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Table of Contents

Prologo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Chapter 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17
Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Epilogo
Índice

Prólogo

Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21
Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Epílogo

Prólogo

UM ANO ATRÁS

Uma coisa que ninguém avisou à Taylor Carr para estar preparada
em seu primeiro dia no emprego novo na revista masculina mais
vendida do país?

O colírio para os olhos.

Na forma de uma enorme quantidade dos caras mais gostosos que


ela já vira, cada um mais bem vestido e mais charmoso que o outro.
Hoje em dia, Taylor gostava de considerar a si mesma o tipo de
mulher pragmática. Ela provavelmente havia sido chamada de
intimidadora pelas costas algumas vezes.

Mas aqui, em meio à perfeição vestindo terno que eram os homens


da revista Oxford, ela se sentia um pouco, bem...

Sem fôlego.

Taylor tinha um tipo, e a beleza que emanava dos elegantes, bem-


sucedidos e impecáveis caras da Oxford se encaixava em todos os
seus pré-requisitos.

Tudo começou na entrevista com o editor-chefe. No que diz respeito


aos espécimes masculinos, não tinham como ser mais gostosos do
que o lindo moreno de olhos verdes e cabelos cheios que era Alex
Cassidy.

Mas mesmo que o título de chefe a princípio não o marcasse como


zona proibida, a aliança de casamento tinha sido um claro olhe, mas
não toque.

No entanto, estava ficando cada vez mais claro que Cassidy era a
regra, não a exceção. Até agora em seu tour pelas instalações, ela
conhecera pelo menos meia dúzia de caras que se qualificariam
como perfeitas notas dez em sua agenda de contatos.

Todos eles bastante indisponíveis.

Seu novo chefe lançou lhe um olhar arrependido quando ele fez uma
pausa no passeio deles pelo escritório.

— Odeio ter que fazer isso no seu primeiro dia, mas tudo bem se eu
pedir que outra pessoa te acompanhe no resto de seu tour? Tenho
uma reunião da qual tentei escapar em cinco minutos, mas...

Taylor acenou com a mão para Alex Cassidy.


— Por favor. Não se preocupe com isso. Só me indique alguém que
possa me mostrar onde fica o café e me dar algumas
recomendações de lugares para almoçar, e terei tudo o que preciso.

O editor-chefe havia passado os últimos quinze minutos guiando-a


pelo local, fazendo apresentações, dando o típico discurso “somos
como uma família”, embora ela tivesse que admitir que, com base no
que viu, parecia mesmo um pouco como uma família.

Ela ia gostar daqui. Estava determinada a gostar.

Cassidy sorriu.

— Isso eu posso fazer. E sei a pessoa ideal para isso.

Taylor se preparou para encontrar outro homem irritantemente


atraente, mas o pequeno escritório para o qual Cassidy a levou
pertencia a uma mulher. A uma bonita jovem de vinte e poucos anos,
com cabelos loiros, olhos azuis brilhantes e um sorriso amigável.

— Brit, essa é Taylor Carr. Ela está começando hoje na equipe de


publicidade. Taylor, essa é Brit Robbins, profissional extraordinária de
marketing digital.

Brit sorriu.

— Bem-vinda! Que sapatos maravilhosos — ela elogiou com um


olhar de aprovação para os Jimmy Choos de Taylor.

— Eeeee essa é a minha deixa — brincou Cassidy, já saindo do


escritório. — Você se importa de mostrar à Taylor o resto das
instalações? Especificamente, o lugar onde ela encontrará café?

— Devo também contar a ela que o café é ruim porque você não
substitui a máquina? — Brit disse para um Cassidy já em retirada.

Ele não respondeu, e Brit voltou a atenção para Taylor, dando-lhe


uma olhada descarada, mas amigável.
— Então... Por favor, não me ache atrevida, mas há uma escassez
chocante de mulheres elegantes nesse lugar. Alguma chance de
você querer ser minha melhor amiga e conversar sobre garotos
comigo?

Surpresa, Taylor riu com divertimento. Ela nunca fora muito feminina.
Durante a infância, havia sido quase dolorosamente tímida, de uma
maneira que as outras crianças interpretavam como retraimento. No
ensino médio, a conduta fria de sua tia já havia afetado Taylor o
suficiente para que a sensação de ser evitada pelas outras garotas
não a machucasse… tanto.

Na faculdade foi melhor. Um pouco. Ela se juntou a uma irmandade e


aprendeu a ser simpática com as outras garotas, por assim dizer.
Também aprendeu que, para toda mulher competitiva e mal-
humorada por aí, havia uma amiga leal e perfeitamente agradável.

Ainda assim, Taylor podia contar as verdadeiramente boas amigas


que tinha com apenas uma mão, e nenhuma delas morava em Nova
York. Ela definitivamente estava à procura de uma melhor amiga que
morasse na mesma cidade.

Taylor se inclinou para frente e baixou a voz para um sussurro.

— Então eu não fui a única que percebeu.

— Que moramos na sede de caras gostosos? Não, confie em mim.


Passei os primeiros seis meses tentando lembrar de limpar a baba.
Eu era basicamente o pior pesadelo do RH.

— Nada de namoro entre colegas de trabalho?

Brit encolheu os ombros enquanto pegava o celular e gesticulou para


que Taylor a seguisse pelo corredor.

— Até onde eu sei, não é uma regra oficial. Só sei que me falta
maturidade emocional para lidar com um romance no local de
trabalho.
— Nem mesmo uma ficada em uma confraternização de feriado?

— Não. Mas se Lincoln Mathis olhasse na minha direção duas vezes,


eu violaria todas as minhas regras.

— Sim, eu o conheci. Ele é... — Taylor se interrompeu, tentando


descobrir como descrever o jornalista de cabelos pretos e olhos
azuis que Cassidy havia apresentado a ela mais cedo.

— Não há palavras — Brit concluiu a frase para Taylor — Não há


palavras para descrever alguém tão bonito.

— Ele tem namorada?

Brit deu de ombros.

— Não tenho certeza. Ele tem uma reputação de mulherengo, mas a


maioria dos caras que trabalham na redação também tinha antes de
firmarem compromisso.

— Existe uma divisão grande entre o pessoal da redação e o resto


de nós? — Taylor perguntou.

— Todos são amigáveis, mas normalmente os colunistas ficam de


um lado do prédio e o grupo de operações e estratégia do outro.

— Alguma chance dos caras do lado das operações e estratégia


terem uma aparência mais humana? — Taylor brincou.

Brit levantou o dedo e apontou para uma porta à direita.

— Banheiro feminino, caso Cassidy tenha se esquecido de mostrar.


Mas não, também temos a nossa cota de gostosos do nosso lado,
embora eu prefira morrer do que admitir isso para o Hunter.

— Hunter Cross? — Taylor perguntou.

Brit a olhou de relance.


— Meu melhor amigo. Você o conhece?

— Só pelo nome. Foi bastante grande o fato de ele ter deixado um


cargo de vice-presidente na última empresa de marketing que
trabalhou para ocupar uma função inferior aqui.

— Por favor, não diga isso para ele — Brit respondeu em tom de
brincadeira. — Ele já é insuportável o suficiente.

E bonito também. Taylor nunca o conheceu pessoalmente, mas, com


base na foto de rosto que viu dele, Hunter Cross provavelmente se
misturava muito bem com a equipe da Oxford.

— Você vai trabalhar em um escritório privado ou na bullpen? —Brit


estava dizendo.

— Escritório — respondeu Taylor.

“Bullpen” era o nome usado para uma área de trabalho ampla – em


vez de ficar em escritórios individuais, os funcionários trabalhavam
lado a lado, sem portas os separando. Esse tipo de organização
costumava ser usada para funcionários de equipes juniores ou para
grupos cujas funções exigiam mais colaboração que privacidade.

— Bem, se algum dia você precisar encontrar alguém na bullpen,


bem-vinda ao centro de tudo. — Brit parou e gesticulou para o
cenário movimentado diante delas.

Os homens ainda eram a maioria no local, embora houvesse mais


mulheres desse lado do que no grupo da redação – majoritariamente
composto por homens gostosos em seus escritórios particulares.

Muitos funcionários olharam para ela e Brit, os olhares amigáveis,


mas curiosos.

Ela odiava ser a novata – odiava sentir-se vulnerável em qualquer


situação, por medo de que alguém enxergasse através de seu
escudo de confiança e a chamasse de fraude. Que a expusesse pelo
que ela realmente era por dentro: solitária. Talvez um pouco
impossível de ser amada, caso ela quisesse fazer as coisas soarem
mais melodramáticas.

Para se antecipar, Taylor ergueu o queixo e colocou um sorriso no


rosto, um não tão arrogante, apenas... distante. O tipo de sorriso que
impedia as pessoas de se aproximarem demais antes que ela tivesse
a chance de decidir se queria que se aproximassem.

— Ok, a última parada é na copa da sala de descanso. Depois, vou


levá-la para almoçar. Pediremos vinho e não contaremos a ninguém
— disse Brit, tocando o braço de Taylor para chamar sua atenção.

Dessa vez, o sorriso que Taylor deu foi verdadeiro. Ou Brit não
comprou as vibes de “mantenha-distância” de Taylor, ou não se
importou, e já havia decidido cumprir a ameaça que fizera sobre se
tornar sua nova melhor amiga.

Taylor se deu conta de que não se importava nem um pouco. Ela


havia gostado da outra mulher, que era simpática sem ser melosa.

Taylor tinha começado a seguir Brit quando sentiu um par de olhos


sobre ela. Como a novata, já sabia que havia muitos olhares sobre
ela, mas esse era diferente – intenso. Como se de algum jeito ela
pudesse sentir o peso do gesto.

Ela virou a cabeça levemente, examinando a sala até encontrar a


fonte.

No segundo em que seu olhar colidiu com o dele, ela soube que o
homem que a observava era tudo o que os outros caras da Oxford
não eram.

Seu cabelo escuro era um pouco longo demais, o maxilar


aparentemente não muito fã de barbeadores. A camisa social branca
era parecida com a que os outros homens vestiam, mas em vez de
combinada com uma gravata e terno, a dele tinha um botão aberto e
as mangas arregaçadas até os cotovelos. Se ele se levantasse,
Taylor não ficaria nem um pouco surpresa em ver a peça de roupa
para fora da calça.
Nada disso a incomodou tanto quanto os olhos. Não a cor. Ela
deduziu que talvez fossem de um tom castanho bastante comum,
embora ele estivesse muito longe para se ter certeza.

Não, o que a incomodou foi a maneira como ele a observava.

Não exatamente sorrindo, mas de uma forma que parecia saber de


tudo. Como se ele fosse a única pessoa na sala que tivesse
desvendado-a, e quisesse que ela soubesse disso.

Taylor virou a cabeça, mas quando fez isso, podia jurar que o viu rir.
Dela.

Taylor levantou o queixo e continuou caminhando atrás de Brit,


dizendo a si mesma que aquilo não tinha importância. O cara sequer
fazia o tipo dela, e as chances eram que seus caminhos nunca mais
fossem se cruzar.

Ela se afastou da bullpen, sem ceder à vontade de se virar e olhá-lo


uma última vez.

Ela não fez isso.

Mas o fato de querer fazer a incomodou.

Mais de oito horas depois, Taylor se enfiou em seu sobretudo e


caminhou para o saguão do elevador, recusando-se a mancar,
embora as sandálias Jimmy Choo estivessem declarando guerra à
lateral do dedo mindinho dela.

Passava das sete da noite e a maioria da equipe da Oxford


começara a deixar o local algumas horas atrás, então ela tinha o
lugar quase todo para si.

Ela havia ficado até mais tarde a fim de terminar o treinamento para
novos funcionários – todos aqueles cursos online exigidos pelo RH,
os quais a maioria reforçava o óbvio e fritava os neurônios.
As portas de um dos elevadores estavam fechando quando Taylor se
aproximou, mas ela rapidamente deu um soco no botão de descida,
na tentativa de pará-lo.

As portas reabriram e Taylor entrou, e, no segundo seguinte, seu


corpo vacilou por razões que não tinham nada a ver com os sapatos.

Era ele.

O cara deliciosamente não-engomadinho que a observava mais


cedo.

Ela estava errada sobre a camisa social branca. No fim das contas,
não estava para fora, mas sim enfiada em uma calça jeans escura,
com a dose certa de desleixo.

Taylor não teve coragem de perguntar a Brit sobre ele quando as


duas saíram para almoçar. Ela nem sabia ao certo porque queria
saber.

De perto, ficou ainda mais claro que ele não fazia seu tipo. Taylor
sempre procurava caras sérios e bem-vestidos. Caras com quem ela
poderia contar.

Este estava encostado na parede de trás do elevador quando ela


entrou, e desviou o olhar do celular bem a tempo de vê-la tropeçar.

— Você está bem? — ele perguntou.

Castanhos. Ela estava certa sobre os olhos dele serem castanhos.

— Claro que sim. — A resposta constrangida saiu um pouco mais


arrogante do que ela pretendia, e ele ergueu as sobrancelhas em
diversão.

Taylor virou-se para encarar as portas do elevador enquanto elas se


fechavam, mantendo o olhar fixo para frente, mas, com o canto do
olho, o viu se mover para a parede lateral da cabine e deslizar o
celular no bolso de trás.
Ele encostou o ombro no elevador, estudando-a abertamente.

— É sério isso? — ela disparou, irritada com o escrutínio dele.

Ele apenas sorriu e se endireitou, estendendo a mão direita. Ela


queria agir de forma mesquinha e ignorá-lo, mas as boas maneiras
exigiam que ela se virasse e o cumprimentasse.

Taylor se arrependeu no mesmo instante. O contato da palma da


mão dele contra a dela foi elétrico. Ela respirou fundo.

Ele abriu ainda mais o sorriso.

— Nick Ballantine.

— Taylor Carr — disse ela, puxando a mão de volta e virando-se


mais uma vez para a frente do elevador, para que ele não visse o
quão desorientada ela se sentia. O que havia de errado com ela?

Ele era só um cara.

O elevador parou no andar de baixo e abrindo as portas para um


grupo de mulheres lindas. Taylor passou um tempo admirando os
saltos altos maravilhosos, imaginando se os sapatos delas estavam
pinicando tanto quanto os seus depois de um longo dia.

— Primeiro dia? — Nick Ballantine perguntou, ignorando as recém-


chegadas, a atenção focada inteiramente em Taylor.

— Sim.

— Qual equipe?

— Publicidade. E você? — ela indagou, olhando para ele.

Nick ajustou a bolsa no ombro.

— Nenhuma. Trabalho por contratos eventuais. Sirvo de substituto


quando Cassidy precisa de um colunista reserva.
— Então você não trabalha aqui em tempo integral?

— Isso foi um tom de decepção, Srta. Carr? — perguntou ele,


esfregando a palma da mão preguiçosamente ao longo da barba por
fazer escura no queixo.

— Isso foi ego no seu tom de voz, Sr. Ballantine? — ela retrucou.

Ele apenas sorriu ainda mais quando o elevador chegou ao hall de


entrada e a porta se abriu. As mulheres tagarelas saíram primeiro e
Taylor seguiu bem atrás delas.

— Srta. Carr.

Ela suspirou e virou-se para Nick Ballantine, que a seguiu pelo


saguão luxuoso.

— Sim? O quê?

Ele caminhou na direção dela, parando perto o suficiente para que


ela tivesse que olhar para cima.

— Por que você não gosta de mim?

Ele parecia genuinamente curioso, talvez um pouco entretido, e


embora sinceridade fosse geralmente uma característica que Taylor
apreciasse bastante, ela não gostou de ter sido chamada a atenção
por ter reagido de forma estranha a ele.

— Eu não te conheço — ela respondeu.

— Então você interpreta esse papel de princesa do coração de gelo


com todo mundo?

A pergunta foi proferida em tom de provocação, mas ainda doía.

Princesa do coração de gelo.


O rótulo dificilmente era algo novo, mas ela trabalhou duro para
erradicá-lo nos últimos anos – para lembrar que só porque fora
criada por Karen Carr não significava que tinha que se tornar Karen
Carr.

Ainda assim, havia momentos em que Taylor se perguntava se sua


frieza e distanciamento para com as pessoas fazia parte do DNA
dela ou algo assim. Porque ela não fazia amigos com facilidade – Brit
Robbins era uma exceção promissora.

E, embora soubesse que os homens gostavam de sua aparência, ela


aprendera da maneira mais difícil que aparentemente tinha um caso
de uma noite só estampado no rosto dela, em vez de um para ser
apresentada à família.

Ela era irritadiça e sabia disso. Mas desejava que, só uma vez,
alguém compreendesse. Que entendessem que ela não era assim
tão fria, mas sim cautelosa. Que não sabia como demonstrar
vulnerabilidade ou delicadeza não porque não sabia sentir, mas
porque havia passado os últimos vinte e poucos anos sendo
constantemente lembrada de que chorar a tornava alguém fraca, que
sentimentos a deixariam vulnerável e que a única pessoa com quem
podia contar era ela mesma.

Taylor tinha esperanças de que um dia alguém a enxergasse – a


entendesse.

Hoje não era esse dia, e Nick Ballantine não era o homem que faria
isso.

Ela levantou o queixo e encontrou o olhar escuro dele.

— Mudei de ideia, Sr. Ballantine. Não preciso conhecê-lo para decidir


se gosto ou não de você.

— E qual é o veredito?

Ela deu um passo à frente e bateu uma unha vermelha duas vezes
contra o peito dele.
— Definitivamente não gosto.

ONZE MESES ATRÁS

— Tay! Taylor Carr, traga sua bunda definida-por-idas-a-academia


aqui, agora!

Taylor parou no processo de tentar contornar a sala de descanso


sem ser vista. Se tivesse sido qualquer outra pessoa, ela poderia ter
conseguido fingir não ter ouvido, mas Brit saberia.

Ela recuou os passos até estar em frente à sala de descanso.

Havia um grupo de pessoas sentadas em cadeiras ou encostadas no


balcão, incluindo a que a fazia evitar o cômodo para começo de
conversa.

Taylor cuidadosamente evitou o olhar sarcástico de Nick Ballantine,


optando por se concentrar nos rostos amigáveis de Brit e Penelope
Pope, uma morena de baixa estatura e metade da dupla de
colunistas de esportes da Oxford.

— Taylor, você tem que provar isso — disse Penelope, bebericando


uma taça de coquetel com quase o mesmo tamanho que seu rosto.
— Nick diz que é um Brandy Crusta, mas vou renomeá-lo de mágico.

Taylor rapidamente tomara conhecimento de que happy hours


improvisados dentro do escritório eram uma coisa comum na Oxford.
Normalmente, ela teria facilmente apoiado esse tipo de frivolidade no
local de trabalho.

O problema?

O happy hour no local de trabalho andava de mãos dadas com a


presença de Nick Ballantine, que Taylor rapidamente descobriu que
trabalhava como barman quando não estava atuando como
freelancer na Oxford.
— Sim, deixe Nick preparar algo para você — Brit acrescentou,
acenando na direção de Nick enquanto tomava uma bebida
transparente decorada com uma fatia de limão. — Ele tem uma
habilidade incrível em saber exatamente qual bebida cada pessoa
vai adorar.

— Por Deus, dê ao homem um Prêmio Nobel então — Taylor


murmurou baixinho.

Nick, no entanto, aparentemente a ouviu, porque estreitou os olhos


enquanto usava o pé para puxar uma cadeira de debaixo da mesa.

— Senta — ele ordenou, gesticulando com o queixo.

Taylor olhou por cima do ombro.

— Alguém trouxe o cachorro de estimação para o escritório de novo?

Em resposta, Nick estendeu o braço e colocou uma mão pesada no


ombro dela, literalmente empurrando-a para o assento.

Ele sorriu quando ela o encarou, séria.

— Agora, o que posso fazer para você, Carr?

— Pensei que você era um tipo de milagreiro dos coquetéis. Me faça


alguma coisa.

Ele coçou o queixo, observando as garrafas à sua frente na mesa.

— Merda. Justo hoje esqueci o arsênico.

— Que tal um coquetel de vodca com limão? — Hunter Cross


sugeriu. O bonito vice-presidente e melhor amigo de Brit deu uma
piscadela para Taylor. — Algo doce para amenizar toda essa acidez.

