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CAPÍTULO TRÊS

MODIFICANDO A ANÁLISE TRADICIONAL DO CONHECIMENTO

I. UMA OBJEÇÃO À ANÁLISE TRADICIONAL

Recorde que a Análise Tradicional do Conhecimento, a ATC, diz que o conhecimento é crença
verdadeira justificada.
Esta análise é correta apenas no caso de que em todos os exemplos possíveis, se uma pessoa
conhece alguma proposição, então a pessoa tem uma crença verdadeira justificada nessa proposição, e, se a
pessoa tem uma crença verdadeira justificada, então a pessoa tem conhecimento. Desafortunadamente para a
ATC, há contra-exemplos provocantes dos segundo tipo – casos de crença justificada verdadeira que
claramente não são casos de conhecimento.
O primeiro filósofo a argumentar explicitamente contra a ATC da maneira a ser discutida aqui foi
Edmund Gettier. Seu breve ensaio “Is Justified True Belief Knowledge?” talvez seja o mais amplamente
discutido e freqüentemente citado texto de epistemologia em muitos anos.1 Gettier apresentou dois
exemplos, cada um deles mostrando que alguém poderia ter uma crença justificada verdadeira que não é
conhecimento. Outros filósofos têm descrito casos adicionais estabelecendo o mesmo ponto.

A. Os Contra-exemplos

Nesta seção examinaremos três exemplos, todos desenhados para ilustrar um problema na ATC. A
ponto por trás de todas as objeções é a mesma, mas os diferentes exemplos ajudam a tornar a questão mais
clara. O primeiro exemplo é uma versão modificada de um dos exemplos originalmente apresentados por
Gettier.

Exemplo 3.1: O Caso das Dez Moedas

Smith está justificado em crer:

1. Jones é o homem que ficará com o emprego e Jones tem dez moedas em seu bolso.

A razão para Smith estar justificado em crer em (1) é que ele acabou de ver Jones esvaziar seus
bolsos, contar cuidadosamente suas moedas, e então colocá-las novamente no bolso. Smith também sabe que
Jones é extremamente bem qualificado para o emprego e ouviu o chefe dizer à secretária que Jones havia sido
selecionado. Com base em (1), Smith deduz corretamente e crê noutra proposição:

2. O homem que ficará com o emprego tem dez moedas em seu bolso.

Smith está justificado em crer em (2) ainda que (1) seja falsa. A despeito da evidência de Smith, (1)
não é verdadeira no final das contas. O chefe falou errado quando disse que Jones ficaria com o emprego. De
fato, o emprego está indo para o sobrinho do vice-presidente da companhia, Robinson. Coincidentemente,
1 Analysis 23 (1963): 121-3.
Robinson acontece de Robinson também ter dez moedas em seu bolso.

Neste exemplo (2) é verdadeira ainda que (1) seja falsa. Smith estava justificado em crer em (1),
deduziu corretamente (2) a partir de (1) e, como resultado, acreditou nela. Assim, Smith também estava
justificado em crer em (2). E (2) é verdadeira. Assim, a crença de Smith em (2) está justificada e é verdadeira.
Mas claramente Smith não sabe (2). É apenas uma coincidência que ele esteja correto sobre (2).

Exemplo 3.2: O Caso Nogot/Havit2

Smith sabe que Nogot, que trabalha em seu escritório, estava dirigindo um Ford, tem documentos
de propriedade de um Ford, é geralmente honesto, etc. Nesta base ele crê:

3. Nogot, que trabalha no escritório de Smith, possui um Ford.

Smith ouve no rádio que um concessionário Ford local está promovendo um concurso. Qualquer
um que trabalhe no mesmo escritório que o dono de um Ford é elegível para entrar numa loteria cujo
ganhador receberá um Ford. Smith decide se inscrever, pensando ser elegível. Afinal de contas, ele pensa que
(3) é verdadeira, e assim ele conclui que:

4. Há alguém que trabalha no (meu) escritório de Smith que possui um Ford. (Há ao menos um
dono de Ford no escritório de Smith.)

Resulta que Nogot finge ter um Ford e (3) é falsa. Entretanto, (4) é verdadeira porque uma outra
pessoa ignorada por Smith, Havit, trabalha em seu escritório e possui um Ford.

Assim, Smith tem uma crença justificada verdadeira em (4), mas não sabe (4). É apenas uma feliz
coincidência, resultante de Havit tê-lo, que o torna correto sobre (4).

Exemplo 3.3: A Ovelha no Campo3

Tendo ganhado um Ford em um concurso, Smith sai para um passeio no interior. Ele olha para um
campo próximo e vê o que se parece exatamente como uma ovelha. Assim, ele crê justificadamente:

5. Esse animal no campo é uma ovelha.

O filho de Smith está no banco traseiro lendo um livro e não está olhando a paisagem. O filho
pergunta se há alguma ovelha no campo em que estão passando. Smith diz “Sim,” acrescentando:

6. Há uma ovelha no campo.

2 Este exemplo está baseado em um apresentado por Keith Lehrer em “A Quarta Condição para o
Conhecimento: Uma Defesa,” The Review of Methaphysics 24 (1970): 122-8. Veja p. 125.

