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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E

FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

Prof. Me. Flávio Donizete Batista


FATECIE Unidade 1 Diretor Geral
Rua Getúlio Vargas, 333, Gilmar de Oliveira
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898 Diretor de Ensino e Pós-graduação
Daniel de Lima
FATECIE Unidade 2
Rua Candido Berthier Diretor Administrativo
Fortes, 2177, Centro Eduardo Santini
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898 Coordenador NEAD - Núcleo
de Educação a Distância
FATECIE Unidade 3 Jorge Van Dal
Rua Pernambuco, 1.169,
Centro, Paranavaí-PR Coordenador do Núcleo de Pesquisa
(44) 3045 9898 Victor Biazon

FATECIE Unidade 4 Secretário Acadêmico


BR-376 , km 102, Tiago Pereira da Silva
Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR Projeto Gráfico e Editoração
(44) 3045 9898 Douglas Crivelli

www.fatecie.edu.br Revisão Textual


Leandro Vieira

Web Designer
Thiago Azenha

FICHA CATALOGRÁFICA

FACULDADE DE TECNOLOGIA E
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ.
Fundamentos Históricos e
Filosóficos da Educação.
Flávio Donizete Batista
As imagens utilizadas neste
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2018. 185 p.
livro foram obtidas a partir
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
do site ShutterStock e
Zineide Pereira da Silva.
Freepik.com
PALAVRA DA DIREÇÃO

Prezado Acadêmico(a),

É com muita satisfação que inauguramos um novo mundo de oportunidades e


expansão de nossa instituição que estrapolam os limites físicos e permite por
meio da tecnolgias digitais que o processo ensino educação ocorra de formas
ainda mais dinâmicas e em consonância com o estilo de vida da sociedade
contemporânea.

Empregamos agora no Ensino a Distância toda a dedicação e recursos para


oferecer a você a mesma qualidade e excelência que virou a marca de nosso
grupo educanional ao longo de nossa história.

Queremos lembrar a você querido aluno, que a Faculdade Fatecie nasceu do


sonho de um grupo de professores em contribuir com a sociedade por meio da
educação. Motivados pelo desafio de empreender, tornaram o sonho realidade
com a autorização da faculdade fatecie no ano de 2007. Desde o princípio a
fatecie parte da crença no sonho coletivo de construção de uma sociedade
mais democrática e com oportunidades para todos, onde a educação prepara
para a cidadania de qualidade.

Toda dedicação que a comunidade acadêmica teve ao longo de nossa história


foi reconhecido ao conquistarmos por duas vezes consecutivas o título de
Faculdade Número 1 do Paraná. Um feito inédito para paranavaí e toda
região noroeste. No ranking, divulgado pelo mec em 2014 e 2015, a Fatecie
foi destaque como a faculdade melhor avaliada em todo o estado. Posição
veiculada em nível nacional pela Revista Exame e Folha de São paulo,
apontando a Fatecie como a 1ª colocada no Paraná.

Essas e outras conquistas que obtivemos ao longo dos nossos 10 anos de


história tem como base a proposta global da faculdade fatecie, que consiste
em criar um ambiente voltado para uma abordagem multidisciplinar, crítica e
reflexiva, onde se desenvolvem as atividades ensino, pesquisa e extensão.
Para isso, a Fatecie conta com um corpo docente composto, em sua maioria,
por professores com mestrado e doutorado e com ampla experiência
profissional nas mais diversas áreas do mercado e da educação.

Seja bem-vindo!

Direção
Faculdade Fatecie
AUTOR

Prof. Me. Flávio Donizete Batista

O Professor Flávio Donizete Batista possui graduação em


Filosofia pela Universidade do Sagrado Coração (1999),
graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário
Internacional UNINTER (2017), e mestrado em Educação pela
Universidade Estadual de Londrina (2003).

Atualmente é Coordenador Auxiliar do Curso de Pedagogia


da FATECIE - Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte
do Paraná e professor na área de Filosofia nos cursos de
Pedagogia, Psicologia, Administração e Ciências Contábeis.

Professor efetivo da Secretaria de Estado da Educação do


Estado do Paraná, tendo aprovação em dois concursos
públicos.

Tem experiência na área de Educação, com ênfase em


Educação e Filosofia, atuando principalmente nos seguintes
temas: educação, ética, docência, ensino-aprendizagem e
relação pedagógica.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/4266799322940706
APRESENTAÇÃO

Seja bem vindo prezado aluno, prezada aluna!


Iniciamos o estudo da disciplina de Fundamentos Históricos e Filosóficos
da Educação, envolvendo as relações entre as áreas da História, Filosofia e
Educação.
O estudo desses fundamentos nos ajudará a perceber que a
educação não é um fenômeno neutro, mas sim o contrário, possuindo uma
intencionalidade. Poderemos identificar diferentes conceitos de educação
e ainda, compreender que a educação não é uma prerrogativa da escola,
e que ela ocorre em diferentes espaços sociais. Trata-se de um estudo com
necessária atitude crítica, filosófica.
Queremos, ao final do estudo, compreender a educação como uma
atividade humana implicada em concepções teóricas e compreendida como
uma prática social, totalmente integrada àquilo que a sociedade deseja e
espera de seu presente e de seu futuro.
Mãos à obra. Um excelente estudo para todos!
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1
07 | Fundamentos da Educação

CAPÍTULO 2
16 | Educação e Sociedade

CAPÍTULO 3
24 | Breve Apresentação da Educação na Antiguidade Grega e na
Iade Média

CAPÍTULO 4
33 | Breve Apresentação da Educação a Partir da Modernidade
1CAPÍTULO
FUNDAMENTOS
DA EDUCAÇÃO

Objetivos da aprendizagem:
• Estabelecer conceitos de história, filosofia e educação.
• Apresentar a relação entre educação, história e filosofia.
• Compreender a importância da reflexão sobre os fundamentos da
educação.

Plano de Estudo:
• Na busca de conceitos.
• Educação e processo histórico.
• Relação entre educação e filosofia.

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INTRODUÇÃO DA UNIDADE

Estudar os Fundamentos da Educação é fazer uma análise dos


pressupostos que nos ajudarão a compreender o campo educacional, tendo
por referência os conhecimentos históricos e filosóficos produzidos em
diferentes contextos.
A relação entre Educação, História e Filosofia precisa ser significada,
atitude essa que deve ser crítica, filosófica. Ou seja, que nos perguntemos
sobre as maneiras pelas quais nos relacionamos com coisas, pessoas
e situações em nossa vida, assumindo uma postura indagadora e
problematizadora, que não se limite ao senso comum, ultrapassando aquela
aceitação tácita de evidências sobre as quais nunca perguntamos porque nos
parecem naturais, óbvias (CHAUÍ, 2000, p. 8).

1. Na busca dos conceitos

Os fundamentos filosóficos e históricos da educação nos ajudam


a compreender o fenômeno da educação na sociedade moderna em que
vivemos, encontrando relações entre os diferentes períodos históricos e
concepções de pensamento e a realidade em que estamos inseridos.
No estudo dos fundamentos, precisamos inicialmente discutir os
conceitos de educação, história e filosofia da educação. E para isso, podemos
começar a pensar a respeito fazendo uma análise etimológica dessas palavras.
Educação é uma palavra que apresenta diferentes significados.
Etimologicamente, de origem latina, vem dos termos educare, que significa
amamentar, criar, alimentar, e educere, que significa conduzir para fora,
direcionar para fora, fazer sair, modificar, tirar de. Temos assim duas
possibilidades de entender a educação: de um lado, a ideia de conduzir,
encaminhar, direcionar, preparar; por outro lado, a ideia de ofertar,
disponibilizar a, alimentar, ajudar crescer.
Em todo caso, a educação não pode ser pensada como um
simples processo de transmissão das heranças dos antepassados, pois
os processos humanos são dinâmicos e variáveis, através dos quais são
criadas possibilidades de gestar o novo, romper com o velho, de acordo
com a organização e funcionamento das sociedades. Não se limitando a
mera transmissão de conhecimentos, a educação precisa ser compreendida
como um instrumento de crítica de valores, crenças e concepções existentes
(ARANHA, 1996).
Para entender a noção de história e sua relação com a educação,
é importante trazer a origem do termo história, que tem relação com o
grego historie, que significa conhecer pela investigação. História pode ser
compreendida então como a ciência que investiga os fatos e processos
ocorridos no passado da humanidade, em vistas à compreensão do presente.
E quando falamos de história da educação, entendemos o estudo de como os

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indivíduos e sociedades organizaram a ação de educar, nas diferentes épocas
e lugares.
Procuramos conceituar educação e história. Cabe-nos agora apresentar
uma definição de filosofia que nos ajude a relacioná-la com os fundamentos
da educação. Diz Luckesi que, sendo a educação uma prática humana
direcionada por uma determinada concepção teórica, esta prática está
articulada com uma pedagogia, que nada mais é do que uma concepção
filosófica da educação. “Tal concepção ordena os elementos que direcionam
a prática educacional” (LUCKESI, 2001, p. 21). Temos aqui um indicativo de
uma definição de filosofia que, mesmo partindo dele, vai além de seu sentido
etimológico (filo: amizade, amor a; sofia: sabedoria). Ou seja, o amigo da
sabedoria, o filósofo, é aquele que busca o sentido da própria existência. E em
nossa reflexão, busca o sentido da própria educação.