Nick bufou, como se dissesse: só acredito vendo.

Ela ignorou Nick, mas olhou para Hunter.


— Cuidado, Cross, ou direi a todas as mulheres qual era o nome da
estrela pop dona das músicas que te escutei cantando um dia
desses.

Hunter riu e levantou as mãos em sinal de rendição.

— Você venceu. Dê a ela um uísque, Nick, juntamente com uma


parte das minhas bolas.

Nick assentiu, parecendo confirmar algo, mas não disse nada, os


olhos disparando entre Hunter e Taylor antes de voltar a atenção
para a bebida.

Ela sentiu um desejo irritante de dizer-lhe que ela e Hunter eram só


amigos – que gostava do cara, mas ele não provocava sequer uma
centelha em suas partes femininas.

Sem dizer uma palavra, Nick começou a pegar garrafas de bebidas,


que Taylor não reconheceu, e a combinar ingredientes.

Essa tinha sido a essência do relacionamento dos dois durante todo


o mês desde aquele primeiro encontro infeliz. Ela não o via com
frequência, talvez duas vezes por semana. Mas, até agora, todos os
encontros deles terminaram ou em absoluto silêncio ou em
derramamento de sangue.

— Então, Taylor. Como tem sido a Oxford até agora?

Isso veio de Cole Sharpe, a outra metade de Penelope Pope, tanto


no trabalho quanto em casa, se os rumores que ouvira estivessem
certos.

— Estou adorando — ela respondeu, sendo sincera. Só estava no


novo emprego há quatro semanas, mas até agora havia sido tudo o
que ela esperava. Mantinha-a interessada e era desafiador.

Se ela tivesse algo para reclamar, seria que o trabalho talvez fosse
um pouco mais atarefado do que ela pensou que seria, devido a uma
alta quantidade de estratégias a serem feitas para obter vários
clientes de uma vez.

Mas Alex Cassidy estava no processo de contratação de outro


executivo de publicidade para ajudar Taylor. Até lá, ela conseguiria
lidar com as longas jornadas de trabalho.

Taylor jogou conversa fora com o grupo, ainda de olho em Nick


misturando os vários ingredientes em uma coqueteleira antes de
adicionar um punhado de gelo tirado do freezer.

Ela ficou um pouco irritada ao perceber que ele tinha mãos ágeis.

E ainda mais irritada ao notar que seus pensamentos continuavam


indo em direções atrevidas, como em que lugar ela queria aquelas
mãos.

Porque, inconvenientemente, quanto mais tempo ela passava com o


cara, mais desgostava dele. E, no entanto, quanto mais ela o
detestava, mais consciente ficava dele. Onde ele estava, o que
estava fazendo. Se ele estava ou não olhando para ela.

Nick pegou uma toranja e, espremendo a fruta elegantemente,


acrescentou algumas gotinhas à taça antes de colocá-la sem
cerimônia na frente dela.

— Aqui está.

Taylor olhou de soslaio para Brit e disse em um sussurro alto:

— Pesquise antídotos para venenos comuns no seu celular, só por


precaução.

Então, ela tomou um gole e soltou um pequeno suspiro de


admiração.

Ela não teve que olhar para Nick para saber que ele estava se
vangloriando, mas olhou do mesmo jeito. Sim. Estava se
vangloriando.
Ele levantou as sobrancelhas, desafiando-a a mentir e dizer que não
gostou.

— É bom — ela admitiu, tomando outro gole.

A bebida era de cor rosa-pálido, e, antes de provar, ela se preparou


para um sabor enjoado e açucarado ou brutalmente azedo. Em vez
disso, o gosto era leve, refrescante e doce, com uma pequena pitada
do amargor da toranja no final.

— Ah, é delicioso — Brit concordou, já tendo estendido a mão para a


mesa para tomar um gole. Então, passou a taça para Penelope. — O
que é?

Nick deu de ombros.

— Acabei de inventar. Ainda não pensei em um nome.

— Bem, você deveria. Aaah, chame de Taylor em sua homenagem!


— Penelope insistiu. — Você fez para ela.

Nick foi até a pia para despejar o gelo.

— É parecido com um coquetel chamado Sidecar. Creio que


possamos chamar esse de Side carr. Com dois “r”.

— Que tal Princesa do Coração de Gelo? — Taylor murmurou, as


palavras mais ou menos abafadas pela bebida, agora que a taça
estava de volta a sua mão e ela tomou um gole.

Ela achou que ninguém a tivesse ouvido, mas Nick hesitou enquanto
voltava para a mesa, os olhos colidindo com os dela.

Taylor desviou o olhar rapidamente, mas não antes de ver algo


parecido com desânimo no rosto dele.

Ela tomou outro gole rápido, depois se levantou.


— Ainda tenho um pouco de trabalho a fazer. Termine de beber por
mim, pode ser? — ela pediu, entregando a taça para Brit.

Taylor acenou para o grupo e saiu da sala, sendo cumprimentada por


um coro de “Tchau, Taylor!” – muito cuidadosamente evitando olhar
para Nick Ballantine.

Mesmo que sentisse que ele a olhava.

DEZ MESES ATRÁS

— Como assim por que a Áustria? — Taylor perguntou no celular,


mantendo a voz baixa, de pé na copa da Oxford e colocando
adoçante sem açúcar em seu café. — É a Áustria. Na época de
Natal. É deslumbrante. Pesquise no Google.

A tia dela não respondeu de imediato, mas Taylor pôde sentir o


celular esfriar contra a própria bochecha.

— Tenho certeza que é encantadora. — Karen finalmente respondeu


de modo rígido. — Mas minha empresa não oferece muito espaço
para frivolidades, mesmo durante as épocas festivas.

Taylor estreitou um pouquinho os olhos, tentando descobrir se aquilo


era uma indireta sutil para a escolha de carreira de Taylor e para o
fato da Oxford ser mais flexível do que o escritório de advocacia em
que sua tia trabalhava.

Taylor havia trabalhado duro para agradar a mulher difícil que a criou,
mas se tornar uma advogada foi algo que ela aceitou fazer até um
certo ponto. Ela havia tentado. Aguentou um semestre inteiro na
faculdade de Direito de Harvard antes de reconhecer que nada
daquilo a atraía.

Quando Taylor deixou a faculdade de Direito, a decepção de sua tia


foi a coisa mais próxima de emoção que Taylor já vira Karen (que
não gostava de ser chamada de tia Karen) expressar. O assunto
carreira era um tópico de tensão entre elas desde então.
— E se fizéssemos uma viagem curta? — Taylor sugeriu, mantendo
cuidadosamente o tom de súplica longe da voz. — Quatro dias. Por
minha conta.

— Se fôssemos para a Europa, obviamente dividiríamos os custos.

Taylor sorriu. Aquilo era tão Karen. No segundo em que Taylor


completou dezesseis anos, foi esperado que ela conseguisse um
emprego para aprender a importância de pagar as próprias contas.

— Conversarei com os outros sócios seniores sobre isso, mas não


crie muita expectativa — disse Karen.

O sorriso de Taylor vacilou ao ouvir o barulho das teclas do


computador, o que significava que sua tia já havia voltado a atenção
para o trabalho.

Conversa terminada, aparentemente.

Quanto à Áustria? Fora de cogitação.

Taylor conhecia a tia. Em hipótese alguma ela conversaria com os


sócios sobre algo que claramente não queria fazer.

Taylor respirou fundo, em busca de paciência. Fazer o quê, não é?


Tinha sido um tiro no escuro. Seja como for, Karen nunca pareceu se
importar se Taylor ia ou não a Boston no Natal, e ela nunca se
ofereceu para vir a Nova York.

A infância de Taylor não foi festiva. Havia sempre uma falsa árvore
de Natal de mesa, por insistência de Taylor. E, embora dinheiro
nunca tivesse sido um problema, os presentes que ela recebia eram
práticos, nunca divertidos. As meias, inexistentes. E nem é
necessário dizer que não houve momentos assando biscoitos na
cozinha, decorando casinhas de gengibre ou cantando canções
natalinas, e Taylor aprendera logo no primeiro Natal passado sob o
teto da tia que o Papai Noel era uma fantasia comercial.

Ela tinha cinco anos na época.


— Tenho que ir — Karen estava dizendo. — Havia mais alguma
coisa para me dizer?

Não, não. Nada mais. Estava só esperando que minha única parente
viva pudesse querer fazer algo divertido no feriado. Ou pelo menos
me ver.

— Não, tudo certo — disse Taylor no mesmo tom de voz pragmático


da tia, do jeito que ela fora educada a fazer. — Até breve.

Sua tia fez um ruído descomprometido e desligou.

Taylor colocou o celular no balcão e tomou um gole de café,


desejando que houvesse algo mais forte para despejar dentro da
bebida a fim de aliviar a dor da rejeição.

Ela se virou para caminhar de volta ao seu escritório, mas foi


presenteada com a visão indesejada de Nick Ballantine vindo em sua
direção.

Taylor o olhou com irritação.

— O que você está fazendo aqui?

Nick caminhou em direção à cafeteira e encheu a xícara dele.

— Desculpe, Carr. Não sabia que essa era sua copa particular.

— É a copa da Oxford. Você não é um funcionário — ela reclamou,


seu mau humor fazendo-a parecer mesquinha.

Apesar de que, para ser justa, ela sempre agia de forma mesquinha
quando estava perto desse cara. Nos dois meses que se passaram
desde seu primeiro dia, quando discutiram no saguão de entrada,
seus caminhos ocasionalmente se cruzaram, mas nenhum dos
encontros foram amigáveis.

— Isso te incomoda, hein? — ele perguntou, apoiando o quadril no


balcão e se virando para estudá-la. — O fato de eu não trabalhar
aqui em tempo integral?

— O que me incomoda é o fato de você ser um crianção que não


consegue se comprometer com um emprego feito um adulto.

A aparência dele era a de um adulto, no entanto. Ela podia não


gostar muito dele e da pose de “deixa a vida rolar, eu não dou a
mínima”, mas não havia como negar que Nick Ballantine era um
homem dos pés à cabeça.

Como sempre, não havia sinal de gravata, mas hoje ele usava um
casaco esportivo por cima da camisa social que ressaltava-lhe os
ombros largos. A cintura afilada. O abdômen esculpido. Droga.

— Eu mencionei que posei para estudantes de artes na faculdade?


— ele indagou, parecendo ler a mente dela, como fazia
frequentemente.

— Não fazia ideia que para ser barman era necessário diploma —
ela comentou maliciosamente em relação a outra carreira dele.

O olhar de Nick ficou frio, uma expressão de desgosto tomando-lhe o


rosto.

— Alguns dias, acho que vou conseguir descobrir exatamente que


diabos fez você ficar tão megera, mas então lembro que não dou a
mínima.

Por mais que ela odiasse admitir, a resposta dele foi bem-merecida.

Ela ergueu o queixo de modo desafiador e fez o que tinha que ser
feito.

— Sinto muito. De verdade. Isso foi desnecessário da minha parte.

Ele a estudou com uma expressão ilegível.

Ela definitivamente não estava preparada para a próxima pergunta


dele.
— Então. Natal na Áustria, hein?

Taylor ficou boquiaberta.

— Você estava escutando minha conversa? — ela perguntou, já


lamentando ter se desculpado com esse idiota.

— Tenho que fazer algo para me manter ocupado. Já que não


trabalho e tudo mais. E você está certa, a propósito. O Natal na
Áustria não é nada mau.

— Você já esteve lá? — ela questionou com relutância. Apesar de


aborrecida, estava intrigada.

— Levei a família para lá alguns anos atrás. Você e seu namorado


vão adorar, presumindo que você o deixe sair da cela onde suponho
que o prenda.

— Não tenho namorado — ela murmurou, tomando um gole de café.

— Há rumores de que Calloway está interessado em se candidatar a


essa vaga.

Taylor levantou um ombro. Bradley Calloway era o novo executivo de


publicidade que havia começado algumas semanas atrás. Ele era
charmoso, atraente, era bom no que fazia... exatamente o tipo de
Taylor.

Bradley havia sugerido mais de uma vez que eles deveriam “sair
juntos” depois do expediente, e Taylor tinha quase certeza de que ele
não quis dizer como colegas de trabalho.

Ela imaginava que, mais cedo ou mais tarde, aceitaria. Mas, apesar
de em teoria ele ser tudo o que a atraía, ela simplesmente não
conseguia se fazer sentir... interessada.

— Uma viagem em família para a Áustria, então — Nick adivinhou.


— Vai ser ótimo.
Taylor levou a mão à têmpora e esfregou o local onde uma dor de
cabeça estava começando, mas então lembrou que era péssimo
demonstrar fraqueza diante do inimigo.

— Foi o que eu pensei também.

— Pais e/ou irmãos não concordam? — ele perguntou casualmente,


tomando um gole de café.

— Minha tia. — Não que eu tenha permissão para chamá-la assim.


— E ela não está interessada. Não vai conseguir tirar uma folga.

Não quer tirar uma folga.

— Ah. Sinto muito.

Ela deu de ombros.

— Vou encontrar outra coisa para fazer.

— Algum outro membro da família que more por perto?

— Nenhum familiar sequer.

Ela podia jurar que viu algo parecido com compaixão surgir no rosto
dele, mas não estava interessada.

— Eu deveria voltar ao trabalho — disse ela.

Ela estava quase do lado de fora quando ele a chamou de volta com
um breve:

— Carr.

Taylor se virou e lançou-lhe um olhar cauteloso.

— O quê?

Ele hesitou um segundo antes de encontrar os olhos dela.


— A maior parte da minha família mora na Costa Oeste, mas eles
virão para Nova York no Natal.

— Ok... — ela respondeu, um pouco confusa com o que ele estava


dizendo. Certamente nem mesmo ele seria tão cruel a ponto de
esfregar na cara dela que a família dele queria passar um tempo com
ele, enquanto ela mal conseguia convencer a tia a ter uma conversa
de cinco minutos por telefone.

Nick encolheu os ombros, parecendo desconfortável.

— Você poderia passar um tempo lá. Com a minha família, quero


dizer. Faltam meses para o Natal, o que te dá tempo de sobra para
criar uma lista com todas as coisas que há de errado comigo e
depois lê-la para minha família. Minhas irmãs vão te amar por isso.

— Eu já criei uma lista — disse ela.

Ele deu risada.

— Deixa pra lá, Carr.

— Não, não — ela se apressou em dizer. — Eu só quis dizer que...


Eu só... Eu não, eu não sou...

— Você pode dizer não. Não vai ferir meus sentimentos — ele
resmungou.

Taylor engoliu em seco.

— Vou pensar sobre isso. — Ela ergueu a mão para o batente lateral
da porta, tamborilando levemente com a palma da mão, tentando
pensar no que dizer. — Obrigada. Isso é...

Uma das coisas mais agradáveis que alguém já fez por mim.

— Gentil da sua parte — ela sussurrou.

O sorriso que Nick deu foi genuíno.


— Você parece surpresa.

— Não tenho como dizer que temos sido particularmente gentis um


com o outro.

Ele segurou o olhar dela.

— Creio que eu tenha começado. Com a coisa da princesa do


coração gelo.

Ela desviou o olhar.

— Eu não deveria ter dito isso — disse ele em voz baixa.

— Mesmo que seja verdade? — ela falou, forçando um sorriso.

Para sua surpresa, ele não aproveitou a oportunidade para confirmar


que ela era, de fato, mais espinhosa que um cacto.

— Eu acho que você é complicada — ele admitiu por fim.

— Isso é verdade — ela confirmou com uma risada, saindo de vez


da sala. — Te vejo por aí?

— Sim, por favor, vá embora — disse ele, erguendo a xícara de café


em sinal de despedida. — Toda essa simpatia está me deixando
desconfortável.

Ela ainda sorria quando voltou para o escritório. Então seu sorriso se
transformou em uma careta.

Taylor colocou o celular na mesa e mordeu o lábio inferior, levando


as mãos aos quadris quando um pensamento perturbador se
instalou.

E se Nick Ballantine a deixava irritada não porque ela não gostava


dele... mas porque gostava?

E se ele gostasse dela também?


O homem acabou de convidá-la para passar um tempo com a família
dele. No Natal...

Taylor sempre teve orgulho de ser ousada, mas foi preciso toda sua
coragem para se virar e refazer os próprios passos.

Por favor, ainda esteja lá, por favor, ainda esteja lá...

Ela quase colidiu com ele enquanto Nick saía da copa, mas ele a
segurou pelo cotovelo com a mão livre, firmando-a no lugar.

— Este é o seu novo plano de ataque, é? — Ele brincou. — Me


atropelar?

— Janta comigo?

Taylor deixou a pergunta escapar e prontamente sentiu as


bochechas inundarem de calor. Pelo menos ela suspeitava que era
isso que estava acontecendo. Como uma mulher que nunca tinha
sido propensa a corar, não estava exatamente certa do que estava
acontecendo, mas era desconfortável pra caramba.

Nick ficou rígido.

Ela prendeu a respiração, o coração batendo forte enquanto


esperava o choque no rosto dele se transformar em felicidade.

Não aconteceu.

Nick tocou o braço dela gentilmente, o rosto demonstrando


arrependimento.

— Taylor...

Ela fechou os olhos.

— Não. Só, não.


Por favor, me deixe morrer aqui. Não, espera – me deixe voltar ao
meu escritório primeiro, me arrumar atrativamente na minha cadeira
e depois morrer.

— Estou saindo com uma pessoa — ele disse em uma voz suave. —
Sinto muito. Pensei que você soubesse.

Ela engoliu em seco e abriu os olhos. A expressão no rosto dele era


gentil, mas não demonstrava pena, pelo menos isso.

— Eu não sabia — ela sussurrou. — Desculpa.

— Ei, Carr — disse ele, dando-lhe um sorriso torto. — Não peça


desculpas. Eu ficaria lisonjeado se você não fosse tão irritante.

Ela apreciou seu esforço para levá-los de volta ao estado habitual de


provocação deles, mas, por mais que estivesse se esforçando, ela
não conseguia pensar em uma única piadinha para dizer em
resposta.

Era aterrorizante.

Em vez disso, ela murmurou algo sobre precisar voltar ao trabalho.


Mas embora pretendesse voltar para o escritório, seus pés a levaram
em outra direção.

Ela não se deu conta de para onde estava indo. Não percebeu o que
estava prestes a fazer até Bradley Calloway olhar para cima,
surpreso ao vê-la de pé na porta dele.

— Oi, Taylor. E aí?

Ele deu um sorriso de satisfação com a presença dela. A aparência


impecável e as covinhas genuínas a toda. A gravata vermelha escura
estava em um perfeito nó, a camisa bem passada, os cabelos
ondulados perfeitamente no lugar.

Bradley Calloway era exatamente o tipo de cara com quem ela


deveria ficar – confiável. Previsível. Interessado.
Ela deu a ele um sorriso lento, certa de que o gesto não alcançou
seus olhos, mas também com a certeza de que ele não notaria. Não
porque ele não era um cara legal, mas porque ela não tinha certeza
de que ele a conhecia.

Ele não era como o cara que parecia conhecê-la bem até demais. O
cara que não gostou do que viu.

Ela estava aqui, na frente de Bradley, para tranquilizar o próprio ego


ferido? Sim. E era patético. Mas também simplesmente inteligente.
Taylor estava tão cansada de estar sozinha.

Era tão errado assim querer companhia?

Almejar companhia?

— Janta comigo? — ela indagou, repetindo a pergunta que fizera a


Nick Ballantine apenas um minuto atrás.

E, desta vez, a resposta que ela recebeu foi bem diferente.

NOVE MESES ATRÁS

Como Taylor não costumava ir para o lado onde ficava a redação no


andar da Oxford com frequência, ela deu duas voltas perdidas antes
de finalmente encontrar o escritório que procurava.

Só que o escritório que ela estava procurando não continha o


homem que ela procurava.

Taylor congelou, os olhos se recusando a aceitar o que estavam


vendo. A placa do lado de fora indicava que aquele era o escritório
de Lincoln Mathis, editor principal da seção
mulheres/relacionamentos/sexo da revista.

Mas o homem sentado atrás da mesa? Não era Lincoln Mathis.

Nick Ballantine olhou para cima e piscou, surpreso, quando viu


Taylor. Ele recostou-se na cadeira e deu um leve sorriso.
— Taylor.