3 Um exemplo como este foi apresentado por Roderck Chisholm em Theory of Knowledge, 2ª. Ed.
(Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1977), p. 105.
Smith está justificado pelo que ele vê em pensar que (5) é verdadeira. (6) se segue de (5), assim ele
também está justificado em crer em (6).
Resulta que (5) é falsa. O que Smith vê é um cão sheep dog (ou a estátua de uma ovelha, ou
qualquer outra coisa que se pareça perfeitamente com uma ovelha). Mas ocorre que (6) é verdadeira de
qualquer maneira. Adiante no campo, mas fora de vista, há uma ovelha.

Assim, Smith tem uma crença justificada em (6), e ela é verdadeira. Mas ele não a sabe. É apenas
por sorte que ele está correto sobre (6)
Deveria ser observado que os detalhes dos exemplos podem ser modificados para fortalecer a
sustentação da crença de Smith na proposição falsa em cada caso. Por exemplo, você pode acrescentar o que
queira para sustentar a crença dele de que Nogot possui um Ford. Nogot pode mostrar a ele suas chaves com
a insígnia de um Ford e vestir uma camiseta da Ford, etc. Não importa o quanto você acrescente ao caso,
permanece possível que Nogot esteja fingindo ser o proprietário de um Ford. E uma vez que isto é possível,
permanece possível construir um caso no qual seja coincidentemente verdadeiro que alguém no escritório
possua um Ford. Observações semelhantes se aplicam aos outros exemplos. Meramente requerer razões mais
fortes para uma crença estar justificada não evitará as objeções.

B. A Estrutura dos Contra-exemplos

Os exemplos 3.1-3.3 partilham de uma estrutura comum. Em cada caso, Smith tem alguma
evidência básica que sustenta fortemente alguma proposição. É o tipo de evidência que a Perspectiva
Standard conta como boa o suficiente para o conhecimento. Ele crê nessa proposição e então tira uma outra
conclusão dela. Em cada exemplo, a sentença numerada em ímpar descreve a proposição na qual Smith
acredita:

1. Jones é o homem que ficará com o emprego e Jones tem dez moedas em seu bolso.
3. Nogot, que trabalha no escritório de Smith, possui um Ford.
5. Esse animal no campo é uma ovelha.

As sentenças numeradas em par descrevem as conclusões que Smith tira do primeiro passo:

2. O homem que ficará com o emprego tem dez moedas em seu bolso.
4. Há alguém que trabalha no (meu) escritório de Smith que possui um Ford. (Há ao menos um
dono de Ford no escritório de Smith.)
6. Há uma ovelha no campo.

A proposição numerada em ímpar é falsa em cada caso. Ainda assim, dada a evidência, é
extremamente razoável para Smith acreditar nela. Ela é uma crença justificada. E a conclusão final se segue
logicamente do passo anterior. A conclusão final é, em cada caso, verdadeira. Com efeito, a conclusão final é
verdadeira “por coincidência.” Simplesmente acontece que a pessoa que ficará com o emprego tem dez
moedas, que há um dono de Ford no escritório, e que há uma ovelha no campo.Assim Smith tem razões
muito boas para crer no primeiro passo e segue princípios lógicos perfeitamente bons ao derivar o segundo
passo. Logo, ele tem uma crença justificada verdadeira em cada uma das conclusões finais. Mas em cada caso
a verdade dessa conclusão está desconectada da evidência original. Smith não tem conhecimento, ainda que
ele tenha crenças verdadeiras justificadas.
Estabelecer a estrutura dos exemplos ajuda a destacar dois princípios importantes sobre os quais eles
repousam. Um princípio permite que a pessoa possa estar justificada em crer nas proposições numeradas em
ímpar ainda que elas sejam falsas. Nós podemos formular este como o Princípio da Falsidade Justificada,
ou (FJ):

FJ. É possível para uma pessoa estar justificada em crer numa proposição falsa.

O segundo princípio importante é o que diz que a segunda proposição está justificada porque ela é
deduzida da primeira. Este é o Princípio da Dedução Justificada, ou (DJ):

DJ. Se S está justificado em crer em p, e p acarreta q, e S deduz q de p e aceita q como um


resultado desta dedução, então S está justificado em crer em q.

Se os três exemplos recém descritos são possíveis e estes dois princípios são verdadeiros, então a
ATC está errada. Os exemplos podem ser estranhos, mas eles são claramente possíveis. Coisas como esta
podem acontecer e acontecem. Os dois princípios parecem corretos. Logo, parece que nós temos um caso
forte contra a ATC. Como nós veremos, entretanto, algumas pessoas têm tentado defender a ATC rejeitando
os princípios.
Para formular um exemplo no estilo-Gettier, então, primeiro se tem de encontrar um caso de crença
falsa justificada. Se a (FJ) é correta, existem tais casos. Identifica-se então alguma verdade que se segue
logicamente dessa falsidade. Sempre haverá tais verdades. O exemplo prossegue com o crente tendo deduzido
esta verdade da crença falsa justificada. Se a (DJ) é correta, a crença resultante será uma crença verdadeira
justificada que não é conhecimento.
Parece, portanto, que os exemplos de estilo-Gettier mostram que a ATC é incorreta.

