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in Pedic Mremnlis 2 MiBerrguler Kako, (22714). Cruse cle Soccelo lebih: Gurter Edtiterea - As Teorias Sociolégicas No Tempo ¢ No Espago ” As Teorias Sociolégicas No Tempo e No Espaco Nao bi nada mais prético do que uma boa teoria. Kurt Lewin implica algum conhecimento te6rico.* Por um lado, a Sociolo necessariamente, em determinadas teorias sobre as relagdes s ciedades. Por outro lado, a sua pritica niio deixa de questionar e d ‘esas teorias, a0 longo do tempo. ‘As teorias silo como “janelas” para observar € compreender os fens ‘menos sociais. Neste sentido, um socidlogo deve conhecer diferentes quad- 108 te6ricos para interpretar, de forma mais ampla, os processos que esta 4 estudas, ainda que depois possa usar (e aprofundas) algumas teorias, em detrimento de outras. ‘No presente capitulo, procuramos apresentar as teorias que mais tém. marcado 0 desenvolvimento da disciplina no mundo, relacionando-as com © contexta intelectual, social c politica cen qne surgiram ese difundliram. 2.1 Origens da Sociologia Se bem que o termo Sociolegia e as suas caracteristicas princi- pais apenas viriam a consolidar-se a partir do século XIX, 0 qu mento e a formulagio de teorias para interpretar ¢ explicar os fendmenos (tanto naturais como sociais) que marcam as nossas vidas é algo inerente Aespécic humana e existem herangasdeste processo provententes de diferentes 4 46 civilizagées. Alids, essa & uma das particularidades do Homem, em relasao @® 4s restantes espécies, ¢ que Ihe téin conferido uma vantagem importante no processo de sobrevivencia e selecio natural. © pensamento humano é orientado para compreender as suas interagées com 0 meio envolvente, prevendo novos acontecimentos e, desta forma, melhorando a eficiéncia da cua ago? Na Grécia Antiga, por exemplo, podemos encontrar interessantes € sofistcadas reflexdes sobre a vida social, tanto nas descrigSes historicas e _geogrificas de Herédoto como nos tratados filos6ficos, éticos e politicos de Aristétcles. De igual forma, no século XIV, os estudos realizados sabre 0 mundo érabe por Ibn Jaldin viriam a marcas, de forma decisiva, o desen- volvimento da Historia, da Geografia, da Economia e da Sociologia. Estes trabalhos, entre outros, jf combinavam teorizagbes complexas e consist- entes com observagbes amplas e rigorosas da vida social, o que estaria na base das ciéncias sociais, nfo deixando de incluir elementos ideol6gicos, moralistas, ps turando nas suas anilises da re dade também preconccitos ¢ idcias de como, para os autores, deve sera vida em sociedade. A partir do século XVII, primeiro na Europa Central e depois alas- trando a todo 0 mundo, um conjunto vasto de transformagées interligadas ciro lugar, as mudangas politicas, culturais¢ intelectuais as- sociadas ao Renascimento ¢, sobretudo, ao Huminismo, vieram criar as con digBes propiciasa um interesse por compreendler as dindmicas das sociedades ¢ por procurar reformé-las, Pensadores como o italiano Nicolau Maquiavel, o frances Jean-Jacques Rousseau, o alemao Georg Hegel ou o inglés Adam entre muitos outros, agitaram entio a Europa com reflexdes ac lantes sobre a politica, a cultura ¢ a economia, A imprensa c a escolarizacio permitiram igualmente que os seus trabalhos fossem conhecidos por um segmento significativo das populagées,dando origem aum “espago piblico”. ‘Aos poucos, 0 poder absoluto da aristocracia ¢ do clero foi sendo substitui~ do por sistemas liberais © democriticos, em que o conheci yento eo debate sobre as sociedades nio eram perseguidos, mas sim encorajados, * sta afinmagao esi em Hin com of rcentes avangos no estudo sobse 2 men Ver Damisio, Anténio (2011). O Livro da ConsciéncasA Constr de Cérebro Comsientt, Lisboa: Temas ¢ Debates, Revolugao Francesa seja um marco central deste process0, 0s conflitos entre berais e absolutistas alastraram por toda a Europa, a0 longo do século XIX. Em segundo lugar, os avangos espetaculases que se verificaram na Fisica, na Astronomia, na Quimica na Biologia, a par da consolidacio de um método cieatifico, vieram sevolucionar 0 nosso conhecimento do mundo natural e transformas a propria sociedade, em reas como a satide,a ‘economia ou a comunicasio. Os estudos de Galileo Galilei, Isaac Newt ou Charles Darwin foram, entio, fundamentais para uma nogao radical- mente distinta do mundo ¢ da possibilidade de os homens o conhecerem. Nao tardou a difundir-se a crenga de que a ciéncia