Ela queria desesperadamente se virar, mas obrigou seus saltos a


permanecerem no lugar.

— Nick.

A voz dela estava calma e um pouco fria – de modo algum revelando


o fato de que ela o evitara empenhadamente durante o mês que se
passou, e os dois sabiam disso.

Ainda assim, ela não conseguiu deixar de dar uma olhada rápida
nele. Ele parecia... diferente.

E não era somente o terno e a gravata, embora fosse a primeira vez


que o via em tal traje. Havia uma tensão no rosto dele que não
existia antes, uma vaga tristeza em seus olhos.

— O que está fazendo aqui?

Ele abriu os braços para os lados.

— Este será o meu emprego pelo próximo mês ou mais.

— Em que cargo? O de substituto menos bonito de Lincoln?

Ele deu uma risada curta.

— Ele ficará de licença por mais ou menos um mês. Você precisa


dele?

Ela irritadamente tamborilou os dedos na pasta que segurava.

— Um dos meus anunciantes é um grande apreciador de valores


familiares. Querem saber quais serão os artigos mais picantes de
uma edição específica antes de se comprometerem a ceder espaço
publicitário.

— Bem, então acho que sou o cara que você procura.


— Acho que não.

Porque você disse não.

Nick deu de ombros.

— Bem. Sinta-se livre para dizer a Cassidy que perdeu um


representante porque se recusou a conversar com um editor
temporário porque... bem, não tenho certeza. Por que exatamente
você tem me evitado há um mês inteiro?

— Não tive motivos para procurá-lo. Até agora, nossas funções de


trabalho não se sobrepuseram. Além disso, você fica aqui apenas
durante meio período.

— E as mensagens e ligações não respondidas?

— Você faz parecer que houve dezenas — disse ela, revirando os


olhos. — Foi uma ligação, sem correio de voz. Duas mensagens,
ambas vagas. Como sequer conseguiu meu número?

— É isso que ela quer saber — ele murmurou baixinho. — Como eu


consegui o número de telefone dela. Não porque entrei em contato
pra começo de conversa.

Taylor não iria perguntar-lhe sobre o que era o telefonema e as


mensagens pedindo que ela lhe ligasse. Ela tinha receio demais de
que ele estivesse ligando para checar como ela estava, para se
certificar de que ela não estava afogando as mágoas em sorvete.

Ela não estava.

Seu encontro com Bradley se transformou em muitos jantares,


seguidos de almoços, brunches e, bem... tudo o que acontecia em
um relacionamento.

Um relacionamento.

Ela tinha um namorado.


A situação ainda parecia… estranha.

Não propriamente errada. Pelo menos ela não pensava que era.

Ela realmente gostava de Bradley. Ele tinha um riso fácil, era legal.

Nunca implicava com ela como Nick fazia, não a chamava de


princesa do coração de gelo.

Ele também nunca rebatia ou se opunha a qualquer coisa ruim que


ela dizia, e ela tinha certeza de que gostava disso, mesmo que
outras vezes não tivesse tanta certeza assim.

— Você sabe sobre a programação da edição do próximo mês ou


não? — ela retrucou para Nick, irritada com a existência dele. E com
o fato de que uma parte ridícula dela aparentemente tinha sentido
falta de vê-lo, porque ela teve que morder a língua para não
perguntar como ele estava.

Como a namorada dele estava.

— Quer saber? Só me mande um e-mail — disse Taylor, depois se


virou e marchou até a porta.

Taylor assumira que Nick Ballantine era o tipo de homem que sempre
andava devagar, nunca com pressa para fazer nada. Mas ela estava
errada. Ela não tinha certeza de como ele atravessou o escritório tão
rapidamente, mas ele chegou até a porta primeiro e fechou-a antes
que ela conseguisse escapar.

A palma da mão dele estava apoiada contra a madeira, o antebraço


a poucos centímetros da lateral do rosto dela.

A respiração de Taylor estava um pouco entrecortada, mas ela não


se atreveu a se virar e olhar para ele.

— Muito maduro, Ballantine. Sua namorada pode até gostar quando


você bate a porta na cara dela para conseguir o que quer, mas eu
não estou adorando.
— Eu não tenho namorada.

Ela respirou fundo ao ouvir isso.

— Desde quando?

— Faz algumas semanas.

Taylor fechou os olhos, só por um segundo. Droga de timing.

— Você está saindo com Calloway? — Nick perguntou, a voz rouca.

Ela assentiu.

— Ele não é o cara certo para você.

Taylor virou a cabeça para dar a ele um olhar incrédulo, mas se


arrependeu, porque ele estava muito perto. Muita.... testosterona.

— Você me conhece há, sei lá, quatro meses? A maioria dos quais
passamos brigando ou evitando um ao outro? Não é você que decide
quem é o cara certo para mim.

— Me olhe nos olhos e diga que realmente gosta dele.

Taylor não desviou o olhar.

— Eu gosto dele.

Os olhos castanhos dele brilharam com algo que ela não conseguiu
decifrar. Então, ele abaixou o braço que segurava a porta e enfiou as
duas mãos nos bolsos.

— Sim, aposto que gosta. Ele provavelmente faz qualquer coisa que
você pede. Deve passar ferro até na cueca. Vocês fazem a unha
juntos?

Taylor revirou os olhos e estendeu a mão para a maçaneta, mas ele


a pegou pelo pulso.
— Responda algo para mim.

Ela tentou se afastar, mas ele não a soltou.

— O quê? — ela disparou, tentando dizer a si mesma que sua


crescente agitação decorria de aborrecimento e não de algo mais
perigoso.

— Se você não estivesse namorando com ele, sairia para jantar


comigo?

— Eu não gosto de você — ela sussurrou.

Ele se aproximou até a boca estar a centímetros da orelha dela.

— Mentirosa.

Foi um sussurro, e causou arrepios que desceram e subiram por


toda a espinha dela. O tipo de arrepio dos bons, o tipo que a fez
querer se inclinar na direção dele e implorar para que ele colocasse
a boca em todo o corpo dela.

Taylor se sentiu desequilibrada e desorientada, e não gostou disso.


Ela nunca se sentia assim com Bradley. Sabia o que esperar de
Bradley. Ele nunca a surpreendia, nunca exigia mais do que ela
queria oferecer.

Bradley a fazia se sentir segura.

Nick Ballantine a fazia se sentir tudo, menos isso.

Ela soltou o próprio pulso e abriu a porta antes que ele pudesse
segurá-la novamente.

Somente quando estava fora do escritório, em segurança, foi que ela


encontrou os olhos dele mais uma vez, embora tenha mantido o
olhar deliberadamente frio.
— Vá encontrar outro tapa buraco para você, Ballantine. Eu não
estou interessada.

OITO MESES ATRÁS

Taylor jogou uma caneta dentro da gaveta da mesa e a fechou com


força. A gaveta se abriu no mesmo instante, e ela fechou novamente,
só porque a sensação de fazer aquilo era boa.

Nick Ballantine estava namorando a recepcionista temporária. Ou


pelo menos a perseguindo.

Taylor desabou na cadeira e desbloqueou o computador. Ela não se


importava.

Nem um pouco.

No que diz respeito a ela, Nick Ballantine poderia ir direto para o


inferno.

E Taylor gostava de Daisy Sinclair. Parando para pensar, a bela


recepcionista temporária era muita areia para o caminhãozinho de
Nick. Taylor pretendia dizer isso a ela.

Daisy era querida demais para alguém... tão...

Irritante.

E além do mais, ela não se importava com o que Nick fazia com a
vida amorosa dele.

Taylor e Bradley estavam indo muito bem. Dois meses haviam se


passado sem uma briga sequer. Eles tinham o mesmo gosto para
filmes e gostavam da comida tailandesa deles com a mesma
quantidade de picância, e se isso não era o significado de
compatibilidade perfeita, então ela não sabia o que seria.

Ela esperava que Nick e Daisy vivessem felizes para sempre.


Mas ela abriu e fechou com força a gaveta da mesa mais uma vez.
Só por garantia.

SEIS MESES ATRÁS

Nick Ballantine alongou o músculo dos ombros enquanto deixava o


escritório de Alex Cassidy, e fez uma rápida oração em
agradecimento pelo fato do bar onde ele trabalhava já estar fechado
por hoje para que a tapeçaria pudesse ser substituída.

Esta noite, a única pessoa para quem Nick queria fazer um coquetel
era ele mesmo.

Cassidy acabara de perguntar a Nick se ele queria um emprego – de


novo.

Nick recusou.

Não havia ninguém que ele respeitasse mais que Cassidy, tanto
como chefe quanto como amigo. E no que dizia respeito à
competição desenfreada que existia em ambientes corporativos, não
havia melhor lugar para se trabalhar que a Oxford.

Ele só não estava preparado para trabalhar das nove às cinco.

Pelo menos não todos os dias. O dia em que Lincoln Mathis voltou
de sua licença um mês antes havia sido bom para Nick. Uma chance
de ele voltar ao seu estilo livre de viver, em que ele escrevia artigos
quando sentia vontade, trabalhava como barman quando sentia
vontade.

Os passos de Nick vacilaram.

O que era aquele barulho? Choro?

Passava das sete da noite e quase todas as portas já estavam


trancadas, o andar deserto.
Agindo instintivamente, ele se moveu silenciosamente em direção à
fonte do barulho, o coração apertando no peito quando viu que havia
apenas uma porta aberta em todo o corredor.

E que o som vinha daquele escritório.

Vinha dela.

Nick se preparou para a visão de Taylor nos braços de Bradley


Calloway, mas o que viu à sua frente foi ainda mais devastador.

Taylor Carr estava sentada em sua cadeira, curvada, os braços


cruzados sobre o corpo, como se fisicamente tentando impedir a si
mesma de desabar.

Ele não parou para pensar que ele provavelmente era a última
pessoa no mundo que ela gostaria que a visse assim.

Esse momento não era sobre o que Taylor Carr queria.

Era sobre o que ela precisava.

Presa demais no próprio sofrimento, ela não percebeu quando ele


entrou no escritório. Silenciosamente, ele caminhou na direção dela,
colocando a bolsa no chão e contornando a mesa.

Somente quando ele estava bem ao lado dela foi que ela o notou e
recuou o corpo ofegante.

Ele aproveitou o momento de surpresa para colocá-la de pé e puxá-


la contra o peito.

Taylor ficou rígida por um momento, movendo as mãos para afastá-


lo. Mas então seus dedos se enroscaram no casaco de lã que ele
vestia e seu rosto encontrou a curva do pescoço dele antes de ela
soltar uma nova rodada de soluços.

Nick a abraçou enquanto ela chorava, olhando diretamente para a


parede enquanto acariciava as costas dela, afagava-lhe a cabeça e
oferecia um conforto silencioso para o que quer que estivesse
partindo o coração dela.

Ele a abraçou durante o tempo que os soluços, que faziam o corpo


inteiro dela tremer, levaram para amenizar e se tornarem suspiros
silenciosos que faziam seus ombros magros subirem e descerem
enquanto ela tentava recuperar o fôlego.

Ela fungou contra a clavícula dele.

— Desculpa.

Ele resistiu ao desejo de balançar a cabeça em resignação. Era


típico dessa mulher espinhosa ver as emoções mais honestas como
uma fraqueza.

Nick virou o rosto levemente, deixando os lábios roçarem contra os


cabelos escuros dela.

— Você está bem?

— Sim.

A resposta dela foi automática e defensiva, então ele pressionou a


palma da mão com mais firmeza contra as costas dela, informando-a
que não precisava ser assim.

Nick esperou, e ela finalmente cedeu.

— Minha tia morreu.

O coração dele se partiu um pouco com a simplicidade dessas três


palavras.

— Eu sinto muito.

Os ombros de Taylor se ergueram em um encolher de ombros.

— Ela ficaria irritada comigo por chorar.


Nick continuou a acariciar as costas dela com a mão enquanto
pensava no que acabara de ouvir. Aquilo explicava... bastante coisa.

— Ela criou você? — ele perguntou, lembrando que uma vez ela
mencionara não ter nenhum outro familiar.

Taylor assentiu.

— Ela só tinha cinquenta e dois anos. Recusava-se a sequer me


deixar chamá-la de “tia Karen”, porque a fazia se sentir velha,
mesmo quando estava na casa dos vinte. Corria maratonas, era
vegetariana, tomava uma taça de vinho tinto no jantar, nunca mais do
que isso. Pensei que ela viveria mais tempo que eu, mas foi um
maldito aneurisma cerebral. Quando o hospital me ligou, ela já
estava no necrotério.

A voz dela falhou. Ela respirou fundo.

— O que eu faço agora? — ela sussurrou depois de alguns


segundos em silêncio.

Nick gentilmente a afastou e segurou o rosto dela nas mãos, porque


simplesmente parecia a coisa mais natural do mundo a se fazer. Seu
olhar encontrou o dela, mirando aqueles olhos cinzas únicos,
avermelhados agora, mas não menos lindos.

— Você vai fazer o que nasceu para fazer — disse ele calmamente.
Com convicção. — Você vai lutar. Vai continuar vivendo, como ela
gostaria que você fizesse.

Taylor enxugou uma lágrima que havia chegado ao canto da boca.

— Karen iria querer isso.

Ele passou o polegar pela maçã do rosto perfeitamente esculpida


dela.

— É o que todos desejam para as pessoas que amam.


Ela fez um suave ruído de escárnio que partiu o coração dele.

— Esqueci que você nunca chegou a conhecer Karen. Ela era a


pessoa mais inteligente que eu já vi, mas não acho que amor
estivesse em seu vocabulário.

Nick franziu o cenho.

— Claro que ela te amava.

Taylor deu um sorriso breve.

— É gentil da sua parte dizer isso.

Nick pensou que sabia o que lia no rosto dela agora, e orou a Deus
para que estivesse errado.

Taylor Carr achava que ninguém a amava.

Ele não sabia exatamente o porquê, mas queria descobrir como


consertar a parte dela que estava quebrada – não porque ela era um
projeto, ou porque era imperfeita, até porque ambos eram
imperfeitos, mas porquê…

— Alguém vai amar você, Taylor. Eu prometo — ele disse no


momento exato em que o zumbido grosseiro de um celular fez os
dois se sobressaltarem.

Ela se afastou para pegar o aparelho da mesa.

Com o celular na mão, ela olhou para a tela durante um momento


antes de dirigir os olhos para Nick.

— É Bradley.

Os ombros de Nick ficaram tensos imediatamente, e ele encontrou o


olhar dela em silêncio.

— Eu deveria atender — ela sussurrou.


Nick engoliu a vontade de perguntar por que o namorado dela estava
ligando só agora. Por que ele não estava aqui quando Taylor mais
precisou dele.

Porque, se ela amava o namorado, havia deixado Nick abraçá-la.

Ele balançou a cabeça. Ela o deixou abraçá-la porque ele era o único
por perto, não porque o queria. Não porque se importava com ele.

Qualquer chance que ele tivesse de pertencer à Taylor Carr, de ela


pertencer a ele, desaparecera meses atrás em um turbilhão de
timings péssimos e decisões piores ainda.

De ambas as partes.

— Tudo bem, então — disse ele, a voz desajeitada enquanto recolhia


a bolsa do chão. — Vou deixá-la à vontade.

— Nick — ela chamou, a voz desesperada e um pouco suplicante,


quando ele estava prestes a sair pela porta.

Ele se virou e viu o momento exato em que tudo o que ela queria
dizer desapareceu por trás do próprio escudo protetor.

Ela apenas forçou um sorriso distante e remoto e proferiu um


silencioso “obrigada”.

Ele levantou a cabeça em reconhecimento. E saiu pela porta.

Capítulo 1

ATUALMENTE

Taylor podia não ter nascido para usar salto alto.

Mas na maioria dos dias parecia apropriado.

Sapatos de salto alto transmitem poder, e poder é tudo.


Karen provavelmente estava certa, pelo menos nessa pequena lição
de vida, porque o estalido agudo e sexy que os saltos faziam era um
som do qual Taylor nunca se cansava.

Exceto hoje.

Hoje Taylor sequer notou a maneira como seus saltos cor bordô
tocaram o piso de mármore do saguão de seu novo prédio. Ela não
estava pensando em poder.

Hoje a mente de Taylor estava cheia de outros sons.

O som de seu novo porteiro dizendo: "Bem-vinda, Srta. Carr". O som


do elevador antigo e maravilhosamente retrô descendo para o andar
do saguão onde ela esperava.

O maravilhoso silêncio da chave eletrônica dando-lhe permissão


para entrar no novo apartamento.

Ela abriu a porta do apartamento de dois quartos, típico dos edifícios


antecedentes à segunda guerra mundial, inalou o cheiro de reforma
recém-feita e se preparou para o melhor som de todos: Bem-vinda
ao lar, amor.

O som do início de sua nova vida com o homem que ela amava.

Certo? Sim. Sim.

Porque, se Taylor sentia uma sensação incômoda de que a parte


mais importante dela – seu coração – estava suspeitosamente quieta
nesse dia tão importante, ela ignorou.

Decidir ir morar com Bradley foi uma atitude inteligente. Já estava na


hora.

Ela assentiu, como se quisesse se convencer.

Se Taylor tivesse nem que fosse um pouquinho de melosidade


dentro de seus um metro e setenta e três de estatura, ela poderia ter
aberto a porta com o típico Querido, cheguei!

Mas ela não era melosa. Ou sentimental. Inferno, não era nem
romântica.

Mas era pragmática, então, por um momento – apenas um rápido


momento – se permitiu perguntar a si mesma: Você tem certeza?

É claro que ela não tinha certeza. Mas sempre foi o tipo de garota
que mergulhava de cabeça em tudo que fazia, então...

Ela entrou e ouviu... silêncio?

Taylor colocou o champanhe no balcão enquanto tirava o casaco.

— Bradley? Desculpa o atraso. Passei na Bed Bath and Beyond.


Comprei uma nova cafeteira francesa. Não porque precisamos, mas
era dourada e linda, e não consegui resistir.

Nada ainda.

— Bradley?

Taylor entrou na suíte principal. O apartamento de dois quartos era


enorme para os padrões de Manhattan – o quarto também.

Onde diabos ele estava?

Não no banheiro. Nem no closet. Não estava no outro quarto, o qual


os dois planejavam usar como escritório, assim que conseguissem
decidir sobre um estilo de móveis que ambos gostassem, o que
talvez nunca acontecesse.

Taylor ficou irritada, mas não surpresa. Bradley tinha tirado a manhã
de folga a fim de receber os ajudantes para a mudança, e não seria
estranho da parte dele voltar para os escritórios da Oxford e
trabalhar por algumas horas no turno da tarde.
Taylor voltou para a cozinha, pretendendo mandar-lhe uma
mensagem de texto dizendo que, se ele não chegasse logo, ela faria
a desfeita de abrir o champanhe sem ele.

Então, viu o bilhete no balcão.

Ela não se preocupou. Não a princípio.

Claro, na maioria das vezes ela e Bradley faziam mais o tipo de


pessoa que manda mensagem ou e-mail do que o tipo que se
comunica por bilhetes manuscritos, mas talvez ele estivesse apenas
informando que tinha ido à academia. Ou que precisou trabalhar até
tarde.

Mas...

Ela pressionou os lábios enquanto estudava o fato do bilhete estar


em um envelope. Estranhamente formal. Ainda assim, seu nome
rabiscado na frente do papel estava inegavelmente escrito na
caligrafia inclinada para a esquerda de Bradley.

Aquilo não era um bilhete. Aquilo era uma carta.

E esse tipo de carta-deixada-no-balcão era algo com que Taylor


estava familiarizada por demais, já que ela mesma escreveu mais do
que algumas.

Recusando-se a deixar as mãos tremerem, Taylor puxou


cuidadosamente o pedaço de um papel qualquer do envelope. Uma
folha de ofício velha, provavelmente surrupiada do escritório dele.

Não, do escritório deles. O escritório onde os dois se conheceram.

Se apaixonaram. Onde concordaram em morar juntos. Hoje.