II. DEFENDENDO A ANÁLISE TRADICIONAL

Você pode ter algumas apreensões sobre os exemplos de estilo-Gettier. Usualmente, as dúvidas
estão baseadas na idéia de que a pessoa do exemplo não está justificada em crer na proposição final e, logo,
não tem realmente uma crença verdadeira justificada.4 E esta idéia repousa na rejeição de um ou outro dos
dois princípios recém formulados.5 Nesta seção examinaremos a plausibilidade destas respostas aos
exemplos.

A. Rejeitando a (FJ)

Uma maneira de defender a ATC é rejeitar a (FJ). Você pode pensar que, se uma proposição é falsa,
então uma pessoa que creia nela não deve ter razões boas os suficiente para essa crença. Se esta idéia está
correta, ela proporciona uma defesa da ATC da seguinte maneira. Ela implica que, em cada um de nossos

4 É possível argumentar que Smith tem conhecimento das proposições numeradas em par de cada
um dos exemplos. Mas esta é uma abordagem que quase nenhum filósofo tomou. A reflexão cuidadosa
acerca destes casos produz um veredicto quase unânime sobre deles. Você não pode ter conhecimento quando
a sua crença é verdadeira coincidentemente, como é o caso em todos estes exemplos.

5 É possível argumentar que em nossos exemplos as razões de Smith simplesmente não são razões
muito boas. Mas, como foi notado ao final da seção IA, podem-se tornar as razões de Smith tão fortes
quanto se queira. Nenhuma resposta nessa linha parece promissora.
exemplos, Smith não está justificado em crer na proposição falsa. Se Smith não está justificado em crer na
proposição falsa (a numera em ímpar), então ele não está justificado em crer no que ele deduz dela. Logo, sua
crença na proposição numerada em par também não está justificada. Como um resultado, os exemplos de
estilo-Gettier não são casos de crenças verdadeiras justificadas (porque eles não são casos de crenças
justificadas) e, logo, eles não refutam a ATC.
Considere como esta resposta se aplica no caso Nogot/Havit. O crítico argumenta que, a despeito da
evidência, Smith não está justificado em crer na proposição (3), de que Nogot possui um Ford. A razão para
isto é que (3) é falsa e, logo, a evidência de Smith não deve ser boa o suficiente. De forma mais geral, o
crítico diz, uma pessoa nunca pode estar justificada em crer numa proposição falsa. A (FJ) está errada.
Uma vez que as razões de Smith para crer em (3) podem ser extremamente fortes, esta é uma
resposta implausível. Além do mais, dada uma suposição muito sensata, rejeitar a (FJ) implica que
dificilmente alguém alguma vez esteja justificado em crer em alguma coisa! Para ver porque é assim,
considere qualquer exemplo no qual uma pessoa tenha o que a Perspectiva Standard considera como sendo
uma crença justificada. Suponha que não haja nada de estranho sobre o caso, e que as coisas sejam
exatamente como as pessoas acreditam que elas sejam. Chame isto de “O Caso Típico.” Agora, é sempre
possível construir um exemplo que é uma variação do Caso Típico. Nesta variante, a pessoa tem exatamente
a mesma evidência mas a proposição em questão é, não obstante, falsa. Chame esta variante de “O Caso
Incomum.” Para preencher os detalhes do Caso Incomum, será necessário acrescentar com esforço incomum
ilusões e coisas parecidas. Embora tais coisas sejam incomuns, elas são possíveis. O ponto chave a observar
é que tanto no Caso Típico quanto no Caso Incomum o crente tem exatamente as mesmas razões para crer
exatamente na mesma coisa. Assim, ou o crente está justificado em ambos os casos ou não está justificado
em ambos os casos. Se a (FJ) é falsa, então a crença não está justificada no Caso Incomum (porque ela é
falsa). Mas então ela também não está justificada no Caso Típico, já que as razões são as mesmas. Isto pode
ser feito para virtualmente qualquer crença alegadamente justificada e, assim, se a (FJ) é falsa, virtualmente
nenhuma crença esta justificada.
O raciocínio recém exposto depende do Princípio da Mesma Evidência, ou (ME):

ME. Se em dois exemplos possíveis não há diferença alguma na evidência que uma pessoa tem
para alguma proposição, então, ou a pessoa esta justificada em crer na proposição em ambos os casos, ou a
pessoa não está justificada em crer na proposição em ambos os casos.

