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ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Faculdade de Minas

Sumário
ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA ............................................. 1

NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 3

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA ............................................. 4

Tendências Reveladas pela Evolução da Economia Brasileira ....................... 4

Melhoristas e Reformistas ............................................................................... 8

A Lei de Responsabilidade Fiscal .................................................................. 12

Planos Orçamentários ................................................................................ 14


Receita Corrente Líquida ........................................................................... 15
Despesas de Pessoal ................................................................................ 15
Dívida Pública ............................................................................................ 16
Anos eleitorais............................................................................................ 17
Finalidade de recursos ............................................................................... 17
E as punições?........................................................................................... 18
A LRF e o Coronavírus .............................................................................. 18
A história contemporânea da economia brasileira ......................................... 20

O Brasil do ame-o ou deixe-o ........................................................................ 22

O Brasil Democrático ..................................................................................... 26

A liberação do potencial de crescimento ....................................................... 32

Referências ................................................................................................... 35

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de


um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de
Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz
de oferecer serviços educacionais em nível superior.

O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua
formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos
científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade,
transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de
publicações e/ou outras normas de comunicação.

Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de


forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma
base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no
atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de
uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade.

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ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Tendências Reveladas pela Evolução da Economia


Brasileira

A história contemporânea da economia brasileira é marcada por duas fases,


nitidamente diferenciadas. A ruptura ou quebra de tendência verifica-se no entorno
de 1980, marcando a transição da primeira (1940 -1980) para a segunda fase (1981-
2003).

A primeira fase, ocorreu a implantação da estrutura produtiva que, em seus


traços maiores, caracteriza, até o presente, a economia brasileira. A construção, em
quatro décadas, deste amplo e diversificado aparelho produtivo, teve como marco a
implantação dos chamados grandes projetos, direta ou indiretamente promovidos por
políticas públicas e empresas do Estado.

Onde não se tratava de implantar megaprojetos ou plantas-âncora, mas da


introdução, por capitais privados, de novos elos nas cadeias produtivas, o avanço se
dava ao sabor de projetos, que muitas vezes se mostravam maiores que as empresas
incumbidas de levá-los a efeito. Com o novo tecido econômico sendo constituído, os
projetos (antes que os preços relativos) guiavam, em ampla medida, as decisões
empresariais – sendo esta uma característica fundamental dessa primeira fase.

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Como seria de se atender, os projetos exigiam, a absorção massiva de novos


conhecimentos. É importante lembrar, no entanto, que este conhecimento em boa
medida aqui chegava, embutido ou incorporado nos processos que a economia
passava a utilizar e nos artigos que ela passa a produzir. A bem dizer, o conhecimento
“desincorporado” e operacional evoluía também rapidamente – sem o que não seria
possível acionar as novas máquinas e equipamentos. Mas aqui, como em algumas
outras experiências contemporâneas de catch up, a produção nem de longe exigia o
pleno domínio cognitivo do que estava sendo introduzido no país. Uma segunda
característica dessa primeira fase consiste, assim, no notório desequilíbrio entre o
conhecimento operacional e o conhecimento formal/ científico.

A terceira e última grande característica a ser aqui assinalada se refere ao


crescimento econômico verificado no período - aí incluídos o seu ritmo (7%, em
média, ao ano), a relativa regularidade do avanço, e o fato de que a expansão era
percebida como assegurada. Este último ponto, ou seja, a crença, amplamente
compartilhada, na forte vocação da economia para o crescimento (e, neste sentido,
na existência de uma “convenção do crescimento”), merece um destaque especial. A
partir desta perspectiva, o risco de mercado a ser enfrentado pelos investimentos era,
genericamente, rebaixado – o que ajudava a tornar o crescimento uma profecia
autorrealizada.

Passemos agora à segunda grande tendência que se prolonga por 23 anos: de


1981 a 2003.

Em comparação à primeira, a segunda fase é marcada pela ausência de


grandes projetos, sendo Carajás uma importante exceção. Apesar da escassa
alteração, durante esta fase, da estrutura do aparelho produtivo em seu conjunto,
intensas mudanças foram introduzidas no âmbito das empresas e no seu
relacionamento com os mercados. Como é bem sabido, isto foi impulsionado pela
abertura da economia, e por certas consequências da estabilização alcançada
mediante o Plano Real. Concretamente, mudaram o gerenciamento e a organização

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do trabalho, a cesta de produtos ofertada (o que implica, em regra, alterações nos


processos produtivos) e, não raro, a estrutura patrimonial das empresas.

A mais importante implicação do que precede é a radical mudança verificada


na forma pela qual passa a evoluir a economia. No fundamental, a acumulação de
capital e, mais concretamente, a implantação de novos projetos, deixa de ser o eixo
em torno ao qual evolui a economia.

Reconhecidamente a economia apresenta, durante o segundo período, e de


acordo com os indicadores oficiais, um desempenho pífio, crescendo, em média, algo
como 2% ao ano - vale dizer, pouco mais do que a população. Registram-se, porém,
em meio a esta quase-estagnação, breves (ainda quando, por vezes, intensos) surtos
de crescimento, seguidos de recaídas de magnitude comparável. Por outro lado, a
eficiência com que operam as empresas indiscutivelmente avança – o que se traduz
tanto em firmes aumentos de produtividade9 (e eliminação de empregos), quanto em
melhoria/atualização dos produtos levados a mercado. Duas ressalvas devem, no
entanto, ser feitas, ao que acaba de ser dito.

Primeiramente, as transformações apontadas, não se dão ali onde o país


dispunha de confortáveis vantagens comparativas (siderurgia e celulose, por
exemplo), e nem tão pouco nas plantas gigantes herdadas do primeiro período (como
Camaçari). Além disso, na segunda metade dos anos 1990, algumas novas grandes
plantas começam a surgir – alterando, antes a geografia econômica, que a estrutura
setorial da indústria.

A peculiar combinação de medíocres resultados em termos de crescimento


médio anual, com intensa transformação do tecido microeconômico (mas não da
estrutura produtiva da economia como um todo), dificulta enormemente o trabalho
dos analistas. Quando mais não seja, porque o baixo crescimento de forma alguma
significava marasmo. Além disto, porque os indicadores estatísticos disponíveis,
voltados para a medição de resultados agregados (macroeconômicos ou setoriais),
dificilmente poderiam captar, adequadamente, os efeitos das mudanças em curso.

