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grav Ea 4 EMPREENDEDORISMO E ETICA Esta disciplina abordaré os conceitos de empreendedorisma e ética, sua importancia e aplicago no campa pessoal e profissional 4.1 Introdugao & Etica © ser humano age no mundo em que vivemos de acordo com valores pré- estabelecidos, Isso significa que as coisas e as aces realizadas podem ser hierarquizadas de acorde com as nogdes de bem e de justo, compartilhadas por um grupo de peso. O homem é um ser que avalia sua conduta a partir de valores morals, ou seja, a partir da moralidade que possul, portanto, o homem é um ser maral, Embora os termas moral e ética, na maioria das vezes, sejam usados como sindnimos, existe diferenca entre os conceitos, carecendo que se faca distingao entre eles. Mas o que é a moral? E o que é a ética? E qual a diferenca entre moral e ética? Estes temas sero explorados a seguir, 4.1.1 Moral A palavra moral vem do latim moralis, morale e significa o que € relativo acs “costumes”. E 0 conjunte de regras de conduta admitidas em determinads época ou por um determinade grupo de pessoas, com 9 abjetivo fundamental de obter melhor reac3o em sociedade, Como as comunidades humanas so distintas entre si, tanto no espage quanto no tempo, os valores podem ser distintos de uma comunidade para outra, o que origina cédigos morais diferentes. Pode-se dizer, de modo simplificado, que o sujeito moral € aquele que age bem ou mal, na medida em que acata ou transgride as regras morais. 412Etica Apalavra ética vem do grego ethikos, e significa o que relative ao “modo de ser”, “comportamento”. A ética esta presente em todas as ragas, Ela é um conjunto de regras, principios ou maneira de pensar e expressar. E a parte da filosofia (disciplina filosdfice) que se ocupa com a reflexio a respeito das nogbes e principios que fundamentam a vida moral. A @tica é uma disciplina tedrica sobre uma pratica humana. As reflexdes éticas nio se restringem apenas & busca de conhecimento tedrico sabre valores humanos, cuja origem & desenvolvimento levantam questies de cardter socioldgico, antropoldgica, religioso etc. A ética é uma filosofia pratica, sobre a pratica humana. Pode-se afirmar que a Etica é um conjunta de valores morals © principios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética cantribui para que haja um equilfbrio e bom funcionamento social, passibilitando que ninguém sala prejudicado, Neste sentido, ética, embora nao possa ser confundida com as leis, esta relacionada com o sentimento de Justiga social. ‘A ética é construida por uma sociedade, com base nos valores histéricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Etica é uma ciéncia que estuda os valores ¢ principios ELETROTECNICA MODULO 4 EE grau morais de uma sociedade © seus grupos. Cada sociedade e cada grupo possuem seus préprios cédigos de ética. Num pais, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa cientifica pode ser ético, dentra dos principios da biodtice, que rege as pesquisas bioldgicas, Entretanto, em outro pais esta atitude pode desrespeitar os principios éticos estabelecidas. ‘Além dos principios gerais que nortelam © bom funcionamento social, existe também a ética de determinados grupos ou locals especificos. Neste sentido, citam-se: ética médica, ética de trabalho, ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética jornalistica, ética na politica, etc. Uma pessoa que nao segue a ética da sociedade 4 qual pertence é chamada de antiética, assim como o ato praticado. 4.1.3 Fundamentos da Etiea Antes de tratar sobre qualquer elemento em que se fundamenta a ética, & necessirio entender o significado do termo. Este pode ser definide como a resultado do Julgamento da sociedade em busca da normatizacio dos aspectos corretos, em resposta a diversas questiies humanas. Para que se inicie um julgamento, ¢ necessdrio, antes de tudo, ‘que existam as questies, Para tratar destas questdes, é necessirio um pensamento critico © racional, a partir do qual se estabelecero os julgamentos, podenda, dar origem a novos questionamentos. Os fundamentos da ética tém como base as estudos da Filosofia, que se entende também como a investigacao critica e racional dos principios fundamentals relacionados a0 mundo € ao homem. Neste sentido, se entende que sem o pensamento filoséfico, seria impossivel extinguir os questionamentos e definir uma ética completa € coerente. 4.1.4 Etica e Cidadania - Atitude Etica Ser Etico é agir corretamente sem prejudicar os outros. € cumprir com os valores da sociedade em que se vive, mora, trabalha, estuda etc. Etica é tudo que envolve integridade, € ser honesto em qualquer situacdo, é ter coragem para assumir seus erros e decisdes, ser tolerante e flexivel, é ser humilde. Todo ser ético reflete sobre suas ages, pensa se fez o bem ou o mal para o seu prdéximo. € tera consciéncia “limpa”. 4.1.5 Etica e Politica Se a politica tem como finalidade a vida justa e feliz, isto é, a vida propriamente humana digna de seres livres, entio é inseparavel da ética. De fato, pare os gregos, era \concebivel a ética fore da comunidade politica — apdliscomokoinonia ou comunidade dos iguais, pois nela a natureza ou esséncia humana encontrava sua realizacdo mais alta Quando se estuds 2 ética, percebe-se que Aristételes distinguira entre teoria e pratica e, nesta, entre fabricagio © aco, isto , diferenciar a poiesis de praxis, Percebe-se também que reservara & praxis um lugar mais alto do que & fabricacGo, definindo-a como ago voluntéria de uma gente racional em vista de um fim considerado bom, A préxis por MODULO 4 ELETROTECNICA grav =a exceléncia é a politica. A este respeito, na Etica a Nicémaco, escreve Aristdteles, segundo ‘Chaui (2000): [Ll se, em nossas ages, ha algum fim que desejamos par ele mesmo e os outros so desejados 36 por causa dele, © senda escolhemos indefinidamente aiguma coisa em vista de outra (pois, nesse caso, iriamos: 29 infinite © nosso desejo seria fui! e vio}, é evidente que tal fim s6 pode ser o bem, o Sumo Bem {...|. Se assim &, devemas abarcar, pelo-menos em linhas gersis, a natureza do Sumo Bem e dizer de qual saber ele provém. Consideramas que ele depende da ciéncia suprema arquiteténica por exceléncia. Ora, tal ciéncia ¢ manifestamente apolitica, pois é ela que determina, entre os saberes, quais so os necessirios para as cidades e que tipos de saberes cada classe de cidadaos deve possuir ( A politica se serve das outras ciéncias praticas e legisla sobre o que € preciso fazer e do que é preciso abster-se; assim sendo, fim buscado por ela deve englobar os fins de todas as outras, onde se conclui que o fim da politica € o bem propriamente humano. Mesmo se houver identidade entre a bem do individuo e 0 da cidade, é manifestamente uma tarefa muito mais importante e mals perfeita conhecer e salvaguardar o bem da cidade, pois o bem no é seguramente amavel mesmo para um individuo, mas mais belo e mais divino aplicada a uma nagdo ou a cidade. Plato identificara a Justiga no individuo e a justica na polis. Aristételes subordina o bem do individuo 20 Bem Supremo da polis. Esse vinculo intemo entre ética © politica significava que as qualidades das lels e do poder dependiam das qualidades morais dos cidados e vice-versa, isto ¢, das qualidades da cidade dependiam as virtudes dos cidadios. ‘Somente na cidade boa e justa os homens padem ser bons ¢ justas; e somente homens bons justos s8o capazes de instituir uma cidade boa e usta 4.1.5 Principais Teorias Eticas Os conceltos éticos sa extraidas da experiéneis e do conhecimento da humanidade. Baseado nas licdes de estudiosos da ética, ha algumas teorias a respeito da formacao dos canceitos éticas, as quais também se denominam como preceitos, a saber: 4.1.5.1 0 relativismo moral © relativisma moral é a teoria que conceitua as afirmacdes morais {isso € bom, aquilo é mau) como relativas & cultura. Para o relativista moral, no existe algo objetivamente bom ou mau; o relativista moral afirma que algo considerade mau em determinada cultura pode ser cansiderada bom em outra cultura. O'relativista moral tende a considerar que “bom” é aquilo que é socialmente aprovada e “mau” é aquilo que é socialmente desaprovado em determinada cultura, 4.1.5.2 0 absolutismo moral © absolutisma moral é a teoria que afirma que existem valores morais objetivos. Para o absolutista moral, uma ago é boa au ma, independentemente da cultura & qual o ELETROTECNICA MODULO 4 Ea grau agente pertenca. 0 absolutista moral parte de principios éticos definidos e deles dedur suas proposicdes morais. 4.1.5.3 0 utilitarisme utilitarismo é a teoria que afirma que se deve buscar maximizar os beneficios e ‘minimizar os maleficios para a maior quantidade de pessoas. © utilitarista faz uma especie de célculo ético para chegar 4 conclusdo de que uma ago é boa (a que maximiza os beneficios minimiza os maleficios) e outra é ma (a que nda maximiza os beneficios e/ou no minimiza os maleficios). 