Você está na página 1de 8

26  Tecnologia Industrial Março/2007

Álcool do bagaço chega em 5 anos


Tecnologia de hidrólise Núcleo Interdisciplinar de Planejamento
Estratégico da Universidade Estadual
rápida possibilitará de Campinas (Nipe/Unicamp). Apesar
da complexidade tecnológica, a planta
produção em larga escala piloto da DHR, que está sendo testada
na Usina São Luiz, em Pirassununga,
do etanol celulósico SP, começa a caminhar em direção da
operação comercial, conforme já admite
Renato Anselmi, de Campinas a própria empresa.
Free lance para o JornalCana As novidades não ficam por aí. A
corrida pela cobiçado álcool obtido a
A realização de grandes negócios e partir da celulose, que pode ser
o anúncio de novos empreendimentos produzido também da palha da cana ou
não param de movimentar o setor dos resíduos do milho - tem outros
sucroalcooleiro, que deverá registrar participantes de peso. A Petrobras está
um crescimento histórico de sua fazendo investimentos elevados nessa
produção nos próximos anos. Não área, segundo o gerente de comércio de
bastasse a enxurrada de boas notícias álcool e oxigenados da companhia,
no setor de investimentos, uma Sillas Oliva Filho. No primeiro semestre
novidade tecnológica "bombástica" de 2007, deverá entrar em operação
deverá ser responsável pelo aumento uma primeira planta, com produção em
significativo da produção de etanol, sem pequena escala, no Centro de Pesquisas
necessidade de ampliação da área de da Petrobras, (Cenpes) no Rio de
cultivo de cana-de-açúcar. Entre dois e Janeiro. Em 2008, será inaugurada
cinco anos - prazo máximo que inclui uma planta piloto em escala industrial
imprevistos pouco prováveis -, estará (Veja mais sobre álcool do bagaço na
em funcionamento, no Brasil, a planta página 19). "O interesse da Petrobras,
industrial de hidrólise ácida do bagaço por essa área, é recente. Mas, é preciso
de cana para a fabricação de álcool. olhar com respeito, pois o Cenpes tem
Quem confirma isto é o professor recursos e deverá ter uma participação
Carlos Eduardo Vaz Rossel, um dos importante nesse processo", opina
responsáveis pela área de pesquisa da Indústria de Base, de Piracicaba, SP, em quase inatingível. "O presidente da Carlos Rossel, que é também
tecnologia Dedini Hidrólise Rápida meados da década de 80, quando o empresa, Dovílio Ometto, teve uma pesquisador colaborador honorário da
(DHR), que começou a ser estudada e processo de transformação de bagaço visão de futuro estratégica", conta Faculdade de Engenharia Química
colocada em prática pela Dedini em álcool era um sonho distante e Rossel, que é pesquisador associado do (FEQ), da Unicamp.
Março/2007 Tecnologia Industrial  27

Hidrólise do bagaço faz parte de estratégia de abastecimento


Por trás dessa tecnologia
revolucionária - que é pesquisada, em
fase mais adiantada, pelos Estados
Unidos - pode estar oculto um segredo
brasileiro para o desenvolvimento
econômico do País, que até dobraria o
PIB nacional: a produção e o
fornecimento de álcool para substituir
10% de toda a gasolina consumida no
mundo. Um estudo detalhado,
elaborado pelo Nipe, em parceria com o
Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), avalia e aponta caminhos para o
cumprimento dessa meta, que vão além
da ampliação da área de cultivo da
cana e da elevação da produtividade
agrícola.
O álcool celulósico é considerado
uma alternativa valiosa para aumentar
a produção do biocombustível,
conforme esse trabalho que é
denominado Projeto Etanol na Unicamp
e tem a coordenação do professor e
físico Rogério Cerqueira Leite. A aposta
nessa solução ocorre devido à
possibilidade de elevação da produção fermentação, entre outros itens. "É Tecnologia Canavieira (CTC) e de outras considerados concorrentes", observa.
do álcool em 50%, de acordo com as necessário transformar conceitos sem universidades e instituições de Ele acha fundamental o Brasil buscar o
previsões mais conservadoras, ou em soluções práticas", diz o pesquisador pesquisa. seu próprio caminho nessa área. "Os
aproximadamente 100% conforme os Carlos Rossel. Segundo ele, a hidrólise O pesquisador considera necessário Estados Unidos desenvolvem a pesquisa
mais otimistas. ácida, que é adotada pela Dedini, está ainda tropicalizar a tecnologia para hidrólise do milho e de outras
O equacionamento do índice de na frente, com mais problemas enzimática, além do desenvolvimento culturas", observa. Para Carlos Rossel,
aumento do volume não é tão simples resolvidos. Ele faz questão de ressaltar, de enzimas com custo mais baixo e é necessário que o setor sucroalcooleiro
assim. A solução desta e de outras no entanto, a importância da tecnologia ação mais rápida. "Os dois processos tenha um maior engajamento nesse
questões dependem de variáveis como a enzimática, o caminho adotado pela são interessantes para a produção do trabalho, contribuindo, de maneira
tecnologia utilizada - hidrólise ácida ou Petrobras e o projeto Bioetanol, do qual etanol celulósico no Brasil. No futuro, mais efetiva, para o desenvolvimento da
enzimática -, o estágio da pesquisa, ele é colaborador e conta com a poderão ser utilizados até em uma pesquisa sobre a hidrólise do bagaço da
avaliação e controle do processo de participação da Unicamp, do Centro de mesma planta. Não devem ser cana. (RA)
28  Tecnologia Industrial Março/2007