era a Gnica forma ver~ dadeira de conhecer a realidade (positivism), assim como a chave para a sobrevivencia, a prosperidade e 0 progresso das nagbes ¢ da propria Hu- manidade, 0 que conferiu 20s cientistas e 4s universidades uma nova auto- nomia, autoridade e financiamento, Nao tardou também a que estas pre~ tensdes de conhecimento cientifico se aplicassem ao estudo das sociedades, estando na origem da Economia, da Ciéncia Politice, da Antropologia © de Sociologia.) Em terceiro lugar, as proprias mudangas profundas ¢ répidas que viveram as sociedades europeias, desde o século XVII, favoreceram as re~ is sobre as sociedades. Em particular, a industrializagao ‘a acumulagio exponencial de recursos, mas gerou enormes ten~ flexdes ¢ as pes permit soese-problemassaciais associados an éxod trolado das cidades, a0 desemprego, a novas formas de exploragio capital- ista e também de resisténcia dos trabalhadores. Enquanto expandia o seu dominio por todo 0 mundo, a Europa do século XIX via-se a bragos com guerras, revolugées e epidemias, tanto a nivel interno como nas colénias. A consolidagio de um sistema capitalista € ados-Nagio fortes, durante lugiio de estudos sobre iniimeros aspetos I,uo crescimento descon- da vida social, assim como teorias que permitissem compreendé-los, con- tribuindo assim para a manutengio da ordem publica Convém notar que estes varios processos © mo Imentos que cara~ cterizam o nascimento da Sociologia nio foram rota nem isentos de tensoes. Isto deu origem a diferentes escolas ¢ qu teéricos, desde a sua fndagZo, como se vera nos trés t6picos seguintes. fnte integrado © «hs cncia, a0 longo dos ura de Boorstn, Daniel J. (1994). Or Desebridree to, Lisbon: Gr Decono Hemem prise combecer-sea si mesna eas Curso de Sociologia 8 2.2.A fandagio positivista Na confluéncia destes vétios movimentos, cia para o desenvolvimento da Sociologia o trabalho do Conde de Saint- Simon (1760-1825), filho rebelde de aristocratas ir na Guerra da In~ dependéncia dos Estados Unidos e apoiante da Revolugio Francesa, que realizou 150s estudos sobre a sociedade francesa, com o intuito de apoiar a sua reforma, segundo principios cientificos. termo Sociologia ~ ju \do 0 termo latim seeius (S6ci0, compan associado) a0 sufixo grego degia (estudo ou conhecimento) — parece ter Jo uilizado, pela primeira vez, em 1824, por Auguste Comte (1798-1857), depois de tar estudado eiéncias rio do Conde de Saint-Simon. Apesar de este autor francts utilizar, com mais frequéncia, o termo Filorofia Pouitiva, escreven diversos livros ¢ organizou vétios cursos em que defendia o estudo .0 da sociedade, com base nos mesmos ios das ciéncias naturais. Defendia urna expécie de fisica social-Pois acreditava 1¢ a sociologia podia produzit um conhecimento sobre 0s fictos sociais to objectivo, come a fisica produ para os fendnemos da natureza. Num: teorias mais con fentou que todas as sociedades evoluem, através de teés estado: primeiro, teol6gico, depois, metalsicoe, por fim, todo 0 caso, Comte nfo escondia a sua pretensio de criar teorias sem reformar a sociedade, tornando-a mais rarional,solidisia e pacifica ‘Jo, Harriet Martineau (1802-1876) © Herbert Spencer (1820-1903) langaram as bases para o desenvolvimento da Socio- logia, no Reino Unido. A primeira foi uma tora e ativista, que estudou economia e se centrom, moral ¢ dos costumes, c pensamento religioso, até grandes e prosperas nagor ios cientificos, Contudo, a sua sigsmo pela teoria da selegio 0: a entender as sociedades c sin assentes em princi inglés € 0 se pte de forma a garant ctiticava 0 papel dos estados e das religides, considerando que as sociedades devia erescer “livremt ‘Em Franga, 08 pri Saint-Simon e Comte foram apr As Teorias Socioldgicas No Tempo ¢ No Espago Emile Durkheim (1857-1917), criador do primeiro Departamento de So- na Universidade de Bordéus, assim como da primeirs revista da ste autor francés centrou-se no problema da ortlem e da integragio estas, designada como anomia. Na das sociedades, bem como a auséncia ‘sua tese de doutoramento, comegon por observar que, nas pequenas comu~ nidades, a integragao entre os individuos ocorre pela existéncia de uma forte io social do trabalho (solidariedade ‘as sociedades modernas, a dimensto das popu- srentes des laborais faz. com que a me fragmente, oindividualismo se expanda e 0s conflitos sendo necessirias instituigdes com Lunges especificas {que velam pela integragio da sociedade (solidariedade