4.15.40 fundamentalismo Esta teoria propde que os conceitos éticos sejam obtidos de uma fonte externa ao ser humano, a qual pode ser um livro (come a Biblia), um conjunto de regras, ou até mesmo ‘outro ser humana, 4.1.5.5 A teoria kantiana Defendida por Emanuel Kant, prope que o conceito ético seja extraido do fato de que cada um deve se comportar de acordo com principios universais. 4.1.5.6 A teoria contratualista Baseada nas ideias de John Locke e Jean Jacques Rousseau, parte do pressuposto de que 0 ser humano assumiu com seus semelhantes 8 obrigacao de se comportar de acordo com as regras morais, para poder conviver em sociedade. Os conceitas éticos seriam extraidos, portanto, das regras morais que conduzissem & perpetuaco da sociedade, da paz eda harmonia do grupo social. 0 estudo de todas essas teorias revela que os conceitos éticos precisam ser ‘elaborados tendo em conta todas elas, mas sem se ater a uma em especial. Cada conceito ‘ético, para ser aceito como tal precisa claramente encontrar guarida em pelo menos uma teoria. Sao todos relatives, e como tal devem ser entendidos, Néo existem verdades absolutas ou exatas em matéria de ética. A reflex3o permanente é requerida. 4.1.5.7 Teorias éticas - praticas a) a ética da conviegao, entendida como deontologia (estudo dos deveres); e, b) a ético da responsabllidade, conhecida como teleologia (estudo dos fins humanos). Toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas maximas totalmente diferentes ¢ irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela ética da responsabilidade ‘ou pela ética da conviccSo. 'ss0 n5o quer dizer que a ética da convice3o seja idéntica & auséncia de responsabilidade e a ética da responsabilidade 4 auséncia de convicgdo. Nao se trata evidentemente disso. Tedavia, ha uma oposicéo abissal entre a atitude de quem age segundo as maximas da ética da conviceao. Em linguagem religiosa, diz-se: “o cristo faz seu MODULO 4 ELETROTECNICA grau Ea dever ena que diz respeito ao resultado da ago remete-se a Deus". Enquanto a atitude de quem age segundo a ética da responsabilidade diz: “devemos responder pelas consequéncias previsiveis de nossos atos”. A ética da conviccdo é uma ética que se pauta por valores e normas previamente estabelecidos, cujo efeito primeiro consiste em moldar as acées que deverao ser praticadas. Ela se subdivide em: a do principio e a da esperanca. A primeira esta restrita as normas morais estabelecidas, num deliberado desinteresse pelas circunstancias, e cuja maxima sentencia: respeite as regras haja 0 que houver. A segunda se ancora em ideais, moldada por uma fé capaz de mover montanhas, e cuja maxima preconiza: o sonho antes de tudo. Essas vertentes correspondem a modulacdes de deveres, preceitos, dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos. Como exemplo da ética da convicgio, © Cénsul portugués Aristides de Sousa Mendes, lotado no porto francés de Bordeaux, preferiu ter compaix3o a obedecer cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela ética da convicc3o. Priorizou a seus riscos e custos um valor em relacao a0 outro, Diante do avanco do exército aleméo em junho de 1940, salvou a vida de 30 mil pessoas, entre as quais 10 mil judeus, ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse, num ritmo frenético. A ética da responsabilidade se caracteriza por considerar cada um responsavel por aquilo que faz. Os agentes avaliam os efeitos previsiveis que uma aco produz; constam ‘obter resultados positivos para a coletividade; ampliam o leque das escolhas ao preconizar que “dos males, o menor”. Exemplificando a ética da responsabilidade, diante da queda acentuada das receitas, um dos cenérios possiveis € 0 da forte reducso das despesas com 0 consequente corte de pessoal. O que fazer? Manter o dispéndio representado pela folha de pagamento e agravar a crise (talver até pedir concordata), ou diminuir 0 desembolso e devolver & empresa o folego necessério para tentar ficar 4 tana na tormenta? Vale dizer, cabe ou no cabe sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar a sobrevinda ao resto da tripulacioe a0 préprio navio? E © que mais interessa do ponto de vista social? Uma empresa que feche ‘as portas ou uma empresa que gere riquezas? A ética da responsabilidade, assim como a da conviccio, estd alicercada em duas vertentes: a utiitarista e da finalidade. A primeira exige que as aces produzam o maximo de bem para o maior nimero, isto é, que possam combinar a mals intensa felicidade possivel (eritério da eficécia) com | maior abrangéncia proporcional (critério da equidade). Sua maxima recomenda: faga o maior bem para mais gente. A segunda determina que a bondade dos fins justifique as acdes empreendidas © supde que todas as medidas necessérias sero tomadas. Sua maxima ordena: alcance os objetivas custe o que custar. A doutrina enfocads, concluisse que, enquanto aqueles que pendem pels ética da convicgio guiam-se por imperativos da consciéncia e¢ os que seguem a ética da responsabilidade guiam-se por uma anélise de riscos. E necessario lembrar-se: a moral ¢ a considerarao do que é bem ou mal. A ética éo estudo das teorias que vao explicar a moral. A moral é a pratica, a ética é a teoria. ELETROTECNICA MODULO 4 = grau 4.1.6 Etica Desenvolvimento Sustentavel A definic3o mais aceita para desenvolvimento sustentavel é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geracéo atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras geracdes. E o desenvolvimento que nao esgota os recursos para o futuro. Essa defini¢ao surgiu na Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nacdes Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: 0 desenvalvimenta econémica e a conservag3o ambiental. 0 que é preciso fazer para alcancar o desenvolvimento sustentavel? Para ser alcancado, o desenvolvimento sustentavel depende de planejamento e da reconhecimento de que os recursos naturais sao finitos. Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento econémica, que leva em conta o meio ambiente. Muitas veres, desenvolvimento € confundido com crescimento econémico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentével, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Atividades econémicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos maturais dos paises. Desses recursos depende no sé a existéncia humana e a diversidade bioldgica, como o prdprio crescimento econdmico. O desenvolvimento sustentdvel sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redug3o do uso de matérias-primas & predutos eo aumento da reutilizacdo e da reciclagem. (Os madelos de desenvolvimento dos paises industrializados devem ser seguidos? O desenvolvimento econémico é vital para os paises mais pobres, mas o caminho a seguir ndo pode ser 0 mesmo adotado pelos paises industrializados, mesmo porque nao seria possivel. Caso as sociedades do Hemisfério Sul copiassem os padrdes das sociedades do Norte, a quantidade de combustiveis fésseis consumida atualmente aumentaria 10 vezes e a de recursos minerais, 200 vezes. Ao invés de aumentar as niveis de consumo dos paises em desenvolvimento, é preciso reduzir as niveis abservados nos paises industrializados. (Qs crescimentos econémico e populacional das ultimas décadas tém sido marcados por disparidades. Embora os paises do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da Populacéo do planeta, eles detém quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produgio de madeira mundial. Conta-se que (Mahatma Gandhi, ao ser perguntado se depois da independéncia, a india perseguiria o estilo de vida briténico, teria respondido: "a Gré-Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcancar sua prosperidade. Quantas planetas nao seriam necessdrios para que um pais como a India alcancasse o mesmo patamar?”