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Compreende-se: estas iam se dando, sobretudo, no âmbito das empresas, no seu


inter-relacionamento, e distribuição espacial.

Como característica marcante do segundo período deve-se ainda destacar, a


crescente tomada de consciência da peculiar vulnerabilidade a que passou a estar
sujeita a economia. É bem verdade que, não obstante carregada de problemas, a
economia se mostra capaz de fortes recuperações, ou, mesmo, arrancadas. Mas fica
também evidente que estes movimentos não se sustentam. Consequentemente, há
que ter cuidados redobrados na interpretação da situação e perspectivas da
economia. Trata-se de aproveitar as retomadas, sem acreditar em demasia, por
exemplo, nas dimensões de mercado por elas sugeridas. Tampouco há que embarcar
facilmente nas oportunidades antevistas a partir do crescente conhecimento daquilo
que se pode extrair dos recursos controlados pelas empresas (voltaremos a este
ponto).

Em síntese, tudo se passa como se o contexto requeresse que os mercados


fossem avaliados com desconto – o que também resulta em parcimônia no
aproveitamento do aprendizado adquirido no comando da produção e distribuição de
mercadorias. Consegue-se, com isto, possivelmente, conter os estragos provocados
por desencontros entre demanda e oferta. Mas se este tipo de conduta logra tornar
menos frustrante, ou danoso, um contexto caracteristicamente sujeito a golpes
(reversões) de demanda, não é menos verdade que ele também ajuda a reduzir o
aproveitamento de oportunidades. Ou seja, diminui a aderência da capacidade de
produzir à turbulenta evolução da demanda - ao preço da renúncia à exploração de
oportunidades que podem se revelar enganosas.

Com isso, também afirmar que, se na primeira tendência, como anteriormente


assinalado, a economia cresce mais do que aprende, na segunda (1980 a 2003), ela
aprende mais do que consegue utilizar. Esta proposição veio a ser na prática
reforçada, pela aceleração, datada dos anos 1980, dos resultados alcançados no
campo educacional. Fica, assim, sugerido, que se a economia puder se livrar das
abruptas asfixias de demanda (tarefa precípua da macroeconomia) e, indo mais além,

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puder estimular o de represamento de oportunidades percebidas, mas não


exploradas, a sua trajetória de crescimento poderá ser deslocada para cima.

Melhoristas e Reformistas

Diversas vezes, no curso da segunda tendência, a energia expansiva da


economia voltou à tona. A cada retomada seguiu-se, no entanto, após um lapso maior
ou menor de tempo, uma abrupta deterioração do ambiente econômico, capaz de
anular o movimento expansivo da economia.

A frustração do crescimento parece, no entanto, ter assumido particular


importância, no caso da recuperação iniciada em 1999. Em parte, isto se explica por
razões quantitativas. Do primeiro trimestre de 1999 ao primeiro trimestre de 2001, o
crescimento acumulado da economia brasileira foi de 8,5% (4,2% ao ano). Mas a
relevância desta traumática experiência se explica, ainda, por outras razões.

O êxito, penosa, mas rapidamente alcançado, no controle das consequências


da temida mega desvalorização, levou muitos a concluir que a estabilidade havia
passado por um teste definitivo. A conclusão estava também calcada, no fato de que
tivera início, na segunda metade de 1998, um sério esforço de ajuste fiscal. Mas o
vigor exibido pelo crescimento não era menos impressionante: a expansão, de
aproximadamente 20 meses, enfrentou juros reais básicos permanentemente
superiores a 10% ao ano, combinados com um severo esforço de ajuste fiscal.

A impressão de que estávamos diante de algo novo tendia ainda a ganhar


força, à medida que os ganhos alcançados pelas empresas nos anos 1990 - que não
correspondiam ao esperado, nem pelos defensores, nem pelos críticos da abertura -
iam sendo reconhecidos. Já antes da desvalorização, grande parte da indústria vinha
emitindo sinais de que, pelo menos no tocante à produtividade e à luta pelo mercado
interno, os desafios colocados pela abertura estavam sendo seriamente enfrentados

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Isto posto, e superada a (breve) turbulência que acompanhou a desvalorização,


tornava-se possível pensar mais alto. Não apenas o câmbio oferecia agora uma
possível blindagem da economia frente às dificuldades procedentes do exterior, como
as exportações, pela primeira vez na história moderna do país, poderiam passar a
liderar o crescimento.

O rápido desmoronamento, na transição do primeiro para o segundo trimestre


de 2001, do ciclo expansivo iniciado após a desvalorização, contrariou, no entanto,
flagrantemente, estas suposições. Não discutiremos aqui este traumático episódio.
Lembremos apenas que a sorte, no caso, primou pela ausência. À medida que a
economia emergia do quase caos da mega desvalorização, e começava
(surpreendentemente) a crescer.

O ciclo abortado em 2001 veio alimentar o debate acerca do estado da


economia – e de como ela deve ser tratada. Veio, inclusive, a fornecer argumentos
para posições antagônicas a este último respeito.

De acordo com uma posição, daqui por diante referida como “melhorista”, teria
ficado claro que, consolidadas a estabilidade monetária e a abertura, e adotado o
novo regime de políticas macroeconômicas (o tripé política fiscal severa, câmbio
flutuante e metas inflacionárias), a economia podia voltar a crescer sustentadamente.
A experiência vivida após a desvalorização de 1999 apontava nesta direção - mas
também deixava clara a vulnerabilidade da economia frente a choques. Haveria,
portanto, que gerenciar a economia com muita cautela.

Quando mais não seja, porque as sucessivas crises do final dos anos 1990
acarretaram o explosivo crescimento da dívida pública, bem como o encurtamento e
dolarização de uma crescente proporção das obrigações. Consequentemente o
câmbio flutuante (um para-choque frente aos distúrbios externos) passara a operar
como uma ameaça a mais, para a solvência fiscal. Havia, em suma, que tornar
ostensivo o comprometimento com a solvência fiscal – o que veio a ser supostamente
alcançado, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000.