Disponibilidade de matéria-prima e domínio na produção podem colocar etanol celulósico brasileiro mais próximo da realidade

Brasil tem vantagens competitivas para viabilizar nova tecnologia


Apesar de não se tratar de empresa, que conta com a parceria, também utilizar a palha para a fermentado na unidade convencional de
nenhuma competição esportiva, o Brasil nesse projeto, do CTC e da Fundação de hidrólise. Mas, para isto, a pesquisa produção de álcool", esclarece.
pode assumir, nos próximos anos, a Amparo à Pesquisa do Estado de São deve ser aprimorada", avalia. Na processo DHR - que é
dianteira no desenvolvimento dessa Paulo (Fapesp). Mesmo que não haja a patenteado pela Dedini -. um solvente
tecnologia com a operação comercial do Na opinião de Carlos Rossel, uma possibilidade imediata de dobrar a dilui a lignina, estrutura da fibra do
sistema de hidrólise rápida da Dedini, o das vantagens no desenvolvimento do produção de etanol por meio da bagaço de cana que protege a celulose,
que inclui a venda de plantas DHR é o total domínio tecnológico do hidrólise, conforme prevê o potencial para permitir a quebra das cadeias de
industriais. A Unidade de processo de produção de álcool por teórico desse processo - pois o bagaço, carbono que a formam e a conseqüente
Demonstração do Processo (UDP), que parte da Dedini, que fornece plantas palha e cana têm a mesma quantidade geração de hexoses (açúcares
começou a ser instalada em 2002 e a completas de usinas e destilarias no de sacarose -, os pesquisadores e compostos por cadeias de seis
operar no ano seguinte na Usina São Brasil e para vários países. Além disso, investidores nessa tecnologia ressaltam carbonos), que serão empregados na
Luiz, já tem capacidade de produção a disponibilidade de matéria-prima que os benefícios econômicos e fabricação de etanol. "Não existe, no
equivalente a 5.000 litros de etanol por coloca o etanol celulósico brasileiro comerciais dessa tecnologia são entanto, tecnologia no mundo que
dia. "A UDP tem por objetivo testar em mais próximo da realidade, ou seja, da inúmeros. Não haverá necessidade, por possibilite o aproveitamento do açúcar
escala próxima da industrial os produção comercial. "O bagaço pode exemplo, em adquirir terras, formar de cinco carbono, as pentoses. Mesmo
parâmetros do processo e as soluções ser direcionado para a hidrólise e a novas lavouras e colher cana para assim, a hidrólise no Brasil apresenta
de engenharia empregadas, tendo em palha para a geração de energia. Esta ampliar a produção de álcool. "É grande vantagens competitivas em
vista que este é um processo pioneiro a parece ser a alternativa mais viável a preciso ter uma planta anexa à relação aos Estados e à Europa",
nível mundial", segundo comunicado da curto e a médio prazo. É possível destilaria. O licor da hidrólise é ressalta Carlos Rossel. (RA)
30  Tecnologia Industrial Março/2007