A (ME) é um princípio extremamente plausível. Se a (ME) é verdadeira e a (FJ) é falsa, então


virtualmente nada está justificado. E isso viola a nossa suposição básica (por enquanto, ao menos) de que
nós conhecemos coisas. Assim, a primeira defesa da ATC não é boa.6
Alguns leitores podem ainda pensar que rejeitar a (FJ) é correta. Recorde, entretanto, que a questão
do atual capítulo é ver quais são as conseqüências da Perspectiva Standard. A Perspectiva Standard sustenta
que nós conhecemos muitas coisas, e rejeitar a (FJ) implica em que dificilmente alguma coisa está justificada
e, logo, que dificilmente alguma coisa é conhecida. Assim, rejeitar a (FJ) requer a rejeição da Perspectiva
Standard. Em outras palavras, a (FJ) é uma conseqüência da Perspectiva Standard. Logo, rejeitá-la está fora
de questão neste estágio de nossa investigação. Retornaremos a este tópico quando examinarmos a
Perspectiva Cética.

B. Rejeitando a (DJ)
6 No capítulo 5 examinaremos algumas teorias que rejeitam a (ME). Entretanto, de acordo com
essas teorias, a (FJ) é verdadeira e a ATC é refutada pelos exemplos de estilo-Gettier.
Recorde que os exemplos Gettier dependem tanto da (DJ) quanto da (FJ). A (DJ) diz que a
justificação pode ser transferida através da dedução. Uma segunda base possível para defender a análise
tradicional desses contra-exemplos é rejeitar a (DJ). A idéia é que quando você raciocina apropriadamente
desde verdades justificadas, o resultado está justificado, mas quando você raciocina apropriadamente desde
falsidades justificadas, o resultado não está justificado. Em outras palavras, se você começa com uma crença
verdadeira justificada e tira apropriadamente uma conclusão dela, então a crença resultante está justificada.
Entretanto, se você começa com uma crença falsa justificada – lembre, você está aceitando a (FJ) – e tira
corretamente uma conclusão dela, então a crença resultante não está justificada. Logo, nesta perspectiva, em
cada um dos casos Gettier a pessoa está justificada em crer no primeiro passo – a proposição numerada em
ímpar – mas não está justificada em crer na conseqüência tirada dela. Portanto, os advogados desta
perspectiva rejeitam a (DJ).
Esta perspectiva também requer a rejeição da (ME). Imagine um exemplo como qualquer um dos
casos no estilo-Gettier mas no qual não esteja acontecendo nenhum engano e o primeiro passo seja de fato
verdadeiro. Tirar a conclusão final, sob aquelas circunstâncias, está justificado. Mas, de acordo com a atual
proposta, ela não está justificada nos casos Gettier. Ainda assim, a pessoa tem exatamente as mesmas razões
em cada caso. Isto é implausível.
Considere cuidadosamente o que alguém que rejeita a (DJ) estaria dizendo sobre Smith em cada um
dos casos Gettier. O crítico diria de Smith, “Sim, Smith está justificado em crer que Nogot, que trabalha em
seu escritório, possui um Ford. E é verdade que ele pode deduzir disto que alguém que trabalha em seu
escritório possui um Ford. Mas, não obstante, ele não está justificado em crer nessa conclusão.” Isto parece
absurdo. Nós podemos sensatamente perguntar que atitude Smith estaria justificado em tomar em relação à
proposição de que alguém em seu escritório possui um Ford. Seria razoável para ele crer que Nogot possui
um Ford mas negar ou suspender o juízo sobre se alguém possui um Ford? É claro que não. Mas isso é o
que a rejeição da (DJ) parece recomendar. Rejeitar a (DJ) simplesmente não é uma boa maneira de defender a
ATC dos exemplos de Gettier.
Estas tentativas de defender a ATC dos exemplos de estilo-Gettier fracassam. Nos voltamos em
seguidas às respostas de acordo com as quais o conhecimento requer alguma coisa além da crença verdadeira
justificada.

III. MODIFICANDO A ANÁLISE TRADICIONAL

Uma idéia plausível é a de que você não pode ter conhecimento se a sua crença depende de uma
proposição falsa. Nesta seção consideraremos alguns esforços para formular mais claramente esta idéia.

A. A Teoria Sem Bases Falsas

Uma maneira pela qual a justificação de uma crença pode depender de uma falsidade é se há uma
proposição falsa entre as bases ou razões para a crença. Michael Clark propôs uma solução ao problema de
Gettier fazendo uso desta idéia.7 Clark sugere a seguinte descrição Sem Bases Falsas do conhecimento. Ele
acrescenta uma quarta condição as três da ATC:

SBF. S sabe p = df. (i) S crê p, (ii) p é verdadeira, (iii) S está justificado em crer p; (iv) Todas as
7 “Knowledge and Grounds: A Comment on Mr. Gettier’s Paper,” Analysis XXIV (1963): 46-48.
bases de S para crer p são verdadeiras.