Os olhos dela passearam pelo conteúdo da carta, e ela se perguntou


como era possível que não estivesse nem um pouco surpresa e, ao
mesmo tempo, totalmente desconcertada por apenas algumas frases
sucintas.
Taylor,

Eu sinto muito. Você precisa saber o quanto eu lamento. Não


consigo fazer isso. Pensei que conseguiria, mas ainda é muito cedo.
E sei que entregar as notícias dessa maneira é o pior golpe baixo
possível, mas eu não conseguiria encará-la. Ainda não. Eu estive
errado sobre... algumas coisas. Vou explicar tudo em breve, mas por
favor... não me odeie, Taylor. Sei que eu não poderia ter escolhido
momento pior para fazer isso, mas, é claro, pagarei minha metade do
aluguel até que você consiga encontrar um colega de quarto. Ou, se
preferir quebrar o contrato e se mudar para outro lugar, pagarei por
isso também. Pagarei por tudo. Por qualquer coisa que você
precisar.

Me perdoe, Taylor. Aliás, esqueça tudo isso. Vá em frente, me odeie.


Deus sabe que eu mesmo me odeio.

Bradley

Por um momento longo e amargamente doloroso, Taylor desejou que


Karen estivesse aqui. Não porque sua tia era uma pessoa
confortadora e maternal, mas sim porque não era.

A mulher que a criou saberia exatamente o que dizer para afastar a


dor – para fazer Taylor se lembrar de que qualquer problema poderia
ser resolvido, desde que você soubesse como eliminar a emoção da
equação.

Ao longo dos anos, Taylor ficou boa nisso. Quase tão boa quanto a
própria Karen. Porque ela aprendeu da maneira mais difícil que havia
algumas situações em que a emoção simplesmente não podia ser
evitada – a morte de Karen, seis meses atrás, havia sido uma delas.

Mas isso?

Isso Taylor poderia aguentar. Ela só precisava ressignificar a


situação. Não era sobre Bradley estar deixando-a; era sobre Bradley
estar surtando e sendo o que era: um homem. Essa situação dava
para ser consertada.
Taylor inalou pelo nariz antes de sacudir rapidamente a cabeça e
endireitar os ombros.

Tudo certo.

E respirou profundamente outra vez.

Vai ficar tudo bem.

Então, bem... aquilo significaria um pequeno retrocesso no final feliz


dela. Ou um enorme. Mas ela daria conta. Taylor dava conta de tudo.

Muito calma e deliberadamente, Taylor abriu o pacote de copos


descartáveis que havia comprado junto com o champanhe, tendo em
mente que nem ela nem Bradley estariam dispostos a começar a
desempacotar as caixas com os utensílios de cozinha para achar
taças.

Então, ela foi até o champanhe e puxou a rolha emperrada com a


mesma determinação implacável que aplicava a todas as áreas de
sua vida. Demorou alguns segundos, mas ela finalmente conseguiu
puxar a coisa maldita.

Que atingiu-a diretamente na lateral da mandíbula.

— Filha da...

Taylor segurou a garrafa de champanhe com uma mão, mas a outra


voou para o rosto, que já latejava.

— Juro por Deus que se eu ganhar um hematoma por causa de uma


rolha de champanhe, vou matar o Bradley — ela murmurou, indo ao
freezer para pegar algumas pedrinhas de gelo.

Não havia nenhuma.

Os eletrodomésticos eram novos, mas aparentemente ninguém havia


ligado a máquina de gelo.
Ela fechou a porta com força e, ainda segurando o rosto dolorido,
pegou a garrafa de champanhe com uma mão e entrou no banheiro
principal para abrir a torneira da banheira.

Um banho de espuma poderia não consertar o fato de Bradley ter


subitamente mudado de ideia. Mas se experiência servia de
conselho, um longo e relaxante banho provavelmente daria à Taylor
muita inspiração para decidir como ela poderia explicar a súbita
mudança para “solteiro” no status dele.

Ela nem estava brava. Não de verdade. Como alguém que já fora
uma “fujona” dedicada de qualquer coisa que se parecesse com
compromisso, estabilidade e fidelidade, ela entendia os motivos de
Bradley.

Decidir morar junto havia sido um grande passo – um que ela nunca
dera e, até onde ela sabia, um que Bradley também nunca havia
dado. Ele achava que tudo estava acontecendo rápido demais e que
envolvimento emocional poderia complicar as coisas, principalmente
com uma colega de trabalho.

Mas o que Bradley aparentemente estava esquecendo era que


Taylor não estava interessada em envolvimento emocional. Ela só
precisava lembrar a Bradley sobre o que os dois haviam conversado
logo no início – que aquilo era simplesmente um acordo mútuo entre
duas pessoas perfeitamente interessadas em apenas ter um
companheiro.

Precisava lembrá-lo de que ela não estava atrás de alianças e filhos.


Ela estava apenas um pouco cansada de estar... só.

Ele entenderia. Ela se certificaria disso.

Mas...

Taylor abriu a torneira da água do banho e examinou o bastante


impressionante e luxuoso banheiro principal, quando a racionalidade
a atingiu.
Se demorasse mais do que o esperado para fazer Bradley lembrar
da compatibilidade dos dois, Taylor teria que ser sensata.

Merda. Ela hesitou por somente uma fração de segundo antes de


ceder a um desejo que faria sua tia se revirar no túmulo.

Ela levou o champanhe caro aos lábios, tomou um gole direto da


garrafa e aceitou a nova realidade.

Ela precisaria encontrar um colega de quarto.

Capítulo 2

— Cacete. Hoje é o dia temático de Uma Linda Mulher? Não recebi o


memorando, mas estou adorando esse visual de prostituta.

Taylor estava abrindo e fechando todas as gavetas da sala de


descanso da Oxford quando o som de uma voz grave e masculina
lhe deu algo para se irritar, além do fato de que ela não conseguia
encontrar nenhuma fita adesiva.

Ótimo. Exatamente o que toda garota precisava neste exato


momento. Seu arqui-nêmesis.

Ela se virou, e não ficou surpresa ao ver o olhar dele pairar de forma
descarada em sua bunda, antes de encontrar seus olhos com uma
expressão de tédio.

— Ballantine.

Nick sorriu, lenta e presunçosamente.

— Bom dia.

Que nojo. Ele era a única pessoa que conseguia pegar uma
saudação inofensiva e fazer a expressão soar como se ele tivesse
acabado de sair da cama com uma piscadela e uma ereção matinal.
Ele entrou na copa e enfiou os dentes brancos e retos em uma
maçã.

Ela estreitou os olhos quando deu uma outra olhada nele.

— Por que você está de terno? Está substituindo um dos


funcionários fixos de novo?

Ele a observou enquanto mastigava.

— Não fique tão irritada. Pensei que essa coisa de traje social te
deixasse toda derretida.

Os olhos dela se estreitaram ainda mais, mas ela não negou.

Não havia nada de errado em gostar de caras de terno. Não havia


vergonha nenhuma em apreciar os colarinhos prensados, os nós
perfeitos de gravatas de seda, o visual de prestígio e sucesso.

Normalmente.

Mas em Nick Ballantine, o terno parecia... bem, não parecia fora de


contexto, precisamente. Ela ocasionalmente o vira usar um antes. E
tinha que reconhecer: o homem ficava excepcionalmente bem de
terno.

Era só que ele era tão diferente de Bradley.

O namorado dela – ex-namorado? – tinha covinhas sensuais e um


charme fácil.

Não havia nada de fácil em Nick. Nem um ano atrás, nem seis
meses atrás e definitivamente não agora.

Como de costume, os cabelos escuros pareciam sempre estar duas


semanas em atraso com o cabeleireiro. O maxilar rígido não
ostentava uma barba, mas também não era liso, como se a intenção
dele fosse se barbear, mas ao mesmo tempo, não desse a mínima.
Ou, mais provavelmente, ele sabia exatamente o quão bonita ficava
a leve barba por fazer em seu maxilar, e a deixava lá para provocá-
la.

Não que Nick fosse mais másculo que Bradley. Nick era só... mais
rústico. Menos previsível.

— Achei que tivéssemos um acordo. Você me avisaria quando fosse


aparecer — ela murmurou, voltando a procurar a fita.

— Por quê? Para você poder colocar sua melhor calcinha?

Ela o fulminou com o olhar. Eles sempre foram antagônicos, mas


pioraram nos últimos meses.

Começando com aquele dia no escritório dela quando ele...

Ela não gostava de pensar naquele dia. Nunca. Por várias razões.

Ainda assim, nunca deixou de incomodá-la o fato de nunca saber


quando ele iria aparecer. Ele ainda trabalhava como freelancer e
sempre se esquivava do pedido de Cassidy para que ele se juntasse
para valer à equipe. Até agora, ele se manteve fiel ao estilo de vida
inconstante: colunista em meio período, barman em meio período,
idiota em tempo integral.

— Quer conversar sobre isso? — ele perguntou com uma voz


entediada, dando outra mordida na maçã e apoiando os pés em
outra cadeira.

— Conversar sobre o quê? — ela retrucou, ainda procurando por


uma fita adesiva.

— Sobre o que te deixou ainda mais irritadiça essa manhã. Seu


vestido está impedindo a circulação sanguínea?

Outra mulher poderia ter olhado nervosamente para o vestido, talvez


até passado a mão de forma constrangida e rápida sobre o tecido
apertado que demarcava o quadril curvilíneo. Taylor não era uma
dessas mulheres.

Ela sabia que o vestido se encaixava nela como uma luva.

Também sabia que arrasava. Morra de inveja, Bradley, pensou,


fingindo uma confiança que já não sentia mais.

Taylor havia se convencido de que provavelmente entraria em seu


escritório e se depararia com um pedido de desculpas em forma de
um buquê de rosas, com Bradley implorando para que ela o
perdoasse por seu erro precipitado.

Não.

Ela sequer tinha visto o cara.

O covarde estava se escondendo.

Ela esperava que o homem por quem estava… apaixonada tivesse


um pouco mais de culhões.

E como Bradley não estava aqui para ela descarregar toda essa
frustração, ela a dirigiu para alguém que definitivamente merecia.

— Está me secando, Ballantine? — ela perguntou, olhando com


hostilidade para Nick pelo canto do olho.

O sorriso que ele deu foi lento e lupino. Sexy, se você for alguém que
gosta desse tipo de coisa. E ela não gostava. Ela queria homens
previsíveis. Nick Ballantine não se qualificava para o papel.

— Sempre — ele disse. — Seu corpo é a melhor coisa em você.

Taylor revirou os olhos, voltando a vasculhar a gaveta. Seus dedos


tocaram a fita adesiva.

— Ah-há! Vitória!
Taylor arrancou um pedaço da fita, pegou o folheto que havia
impresso em seu notebook corporativo mais cedo naquela manhã e
marchou até a geladeira.

— O que houve, Carr? Perdeu seu cachorro? — Nick perguntou,


engolindo o último pedaço da maçã e arremessando o resto na lata
de lixo no lado oposto da sala.

Ela cruzou os braços e se virou para encará-lo. Havia um tom de


provocação nas palavras dele, como se ele soubesse perfeitamente
o que ela havia perdido.

Ele ergueu as sobrancelhas, esperando. Quando ela não respondeu,


Nick deu um suspiro de cansaço e deixou os pés caírem no chão
quando se levantou, indo em direção à geladeira e colocando a mão
na cintura dela a fim de movê-la para o lado.

Ela bateu na mão dele, resistindo ao desejo de bloquear o folheto da


vista dele para impedi-lo de ver que a vida dela era um pouquinho
menos perfeita do que parecia.

Nick a manteve facilmente no lugar enquanto lia o folheto.

— Procura-se colega de quarto. Apartamento de dois quartos


maravilhoso, típico dos edifícios antecedentes à segunda guerra
mundial. Rodateto original...

Ele a olhou pelo canto do olho.

— O original, mesmo?

Ela se recusou a se envolver na conversa, e ele voltou a atenção ao


folheto.

— Já disponível, aluguel mensal, sem necessidade de depósito. —


Ele assobiou. — Parece uma situação desesperada, Carr.

Taylor havia acabado de abrir a boca para dizer a Nick que a


situação dela não era, nem nunca seria, da conta dele quando ele
olhou para ela novamente e, então, olhou com mais precisão.

Antes que ela pudesse se esquivar, ele estendeu a mão e


gentilmente tocou o rosto dela, como se fosse a coisa mais natural
do mundo.

Ela tentou empurrar a mão dele mesmo enquanto ele passava o


polegar suavemente sobre o local em sua mandíbula onde a rolha
havia atingido-a.

— O que aconteceu aqui? — ele perguntou baixinho.

Taylor torceu o nariz, amaldiçoando a garota da Sephora que alegara


que o corretivo grosso-como-lama esconderia qualquer coisa.

— Nada.

— Taylor.

— Nick.

Os olhos deles mantiveram uma guerra silenciosa que foi


interrompida apenas quando outra pessoa entrou na sala de
descanso.

Taylor olhou para cima, depois enviou um silencioso Tá brincando?


aos céus quando identificou o recém-chegado.

O homem por quem ela esperou a manhã toda para ficar a sós
estava aqui, bem no momento em que Nick Ballantine estava com as
mãos em seu rosto, e como plano de fundo, havia o desespero dela
pregado na geladeira.

Não, não era desespero, Taylor lembrou a si mesma. Era


pragmatismo.

Se Karen estivesse aqui, lembraria a ela que não havia nada de


errado em ser financeiramente responsável. E encontrar alguém para
arcar com parte do caro aluguel era definitivamente uma atitude
responsável.

Bradley congelou quando a viu, e ela tinha quase certeza de que viu
o desejo de se virar e correr cintilar no rosto dele.

Mais uma vez, ela sentiu uma pontada de decepção. Com ele. E
consigo mesma por aparentemente tê-lo interpretado mal. Ela achou
que ele era melhor que isso.

Os olhos de Bradley se moveram entre ela e Nick e, embora ele não


parecesse assim tão surpreso ao vê-los discutindo, seu olhar
endureceu quando viu a mão de Nick no rosto de Taylor.

Nick, obviamente, levou um bom tempo tirando a mão, e ela resistiu


à vontade de chutar a canela dele.

— Bom dia, Bradley — disse Taylor, satisfeita por sua voz ter soado
calma e amigável. Bem como deveria. Durante a maior parte do ano,
ela teve muita prática fingindo que ela e Bradley não eram nada além
de colegas.

Exceto por alguns amigos próximos que sabiam que eles estavam
namorando, eles fizeram um ótimo trabalho – na maior parte do
tempo – em esconder a relação amorosa dos colegas.

Melhor do que ela e Nick haviam escondido a relação antagônica


deles.

— Oi, Taylor. Nick — disse Bradley.

Ele entrou na sala e pegou uma xícara de café, voltando sua atenção
para o outro homem.

— Não percebi que você tinha pego outro trabalho. Para fazer o
quê?

— Não tenho certeza — Nick respondeu, checando o relógio. —


Tenho uma reunião com Cassidy em alguns minutos, só então
saberei.

— Espero que seja um serviço externo que o leve para muito, muito
longe. Talvez ele precise de alguém para fazer uma reportagem
sobre os invernos da Sibéria — disse Taylor a Nick, observando
Bradley de soslaio.

— Não é necessário viajar para encontrar um inverno severo. Não há


lugar mais frio do que esse aqui — retrucou Nick, balançando a mão
sobre a cabeça dela em um gesto de nuvem de tempestade.

Ela empurrou a mão dele, a atenção ainda em Bradley, que evitava


determinadamente seu olhar.

Covarde.

Seria difícil pra caramba fazê-lo ser razoável quando ele se recusava
a sequer fazer contato visual.

Nick, perceptivo demais para seu próprio bem, notou a tensão e deu
uma rápida olhada nela e em Bradley, assumindo um olhar
especulativo.

Ela lançou-lhe um olhar de aviso que dizia claramente: Não.

Ele deu um sorriso em resposta que dizia claramente: Me observe.

— Bradley, creio que você não esteja a procura de uma colega de


quarto, certo? — Nick perguntou, a voz enganosamente casual.

A cabeça de Bradley se ergueu e, finalmente, finalmente seu olhar


azul colidiu com o de Taylor. Droga. Por que ele tinha que ser tão
bonito? Ele era como um anjo travesso de olhos azuis cintilantes,
covinhas, uma fissura sexy no queixo, cabelos loiros escuros
ondulados.

— Como? — ele perguntou a Nick distraidamente, ainda olhando


para Taylor.
— Taylor quer dividir o rodateto original do apartamento dela com
alguém.

Bradley estremeceu e Taylor sentiu uma pequena onda de gratidão


por Nick. Ele poderia não saber, mas aquela foi a alfinetada perfeita.
Tanto ela quanto Bradley eram fãs da arquitetura do período que
antecedeu a segunda guerra – haviam apreciado a descrição que o
corretor dera de todos os elementos originais do edifício. Taylor
deveria dividir o rodateto com Bradley. E ele sabia muito bem disso.

Os olhos dele encontraram os dela silenciosamente, miseravelmente


– um pedido de desculpas que ela não estava pronta para aceitar.
Caramba, ela não estava pronta nem para reconhecer as desculpas,
porque não tinha intenção nenhuma de levar um fora. Nem dele, nem
de qualquer homem.

Taylor ignorou a culpa estampada no rosto de Bradley enquanto


segurava o olhar dele.

— Sim, parece que, inesperadamente, tenho um quarto livre e mais


aluguel do que posso pagar. Se alguém de vocês souber de uma
pessoa que esteja a procura de uma colega de quarto...

O rosto bonito de Bradley se retorceu em arrependimento, e ele


colocou o café de lado, dando um passo na direção dela,
aparentemente esquecendo – ou não se importando – que Nick
ainda estava na sala.

— Taylor. Droga. Eu te disse que...

— Na verdade, eu sei de alguém — disse Nick, interrompendo.

Taylor desviou o olhar do rosto suplicante de Bradley e o direcionou


ao presunçoso de Nick.

— Você conhece alguém que precisa de uma colega de quarto?

— Sim. — Ele cruzou os braços e a observou.


Ela fez um gesto impaciente com a mão.

— Quem? Não pode ser uma de suas ex-namoradas, não quero


acidentalmente ouvir detalhes nojentos sobre você. E nem um de
seus amigos universitários. Minha sala de estar não foi feita para
servir de sala de jogos de videogame.

— Sim, porque é só isso que eu faço durante todo o dia.

Ela revirou os olhos.

— Ok, de verdade, quem é a pessoa?

O sorriso dele foi lento, astuto e a própria definição de problema.

— Eu.

Capítulo 3

Era uma incógnita saber quem ficou mais chocado com o


pronunciamento de Nick: Taylor, Bradley ou o próprio Nick.

Nick com certeza não pretendia se voluntariar para morar com a


mulher mais irritante que conhecia. Ele mal havia sobrevivido à
própria sugestão; de jeito nenhum sobreviveria se ela aceitasse.

O que ela não faria.

Os sentimentos de Taylor Carr em relação a ele eram a combinação


perfeita dos dele em relação a ela – alguma coisa entre o desprezo e
a pura aversão, com um toque de arrependimento que nenhum dos
dois admitiria.

Mas, independentemente de como se sentia em relação a Taylor, ele


não suportava Calloway nem um pouco. Tudo no executivo de
publicidade irritava Nick. O cara era bajulador demais, espertinho
demais.

Confortável demais na cama de Taylor.


E, ainda assim, Nick estava bastante curioso sobre o que estava
acontecendo entre os dois.

Era óbvio que Bradley queria que Taylor permanecesse sem colega
de quarto. O que não estava tão óbvio era o porquê. Por que o filho
da puta simplesmente não se ofereceu para morar com ela?

Fazia meses que eles estavam namorando, e geralmente ficar no


mesmo cômodo que eles era insuportável. Pelo menos para Nick.

Hoje, porém, algo parecia diferente.

A parte irritante dele que parecia estar sempre em sintonia com


Taylor Carr, mesmo quando ele não queria, sentia que havia algo de
errado com o namoro insuportável de Taylor e Bradley.

E o que quer que Bradley quisesse de Taylor, certamente não


envolvia nenhum tipo de colega de quarto. Muito menos um colega
de quarto do tipo Nick Ballantine.

Então, Nick fez o que qualquer cara de sangue quente e


problemático faria.

Ele se ofereceu.

E foi... estranho.

Taylor encarava Nick, Bradley estava encarando Taylor, e Nick...

