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Admin, O BRINCAR COMO ATIVIDADE E SUAS CONTRIBUIÇÕES À EDUCAÇÃO INFANTIL
Admin, O BRINCAR COMO ATIVIDADE E SUAS CONTRIBUIÇÕES À EDUCAÇÃO INFANTIL
Resumo
Trata-se de um ensaio teórico acerca das contribuições oferecidas pelas brincadeiras e jogos
ao desenvolvimento e à educação infantil, na perspectiva da Teoria da Atividade de Leontiev.
Para Leontiev o brincar é a atividade principal da criança na idade pré-escolar, sendo
responsável pelas principais mudanças no seu desenvolvimento, pois ao brincar ou participar
de jogos que envolvam outros sujeitos, a criança se vê frente a situações que exigem dela o
uso da imaginação, de conhecimentos prévios, da elaboração de estratégias de solução de
problemas, melhores formas de interação etc. Ao longo deste processo vão sendo
desenvolvidas suas habilidades, capacidades cognitivas, emocionais e sociais. Deste modo, as
aprendizagens escolares podem ser favorecidas e impulsionadas pela incorporação do brincar
na educação infantil.
Abstract
This is a theoretical paper about the contributions offered by plays and games to development
and early childhood education on Leontiev’s Activity Theory. For Leontiev playing is the
main activity of the child at preschool age, being responsible for major changes in its
development, because the play or participate in games involving other subjects, the child is
faced with situations that require the use of her imagination, prior knowledge, the
development of strategies for solving problems, better ways of interaction and so on.
Throughout this process are being developed skills, cognitive, emotional and social skills.
Thus, school learning can be favored and driven by the incorporation of play in early
childhood education.
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cultural, entre outras. Cada uma dessas pois como essa não constitui uma atividade
perspectivas apresenta uma visão própria produtiva, se isenta dos aspectos
acerca da temática, apontando as principais obrigatórios das ações condizentes com as
contribuições do lúdico ao condições materiais concretas
desenvolvimento físico, cognitivo e apresentadas. As brincadeiras passam
emocional das crianças pautadas nas então a serem concebidas como atividade
singularidades dos seus respectivos principal da criança na idade pré-escolar,
referenciais. sendo responsável pelo desenvolvimento
No que se refere à utilização de dos seus processos psicológicos.
brincadeiras e jogos na educação infantil, Assim sendo, não se pode
também podem ser identificados vários minimizar o papel desempenhado pelo
trabalhos que os concebem como lúdico na educação, já que ele também
elementos fundamentais no processo de promove a aquisição de aprendizagens que
ensino-aprendizagem. Tendo em vista o geram desenvolvimento. A concepção de
campo teórico-conceitual construído em aprendizagem subjacente a esse
torno do brincar e de suas implicações ao posicionamento conceitual é aquela que
desenvolvimento e aos processos de defende o ensino ocorrendo na interação
aprendizagem, assumiremos uma posição e do aluno com outros sujeitos,
desenvolveremos este presente trabalho especialmente com o professor, o qual é
dentro de uma perspectiva particular: a da “responsável pela organização dessa
psicologia histórico-cultural, relação para desenvolver, simultaneamente
particularmente, a Teoria da Atividade de com o intelectual, aptidões sociais. O aluno
Leontiev (1983), uma vez que o conceito é um ser ativo, capaz de assimilar a
de atividade ressalta a autenticidade das realidade externa de acordo com suas
brincadeiras e jogos na educação. estruturas mentais” (Pedroza, 2005, p. 62).
Para Leontiev (2001) a origem do A assimilação da realidade ocorre através
brincar se localiza na contradição que a da realização de atividades com os objetos
criança experimenta entre querer agir como que compõem o mundo humano, neste
os adultos, mas não poder porque ainda movimento ocorrem aprendizagens porque
não dominou e não pode dominar as a criança internaliza os conteúdos culturais
operações exigidas pelas condições presentes nos objetos. Portanto,
objetivas reais da ação dada. Esta
[...] a imitação através do jogo, a busca
contradição é solucionada na brincadeira, da compreensão de regras, a tentativa de
aproximação das ações adultas vividas
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interações variadas com seus pares etc. A tipo de jogo para o desenvolvimento
partir disso, “podemos dizer que a infantil são enormes, pois o respeito às
brincadeira projeta a criança no vir a ser, regras impulsiona o desenvolvimento da
possibilita-lhe novas maneiras de autodisciplina. De acordo com Leontiev
compreender a teia de relações sociais na (2001a, p. 139) “dominar as regras
qual se insere” (Vieira, Carvalho, & significa dominar seu próprio
Martins, 2005, p. 42), favorecendo comportamento, aprendendo a controlá-lo,
desenvolvimento de suas funções aprendendo a subordiná-lo a um propósito
psíquicas, especialmente a abstração. definido”.
