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Positivismo Juridico e Discricionariedad
Positivismo Juridico e Discricionariedad
DISCRICIONARIEDADE JUDICIAL
A Filosofia do Direito na encruzilhada do
Constitucionalismo Contemporâneo
www.lumenjuris.com.br
Editores
João de Almeida
João Luiz da Silva Almeida
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HENRIQUE ABEL
POSITIVISMO JURÍDICO E
DISCRICIONARIEDADE JUDICIAL
A Filosofia do Direito na encruzilhada do
Constitucionalismo Contemporâneo
Categoria:
PRODUÇÃO EDITORIAL
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
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“Each of us burts with love of life and fear of
death: we are alone among animals conscious
of that apparently absurd situation. The only
value we can find in living in the foothills of
death, as we do, is adverbial value.” 1
RONALD DWORKIN
XI
o imaginário dos juristas desde o século XIX, época em que, stricto
sensu, iniciam as discussões acerca do positivismo jurídico. Assim
como as coisas não estão nas palavras e nelas não cabem, também o
direito não cabe na lei. Isso já podia ser visto em Antígona, para lem-
brar a primeira objeção de consciência da história da humanidade.
Parece, então, que os juristas chegam tarde nessa discussão.
Por vezes, no âmbito da interpretação-aplicação do direito, a “lei
vale tudo”, isto é, faz-se uma aplicação exegética como se ainda
estivéssemos no século XIX; em outras, encontramos decisões que
desconectam “palavras e coisas”, isto é, desconectam “lei e direi-
to”. Neste último caso, diz-se que esse tipo de “desconexão” é uma
“atitude pós-positivista”...! Mas, pergunto – essa indagação venho
fazendo de há muito em Hermenêutica Jurídica e(m) crise e Verdade
e Consenso – positivismo é, simplesmente, aquilo que entendemos
como o positivismo do século XIX?
Como superar, portanto, essa crise de compreensão – que não
deixa de ser uma crise de paradigmas – que atravessa o direito? A
que devemos debitar esse processo de “coagulação dos sentidos ju-
rídicos”? De há muito tenho buscado a explicação para essa crise.
Nas idas e vindas de minhas investigações, há um ponto que pode
ser considerado como o de “estofo”, onde confluem os diversos cau-
dais doutrinário-jurisprudenciais: trata-se do modo como a teoria
do direito tem compreendido a viragem do fenômeno do positivismo
exegético para as novas formas de ir além do velho formalismo que
dominou as práticas jusfilosóficas desde o século XIX.
Um dos pontos nos quais venho batendo é a diferença entre o
positivismo (ou positivismos) e um adequado posicionamento pós-
-positivista: no(s) positivismo(s), quer-se fornecer respostas antes das
perguntas; já no pós-positivismo, não existem respostas antes das per-
guntas. No conto, está o contado; no conto, também está o contador.
Se a interpretação/aplicação – porque interpretar é aplicar –
fosse uma “questão de sintaxe” (análise sintática), um bom lin-
XII
güista ou professor de português seria o melhor jurista. Seria o
império dos “conceitos” sem coisas. Só que as coisas (fatos, textos,
fenômenos em geral) não existem sem conceitos (ou nomes). 1
Aliás, se não se compreender o direito a partir de uma ade-
quada teoria, pode-se sempre cair em armadilhas, tanto ligadas a
uma perspectiva objetivista, como a uma perspectiva subjetivis-
ta. Há erro nas duas posições, como venho insistindo em dizer
há tantos anos. Um exemplo pode melhorar o nosso entendi-
mento. Trata-se do clássico exemplo de Recaséns Siches, que vou
aqui tornar mais complexo. Se há uma lei que proíbe que se leve
cães na plataforma do trem, a pergunta que se põe é: seria possí-
vel levar um urso? Afinal, apenas os cães estão proibidos... O que
não é proibido está permitido... Ocorre que a palavra “cães” não
esgota o sentido da regra. Neste caso, a partir da reconstrução
da história institucional do direito pelo “método hermenêutico”,2
chega-se à conclusão de que, onde está escrito cães, deve-se ler
XIII
“animais perigosos”, isto é, os animais que podem colocar em
risco os passageiros. Ainda, assim, a reconstrução institucional
deve continuar. Afinal, que tipo de animal está proibido? O que
seria um animal perigoso? Quem define essas “coisas” (animais)
que devem se compatibilizar com o conceito de “perigosos”? É o
juiz? É ele quem escolhe, de forma discricionária (arbitrária)? Ou
ele consultará um dicionário? Há uma listagem de animais peri-
gosos à disposição na literatura jurídica (ou não jurídica)? E, se
houvesse tal lexicografia, o conceito de “animal perigoso” estaria
condizente com o contexto de aplicação (caso concreto), isto é,
“a plataforma de um trem”? Afinal, um conceito “abstrato” de
“animais perigosos” pode ser aplicado à selva ou ao interior de
uma escola, mas não a uma plataforma de trem, pois não?