2. Educação e processo histórico

O senso comum permeia nossa forma de compreender o mundo em que


estamos inseridos. Num primeiro momento não buscamos fazer uma reflexão
mais aprofundada sobre os porquês de pensarmos e agirmos de determinadas
maneiras. Temos a crença de que as coisas acontecem ou por si mesmas, ou
porque seguem um plano superior pré-estabelecido. Assim, não estabelecemos
conexões que podem explicar quem somos e como somos.
Precisamos superar essa forma acrítica de compreender a realidade,
indo além de uma atitude de mera absorção das ideias dominantes e
alicerçadas pelo senso comum. Buscando através da reflexão filosófica
a apreensão de sua realidade, participando inclusive da construção do
conhecimento que alicerce esta reflexão seremos sujeitos de nossa própria
existência.
Isso somente será possível se entendermos que o ser humano se
constrói a partir de sua própria existência no decorrer da história. A própria
concepção de história não pode ser a de um amontoado de fatos de um
passado distante, mas precisa configurar-se como um processo em constante
transformação, no qual o passado, o presente e o futuro estão intimamente
imbricados e referenciados.
O ser humano é um ser social que não vive e sobrevive sozinho no
mundo e isolado em sua individualidade. Pelo contrário, é somente através
das diferentes interações, abrangentes ou nem tanto, com os outros seres que
ele consegue sobreviver. Desde o início dos primeiros agrupamentos simples
até as comunidades atuais complexas, os homens constroem relações entre
si que possam garantir a sua existência material. São estabelecidas relações
econômicas, sociais e culturais, no qual o trabalho é a fonte produtora dos
recursos materiais necessários para a sobrevivência humana.

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3. Relação entre educação e filosofia

A filosofia, segundo Luckesi (2001, p. 22), é um corpo de conhecimento


constituído a partir do esforço humano de compreender seu mundo e dar-
lhe um sentido, um significado compreensivo. O homem tem um conjunto de
coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade, que expressam o
entendimento de se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações.
A educação é uma atividade humana caracterizada fundamentalmente
por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. Segundo Luckesi,
temos:

A educação dentro de uma sociedade não se manifesta


como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento
de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela
necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e
orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela
está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática.
Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os
seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação
dentro de uma dada sociedade (2001, p. 30).

As relações entre Educação e Filosofia são indissociáveis: a educação


trabalha com o desenvolvimento das crianças e das novas gerações de
uma sociedade, e a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou
desenvolver estas crianças e esta sociedade. Filosofia e educação são dois
fenômenos que estão presentes nas sociedades. Uma como interpretação
teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como
instrumento de veiculação dessa interpretação (LUCKESI, 2001, p. 31-32).
A filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual
está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos
podem caminhar. Não há como se processar uma ação pedagógica sem uma
correspondente reflexão filosófica. Quando não se reflete sobre a educação,
ela se processa dentro de uma cultura cristalizada e perenizada, como se nada
mais pudesse ser descoberto em termos de interpretação do mundo. E essa
interpretação passa a ser a única possível, que vamos aceitar sem questionar,
sem buscar novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos
anseios que possam ser detectados no seio da vida humana (LUCKESI, 2001,
p. 32-33).
A reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à pedagogia,
garantindo-lhe a compreensão dos valores que, hoje, direcionam a prática
educacional e dos valores que deverão orientá-las para o futuro. Assim, não
há como se ter uma proposta pedagógica sem pressuposições (no sentido de
fundamentos) e proposições filosóficas, desde que tudo o mais depende desse
direcionamento.

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#SaibaMais

Pequeno vocabulário etimológico (quase todas as referências são latinas):


- Aluno – alumnus: criança nutrida no peito. Daí pupilo, discípulo.
- Aprender – apprehendere: agarrar, apanhar, segurar, apoderar-se. Daí tomar
conhecimento de, prender na memória.
- Educar – a) educare: criar, amamentar; b) educere: levar para fora, fazer sair,
tirar de; dar à luz, produzir. Daí conduzir de um estado a outro, modificar.
- Ensinar – insignire: assinalar, distinguir, colocar um sinal, mostra, indicar. Daí
indicar o caminho para aprender.
- Instrução – instructio: construção, edificação.
- Mestre – magister: o que comanda, dirige, conduz.
- Pedagogo – do grego paidagogós (pai, paidos: criança e agogós: guia,
condutor): escravo que acompanhava as crianças à escola; depois, mestre,
preceptor.
- Saber – sapere: ter sabor, agradar a paladar; saber, conhecer, aprender.
- Texto – textum: tecido, pano; obra formada por várias partes reunidas.
(ARANHA, 1996).

REFLITA

Discutimos sobre a importância da história e da filosofia na compreensão


da educação. Pense em que o estudo lhe ajudou a mudar o modo como você
vê a história e a filosofia. Como você encarava a história e a filosofia e qual
sua visão agora? Analise como você e as pessoas de sua convivência falam da
filosofia e da história.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apresentadas as primeiras considerações sobre os Fundamentos da


Educação, e discutindo a importância da história e da filosofia na compreensão
da educação, pudemos perceber que a educação poderá ser melhor entendida
se buscarmos identificar seus pressupostos e encontrarmos aqueles que são
seus fundamentos, uma vez que a educação está vinculada no tempo e no
espaço.
Vamos agora prosseguir nosso estudo, abordando a educação como
uma prática fundamental da existência histórico-cultural dos homens. Este será
o tema de nossa próxima unidade. Vamos lá.

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LEITURA COMPLEMENTAR

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Dermeval Saviani

No que diz respeito à História da Educação, verifica-se fenômeno


semelhante: a História, por obra da hipertrofia da primeira palavra da locução,
acaba por não ser compreendida, o seu significado acaba por não ser
explicitado claramente; assim, a História acaba sendo absorvida no sentido
tradicional de sequência de fatos ou sequência de ideias, resumindo-se a uma
mera cronologia.
Ao se reduzir a História a uma sequência de fatos ou de ideias, ocorre
aí um agravante maior: tais fatos (ou ideias) acabam por se resumir naquilo
que eu chamaria de “fatos de supra-estrutura”, isto é, aqueles fatos que se
evidenciam mas que não explicam o processo histórico concreto, sendo, ao
contrário, explicados pelo processo histórico concreto. Em consequência,
o ensino da História, em lugar de explicitar o mencionado processo, apenas
expõe os fatos de supra-estrutura, resultando, daí, o caráter insípido de que
se reveste esse tipo de ensino. E a História, à semelhança da Filosofia, acaba
por se tornar, também ela, uma disciplina “chata”, uma vez que será necessário
reter uma série grande de fatos (ou de ideias) geralmente desprovidos de
sentido; assim, a memorização acaba sendo o recurso de que o aluno (e por
vezes o professor) lança mão para se situar em face do problema da História.
Usando de uma imagem, poderíamos descrever o processo histórico por
analogia como teatro.
No cenário da História temos os atores e os autores da História, do
mesmo modo que numa peça teatral temos os atores e o autor da peça. O
autor não aparece; no entanto, a obra é sua e os atores representam aquele
papel que lhes foi designado na trama da peça, trama essa que é obra do autor
da peça. Para os espectadores, os atores estão em evidência e são por vezes
cultuados, surgindo como ídolos. Em contrapartida, os autores estão ocultos
nos bastidores, ficando, geralmente, na penumbra, quando não são totalmente
esquecidos.
Na Historiografia temos, pois, o seguinte fenômeno: os fatos de
bastidores que são os fundamentais, dado que nos permitiriam compreender
o que está acontecendo, tais fatos não são explorados suficientemente,
enquanto que os fatos de supra-estrutura (ligados à imagem dos atores) são
mencionados numa sequência cronológica sem que se entenda bem porque
em determinado momento quem esteve em evidência foi este ator e não
outro e que papel representava este ator; quer dizer, que forças ele estava
representando, forças essas que nos permitiriam compreender qual a matriz
básica daquele momento histórico. Dessa forma, a Historiografia tende a se
resumir na apresentação de uma série de nomes, fatos e datas e o recurso
para se reter esses dados terá que ser a memorização mecânica, uma vez que
a compreensão da trama da História se perde.