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Ou seja, a desvalorização e os substanciais ajustes verificados no plano fiscal


haviam retirado a economia da borda do precipício, tornando o crescimento
sustentado uma possibilidade. Mas a consolidação do novo quadro requeria muita
prudência e o incessante aprimoramento do clima de negócios. Seria também
recomendável que as instituições locais fossem aproximadas do benchmark
internacional. Afinal, a turbulência a que permaneceu exposta a economia por tantos
anos havia deixado como herança, não apenas um clima de stress (e uma notória
volatilidade das expectativas), como uma entranhada desconfiança de tudo o que é
típico ou local.

Mas a fronteira das melhorias poderia ir além do acima sugerido. O câmbio


flutuante poderia ser discretamente monitorado (visando amenizar ou conter
movimentos especulativos), enquanto o sistema de metas poderia ser, talvez, em
alguma medida, flexibilizado – desde que isto não comprometesse sua capacidade
de coordenar expectativas. Além disto, as fases de vigor expansivo poderiam ser
aproveitadas para que o país começasse a fazer políticas fiscais compensatórias –
abandonando, com isto, o comportamento pró-cíclico das políticas públicas, datado,
pelo menos, da chamada crise do Tequila (1994/5).

Dois aspectos devem ainda ser acrescentados, à visão melhorista que


estamos caracterizando.

Primeiramente, a ênfase no aperfeiçoamento da gestão macroeconômica e na


implementação de minirreformas de caráter microeconômico, reflete uma abordagem
incrementa lista. Convém ressaltar que a mesma atitude deveria ser estendida ao
campo institucional: antes que novos parâmetros ou mudanças no regime de política
econômica haveria que introduzir, passo a passo, alterações na legislação e na
regulação, destinadas a desembaraçar o comportamento dos atores econômicos.

Além disto, cabe chamar a atenção para a atitude frente ao crescimento -


terreno onde é possível perceber a existência de diferenças entre os melhoristas.
Para entendê-lo convém partir da premissa de que todos buscam o crescimento
inflacionariamente neutro, ou seja, aquele que não desperta pressões inflacionárias.

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Os mais prudentes ou conservadores incorrem, no entanto, a este propósito, em


dificuldades. Isto porque, para eles, os limites do crescimento (no sentido do ritmo de
expansão que preserva a estabilidade) devem ser apreendidos, mediante observação
do ocorrido no passado.

Em outras palavras, por métodos estatísticos, ou mediante o ajuste de funções


de produção, buscarão eles verificar a que taxas pode crescer a economia, à luz da
experiência pregressa. Isto, no entanto, destoa patentemente da própria essência da
posição melhorista, que pretende não apenas superar o passado, como avançar
mediante o aperfeiçoamento do presente. Conflita, ainda, com a ideia – realçada na
primeira parte deste trabalho - de que o passado compreende duas tendências e com
a suposição, mais adiante comentada, de que pode estar em curso, na atualidade,
uma nova ruptura de tendência.

À posição, notoriamente conservadora, que acaba de ser evocada, opõem-se,


entre os próprios melhoristas, aqueles que creem que é possível identificar falhas de
mercado, a serem corrigidas mediante políticas ativas. Isto implica dizer que o
melhorismo pode comportar a adoção de políticas industriais destinadas a disseminar
ou fortalecer condutas inovadoras. Bastaria admitir, para tanto, que as empresas não
se mostram capazes de apropriar-se de todas as vantagens derivadas das inovações
– proposição válida para qualquer tipo de economia de mercado.

Voltemo-nos agora para as posições que discrepam do melhorismo – e que


serão aqui, tão somente, sumariamente referidas. Sua característica comum é a
crença em que, sem profundas reformas, a economia brasileira não se mostra capaz
de alcançar o crescimento sustentável. Os problemas da economia residiriam, em
suma, na própria estrutura da economia, ou no chamado modelo de política
econômica - e não na condução dada à política econômica. A longa estagnação, os
sucessivos tombos da economia, e problemas tais como os juros reais cronicamente
elevadíssimos, são apontados, nesta perspectiva, como algumas das dificuldades a
serem superadas mediante reformas. A experiência internacional (contrastes com
casos exitosos, como Coréia e Chile, bem como outros sujeitos a crises recorrentes)

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é frequentemente invocada neste tipo de posicionamento para reforçar a defesa de


profundas mudanças.

O reformismo (referido, aqui, fundamentalmente, ao tema da retomada


sustentável do crescimento) comporta, no entanto, atitudes francamente antagônicas.
De um lado estão posicionados aqueles que crêem que a revisão das reformas

levadas a efeito na década dos 1990, bem como do atual modelo de gestão
macroeconômica, e o restabelecimento de certos controles (especialmente no que
toca à liberdade de trânsito dos fluxos financeiros), são condições para que a
economia volte a crescer sustentadamente.

No pólo oposto situam-se aqueles que pregam o aprofundamento das


reformas pró-mercado - e a minimização das interferências políticas de qualquer
natureza. Contra o pano de fundo da sumária esquematização realizada neste item,
começaremos, no que segue, a refletir sobre o crescimento além da “atual” retomada.

A Lei de Responsabilidade Fiscal

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A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 04/05/2000)


estabelece, em regime nacional, parâmetros a serem seguidos relativos ao gasto
público de cada ente federativo (estados e municípios) brasileiro.

As restrições orçamentárias visam preservar a situação fiscal dos entes


federativos, de acordo com seus balanços anuais, com o objetivo de garantir a saúde
financeira de estados e municípios, a aplicação de recursos nas esferas adequadas
e uma boa herança administrativa para os futuros gestores.

Entre seus itens está previsto que cada aumento de gasto precisa vir de uma
fonte de financiamento correlata e os gestores precisam respeitar questões relativas
ao fim de cada mandato, não excedendo o limite permitido e entregando contas
saudáveis para seus sucessores.

Um dos mais fortes instrumentos de transparência em relação aos gastos


públicos, indicando os parâmetros para uma administração eficiente, a LRF brasileira
se inspirou em outros exemplos bem sucedidos ao redor do mundo, como Estados
Unidos e Nova Zelândia.