organ ‘A influencia de Durkheim esta associada & sua preocupagio por de- senvolver um método especifico, inspirado nas ciéncias aaturais, mas adap~ tado & Sociologia. Neste sentido, enfatizou o facto de ser importante elaborar hipsteses teérieas e,em seguida, testé-las através de observagées objetivas,em particular, com recurso as estatistcas. Em termos teéricos, procurou demons~ {rar que existiam factos propriamente socials, isto é que nfo eram redutivels a conscigncia e A vontade dos individuos. O seu estudo sobe 0 suicidio consti 1 grande estudo, desenvolvido com um método especificamente lagoes ¢ a sua especializagio em ‘orientado para demonstrar que inclusive as decisties mai icadas por eausas sociais (ver caso 3). Durlcheim concenttou-se no estudo da religito ¢ da educagio, concebendo-as como as principais instituigSes que cumprem 4 Fangio de integrasio das sociedades, através da socializagio dos seus mem~ bros em normas e valores semethantes. No primeiro caso, em didlogo com a “Antropologia, 0 autor defende que as religides sio produ representacdes ancestrais das norm: so entendidos como momentos de “efervescéncia co 10s aceitam, interiorizam e celebram a propria s caso, verificando que & insuficiente para assegurar a integragio dos em que os indi~ ade. No segundo tl da Socio: tonal Prcenga, 9 so acertas nor- ferentes atividades profissionais, por out. 2.3.A teoria materialista Anda no século XIX, combinando influéncias da Filosofia, da Eeono- mia e da Histéria, disciplinas ja mais estabelecicas & época, Karl Marx (1818- teoria em que se explica a sociedade pelos mo- dos relagtes de produgio articular, pela capacidade desta definir diferentes classes sociais, com condigées ¢ interesses especificos:’ Assim, 1 ago dos individuos nao seria consequéncias das suas idcias, erengas ¢ valores (idealismo). Ao invés, os modos de pensar seriam um reflexo das priticas dos indivicos,resultantes das suas condigoes de existéncia c, logo, do sew lugar nas relagbes de producto. [Nesta formulacio, as sociedades nfo se encontram integradas por um con= Junto de normas e valores com tem estado de anomia, Pelo contritio, a uta de clases é uma situaso permanente ¢ estrutural, constituindo, ali tor da Hitt (da evolu das socedades). No Europe, hie alansado dos individuos fossem exp plas suas condigdies ¢ posigio nas relagoes de produgo (infra-estratura), Marx reconhecia também a importincia clas les, das convengoes e das id fe podemos hoje denominar a cultura. sociedade,vineulada , seria responsivel pela nado,semse revoltar agida pela class Além do caricter inovador ¢ consistente desta teoria, em Filosofia do seu tempo, mas reconhecendo também a influéncia de Saint-Simon, os estudos de Marx, resultantes da sua circulagio entre a Alemanha,a Franga e 0 Reino Unido, apoiam-se numa profusio de dadlos sobre diferentes sociedades e tempos histéiricos. Esta capacidade de observaglo rigorosa das sociedadies do seu tempo foi ampliada pela sua colaboracao iedrich Engels (1820-1895) um analista arguto das condigées (de miséria) da classe trabalhadora do seu tempo. | preferindo conceitos apasentados como Ezonomia Poti a lege do foi fundamental para o desenvolvimento da disciplina, como veremos adiante. 2.4. escolahermenéutica pal do século XIX, sobretudo na Alemanha, alguns pensadores comegaram a desenvolver teorias sociolégicas, segundo uma linha “anti-positiv- jsta’, Influenciados por filésofos como Kant, Nietzche ou Hegel, estes autores argumentavam que as sociedades — em vez de serem regidas por leis objetivas, universaise intemporais, como a natureza ~ eram construidas pela agio (subje- wm produzindo Urn dor fandodores dest ina de pensamento foi Georg Simmel (1858-1918). Os seus estudos “micro-soci " munca procuraram de- screver ou explicar a sociedade, corno um todo, mas sim compreender alguns das suas interagdes, em par- ymel tonou-se uma seferéncia ticular, em contextos urbanos.