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Ora, a compreensão da trama da História só será garantida se
forem levados em conta os “dados de bastidores”, vale dizer, se se examina
a base material da sociedade cuja história está sendo reconstituída. Tal
procedimento supõe um processo de investigação que não se limita àquilo
que convencionalmente é chamado de História da Educação, mas implica
investigações de ordem econômica, política e social do país em cujo seio se
desenvolve o fenômeno educativo que se quer compreender, uma vez que é
esse processo de investigação que fará emergir a problemática educacional
concreta.
Na medida em que nós, professores de História da Educação,
assumimos essa atitude de investigação; na medida em que nós, em face dos
alunos, estimulamos esta mesma atitude, eis como estaremos contribuindo
efetivamente para o avanço do campo do conhecimento que constitui a História
da Educação e, no nosso caso específico, para o desenvolvimento da História
da Educação Brasileira.

SAVIANI, Dermeval.
Educação: do senso comum à consciência filosófica.
São Paulo: Cortez, 1980, p. 37-38.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO

Título: Introdução ao Pensar

Autor: Arcângelo R. Buzzi.

Editora: Vozes.

Sinopse: Este livro é um convite e


estímulo ao pensamento, partindo de
temas comuns da filosofia. Ilustrado
com citações de muitos pensadores,
leva o leitor a pensar os fenômenos
do dia-a-dia.

FILME

Título:
O Show de Truman – O Show da Vida

Ano: 1998.

Sinopse:
No filme, o personagem Truman
participa de um reality show e não
sabe. Ele nem imagina que está sendo
televisionado e que tudo na sua vida é
ilusório.

Temas: Ideologia e alienação.


Ajuda na reflexão sobre o sentido da
vida e da realidade em que estamos
inseridos.

PÁGINA 14
WEB

Portal Brasileiro de Filosofia: http://filosofia.pro.br

Há muitas produções acadêmicas com foco na temática Filosofia e História


da Educação que podem ser encontradas no repositório das reuniões da
Associação nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPED).

Acesse endereço e descubra: htpp://www.anped.org.br

REFERÊNCIAS

ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2.ed. São Paulo:


Moderna, 1996.

ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. História da Educação. 2.ed. São Paulo:


Moderna, 1996.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 3.ed. São Paulo: Ática, 2000.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. 16.Reimp. São Paulo:


Cortez, 2001.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica.


São Paulo: Cortez, 1980.

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2CAPÍTULO
EDUCAÇÃO E
SOCIEDADE

Objetivos de Aprendizagem:
• Discutir a relação entre educação e sociedade, mostrando sua
indissociabilidade.
• Discutir o papel da educação como redentora, reprodutora e transformadora.

Plano de Estudo:
• Cultura, trabalho e educação.
• Educação e sociedade.

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NTRODUÇÃO DA UNIDADE

Olá, prezado aluno. Olá, prezada aluna.


Na unidade anterior estudamos alguns conceitos e apresentamos a
relação entre história, filosofia e educação, mostrando o quanto estas áreas
são indissociáveis. Vamos agora avançar um pouco mais, nos perguntando:
qual o sentido da educação como um todo, dentro de nossa sociedade? Sendo
a educação marcada por conceitos, valores e finalidades que a norteiam,
precisamos saber sobre seu sentido e valor na e para a sociedade.
Perguntar sobre o sentido e valor da educação nos ajudará a perceber
que ela é uma prática fundamental da existência histórico-cultural da
humanidade, e é nesse contexto que ela precisa ser abordada. Sentido e valor
estão intimamente relacionados com os elementos históricos e culturais do
ambiente em que a educação se realiza.
Entender o que é cultura apresenta-se como uma necessidade
importante nesse momento.

1. Cultura, trabalho e educação

Podemos definir cultura como o resultado de tudo o que o homem


produz para construir sua existência. Antropologicamente, cultura é tudo o que
o homem faz, seja material ou espiritual, seja pensamento ou ação. A cultura
exprime as variadas formas pelas quais os homens e mulheres estabelecem
relações entre si e com a natureza: construções, atividades, técnicas, leis,
costumes, punições e crenças.
A ação do homem sobre a natureza e sobre si mesmo é totalmente
diversa, por exemplo, daquilo que o animal faz: sua atividade está totalmente
determinada pelo seu biológico, que lhe permite adaptar-se ao meio em que
vive, não sendo livre para agir diferente daquilo que está em sua própria
natureza. O homem, por sua vez, mesmo reproduzindo técnicas usadas
por outros homens e inventando outras, é capaz de realizar uma verdadeira
experiência humana, pela qual sua vivência do aqui e do agora pode ser
superada, passando a existir no tempo.
A transformação que o homem faz na natureza chama-se trabalho, que
tem por características ser uma atividade transformadora, intencional e dirigida
por finalidades conscientes. A cultura, por sua vez, é o que resulta do trabalho
humano. A transformação realizada pelos instrumentos, as ideias que tornam
possível essa transformação e os produtos que dela são resultantes: tudo isso
é cultura.
Vale lembrar que essa ação humana transformadora não é solitária. Mas
social, uma vez que os homens e mulheres, ao se relacionarem para produzir
sua própria existência, desenvolvem condutas sociais, a fim de atender às
necessidades do grupo (ARANHA, 1996, p.16).
A natureza modificada pelo trabalho humano não é apenas a do mundo

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exterior, mas também a da individualidade humana, pois nesse processo o
homem se autoproduz, isto é, faz a si mesmo homem.
O humano se faz, por um lado, com a sociedade exercendo sobre ele
um efeito modelador, a partir do qual é construída uma determinada visão de
mundo; e por outro, cada um elaborando e interpretando a herança recebida na
sua perspectiva individual, modificando-a. Nenhuma sociedade é imutável: em
maior ou menor grau, a mudança acontece, numa dinâmica entre a tradição, a
ruptura, a herança e a renovação.
Toda essa dinâmica só é possível através da transmissão dos
conhecimentos adquiridos de uma geração para outra, permitindo a
assimilação dos modelos de comportamentos valorizados por uma determinada
sociedade. É a educação que mantém viva a memória de um povo e dá as
condições para sua sobrevivência material e espiritual.
A educação é, portanto, fundamental para a socialização do homem
e sua humanização. Trata-se de um processo que dura a vida toda e não se
restringe à mera continuidade da tradição, pois supõe a possibilidade de
rupturas pelas quais a cultura se renova e o homem faz história.

2. Educação e sociedade

Retomemos as duas questões apresentadas na introdução desta


unidade: qual o sentido da educação como um todo, dentro de nossa
sociedade? Sendo a educação marcada por conceitos, valores e finalidades
que a norteiam, precisamos saber sobre seu sentido e valor na e para a
sociedade. As respostas a essas perguntas nos ajudarão a compreender a
educação e seu direcionamento.
Uma resposta possível é que a educação é responsável pela direção da
sociedade, uma vez que ela é capaz de conduzir a vida social, salvando-a da
situação em que se encontra. Outra resposta aponta para a educação como
reprodutora da sociedade como ela está. Há ainda uma terceira resposta que
afirma a educação ser uma instância mediadora de uma forma de entender
e viver a sociedade: a educação nem salva nem reproduz a sociedade, mas
pode servir de meio para alcançar uma nova concepção de sociedade.
Tais respostas podem ser expressas nos seguintes conceitos: educação
como redenção; educação como reprodução; e educação como meio para
transformar a sociedade (LUCKESI, 2001, p. 37). Saviani (1994) nomeia esses
conceitos de outra forma, na mesma ordem: teorias não-críticas da educação;
teorias crítico-reprodutivistas da educação; e teorias críticas da educação.
A educação como redenção da sociedade ou teorias não-críticas da
educação trata-se de uma concepção que vê a sociedade como um conjunto
de seres humanos que forma um todo orgânico e harmonioso, em que os
desvios apresentados por grupos ou indivíduos são posicionados à margem
desse todo. A educação está fora da sociedade, com a função de manter a
ordem e o equilíbrio, promovendo a coesão social (LUCKESI, 2001, p. 38).