Se serviu de uma xícara de café, fingindo indiferença.

— Então...? — ele perguntou à Taylor, erguendo a caneca preta da


Oxford em um questionamento. — O que me diz?

Os olhos cinzas dela o encararam em choque. Era revigorante vê-la


olhando para ele com algo diferente de desdém nos olhos, mas o
silêncio na sala estava começando a ficar desconfortável.
Onde diabos estava o resto da equipe numerosa da Oxford quando
se precisava deles? Inferno, os editores Lincoln Mathis e Cole
Sharpe não tinham um sexto sentido para aparecerem em situações
de merda como essa?

— Você não vai morar comigo. — Taylor finalmente conseguiu dizer.

— Definitivamente não — Bradley concordou, claramente aliviado


pela resposta de Taylor. Como se a opinião dele contasse.

Um erro. Dos grandes.

Nick tomou um gole de café para esconder o sorriso quando Taylor


mudou o alvo de sua raiva e direcionou-a para Bradley.

Para um homem que era colega de trabalho e namorado dela,


Bradley com certeza não conhecia muito bem a mulher.

Nick nem gostava de Taylor, e sabia que nada a deixava mais puta
do que quando diziam o que ela deveria ou não fazer.

— Acho que sua opinião não me é necessária.

— Taylor…

Calloway deu um passo na direção dela e os olhos de Taylor se


estreitaram em aviso.

Nick suspirou. Colocar lenha na fogueira havia sido divertido no


começo, mas o melodrama estava ficando chato.

— Pensando melhor, vou encontrar um lar mais acolhedor. Os trilhos


do metrô. Uma caçamba de lixo. Algum lugar do tipo.

Ele começou a recuar, deixando os dois sozinhos com a DR patética


deles, mas Taylor estendeu a mão e cravou as unhas vermelhas
perfeitamente cuidadas no antebraço dele.
— Nem se atreva a voltar atrás. Você precisa mesmo de um lugar
para morar?

— Mais cedo ou mais tarde precisarei — ele disse cautelosamente.


— Não é nada urgente.

Ela revirou os olhos.

— O que isso significa?

Significava que o péssimo hábito que Nick tinha de ajudar pessoas


necessitadas havia se voltado contra ele.

Sua oferta de deixar uma mulher com quem ele saía casualmente
ficar “por alguns dias” em sua casa se transformou em uma situação
em que a mulher havia se tornado uma sem-noção pegajosa que se
recusava a ir embora. Pouco importava que ele tivesse terminado
com ela.

O contrato de Nick terminaria dentro de um mês e, embora ele não


gostasse da ideia de desistir do estúdio no Lower East Side, onde
morava há anos, deixar o contrato expirar e fazer os dois terem que
encontrar um novo lugar para morar parecia uma atitude mais gentil
do que colocá-la para correr.

Ele tinha algumas semanas para descobrir o que fazer, mas morar
com Taylor teria lá seus benefícios. Mudar-se com outra mulher
deixaria finalmente claro para Jackie que eles haviam terminado de
uma vez por todas. Nunca haviam começado, na verdade.

— Olá? — Taylor chamou impacientemente.

Ele deu uma risada curta.

— É difícil imaginar por qual razão você está tendo dificuldade para
conseguir um colega de quarto.

A intenção de Nick era que as palavras soassem como uma farpa


casual – o tipo que eles se especializaram em trocar. Mas houve um
inesperado lampejo de tristeza no rosto perfeito de Taylor, indicando
que ele havia inadvertidamente atingido um ponto fraco.

Ah, merda.

Tanto ele como Taylor levavam tudo numa boa, mas magoar
intencionalmente uma mulher ia contra toda a educação que ele
recebera dos pais.

No entanto, Nick também a conhecia o suficiente para saber que, se


oferecesse um pedido de desculpas, ela destruiria o pedido com as
garras dela e o enfiaria na bunda dele, então ele respondeu com algo
melhor que desculpas.

Algo que ela precisava, mesmo que ainda não percebesse.

Nick se aproximou um pouco mais dela, não o suficiente para ser um


gesto inapropriado, considerando o ambiente de trabalho em que
estavam, mas perto o bastante para fazê-la assumir um olhar de
cautela, e pelo canto do olho Nick viu Bradley ficar tenso, embora o
homem não tenha dito nada.

Era toda a confirmação que ele precisava para saber que sua
intuição acertara na mosca.

A relação de Bradley e Taylor havia ido pelos ares. Caso contrário,


não haveria como Bradley sequer permitir que eles discutissem esse
tipo de assunto, muito menos deixar Nick chegar tão perto de sua
mulher.

E o olhar no rosto de Taylor disse a Nick que a separação não tinha


sido ideia dela. Ele quase abriu um sorriso. Como isso deve ter
irritado a Srta. Sempre No Controle de Tudo Carr.

E que perfeito para Nick.

Ele reconhecia uma mulher em busca de vingança quando via uma


e, felizmente para ela, se juntar ao plano dela também funcionaria
muito bem para ele.
Nick estendeu a mão e tamborilou o dedo indicador contra o folheto
na geladeira, na parte onde ela escreveu o endereço do prédio.

— Você mora a dois quarteirões do bar onde trabalho. Eu seria um


tolo de não considerar a ideia — ele disse calmamente.

Ela esfregou as têmporas.

— Já tenho problemas demais na minha vida para acrescentar o


esforço de tentar não ser presa por matar você.

— Problemas demais... tipo o quê, Carr, sua próspera vida amorosa?

Ela chiou de indignação, mas ele levantou um dedo em aviso.

Muito sutilmente, acenou com a cabeça na direção de Bradley.

Pense bem, ele silenciosamente instruiu Taylor.

Calloway caiu direitinho no plano de Nick, escolhendo aquele exato


momento para abrir a boca idiota.

— Já chega, Nick — disse Bradley. Sua voz era mais a de um


namorado ciumento do que a de um colega protetor. — Taylor, você
não pode estar seriamente considerando isso.

Nick manteve o olhar fixo em Taylor, esperando ela encaixar as


peças do plano brilhante dele.

Ele viu o momento em que isso ocorreu, viu quando os olhos dela se
arregalaram em compreensão. Soube no momento em que ela
percebeu que deixar Nick se mudar para o apartamento dela seria o
vai se foder final para Bradley.

Mas então, Nick viu algo que não esperava – um lampejo de


hesitação nos olhos dela. A relutância em usar uma pessoa para
fazer joguinhos com outra.
Isso sugeria uma bússola moral que Nick, francamente, não
esperava dela. Droga. Droga. Ele realmente, realmente não
precisava que Taylor Carr fosse uma boa pessoa por baixo daquele
corpo sexy pra caralho.

Ele considerou recuar, mas... já tinha chegado tão longe.

Além disso, poderia ser interessante. E ele realmente precisava de


um lugar para morar.

— Vamos, Carr. Está com medo? — ele provocou em uma voz


suave.

Ela pressionou os lábios, uma expressão que ele sabia que ela
pensava ser arrogante, mas na verdade era a que usava quando
estava nervosa.

— Do quê? — ela zombou depois de uma pausa muito longa.

— Você, eu, toda essa proximidade. Pode ser difícil resistir a mim.

Ela revirou os olhos, claramente de volta a si.

— Acho que posso lidar com isso.

O sorriso dele foi vitorioso.

— Então, quando posso me mudar?

— De jeito nenhum — Bradley disse com raiva.

Que idiota. Era exatamente a coisa errada a se dizer para uma


mulher como Taylor.

O maxilar dela tensionou, mas ela não olhou para Bradley, apenas
segurou o olhar de Nick e deu-lhe a resposta que ele precisava.

— Esteja lá no sábado, Ballantine. Você pode ficar com o quarto


menor. — Ela apoiou uma unha pintada no peito dele, empurrando-o
para trás enquanto falava.

Foi um toque casual – desdenhoso, até. Mas o corpo dele enrijeceu


no segundo em que ela fez contato, instantaneamente consciente do
toque dela. Desejando-a.

Ela sentiu também. Ele soube disso pelo jeito que ela soltou um
suspiro, pela maneira que ela piscou numerosas vezes, parecendo
adoravelmente desequilibrada.

Taylor puxou a mão de volta, olhando para ele como se fosse culpa
dele que eles tivessem química corporal por baixo de toda aquela
inimizade.

Ela se recuperou rapidamente e passou direto por Nick – embora


tivesse tomado o cuidado de não tocá-lo no processo, ele percebeu.

Tanto ele quanto Bradley se viraram para vê-la sair da sala, a bunda
firme exibida em um vestido apertado, a mais pura perfeição.

Bradley grunhiu para Nick, e Nick sorriu, sabendo que Bradley


pensava exatamente a mesma coisa que ele.

No ritmo que as coisas estavam indo, Nick poderia até começar no


quarto menor.

Mas ele acabaria no dela.

Finalmente.

Capítulo 4

— Eu ainda não consigo acreditar que você e Nick Ballantine


juntaram os trapos e vão morar juntos.

Taylor estremeceu ao tomar um gole do chá gelado.

— Você poderia, por favor, não falar assim? Vai arruinar meu apetite
por esse sanduíche perfeitamente delicioso.
Brit Robbins estendeu a mão sobre a mesa e roubou uma das
batatas fritas de Taylor.

— Bem, como você falaria, então?

— Eu diria que estamos resolvendo um problema — Taylor


respondeu, dando uma enorme mordida no sanduíche.

— Desde quando você e Nick Ballantine no mesmo espaço deixou


de ser o problema? — Isso veio de Daisy Sinclair, a outra
companheira de almoço de Taylor, e aparentemente não menos
propensa a deixar de lado a situação sobre o novo colega de quarto
do que Brit, que, fiel à sua promessa naquele primeiro dia, realmente
se tornou uma grande amiga.

Ou ao menos Brit era a melhor amiga de Taylor. Taylor tinha certeza


de que ela e Hunter Cross dividiam o posto de BFF na vida de Brit,
mas pelo menos o gostoso da Oxford era uma companhia digna.

Por qual razão Hunter e Brit não se pegavam de uma vez era um
mistério para Taylor, mas Brit jurou de pés juntos que ele era só um
amigo, e Taylor deixou para lá. E, embora Taylor os achasse
perfeitos um para o outro, ela poupou a amiga de todo aquele
discursinho de você está secretamente apaixonada por ele.

Isso era assunto pessoal de Brit, ela quem deveria resolver.

— Ela está nos ignorando — Daisy disse em um sussurro alto


enquanto se juntava a Brit para também roubar as batatas fritas de
Taylor.

Taylor se vingou dos furtos, estendendo a mão para o outro lado da


mesa e servindo-se do queijo-quente de Daisy.

Daisy Sinclair era outra daquelas mulheres raras com quem Taylor
parecia se dar bem. A amizade entre as duas era recente, então ela
não a conhecia tão bem quanto conhecia Brit, mas Taylor a adorava
na mesma medida.
O cunhado de Daisy era o editor-chefe da Oxford e, depois de se
mudar para Nova York, Daisy conseguira um emprego temporário
como recepcionista da empresa durante o período de licença
maternidade da recepcionista regular.

Ao menos essa tinha sido a versão oficial da história.

Extra-oficialmente, qualquer um diria que o destino (para quem


acreditava nesse tipo de coisa, o que Taylor na maioria das vezes
não fazia) havia enviado Daisy para Manhattan porque ela era a
única mulher que poderia domar o coração do lendário Lincoln
Mathis.

Taylor deu uma última mordida no queijo-quente de Daisy antes de


semicerrar o olhar para a loira bonita, cujos enormes e doces olhos
castanhos e vestido bastante feminino conseguiam encobrir um
senso de humor perverso.

— Cheguei a conclusão de que tudo isso é culpa sua — Taylor


declarou, colocando o queijo-quente de volta no prato da amiga.

Daisy bufou.

— Como é que você chegou a essa conclusão?

— Se você tivesse se apaixonado por Nick, e não por Lincoln, a essa


altura ele seria problema seu.

Daisy bateu o punho de leve contra a lateral da cabeça.

— Tenho certeza de que estou ouvindo errado. Não foi você quem
me disse que iria desfazer nossa amizade para sempre se eu
namorasse com o Nick?

— Mas você de fato namorou com ele — disse Taylor.

— Ér… — Brit falou, mastigando uma batata frita. — Acho que


namoro é uma palavra muito forte para o que Nick e Daisy tiveram.
Daisy assentiu.

— Exatamente. Possivelmente nos encontramos para dois almoços e


um jantar. E acho que desde o início Nick soube que eu só estava
ganhando tempo até Lincoln finalmente abrir os olhos.

— Queria que Bradley abrisse os olhos também — disse Taylor,


dando um suspiro irritado.

Brit e Daisy trocaram um olhar, e Taylor apontou para as duas.

— Desembuchem.

Daisy piscou inocentemente.

— Desembuchar o quê?

— Vocês duas têm algo a dizer, algo que acham que não vou gostar.
Vamos, digam.

— Ok, está bem — disse Brit, afastando o prato e cruzando os


braços sobre a mesa. — Mas lembre-se, Carr, foi você quem pediu.

Taylor balançou os dedos em um gesto que dizia anda logo com isso.
Ela não gostava quando amigos enrolavam para dizer a verdade.
Daisy e Brit sabiam disso.

— Sobre você e Bradley — Brit começou, o tom de voz suavizando


um pouco. — Sabemos que você está chateada, mas para nós é
impossível deixar de notar que você parece mais irritada do que triste
com o término.

Taylor piscou.

— É claro que estou triste.

— Tenho certeza de que você está sofrendo — Daisy apaziguou a


situação em seu leve sotaque sulista. — É só que... se tem
esperança de voltar com Bradley, me parece que essa situação com
Nick pode acabar saindo pela culatra.

— Vocês não estavam lá — Taylor rebateu com confiança as


palavras das amigas. — Bradley parecia prestes a explodir só com a
suposição de eu e Nick morando juntos.

— Exatamente o que todo mundo deseja para seu verdadeiro amor


— Brit murmurou.

— Funcionou para Daisy — respondeu Taylor, sentindo-se mais na


defensiva a cada segundo que se passava. — Daiz, você mesma
disse que Lincoln ficou todo puto e com ciúmes quando pensou que
você e Nick estavam ficando.

— Há uma diferença entre sair para jantar com Nick e morar com
Nick — disse Daisy. — E eu realmente gosto do Nick. Eu não estava
usando-o intencionalmente.

Taylor apenas encarou a amiga.

— Você gosta do Nick? Como isso é possível?

— Puxa, difícil saber — Brit disse, começando a erguer os dedos e


listar. — Gostoso pra caramba, faz coquetéis muito bons, segura e
abre portas para as mulheres, fica tão bem de jeans quanto de terno.
E sei que não sou a única que acha que a voz dele soa como o sexo
em si.

Daisy assentiu com entusiasmo.

— Sim! Toda baixa e rouca, como se ele tivesse acabado de fazer


coisas bem safadas por um longo período de tempo.

— Continue com essa conversa nojenta e eu repetirei palavra por


palavra para Lincoln — disse Taylor, empurrando o prato para longe.

— A questão é que — disse Daisy, ignorando a ameaça — essa


coisa de vocês dois serem como água e óleo não é exatamente
muito boa para o status iminente de colegas de quarto. Quero dizer,
vocês dois vão dividir o mesmo espaço que as facas da cozinha.

— Então faremos o possível para evitar um ao outro — disse Taylor,


enterrando o assunto. — O cara é um barman de meio período,
tenho certeza de que nossos horários mal se coincidirão. Além disso,
vocês estão tornando Nick a parte principal da situação. Podemos,
por favor, falar sobre o cara que realmente importa?

A voz dela estava um pouquinho impaciente, e suas amigas


hesitaram por só uma fração de segundo antes de assentir.

— Claro — disse Brit em uma voz mais suave. — Você conversou


com ele alguma vez desde o término?

Taylor deu de ombros.

— Ele ainda não atende minhas ligações. Ou responde minhas


mensagens. — Então, ela gemeu. — Meu Deus, estou sendo esse
tipo de garota? A que continua insistindo e não se toca?

— Tay. O cara terminou com você no dia em que vocês programaram


de começar a morar juntos.

Taylor poderia jurar que ouviu Brit abafar a palavra babaca com uma
tosse.

— Você está certa em exigir respostas — continuou Daisy. — Você


as merece.

— Eu vou consegui-las — disse Taylor decididamente, sorrindo em


agradecimento enquanto o garçom recolhia os pratos. — Ele vai cair
em si.

— Cara — Brit disse com uma risada enquanto tirava o cartão de


crédito da carteira. — Aposto que Calloway está rangendo os dentes
com o pensamento do Nick te vendo naquelas camisolas justas e
minúsculas em que você dorme.
— Pensei que você não tivesse gostado do meu plano — Taylor
retrucou, colocando o cartão de crédito junto com os outros. — Que
eu estivesse usando o Nick.

— Não, essa é a opinião da Daisy — disse Brit, soprando um beijo


para Daisy. — Ela é uma pessoa melhor do que nós. Eu acho o
plano genial, desde que, claro, você e Nick não se matem.

— E será temporário — Taylor acrescentou rapidamente. — Não


esqueça de que será temporário. Só por tempo suficiente para fazer
Bradley abrir os olhos.

— Então você concorda que ele é incapaz de enxergar o que está na


frente dele? — Brit perguntou curiosamente.

— Sim, os olhos dele devem estar firmemente alojados onde o sol


não brilha — disse Taylor, sem se sentir nem um pouco culpada.

Ela adorava Bradley, mas ele estava começando a irritá-la de


verdade.

Já era ruim o bastante ter terminado com ela por meio de uma carta,
apesar de ela ter tentado entender o lado dele. Conversas difíceis
também não eram exatamente o forte dela.

Mas eles não deviam isso um ao outro? Sentar e conversar sobre o


que diabos havia acontecido?

Que tipo de homem namora uma colega de trabalho, termina e


depois se recusa a discutir o assunto com ela?

Ainda assim, Taylor não iria desistir.

Ele não poderia evitá-la para sempre.

Eles trabalhavam juntos. E sim, todos os avisos que vinham no


pacote quando se namorava um colega de trabalho aparentemente
eram absolutamente necessários. Agora ela entendia por qual razão
todo mundo desaconselhava romances no local de trabalho.
Karen estaria se revirando no túmulo se soubesse que Taylor tinha
sido tão estúpida.

Mas o estrago estava feito, e agora Taylor estava determinada a


fazer a situação ficar a seu favor. Tudo o que ela precisava fazer era
encurralá-lo com um problema de trabalho – e então mudar o tópico
da conversa para eles.

O homem devia isso a ela: olhá-la nos olhos e se explicar.

— Você está bem, querida? — Daisy perguntou, massageando as


costas de Taylor quando as três mulheres saíram do restaurante e
entraram na luz do sol da tarde.

— Nunca estive melhor — disse Taylor, enroscando os braços nos de


suas duas melhores amigas e forçando um sorriso.

— De verdade? Porque você levou um pé na bunda há menos de um


mês e vai passar a morar com seu inimigo mortal — apontou Brit.

Taylor riu.

— Às vezes não sei se você é minha melhor ou pior amiga.

— Mas, falando sério, como você consegue estar tão feliz agora? —
Brit pressionou. — Eu estaria me entupindo de vinho ou sorvete. Ou
ambos.

Isso é porque você não foi criada por Karen Carr, pensou Taylor.

Sua tia não acreditava em crises de esgotamento emocional.

Taylor nem tinha certeza de que sabia como ter uma. Ela não
conhecia outro jeito de lidar com a rejeição que não fosse com uma
armadura de guerra e um plano.

E agora o plano B estava decididamente em jogo.


Ela só desejava não ter sido tão estúpida a ponto de fazer o plano
depender de Nick Ballantine.

Capítulo 5

— Você está mesmo de mudança?

Nick puxou um pedaço da fita adesiva e esticou-a por cima de mais


uma caixa, lutando contra o desejo de perguntar à sua ex como
diabos ela associara a enorme pilha de caixas a qualquer coisa,
menos à possibilidade de ele estar de mudança.

Em vez disso, ele sorriu e virou-se para o vão da porta onde ela
estava, mal-humorada, bebericando uma taça de vinho Chardonnay.

— Você mal notará que eu fui embora.