As responsabilidades fiscais que a lei introduziu recaem sobre todas as áreas


públicas que exercem alguma administração sobre esse dinheiro, ou seja, ela vale
para os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) em suas três esferas:

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municipal, estadual e nacional. No entanto, como veremos, a maioria das regras da


LRF está focada na gestão feita pelo Poder Executivo, pois é ele que exerce a
administração primária dos recursos.

A atuação “planejada e transparente” dos administradores é assegurada por


medidas de cumprimento obrigatório, algumas das quais já citamos, como o respeito
a determinados limites de despesas e a certos planos orçamentários. Outros
mecanismos referem-se a punições propriamente ditas, das quais falaremos mais à
frente.

Planos Orçamentários

Grande parte dos mecanismos de planejamento criados pela LRF foram feitos
com base no Plano Plurianual (PPA), na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e
na Lei Orçamentária Anual (LOA).

Na verdade, estes três planos orçamentários não foram criados pela Lei de
Responsabilidade Fiscal. A Constituição já os previa desde 1988, em seu art. 165.
Mas a LRF, além de criar novas normas que condicionam suas edições, ampliou as
funções que cada um possui, dando mais força e importância à utilização planejada
do orçamento. As inovações são tão relevantes que é impossível falar de planos
orçamentários sem fazer referência à LRF.

Os três, em síntese, são Projetos de Lei que contêm o planejamento do uso


que os governantes farão do orçamento em um determinado período de tempo. São
enviados pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo para aprovação, normalmente
até a metade de cada ano; no caso do PPA, uma vez a cada quatro anos. Tanto o
PPA quanto a LDO contêm diretrizes para o uso do orçamento. Já a LOA contém o
orçamento propriamente dito, com os valores precisos que cada ente estatal receberá
para realizar suas atividades.

No Capítulo II da LRF (Do Planejamento), é possível ver algumas das


imposições feitas aos planos orçamentários. A LDO, por exemplo, passou a conter

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uma parte específica para tratar do equilíbrio de despesas e receitas, bem como
incluir um anexo de Metas Fiscais que, além de estabelecer objetivos arrecadatórios,
deverá conter dados precisos sobre despesas, receitas e montantes da dívida
pública.

Receita Corrente Líquida

A Receita Corrente Líquida (RCL) foi criada pela própria Lei de


Responsabilidade Fiscal (art. 2º, IV) para servir de parâmetro a certos limites, como
o de gastos com pessoal e a dívida pública.

Ela é composta da soma das receitas tributárias, de contribuições, receitas


patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e
algumas outras fontes cuja explicação seria muito longa para este espaço. Deste valor
são deduzidos alguns montantes, como as transferências constitucionais (valores
repassados pela União aos Estados e Municípios) e algumas contribuições definidas
por lei. Em resumo, a RCL é uma espécie de base de ganhos periódicos, oriundos
principalmente de tributos, produtos e serviços estatais.

Cada ente federativo (União, Distrito Federal, Estados e Municípios) possui a


própria RCL. Ela é calculada com base no mês de referência e nos onze anteriores.
Para se ter uma ideia, em 2019 a RCL da União somou em torno de R$ 905 bilhões.
Neste mesmo período, a RCL do Estado de São Paulo foi de mais ou menos R$ 161
bilhões.

Despesas de Pessoal

As despesas de pessoal também foram definidas pela própria Lei de


Responsabilidade Fiscal, em seu art. 18. São, em síntese, os gastos estatais com

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pessoal ativo, inativo (aposentados ou afastados) e pensionistas, seus salários,


subsídios, remunerações, adicionais, gratificações, horas extras etc.

A partir da LRF passou a existir um limite para os gastos com pessoal, que não
podem ultrapassar uma porcentagem da RCL daquele ente federativo. Para a União,
a regra é que gastos com pessoal não poderão ultrapassar 50% da RCL; para Estados
e Municípios o limite é 60%.

Assim, por exemplo, se a RCL da União em 2019 foi de R$ 901 bilhões, o valor
gasto com pessoal não poderia ter ultrapassado 50% deste valor, isto é, R$ 450,5
bilhões.

Sem este limite, e com inclinações para aumentar salários e vantagens de


servidores públicos indefinidamente, o governo tenderia a se endividar para pagar o
pessoal, ou deixaria de aplicar dinheiro em outras áreas. Este assunto está fortemente
relacionado com a Regra de Ouro, que proíbe aos governantes emprestar dinheiro
para pagar despesas correntes, como o são as despesas de pessoal.

Dívida Pública

Este é outro limite que usa como parâmetro a Receita Corrente Líquida.
Segundo a LRF, dívida pública consolidada corresponde ao “montante total, apurado
sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, assumidas em
virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de
crédito, para amortização em prazo superior a doze meses.” Já a dívida pública
mobiliária corresponde aos “títulos emitidos pela União, inclusive os do Banco Central
do Brasil, Estados e Municípios”.

Embora as definições possuam algumas especificidades técnicas, trata-se de


somatórios das dívidas assumidas pelo ente em áreas específicas. Importante, para
nós, é entender que passou a existir um limite para a assunção dessas dívidas.

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Por determinação da própria LRF, o estabelecimento do limite da dívida pública


consolidada ficou a cargo do Senado Federal, que posteriormente definiu,
na Resolução nº 40/2001, limite de 1,2 vezes a RCL para Municípios, e 2 vezes a
RCL para Estados e Distrito Federal. O limite para a dívida pública consolidada da
União ainda não foi estabelecido. Contudo, em 2000, logo após a aprovação da LRF,
a Presidência da República, em Mensagem ao Senado Federal, sugeriu fosse
utilizado o limite de 3,5 vezes a RCL. Apesar da demora para a sua oficialização, este
é o parâmetro usado atualmente.

Anos eleitorais

A LRF possui duas regras importantes em anos de eleição. A primeira, prevista


em seu art. 42, proíbe que um governante contraia dívidas no último ano de seu
mandato se esta dívida não puder ser paga no mesmo exercício financeiro ou se
existir a possibilidade de não haver caixa para pagá-la no exercício seguinte. A outra
regra proíbe o aumento de gastos de pessoal nos 180 dias que antecedem as
próximas eleições.