A idéia aqui é diferente – e melhor – da proposta discutida na seção II, de acordo com a qual as
crenças que têm bases falsas não são sequer justificadas. Aqui a idéia é que ter todas as bases verdadeiras é
uma condição adicional para o conhecimento, mas não para a justificação. Logo, os defensores de (SBF)
concordam que as vítimas dos exemplos Gettier estão justificadas em suas crenças. Isto é o que os críticos
anteriormente discutidos negavam. Ao invés, esta resposta diz que o conhecimento não pode depender de
quaisquer bases falsas. Em cada um dos exemplos precedentes Smith tem uma base falsa para a sua crença
final. Assim, (SBF) parece evitar os contra-exemplos de estilo-Gettier.
A (SBF) funcionara desde que (a) em todos os casos Gettier o crente tenha uma base falsa, e (b) não
existam casos de conhecimento nos quais o crente tenha uma base falas. Existem razões para duvidar de cada
um destes pontos.
Considere primeiro (a). Existem casos de estilo-Gettier nos quais a pessoa não dá explicitamente um
passo falso em seu raciocínio. Como veremos, estes podem ser casos Gettier nos quais o crente não tem uma
base falsa. Nós podemos usar uma versão revisada do caso Nogot/Havit para ilustrar o ponto:

Exemplo 3.4: O Caminho Alternativo8


Smith observa que Nogot está dirigindo um Ford, tem os documentos de propriedade, e assim por
diante. Mas, ao invés de tirar a conclusão sobre Nogot, Smith tira a seguinte conclusão:

7. Há alguém que trabalha no escritório de Smith que dirige um Ford, tem documentos de
propriedade de um Ford, etc.

Com base em (7), Smith tira a mesma conclusão final de antes:

4. Há alguém que trabalha no escritório de Smith que possui um Ford.

A diferença entre os dois exemplos é que na versão original Smith explicitamente raciocinava dando
um passo falso para chegar à sua conclusão verdadeira, e na nova versão ele toma um caminho alternativo
para chegar à mesma conclusão.
Na versão original do exemplo, o pensamento de Smith era:

N. Nogot, que trabalha no escritório de Smith, dirige um Ford, tem os documentos de propriedade
de um Ford, etc.
3. Nogot, que trabalha no escritório de Smith, possui um Ford.
4. Há alguém que trabalha no escritório de Smith que possui um Ford.

(N) é verdadeira, (3) é falsa, e (4) é verdadeira. Assim, este caminho para (4) passa por uma
falsidade. Mas no segundo caso Smith substitui (3) por (7). O pensamento de Smith vai agora:

N. Nogot, que trabalha no escritório de Smith, dirige um Ford, tem os documentos de propriedade
de um Ford, etc.
7. Há alguém que trabalha no escritório de Smith que dirige um Ford, tem os documentos de
8 Um exemplo tal como este foi apresentado em Richard Feldman, “Na Alleged Defect in Gettier
Counterexamples,” Australasian Journal of Philosophy 52 (1974): 68-69.
propriedade de um Ford, etc.
4. Há alguém que trabalha no escritório de Smith que possui um Ford.

(N) e (4) ainda são verdadeiras, mas agora o passo intermediário, (7), também é verdadeiro. Assim,
nesta versão do exemplo, Smith não raciocina através de uma falsa proposição. Ainda assim, Smith não sabe
(4). É ainda um caso Gettier. Logo, nem todos os exemplos dependem de que uma pessoa derive uma
verdade de uma falsidade.
É verdade que no exemplo 3.4 ainda há uma falsidade “nas vizinhanças.” A proposição (3), Nogot
possui um Ford, é falsa, e isto parece importar. Você poderia até mesmo pensar que (3) é parte das bases de
Smith, ainda que ele não pensa explicitamente sobre ela. Logo, nós estamos em em face de uma questão. No
exemplo 3.4, (3) é ou não é parte das bases de Smith?
Nós podemos pensar naquilo que é incluído nas bases de uma crença numa maneira mais ampla ou
mais estrita. A formulação estrita é assim:

B1. As bases de uma crença incluem apenas aquelas outras crenças que são passos explícitos na
cadeia de inferências que levam à crença.

Se a cláusula (iv) de (SBF) faz uso desta formulação das bases, então é exemplo 3.4 refuta a teoria.
Ele é um caso Gettier no qual passos explícitos do raciocínio não incluem falsidades. Isto sugere que Clark
estaria melhor apelando para uma formulação mais ampla das bases de uma crença, uma formulação de acordo
com a qual as bases incluem mais do que os passos explícitos do raciocínio. Por exemplo, ele pode propor:

B2. As bases de uma crença incluem todas as crenças que jogam qualquer papel na formação da
crença, incluindo as “suposições de base” [background assumptions] e pressuposições.