— Bem, isso é verdade — Jackie murmurou. — Eu mal te vejo.

Porque nós terminamos.

Mas ele nem se deu ao trabalho de gastar o fôlego. Semanas atrás,


ele dissera à Jackie que as coisas não estavam mais dando certo e,
com base no chororô de uma semana que se seguiu, ele pensou que
ela tivesse entendido.

Mas se havia alguém que sabia interpretar o papel de ex rejeitada e


namorada grudenta simultaneamente, era essa mulher.

Ela alternava entre permanecer em completa negação do término


deles e espalhafatosamente de coração partido.

— Você não precisa ter pressa para sair daqui — disse ele, pegando
uma caixa vazia e largando-a na frente da cômoda, antes de
despejar uma gaveta cheia de camisetas no papelão. — O contrato
vai durar até o final do próximo mês.

— Então, por que você está se mudando agora? — ela choramingou.


— Ah, qual é, Jackie. Você ficará melhor sem seu ex à espreita —
ele disse, mantendo a voz no tom mais gentil possível.

Não era culpa dela que ele fosse tão idiota. Tampouco era culpa dela
que em sua educação ele foi ensinado que homens de verdade
tratam as mulheres com respeito, o que significava que ele não tinha
coragem de tirá-la à força do apartamento.

Esse término saudável seria melhor para os dois, e talvez o novo


começo que ele precisava para voltar a ser quem era.

Houve um tempo em que Nick era o tipo de cara que sabia ler as
mulheres. O cara que só precisava dar uma olhada em uma mulher
para saber se ela só estava atrás sexo casual, se era sexy mas
caótica ou se era o tipo de garota para apresentar à mãe.

Mas desde o caso com Kelsey, ele... perdera essa habilidade.

Prova disso foi que quando Jackie se aproximou do bar dele alguns
meses atrás, ele a considerou meiga, divertida e uma perfeita
relação-sem-compromisso em potencial.

Depois de algumas semanas de encontros casuais, ela


espontaneamente mencionou um problema que estava tendo com o
proprietário de seu prédio, mas riu da situação como se não fosse
grande coisa e disse que procuraria um quarto de hotel.

Nick não pensou duas vezes antes de dizer que ela poderia ficar na
casa dele por algumas noites enquanto resolvia o problema.

Não foi o maior erro que ele já cometera tratando-se de uma mulher,
mas estava definitivamente entre os cinco primeiros.

Quase da noite para o dia, Jackie deixou de ser uma garota divertida
que amava rir e nunca enchia o saco dele por não telefonar, e virou
uma pessoa paranoica e emotiva que achava que todas as
mensagens que ele recebia eram de outra mulher e que cada turno
de trabalho dele era uma desculpa que ele usava para “sair pegando
todas”.
Era irritante? Pra caramba.

Mas ele culpava a si mesmo muito mais do que a ela. Certo, talvez
culpasse a ex um pouquinho. Ela não somente arrancou seu coração
– assim que percebeu o quanto havia interpretado-a mal, ele perdeu
a confiança em sua capacidade de ler as mulheres.

Jackie dificilmente poderia ser considerada o primeiro erro dele nos


últimos meses. Ela só era o mais dramático.

O celular tocou no bolso de trás e ele o pegou, nada surpreso ao ver


que era mais uma mensagem de sua mãe, no Facebook. Pelo
menos ele tinha certeza de que era a mãe dele. Os pais dele tinham
aquela coisa de perfil de casal no Facebook, então todas as
notificações vinham de Belinda e Bob Ballantine. Mas Nick não tinha
certeza se seu pai sequer sabia que estava no Facebook.

No entanto, a verdadeira razão pela qual ele soube que era a mãe
dele foi pela intenção da mensagem: bisbilhotar.

Nick, querido, não sei se você viu minha mensagem e e-mail, mas
seu irmão disse que você estava de mudança? Me mande o seu
endereço para que eu possa enviar um presente de boas-vindas.
Devo comprar algo para apartamento de solteiro, ou...?

Nick revirou os olhos e digitou uma resposta. Nada de presentes,


mãe. Não tenho 22 anos, já tenho tudo o que preciso.

Ela estava aparentemente online, porque respondeu quase que


instantaneamente. Mesmo? Você tem meus biscoitos de aveia
caseiros? Porque eles podem já estar amanhecidos...

Nick hesitou... e então respondeu a mensagem com seu novo


endereço.

Obrigada, querido! Belinda digitou em retorno. Agora, devo enviar


uma remessa grande o suficiente para duas pessoas, ou só uma...?
— Ah, pelo amor de Deus — ele murmurou, colocando o celular de
volta no bolso sem digitar nada em resposta. Ele ligaria para a mãe
mais tarde e explicaria a situação.

Não que ela fosse acreditar nele. Ele não podia nem mencionar o
nome de uma mulher sem sua mãe usar a palavra casamento na
mesma conversa.

— Para onde você vai se mudar? — Jackie perguntou, claramente


de mau humor por ser ignorada.

— Para o lado norte da cidade — disse ele, jogando as meias dele


na caixa. — Mais perto do trabalho.

— Qual trabalho? A Oxford ou o bar?

— Os dois — disse ele, pegando a fita.

Isso era tecnicamente verdade. O apartamento de Taylor no Upper


East Side ficava a apenas alguns quarteirões de distância do bar do
hotel onde ele trabalhava alguns dias por semana, como também
ficava mais perto dos escritórios da Oxford do que sua moradia atual
no Lower East Side.

— Como foi mesmo que você encontrou esse apartamento?

O como foi mesmo era uma armadilha. Ele não dissera nada a ela.
Ele não devia nenhuma explicação à Jackie, e aprendeu da maneira
mais difícil que dizer a alguém como Jackie que iria morar com outra
mulher, não importa o quão platônica – e antagônica – fosse a
situação, era o mesmo que implorar por problemas.

— Um colega de trabalho precisava de um colega de quarto — disse


ele laconicamente.

— Que colega de trabalho?

— Taylor.
Ele nunca havia pensado muito no nome neutro de Taylor Carr, mas
caramba, estava agradecido por isso agora.

— Eu o conheço?

Nick terminou de lacrar a caixa e abriu o resto das gavetas da


cômoda para se certificar de que tinha guardado tudo.

— Amanhã, às nove, alguns caras virão para me ajudar a colocar as


coisas na caminhonete — ele informou, virando-se para encarar
Jackie e ignorando a pergunta. — Vou tirar todas essas coisas do
seu caminho, e poderá ficar com o closet só para você.

Ela fez beicinho.

— Não quero tudo só para mim. Eu quero você.

Ele inalou, lutando por paciência. Só mais algumas horas. Mais


algumas horas e esse pesadelo acabaria.

Nick nunca pensou que chegaria o dia em que estaria ansioso para
morar com a megera da Taylor Carr, mas tinha que ser melhor que
sua situação atual.

Ele passou a mão pela parte de trás do pescoço e examinou as


caixas, percebendo que não receava o dia da mudança amanhã
tanto quanto pensou.

Claro, sua motivação inicial para morar com Taylor foi fugir de Jackie.
E talvez punir Calloway só por ser um idiota.

Mas havia outros benefícios também. Taylor podia não ser sua
mulher favorita no planeta, mas talvez fosse esse o ponto.

Ao menos Taylor ele havia lido bem. Ele gostava de saber o que ela
era. Competitiva, fria, sarcástica. Taylor Carr era um livro aberto, e
ajudava o fato de o embrulho mal-humorado ser também gostoso.
Mas quando, de costas para Jackie, Nick ergueu uma caixa de
roupas e colocou-a no topo de uma das pilhas, sentiu uma onda de
desconforto.

Uma lembrança de um tempo em que Taylor não era tão fria e


fechada. De uma época em que ela não o odiava.

Nick tinha certeza absoluta de que ele e Taylor Carr tinham assuntos
não resolvidos.

O que ele não tinha tanta certeza era porque diabos ele queria
resolvê-los.

Capítulo 6

— O que é isso? Que diabos é isso?

Nick nem se incomodou em olhar por cima do enorme móvel que


estava agachado atrás.

— Taylor Carr, conheça o século XXI. Isto é uma televisão de tela


plana.

— Não, na minha sala de estar não — disse ela, as mãos nos


quadris.

— Nossa sala de estar — ele corrigiu, ficando de pé e conectando


um cabo em uma caixa preta que ela não reconheceu.

— Você tem ideia de quanto tempo levei para escolher os móveis


desse lugar? Para descobrir como organizá-los?

— Não. Mas parece um tópico de conversa realmente fascinante.


Podemos guardá-lo para mais tarde, para entrarmos de fato nos
detalhes? Eu definitivamente quero saber tudo sobre esse sofá
branco desconfortável. — Ele acenou com a cabeça na direção do
moderno sofá de couro branco com o qual ela gastara meio mês de
salário.
— Não é desconfortável — disse ela, na defensiva.

— Parece desconfortável. — Ele nem olhou para o móvel enquanto


encaixava um fio em outra caixa preta que ela também não
reconheceu.

— Não. O que me parece é que alguém o mudou para o lugar errado


— disse ela. — Quando eu saí hoje de manhã, estava encostado na
outra parede.

— Ah, é mesmo? — ele murmurou sarcasticamente.

Ela contornou a pilha de caixas de mudança para chegar ao sofá.

Mesmo sabendo que era muito pesado para arrastar sozinha, ela
colocou as duas mãos em um dos braços e fez um esforço cheio de
teimosia para colocá-lo de volta no devido lugar.

— Não vou mentir... Essa vista não me incomoda, Carr.

Ela se empertigou e virou-se, dando a Nick o mais frio dos olhares.

— Então é assim que vai ser? Você vai ficar me secando o tempo
todo?

— Bem. — Ele a estudou, mordendo preguiçosamente o laço de


torção preto do cabo. — Acho que depende. Com que frequência
você vai usar calças justas?

— Isto é uma legging.

— E tenho certeza de que você não tem ideia do que ela faz com a
sua bunda, certo?

Na verdade, Taylor sabia exatamente quais maravilhas calças


legging faziam com um traseiro feminino. Todas as mulheres sabiam.

Mas, para puni-lo por dizer isso em voz alta, ela se virou e curvou-se
sobre o sofá novamente, um pouco mais devagar desta vez,
querendo torturá-lo.

Ela registrou o som de um forte tapa em sua bunda uma fração de


segundo antes da ardência.

— Ai! — ela gritou, cobrindo instintivamente o lugar que ele acabara


de bater.

Nick caiu sentado no sofá branco, os dois braços apoiados sobre as


costas do móvel. Era um sofá enorme, mas com o corpo grande de
Nick, de repente, não parecia tão enorme assim.

— Quem diria... não é tão desconfortável, no fim das contas.

— E nem deveria ser — disse ela, ainda massageando a bunda. —


Não com o preço que paguei.

Nick deu um tapinha no espaço ao lado dele, um convite silencioso


para que ela se sentasse.

— Eu passo.

Ele deu de ombros, evidentemente não dando a mínima.

— Você tinha razão, colega de quarto, o rodateto original é


fantástico.

— Cala a boca — ela murmurou. E então, porque era sábado e ela


não tinha nada melhor para fazer, especialmente não enquanto seu
apartamento estivesse totalmente desarrumado, ela se sentou ao
lado dele. — Já que eu não gosto mesmo de você, fique à vontade
para me dizer a verdade — disse Taylor, apontando com a cabeça
para a televisão. — O tamanho ridículo dessa TV é para compensar
alguma coisa?

— Não gostar de mim não a impede de descobrir sozinha — disse


ele, dando-lhe um sorriso sem-vergonha.
Ela revirou os olhos e largou os Nikes azul-água na mesinha de
centro, recostando-se no sofá. Seu rabo de cavalo bateu no
antebraço dele, e ela se virou para encará-lo feio por ocupar todo o
espaço, mas ele só alargou mais o sorriso.

Ela ficou exatamente onde estava. Essa era a casa dela. Ela se
recusava a se sentir desconfortável.

Apesar de que... no momento, a casa não parecia mais tão dela.

A caminhonete de mudança de Nick havia deixado o local há menos


de uma hora e ela podia jurar que o lugar já estava diferente.

E não só porque a televisão horrível desarmonizava toda a energia


do ambiente.

No espaço de uma manhã, de alguma forma ele fez o lugar parecer


mais masculino, e não da maneira sexy e com vibes de casal que ela
esperava conseguir quando planejou morar aqui com Bradley.

A masculinidade de Nick era mais... óbvia, de alguma forma.

Irritante.

— Você nunca me disse o real motivo por trás da sua decisão de


fazer da minha vida um verdadeiro inferno se mudando para cá —
disse ela, cruzando os tornozelos.

— Uma combinação de coisas.

— Me conte as três primeiras.

— Deixar Calloway puto, levar você pra cama e criar uma distância
entre mim e uma ex louca.

Taylor ignorou a primeira – ela já havia percebido essa devido à


estranha guerra de testosterona na sala de descanso. A segunda ela
nem perderia tempo respondendo. Mas a terceira... a terceira era
interessante.
— Você tinha uma stalker?

— Estava mais para uma colega de quarto temporária que não


queria ir embora.

— Ah, tipo o que eu tenho no momento.

— Não. É diferente. Estou pagando aluguel. Jackie era mais como


uma...

— Sim...? — Ela estimulou, mais intrigada do que gostaria para


saber como era a vida de Nick quando ele não estava sendo uma dor
de cabeça para ela na Oxford. Especialmente no que se referia à
companheira dele.

Ele olhou para ela e deu um sorrisinho arrogante.

— Você se importa com os meus problemas, Carr?

— Estou mais curiosa para saber que tipo de garota sequer cogitaria
sair com você.

Os olhos dele se estreitaram um pouco, mas ele era decente o


suficiente para não lembrá-la daquela época ilusória um ano antes,
quando ela cogitou sair com ele. Ou talvez não fosse gentileza, e sim
ele guardando essa pouca munição para outro momento.

— Sua melhor amiga me achou bom o suficiente para alguns


encontros — disse ele.

— Sim, e como você se saiu contra Lincoln? — ela retrucou


docemente, lembrando a ele que no momento em que o verdadeiro
amor de Daisy entrou na vida dela, ela não deu a Nick sequer mais
um olhar.

Ele se encolheu e Taylor sentiu uma pontada de culpa.

Nick e Daisy podem não ter tido nada sério, mas não deve ter sido
fácil para o orgulho dele vê-la escolher outra pessoa.
— Então, essa tal de Jackie — disse Taylor, esperando levar os
pensamentos dele em uma direção diferente. — Totalmente surtada?

— Digamos que a mudança de endereço foi necessária — ele falou


secamente. — Mas como você obviamente está morrendo de
vontade de discutir ex-namorados, quanto tempo tenho até Calloway
bater nessa porta e me desafiar para um duelo?

Foi a vez dela de estremecer. Infelizmente, ele olhou bem a tempo


de vê-la fazer isso.

— Ele ia mesmo morar aqui com você? — Nick perguntou, a voz um


pouco mais gentil do que antes.

Ela engoliu em seco, não totalmente certa de que queria discutir um


dos momentos mais embaraçosos – e dolorosos – de sua vida adulta
com Nick Ballantine.

Especialmente porque a ferida parecia ficar mais profunda a cada dia


que se passava. Ela tinha tanta certeza de que o encontro entre ela e
Bradley, marcado para ontem, seria sua chance de descobrir o que é
que dera nele – uma chance de eles conversarem sobre o que
diabos havia acontecido.

Em vez disso, o covarde não só cancelou o encontro, ele ligou para


dizer que estava doente. De novo.

Doente porra nenhuma. Ele ainda estava evitando-a.

Mas de jeito nenhum ela iria pronunciar uma palavra sequer sobre
isso para Nick.

— Bradley está só amarelando. Ele vai cair em si e aparecer.

— Então tá.

Ela o encarou, séria, ao ouvir a expressão.

— Então tá o quê?
— Que atitude babaca, concordar em morar com uma garota e
desistir bem no dia da mudança.

— Menos babaca do que abandonar uma garota depois de ter


convidado-a para morar com você?

Ele se levantou do sofá.

— Quer uma cerveja?

— São onze da manhã — disse ela quando ele foi até a geladeira.

Em resposta, ele pegou duas garrafas que provavelmente trouxe


com ele, porque ela não havia as comprado. Nick levantou uma para
ela, oferecendo.

Ela suspirou e recostou-se novamente no sofá.

— Sim. Claro.

Ele abriu as gavetas até encontrar o abridor de garrafas e depois


atravessou a sala para entregar uma a ela.

Ela assentiu em agradecimento, mas parou com a garrafa a meio


caminho dos lábios, sem conseguir reconhecer o olhar no rosto dele
enquanto ele a estudava.

— O que foi? — Taylor disparou. — Está tentando formular um tipo


de insulto?

— Não. Quando se trata de você, sempre tenho uma dúzia de


insultos reservados. É um poço sem fundo. — Ele inclinou a garrafa
para trás e tomou um gole, ainda a observando.

— Então, por que está me olhando assim? Vai me dar alguma


palestrinha?

— Bem... — Ele tomou outro gole. — Bem. Quer mesmo saber? Meu
caso com Jackie? Nunca foi sério. Nunca. Me ofereci para deixá-la
ficar na minha casa por algumas noites, e sim, usei essas mesmas
palavras, e ela apareceu naquela mesma tarde com um caminhão de
mudança.

Taylor piscou.

— Hum, que psicopata.

Ele deu de ombros.

— Ela tem problemas. Mas a questão, Carr...

— Isso, me diga qual é a questão — disse ela, cansando-se de ficar


sentada e se colocando de pé. Ela era alta para uma mulher, pouco
mais de 1,73, mas ele era vários centímetros mais alto e ter que
olhar para cima a deixava incomodada.

— Eu não quebrei nenhuma promessa — disse ele calmamente. —


Também não quebrei nenhum contrato.

— O que isso quer di... Ah, espera, já entendi. Você é um cara legal
que estava ajudando uma garota surtada, mas Bradley é um
completo idiota. É isso que seu discurso encorajador quer dizer?

— Só estou dizendo que você merece coisa melhor — ele respondeu


baixinho.

Então, ele brindou o gargalo da garrafa de cerveja dele com a dela.

— Ou pelo menos mereceria se não fosse uma vaca.

Taylor riu contra a própria vontade.

— Eu realmente te odeio.

Nick sorriu.

— Quer me ajudar a desfazer as malas?


— Ah, claro, por favor, posso? Talvez eu possa passar sua roupa
enquanto isso.

Ele deu de ombros, depois colocou a garrafa na mesinha de centro e


voltou a mexer na TV.

— Se acha mesmo que há uma chance de Calloway aparecer, você


definitivamente deveria continuar exibindo sua bunda nessa calça.
Seu corpo é quase bom o suficiente para ele ignorar a
personalidade.

A alfinetada doeu mais do que ela esperava, mas ela era inteligente
o suficiente para se retirar em vez de deixar transparecer.

Taylor desfilou com sua calça, sua bunda e sua cerveja até o quarto,
desfrutando completamente da batida satisfatória que a porta deu ao
se fechar atrás dela.

— Cuidado com a arquitetura original! — ele gritou.

Taylor deixou uma risada escapar. Ela realmente o odiava.

Capítulo 7

A criação de Taylor não abriu muito espaço para tendências


românticas.

Sua mãe era uma aspirante a estrela pop. Conheceu o pai


aventureiro de Taylor em um bar quando tinha 22 anos.

Taylor não sabia muitos detalhes, graças a Deus, mas a versão que
contaram para ela posteriormente foi que ela foi concebida no banco
de trás de um Chevrolet, após muitas doses de uísque.

O carro sequer pertencia aos pais dela. Nenhum dos dois jamais
teve mais de cem dólares no bolso. Não, eles decidiram deixar a
situação ainda mais elegante e tiveram um sexo dos bons no banco
de trás do carro de um amigo.
Isso resultou em um casinho de duas semanas, seguido por um
término repentino, mas tranquilo. Depois disso, provavelmente nunca
mais se veriam.

Exceto que nove meses depois, Taylor nasceu.

Sua mãe ficou com ela por admiráveis dois anos antes de decidir que
a maternidade não era a praia dela. Foi embora para assumir o posto
de backing vocal de uma “estrela” há muito tempo esquecida, mas
acabou morrendo de overdose aos 25 anos.