® Desta forma, de culto sobre fenémenos centrais das sociedades modemas, como a sociabilidade Curto de Socialogia & nmel, o também alemio Max Weber (1864-1920) ia ainda maior no desenvolvimento da Sociologia, lnspirado por a ter uma influ 105, sendo estes movidos pela subjetividade, intencional individualismo metodol6gico). O seu compéndio Eronomia e Sociedade omeado o livro de sociologia mais influente do século XX, logos de todo o mando promovido pela International jon (ISA), tendo 0 seu estudo 4 Etiea Pretetante ¢ 0 0 do Capitalizma ocupado 0 quarto lugar.” Em contraste com a concepgio materialista da Histéria defendida p Karl Mare (ver 2.2), Weber argumentou, num dos seus estudos pri que o capitalismo que florescia na Europa era caracterizado por um “espi classes, mas nos p pios éticos vinculados pelas igrejas protestantes (ver caso 6). Na mesma lin- hha, estudou as questées do poder ¢ da autoridade, procurando compreender as desigualdades existentes entre os individuos. Comesou por observar a ex- ico dos processos de racionalizagdo, associados as grandes des modernas, como as empresas ¢ 0 estado, Reconhecendo o principio marxista de que as relagbes de produgio 1s desigualdades entre os individuo trabelhadores, Weber argumenton que existiam, pelo. menos, sociedades: 08 urais fariam com que os idades aos elementos do seu grupo; ea esfera po ,cajo dominio sobre as grandes s0es, nomeadamente o Estado, permitia uma distribuigao al dos recursos ¢ da autoridade. ‘A par de Emile Durkheim e de Karl Marx, Max Weber “classicos” da Sociologia. As di te tpico podem tia Prtetante 0 das posigbes de cada um destes pensadores. Por seu lado, 0 reconhecimer 4quase undnime entre 08 socidlogos da influéncia destes trés ator Como alguns aspetos comuns as suas teorizagoes, conferiram & disci ‘dade... na diversidade. Caso 6.A ética protestante e 0 espitito do capitalismo Em 1904 ¢ 1905, 0 socidlogn Max Weber esereveu alguns ensaios sobre a relagio entre a 1 socioecondmica ¢ a vida religiosa que viriam a ser ‘Iados ¢ atualizacos nu livro publicado em 1920, no final da sua vida. A fo central que orientou a investigago de Weber Ft: como explicar 0 de~ ‘seqvolvimento do capitalismo, em particular, na Alemanha ¢ na Inglate contraste com 0 abservad [Na primeira parte, © autor define o probles incipais. Neste sentido, mostra como o capitalist fica perante a vida, comum 208 cesforgo, na ordem, n upanga e na acamulagio as ofientagées e habitos de vida p esta atinude nfo era comum entre os Igrejas Protestantes alimentaram est do a ideia de que o trabalho desprendimento mat ‘valores sagrados. Poxém, argumenta também que o “es inglés ¢ introduzide nos ‘Talcott Parsons, este estudo reve uma enorme iniluéncia na Sociologia, a0 te éxito deveu-se a0 facto de divergir da ex- ificando, pela di- s4 de origem centro-europeia que rapidamente se expandi por todo o mn Cont, mais recentemente, ete estudo tem sido também tma refeéneia central para autores como George Ritzer, Manuel Castells ou Ulrich Be qe tem discutido os limites e riscos geridos pela supremacia da raciond dade ccondmica, nas sociedades contemporineas, cm contraste com o fate recente de movimentos politico-econémicos no Sudoeste Astitico out an América Latina, associados a outtos referents éticos Sr ea aae sans hoeindoa vue sea AMEIEAHTICHE 2.5 Escola de Chicago ¢ o Interacionismo Simbélico As diferentes teorias sociologicas apresentadas nos t6picos antetiozes nao tardaram a difundir-se nos Estados Unidos, dando origem a novos de, jprolvimentos na disciptina. Talvez por se tratar de uma sociedade nuts liberal diversa e individualist, isto é menos integrada ¢ menos regulada Pelo Estado, a inflgncia da tradigio hermenéutica alemf pureee ter aide g Ke ful pritciro momento, exerceu maior influénca, em particular pelos estudos de Georg Simmel ¢ de Willhelm Dikthey A designada Escola de Chicago comesou, eno, a desenvolver estudos sobre a vida na cidade (e da cidade), pela mio de autores como Einest Ban gusss, Robert Park ox William Thomat, entre vutsos, Ume-preacupayio cen. tral era revelaranalisar¢ logo npoiar a intervengo perante novos problemas estas asociados 20 ripido e desordenado crescimento da ineteépole, como & miséria, a marginalidade, os semabrigo, a delinguéncia, o alcoolienve ou 4 jmigrasio, Estes autores sio reconhecidos fundadores da desigmada Socio. login (¢ Antropologia) Urbana — assim como sua influéncia na disciplina seja muito mais vasta, Inflenciada inicialmente pela Psicologia, Biologia e Pedagogia, a Escola de Chicago (também conhecida por Bicola Heligice) baseare ce cx, alguns pressupostos evolucionstas, em particular, que o individvos eng. Crunishes tendiam a adaptar-se continuamente a0 meio cm que vivian ticularmente relevante ¢ inovador @ modo (eoletive) come m novas questoes sociais, utlizando ¢ aprofundando o método de bservagdo etnogrifca que, recentemente, hava sido desenvolvide, no aa

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