Desempenho de
moenda e difusor
ainda gera polêmica
Diferenciais das duas tecnologias aparecem na
extração, economia de energia e flexibilidade
Renato Anselmi, de Campinas engenharia para 18 difusores
Free lance para o JornalCana comercializados no Brasil e 2 no
exterior-, Arnaldo Bastos Neto, este
Entra ano, sai ano e a pergunta equipamento teve algumas mudanças
não quer calar: Qual é a melhor opção que são responsáveis pela redução de
para a extração do caldo de cana no seu preço em 15%. "Houve uma troca
processo industrial? Moenda ou do eixo que aciona o difusor, que era
difusor? Firmes e fortes, as duas pesado e de material fundido. O novo,
tecnologias ocupam o seu espaço no com chapa, custa a metade do preço, o
mercado, beneficiando-se do que possibilitou o barateamento do
crescimento significativo do setor, sem valor do produto", revela.
que uma resposta consensual resolva De acordo com Arnaldo Bastos, a
definitivamente essa questão. Para os diminuição do custo fez com que o
adeptos do difusor, a maior eficiência difusor tenha, agora, um preço 10%
na extração, a economia de energia e a menor do que uma moenda de seis
manutenção quase inexistente ternos. "Antes, era 10% mais caro",
continuam sendo argumentos sólidos compara. Ele diz que esse foi o
em defesa das vantagens na aquisição principal motivo para o aumento das
desse equipamento. Os aficionados da vendas a partir de 2006. Foram
moenda apontam a flexibilidade dessa comercializados 9 equipamentos desde
tecnologia, na montagem de novas o ano passado. "Para este ano, há
unidades e na ampliação das já praticamente cinco negócios fechados
existentes, como um dos maiores no Brasil. Há possibilidade da venda, a
diferenciais em relação ao produto curto prazo, de outros 6 equipamentos
concorrente. para o exterior", prevê. Na opinião
Novidades anunciadas dele, é preciso ainda quebrar
periodicamente, por ambos os lados, paradigmas para que o difusor tenha
sustentam essa saudável disputa que uma aceitação amais ampla no
deverá continuar ainda por muito mercado. "Alguns consultores indicam
tempo - pelo menos enquanto não as moendas, porque geram mais
surgir uma terceira e ainda serviços de manutenção e regulagem na
inimaginável terceira via tecnológica entressafra. Com o difusor, eles não
para o processamento de cana. poderão ter mais essas atividades, pois
Segundo o gerente de engenharia da a manutenção é praticamente
Uni-Systems - empresa de Sertãozinho, inexistente. Há somente uma lavagem
SP, que desenvolveu o projeto de com água", alfineta.

Afinal, a moenda ou o difusor deve processar a cana que chega na mesa alimentadora?
Março/2007 Tecnologia Industrial  31

Difusor amplia ganhos com eficiência na extração


Para o gerente de engenharia ainda que o equipamento
da Uni-Systems, não existem proporciona uma redução de
motivos justificáveis para as usinas custos com insumos - incluindo
não optarem pelo difusor. "Mesmo dispersantes, floculantes -, porque
quando apresentava um custo produz um caldo mais limpo, que é
mais elevado do que a moenda, a filtrado sucessivamente.
sua utilização já era mais Arnaldo Bastos esclarece que
compensadora", diz. Ele explica nem mesmo o bagaço mais sujo -
que a grande vantagem econômica como conseqüência da obtenção de
do difusor é obtida na extração, um caldo com menos impurezas -
que apresenta pelo 1% a mais de tem prejudicado a combustão na
eficiência - podendo chegar a 1,5% caldeira. "A empresa HPB chegou
- em comparação à moenda. "Isto a desenvolver um sistema
equivale a ganhos de US$ 1 milhão automático de sopragem para
com a produção de açúcar por evitar qualquer problema na
ano, considerando preços caldeira. Mas, não houve
conservadores de mercado, para necessidade em utilizá-lo em
uma usina que tem uma moagem nenhum difusor que está em
de 8 mil toneladas de cana por funcionamento", afirma.
dia", calcula. De modo geral, o Com 22 anos de
difusor obtém uma eficiência entre funcionamento na usina Galo
97,5% e 98%, enquanto a moenda Bravo (atual Central Energética
de seis ternos alcança 96%. Ribeirão Preto), o primeiro difusor
Outro ganho importante - vendido no Brasil apresentou até
conforme Arnaldo Bastos - está hoje poucos problemas de
relacionado à economia de manutenção. "Foi preciso trocar
energia. "O consumo total do apenas chapas das paredes
difusor equivale ao de um terno de laterais (agora são utilizadas as de
moenda. Com isto há maior sobra aço inox) e correntes", relata. Para
de energia para cogeração, o que os defensores dessa tecnologia, a
vai ampliar os ganhos de uma eficiência e a simplicidade de
unidade - com o processamento de funcionamento desse equipamento,
8 mil toneladas por dia - em mais que dispensa sucessivas
US$ 500 mil a US$ 700 mil, desmontagens e montagens nas
fazendo com que os ganhos entressafras, vão torná-lo a
possam chegar a US$ 1,7 milhão tecnologia do futuro na extração
por safra", afirma. Ele explica do caldo. (RA)
32  Tecnologia Industrial Março/2007