Taylor lamentava a trágica perda de vida em uma idade tão jovem,


mas lamentar a perda da mulher em si? Seria mais fácil lamentar a
morte de um perfeito estranho.

Para dar um pouquinho mais de crédito, o pai de Taylor se esforçara


um pouco mais. Ele ficou com ela, pelo menos.

Trabalhou em dois empregos para poder pagar uma creche para a


filha pequena.

Taylor era nova demais para se lembrar disso, mas, mesmo se


lembrasse, não teria importância.

Pelo que a tia lhe dissera, todo o tempo livre de Vance Carr era gasto
em rachas, um hobby que ele tinha.

O mesmo hobby que o levou a morte quando Taylor tinha quatro


anos.

Órfã, antes mesmo de começar o jardim de infância.

A irmã mais velha de Vance Carr, Karen, era a única coisa entre a
pequena Taylor e o sistema de adoção.

Uma vez, Karen disse à Taylor que, embora ela e o irmão não
fossem próximos, foi ela quem insistiu no teste de paternidade
quando a mãe de Taylor apareceu grávida.
Taylor era grata por isso. Porque quando Karen soube que era a
guardiã legal da sobrinha de quatro anos, ela não contestou. Taylor
era uma Carr, e isso era tudo que Karen precisava saber. Se Karen
alguma vez se queixou com alguém por herdar um filho que não
queria, não foi com Taylor.

Taylor não se lembrava muito dos primeiros dias, mas lembrava-se


claramente de um dia de verão bem abafado em que sua tia chegou
à delegacia de Athens, na Geórgia. Ela estava vestida com o que
Taylor mais tarde reconheceria como o “uniforme” da tia: saia lápis
preta, blusa de seda e sapatos pretos caros, mas práticos.

Karen examinou o local apertado e malcheiroso, caminhou com


confiança em direção a uma Taylor aterrorizada, e disse-lhe para não
se preocupar. Disse que ela estaria segura e que seria cuidada.

Não houve abraços nem sorrisos, mas mesmo em uma tenra idade,
Taylor pôde sentir a confiança da tia. A competência dela.

Uma hora depois, a papelada ficou pronta e elas saíram da


delegacia, lado a lado, embora não de mãos dadas, e foram até o
sedan preto que sua tia havia alugado para ir e voltar do aeroporto.

Poucas horas depois disso, elas chegaram ao apartamento com vista


para o Central Park de Karen, e simples assim, a nova vida de Taylor
tinha começado.

Sua tia nunca se casou e, até onde Taylor sabia, nunca sequer
cogitou isso. Lendo nas entrelinhas, Taylor imaginava que a tia
também não planejara ter filhos, mas Karen Carr dificilmente era o
tipo de mulher que diria não às responsabilidades.

Taylor não teve uma figura paterna e, graças à influência da tia,


nunca realmente descobriu qual era a utilidade dos homens. Claro,
ela teve a própria cota de primeiros beijos esquisitos no ensino
médio e vários ficantes na faculdade, mas nunca se imaginou
apaixonada por alguém.
Ela não acreditava em paixão. Não de uma maneira amargurada ou
por dor de cotovelo, apenas no sentido de não achar que precisava
daquilo.

Ela gostava de homens. Gostava do tamanho deles, do jeito que


beijavam, da sensação de ter um corpo masculino em cima dela,
embaixo dela, tanto faz. Mas não a ponto de mantê-los em sua vida
para sempre. Isso nunca.

Ainda assim…

Ela achou que as coisas com Bradley pudessem ser diferentes.

Ou pelo menos tinha esperança de que seriam.

Tinha esperança de que ser compatível, nunca brigar e gostar dos


mesmos tipos de vinho fosse ser suficiente para fazê-los durar a
longo prazo.

Droga, ela pelo menos queria ter tido a chance de tentar.

Mas agora, em vez de estar morando com Bradley, ela estava sendo
colega de quarto de Nick Ballantine – de todas as pessoas no mundo
–, e isso a deixava desequilibrada pra caramba.

Taylor não gostava de se sentir desequilibrada e sabia exatamente


para onde direcionar sua irritação.

A porta de Bradley estava fechada, mas ela sabia que estava na


programação dele, porque ele aceitara o convite para se encontrar
com ela, o que ela assumiu como sendo um bom sinal.

Ela não parou para pensar que estava alguns minutos adiantada
antes de bater o punho de forma impaciente na porta e abri-la, como
havia feito um milhão de vezes antes.

Exceto que em todas essas outras vezes, ela nunca havia sido
recebida por essa visão.
A outra mulher saltou para trás, mas não rápido o suficiente.

Taylor ainda assim conseguiu registrar todos os detalhes cruciais.

A maneira como as mãos de Bradley se afastaram dos quadris da


outra mulher, a forma como os olhos dele se encheram primeiro de
dor e depois de arrependimento ao encontrarem os de Taylor,
expressando um pedido de desculpas resignado.

Taylor desviou o olhar bruscamente. Ela não conseguia olhá-lo… não


conseguia respirar.

Em vez disso, ela olhou para a outra mulher e ficou um pouco


surpresa ao se dar conta de que a conhecia.

— Jessica?

A mulher sorriu e, embora Taylor esperasse que o sorriso fosse ser


mal-intencionado e auto-satisfeito, na verdade foi um sorriso tímido
e... gentil.

Claro que sim. Essa era Jessica... qual era o sobrenome dela?

Hayes?

Sim. Jessica Hayes. A quieta redatora que ocasionalmente


comparecia às reuniões da equipe, mas com quem quase todos se
comunicavam por e-mail.

— Taylor — Bradley disse em sua voz maravilhosamente suave. —


Esta é a Jess.

— Sim — ela conseguiu dizer, aliviada por sua voz estar firme. — Eu
conheço a Jess…

A voz dela falhou. Jess.

Jess. Não Jessica. Jess.


Os olhos dela voaram de volta para Bradley.

— Jess. Aquela sua ex-namorada?

A misteriosa Jess tinha sido o único segredo de Bradley. Taylor sabia


de sua existência, sabia que eles haviam terminado não muito tempo
antes de ele conhecer Taylor, mas não sabia muito mais do que isso.

E certamente não sabia que a mulher trabalhava na Oxford. Que


esteve ali, bem embaixo do nariz de Taylor, esse tempo todo.

Taylor vasculhou o cérebro em busca de tudo o que sabia sobre


Jessica, a redatora, e conseguiu... quase nada.

A outra mulher era bonita de uma maneira sutil. Olhos azuis


enormes, cílios espessos que não apresentavam nenhum sinal de
rímel. Cabelos escuros e lisos brilhosos, mas com um corte reto e
sem graça. Taylor pareceu lembrar-se que ela frequentemente usava
óculos, embora não os usasse no momento. Jessica tinha grandes
lábios carnudos, mesmo sem vestígio de gloss. Taylor admitiria isso
a ela, mas…

— Jess não é minha ex — Bradley dizia calmamente. — Não mais.

As palavras atingiram Taylor, e ela recuou um passo.

Jessica fez um suave ruído de desapontamento e lançou um olhar


incrédulo para Bradley antes de dar um passo na direção de Taylor.

— Taylor. Por favor. Nós nunca quisemos…

— Não — implorou Taylor, horrorizada ao sentir um nó se formar na


garganta, um que parecia suspeitosamente como lágrimas iminentes.

Taylor Carr não chorava. Tirando aquela única vez.

Taylor, querida, é melhor você se segurar. Em toda a história, chorar


nunca resolveu um problema sequer.
Com a voz da tia na cabeça, Taylor ergueu o queixo e forçou o olhar
de volta para Bradley.

— Essa é a razão? Você me deixou uma carta no dia em que íamos


começar a morar juntos porque estava voltando com sua ex?

— Essa não é uma conversa para agora, Taylor — disse Bradley em


um tom afiado.

— Não, não é — Taylor rebateu. — É uma conversa que deveria ter


acontecido semana passada, quando você deveria ter terminado
comigo feito um homem. Cara a cara.

Pelo canto do olho, ela podia jurar que viu Jessica tentar esconder
um olhar de choque, mas Taylor manteve a atenção em Bradley.

O rosto dele se enrugou em remorso.

— Taylor…

Ela não ficou lá para deixá-lo concluir a frase com algum chavão
patético, na frente da ex... não, atual namorada.

Taylor saiu do escritório dele, de queixo erguido, os quadris


balançando.

Karen ficaria orgulhosa dela e, embora Taylor tentasse


desesperadamente se apegar a isso como fonte de conforto, não era
suficiente.

Sua tia havia lhe ensinado muitas coisas, mas havia uma habilidade
crucial na vida que sua guardiã legal nunca havia ensinado a ela.

Como sobreviver a um coração partido.

Capítulo 8

— Pela última vez, não vou falar sobre isso com você — Nick disse
ao telefone, pegando as chaves do bolso e deslocando o celular para
a outra orelha.

O suspiro frustrado que ecoou no outro lado da linha era um som


familiar – sua irmã mais nova, Celine, começara a fazer aquilo por
volta dos nove anos de idade. Agora ela tinha uns vinte e poucos
anos, mas aquele ruído de indignação não havia mudado... nem um
pouco.

— Você não pode esperar que eu acredite que você está morando
com uma mulher de forma platônica — disse Celine. — Isso nem faz
sentido. A menos que ela seja lésbica. Ela é? Me deixe falar com ela.
Quero contar sobre como você coloca as caixas de leite vazias de
volta na geladeira.

— Eu não faço isso desde os quinze anos — ele murmurou, abrindo


a porta e se perguntando por que pensou que seria uma boa ideia
ligar para a irmã caçula no caminho de volta do trabalho para casa.

Quando Nick entrou, foi recebido por um som nas alturas; ele parou
onde estava. Tendo sobrevivido anos morando com duas irmãs
durante a adolescência de ambas, Nick era familiarizado por demais
com o que ele considerava músicas de “mulheres com raiva”:
melodias de angústia e fúria que uma mulher que foi desprezada
escutaria.

Foi esse exato som que o recebeu em casa na segunda-feira à noite,


depois de ele ter encerrado o turno diurno no bar.

— Eu te ligo mais tarde — disse ele à Celine, desligando antes que


ela pudesse protestar.

Ele colocou a bolsa e as chaves no balcão e olhou cautelosamente


para a porta do quarto de Taylor, imaginando o que diabos Calloway
havia feito para fazê-la ir de triste e determinada para irritada e puta.

A porta dela estava entreaberta, permitindo que a voz dos anos


noventa de Alanis Morissette ecoasse por todo o apartamento.
Nick não era um idiota. Qualquer mulher que estivesse ouvindo “You
Oughta Know” neste volume deveria ser evitada.

Ele pretendia apenas fechar a porta do quarto silenciosamente e


assistir ao final da partida de futebol dos Rangers.

Mas ao mesmo tempo que sua mão alcançou a maçaneta da porta,


os olhos dele encontraram Taylor, e ele vacilou na intenção
determinada de dar espaço a ela.

Taylor estava sentada de pernas cruzadas em um tapete de pele de


carneiro sobre o chão, cercada por pedaços de madeira. Ela tinha
uma expressão carrancuda enquanto encarava um pedaço de papel
na mão esquerda, o cabelo preso em um nó bagunçado no alto da
cabeça. Em vez dos vestidos apertados que vestia no escritório ou
das calças sexys que usava na academia, essa noite ela vestia uma
camisa dos Knicks e uma boxer cinza minúscula.

Foi o martelo na mão esquerda dela que o fez estender a mão e


bater um dedo de leve no botão de volume do aparelho de som ao
lado da porta, a fim de abaixá-lo… quase totalmente.

A cabeça dela se ergueu na direção dele, o martelo na mão subindo


levemente.

Nick arqueou as sobrancelhas, silenciosamente perguntando o que


ela tinha em mente.

Ela soltou um suspiro de irritação, abaixando o martelo.

— Ballantine.

— Carr — disse ele, apoiando um ombro no batente da porta e


cruzando os braços.

Ela abriu a boca, como se quisesse dizer algo hostil, depois a fechou
e desviou o olhar. Aquilo disse tudo que ele precisava saber.
A música indicava que ela estava com raiva, mas todo o resto dizia
que ela estava sofrendo.

Droga.

Nick debateu por cerca de dez segundos sobre o que faria a seguir,
antes de se afastar da porta e voltar para a cozinha.

Qualquer homem com meio cérebro teria deixado uma mulher nesse
estado se recuperar do término sozinha. Bem, talvez teria primeiro
removido o martelo da mão dela.

Nick era um homem inteligente.

Mas parece que ele tinha também um ponto fraco idiota – um que
não gostava de ver Taylor, normalmente impenetrável, como algo
diferente de alguém destemida e batalhadora.

Mas ela não estava quebrada. Ele já a vira quebrada, naquela única
vez. E não era a mesma coisa. Essa versão de hoje era de uma
Taylor furiosa. Não de uma Taylor arrasada. Ele queria se certificar
de que ela entendesse a diferença.

Um minuto depois, ele voltou ao quarto dela. Ela olhou para cima,
surpresa com o reaparecimento dele, e fixou os olhos nos de Nick
por uma fração de segundo antes de olhar para as duas taças de
vinho cabernet nas mãos dele.

Ele entrou no quarto sem ser convidado, contornando as prateleiras


e os parafusos espalhados, e segurou a taça de vinho em frente ao
rosto dela.

Ela hesitou por um segundo antes de aceitar, murmurando um


“obrigada”.

Nick assentiu em reconhecimento, examinando o quarto com os


olhos. Geralmente, ela mantinha a porta fechada, então essa era a
primeira vez que ele via o espaço pessoal dela.
Ele ficou surpreso ao ver que o cômodo tinha uma vibe totalmente
diferente da sala de estar. A área principal do apartamento era
decorada por um sofá branco, mesinha de centro de mármore e
banquetas de cor cinza claro. E embora Nick esperasse que o quarto
dela fosse ter os mesmos tons neutros previsíveis, o cômodo tinha
tudo, menos isso.

Além do tapete branco de pele de ovelha, onde ela estava sentada,


todo o resto tinha cores fortes.

A roupa de cama era de um azul escuro e profundo e as cortinas da


janela eram de cor bordô escuro. O cômodo passava uma vibe
quase masculina, mas tinha também pequenas marcas de Taylor por
toda parte. Na cômoda havia um frasco de um perfume
aparentemente caro – uma fragrância que ele sabia que era tão
picante e sedutora quanto a mulher que a usava. Sobre a mesa de
cabeceira, havia uma vela dourada ao lado do que parecia ser um
batom, e uma manta com estampa de animais posta por cima da
base da cama, o que resumia perfeitamente as tendências felinas de
Taylor.

— Está tudo ao seu gosto? — ela perguntou de onde estava,


próxima dos pés dele.

As palavras carregavam o mesmo cunho sarcástico de sempre, mas


a voz carecia de calor. O tom dela estava mais rouco que o habitual,
como se ela estivesse simplesmente... cansada.

Nick cutucou a ponta do sapato em um pedaço de madeira preta


envernizada, tomando um gole do vinho.

— Construindo o caixão de Calloway?

Ela riu em aprovação ao comentário dele.

— Não é uma má ideia. Mas não. Estou trabalhando nesse monte de


merda há uma hora, mas tenho certeza que as pequenas imagens
do manual de instruções não são nem do móvel correto. Digo, o que
é isso aqui? — Ela apontou para o papel. — Parece um pênis.
Taylor empurrou-lhe as instruções. Ele aceitou o folheto amassado,
mas em vez de olhar para a ilustração a qual ela se referia, ele
manteve os olhos nela.

Ela estava um pouco mais pálida que o normal, mas não havia
nenhuma vermelhidão ou inchaço ao redor dos olhos que pudessem
dar indícios de lágrimas. Ótimo.

Ótimo. Calloway não as merecia.

Nick gentilmente afastou uma tábua com o pé e sentou-se no chão,


diante dela, voltando a atenção para o manual de instruções.

— Com o tanto que você pagou por aquele sofá espalhafatoso, não
poderia ter comprado uma peça de mobiliário já montada? Qual é a
razão desse móvel barato que mais parece uma recordação dos
tempos da faculdade? — ele perguntou.

Ela suspirou, cansada.

— Esse foi o acordo que fiz comigo mesma. Eu poderia comprar o


sofá se economizasse em todo o resto.

— Qual será o destino desse móvel? — ele perguntou. — Estante?


Escrivaninha?

— Estante.

— Uma grande, aparentemente — disse ele, examinando as


inúmeras peças.

Os ombros magros de Taylor se ergueram em um encolher de


ombros.

— Eu tenho muitos livros.

— Tem? — ele questionou, folheando o manual, tentando fazer uma


síntese sobre onde cada peça se encaixava. — Nunca imaginei que
você fosse uma leitora.
— O que você achava que eu fazia no meu tempo livre? Que eu
matasse gatos?

— Não. Homens.

— Eu até pensei na hipótese — ela murmurou, tomando um gole de


vinho.

— Que tipo de livros você lê?

— Clássicos, principalmente — ela respondeu, erguendo os joelhos


e os envolvendo com os braços, a taça de vinho pendurada nos
dedos enquanto balançava o líquido vermelho de um lado a outro
dentro do vidro. — Karen me viciou neles quando eu era criança.
Dickens, Twain, as irmãs Brontë. Eu herdei a coleção dela quando
ela morreu.

Ela não explicou quem Karen era, porque não precisava. Não para
ele.

Ele estava lá naquela noite.

Nick a observou pelo canto do olho. Ela não olhou para ele enquanto
falava, e ele se perguntou se ela estava se lembrando daquela noite
no escritório da Oxford. A noite em que ela o deixou abraçá-la, só
para trocá-lo por Calloway.

Ele queria perguntar se aquela noite era a razão pela qual ela o
odiava tão intensamente. Mas em vez disso, perguntou:

— Qual é o seu favorito?

— Livro?

Nick assentiu, continuando a examinar as instruções bastante


complicadas da estante de livros.

— O Grande Gatsby é maravilhosamente bem escrito. Às vezes, leio


só pela maneira que Fitzgerald conecta uma frase a outra. Os
personagens de Dickens são os meus favoritos, no entanto.

— Deixe-me adivinhar — disse ele. — Estella?

Taylor ergueu a cabeça bruscamente em surpresa.

— Você já leu Grandes Esperanças?

— Sim.

— Então você também é um leitor?

— A maioria dos escritores são — disse ele, deixando as instruções


de lado e tomando um gole de vinho enquanto avaliava a bagunça
que ela havia feito.

— Mas você é jornalista. Isso é diferente de ser escritor de ficção.

— Eu sou os dois — disse Nick, pegando a ferramenta perto do


joelho dela, tentando ignorar que a maneira como ela estava sentada
agora deixava exposta uma longa extensão de uma coxa macia e
sedosa.

— Como assim os dois?

— Estou dizendo que escrevo livros — ele contou, reunindo os


parafusos. — Thrillers futuristas, principalmente.

Ela estava encarando-o, os lábios entreabertos.

— Quando? Como você pode ser barman, jornalista e escritor, e


ainda assim encontrar tanto tempo para me infernizar?

Ele riu.

— Digamos que eu tenha construído carreiras de meio período em


muitas áreas diferentes.

— Você tem livros publicados?


Nick encolheu os ombros. Ele odiava falar sobre isso porque as
pessoas faziam um alarde do assunto. Inferno, quase ninguém de
fora de sua família sabia, e ele não sabia bem porque estava
contando a ela, de todas as pessoas no mundo.

Taylor atirou um parafuso nele, atingindo-o diretamente no peito.

— Quantos livros você já publicou? Você escreve sob pseudônimo?


Eu quero lê-los.

— Por quê? Para poder criticá-los?

— Hum, obviamente. — Mas havia um tom risonho na voz dela, e ele


percebeu que, apesar da estranheza da situação atual deles, talvez
esse fosse o momento mais confortável que já haviam passado na
companhia um do outro.

— Eu escrevo com um nome diferente. Meus livros não são


bestsellers, longe disso — disse ele. — Além do mais, eu quero
mesmo saber por que você estava segurando um martelo mais
cedo? Não é necessário para a montagem do móvel.

— Não, mas será necessário para outra coisa, se não me disser


onde encontrar seus livros.