Se Clark usa (B2) para explicar a cláusula (iv) de sua descrição do conhecimento, então o exemplo
3.4 não a refuta. Isto porque há uma suposição de base falsa no exemplo, a saber, (3). Assim, apelando para
(B2),Clark poderia argumentar plausivelmente que a condição (iv) de (SBF) não está satisfeita no exemplo
3.4 e, logo, sua teoria produz aqui o resultado correto: ela diz que Smith não sabe que alguém em seu
escritório possui um Ford.
O problema com esta resposta é que a teoria enfrenta agora uma objeção diferente. Como foi notado
ante nesta seção, (SBF) funciona apenas se não houver casos de conhecimento nos quais haja falsidades entre
as bases que a pessoa usa. Entretanto, é claro que pode haver conhecimento mesmo quando algumas das
bases usadas por alguém sejam falsas. Isto é verdadeiro tanto na formulação mais-inclusiva quanto na
formulação menos-inclusiva das bases, mas ela é especialmente óbvia quando a bases incluem crenças de base
[background beliefs] e pressuposições. Os exemplos seguintes ilustram o ponto:

Exemplo 3.5: O Caso das Razões Extras

Smith tem dois conjuntos de razões independentes para pensar que alguém em seu escritório possui
um Ford. Um conjunto tem a ver com Nogot. Nogot diz que ele possui um Ford e assim por diante. Como
sempre, Nogot está simplesmente fingindo. Mas Smith também tem razões igualmente fortes que tem a ver
com Havit. E Havit não está fingindo. Havit possui um Ford, e Smith sabe que ele possui um Ford.

Neste exemplo, Smith sabe que alguém em seu escritório possui um Ford. Isto porque suas razões
que têm a ver com Havit são boas o suficiente para dar a ele conhecimento. Ainda assim, uma de suas razões,
aquela que tem a ver com Nogot, é falsa. Isto mostra que você pode ter conhecimento mesmo que haja
alguma falsidade em algum lugar do cenário. Esta objeção é decisiva. Ela mostra que a condição de Clark é
muito forte.9
Logo, a maneira de Clark de remendar a ATC não funciona. Se ele usa (B1), então o exemplo 3.4 a
refuta. Se ela usa (B2), então o exemplo 3.5 a refuta. O simples fato de que haja uma falsidade entre as
razões para a crença de alguém não mostra que ele carece de conhecimento.

B. A Teoria Sem Anuladores

Existe outra maneira pela qual os filósofos têm tentado explicar o que é para a justificação de uma
crença depender de uma proposição falsa. Uma característica notável dos casos Gettier é que pode haver uma
proposição verdadeira tal que, se o crente souber sobre ela, ele não acreditará (ou não estará justificado em
acreditar) na proposição em questão. Com efeito, então, a justificação do crente depende da negação desta
verdade.1 0
Nós podemos aplicar este pensamento aos nossos exemplos. No exemplo 3.1, se Smith
compreendesse que Jones não ficaria com o emprego (o que é verdade), então ele não acreditaria que o
homem que ficaria com o emprego tem dez moedas em seu bolso (ou ele não mais teria qualquer boa razão
para crer nisto). Nos exemplos 3.2 e 3.4, se Smith compreendesse que Nogot não possui um Ford, então,
dado o restante do exemplo, ele não mais teria qualquer boa razão para crer que alguém no escritório possui
um Ford. NO exemplo 3.3, se Smith compreendesse que a coisa para a qual ele estava olhando não era uma
ovelha , então ele não mais estaria justificado em crer que uma ovelha estivesse no campo. (Em contraste, no
exemplo 3.5 ele continuaria a crer que alguém no escritório possui um Ford , ainda que ele ficasse sabendo
que Nogot não possui um.)
Logo, em cada exemplo Gettier (exemplos 3.1-3.4), há uma proposição falsa na qual Smith
efetivamente acredita. Se ele não acreditasse nela, e ao invés acreditasse justificadamente na sua negação (que
é verdadeira), então ele deixaria de acreditar, ou deixaria de ter justificação para acreditar, na proposição
Gettier. Essa proposição verdadeira é dita anular [defeat] a justificação de Smith. E a idéia é que alguém tem
conhecimento quando não há verdades que anulem e a sua justificação. Logo, a proposta é acrescentar a ATC
o requerimento de que não exista anulador:

SA. S sabe p = df. (i) S crê p, (ii) p é verdadeira, (iii) S está justificado em crer p; (iv) Não há uma
proposição verdadeira t tal que, se S estivesse justificado em crer t, então S não estaria justificado em crer p.
(nenhuma verdade anula a justificação de S para p.)

(SA) parece lidar corretamente com todos os exemplos considerados até aqui.
Desafortunadamente, há problemas para a teoria sem anuladores. Eis aqui dois.

Exemplo 3.6? O Caso do Rádio


Smith está sentado em seu estúdio com o rádio desligado e Smith sabe que ele está desligado. Na
ocasião, a Rádio Classic Hits 101 está tocando a grande música do grande Neil Diamond, “Girl, You’ll Be a
Woman Soon.” Se Smith estivesse com o rádio ligado e sintonizado nessa estação, Smith teria ouvido a
9 Observe que esta objeção funciona quer você use (B1) ou (B2).

10 Para uma defesa de uma perspectiva nestas linhas, veja Peter Klein, “Knowledge, Causality, and
Defeseability,” Journal of Philosophy 73 (1976): 792-812.
canção e saberia que ela está tocando.