Moenda diminui investimento inicial em novas unidades


Comparada, avaliada, criticada e
elogiada, a moenda resiste ao tempo e
ainda predomina amplamente no
mercado brasileiro. Apesar de ser
considerada uma tecnologia já
ultrapassada pelos seus críticos mais
fervorosos, ela não deixa de ter novos
modelos no mercado. O conceito de
esmagamento da cana na extração do
caldo - o difusor faz a lixiviação -
continua em alta. A Fundição Moreno,
de Sertãozinho, SP, por exemplo, lançou
há um ano uma moenda que simplifica
e agiliza a manutenção, facilitando a
retirada dos rolos, de acordo com o
diretor comercial da empresa, João
Amorim.
Esse novo equipamento permite
também o aumento da triangulação dos
rolos sem danificar os cabeçotes
laterais, entre outras características.
Até meados de março, a Moreno já
tinha efetuado a venda de 21 ternos de
moenda, sendo 7 entregues e 14 em
fabricação. Segundo João Amorim, o
equipamento está tendo uma grande
aceitação no mercado. Na opinião dele,
um dos diferenciais da moenda é a
flexibilidade. "Na montagem de uma
nova unidade, o investimento é bem
menor quando comparado com o
difusor. É possível começar com 4
ternos e colocar o 5º e 6º ternos à
medida em que for aumentando a
disponibilidade de cana", pondera.
O diretor comercial da Moreno
observa que o difusor não dá essa
opção. "Se o equipamento for indicado ser feita com a duplicação dessa diferença de 1% na eficiência da equipamentos argumentam que
para a extração de 10 mil toneladas de capacidade. Isto exigirá também a extração, que é favorável ao difusor. ocorreram diversas melhorias, como
cana por dia, a única alternativa é aquisição de outros equipamentos de Segundo ele, o uso de acionamentos mudanças no preparo da cana e na
contar com matéria-prima suficiente grande porte, como a caldeira, para a com motores e redutores elétricos está solda da camisa.
para essa quantidade. Caso contrário, o implantação do projeto de expansão", também ajudando a elevar a eficiência Os adeptos do sistema de extração,
investimento não será totalmente avalia. das caldeiras. por esmagamento da cana, enfatizam
aproveitado na fase inicial de "Com a moenda, a usina pode Outro argumento, utilizado pelos que a flexibilidade e a própria
funcionamento da usina", afirma. A optar em aumentar a moagem em 200 defensores das moendas é o fato do qualidade da operação têm assegurado
questão da flexibilidade interfere mil toneladas de cana por ano, sem caldo, produzido nesse processo de a preferência pela moenda por parte da
também - conforme a opinião de João necessidade de realizar grandes extração arrastar menor quantidade de grande maioria das usinas e destilarias.
Amorim - na expansão de uma unidade investimentos", enfatiza. João Amorim impurezas, o que contribui para a Além disso, constatam que esse
já existente. "A ampliação de uma usina destaca ainda que a tecnologia, usada redução da cor do açúcar e a equipamento continua despertando
com um difusor, que tem uma extração nas moendas, tem evoluído, o que está diminuição do desgaste das caldeiras. grande interesse das usinas já
de 10 mil toneladas por dia, só poderá criando condições para a redução da De modo geral, os fabricantes desses existentes e das novas unidades. (RA)

Você também pode gostar