Na perspectiva da Teoria da
Atividade, o brincar de faz-de-conta na Brincar e educação: concepções,
idade pré-escolar constitui a atividade possibilidades e o papel do professor
principal da criança nesse estágio de
desenvolvimento, sendo a atividade A interface entre psicologia e
principal aquela “cujo desenvolvimento educação permite aventar as inúmeras
governa as mudanças mais importantes nos articulações existentes entre o
processos psíquicos e nos traços desenvolvimento e o processo de ensino.
psicológicos da personalidade” (Leontiev, Em decorrência disso, a relação entre os
2001b, p. 65). Assim, compreende-se que o conhecimentos psicológicos e pedagógicos
brincar de faz-de-conta impulsiona vários tem adquirido um destaque cada vez maior,
processos psicológicos, como a abstração, tendo em vista que deste modo fica
o autocontrole etc. Sem o desenvolvimento favorecida uma reflexão mais abrangente
desses processos, a aprendizagem da em torno das possibilidades de se
criança da faixa etária da escolar, que se “promover melhores condições de
segue, seria grandemente prejudicada. desenvolvimento por meio da educação.
No desenvolvimento do brincar, Nesse contexto, a inserção do brincar pode
posteriormente aos jogos de papéis constituir-se em um elemento importante
começam a tomar forma os jogos com para o ensino nas instituições educativas.”
regras. Conforme descrito anteriormente, (Carvalho, Alves, & Gomes, 2005, p. 218).
os jogos de papéis apresentam regras Até porque, conforme já exposto
implícitas e uma situação imaginária anteriormente, o brincar é a atividade
explícita. Já nos jogos com regras a principal da criança em idade pré-escolar
situação se inverte. As contribuições deste sendo responsável pelas principais
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(Leontiev, 1978), ele pode ser favorecido educandos nos momentos de ludicidade.
mediante brincadeiras e jogos. Para tanto, Assim, reforçam não apenas o agir
espera-se do educador, em termos de intencional das crianças na apreensão das
desempenho pedagógico, que ele organize formas culturais materializadas nos
e estabeleça os meios favoráveis às brinquedos, brincadeiras e jogos, o que
brincadeiras dos alunos, que têm na escola lhes impulsiona o desenvolvimento, mas
grande parte de suas relações, saberes e também orientando e estimulando a
repertórios comportamentais construídos. manifestação de formas consideradas mais
Como as brincadeiras e jogos adequadas de interação e convívio social,
possuem caráter social, pois ocorrem nas bem favorecendo o desenvolvimento de
interações que são estabelecidas entre as maior autonomia, uma vez que não se pode
crianças e outros sujeitos e com o meio perder de vista que este é um movimento
sociocultural, também constitui uma das que implica ação, interação e construção
atribuições do professor agenciar formas própria.
adequadas de relacionamento entre seus
Referências
Ide, S. M. (2007). O jogo e o fracasso escolar. In: T. M. Kishimoto (Ed.). Jogo, brinquedo,
brincadeira e a educação (pp. 89-108). São Paulo: Cortez.
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Vieira, T., Carvalho, A., & Martins, E. (2005). Concepções do brincar na psicologia. In: A.
Carvalho (Ed.). Brincar(es) (pp. 29-50). Belo Horizonte: Editora UFMG.
Os autores:
Jorge Luiz da Silva. Psicólogo. Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). Doutorando em Saúde Pública.
Bolsista FAPESP. Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública. Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto (EERP). Universidade de São Paulo (USP). E-mail: jorgelsilva@usp.br
Wanderlei Abadio de Oliveira. Psicólogo. Doutorando em Saúde Pública. Bolsista CAPES. Programa de Pós-
Graduação Enfermagem em Saúde Pública. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP). Universidade
de São Paulo (USP). E-mail: wanderleioliveira@edu.uniube.br
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