. A sabedoria de Gandhi indicava que os modelos de desenvolvimento precisam mudar. Os estilos de vida das nagdes ricas e a economia mundial devem ser reestruturados para levar em consideragdo 0 melo ambiente, © Forum de Copenhagen (01/2010) serviu para medir de uma vez por todas 0 tamanho do egoismo dos paises desenvolvidos, sobretudo quanta ao consumo de energia, que é igual a quanto maior, mais erescimento, de parte dos paises em desenvolvimento, Ficou claro que eles padem consumir a energia que MODULO 4 ELETROTECNICA grav Ea quiserem, enquanto que os paises em desenvolvimento terdo que diminuir 0 consumo de energia, que significa diminuir a produco, gerar menos emprego e renda, crescer menos, etc. Barbaridade em dose dupla. ‘Mais uma vez eles mistificam a realidade, De um lado, preservar o meio ambiente é uma necessidade vital © um comportamento fundamental para o ser humane. Diminuir 3 emissao de CO? é necessdrio para 0 planeta como um todo, porém nao da mais para aceitar tanta mistificago porque, na realidade, o problema climético, ambiental ¢ etc., ndo esta localizado dentro do contexto econémico que eles mistificam para evitar 0 avanco inexordvel dos paises emergentes, sobretuda aqueles relatives aos BRICS, acrénimo para o Brupo constituido pelo Brasil, Riissia, india, China e Africa do Sul. So conhecidas os riscos do atual madelo de desenvolvimento, ha recursos e tecnologia e se sabe o que deve ser feito para alcancar a justica social e cuidar do planeta. Neste sentido, op¢ao pelo desenvolvimento sustentével depende apenas da vantade politica dos governos e da sociedade como um todo. Ou seja, trata-se de uma escolha ética. Nessa dimensdo reflexiva, € importante pontuar a correlacdo ou a relacao biunivoca existente entre as ciéncias sociais. Assim sendo, ndo poderemos deixar de considerar o- universo que compée esse cenario, evidenciando os seguintes fatores basicos para o estudo da economia: dotacdo de recursos: compreende todos os recursos disponiveis numa economia. £ 0 que se usa para produzir bens; tecnologia: € 0 menu da economia moderna, oferece todas as combinacGes diferentes de recursos que podem ser utilizados para a produgao de bens servigos; preferéncia dos Individuos: depende dos bens e servicos que a economia deve praduzir. As preferéncias das pessoas determinam suas decisbes; e, instituiges econémicas: sio as normas que regulam as relacdes em uma determinada economia, S30 formalmente cadificadas em leis (leis tributdrias, leis trabalhistas, leis da propriedade, etc.). E dentro desse contexto de andlise centrada na fundamentacao econémica que se pontuam, também, alguns aspectos da acao econémica e seus principais condicionamentos, ‘ou Sejs, os fatores candicionantes da aco, das relagdes e do comportamento econdmico & que podem também ser condicionados por elas: a) forma de organizagio politica da sociedade; b) posturas ético-religiosas; ¢) mods de relacionamenta social d) condices limitativas do meio ambiente; e) estrutura da ordem juridica; f) formaco cultural da sociedade; 8) padres das conquistas tecnolagicas, ELETROTECNICA MODULO 4 EE grau Muitas vezes sio as empresas criticadas por nao desenvolverem produtos ecoldgicos ou por seguirem ldgicas produtivas socialmente nefastas. No entanto, se realmente se defende a liberdade e a responsabilidade dever-se-8, para além de inquirir as ‘empresas, confrontar os consumidores com as seus atos e as suas opgdes. Nao ¢ justo nem benéfico utilizar as empresas como bode expiatorio da ma cansciéncia global e, por outro lado, tratar os consumidares como se fossem criangas. 05 clientes, os consumidores, so a chave para alguns dos dilemas que se colocam no que respeita 4 exequibilidade da ética empresarial. Proliferam os rankings de empresas que so boas empregadoras, desenhados por instituigdes ou Srgaos de comunicacao; ha ‘também jé miltiplos fundos éticos e até indices como 0 FISE4Good, destinado a facilitar 0 investimento socialmente responsdvel e a aposta em empresas guiadas por uma gestéo transparente. ‘A ética do consumidor é a melhor contrapartide que pode haver para uma ética da empresa. A responsabilidade da empresa deve corresponder a responsabilidade do ‘consumidor, que deve se preocupar em adotar um consumo consciente e critica em face de politicas de contratacao, higiene, seguransa, transparéncia, honestidade no seio das empresas que produzem os bens ou fornecem os servicos que vai ad De fato, muito da critica ao capitalismo é uma critica a democracia, na medida em que é uma critica @ capacidade de escolha de cada individuo. A maturidade em todas as escolhas efetuadas pelas pessoas é decisiva para formatar os estados em que vivem, as sociedades na qual se mavem e 05 mercados que as abastecem. Isto corresponde precisamente & persecucéo do projeto iluminista numa época pés-convencional de, como Kant afirmou, de o individuo ser copaz de guiar-se por si préprio, assumir 0 peso de sair da menoridade confortavel a que a consumo automitico o restringe. ‘A ética do consumo no faz parte da ética empresarial, mas é a consequéncia ldgica da mesma, uma exigéncia de justica; movendo-nos no plano da ética e ndo do direito, a coacdo no pode ser juridica. No entanto, a coacdo moral num sujeito coletivo como ¢ a empresa, s6 pode dar-se a partir de algo tangivel. O consumismo (ético © ecoldgico) ¢ a recompensa pratica da empresa ética e a puni¢do da empresa que se furta a ser responsavel. 4.1.7 Etica e 0 Munda do Trabalho Esta subsego abordaré a importéncia ética no mundo do trabalho, como ela se estabelece no ambiente empresarial. 4.1.7.1 Etica empresarial Etica empresarial é 0 comportamento da empresa - entidade lucrativa - quando ela ‘age em conformidade com os principios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regres éticas). A atividade empresarial € eticamente fundada ¢ orientada, quando se cria emprego, se proporciona habitac3o, alimentacSo, vestudrio e educacio, detendo os bens como quem os administra. Para os cristdos, a ética empresarial é justiga & ‘obras de misericérdia. Para muitos outros serd a lei natural que diz que ninguém pode ser MODULO 4 ELETROTECNICA grav = feliz / rico no meio de infelizes / pobres. A ética empresarial, ainda, consiste na busca do jinteresse comum, ou seja, do empresario, do consumidor e do trabalhador. 4122 importancia da ética empresarial Todo sistema que diminui a relevancia da ética, tornando tal valor desprezivel, tende a no respaldar os reclamos da sociedade, a tornar o Estado que o produziu menos democratico, quando no totalitario, e termina por durar tempo menor que os demais ordenamentos que a reconhecem. Além de outros dispositivos constitucionais, onde a ética permeia, verifica-se que no capitulo Vil, do titulo Ill da Constituicdo Federal de 1988, que se encontra de forma mais evidente a imposic¢ée da necessidade da ética, no exercicio da honrosa fungdo de servir a sociedade, estando esse principio dentre os mais importantes da Administracdo Publica, a saber: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia. No ambito da atividade empresarial, os principios éticos que norteiam o direito, estampados na Ordem Econdmica e Financeira, fundamentam-se na valoriza¢o do trabalho humano € na livre iniciativa, reprimindo o abuso do pader econémico, incentivando a livre concorréncia, dando tratamento preferencial 4s empresas de pequeno porte, proibindo a atuaco do Estado na rea especifica da iniciativa privada, a nao ser em cardter excepcional {seguranga nacional ou relevante interesse coletivo).. © § 42, do art. 173, da Constituicdo Federal de 1988, estabeleceu as praticas que devem ser evitadas na exploragao da atividade econémica, por ferir a ética empresarial, dispondo que: "A lei reprimira 0 abuso do poder econdémico que vise 4 dominacao dos mercados, & eliminago da concorréncia € a0 aumento arbitrério dos lucros”. Evoluimos, assim, para uma sociedade em que alguns denominaram "pés- capitalista” € outros "neocapitalista" ou ainda "sociedade do saber", caracterizada pela predominancia do espirito empresarial e pelo exercicio da funcao reguladora do direito. O Estado reduz-se a sua fungio de operador para tornar-se 0 catalisador das solucées, 0 regulador e 0 fiscal da aplicag3o da lei e a propria administrac3o se desburocratiza. O espirito empresarial, por sua vez, cria parcerias que se substituem aos antigos conflitos de interesses que existiam, de modo latente ou astensivo, entre empregados e empregadores, entre pradutores e consumidares e entre o Poder Publica e a iniciativa privada. Asociedade contemporanea apresenta um novo modelo para que a empresa possa progredir e o Estado evolua adequadamente, mediante a mobilizacdo construtiva de todos 5 participantes, nao s6 do plano politico, pelo voto, mas também no campo econdmico, mediante varias formas de parceria, com base na confianca e na lealdade que devem presidir as relacdes entre as partes. Neste contexto, a empresa, abandonando a organizagio hierarquizada, “apodera do mundo empresarial, com os valores que lhes so prdprios, como iniciativa, corresponsabilidade, comunicacao, transparéncia, qualidade, inavago e flexibilidade”. Vé- se, portanto, que a empresa, abandonando sua estrutura origindria, sob 0 comando dos ELETROTECNICA MODULO 4 =a grau proprietérios de companhia, agora, se sujeita, a uma nova forma de governo, com maior poder atribuido aos acionistas e empregados e até a prdpria sociedade civil, passando a ter verdadeiros deveres, no sé com os seus integrantes acionistas, mas também com os seus ‘consumidores, clientes e até com o meio ambiente. ALei n, 6.404/76, que disciplina as sociedades por ages, enumera de forma precisa e detalhada os deveres e responsabilidades dos administradores, a funcao social da ‘empresa, orientando no sentide de que o administrador deve exercer as atribuigdes que a lei € 0 estatuto Ihe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as cexigéncias do bem piiblico e da fungaa social da empresa (art. 154). E preciso