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A segunda tendência de interpretação, a da educação como reprodução
da sociedade, ou teorias crítico-reprodutivistas, afirma que a educação faz,
integralmente, parte da sociedade e a reproduz. A educação está a serviço
da sociedade, não corrigindo suas falhas, mas reproduzindo-a no seu modo
vigente, perpetuando-a, se for possível. A diferença entre essas tendências é
que, enquanto a primeira atua sobre a sociedade como uma instância corretora
dos seus desvios, tornando-a melhor e mais próxima do modelo de perfeição
e harmonia idealizado, a segunda entende a educação como um elemento da
própria sociedade, determinada por seus condicionantes econômicos, sociais e
políticos, ou seja, a serviço dessa mesma sociedade e de seus condicionantes
(LUCKESI, 2001, p. 41).
A terceira tendência apresenta a educação como um meio de
transformar a sociedade, ou teoria crítica. A educação seria como mediação de
um projeto social. Ela nem redime nem reproduz a sociedade, mas serve de
meio, ao lado de outros meios, para realizar um projeto de sociedade; projeto
que pode ser conservador ou transformador. Essa tendência não coloca a
educação a serviço da conservação, mas pretende demonstrar que é possível
compreender a educação dentro da sociedade, com os seus condicionantes,
mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização (LUCKESI,
2001, p. 48).
Podemos perceber que cada tendência tem sua disposição diante da
educação. Luckesi escreve:

A tendência redentora é otimista em relação ao poder da


educação sobre a sociedade, a tendência reprodutivista é
pessimista, no sentido de que sempre será uma instância
a serviço do modelo dominante da sociedade. [...] Uma
reconhece que a educação é a instância que corrige os desvios
do modelo social; outra reconhece que a educação reproduz o
modelo social. [...] Assim sendo, esta terceira tendência poderá
ser denominada de “crítica” tanto na medida em que não cede
ao ilusório otimismo, quando na medida em que interpreta a
educação dimensionada dentro dos determinantes sociais, com
possibilidades de agir estrategicamente (2001, p. 49).

As três tendências filosóficas de interpretação da educação redundam


em formas de agir, politicamente, no contexto da prática pedagógica. A
tendência redentora propõe uma ação pedagógica otimista, do ponto de vista
político, acreditando que a educação tem poderes quase que absolutos sobre
a sociedade. A tendência reprodutivista é crítica em relação à compreensão
da educação na sociedade, porém pessimista, não vendo qualquer saída
para ela, a não ser submeter-se aos seus condicionantes. Por último, a
tendência transformadora, que é crítica, recusa-se tanto ao otimismo ilusório,
quanto ao pessimismo imobilizador. Por isso, propõe-se compreender a
educação dentro de seus condicionantes e agir estrategicamente para sua
transformação. Propõe-se desvendar e utilizar-se das próprias contradições da

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sociedade, para trabalhar realisticamente (criticamente) pela sua transformação
(LUCKESI, 2001, p. 51).

#SaibaMais

Um exemplo de entendimento da educação como redentora da


sociedade encontra-se na obra Didática Magna: tratado da Arte Universal de
Ensinar Tudo a Todos, de Comênio, publicada em 1657.

Diversos pensadores desenvolveram a perspectiva pessimista da


educação, tendo destaque as ideias de Louis Althusser, no livro Ideologia
e aparelhos ideológicos do Estado. Nessa obra, a partir de pressupostos
marxistas, o autor empreende um estudo sobre o papel da escola como um dos
aparelhos do Estado, como uma das instâncias da sociedade que veicula a sua
ideologia dominante, para reproduzi-la.

O pedagogo francês Georges Snyders (1916) foi o primeiro a usar


a expressão pedagogia progressista, título de um livro no qual se propôs
a pensar uma teoria que superasse a escola tradicional e a escola nova.
Dentro de uma perspectiva dialética, são negados os aspectos conservadores
da escola tradicional, bem como os excessos da escola nova, sendo depois
recuperados em nível superior (ARANHA, 1996, p. 214).

REFLITA

Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses


sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la
e o seu trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias.

Paulo Freire, no livro Educação e Mudança, publicado pela Paz e Terra,


em 1983, no Rio de Janeiro.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos nesta unidade a relação existente entre educação e sociedade,


ficando muito claro que a educação está contextualizada dentro de uma
determinada realidade histórica e cultural, sendo profundamente influenciada
por ela.
E diante dessa compreensão de que a educação está na sociedade,
precisamos ter sempre clara qual sua finalidade e direcionamento. Daí nossa
discussão sobre as tendências que buscam interpretar o papel da educação na
sociedade, com uma perspectiva otimista, pessimista e transformadora desse
seu papel.
A nós, tendo compreendido essas tendências, cabe, filosoficamente
(criticamente), descobrir qual a tendência que orientará nosso trabalho na
educação. O que não podemos é ficar sem nenhuma delas, pois quando não
pensamos, outros pensam por nós e nos dirigem.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Pedagogia do Oprimido
• Autor: Paulo Freire
• Editora: Paz e Terra
• Sinopse:
Pedagogia do Oprimido é um dos mais
conhecidos trabalhos do educador e filósofo
brasileiro Paulo Freire. O livro propõe
uma pedagogia com uma nova forma de
relacionamento entre professor, estudante, e
sociedade.

FILME
• Título: O Sorriso de Mona Lisa
• Ano: 2003.
• Sinopse:
Katherine Watson é uma recém-formanda
da UCLA que foi contratada, em 1953, para
lecionar História da Arte na prestigiosa
Wellesley College, uma escola só para
mulheres. Determinada a confrontar valores
ultrapassados da sociedade e da instituição,
Katherine inspira suas alunas tradicionais,
incluindo Betty e Joan, a mudarem a vida
das pessoas como futuras líderes que serão

WEB
Revista Educação & Sociedade: um dos mais importantes periódicos
editados hoje na área da Educação no país. Publicada desde 1978, a revista
tem periodicidade trimestral. Além disso, um número especial temático tem
sido organizado a cada ano, desde 1995, transformando a revista em uma
publicação trimestral.

Link: http://www.scielo.br/scielo.php/script_sci_serial/pid_0101-7330/lng_pt/
nrm_iso

PÁGINA 22
REFERÊNCIAS

ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2.ed. São Paulo:


Moderna, 1996.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. 16.Reimp. São Paulo:


Cortez, 2001.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 30. ed. Campinas: Autores


Associados, 1994.

PÁGINA 23
3CAPÍTULO
BREVE APRESENTAÇÃO
DA EDUCAÇÃO NA
ANTIGUIDADE GREGA
E NA IDADE MÉDIA

Objetivos de Aprendizagem:
• Apresentar a educação nos contextos históricos da antiguidade (grega) e
medievalidade.
• Destacar as principais características pedagógicas da educação no período
delimitado.
• Contribuir com a compreensão da educação como um fenômeno enraizado
na história humana.

Plano de Estudo:
• Antiguidade grega e a paidéia.
• A educação na idade média.