Estas normas foram criadas principalmente para evitar dívidas maliciosas que
possam prejudicar a próxima administração.

Finalidade de recursos

Este mecanismo é muito simples, mas também muito efetivo. Para assegurar
o planejamento financeiro, a LRF proibiu que os recursos vinculados a uma finalidade
específica (a um órgão, a uma área, como educação ou saúde) sejam utilizados em
outra. Isto vale inclusive para exercício seguintes, evitando irregularidades no

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planejamento e desvios de verbas públicas para objetivos diversos daqueles a que


elas foram prometidas.

E as punições?

As punições previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal normalmente


referem-se a proibições aplicadas ao ente para contratar, receber empréstimos e
transferências. Responsabilizações pessoais foram dadas por outras leis, que vieram
logo após a LRF, utilizando-a como fundamento.

A Lei nº 10.028/2000, por exemplo, incluiu um capítulo inteiro no Código Penal,


criando a figura dos “crimes contra as finanças públicas” a partir do art. 359. Pode-se
citar o art. 359-G, que prevê o crime de “aumento de despesa total com pessoal no
último ano do mandato ou legislatura”. Segundo este artigo, o administrador que
aumentar despesa com pessoal nos 180 dias que antecedem às eleições, além de
ter seu ato anulado será punido com um a quatro anos de reclusão. A mesma punição
é dada para quem “ordenar despesa não autorizada por lei” (art. 359-D do Código
Penal).

A LRF e o Coronavírus

Tempos de crise são tempos anormais para as contas públicas. Limites de


dívidas, metas fiscais e planos orçamentários são frustrados por conta de gastos
extraordinários, exigidos para a contenção de problemas urgentes e imprevisíveis.

Felizmente, a própria Lei de Responsabilidade Fiscal previu esta situação. Ela


diz, em seu art. 65, que alguns prazos e metas serão suspensos em casos

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de calamidade pública. “Calamidade Pública”, na verdade, é um termo técnico, que já


foi explicado em detalhes neste artigo do Politize!. Ele é definido pelo art. 2ª, IV
do Decreto nº 7.257/2010:

“Situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que


impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder
público do ente atingido.”

Nestas situações, o Poder Executivo do ente deverá requerer ao seu respectivo


Poder Legislativo reconhecimento formal da calamidade. Uma vez reconhecida, a
LRF permite as seguintes medidas:

➢ Suspensão das medidas de adequação das despesas de pessoal


contidas nos arts. 23 e 70;
➢ Suspensão dos limites da dívida pública contidos no art. 31;
➢ Dispensa de atingir as metas fiscais;
➢ Dispensa da limitação de empenho (contingenciamento) contida no
art. 9º.

Este último caso (limitação de empenho) refere-se a uma regra que exige
adequação entre o que está sendo arrecadado e as despesas atuais, apesar dos
planos orçamentários. A cada dois meses, verifica-se a arrecadação. Se ela é menor
do que o que foi previsto, o ente deve adequar-se aos novos valores. Na ocorrência
de calamidade pública esta exigência é dispensada.

Por conta do Covid-19, o estado de calamidade pública no âmbito federal foi


aprovado pelo Congresso Nacional no dia 20 de março de 2020, após pedido do
Presidente da República, feito através de um Projeto de Decreto Legislativo.

Este decreto, no entanto, só vale para a gestão fiscal da União. Como


dissemos, para usufruir das dispensas da LRF, cada ente da federação deverá fazer
um pedido de reconhecimento de calamidade pública ao seu Poder Legislativo. No
caso dos estados, o pedido deve ser feito à Assembleia Legislativa (deputados
estaduais); dos municípios, à Câmara Municipal (vereadores).

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A história contemporânea da economia brasileira

A partir da década de 1950 que teve início no Brasil a terceira fase do processo
da industrialização brasileira. Não restam dúvidas que foi a partir do Governo de JK
que o Brasil ingressou na era do capitalismo principalmente a partir da implantação
do Plano de Metas que procurou abolir os principais pontos de estrangulamento da
economia brasileira através de uma aliança entre o capital nacional, o capital externo
e o Estado. Nesta aula iremos apresentar a trajetória econômica do Brasil em dois
momentos distintos: O Regime militar e o do retorno a democracia. Para a abordagem
desse tema, nos fundamentaremos principalmente na obra de Cyro Rezende (1999).

Eleito Presidente do Brasil em 1961, Jânio Quadros, assumiu o país num clima
de instabilidade econômica, caracterizada por uma “inflação em alta, indisciplina fiscal
e redução da balança de pagamento. A sua política econômica caracterizou-se pela
austeridade na medida em que, restringiu o crédito, congelou os salários,
desvalorizou a moeda, e diminuiu os gastos públicos. Essa política econômica
provocou protestos basicamente de toda a população brasileira: empresários,
operários e a classe média.

Em 25 de agosto (sexta-feira) Jânio Quadros lançou uma cartada decisiva,


solicitou a sua renúncia. Acreditava que pelo fato de poucos congressistas estarem
em Brasília e não ter quórum suficiente a sua carta de renúncia só seria apresentada

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na segunda-feira, tempo suficiente para mobilização popular. Na verdade, o tiro saiu


pela culatra, pois com quórum suficiente o Congresso aceitou a sua renúncia.

A renúncia de Jânio Quadros gerou um impasse político, na medida em que o


vice presidente João Goulart era visto como suspeito pelos militares que por conta
das suas ideias era visto como dos esquerdistas. A solução encontrada para evitar
uma guerra civil foi à implantação do sistema parlamentarista. Posteriormente através
de um plebiscito o Brasil retornou ao Presidencialismo.

Retornando ao presidencialismo, João Goulart procurou desenvolver o


programa denominado de Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social que
tinha como objetivos: corrigir os preços defasados, redução do déficit público e
controle de crédito. Além disso, pretendia João Goulart a implantação de uma reforma
agrária, pois entendia que

A arcaica estrutura fundiária impedia tanto qualquer aumento na


produtividade agrícola, como a expansão da área financeira e do mercado
consumidor de manufaturados no setor rural. Pretendia ainda uma
distribuição mais equitativa do provável crescimento econômico (REZENDE,
1999, p. 109).