ressaltar que hoje, no que tange a matéria contratual, a0 contrario do que acontecia no passado, onde o direito além de exigir 2 completa boa-fé, proporciona protecZo mais adequada ao comerciante mais fragil, transmuta-se, assim, de um regime de completa liberdade para uma nova ordem na qual a liberdade das partes importa responsabilidade, devendo inspirar-se em principios éticos, abandonando-se a igualdade formal para atender as situagées respectivas dos contratantes, ou seja, 4 igualdade material. Na questo ambiental, ha que se ressaltar que o meio ambiente transformou-se em um valor permanente para a sociedade, de forte contedido ético. Assim, protegé-lo tornou-se um imperative para todos os habitantes da terra, exigindo que cada um se conscientize dessa grande necessidade, requerendo esfarco comum, em resposta aos desafios do futuro. Exige-se, portanto, que as empresas promavam o desenvolvimento sustentavel, conforme tem insistido a Camara de Comércio Internacional. E preciso pensar e pensar rapido, com coragem e ousadia, numa nova ética, para o desenvolvimento. Numa ética que transcends a sociedade de mercadoria, da suposta generaliza¢o dos padrdes de consumo dos paises ricos para as sociedades periféricas ~ promessa irrealizavel de certas correntes desenvalvimentistas do passado e dos neoliberais de hoje em dia. Tal promessa no passa de um jogo das contas de vidro, recheado de premissas falsas, devido a obstaculos politicos criados pelos paises ricos (que brecam a generalizagdo da riqueza) e as limitagdes impostas pela base de recursos naturais. Ou seja, as limitages ecoldgicas inviabilizam (devido ao efeito estufa, destruicio da camada de oz6nio, dilapidaco das florestas tropicais etc.) a homogeneizagio para toda a humanidade dos padréies dos gastos do consumo. Hoje, as grandes entidades financeiras nacionals e estrangeiras sé aprovam financiamentos cujos prajetos nao afetem o meio ambiente. Dentro desse contexto, decidindo a empresa adotar os pastulados éticas em suas relacdes, nada mals necessério do que estabelecer as regras de conduta a partir de um instrumento interno, ou seja, elaborar um Cédigo de Etica, que teria a incumbéncia de padronizar e formalizar 0 entendimento da ‘organizaco empresarial em seus diversos relacionamentos e operaces. Com ele, poder-se- 4 evitar que os julgamentos subjetivos deturpem, impegam ou restrinjam a aplicacdo plena dos principios, além de que, pode constituir uma prova legal de determinacio da administracdo da empresa, de seguir os preceitos nele refletidos. MODULO 4 ELETROTECNICA grav =a 4.1.7.3 A responsabilidade social das empresas, A empresa tem sido entendida, doutrinariamente, como uma “atividade econémica organizada, exercida profissionalmente pelo empresdrio, através do estabelecimento”. Extraem-se dai os trés conceitos basicos da empresariedade: o empresdrio, o estabelecimento e a atividade. Para melhor entendimento da empresa sob o enfoque da ética, traz-se & colacdo 0 pensamento de Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhdes Pedreira sobre a empresa — a grande empresa — enfocando-a coma a célula de base de toda a economia industrial. Em economia de mercado, é, com efeito, no nivel da empresa que se efetua a maior parte das escolhas que comandam o desenvolvimento econdmico: definicao de produtos, orientacdo de investimentos e repartico primaria de vendas. Este papel motor da empresa é, por certo, um dos tragos dominantes de nosso modelo econdmico: por seu poder de iniciativa, a empresa esté na origem da criacio constante da riqueza nacional; ela é, também, o lugar da inovaco e da renavacéo. Os autores vao além e afirmam que: a macroempresa envolve tal numero de interesses e de pessoas - empregadas, acionistas, fornecedores, credores, distribuidores, consumidores, intermediarias, usuarios -, que tende a transformar-se realmente em centro de poder tao grande que a sociedade pode e deve cobrar-lhe um prego em termos de responsabilidade social. Seja a empresa, seja o acionista controlador, brasileiro ou estrangeiro, todos tém deveres para a comunidade na qual vivem. Os autores concluem dizendo que essa revolug3o que se esté operando nos paises da vida ocidental - como resposta, até certo ponto surpreendente e admiravel, as exigéncias de conciliar a eficiéncia insubstituivel da macroempresa com a liberdade de iniciativa e a distribuicgo da riqueza ~ nao foi feita, nem poderd sé-lo, sem a compreensio e a efetiva colaboragdo dos empresarios - que a lideraram -, das instituigGes comerciais, que a secundaram, dos investidores que a compreenderam e apoiaram, e do Estado, que a estimularam, disciplinaram e removeram os obstaculos juridicos para que ela se realizasse na plenitude. 4.1.7.4 Evolugao da ética empresarial ‘A doutrina no ambito do direito empresarial tem conceituado a empresa como uma atividade econémica organizada pelo empresério, que se utiliza dos fatares da producdo - a natureza, o capital e o trabalho - para produzir um resultado, que pode ser um servico, um bem ou um direito, para venda no mercado, com o objetivo final de lucro. A histéria nos dé conta de que, nas sociedades primitivas e antigas, a atividade econdmica se baseava na troca de mercadoria por mercadoria, ndo existindo nesse periodo aideia de lucro e nem de empresa. Portanto, a ética se restringia as relagdes de poder entre as partes e pelas eventuais necessidades presentes de obtencdo de certos bens ou artigos. © surgimento do conceito de lucro nas operagdes de natureza econdmica trouxe certa dificuldade para a moral, posto que ele (0 lucro) era originariamente considerado um. acréscime indevido, sob o ponto de vista da moralidade. Somente no século XVIII, 0 economista Adam Smith, na sua obra A Riqueza das Na¢des, conseguiu demonstrar que o ELETROTECNICA MODULO 4 EE grau lucro no é um acréscimo indevido, mas um vetor de distribuigo de renda e de promoc3o do bem-estar social, expondo pela primeira vez compatibilidade entre ética e atividade lucrativa. A-enciclica Rerum Novarum, do Papa Ledo XIll, foi a primeira tentativa formal de impor um comportamento ético & empresa, Esse documento papal trouxe no seu bojo principios éticos aplicdveis nas relagGes entre a empresa e empregados, valorizando 0 rrespeito aos direitos e & dignidade dos trabalhadores. Surge nos Estados Unidos em 1890, a Lei Shefman Act, destinada a proteger a sociedade contra os acordos entre empresas, contrérios ou restritivos da livre concorréncia. No inicio do século Xx, foi editada a Lei Clayton, alterada pela Pattman-Robison, que ‘complementou a lei Shelman Act, proibindo a pratica de discriminagao de precos por parte de uma empresa em relacSo aos seus clientes. Em 1972, realizou-se a Conferéncia Internacional Sobre 0 Meio Ambiente, em Estocolmo, Suécia, organizada pela Organizagéo das Nagdes Unidas, que teve como finalidade conscientizar todos os segmentos sociais, inclusive as empresas sobre a necessidade de se preservar o planeta. Cinco anos apds, o governo americano legisla sobre a ética empresarial, por meio da edicSo da Lei Foreign Corrupt Practices Act, que proibe e estabelece penalidades as pessoas ou organizagies que ofeream subornos as autoridades ‘estrangelras, cam a finalidade de obter negdcios ou contratas. No Brasil, foi editada a Lei n, 4.137/62, alterada pela Lei n. 8.84/94, que reprime a abuso do poder econémica e as praticas concorrenciais. Em diversas outras dreas, como nas de protecéo ao trabalho, do meio ambiente, do consumidor, existe leis especificas, tratando da questo da ética, Diante dessa preocupacSo mundial com a ética empresarial, pode-se afirmar que se vive uma nova era nessa materia, Relativamente, a evolucio da ética na empresa societria, a0 que se tem noticia, até o fim da primeira metade do século XX, os conflitos societarios eram solucionados na propria empresa, sendo poucas as demandas judicials. Prevalecia o poder daquele que majoritariamente comandava a empresa. Esse periodo foi chamado de fase mondrquica da sociedade comercial, Aplicava-se a visio do banqueiro alemao, a0 qual se atribui a qualificacao dos acionistas minoritérios como senda tolos e arrogantes. Tolos porque Ihe entregavam o dinheiro, © arrogantes, pois ainda pretendiam receber os dividendos. Paulatinamente, vai-se criando nova consciéncia nessas relagdes, ¢ os controladores passam a buscar o consenso junto aos demais participantes da sociedade (empregados, minoritérios etc.). No Brasil, 2 partir da metade do século XX, jé hd uma preocupacéo do direito brasileiro para com as direitos dos minoritérios, possibilitando-hes o recebimento dos dividendos, 0 recesso © responsabilizar os administredores © controladores da ‘companhia. E 0 primeiro passo para a democratizarSo e moralizacdo da empresa, mediante a criagSo de um sistema de liberdade com responsabilidade, que sucedeu ao regime da mais MODULO 4 ELETROTECNICA grav =a completa irresponsabilidade. Verifica-se, modernamente, que a legislago. brasileira consagra 0s conceitos de abuso de direito e de responsabilidade pelo desvio de poderes. A Lei n. 6.404/76, assim como a legisiac3o do mundo inteiro, tem reconhecido que 0 poder do voto deve ser exercido no interesse da sociedade, consoante dispde o artigo 115 da citada lei: Q acionista deve exercer 0 direito de voto no interesse da companhia; considerar-se- abusivo 0 voto exercido com o fim de causar dano & companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem, vantagem 3 que nao fazjus e de que resulte, ou possa resultar prejuizo para ‘companhia ou para outros acionistas. A obediéncia a ética e aos bons costumes se impds até aos acordos de acionistas, ‘cujas cldusulas ilegais, abusivas ou imorais nao podem ser consideradas vinculatérias para os seus signatarios. 