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INTRODUÇÃO DA UNIDADE

Daquilo que estudamos até o momento, fica cada vez mais evidente
que não podemos pretender analisar a educação de forma abstrata,
descontextualizada de suas contradições e antagonismos de classes. Isso
não nos permitirá uma real compreensão de seu significado, e poderemos
atribuir-lhe um caráter incompleto, seja redentor, seja pessimista, como vimos
anteriormente.
Há diferentes formas de educação historicamente enraizadas; não é
possível falar de educação abstratamente, nem desconsiderar seu ambiente e
sua época histórica. Isso porque as finalidades com que se educa não são as
mesmas em todas as épocas, lugares e sociedades.
A educação não é um fenômeno que se entenda fora de uma
determinada sociedade. A compreensão daquela passa necessariamente
pela compreensão desta. Cada sociedade tem seus espaços próprios para a
socialização, que não se reduzem ao espaço escolar. Por isso, para entender
o papel da educação na socialização, precisamos discutir a transmissão da
cultura dentro e fora da escola.
O que queremos nesse estudo dos fundamentos históricos não é
apresentar uma relação de fatos e acontecimentos de cada período, mas sim
perceber como se deu e continua acontecendo esse processo educacional,
dentro das diferentes realidades históricas das sociedades.
Um excelente estudo a todos, caros alunos e alunas.

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1. Antiguidade grega e a paidéia

Os povos da antiguidade oriental não dispunham de uma reflexão


especialmente voltada para a educação, uma vez que essa prática encontra-
se vinculada às tradições religiosas recebidas dos antepassados. O saber do
passado é transmitido de forma rígida às novas gerações, em um contexto
teocrático onde a educação não se separa da religião, onde escriba e
sacerdote são os responsáveis pelos valores da sociedade (ARANHA, 1996,
p.41).
Mas na Grécia clássica há a substituição das explicações religiosas pela
utilização da razão autônoma. Segundo Aranha:

Surge a necessidade de elaborar teoricamente o ideal


de formação, não do herói, submetido ao destino, mas
do cidadão. Este deixa de ser depositário do saber da
comunidade, para se tornar o que elabora a cultura da cidade.
A ênfase no passado é deslocada para o futuro: o homem não
está preso a um destino traçado, mas é capaz de projeto, de
utopia (1996, p.41).

Nesse contexto surge a palavra paidéia, significando inicialmente


criação dos meninos (pais, paidós, “criança”), mas que assumirá nuanças que
a tornarão um termo complexo. Pode significar expressões modernas como
civilização, cultura, tradição, literatura ou educação; mas na verdade, seu
significado entre os gregos é o de um projeto de formação do homem em todas
as suas dimensões.
O ideal grego de educação vai passar por muitas mudanças. Ora
associado ao corpo, ora à ênfase na habilidade militar do guerreiro, passando
ainda pela formação do cidadão que nas praças (ágoras) vai utilizar a palavra
no exercício da vida política, mas sempre vinculado ao uso da razão crítica
da condição humana. Segundo Platão, a educação é o instrumento para
desenvolver no homem tudo o que implica sua participação na realidade ideal,
tudo o que define sua essência verdadeira, embora asfixiada por sua existência
material. Também segundo Aristóteles, a educação é um processo que auxilia
na transformação do homem naquilo que é sua finalidade como realização
enquanto pessoa.

2. A educação na idade média

A educação na idade média esteve sob a responsabilidade da Igreja,


devido à sua hegemonia diante da sociedade como um todo. Existiam no
período escolas que funcionavam junto às catedrais ou escolas monásticas
que funcionavam nos mosteiros. Dessa forma, a Igreja assumiu o papel de
disseminar a educação e a cultura no medievo, o que foi preponderante para o
legado educacional do Ocidente.

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Historicamente, a idade média iniciou no século V com a queda
do império romano do ocidente, que foi tomado pelos povos chamados
bárbaros que viviam além das fronteiras e não falavam latim. Com a invasão
dos bárbaros, houve grande alteração no mapa político da Europa. Há o
desenvolvimento do feudalismo, com a distribuição de terras para os nobres,
para toda a vida, com todos direitos de uso sobre a área por toda vida.
O cristianismo estava se desenvolvendo e muitos reinos bárbaros foram
convertidos. O poder dos nobres foi aumentando e a figura do rei torna-
se fraca. O clero da Igreja Católica dava o apoio necessário à estabilidade
do sistema. A nobreza era hereditária, o filho mais velho herdava o título de
nobreza do pai e irmão não herdeiros ingressavam para os quadros da Igreja,
tornando-se bispos, papas etc., chamados de alto clero. Os servos da gleba
pertenciam ao feudo e, se o feudo passasse para outras pessoas, a eles o
acompanharia.
A nobreza não tinha qualquer interesse pelo conhecimento, que ficava
sob a tutela da Igreja, enquanto os servos não tinham qualquer acesso.
Com a invasão dos bárbaros e a destruição das instituições romanas,
a Igreja foi-se afirmando e passou a desempenhar funções de destaque,
inclusive cristianizando os bárbaros. Os mosteiros tornaram-se centros
únicos de educação e cultura. Entre as ordens religiosas, os beneditinos se
espalharam por quase toda a Europa.
A sociedade medieval é organizada por estamentos, ou estados: a
nobreza, o clero e os servos. Cada estamento recebia um tipo de educação
diferenciada. O clero era preparado principalmente com ensinamentos
filosóficos e teológicos, disciplinados e enquadrados nos parâmetros das
ordens religiosas. A nobreza recebia outro tipo de educação, sendo preparada
para a guerra, principalmente na arma de cavalaria, para as boas maneiras,
lealdade ao seu senhor, moral e cívica, lançamento de dardos, flechas,
corridas, natação etc. A educação de um nobre começava com uma fase de
escudeiro, quando recebia os ensinamentos de um cavaleiro, acompanhando-
os nos campos de batalha. Os servos da gleba eram instruídos pelos familiares
e por iguais, dentro dos limites do feudo. Esses ensinamentos não abarcavam
ler, escrever e contar, apenas sobre a prática agrícola levada a efeito.
A partir do século X a marca principal na idade Média quando se fala
em educação é a criação das universidades. Eram locais onde ser formavam
grupos de estudos, com uma cultura superior, de acordo com as condições
locais. A primeira universidade da Europa ocidental de que se tem notícias é
a Escola de Medicina de Salermo, na Itália, com algumas influências árabes.
Depois ocorreu a fundação da Universidade de Bolonha, considerada, por
muitos estudiosos, como a primeira direcionada aos estudos do Direito. No
século XIII, surgiu a Universidade de paris, originária da Escola Catedral de
Notre Dame e serviu de modelo às universidade europeias por no mínimo dois
séculos. Surgiram no século XIV, Oxford e Salamanca, depois muitas outras.
No final da Idade Média, os habitantes dos burgos ou cidades firmaram-
se como uma classe social. Foram os burgueses, organizados em corporações

PÁGINA 27
e grêmios, fundando escolas de diferentes profissões. Com o crescimento
das cidades, criaram-se escolas municipais, independentes das catedrais. A
maioria tinha o caráter prático, mas algumas se dedicaram a ensinar literatura,
geografia, história e outras disciplinas consideradas humanísticas. O ensino era
promovido em língua local e já existiam diretores e até supervisores da própria
organização. Havia mestres ambulantes que circulavam por muitos lugares ou
até países, contratados temporariamente e que tinham de passar por exames
criteriosos. Foi o embrião da escola pública, durante a ascensão do capitalismo
comercial.
Por fim, vale ressaltar que durante a Idade Média, devido ao
protagonismo da Igreja Católica, muitos religiosos dedicaram-se à educação.
Os primeiros representavam a Patrística, filosofia e pedagogia exercidas
pelos padres, seguindo os ensinamentos principalmente de Santo Agostinho
(354-430). Na segunda metade da idade Média, os filósofos e educadores
pertenciam à Escolástica, seguindo, principalmente, as orientações de Santo
Tomás de Aquino (1225-1274).

#SaibaMais
Para muitos autores, além da importância da Patrística e da Escolástica para
a educação cristã, houve um primeiro período, de igual importância, chamada
Apostólico, correspondendo à atuação de Jesus de Nazaré e seus apóstolos,
durante os primeiros anos do Cristianismo, chegando até o quarto século,
com outros seguidores. Esses ensinamentos foram anteriores à invasão
dos bárbaros e tiveram continuidade com a Patrística. Alguns educadores se
destacaram nessa época como, por exemplo, Clemente de Alexandria (160-
220), que foi diretor da escola de Alexandria, divulgador dos ideais cristãos e
grande pedagogo.

