. Uma das caracteristicas do regime de ver- dade, que se destacou no perfodo moderno, foi o fato de a verdade localizar-se na forma do discurso cientifico ¢ nas instituigées que 0 procedem. ‘A ciéncia, como a conhecemos hoje, é uma producio moderna ¢ a inten sidade do poder, que ela exerce na construgio de discursos de-verdade, também _¢ historicamente inédita, tornando-se uma das caracteristicas mais marcantes, da modernidade. CONCLUSAO © tema principal dos estudos de Michel Foucault foi a formagio cultural das sociedades ¢ ele exemplificou como fazé-lo, analisando a histéria cultural européia do século XVII ao XIX, Seu modelo alternativo de escrita da historia da cultura era fundamental mente critico em relagio as andlises marxista, dos Annales ¢ da histéria social. Foucault era profundamente antipositivista e foi um dos responsiveis pelo deslocamento do método historiogratico bascado no sujeito individual da histéris Suas objegdes aos marxistas ¢ a0s historiadores dos Annales referiam-se 4 nocio de totalidade, contrapondo com um conceito de hist6ria geral. Recu- sava-se a pesquisar as origens que, segundo ele, implicavam causas. A histéria geral, a0 analisar as formagGes discursivas, ndo precisaria se fundamentar nos aspectos econémicos, sociais ou politicos. Ao invés de pesquisar origens, suge~ iu a busca dos comecos. © comeco nada tem a ver com causas, mas sim, com diferencas, que sio os detalhes, os acidentes e os acasos, que acompanham todos os comecos. Para Foucault os temas, que se relacionam com a hist6ria cultural, decorrem de formagies discursivas historicamente contingentes. © produto de formagées discursivas historicamente contingentes mais instigante, que Foucault analisou, foi o surgimento do homem, que, segundo ele, é uma “invengio recente” da cultura européia, a partir do século XVI, e que atingiu 9 seu auge na era moderna, Mais instigante ainda sio as suas insinuagdes de que o homem vai desaparecer. O homem é uma invengio cuja recente data a arqueolo— gia do nosso pensamento mostra facitmente. E talvez o fim préximo. ‘Nos seus estudos Foucault (1995) descobriu indicios de que a epistémé moderna, a que “inventou” o homem como um ser que vive, fala e produz, pode acabar. Sugere que Holderlin, que Hegel, que Feuerbach e Marx jétirhham, todos 180 COMUNICAGOES + Caderno do Programa de Pés-Graduagio em Educxgio~ Ano 10 * N2+ derembre de 2008, eles, esta certeza de que neles um pensamento ¢ talvez uma cultura findavam. E acres~ centa: ‘Se estas dsposigées viessem a desaparece tal como apareceram, se, por alums acon fecimento de que podemas quando muito pressentr a possbilidade, mas de que no ‘momento 1 conhecemes ainda nene a forma nem a promesa, © desvanecesem, com acontece, na curva do séeulo XVI, como solo do pensamento désico— nto se pode apostar que o homem se desvaneceria, como, na orla do may um rosto de arcia... (quem sabe) 0 homem: retomard dquela inexistncia serena em que outrora 0 ‘mantivera a wntidade imperiosa do Discurso? (p. 404) Esta € a histéria cultural de Michel Foucault. E a histéria das eras classica € moderna do pensamento ocidental. E uma histéria que nao tem causas, sé comegos, ¢ que pressente a aurora de uma nova era, que ele nao se preocupou em denominar de, mas que outros a tem chamado de pés-modernidade. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BACON, Francis. Novem organum, ou verdadeiras indicagbes acerca da interpretagio da natuteza. # ed. Sio Paulo: Neva Cultural, 1988. Livro I. BOURDE, Guy & MARTIN, Hervé. As escolas historicas. Portugal: Publicagdes Europa-Améica, 1983, FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 2ed., Rio de Janeiro: Forense-Universitiia, 1986 As palavras © as coisas: uma arqueologia das igncias humanas. 7 ed,, S30 Paulo: Mar- tins Fontes, 1995, - Microfisica do poder. 8 ed, Rio de Janeiro: Graal, 1989. HUNT, Lynn. A nova hist6ria cultural. Sio Paulo: Martins Fontes, 1992. SCHWARTZMAN, Simon. Ciéncia, universidade e ideologia: a politiea do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. TODOROY, Tzvetan. A conquista da América: a questio do outro. Sio Paulo: Martins Fontes, 1993, Artigo recebido em: 2570872003, Aprovado para publicacio em: 05/10/2003, COMUNICAGOES = Cademo do Programa de Pé-Grattacio em Edncisie* Ano 10» NP2+ denembr de 2008 181

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