4.1.7.5 Valores éticos: interpretagao Como interpretar os valores éticos? A interpretagdo de valores éticos pode ser absoluta ou relativa. A primeira baseia-se na premissa de que as narmas de conduta sio validas em todas as situages, e a segunda de que asnormas dependem da situacao. No que tange & ética relativa, os orientais entendem que os individuos devem dedicar-se inteiramente & empresa, que constitui uma familia & qual pertence a vida dos trabalhadores. Ja, para os ocidentais, o entendimento é de que ha diferenca entre a vida pessoal e a vida profissional. Assim, encerrado o horério normal do trabalho, o restante do tempo € do trabalhador e no do patrao. Quanto a ética absoluta, parte-se do principio de que determinadas condutas sio intrinsecamente erradas ou certas, qualquer que seja a situacdo, e, dessa maneira, deve ser apresentadas e difundidas como tal. Um problema sério da ética absoluta é que a nogao de certo e errado depende de opinides. Come exemplo disto, os bancos suigas construiram uma reputaggo de confiabilidade com base na preservacdo do sigilo sobre suas contas secretas. Sob a perspectiva absoluta, para 0 banco, o correto é proteger a identidade e o patriménio da cliente. Durante muito tempo, os bancos suigos foram admirados por essa ética, até ficar evidente que os clientes nem sempre eram respeitaveis. Traficantes de drogas, ditadores e nazistas haviam escondido nas famosas contas secretas muito dinheira ganho de maneira ilicita. Os bancos continuaram insistindo em sua politica, enquanto aumentavam as pressGes intemacionais, especialmente dos paises interessados em rastrear a lavagem de dinheira das drogas, ou recuperar o que havia sido roubado pelos ditadores e naristas. Para as autoridades destes paises, a ética absoluta dizia que o sigilo era intrinsecamente errado, uma vez que protegia dinheiro obtido de forma desonesta. Finalmente, as autoridades suigas concordaram em revelar a origem dos depésitos e iniciar negociacdes visando.a devolucio do dinheiro para os seus donos. ELETROTECNICA MODULO 4 > | grau 4.1.7.6 Razdes para a empresa ser ética A maioria dos autores que estudam a questo da ética empresarial estabelece que ‘9 comportamento ético seja a unica maneira de obtengdo de lucro com respaldo moral. A sociedade tem exigido que a empresa sempre puna pela ética nas relacdes com seus clientes, fornecedores, competidores, empregados, governo e publico em geral. 0 comportamenta ético dentro e fora da empresa permite 4s companhias inteligentes baratear os produtos, sem diminuir a qualidade e nem baixar os salarios, porque uma cultura ética tora possivel reduzir os custos de coordenacao. Além dessas, outras razées podem ser invocadas coma o nao pagamento de subornos, compensacées indevidas etc. Agindo eticamente, a empresa pode estabelecer normas de condutas para seus dirigentes e empregados, exigindo que ajam com lealdade e dedicacao. Os procedimentos éticos facilitam e solidificam os lagos de parceria empresarial, quer com clientes, quer cam fornecedores, quer, ainda, com sdcias efetivas ou potenciais, Isso ocorre em fun¢3o do respeito que um agente ético gera em seus parceiros. A ética da empresa trata de mostrar, entdo, que optar por valores que humanizam é o melhor para a ‘empresa, entendida como um grupo humano, para a sociedade em que ela opera. A atividade empresarial ndo € s6 para ganhar dinheiro. Uma empresa é algo mais que um negécio: € antes de tudo um grupo humano que persegue um projeto, necessitando de um lider para levé-lo a cabo, e que precisa de um tempo para desenvolver todas as suas potencialidades. Entende-se que a ética deve estar acima de tudo, e que a empresa que age dentro dos postulados éticos aceitos pela sociedade sé tendea prosperar. 4.1.7.7 Etica profissional Um profissional deve saber diferenciar a Etica da moral e do direito. A moral estabelece regras para garantir a ordem independente de fronteiras geograficas. O direito estabelece as regras de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis tém ‘uma base territorial, valendo apenas para aquele lugar. As normas juridicas obrigam os cidadaos de forma coercitiva, ou seja, independente da vontade pessoal. J4 a norma ética nao obriga coativamente a pessoa que a descumpre. Pessoas afirmam que em alguns pontos elas podem gerar conflitos. 0 desacato civil ocorre quando argumentos morais impedem ‘que uma pessoa acate certas leis. As veres as propostas da ética podem parecer justas ou iinjustas. Etica é diferente da moral e do direito, porque nao estabelece regras concretas. A Etica profissional se inicia com a reflex3o. Quando se escolhe uma profissao, passa-se a ter deveres profissionais obrigatdrios. Os jovens quando escolhem sua carreira, escolhem pelo dinheiro e no pelos deveres e valores. Ao completar a formacao em nivel superior, a pessoa faz um juramento, que significa seu comprometimento profissional. Isso caracteriza o aspecto moral da ética profissional. Mesmo que no se exerca uma atividade dentro da area de interesse do profissional, isto ndo o isenta dos deveres e obrigacbes que este tem acumprir. MODULO 4 ELETROTECNICA grav Ea Ser um profissional ético nada mais & do que ser profissional mesmo nos momentos mais inaportunos. Para ser uma pessoa ética, devemas seguir um conjunto de valores. Ser ético € proceder sem prejudicar os outros. Algumas das caracteristicas basicas de como ser um profissional ético é ser bom, correto, justo e adequado, Alem de ser individual, qualquer decisiio ética tem por tras valores fundamentais, tais como: a) ser honesto em qualquer situacéo - é a virtude dos ne b) ter caragem para assumir as decisies - mesmo que seja contra a opiniao alheia; ¢} ser tolerante e flexivel - deve-se conhecer para depois julgar as pessoas; d) ser integro - agir de acorda cam seus principias: e, €) ser humilde - sd assim se cansegue reconhecer o sucesso individual 4.1.8 Etica Virtual A Internet esta mudando o comportamento ético das empresas. A Internet muda a velocidade dos acontecimentos, a forma de remuneracéo dos funciondrios e o ambiente de trabalho. Mas se deve tomar cuidado com o uso que se faz dessa ferramenta no ambiente de trabalho. Utilidades com bate-papo e sites de relacionamentos néo compreendem um ‘comportamento profissional ético, exceto se for para uso da empresa. Downloads e e-mails pessaais também nao devem ser acessadas. Coma afirma Robert Henry Srour: “dificil no é fazer o que € certo, é descobrir 0 que € certo fazer". 4.1.9 Codigo de Etica do Técnico em Eletrotécnica © Cadigo de Etica a seguir, elaborado pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de Pernambuco, norteia a postura do profissional da rea e dispde sobre as atividades dos Técnicos Industriais e Técnicos Agricolas de Nivel Médio formados em curso de 2® Grau com habilitac3o curricular especifica de nivel técnico, em conformidade cam o disposto na Let n® 5,692, de 11/08/1971. "Capitulo | — do Preémbulo Art. 12 - O Codigo de Etica Profissional enuncia os fundamentos éticos © as condutas necessdrias 4 boa honesta pratica das profissdes da Engenharia, da Arquitetura, da Agronomia, da Geologia, ds Geogratia e da Meteorologia ¢ relaciona direitos e deveres correlatos de seus profissionais. Art. 22 -Os preceitos deste Codigo de Etica Profissional tém alcance sobre os profissionais em geral, quaisquer que sejam seus niveis de formagio, modalidades ou especializacdes, Art. 32 - As modalidades e especializagées profissionais poderdo estabelecer, em consonancia com este Cédigo de Etica Profissional, preceitos prdprios de conduta atinentes ‘as suas peculiaridades e especificidades. ELETROTECNICA MODULO 4 Ea grau ‘Capitulo Il - Da identidade das profissdes ¢ dos profissionais Art, 42 - As profissies slo caracterizadas por seus perfis préprios, pelo saber cientifico e tecnoldgico que incerporam, pelas expresses artisticas que utilizam e pelos resultados sociais, econdmicas e ambientats do trabalho que realizam. Art, 5° -Os profissionais so os detentores do saber especializado de suas profissdes 05 sujeitos proatives do desenvolvimento