Pressionado por setores conservadores (dentre estes os proprietários rurais)


que temiam as reformas propostas e por setores militares, Renúncia de João Goulart?
renunciou à Presidência da República

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O Brasil do ame-o ou deixe-o

A instabilidade política inaugurada com o golpe militar de 1964 foi seguida pela
instabilidade econômica por conta do descrédito dos credores internacionais e uma
inflação crescente. Nesse contexto, foi elaborado da gestão de Castelo Branco
(1964/1967) O PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo), que teve como
elaboradores os ministros: Roberto de Oliveira Campos (Planejamento) e Octávio
Gouveia de Bulhões (Fazenda). Esse Plano econômico foi aplicado com base nos
instrumentos clássicos de estabilização, ou seja:

➢ Corte nos gastos públicos;


➢ Aumento da carga tributária;
➢ Contenção do crédito;
➢ Arrocho salarial;
➢ Criação da ORTN (Obrigações reajustáveis do Tesouro Nacional) –
Mobilizava recursos para financiar o déficit do tesouro.

Um dos pontos prioritários desse plano de estabilização foi na questão dos


salários, que passaram a ser ajustados anualmente. Reajustado abaixo da inflação o
resultado foi uma queda no índice real que teve uma perda de em média 25%.
Convém lembrar que anteriormente o trabalhador após dez anos conseguia a
estabilidade no mesmo emprego, o que foi retirado com a criação do FGTS (Fundo

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de Garantia por Tempo de Serviço). Para Cyro Rezende (1999), quem se beneficiou
o PAEG, foi o capital externo e os setores mais atingidos foram os setores ligados ao
capital nacional como: vestuário, alimentos e construção civil.

No Governo de Costa e Silva (1967/1969), o principal idealizador da política


econômica foi Delfim Neto que via na inflação o principal problema da economia
brasileira. Através do PED (Plano Estratégico de Desenvolvimento), Delfim Neto
procurou sanear a economia brasileira cujos resultados foram:

➢ Crescimento do PIB (Produto Interno Bruto);


➢ Expansão da produção industrial;
➢ Crescimento das exportações brasileiras;
➢ Expansão do consumo;
➢ Expansão da indústria automobilística;
➢ Crescimento dos setores ligados a construção civil.

Novamente o grande beneficiário foi o capital externo. A partir de 1969, tem


início no Brasil, o Projeto Brasil Potência, que procurou legitimar o Governo militar
através da falsa ideia de que o Brasil teria condições de se tornar um país do primeiro
mundo, um país desenvolvido.

Assumindo a Presidência em 1969, Médici iniciou a fase denominada de “o


milagre brasileiro”, caracterizado por um desenvolvimento do capitalismo no Brasil
que beneficiou o capital monopolista e excluiu as massas populares dos direitos
políticos e econômicos. Continuava como ministro da Fazenda Delfim Neto, tendo a
frente do ministério do Planejamento João Paulo dos Réis Velloso.

Com relação à política econômica, foi elaborado o I PND (Plano Nacional de


Desenvolvimento), que visava: manter o PIB entre 8% a 9%, diminuir a inflação (20%
anuais) dentre outros. A aplicação desse Plano econômico possibilitou um
crescimento do PIB que de 9,5% em 1970 passou para 11,4% em 1974. Além disso,
outras áreas econômicas foram beneficiadas como: a agricultura com um crescimento
anual em média de 5%, os setores industriais mantiveram um crescimento

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considerável principalmente a indústria automobilística. A inflação foi reduzida a 17%


anual. Novamente o grande beneficiário foi o capital que nesse período teve um
crescimento de 60%.

Enquanto o capital crescia os assalariados eram penalizados com a redução


do poder aquisitivo dos salários, aumentando o índice dos despossuídos. Na verdade
do ponto de vista das classes sociais o maior beneficiário foi a classe média que
passou a ter acesso a bens duráveis e ao crédito Outro aspecto a destacar é o papel
do Estado que passou a controlar vários setores como: Bancário, elétrico, indústria
siderúrgica dentre outros.

A partir de 1973, a “era do milagre “apresentava sintomas de crise, com o


aumento da inflação atingindo principalmente a classe média que tinha se beneficiado
do período anterior. Outro fator responsável pela derrocada do milagre foi a crise do
petróleo. Sendo o Brasil importador de mais de 70% do petróleo consumido, o
aumento do barril gerou déficits na balança comercial. É nesse contexto que assumiu
a presidência Ernesto Geisel.

Ernesto Geisel assumiu o Governo em um momento que o país passava por


sérias dificuldades em decorrência do aumento do preço do petróleo no mercado
internacional, sendo uma das consequências o déficit na balança comercial.
Responsáveis pelas diretrizes econômicas Mario Henrique Simonsen (Fazenda) e
João Paulo dos Réis Velloso (Planejamento) colocaram em prática o II PND (Plano
Nacional de Desenvolvimento).

O II PND tinha como objetivos: um aumento anual de 10% para o PIB, o


crescimento da indústria de bens de capital, a produção de insumos básicos,
expansão dos setores energéticos. Além disso, pretendia o Governo diminuir as
disparidades regionais com a implantação de projetos regionais como o
POLONORDESTE e o POLOA-MAZÔNIA. Em 1975 foi assinado o acordo Nuclear
com a Alemanha que previa a instalação de oito centrais termonucleares. Ainda no
setor energético foi criado o PROALCOOL (Programa Nacional do álcool) para
produzir álcool combustível para automóveis.

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De acordo com Cyro Rezende(1999), o II PND apresentou um sucesso relativo,


ou seja, com pontos positivos e negativos tais como:

➢ Diminuição das importações de insumos básicos (papel, celulose,


fertilizantes etc.);
➢ Diminuição das importações de bens de capital (máquinas e
equipamentos pesados);
➢ Desorganização da produção de alimentos por conta do
PROALCOOL;
➢ Elevação da dívida pública;
➢ Transferência de renda do setor público para o setor privado;
➢ Crescimento da dívida pública interna;
➢ Crescimento da inflação.