REFLITA
“A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados
com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera,
começaram a fazer perguntas para elas, demonstrando que o mundo
e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da natureza, os
acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão
humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma” (CHAUÍ,
2000, p. 24).
De que maneira a admiração e o espanto podem ser hoje, o início de um
processo de reflexão filosófica acerca da realidade, como foi com os gregos?

PÁGINA 28
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao apresentarmos algumas informações sobre a educação na


antiguidade grega e na Idade Média, não tivemos a pretensão de fazer uma
abordagem exaustiva com descrição minuciosa dos elementos próprios dos
períodos. Nosso objetivo foi mostrar as principais características, evidenciado
que a educação sempre está enraizada com um projeto de sociedade, seja
ele qual for. Na Grécia, a formação de um homem integral, com habilidades
para a política. Na idade Média, um homem que fosse obediente a Deus e que
pautasse sua vida pela religião cristã.
Na continuação de nosso estudo, veremos que nos períodos seguintes
– Moderno e Contemporâneo – a educação também estará enraizada em seu
contexto histórico e cultural, evidenciando seu caráter intencional de prática
social.
Um abraço e até lá.

PÁGINA 29
LEITURA COMPLEMENTAR

RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E SOCIEDADE AO LONGO DA HISTÓRIA


Fabíola Langaro

Em todos os períodos da história da humanidade, o processo


educacional esteve relacionado à necessidade social, instrumentalizado
pelo sistema econômico. Nas sociedades primitivas, o sistema econômico
estava baseado na agricultura, assim como na Roma Arcaica a necessidade
econômica estava relacionada à expansão agrícola. Nesses sistemas, a
identidade do sujeito passava pela ideia de que ele deveria ser preparado para
ser um guerreiro. Neles, a instituição responsável pelo processo de educação
era a família e o papel valorizado pela sociedade e pela cultura era o papel
social do guerreiro. Dessa forma, a preparação dos meninos para a guerra
passava pela utilização dos jogos que simulavam as situações vividas na
realidade.
Na Idade Média, os filhos passaram a sair de suas casas para serem
educados nas casas de outras famílias. Naquela época, acreditava-se que
o afeto poderia interferir de modo negativo no processo educacional e a
educação passou a ser feita à distância para que o aspecto emocional não
comprometesse a preparação dos guerreiros. Os jovens aprendiam, assim,
tanto a realizarem os afazeres domésticos quanto sobre as próprias relações
de produção da sociedade. A religião, na figura da Igreja, era a instituição que
controlava as normais sociais, ditava as regras da moral e da educação.
Na Idade Moderna, com o advento da Revolução Industrial, houve um
processo de ruptura do processo artesanal com a chegada das máquinas.
Ocorreu uma crise social e a consequente ida de muitas famílias para as ruas.
Criaram-se, as workhouses para recolher essas pessoas e formar membros
úteis ao Estado. A necessidade pedagógica era a de homens que trabalhassem
sem pensar. A busca pela moral do indivíduo foi substituída pelo ideal da
disciplina. Era preciso domar o caráter dos indivíduos, através da educação
de seu corpo, com a finalidade de fornecer ao sistema econômico indivíduos
disciplinados e, portanto, produtivos. Da mesma forma, as crianças eram
cobiçadas como mão-de-obra barata e necessitavam ser disciplinadas para
que suportassem longas horas de jornadas de trabalho. O instrumento idôneo
que estava à disposição desse sistema era a escola, que assumiu essa função
social de disciplina. Passou-se, assim, de um sistema social de auto-instrução
através da família para a escolarização, com o controle do Estado.
Quanto ainda carregamos desta história, considerando que somos frutos
dela?
Quais são os desafios que hoje enfrentamos considerando que não
é possível alterar o passado, mas, ao mesmo tempo, necessário construir o
futuro?
Fonte: https://apeoc.org.br/relacao-entre-educacao-e-sociedade-ao-
longo-da-historia/

PÁGINA 30
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO (OBRIGATÓRIO)
• Título: Paidéia.
• Autor. Werner Jaeger
• Editora: Martins Fontes
• Sinopse: Esta obra famosa de Werner
Jaeger, um dos marcos da cultura do
nosso tempo, é o estudo mais profundo
e completo sobre os ideais de educação
da Grécia antiga. Jaeger estudou a
interação entre o processo histórico
da formação do homem grego e o
processo espiritual através do qual os
gregos chegaram a elaborar seu ideal de
humanidade. A partir da solução desta
profunda questão histórica e espiritual,
foi possível chegar ao entendimento
da criação educativa sem par de onde
se irradia a imorredoura influência dos
gregos sobre todos os séculos.

FILME (OBRIGATÓRIO)
• Título: O nome da Rosa.
• Ano: 1986.
• Sinopse:
Na última semana de
novembro de 1327,
num mosteiro na Itália medieval,
a morte, em circunstâncias insólitas,
de sete monges em sete dias e
noites é o motor responsável pelo
desenvolvimento da ação.
Um monge franciscano é chamado
para solucionar o mistério e cai nas
malhas de uma trama diabólica.
Na forma de uma crítica, as violências
sexuais, os conflitos no seio
dos movimentos heréticos do século
XIV, a luta contra a mistificação, o
poder, o esvaziamento dos valores
pela demagogia, constroem uma
reconstituição livre dos fatos históricos
da época aos olhos do espectador.

PÁGINA 31
WEB (OBRIGATÓRIO)

A Revista Brasileira de História da Educação (RBHE) é a publicação oficial


da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE). Sediada atualmente
na Universidade Estadual de Maringá e publicada trimestralmente, a RBHE
tem o objetivo de divulgar a produção científica nacional e internacional
sobre História e Historiografia da Educação, que se revele de interesse para
as grandes áreas de pesquisa em Educação e em História, abrindo novos
horizontes de discussão e estimulando debates interdisciplinares.
• Link do site: http://rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe

REFERÊNCIAS

ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2.ed. São Paulo:


Moderna, 1996.

ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. História da Educação. 2.ed. São Paulo:


Moderna, 1996.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 3.ed. São Paulo: Ática, 2000.

PÁGINA 32
4CAPÍTULO
BREVE APRESENTAÇÃO DA
EDUCAÇÃO A PARTIR DA
MODERNIDADE

Objetivos de Aprendizagem:
• Apresentar a educação nos contextos históricos da modernidade e
contemporaneidade.
• Destacar as principais características pedagógicas da educação no período
delimitado.
• Contribuir com a compreensão da educação como um fenômeno enraizado
na história humana.

Plano de Estudo:
• A modernidade, a razão e o sujeito.
• A modernidade e o nascimento da noção de infância.
• Desafios da educação na pós-modernidade.

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INTRODUÇÃO DA UNIDADE

Nesta unidade, apresentaremos a educação e suas grandes


transformações a partir da Modernidade, quando são construídas as principais
noções que dispomos de sociedade, sujeito, escola e infância.
Na Modernidade, um período de amplas e profundas transformações, a
razão e o capitalismo são os referenciais que nos ajudam a compreender com
a vida se organiza na sociedade dita moderna. Além disso, a noção de sujeito
construída no mundo moderno nos apontará para a centralidade que o homem
passa a ter, bem como o lugar da educação na formação desse sujeito racional
ativo, responsável pela transformação social.
Um excelente estudo para todos.