Art. 62 -O objetiva das profissdes e a ago dos profissionals volta-se para o bem- estar © o desenvolvimento do homem, em seu ambiente © em suas diversas dimensde: como individuo, familia, comunidade, sotiedade, nagio © humanidade; nas suas raires hristéricas, nas geraces atual e futura Art. 72 -As entidades, instituicdes e conselhos integrantes da organizacio profissional so igualmente permeados pelos preceitos éticos das profissdes e participantes soliddrios em sua permanente construgo, adocdo, divulgagie, preservacdo e aplicacao. = Capitulo Ill — Dos principles éticos Art. 8° - A prética da profissdo é fundada nos seguintes principios éticos aes quals 0 profissional deve pautar sua conduta: ‘* Capitulo IV - Do objetive da profissio 1-4 profissao é bem social da humanidade € o profissional é o agente capaz de exercé-la, tendo como objetivos maiores a preservagao € 0 desenvolvimento harménico do ser humano, de seu ambiente e de seus valores; = Capitulo V— Da natureza da profissio ll - A profisséo é bem cultural da humanidade construido permanentemente pelos conhecimentos técnicos e cientificos e pela cria¢do artistica, manifestando-se pela pratica tecnolégica, colocado a servico da melhoria da qualidade de vida do homem; Da honradez da profisso r cided’; A profissao € alto titulo de honra sua pratica exige conduta honesta, digna ‘= Capitulo VI - Da eficacia profissional IV -A profissio realiza-se pelo cumprimento responsével e competente dos compromissas profissionais, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os resultados propostos e 2 qualidade satisfatéria nos servigos e pradutos e observando a seguranca nos seus pracedimentos; MODULO ELETROTECNICA grav Ea Capitulo Vil - Do relacionamento profissional VA profisséa é praticada através do relacionamenta honesto, justo e com espirito progressista dos profissionais para com os gestores, ordenadores, destinatarios, beneficidrios e colaboradores de seus servicas, cam igualdade de tratamento entre os profissionais e com lealdade na competicSo; Capitulo Vili — Da intervengao profissional sobre o meio VI-A profissio € exercida com base nos preceitas do desenvolvimento sustentavel na intervenga sobre os ambientes natural e construido da incalumidade das pessoas, de seus bens e de seus valores; Capitulo IX — Da liberdade e seguransa profissionais Vil -A profissdo € de livre exercicio aos qualificados, sendo a seguranca de sua pratica de interesse caletivo. Capitulo X — Dos deveres Art. 92 - No exercicio da profissdo sdo deveres do profissional: 1- ante ao ser humano e a seus valores: a) oferecer seu saber para.o bem da humanidade; bb) harmonizar os interesses pessoais aos coletivos; ¢) contribuir para a preservacao da incolumidade puiblica; d) divulgar os conhecimentos cientificos, artisticos e tecnolégicos inerentes & profissio; Il-ante a profissaa: a) identificar-se e dedicar-se com zelo a profissio; b) canservar e desenvolver a cultura da profissio; ¢) preservar a bom canceito e 0 aprego social da profisséio; d) desempenhar sua profissio au fungéo nos limites de suas atribuigdes e de sua capacidade pessoal de realizacio; e)empenhar-se junto aos organismos profissionals no sentido da consolidacéo da cidadania e da solidariedade profissional e da coibico das transgressdes éticas; Ul - nas relacdes com os clientes, empregadores e colaboradores: a) dispensar tratamento justo a terceiros, observando a principio da equidade; b)resguardar o sigilo profissional quando do interesse de seu cliente ou ‘empregador, salvo-em havendo a obrigacdo legal da divulgacdo ou da informasao; ¢)fornecer informacio certa, precisa e objetiva em publicidade e propaganda pessoal; ELETROTECNICA MODULO 4 Ea grau 4) atuar cam imparcialidade e impessoalidade em atos arbitrais e periciais; ¢}considerar o direito de escolha do destinatério dos servicos, ofertando-lhe, sempre que possivel, alternativas vidveis e adequadas as demandas em suas propostas; flalertar sobre as riscos e responsabilidades relativos as prescriches técnicas @ as consequéncias presumiveis de sua inabservancia; 8) adequar sua forma de expresso técnica as necessidades do cliente e as normas vigentes aplicdveis; IV -nas relagdes com os demais profissionais: a) atuar cam lealdade no mercado de trabalho, observando @ principio da igualdade de condicdes; b) manter-se informado sobre as normas que regulamentam o exercicio da profiss3o; c) preservar e defender os direitos profissionais; V-ante ao meio: a)orientar o exercicio das atividades profissionais pelos preceitos do desenvolvimento sustentavel; b) atender, quando da elaboracéo de projetos, execucao de obras ou criagdo de novos produtas, aos principios e recomendagdes de conservagio de energia ¢ de minimizacéo dos impactos ambientai ¢) considerar em todos os planos, projetos e servigos as diretrizes e disposicées concernentes @ preservagdo € a0 desenvolvimento dos patriménios sociocultural € ambiental. ‘=Capitulo XI — Das condutas vedadias Art.® 10 - No exercicio da profissdio sdo condutas vedadas ao profissional: |-Ante o ser humano e seus valores a) descumprir voluntaria e injustificadamente com os deveres do aficio; b) usar de privilégio profissional ou faculdade decorrente de funcdo de forma ‘abusiva, para fins diseriminatérios ou para suferir vantagens pessoals; c.prestar de mé-fé orienta¢o, proposta, prescrigo técnica ou qualquer ato profissional que possa resultar em dano 3s pessoas ou a seus bens patrimoni =Capitulo Xil ~ Dos direitos Art2 11 - So reconhecidos os direitos coletivos universais inerentes as profissées, suas modalidades ¢ especializagies, destacadamente: a) a livre associagdo e organizagao em corporagdes profissionais; b} ao gozo da exclusividade do exercicio profissional; ¢} ao reconhecimento legal; MODULO 4 ELETROTECNICA grav EZ d) 8 representacao institucional. Art.122 -S80 reconhecidos os direitos individuais universais inerentes aos profissionais, facultades para o pleno exercicio de sua profissdo, destacadamente: a) & liberdade de escolha de especializagio; bb) a liberdade de escotha de métodos, procedimentos e formas de expresséo; ¢) a0-uso do titulo profissional; d) 8 exclusividade do ato de oficio a que se dedicar; €) & justa remuneracao proporcional a sua capacidade ¢ dedicacao e aos graus.de complexidade, risco, experiéncia e especializaca requeridas por sua tarefa; ) 20 provimento de meios e condicées de trabalho dignos, eficazes e seguros; 8) @ recusa ou interrupgao de trabalho, contrato, emprego, funce ou tarefa quando julgar incompativel com sua titulacdo, capacidade ou dignidade pessoais; h)& protecao doseu titulo, de seus contratose de seu trabalho; i) A protegdo da propriedade intelectual sobre sua criagdo; j} 3 competic3o honesta no mercado de trabalho; k) a liberdade de associar-se a corporagdes profissionais; 1) 8 propriedade de seu acervo técnico profissional. * Capitulo Xilt —Da infragao ética Art. 13 -Constitui-se infracao ética tado ato cometido pelo profissional que atente contra 0s principios éticos, descumpra os deveres do officio, pratique condutas expressamente vedadas ou lese direitos reconhecidos de outrem. Art.142 -A tipificagdo da infragéo ética para efeito de processo disciplinar seré estabelecida, a partir das disposicBes deste Cédigo de Etica Profissional, na forma que a lel determinar. 4.1.10 Exercicios Propostos 1 Quais as diferencas entre ética e ética empresarial? 2 Quais 380 as teorias éticas citadas no texto 3.0 que sao valores éticos? ELETROTECNICA MODULO 4 ED grau 4 Descreva os motivos que justificam uma empresa ética. 5 A moral é 9 conjunto de normas e condutas reconhecidas como adequadas ao comportamenta humano por uma dada comunidade humana. A moral estabelece principios de vida capazes de orientar 0 homem para uma a¢3o moralmente correta. Embora os termos ética e moral por vezes sejam usadas como sinénimos, hd uma pequena distingdo entre eles. Neste sentido, ética seria: a) um estudo sistematizedo das diversas morais; b) um conjunto de normas e condutas; ch um conjunto de regras religiosas; d) um estudo idealizado sobre a vida do individuo; e} um conjunte de regras juridicas. 6 Todo ato moral é passivel de sofrer apreciagdo. valorativa. Nao existe ato moral fora das relagées humanas, E no agir (nas agdes} que podemos avaliar moralmente alguém. A inveja e a generosidade, por exemplo, sao vicio e virtude respectivamente. Moralmente, 6 s8o possivels de ser avaliados em nés mesmos. Nos outros sé teremos condi¢ées de perceber tais sentimentos e avalié-las a partir da ac30 concreta de inveja € generosidade. A partir do texto acima podemos afirmar que: a) s6.0 agir humano pode ser avaliado moralmente bb) a inveja é algo considerado moralmente correto, ‘<} o.ato moral no ¢ algo no qual podemos atribuir valores. d) a generosidade é um ato considerade moralmente incorreto. e} a generosidade e a inveja sic virtudes. 