Os últimos anos do Brasil sob o regime militar, foi caracterizado como um


período de crise econômica e transição para a democracia. De 1979 a 1985 no
Governo de João Batista Figueiredo, o último General Presidente, novamente tendo
à frente o ministro Delfim Neto, foi elaborado o III PND (Plano Nacional de
Desenvolvimento). Este plano tinha como objetivo a retomada do crescimento
econômico. A ideia de diminuição do índice inflacionário naufragou pois já em 1980 a
inflação anual atingia 110,2% e a balança de pagamento apresentou um déficit de 3,5
bilhões de dólares.

O Projeto de transformar o Brasil em uma potência fracassou e o resultado foi


a estagnação da economia brasileira com decréscimo do PIB, declínio da produção
industrial, declínio do comercio externo, do setor de transportes e comunicações,
queda na produção de bens, redução do índice de emprego, retração dos bens de
capital. Em 1983 a inflação atingia a cifra de 211%.

Nesse difícil contexto econômico, as oposições se mobilizaram através do


movimento “Diretas Já”, que mobilizou em todo o país milhares de pessoas que

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reivindicavam o fim do regime militar. Nas eleições indiretas realizadas em janeiro de


1985, saíram vitoriosos Tancredo Neves Presidente e José Sarney vice-presidente.
Com a morte de Tancredo Neves, assumiu a presidência José Sarney.

O Brasil Democrático

A política econômica do Governo Sarney tinha como objetivo principal o


combate à inflação, herança dos governos militares. Tendo como ministro da fazenda
Francisco Dornelles, foi implantada uma política econômica anti-inflacionária que

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previa o congelamento de preços, corte no orçamento fiscal. Essa política econômica


fracassou e Francisco Dornelles foi substituído por Dílson Funaro.

Em fevereiro de 1986, foi lançado o Plano Cruzado. Este plano estabeleceu o


congelamento dos preços e promoveu uma reforma monetária com a criação do
Cruzado (Cz$). Apesar da mobilização popular através dos “Fiscais do Sarney”,
quando a população fiscalizava o congelamento dos preços, o plano fracassou. De
acordo com Cyro Rezende (1999), foram os seguintes pontos que levaram o Plano
Cruzado ao fracasso:

➢ Congelamento de preços sem prévio alinhamento e sem


disciplina salarial;
➢ Taxas de juros baixas que desestimularam a poupança;
➢ Menor tributação de renda em um período de crescimento
acelerado do consumo;
➢ Monetarização acelerada da economia, em oposição à desejada
estabilidade dos preços;
➢ Confiança na inflação zero paralela à crescente expectativa de
inflação corretiva;

Inexistência de qualquer plano para o abandono gradual do congelamento”


(REZENDE, 1999: 177-178).

Em junho de 1987, foi elaborado outro plano de estabilização, denominado de


PLANO BRESSER tendo como responsável o ministro da Fazenda Luis Carlos
Bresser Pereira. Para controlar a inflação e reduzir o déficit público, os salários, os
preços e os alugueis residenciais e comerciais foram congelados durante três meses
e o cruzado sofreu uma desvalorização de 9,5%. Fracassado esse novo plano pois
os objetivos propostos não foram alcançados inclusive a inflação continuou
aumentando, em janeiro de 1989 o Governo lançou o PLANO VERÃO.

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Com o objetivo de diminuir a inflação, foi realizada uma reforma monetária com
a criação do cruzado novo (NCz$) que sofreu uma desvalorização de 18%. Novo
congelamento de preços. Os salários passaram a ser reajustados através da livre

negociação entre patrões e empregados.

No final de 1989, a taxa inflacionária anual atingia a casa de 1.764,86%. O


governo Sarney agonizava.

Desenvolvendo uma campanha populista e personalista (caça aos marajás,


contra a corrupção) e apoiado por setores conservadores que temiam a vitória de Lula

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foram eleitos Presidente Fernando Collor de Mello e vice-presidente Itamar Franco.


Esta foi a primeira eleição direta para Presidência da República após a eleição de
Jânio Quadros.

Collor de Mello tendo à frente a Ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello,


elaborou o PLANO COLLOR. Procurando acabar com a especulação, o plano
promoveu o confisco de todas as contas superiores a 50 mil cruzeiros e liberou as
importações. Foi iniciado o programa de privatização de empresas e a abertura do
Brasil ao Capital internacional. Apesar da diminuição da inflação no início do Plano,
no final de 1992 a inflação acusava uma taxa anual de 1.100%. Isolado politicamente
por conta dos escândalos através do esquema de Paulo César Farias (tesoureiro da
campanha presidencial), renunciou à presidência da República.

Com
a renúncia de Collor,
assumiu a presidência
da República
Itamar Franco, que
através do ministro da
Fazenda Fernando
Henrique Cardoso,
elaborou o Plano Real. Para debelar a inflação foi criada a URV (Unidade Real de

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Valor) que vigorou até julho de 1994, quando foi substituído pelo Real que
correspondia a uma URV isto é CR$ 2.750,00. Este Plano atingiu seu objetivo
principal, ou seja, baixou a inflação para 9,56%. Apesar da estabilidade econômica,
o crescimento do país foi de apenas 2,57%. A euforia do Plano real garantiu a eleição
de Fernando Henrique Cardoso a Presidência da República em 1994.

O Governo Fernando Henrique Cardoso, caracterizou-se por uma política


econômica que teve como base a abertura comercial e a valorização cambial que
trouxe consequências negativas para o Brasil. Na questão comercial foram
favorecidos os países mais competitivos nas áreas industrial e setor de serviços. Até
o setor agrícola onde o Brasil sempre foi competitivo, foram impostas barreiras
comerciais pelos países importadores. O estabelecimento da paridade do real com o
dólar também trouxe consequências negativas, ou seja, o barateamento das
importações e o encarecimento das exportações o que levou a um déficit na balança
comercial brasileira (ARAUJO, 2006). A tabela abaixo mostra a situação da balança
comercial brasileira no período de 1994 a 2001. Em 2001, a balança comercial só
saiu do vermelho por conta do fim da paridade cambial.