1. A modernidade, a razão e o sujeito.

Algumas mudanças de ordem social, científica, filosófica e religiosa


permitem considerar o desenvolvimento de uma nova mentalidade a partir dos
séculos XV e XVI, com características bem peculiares. As guerras de religião,
a era dos descobrimentos, o surgimento de novos modelos de conhecimento,
além de outros fatores, levarão a buscar outras visões de mundo.
Uma forte característica desses novos tempos foi a maior facilidade
com que circulavam as informações de todo tipo. A invenção da imprensa,
por João Gutemberg (1398-1468), compõe um quadro novo na disseminação
do conhecimento. Obviamente não foi algo rápido e imediato, sendo
necessários muitos séculos até que o hábito de ter livros em casa se tornasse
amplamente difundido. No entanto, comparando a fabricação dos livros pela
máquina inventada por Gutemberg (a prensa) com as técnicas anteriores
(os manuscritos ou cópias à mão em pergaminhos de pele de animal ou em
papel caseiro), temos uma noção clara desse grande volume de circulação de
informações nos séculos XV e XVI.
Esses fatores permitiram considerar os séculos XV e XVI como um
período de ampliação de horizontes para os europeus, bem como do aumento
de informações sobre os autores antigos, intensificando seu estudo não só na
filosofia e na teologia, mas também na literatura, ciências e artes. Podemos
falar de um “Renascimento”, que está ligado à maior divulgação do patrimônio
cultural antigo.
Com o Renascimento é idealizado o humanismo, que consiste em uma
visão de mundo centrada no ser humano e com medidas humanas. Há uma
ênfase num modelo de ser humano universal, que não se limita às diferenças
culturais e ao mesmo tempo, que defende o valor de cada indivíduo.
Os pensadores modernos viviam um misto de admiração pelas
novidades, principalmente as ciências, concebidas segundo o modelo
renascentista, e o descontentamento com as explicações tradicionais.
Acontecia a busca de formas mais seguras de conhecimento e de ação, para

PÁGINA 34
o que contribuía enormemente a herança dos filósofos renascentistas e a nova
concepção de conhecimento científico baseada em modelos matemáticos. Uma
refundação da filosofia estava em curso.
Com todas as inovações que os tempos modernos traziam, os filósofos
apostaram em um “projeto” que se ocupasse primeiramente daquilo que, acima
de qualquer dúvida, caracterizava a experiência humana: o uso da razão. E a
principal atividade da razão passa a ser também, a principal preocupação: o
conhecimento. Era necessário “conhecer o conhecimento”, investigar quais as
reais possibilidades de conhecer e os reais métodos para pôr essa atividade
em prática. O conhecimento é a principal marca da filosofia moderna, e isso
trará implicações em todas as áreas humanas.
A ênfase na luz da razão fez com que as filosofias produzidas no século
XVIII recebessem o nome de Iluminismo. Trata-se de uma confiança irrestrita
no poder da razão para explicar a experiência humana. Chegou-se mesmo a
crer que o ser humano pode se aperfeiçoar pela razão a ponto de progredir
sempre e encontrar a felicidade ética e política. A crença num progresso sem
fim ou na perfectibilidade do ser humano levou também à distinção entre
Natureza e Cultura: a Natureza ou o mundo físico-químico-biológico seria o
campo da necessidade, das leis fixas; a Cultura ou a civilização seria o campo
propriamente humano, lugar da auto-construção e da liberdade.
Podemos afirmar que é Moderna uma forma muito particular de se
conceber o sujeito humano, apresentado de forma unificada e com uma
identidade racional. É na sociedade moderna que o sujeito se liberta de
estruturas e tradições teocêntricas que não podiam ser mudadas, passando
a ter uma condição de soberano, algo antes impensável. Isso agora torna-
se possível, diante de mudanças no pensamento e na cultura do ocidente,
trazendo a emergência do sujeito, próprias da modernidade:
a) A libertação da consciência individual dos dogmas religiosos com a Reforma
e o Protestantismo;
b) O posicionamento do homem no centro do mundo a partir do pensamento
humanista renascentista;
c) O maior domínio sobre a natureza possibilitado pelas revoluções científicas;
d) A racionalização, o caráter científico, a libertação de dogmas e a intolerância
da imagem do homem a partir do Iluminismo.
Essas mudanças estão em uma dinâmica de transformações que
também implicarão na educação, trazendo novas abordagens. Uma delas é
sobre a concepção de infância que passa a se desenvolver nesse contexto da
modernidade. Vejamos a seguir.

PÁGINA 35
2. A modernidade e o nascimento da noção de infância

Criança sempre existiu, mas a infância não. O mundo pré-moderno


não conheceu propriamente, a noção de infância da forma como a temos
hoje. Não havia uma construção da criança a partir de uma literatura infantil, a
partir da definição de um lugar próprio onde para as crianças viverem e serem
educadas etc. Podemos perceber isso nas obras de arte que representavam
a criança não como criança, mas como um adulto em miniatura. Todo esse
cenário, no entanto, aproximadamente a partir do século XV, começou a mudar
radicalmente.
A partir do contexto dos novos tempos da modernidade, os intelectuais
começaram a dizer que as crianças deveriam ser tratadas diferente dos
adultos, por serem diferentes dos adultos. Um novo sentimento em relação às
crianças passa ser construído, um sentimento de cuidado, de cultivo da vida
da criança. A infância passa a ser vista como uma fase natural e necessária à
vida do ser humano; uma fase que, para o bem do ser humano, deve ocorrer.
A infância surge como uma época especial da vida dos homens e mulheres
– uma fase natural à existência humana, mas que precisa de um ambiente
histórico-social para se realizar. Para que a infância acontecesse, as crianças
deveriam ser postas em um lugar especial: a escola. Uma ligação especial
passou a ser criada: entre a criança e um determinado adulto: o professor. Este
deveria, na escola e pela escola, garantir a infância às crianças.
Na sua gênese, a noção de infância se apresentou oscilando entre duas
configurações básicas. Essas configurações determinaram as características
dos professores e do ambiente escolar e, de certo modo, com a ajuda da
filosofia, impuseram ou pelos menos regraram as finalidades da educação.
Em uma primeira configuração, a infância é vista como uma fase
negativa. Que deve ocorrer sim, mas que deve passar, dando espaço ao
aparecimento do adulto enquanto a antítese da criança. A infância é a
época da rebeldia e por isso a criança deve ser conduzida da heteronomia à
autonomia por meio de regras exteriores, postas pelo adulto. A autonomia
e a individualidade nascem “de fora para dentro”. Nesse caso, o professor é
um disciplinador no sentido tradicional da palavra. A escola, um ambiente de
formação e conformação. A finalidade da educação é fazer com que a fase
negativa da infância passe brevemente e possibilite ao homem surgir a partir
das regras do homem (adulto) sobre o homem (criança) – ou seja, que o
homem possa vir a surgir da criança, negando-a.
Em uma segunda configuração, a infância é vista como uma fase
positiva, que deve não só ocorrer mas também ser prolongada, de modo a
poder contaminar o homem que dela deve surgir. A infância é criatividade e
pureza, e se a disciplina deve aparecer, deve vir como autonomia tirada “de
dentro para fora”. O professor, nesse caso, é companheiro de viagem. A escola,
um ambiente natural propiciador das melhores experiências. A finalidade da
educação é fazer com que a fase positiva da infância permaneça ao longo da
vida adulta, no que ela tem de bom, ou seja, que o homem (adulto) venha a

PÁGINA 36
materializar-se a partir do interior do homem (criança), mantendo em seu íntimo
o verdadeiro humano que existia na criança.

3. Desafios da educação na pós-modernidade

Não pretendemos realizar uma discussão exaustiva sobre o conceito de


pós-modernidade, uma vez que ainda se trata de algo em grande discussão e
que integra fortes polêmicas, não havendo consenso sobre seu significado.
Em nosso estudo, queremos pontuar a pós-modernidade como o
momento seguinte ao das grandes transformações e organização da vida
Moderna, quando novas configurações ocorrem. Por exemplo, o capitalismo,
com sua marca mercantilista e imperialista, que atinge seu auge no século XIX,
continua existindo, mas em uma configuração de globalização ou capitalismo
multinacional, com grande flexibilidade na produção e no mercado. Esta
acumulação flexível implica na flexibilização dos processos de trabalho, de
produção e de padrões de consumo, com novos setores de produção sendo
criados para atender às exigências do mercado, como novas formas de
organização e de relações de trabalho.
Ao mesmo tempo, a pós-modernidade também é caracterizada por toda
uma contestação a esse modelo instaurado, com reivindicação por liberdade,
consciência e pluralidade cultural.
A escola, e sua prática pedagógica, é influenciada por toda essa
discussão, sendo cobrada dela, de modo velado ou nem tanto, que ofereça
uma formação que atenda aos interesses dos grupos hegemônicos. Mas
nessa mesma escola, podemos ver que o questionamento dessas bases
hegemônicas capitalistas encontra seu espaço para se espalhar e se
desenvolver.
Relembrando a discussão que fizemos sobre o papel da escola na
sociedade e as concepções da educação como redentora, reprodutora e
transformadora da sociedade, podemos afirmar que a partir da colocação da
educação como direito de todos, direito nem sempre garantido, diga-se de
passagem, muitas foram as teorias pedagógicas que emergiram, em sua
maioria para a legitimação e perpetuação do status quo do grupo hegemônico.
Os educadores sendo apresentados como missionários, neutros, defensores
de um conhecimento sistematizado que deve ser transmitido mecanicamente,
sem nenhuma reflexão crítica.
Um dos grandes desafios postos no atual momento histórico é a
necessidade dos educadores e educadoras reverem sua prática pela via da
concepção política, buscando atender aos interesses das classes que sofrem
diferentes formas de opressão: econômica, cultural, social. Não adianta
estar rodeado de modernas tecnologias se não houver também uma prática
educacional que desperte a criticidade, na busca de melhores condições de
vida para professores e alunos.
A escola, portanto, precisa cada vez mais se aproximar das discussões