7 E sabido que o homem é um ser que avalia as suas acdes a partir de valores. Marque a alternativa que corresponde a um juizo moral: a) este homem é belo. bb) esta garota éelegante, cheste colar é amarelo. d) este menino agiu corretamente. e} esta turma é organizada MODULO 4 ELETROTECNICA grav =a 4.2 Empreendedorismo Empreendedorismo € um neologismo derivado da livre traduc3o da palavra entrepreneurship. Popularizou-se a partir da importacdo do inglés, cuja origem vem de entrepreneur, palavra francesa que era usada no século Xl para designar aquele que incentivava brigas. No final do século XVIII, passou a indicar a pessoa que criava e conduzia Projetos e empreendimentos. Nessa épaca, de acordo com Cantillon, que lhe deu o significado atual, o termo se referia a pessoas que compravam matérias-primas (geralmente um produto agricola) e as vendiam a terceiros, depois de processé-las, identificando, portanto, uma oportunidade de negdcios e assumindo riscos. No entanto, a raiz da palavra empreendedor remete-nos hé 800 anos, ainda como verbo francés entreprendre, que significa “fazer algo". Uma das primeiras definiges da palavra “empreendedor” foi elaborada no inicio do século XIX pelo economista francés J.B. Say, como aquele que “transfere recursos econémicos de um setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento”. Entre os economistas modernos, quem mais se debrucou sobre @ tema foi Joseph Schumpeter, que teve grande influéncia sobre o desenvolvimento da teoria € pratica do empreendedorismo. Em seus estudos, ele o descreve como a “maquina propulsora do desenvolvimento da economia. A inovacdo trazida pelo empreendedorismo permite ao sistema econémica renovar-se e progredir constantemente”. De acorde com Schumpeter, “sem inavacao, ndo hd empreendedores, sem investimentos empreendedores, nia hd retorno de capital ¢ 0 capitalismo nao se propulsiona”. Podemos afirmar, entretanto, que 0 seu conceito ainda esté numa fase pré- paradigmatica; no existe ciéncia que o defina de forma definitiva. Na verdade, o que se tem um conceito variével de acordo com pessoa que responde a pergunta. Fernando Dolabella (1999) define 0 empreendedar como sendo alguém que sonha e busca transformer seu sonho em realidade. Nao 0 sonho freudiano. Mas no sentido do sonho que se sonha acordado. Ou seja, empreender é agir, é buscar o sonho, é conceber o futuro. Mas ¢ preciso que este futuro que a pessoa concebe tenha congruéncia com o seu eu. E ai entra o papel da educa¢do, que é estabelecer a congruéncia para que o sonho possa ser realizado. Esta congruéncia diz respeito & factibilidade, & acessibilidade... O sonho é acessivel, é ponderdvel. Mesmo assim, ao serem analisadas as varias definicées existentes para 0 termo, & possivel perceber que alguns aspectos sempre est3o presentes em todas clas, principalmente no que diz respeito a0 compartamento empreendedor, tais como: a) iniciativa para criar um novo negécio e paixao pelo que far; b) utilizago de recursos disponiveis de forma criativa, transformando o ambiente social e econémico; ¢) saber os riscos calculados e a possibilidade de fracassar. Ou seja, 0 empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem; se antecipa aos fatos e tem uma visio futura da organiza¢do. De outra forma, pode-se definir o empreendedor como sendo a pessoa que toma a iniciativa de combinar recursas fisicos e humanos para produzir bens ou servigas em uma empresa com ou sem fins lucratives. 0 ELETROTECNICA MODULO 4 Ea grau empreendedor é uma pessoa inovadora, que tenta introduzir novos produtos, servicos, técnicas de produgdo e até mesmo novas formas de organizagao, tomando as decisées que iro nortear 0 futuro do negécio, assumindo no sé os riscos pessoais, mas também aqueles dos investidores e de todos as envolvidas em seu negdcio, A definigéa de empreendedorismo consubstancia nas caracteristicas daquele que tem habilidade para criar, renovar, modificar, implementar e conduzir empreendimentos inovadores. De fata, pode-se afirmar que empreendedorismo quer dizer pelo menas trés coisas: A capacidade individual de empreender - isto é, a capacidade de tomar a Iniciativa, buscar solugées inovadoras © agir no sentido de encontrar a solugao para problemas econémicos ou sociais, pessoais ou de outros, por meio de empreendimentos; 0 processo de iniciar e gerir empreendimentos - isto é, 0 conjunto de conceitas, métodos, instrumentos e préticas relacionadas com a criagdo, implantagdo © geste de novas empresas au organizacdes. Neste sentido, o empreendedarisma é uma disciplin a ser ensinada; =O movimento social de desenvolvimento do espirito empreendedor - isto ¢, um movimento social para a criatio de emprego e renda, que recebe o incentiva dos Bovernose institui¢des de diferentes tipos. Na verdade, nos estudos e pesquisas realizados até hoje sobre o fenémeno do empreendedorismo observa-se que nao hé consenso entre os estudiosos e pesquisadores a respeito da exata definicio do conceito de empreendedar. Segundo alguns autores, as dificuldades encontradas para 0 estabelecimenta desta conceituacao so decorrentes de concepsies errdneas, postuladas, principalmente, pela midia ¢ © senso comum que, ‘obscurecem e distarcem alguns conceitos. Desde 0 inicio dos anos 80, mais de 300 livros © 100 artigos séo publicados a cada ano, em uma centena de revistas, dentre as quais umas 20 so especializadas em empreendedorismo € em Pequenas e Médias Empresas (PME}. A primeira vista, este campo do conhecimento traduz uma excepcional diversidade conceitual. Desde o principio das anos 80 diversas estudiosos analisam documentos, entao disponiveis, que levam a selecionar mais de 1000 publicagées, resultando em uma centena de definigdes sobre o empreendedor e 0 empreendedorismo. Na verdade, se se dedicasse um estudo mais profundo sobre o tema, revelar-se-ta numa diversidade de definigdes. De fato, a analise do conteiido das definigdes demonstra a influéncia das disciplinas de base na conceituagio do empreendedor. Aqui cabe a pergunta: que conceituac3o seria a mais adequada? Esta variou ao longo das tltimas décadas, em decorréncia da existéncia de diversas correntes de pensamento. No comeca, porém, por volta do inicio do século XVII, aflorou a escola do "pensamento ecanémica", que foi a primeira a usar o termo empreendedorismo. Sendo assim, toma-se necessdrio estabelecer uma definicSo objetiva para que se possam desenvolver pesquisas metodoldgicas mais precisas a respeito. MODULO 4 ELETROTECNICA grav =a Estudos mostram que a palavra empreendedor foi utilizada pela primeira vez na lingua francesa no inicio do século XVI, para designar os homens envolvidos na coordenacéo de operaces militares. Mais tarde, por volta de 1765 o termo comecou a ser utilizado na Franca para designar aquelas pessoas que se associavam com proprietarios de terras & trabalhadores assalariados. Contudo, este termo era utilizado também nessa época, para denominar autros aventureiras tais como construtores de pontes, empreiteiros de estradas ‘ou arquitetos. Mais tarde, por volta de 1800 0 economista francés Jean Batist Say utilizou Novamente o termo empreendedor em seu livro Tratado de Economia Politica. O empreendedor, como definiu Say, € © responsdvel por “reunir todos os fatores de producdo... e descobrir no valor dos produtos... a reorganizagao de todo capital que ele ‘emprega, 0 valor dos salérios, @ juro, 0 aluguel que ele paga, bem como os lucros que the pertencem". O mesmo autor apresentou alguns requisitos necessdrios para ser empreendedor, tais como: a) julgamento, perseveranca e um conhecimento sobre © mundo, assim como sobre os negdcios; b) posse sobre a arte da superintendéncia ¢ da administragao. Contudo, foi a Inglaterra a pais que mais dedicou esforcos para definir explicitamente a fungio do empreendedor no desenvolvimento econémica. Dentre os ilustres tedricos que ofereceram uma grande contribuicéo para o entendimento do fendmeno do.empreendedorismo ressaltam-se Adam Smith e Alfred Marshall. ‘Adam Smith caracterizou o empreendedor como um proprietério capitalista, um: fornecedor de capital e, 20 mesmo tempo, um administrador que se interpée entre o trabalhador e © consumidor. © conceito de Smith refletia uma tendéncia da época de considerar-se.0 empreendedor como alguém que visava somente produzir dinheiro. Entretanto, o empreendedor foi caracterizado pelo economista inglés Alfred Marshall como alguém que se aventura e assume riscos, que rene capital € o trabalho requerido para o negécio e supervisiona seus detalhes, caracterizando-se pela convivéncia com o risco, a inovacdo ea geréncia do negécio. Somente em 1911, com a publicagio da obra Teoria do Desenvolvimento Econémico de Joseph A. Schumpeter, a conotac3o de empreendedor adquiriu um novo significado. Segundo este autor: "o empreendedor € © responsavel pelo impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista, constantemente criando novos produtos, novos métodos de produco, novos