Pode não ser imediatamente óbvio porque isto coloca um problema, mas ele coloca. No exemplo
3.6 Smith sabe:

8. O rádio está desligado.

As condições (i)-(iii) da ATC estão satisfeitas. Mas (iv) está satisfeita. Isto é, há alguma proposição
verdadeira tal que, se Smith estivesse justificado em crer nela, então ele não estaria justificado em crer (8)?
Uma proposição verdadeira nesta história é

9. A Rádio Classic Hits 101 está tocando “Girl, You’ll be a Woman Soon.”

Suponha que Smith estivesse justificado em crer (9). Em qualquer caso típico há muitas maneiras
pelas quais ele poderia estar justificado em crer (9). A maneira mais provável seria que o rádio estivesse
ligado. Naturalmente, ele poderia ter ficado sabendo sobre (9) por ter alguém ligado e dito a ele, ou por ter
recebido um e-mail alertando-o sobre as novidades. Mas suponha que em nosso exemplo estas outras
maneiras não estejam disponíveis. Em nosso exemplo, se Smith estivesse justificado em crer (9), então ele
seu rádio estaria ligado e ele teria ouvido a música. Mas, se esse fosse o caso, então Smith não estaria
justificado em crer que o rádio está desligado. Assim, a condição (iv) não está satisfeita. Há uma proposição
verdadeira, (9), tal que se Smith estivesse justificado em crer nela, então Smith não estaria justificado em
crer (8). Em certo sentido (ou talvez em vários sentidos), Smith tem sorte de não saber (9). De um lado, isso
o habilita a saber (8). De outro, Smith não tem de ouvir a música.
Este exemplo pode confundir. Isso ocorre em larga medida porque sentenças que dizem que se uma
coisa fosse ocorrer, então uma outra coisa seria verdadeira causam confusão. Estas sentenças são chamadas de
condicionais subjuntivos. Aplicado a este caso, o condicional se refere ao que seria o caso se Smith estivesse
justificado em crer (9). A melhor maneira de determinar isto é considerar como Smith iria chegar a estar
justificado em crer (9). Nas circunstâncias descritas, a maneira é que Smith teria o rádio ligado, sintonizado
na Rádio Classic Hits 101, e teria ouvido a música no rádio. Assim, se esse fosse o caso, Smith não estaria
justificado em crer que o rádio está desligado. E isto é o que causa problemas para (SA). Esta diz que Smith
não sabe (8) se existir alguma outra verdade tal que se ele estivesse justificado em acreditar nela ele não
estaria justificado em crer (8). Mas (9) é exatamente uma tal verdade.
Uma vez que você veja como o exemplo 3.6 funciona, é fácil gerar exemplos adicionais que sigam
as mesmas linhas. A questão subjacente é muito simples, embora surpreendente. É que alguém pode
conhecer alguns fatos e pode haver outros fatos tais que, se ele conhecesse estes outros fato, então ele não
conheceria os fatos originais. Isto porque, se alguém estivesse em posição de conhecer os últimos fatos,
então ele não estaria em posição de conhecer os fatos anteriores. E, em alguns casos, se alguém conhecesse os
últimos fatos, então os fatos anteriores sequer seriam verdadeiros. A versão atual da teoria sem anuladores diz
que quando existem tais fatos, carece-se de conhecimento. Uma vez que tipicamente existirão tais fatos, a
teoria implica que conhecemos muito pouco.
Há outra maneira pela qual a ignorância de algumas verdades pode nos ajudar a conhecer coisas.
(SA) também tem um problema como estes casos. Eis aqui um de tais exemplos.
Exemplo 3.7: O Caso Grabit1 1
Black vê o seu estudante Tom Grabit enfiar uma fita no bolso de seu casaco e se esgueirar para fora
da biblioteca. Ela sabe que Tom pegou a fita. Agora, imagine que o crime de Tom é relatado à mãe de Tom
em seu quarto no hospital psiquiátrico. E ela retruca que Tom não o fez, que foi Tim, o irmão gêmeo dele.E
imagine ainda que ele não tem irmão gêmeo, que esta é apenas outra das ilusões dela. Black ignora tudo isto.

Por que isto é um problema? Considere esta verdade:

10. A mãe de Tom disse que o irmão gêmeo de Tom, Tim, pegou a fita.

Note que a própria (10) é verdadeira, ainda que aquilo que a Mãe de Tom diga seja falso. Se Black
estivesse justificada em crer apenas nesta verdade – mas não no restante da história sobre ela – essa iria anular
a justificação de Black. Ela é um anulador enganoso.
Mais uma vez, isto pode parecer confuso. Mas a idéia é relativamente simples. Se nós podemos
conhecer coisas comuns, então pode haver outras verdades tais que se nós tivéssemos sabido delas, elas
solapariam nossa justificação para a coisa que conhecemos. Mas alguns destes anuladores são enganosos. Isto
é, nós de fato conhecemos coisas, mas não as conheceríamos se tivéssemos sabido sobre estes anuladores.
Nós temos sorte de não sabermos sobre os anuladores. O testemunho da Senhora Grabit é assim. Observe
que no caso de Tom Grabit, diferentemente dos verdadeiros casos Gettier, as coisas são exatamente como
Black pensa que elas são. Black é afortunada por ser ignorante das divagações da mãe demente. Black teria
perdido a sua justificação para a sua crença sobre Tom se ela soubesse sobre elas.
Assim, esta versão da teoria sem anuladores não funcionará. Há muitas outras possíveis variações de
(SA), e talvez algumas versões evitem os exemplos considerados aqui. As outras variações acrescentam mais
complexidade à análise, e existem ainda mais estranhos contra-exemplos propostos contra elas, mas não as
acompanharemos aqui.1 2