PÁGINA 37
atuais sobre o ponto de vista da consciência e da clareza da própria prática
educacional. A escola não pode ficar desinformada das discussões teóricas,
para que não haja um afastamento daquilo que está acontecendo na sociedade
contemporânea e as relações travadas no interior da escola.
Isso seria muito grave, uma vez que é fundamental que a escola
participe do debate realizado na sociedade contemporânea, pois destas
discussões é que sairá a escolha do projeto pedagógico escolar e qual a
formação oferecida aos educandos e educandas mais adequada para realizar
esse mesmo projeto.

#SaibaMais

Sobre a relação Família e Escola, na Modernidade:


Duas instituições educativas, em particular, sofrem uma profunda redefinição
e reorganização na Modernidade: a família e a escola, que se tornam cada
vez mais centrais na experiência formativa dos indivíduos e na própria
reprodução (cultural, ideológica e profissional) da sociedade. A ambas é
delegado um papel cada vez mais definido e mais incisivo, de tal modo que
elas se carregam cada vez mais de uma identidade educativa, de uma função
não só ligada ao cuidado e ao crescimento do sujeito em idade evolutiva ou à
instrução formal, mas também à formação pessoal e social ao mesmo tempo.
As duas instituições chegam a cobrir todo o arco da infância-adolescência,
como “locais” destinados à formação das jovens gerações, segundo um modelo
socialmente aprovado e definido (CAMBI, 1999, p. 203-204).

REFLITA

“É nesse momento que começa haver certa demarcação da infância como


uma fase do desenvolvimento do homem que vai do nascimento a certa idade,
caracterizada por um conjunto de disposições naturais e de faculdades que
diferem das do adulto, secundarizando o sentido etimológico dessa expressão
como sendo o da ausência de fala ou de linguagem articulada”. (PAGNI, 2010,
p. 102).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade apresentamos a educação a partir da modernidade, com


as grandes transformações ocorridas e ainda em plena realização. Vimos que o
sujeito gestado na modernidade é aquele capaz de conhecer por conta própria
com o uso da razão e que precisa se desenvolver cada vez mais com liberdade
e consciência.
A modernidade trata-se de uma tarefa que não terminou, mas que deve
nos desafiar constantemente na construção de uma sociedade melhor para
todos. E a educação é fundamental nesse processo.

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LEITURA COMPLEMENTAR

Uma Visão Filosófica da Pós-Modernidade: a Escola de Frankurf


Júlia Eugênia Gonçalves

O pós-modernismo chega à filosofia como uma tentativa de desconstruir


o discurso filosófico ocidental a partir do próprio discurso, tal qual foi elaborado
desde a antiguidade clássica.
O prefixo “pós” indica o que vem depois, o que sucede à modernidade,
significando um corte, uma ruptura não apenas no âmbito da política e
da economia mas, sobretudo, no pensamento das pessoas, as quais
compreendem que estão vivendo uma fase de grandes transformações que
afetam a todos direta ou indiretamente e que é necessário compreender seu
significado no contexto da sociedade como um todo.
Há então um afastamento em relação ao “moderno” no sentido de
que a filosofia pós-moderna vai reivindicar uma posição amadurecida frente
ao modelo positivista, característico do que se convencionou chamar de
“modernidade”.
A chamada Escola Filosófica de Frankfurt representada por Horkheimer,
Adorno e Habermas, dentre outros, vai ser a pioneira na reflexão sobre as
mudanças sofridas na sociedade ocidental do pós-guerra. Tendo sido fundada
com o objetivo de realizar estudos aprofundados sobre o marxismo, sua
orientação de estudos e pesquisas inicialmente teve ênfase econômica, mas
ganha impulso filosófico a partir do momento em que Horkheimer assume
a direção do Instituto de Investigação Social, vinculado à Universidade de
Frankfurt.
A Escola de Frankfurt passa então a refletir sobre o destino do homem
que é membro de uma comunidade, que vive em uma sociedade. Isso
leva necessariamente a uma articulação entre conhecimentos filosóficos,
sociológicos, econômicos e antropológicos, estreitando, desta forma, os laços
entre a Filosofia e a Ciência, na medida em que esta se baseia em dados
empíricos, diminuindo a dicotomia entre estes dois campos do conhecimento
humano.
Estas propostas ensejam trabalhos de natureza interdisciplinar, pois a
compreensão da vida humana no contexto social exigia a conexão entre vários
campos científicos e entre estes e a Filosofia, que não podia mais partir de uma
compreensão abstrata dos indivíduos, fora de seu contexto.
(Trecho do artigo “A Pós-Modernidade e os Desafios da Educação
na Atualidade”, publicado pela autora no endereço: http://revista.
fundacaoaprender.org.br/?p=35

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Modernidade Líquida
• Autor: Zygmunt Bauman
• Editora: Zahar
• Sinopse:
A modernidade imediata é ‘leve’,
‘líquida’, ‘fluida’ e mais dinâmica que
a modernidade ‘sólida’ que suplantou.
A passagem de uma a outra acarretou
mudanças em todos os aspectos da
vida humana. Nesta obra, o autor
procura esclarecer como se deu essa
transição e auxiliar o leitor a repensar
os conceitos e esquemas cognitivos
usados para descrever a experiência
individual humana e sua história
conjunta, fazendo uma análise das
condições cambiantes da vida social
e política.

FILME
• Título: Tempos Modernos.
• Ano: 1936.
• Sinopse:
O icónico Vagabundo está
empregado em uma fábrica,
onde as máquinas inevitável e
completamente o dominam e
vários percalços o levam para
a prisão. Entre suas passagens
pela prisão, ele conhece e faz
amizade com uma garota órfã.
Ambos, juntos e separados,
tentam lidar com as dificuldades
da vida moderna, o Vagabundo
trabalhando como garçom e,
eventualmente, um artista.

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WEB:
Produções acadêmicas com foco na temática Educação de crianças podem
ser encontradas no repositório das reuniões da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) – GT07 – Educação de Crianças
de 0 a 6 anos.
Link: http://www.anped.org.br/

REFERÊNCIAS

ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2.ed. São Paulo:


Moderna, 1996.

ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. História da Educação. 2.ed. São Paulo:


Moderna, 1996.

CAMBI, Franco. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São


Paulo: FEU, 1999.

PAGNI, Pedro Angelo. Infância, Arte de Governo Pedagógica e Cuidado de Si.


Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 99-123, set./dez., 2010.

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CONCLUSÃO

Estamos concluindo nossa disciplina de Fundamentos Históricos e


Filosóficos da Educação, onde procuramos apresentar a relação indissociável
existente entre a educação, história e filosofia. Esperamos que a busca por
compreender os fundamentos da educação tenha nos ajudado a tornar mais
consciente nossa concepção de educação, bem como avaliar melhor os
objetivos com nossa prática pedagógica.
Vimos que a educação não acontece de forma abstrata e separada da
sociedade. Ela influencia e é influenciada pelas relações históricas e culturais,
fazendo parte da grande correlação de força dos grupos sociais.
A ainda que breve apresentação da educação em seus períodos
históricos nos ajudou a perceber essa “encarnação” da educação na vida
concreta da sociedade e nos apontou par os desafios atuais que temos que dar
conta, para que a educação possa nos ajudar a tornar nossa sociedade mais
justa e igual para todos.
Sabemos que este estudo não termina por aqui. Há muito mais pela
frente. Que cada aluno, cada aluna, se anime a continuar estudando, uma vez
que nossa jornada acadêmica é longa e desafiadora.
Um grande abraço a todos.

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