mercados e implacavelmente, sobrepondo-se aos antigos métados menos eficientes e mais caros". Posteriormente, o empreendedor comegou a despertar interesse e ser estudado por pesquisadores de varios ramos de atividade da ciéncia, como a psicologia, administragdo, economia, sociologia, entre outras, que se dedicaram a pesquisar o empreendedor, seu papel, suas caracteristicas, ocasionando o surgimento de uma variedade de definigdes como as que se seguem. ELETROTECNICA MODULO 4 za grau Para Peter Drucker (1987, p. 25 apud SANTOS; MARINHO; MAC-ALLISTER, 2009), os empreendedores séo pessoas que inovam. “A inovagdo € o instrumento especifico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudanca como uma oportunidade para um negécio ou servico diferente”. Low © MacMillan acreditam que, os "empreendedores so individuos que tomam Iniciativa, identificam e criam aportunidades de negécios, através da reuniio e coardenag3a de combinagdes de novas pesquisas”, Para Amit, “os empreendedores do individuns que inovam, identificam e criam ‘oportunidades de negécios, montam € coordenam novas combinagdes de recursos (fungées de produgéo) para extrair os maiores beneficios de suas inovacdes”. Embora nos estudos © pesquisas relacionados com o empreendedor haja muitas diferencas e disparidades respeito das exatas definigdes, pode-se perceber que hd um sonsenso entre os estudiosos de que o que distingue o empreendedor das outras pessoas € a maneira como ele percebe a mudanca ¢ lida com as oportunidades. No Século XVII, os primeiros indicios de relacdo entre assumir riscos € empreendedorismo ocorreram nessa época, onde o empreendedor estabelecia um acordo contratual com o governo para realizar algum servica ou fornecer produtos, Como geralmente os precos eram prefixados, quaisquer lucros ou prejuizos eram exclusividade do empreendedor. Richard Cantillon, importante escritor e economista do século XVII, é considerade por muitos como um dos criadores do terma empreendedorismo, tendo sido um dos primeiros a diferenciar o empreendedor como aquele que assumia riscos, do capitalista, aquele que fornecia o capital. Século XVIII, o capitalista © 0 empreendedor foram finalmente diferenciados, provavelmente devido ao inicio da industrializagao que ocorria no munda, Um exempla fol a caso das pesquisas referentes aos campos elétricas, de Thomas Edison, que sé foram possiveis com o auxilio de investidores que financiaram os experimentos, E, finalmente, no final do século XIX @ inicio do século XX, os empreendedores foram frequentemente confundidlas com os gerentes ou administradores, sendo analisados meramente de um ponto de vista econdmico, como aqueles que organizam a empresa, pagam os empregados, planejam, dirigem, e controlam as ages desenvolvidas na organizacio, mas sempre a servico do capitalista. "Um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve © realiza visdes", segundo 0 conceito da tedrico LJ. Filion (1911). Com base nesta definico, o diretor da Escola de Administrac3o de Maua-SP € consultor de empresas, Hazime Sato, afirma que 0 ‘empreendedor é um agente de mudangas e inovarSes, que identifica oportunidades e busca recursos para transformar conhecimento em riqueza. Assim, segundo ele, o instrumento especifico do espirita empreendedor é a inovacio, a busca deliberada e organizada de mudancas, as fontes das oportunidades que tals mudangas podem oferecer. MODULO 4 ELETROTECNICA grav za Transformar conhecimento, nascido de um sonho © da identificaggo de uma oportunidade, em riqueza, por meio da realizacdo da visdo concebida a partir do sonho, é uma jorada de muito trabalho que requer do empreendedor diversas caracteristicas comportamentais. © Escritor Fernando Dolabela, 59 anos, é um daqueles que faz questo de demonstrar a paixdo que devota ao estudo de empreendedorismo, tema dos nove livros que jd escreveu. O primeira deles, O Segredo de Luiza, de 1999, tornou-se um dos mais vendidos do Brasil na area de negécios. Dois livros seus deram origem a métodos que estéo se difundindo pelo Brasil: Pedagogia Empreendedora, de 2003, que Inspirou o programa haménimo que ja treinou 10 mil professores em 123 escolas, com reflexas no ensino de 300 mil alunos com idade entre 4 € 17 anos; € A Oficina do Empreendedor, de 1999, que gerou 0 método que ja foi apresentado 2 3.500 professores de 350 instituipSes de ensino superior. Curiosamente, o administrador Fernando Dolabela pretende — e de certo modo esta conseguindo — mudar um paradigma educacional do qual nao tem boas lembrancas. “Eu era 0 pior aluno da classe no melhor colégio de Minas”, diverte-se, ao falar de sua inadaptacao as regras da escola. Para Dolabela, o empreendedor ¢ um rebelde, um inconformado — alguém que propde @ novo. Um perfil que ele nao vé emergir das escolas e das familias brasileiras. “A crianga e 0 adulto aprendem uma sO coisa: mandar curriculo” (DOLABELA, 0000). Para ele, um empreendedor: a) & um sonhador, mas realista; bb) cultiva a imaginagao e sabe definir visdes do que quer; ¢) @ orientado para resultados, para o futuro; d) tem a percepgao e a capacidade de descobrir nichos; ¢} tem perseveranga e tenacidade para vencer obstaculos; f) tem iniciativa, autonomia, autoconfianca, atimismo, necessidade de realizacao; 8) considera o fracasso um resultado normal, aprende com os proprios erros; h) traduz seus pensamentos em ages; i) sabe fixar metas e alcanca-las; j) tem forte intuigao; k) tem alto comprometimento: acredita no que faz; I) dedica-se intensamente ao trabalho e concentra esforcos para alcancar_ resultados; m)sabe buscar, utilizar e controlar recursos; n) aceita o dinheira como uma medida de seu desempenho; 0) estabelece e cultiva "redes de relagées" internas e externas. Deste modo, configura-se que a aco empreendedora comega com um individuo que tem motivacdo para colocar em pratica seus conhecimentos e competéncias. Seu diferencial € sua habilidade de envolver outras pessoas, compor uma equipe de individuos com outros conhecimentos e competéncias que iro tornar sua ideia realidade. (O empreendedorismo nada mais é do que um sentimento de paixdo pela inovacdo. E enxergar oportunidades naquilo que muitas pessoas ndo veem, é ter um sonho, saber a ELETROTECNICA MODULO 4 a | grau sua viabilidade, acreditar que é possivel transformar ideias em oportunidades, ousar e fazer ‘o.uso-constante, ou seja, o exercicio da criatividade e pensar como retorno em algo benéfico para sie também para saciedade, Para o autor norte-americano Jefrey Timmons, "O empreendedorismo ¢ uma revolugdo silenciosa que sera, para o século XXI, o mesmo que a Revolugdo Industrial foi para o século XX". Isso sugere uma boa reflexdo. 4.2.1 Classificaco dos Empreendedores De certa forma, e segundo alguns autores, os empreendedores classificam-se em a) empreendedores iniciais: so aqueles cujos empreendimentos tém até 42 meses de vida, trés anos e meio, perioda que a literatura considera capital para a sobrevivéncia de um empreendimento. Esses empreendedores compdem uma taxa de Empreendedores em Estagio Inicial (TEA), de origem inglesa, Total Entrepeneurial Activity, ¢ subdividem-se em dois tipos: i) nascentes: aqueles 4 frente de negocios em implantagdo — busca de espaco, escolha de setor, estudo de mercado, etc, que, se chegaram a gerar remuneracdo, o-fizeram por menos de trés meses; ii) noves: seus negdcios jd estéo em funcionamento e geratam remuneracao por pelo menos em trés meses. b) empreendedores estabelecidos: aqueles 4 frente de empreendimentos com mais de 42 meses, Com o propdsito de estabelecer 0 perfil das pessoas envolvidas na criagéo de negacios, os empreendedores identificados na pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) séo classificados segundo variveis demograficas, como género, idade, renda familiar e escolaridade. Para configurar um perfil sobre a mentalidade empreendedora, todos os informantes do GEM, empreendedores ou no, respandem a questdes relatives a atitudes diante do risco de abrir um negécio, 4 imagem do empreendedor, & percepgio de boas ‘oportunidades no mercado, entre outras. Além de categorizar os empreendedores de acorda com suas caracteristicas pessoais € 0 estagio de seus negécios, 0 GEM classifica-os segundo a motivacao para empreender: a) empreendedores por oportunidade: so motivados pela percepe3o de um nicho de mercado em potencial, b) empreendedores por necessidade: s30 motivados pela falta de alternativa satisfatéria de ocupacio e renda 4.2.2 Circunstancias que dao Origem ao Empreendedor Muito se fala que, quando se estude o surgimento dos empreendedores, pode-se ‘observar que hid um mito de que nao é possivel desenvolver o empreendedorismo; deve-se nascer empreendedor, Muitos estudiosas verificam que isso nao é verdade, tomando-se por base uma andlise mais criteriosa dos varios empreendimentos existentes, MODULO 4 ELETROTECNICA

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