D. Uma Proposta Modesta

É seguro dizer que não existe uma solução amplamente aceita para o problema de Gettier levantado a
ATC. As defesas da ATC discutidas na seção II são inadequadas e as modificações consideradas nesta seção
enfrentam sérios problemas. O problema Gettier permanece irresolvido.
Resta verdadeiro, entretanto, que em todos os casos Gettier há uma proposição falsa envolvida que
os torna casos nos quais as pessoas careçam de conhecimento. De alguma forma, a justificação depende dessa
falsidade. Nós podemos destacar este ponto dando ao menos um modesto passo em direção à solução do
problema.
O elemento chave em todos os casos de estilo-Gettier é que, em algum sentido, a crença central
“depende essencialmente de uma falsidade.” A idéia de dependência essencial é razoavelmente clara. Por
exemplo, no Caso da Ovelha no Campo, a crença de Smith de que há uma ovelha no campo depende
essencialmente da proposição de que o que ele vê é uma ovelha. No Caso das Razões Extras, Smith tem
duas linhas de pensamento independentes que levam à mesma conclusão. Uma linha de pensamento, que se

11 Uma versão levemente modificada deste exemplo apareceu primeiro em Keith Lehrer,
“Knowledge, Truth and Evidence,” Analysis XXV (1965): 168-175.

12 Para uma discussão destas alternativas, veja Robert Shope, The Analysis of Knowing
(Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1983), capítulo 2.
refere a Nogot, depende de uma proposição falsa. A outra linha de pensamento, a que envolve havit, não
depende de nada falso. Neste caso, a crença de Smith de que alguém possui um Ford não depende
essencialmente da falsidade. Isto porque há uma linha justificatória que ignora a falsidade. É por isso que
pode haver conhecimento numa tal situação, ainda que o raciocínio envolva uma proposição falsa. Ele não
depende essencialmente dessa falsidade.
O Caso do Caminho Alternativo e outros casos nos quais a crença não depende diretamente da
falsidade também ajudam a destacar a idéia da dependência essencial sobre uma falsidade. Nestes casos,
Smith não raciocina explicitamente por meio de uma proposição falsa. Entretanto, há uma dependência
implícita sobre uma proposição falsa. Tipicamente, as coisas das quais alguém depende incluirão coisas que,
se pressionado, ele iria dizer que são relevantes.
A idéia da dependência essencial admitidamente não é completamente clara. Entretanto, ela nos dá
uma definição de conhecimento que funciona, com a qual nós podemos ir adiante. A definição, então, é

DEF. S sabe p = df.


(i) p é verdadeira.
(ii) S crê p.
(iii) S está justificado em crer p.
(iv) A justificação de S para p não depende essencialmente de qualquer falsidade.

Ao acrescentar a cláusula (iv), (DEF) faz uma modificação importante na ATC. Não obstante, ele
retém o coração da perspectiva tradicional, pois ela retém a idéia de que o conhecimento requer a crença
verdadeira justificada. Ela simplesmente acrescenta uma condição extra. Uma questão chave referente à
(DEF), assim como à perspectiva tradicional na qual ela está baseada, tem a ver com o conceito de
justificação. Nos voltaremos a isso em detalhe no capítulo 4. Na seqüência examinaremos as perspectivas de
alguns filósofos que pensam que nenhuma modificação relativamente pequena da ATC irá produzir uma
análise correta do conhecimento. Eles pensam que uma formulação inteiramente diferente é preferível. Nós
examinaremos suas perspectivas no capítulo 5.

IV. CONCLUSÃO

A resposta tradicional para (Q1), que perguntava quais são as condições para o conhecimento, foi
que o conhecimento é crença verdadeira justificada. A ATC é uma análise do conhecimento elegante e
atraente, mas os exemplos Gettier mostram que ela não é completamente satisfatória. A moral disto é que o
conhecimento requer a crença verdadeira justificada e mais alguma coisa – há uma quarta condição para o
conhecimento. Dizer exatamente qual é essa quarta condição se revela notavelmente difícil. A teoria sem
bases falsas e a teoria sem anuladores não têm sucesso. O que parece ser crucial é que a justificação não
dependa essencialmente de alguma coisa falsa. Embora esta idéia não tenha sido formulada em todos os
detalhes, ela nos dá uma formulação útil do conhecimento. Logo, nossa resposta para (Q1) é que o
conhecimento requer crença verdadeira justificada que não dependa essencialmente de uma falsidade.

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