Fernando Henrique Cardoso colocou em prática diretrizes neoliberais


principalmente no que se refere ao processo de privatização principalmente com a

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venda de empresas que atuavam nos setores de: Telefonia, mineração, etc. Esse
processo de privatização, foi responsável por transferir 12% do PIB para o setor
privado. Um exemplo dessa transferência foi o caso da Companhia Vale do Rio Doce.
Em 1997, o Governo vendeu as ações que detinha por 3,338 bilhões e seis anos
depois estas valiam 50,910 bilhões (ARAUJO, 2006).

Apesar do controle inflacionário, o que se viu no Brasil principalmente no seu


segundo mandato foi uma recessão econômica identificada através do desemprego
em massa principalmente nas áreas urbanas e o crescimento econômico reduzido. A
política desenvolvimentista pregada pelo Governo foi afetada pela falta de
investimentos principalmente em infraestrutura. Um exemplo foi o colapso do setor de
energia com o famoso apagão. Nesse contexto foi eleito Presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva.

Em meio a grande euforia, em 1º. de janeiro de 2003, pela primeira vez na


História do Brasil assumiu um operário o posto mais alto no comando da Nação
Brasileira.

No aspecto econômico Lula conseguiu reduzir a vulnerabilidade externa no que


se refere aos índices negativos da balança comercial brasileira como foi visto no
Governo de FHC. A tabela a seguir mostra muito bem o crescimento do saldo da
balança comercial.

Comparando os anos de 2002 a 2005, percebe-se um crescimento de quase


100% das exportações. Apesar do crescimento das importações no mesmo período,
praticamente o saldo comercial triplicou.

Quanto a dívida externa, o Governo Lula após anos de atrelamento ao FMI


(Fundo Monetário Internacional), quitou-a. O risco país que em 2002 apresentava
2.436 pontos caiu para 231 pontos.

No segundo ano do governo Lula houve um crescimento econômico da ordem


de 4,9% em 2004, quatro vezes superior à do governo FHC quando encerrou o seu
mandato que foi de 1,9%.

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Quanto ao processo inflacionário, no último ano do governo FHC a inflação


atingiu a casa de 12,53%. Em 2005 foi registrado apenas 5,69%.

Quanto a geração de emprego formal no governo FHC durante os oito anos


que ficou no poder, foi gerada apenas 797.047 empregos. No primeiro mandato do
Governo Lula foram gerados 3.422.690 empregos formais. Quanto ao valor de
compra do Salário mínimo, considerando os produtos básicos da mesa dos brasileiros
(feijão e arroz), este dobrou a capacidade de compra.

A liberação do potencial de crescimento

Muitos analistas já assinalaram o fato de que numa economia sujeita a


repetidas crises, o conhecimento é canalizado para atividades percebidas como de
baixo risco e, em última análise, destinadas a garantir a sobrevivência. Não nos
parece, contudo, que as implicações desta família de condutas para o (possível)
crescimento ulterior da economia tenha sido jamais explorado. Mais que isto: para
que a ideai venha a ser incorporada ao debate, parece-nos importante uma breve

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reflexão sobre o crescimento econômico, com destaque para os seus fundamentos


microeconômicos.

À medida que uma economia passa a contar com empresas com algum grau
de amadurecimento, ou seja, que já acumularam não apenas recursos materiais,
como conhecimentos e capacitações especializadas, seu crescimento vai depender
do aproveitamento, mais ou menos intenso e criativo, de tudo aquilo que elas
controlam. Em tais condições, adquire grande importância o princípio segundo o qual
uma empresa é um conjunto complexo de recursos (aí incluídos, cabe insistir, os
conhecimentos), onde sempre há carências (ou gargalos) e sobras.

Mais concretamente, a qualquer momento, alguns recursos encontram-se


plenamente utilizados, ou até mesmo sobre utilizados, enquanto outros se encontram
subaproveitados. O crescimento passa então a ser, em boa medida, o resultado da
remoção de gargalos e do maior (e melhor) aproveitamento de sobras. Este quadro
difere, no entanto, qualitativamente, daquele característico do catch up clássico, em
que, conforme mencionado no início deste trabalho, os projetos (direta ou
indiretamente procedentes da esfera pública) excedem, de muito, a experiência das
empresas.

Duas ponderações devem ser acrescentadas ao que precede. Se o


crescimento já era, no pós-guerra (e nas economias avançadas), em boa medida, um
incessante processo de reaproveitamento de capacitações e recursos, com mais
razão isto se tornou verdadeiro, contemporaneamente, dada a flexibilidade das novas
tecnologias, e o imenso potencial de diferenciação de produtos daí decorrente. Em
tais condições surgem novas possibilidades no tocante à relação entre crescimento e
acumulação de capital.

Tendo em conta o que acaba de ser dito, compreende-se que uma economia
sujeita a repetidas frustrações de demanda é um meio ambiente em que diversas
possibilidades de desengargalamento e de aproveitamento de capacidades sobrantes
foram (e, possivelmente, continuam a ser) percebidas pelas empresas, sem que
surjam condições propícias ao seu aproveitamento.

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Se assim for, a difundida noção de que no período 1980/2003 as empresas se


valiam, predominantemente, de estratégias defensivas, está mal formulada. As
empresas, especialmente no campo industrial, mudaram intensamente ao longo do
período – e isto já é um indício de que buscaram, intensamente, novos
posicionamentos.

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Referências

ARAUJO, José Prata. Um retrato do Brasil: balanço do Governo Lula. São


Paulo:Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.

CATANI, Afrânio Mendes. O que é Capitalismo. São Paulo:Brasiliense, 1998.

CATELLI JUNIOR, Roberto. Brasil: do café à indústria. São Paulo: Brasiliense,


1992.

COSTA, Emília Viotti da. Introdução ao estudo da emancipação política do


Brasil. In: MOTTA, Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. Rio de Janeiro:
DIFEL, 1978.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 15 ed. São Paulo: Editora


Nacional, 1977.

LAPA, José Roberto do Amaral. A economia cafeeira. São Paulo: Brasiliense,


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PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo:Brasiliense,


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1977.

REZENDE, Cyro. Economia brasileira contemporânea. São Paulo:Contexto,


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