E, atenção: nem mesmo a palavra “cães” segura o “seu próprio
sentido”, uma vez que não se poderia aplicar a proibição a um
cego levando o seu cão guia (o que parece óbvio). E assim por
diante. Se a holding está assentada em “animais perigosos”, todo
tipo de cão não perigoso não estaria fora da proibição da regra?
Veja-se, desde já e sempre, a problemática relacionada à diferença
hermenêutica entre “texto” e “norma”. Mais do que isso, está-se
diante da necessidade de uma teoria da decisão. Como se decidem
os casos, eis a questão que procuro responder em Verdade e Con-
senso. Na especificidade do exemplo de Siches, se a resposta fosse
simplesmente “sim, pode levar um urso”, estar-se-ia em face de
uma decisão “raso-positivista-exegética” (positivismo primitivo).
Já se a resposta fosse “não, porque onde está escrito cães, leia-se
animais perigosos”, em tese estar-se-ia em face de uma análise pós-
-positivista, isto é, uma análise que superaria o positivismo exe-
gético. Entretanto, o final da história, isto é, a resposta acerca de
como poderia ser classificada a segunda resposta advirá do tipo de
decisão. Se for discricionária a resposta, sem uma reconstrução da
história institucional do direito, poderemos estar em face de uma
XIV
resposta positivista do tipo pós-exegético-voluntarista. Discricio-
nariedade... Eis o problema...!
Pois é neste contexto que me deparo com a obra Positivismo
Jurídico e Discricionariedade Judicial, de Henrique Abel. Trata-se
de um excelente trabalho reflexivo sobre o positivismo jurídico e o
seu problema fulcral: a discricionariedade. Henrique Abel vai fun-
do na discussão teórica acerca das raízes do positivismo e dos po-
sitivismos. Sabe ele muito bem a dimensão dos problemas acarre-
tados em terrae brasilis por uma vulgata do sentido do positivismo.
Por isso, Abel se debruça sobre esse intrincado tema, tendo
como pano de fundo e matriz teórica a hermenêutica (filosófica).
E fê-lo bem, porque este parece ser o caminho mais adequado
para, primeiro, desconstruir o senso comum teórico que sustenta
a errônea compreensão acerca do que seja “o positivismo jurídico”
e, em um segundo momento, demonstrar a importância da recons-
trução que pode ser feita a partir da hermenêutica.
Trata-se de um livro denso e sofisticado, que recomendo à co-
munidade jurídica. Não pode faltar nas melhores bibliotecas. Boa
leitura a todos.
XV
Introdução
1
Henrique Abel
2
Positivismo jurídico e Discricionariedade judicial
3
Henrique Abel
4
Positivismo jurídico e Discricionariedade judicial
5
Henrique Abel
6
1. A clássica crítica de Dworkin
ao positivismo jurídico
2 Embora se possa dizer que o núcleo da obra de Dworkin esteja contido em três de
seus livros (“Levando os Direitos a Sério”, “Uma Questão de Princípios” e “O Império
do Direito”), o breve resumo sobre sua teoria, da forma exposta neste capítulo, é
basicamente centrado em um artigo do autor (“É o Direito um Sistema de Regras?”)
e na obra “O Império do Direito”, que cronologicamente é o último dos três livros
supracitados. Portanto, qualquer ideia atribuída a Dworkin ao longo deste capítulo -
e que eventualmente não tenha sua fonte expressamente referida em nota de rodapé
- foi exposta e trabalhada pelo autor no livro “O Império do Direito” e no artigo “É o
Direito um Sistema de Regras?”.