Ele fez uma careta, mas não respondeu.

O que ele disse era verdade: seus livros vendiam bem, mas ele
dificilmente era um autor renomado. O que ele não disse a ela – não
dissera a ninguém – é que ele recebia um bom dinheiro por seu
trabalho. Nick lançava dois ou três e-books por ano, em seu próprio
ritmo, à sua própria maneira, e havia conquistado seguidores leais.

Ele não era um megamilionário, mas ganhava o suficiente para pagar


a metade do aluguel. O suficiente para deixar a Oxford e o bar, se
quisesse, o que ele não queria.

Nick adorava escrever ficção, mas não faria isso tão bem se não
vivesse a vida ao máximo nos momentos em que não estava atrás
do computador. O tempo que ele passava na Oxford e no bar, sem
mencionar o seu amor por viajar, mantinha a imaginação dele
impulsionada.

— Eu vou achar seus livros — Taylor prometeu, a voz confiante,


mesmo com a recusa dele em dar-lhe detalhes.

— Eu não duvido — ele murmurou. — O que Taylor quer, Taylor


consegue, certo?

O sorriso dela se desfez, e ela emitiu um som baixo e irônico.

— Nem sempre, aparentemente.

Nick entregou a ela a taça de vinho que segurava, mudando de


posição a fim de juntar as peças necessárias para realizar o passo
um da montagem da estante.

— Não teve sorte recuperando o amor da sua vida?

Ela girou o vinho e tomou um gole.

— Ao que parece, eu fui substituída.

Os dedos de Nick se apertaram em torno de uma tábua, já


suspeitando do que viria a seguir, mas manteve a voz casual.

— É mesmo?

Taylor ficou calada por um longo minuto.

— Você conhece Jessica Hayes? Redatora da Oxford?

Merda.

— Conheço. Ela e Calloway reataram?

— Reataram? Você sabia que ele estava saindo com ela? — Ela
acusou. — Eu sou a única que não conhecia esse segredinho?
— Não é de conhecimento geral. Para começo de conversa, foi ela
quem o indicou para a Oxford. Poucas pessoas sabiam.

— Mas você sabia.

Nick passou um parafuso por dois furos alinhados e começou a


apertá-lo.

— Jess e eu somos amigos. Eu a contrato para revisar todos os


meus livros.

O queixo de Taylor caiu, então ela riu, embora não houvesse alegria
no ato.

— Que fantástico. Simplesmente fantástico. Do nada, essa garota


está por toda maldita parte.

Nick terminou de apertar o parafuso, depois pegou a taça de vinho


que ela o entregou. Ele tomou um gole lento e a estudou, tentando
descobrir se era o orgulho ou o coração dela que estava ferido.

Era difícil acreditar que uma mulher tão intensa pudesse realmente
se importar com um verme covarde como Calloway.

Nesse caso, o cara provavelmente tinha algo que somente as


mulheres conseguiam ver, porque Jess era uma ótima garota e ela
também havia caído no feitiço de Calloway.

Duas vezes, aparentemente.

— Por quanto tempo eles ficaram juntos? — ela perguntou.

— Tenho certeza de que existe uma lei que impeça as pessoas de


terem uma conversa feminina enquanto montam móveis — ele
murmurou.

— Nick.
O olhar dele voou para o dela. Ela já havia usado o primeiro nome
dele? Ele achava que não. E se ela tivesse usado, teria sido em um
tom habitual, para chamá-lo pelo nome, não no leve tom de súplica
que ele ouvia agora.

— Não tenho certeza — disse ele bruscamente. — Um ano, talvez.

— Quando eles terminaram?

Ele olhou para cima e segurou o olhar dela. Deixando-a descobrir por
conta própria.

Não demorou muito. Arrependimento cintilou no rosto dela.

— Quando ele começou a trabalhar na Oxford?

— Se está se perguntando se ele largou a Jess por sua causa, você


teria que perguntar a ele — disse Nick, voltando a atenção para a
prateleira. — Mas opinando de fora, parece que o momento em que
o término aconteceu foi... próximo disso.

Ela começou a tomar outro gole de vinho, mas parou, e em vez


disso, olhou miseravelmente para a taça.

Ele sentiu algo apertar dentro de si. E lá estava aquela sensação


novamente. Aquela suspeita furtiva de que Taylor Carr tinha mais
escrúpulos do que ela jamais deixaria transparecer.

— Eu não sabia — disse ela. — Eu não fazia ideia de que ele estava
saindo com alguém quando nos conhecemos.

— Teria feito diferença? — ele perguntou.

Os olhos dela se arregalaram, cinzentos e furiosos. Ele ficou feliz por


isso. A doce e gentil Taylor o desequilibrava, mas com a intensidade
dela ele conseguia lidar.

Na maioria das vezes.


— Eu não roubo homens de outras mulheres.

— Então agora que Calloway voltou com a Jess, você vai seguir em
frente?

Nick não sabia por que se importava tanto com a resposta dela, mas
a observou cuidadosamente.

E ficou decepcionado quando seus olhos se afastaram dos dele.

— Ele me ama — disse ela baixinho. — Eu sei que ama.

Nick se recusou a ouvir a discreta vulnerabilidade na voz dela.

— Parece que ele decidiu que ama a Jess mais.

O choramingo suave que ela deu foi metade dor, metade fúria, e ele
não ficou nem um pouco surpreso quando ela empurrou a taça de
volta para ele e agarrou a primeira parte montada da estante de
livros nas mãos dele.

— Dá o fora.

— Taylor…

— Fora — ela sibilou. — Eu não quero você aqui. Tenho que dividir
meu apartamento com você, mas meu quarto é zona proibida.
Entendeu?

— Sim. Entendi — ele retrucou, ficando de pé. — Erro meu ter


oferecido ajuda para montar sua preciosa estante.

Ele pretendia sair o mais rápido possível do quarto, mas no último


minuto, agachou-se na frente dela, pegou seu queixinho teimoso
com mão e forçou o olhar furioso dela a encontrar o dele.

— Jess é uma boa pessoa, Taylor. Ela merece ser feliz.


O olhar de Taylor inundou-se de mágoa antes de voltar a encher-se
de raiva.

Porra, ela realmente era linda.

— E eu não posso ser feliz? — ela perguntou. — A Taylor megera


merece ser infeliz, é isso?

— Não — ele disse em voz baixa, estudando-a. — Só não tenho


certeza se você reconheceria a verdadeira felicidade nem se ela
mordesse sua bunda perfeitamente esculpida.

Ela puxou a mão dele do rosto.

— Dá. O. Fora.

Ele deu.

Não porque ela mandou. Mas porque, por um momento idiota, Nick
não quisera nada além de desmanchar aquele beicinho furioso da
boca atrevida de Taylor Carr com um beijo.

Capítulo 9

— Tudo bem, vá embora — disse Taylor, dando um falso suspiro


dramático e acenando com um salgadinho na mão para a melhor
amiga. — Primeiro Daisy sai de fininho por causa de um garoto,
agora, você.

— Primeiro de tudo — disse Brit, vestindo o casaco e puxando as


pontas dos cabelos loiros para fora da gola. — Se está mesmo
chamando Lincoln Mathis de garoto, você precisa de um
oftalmologista. Segundo, não posso passar mais um minuto
assistindo você se transformar em um pedaço daquele sofá. É sexta
à noite e você é recém solteira. Deveria estar usando aquele vestido
vermelho que faz seus seios parecerem enormes e indo para boates,
não ficando de pijama e gastando seu tempo com a Sandra Bullock.
Eu já participei de noites de filmes quatro vezes esta semana. Eu
preciso sair, Tay. Você também.
Taylor acenou com a cabeça em direção aos créditos de Enquanto
Você Dormia.

— Mas a Sandy me entende.

— Bem, isso provavelmente é verdade — Brit murmurou enquanto


vasculhava a própria bolsa. — Ela passou setenta por cento desse
filme pensando que estava apaixonada pelo cara errado.

Taylor sentou-se e lançou um olhar afiado à amiga.

— O que isso quer dizer?

Brit estudou Taylor enquanto aplicava um gloss rosa claro na boca,


sem a ajuda de um espelho.

— Faz quase um mês desde o término. Está preparada para mais


um amigável puxão de orelha?

Os olhos de Taylor se estreitaram.

— Manda ver.

Brit guardou o gloss de volta na bolsa e caminhou rebolando até a


amiga.

— Bradley não é o cara certo para você.

— Só porque ele está preso na teia de uma ex…

— Ah, ele não desencana da ex, hein? Tipo você? — Brit


interrompeu. — Mas não, não é isso que estou falando. Não estou
dizendo que Bradley não é o cara certo porque ele está namorando a
ex-namorada. Estou dizendo que ele nunca foi o cara certo.

— Espera aí, o quê? Há quanto tempo você pensa assim? —Taylor


perguntou, sentando-se ereta no sofá.

Brit deu de ombros, parecendo arrependida.


— Desde o começo, basicamente. Ele é um cara simpático, mas não
inspira a melhor versão de você.

— E isso significa? — Taylor questionou, mesmo não tendo certeza


de que queria ouvir a resposta.

— É só uma intuição — disse Brit calmamente. — Você ficava tão


diferente sempre que estava perto dele.

— Coisa que você viu, tipo, umas quatro vezes. E você sabe que era
uma situação esquisita. Não queríamos que ninguém soubesse que
estávamos namorando.

— E quanto tempo isso ia durar? Até o casamento secreto de vocês


acontecer? Até o filho secreto nascer?

— Nós não íamos ter um filho — retrucou Taylor. — Pelo menos eu


reconheço o que sentia por Bradley. Você ignora seus sentimentos
pelo Hunter.

— Ah-há! — Brit disse, apontando-a com o dedo. — Você disse


“sentia”. Pretérito. Eu sabia. — Ela ignorou completamente a
referência a Hunter.

Taylor cruzou os braços sobre o corpo em uma tentativa patética de


se abraçar, sentindo-se... magoada.

O olhar de sua amiga se suavizou.

— Eu sei que você pensa que estava apaixonada por ele. Estou só...
Não tenho tanta certeza de que ele era bom o bastante para você.

— Mas…

— Mas nada, Taylor. Ele terminou com você no dia em que iam
começar a morar juntos. Por uma carta. Isso faz ele soar como o
herói da história para você?
— Sabe do que estou farta? — Taylor rebateu, se colocando de pé e
agarrando com raiva a tigela de pipoca antes de marchar até a
cozinha. — Estou farta de outras pessoas me dizendo como me
sinto. Você e Nick não sabem quem eu amo ou deixo de amar. Acho
que conheço meu próprio coração.

O olhar de sua amiga era piedoso, e foi isso que mais incomodou
Taylor. Como Brit se atrevia a ficar ali parada e dizê-la que ela não
amava Bradley? Como o maldito Nick Ballantine se atrevia a tentar
dizer que ela não sabia reconhecer a própria felicidade?

Não eram eles que decidiam o que a fazia feliz. Era ela. E Taylor
decidira que Bradley era…

Por um momento desagradável, Taylor teve que se reorientar para


lembrar exatamente o que Bradley era para ela e o porquê.

— Nick opinou sobre isso? — Brit perguntou curiosamente,


inclinando a cabeça.

Taylor largou a tigela na pia e esguichou um pouco de detergente na


vasilha antes de colocá-la na água.

— Foi isso que você tirou do que eu acabei de dizer?

— É por isso que não o vi a semana toda? — Brit perguntou. —


Vocês brigaram?

— Estamos sempre brigando.

— Sim, mas geralmente não em um estilo “guerra fria”. Vocês são


mais o tipo de inimigos que entram em combate corporal.

— Acredite em mim, se ele conseguisse aguentar ficar na minha


presença por mais de cinco minutos, meu punho adoraria colidir com
o queixinho dele.

Como se convocado, Nick escolheu aquele exato momento para


entrar pela porta da frente. Ele parou por um segundo quando viu as
duas mulheres em pé na cozinha, e Taylor pensou que ele
provavelmente estava debatendo sobre uma rápida maneira de se
retirar dali.

Em vez disso, ele fechou a porta e deu um beijo na bochecha de Brit,


desenrolando um cachecol vermelho para fora do pescoço.

— Brit. Que bom te ver.

— Digo o mesmo — disse Brit com a voz calorosa e amigável, e não


no tom de um sargento a brigar com seu soldado, como antes.

Os dois ignoraram Taylor.

— Você está chegando ou de saída? — ele perguntou, notando a


jaqueta de Brit quando moveu os braços para retirar a que estava
usando.

— Estou de saída.

Nick assentiu, pendurando o casaco na porta.

— Compreensível. O fedor de lamentação neste lugar pode ser


sufocante.

— Ah, pelo amor de Deus, eu estou bem aqui — Taylor disparou.

Nick finalmente olhou em sua direção, e ela ficou irritada com o


pequeno arrepio de consciência mútua que passou entre eles.

Além de algumas manhãs frias, nas quais eles passaram


silenciosamente a cafeteira um para o outro, eles mal conversavam
desde a briga por causa de Jessica e Bradley.

Ele estava vestindo a camisa branca, o colete preto e a gravata


borboleta preta que sempre usava quando trabalhava de barman no
hotel luxuoso. O traje deveria parecer ridículo, mas, com a aparência
que ele tinha, em que até mesmo as pequenas imperfeições
pareciam satisfatórias, ele parecia mais um mulherengo padrinho de
um casamento realizado em um clube privado, o cara com quem as
mulheres secretamente desejavam sair.

Taylor desviou o olhar quando Brit se aproximou, passando os


braços em volta de Taylor.

— Não fique brava comigo, está bem? — a amiga sussurrou. — Me


desculpe por ter sido dura; é que eu odeio te ver sofrer.

Taylor abraçou a amiga de volta, grata pelo pedido de desculpas.

Brit tinha mesmo sido dura.

E, embora Taylor não concordasse que Bradley não era o cara certo
para ela, Taylor estava um pouco envergonhada de se enxergar da
forma pela qual ela agira no mês passado através dos olhos dos
amigos, até mesmo de Nick.

Ela tinha agido como uma chorona com pena de si mesma, feito uma
vítima que só fazia devorar sorvete – a própria antítese de tudo o que
ela já representara.

Vencedores não veem a vida através dos olhos dos vitimados, Taylor.

Ela estremeceu ao pensar no que Karen diria se pudesse vê-la


agora.

— Eu vou sair dessa — sussurrou Taylor em resposta. — Prometo.

A amiga deu um tapinha confortador na cabeça de Taylor quando se


afastou.

— Demore o tempo que precisar.

Brit se despediu de Taylor, beijou a bochecha de Nick e saiu pela


porta antes que Taylor pudesse registrar que a saída de sua amiga
significava que ela ficaria sozinha com Nick.
Ela geralmente fazia questão de estar no quarto antes de ele chegar
em casa, mas agora percebia que não podiam continuar assim.
Taylor não deixaria que um idiota que mal a conhecia a fizesse se
esconder dentro da própria casa.

Determinada a não recuar, Taylor virou-se para a geladeira e puxou a


jarra de água filtrada.

Quando ela se virou, Nick ainda estava lá, olhando para ela.

Ela deu uma outra olhada cheia de ironia nele antes de pegar um
copo no armário.

— Você não quer trocar essa roupa de pinguim, não?

Quando ela olhou em volta, viu que ele estava se movendo


lentamente em sua direção, e Taylor ficou mais que um pouco irritada
ao perceber que seu batimento cardíaco havia acelerado um pouco.

A lembrança dele agarrando o rosto dela na outra noite surgiu


espontaneamente em sua mente, como havia feito umas cem vezes
desde que aquilo havia acontecido.

Não foi a primeira vez que Nick Ballantine a tocou.

Foi só a primeira vez que ele a tocou quando nenhum deles estava
saindo com outra pessoa.

Essa distinção era... crucial.

E aterrorizante.

De alguma forma, na maior parte do tempo, ela conseguia esquecer


daquele momento em que o convidou para sair. E do momento em
que ele a chamou para sair.

Ela se deixou acreditar que o péssimo timing dos dois era um sinal –
o destino avisando que eles não deveriam ser nada além de inimigos
que viviam brigando.
Mas na outra noite, quando ele a tocou, ela... chegou a se
questionar.

A desejar.

Nick parou a alguns centímetros dela, sem tocá-la, mas perto o


suficiente para que ela pudesse sentir o calor dele.

A mão dele se ergueu lentamente e a boca dela ficou seca,


imaginando se ele a tocaria novamente. Onde ele a tocaria.

Só quando ela ouviu o baque fraco do armário se fechando que


percebeu que ele estava só pegando um copo.

Sem dizer nada, ele arrancou a jarra das mãos dela, encheu o copo
dele e depois o dela.

Idiota.

Quando ela ergueu os olhos para o rosto dele novamente, ele estava
lhe dando um sorriso de quem sabia o que estava fazendo, e era
exatamente o que ela precisava para tirar a si mesma da própria
bruma de... o que quer que tenha sido.

Ela o contornou, colocando distância entre os dois, olhando para ele


durante o processo.

— Então a Brit também não gosta do Calloway, hein? — ele indagou,


esvaziando o copo de água em três goles e enchendo de novo.

Taylor tomou um pequeno gole de água.

— Aparentemente, não. Não faz diferença. Não é papel da minha


melhor amiga ou do meu pior inimigo decidir com quem eu me
importo.

Nick ficou olhando para ela por um longo momento, depois deu de
ombros.
— Ok — disse ele, depois se virou e foi em direção ao próprio
quarto.

Era exatamente o que ela queria. Que ele recuasse e parasse de se


meter na vida dela – especialmente na sua vida amorosa.

Mas, em vez da fácil condescendência dele fornecer alívio, ela se


sentiu estranhamente decepcionada. Ela não precisava que ele
aprovasse Bradley, só queria que…

— Eu não sou patética, sabe — ela afirmou.

— Nunca disse que você era — disse ele, virando-se, mas sem
caminhar de volta até ela.

— Ele é um cara legal. — Taylor insistiu.

Nick deu de ombros novamente.

— Você o conhece melhor do que eu.

— Você vai escrever? — Ela deixou a pergunta escapar quando ele


se virou outra vez.

Nick suspirou e a olhou.

— O que você quer, Taylor? Você não me dirigiu uma palavra a


semana toda, e agora está ansiosa para conversar comigo?

— Eu estava só sendo educada — ela murmurou por sobre o copo.

— Bisbilhoteira, você quis dizer. — Mas ele sorriu um pouco quando


disse isso.

Ela o observou por cima do copo de água enquanto tomava outro


gole.

— Como foi o trabalho?


Ele revirou os olhos e abriu os braços.

— Certo. Vamos fazer isso. O trabalho foi bom. E sim, eu vou


escrever. Mais alguma coisa que você queira? Ainda quer me bater
do jeito como disse para Brit, quando eu entrei? Bata. Acabe logo
com isso se for significar que você vai parar de ficar de mau humor e
me deixar em paz.

Sem perceber o que estava fazendo, o olhar de Taylor desceu para o


queixo definido que ela queria socar.

Só que agora ela não tinha mais tanta certeza que queria dar-lhe um
soco. Ela queria encostar a palma da mão ali, queria saber se a
barba curta sempre-presente seria macia ou áspera. Queria saber
como seria a sensação daqueles pelos contra a pele dela, entre as…

Uou.

Os pensamentos de Taylor pararam de imediato quando ela


freneticamente mandou a mente suja parar de pensar besteira.

— Eu vou para a cama — ela murmurou, terminando de beber o


resto da água e colocando o copo na pia para ser lavado mais tarde.

— Tem certeza que não quer tomar um banho gelado primeiro? —


ele provocou quando ela lhe deu as costas.

Taylor bateu a porta com força e se encostou na madeira, apertando


os olhos e tentando ignorar o fato de que todas as partes de seu
corpo estavam formigando.

Por razões que não tinham absolutamente nenhuma relação com


Bradley Calloway.

Capítulo 10

Nick havia acabado de fazer uma segunda rodada de martínis para


as coroas de quarenta e poucos anos sentadas do outro lado do bar
quando ouviu vozes familiares.
Ele se virou bem a tempo de ver três homens da Oxford se
aproximando do bar e deu um sorriso de boas-vindas.

— E aí, pessoal — Nick cumprimentou, colocando três guardanapos


de coquetel no balcão enquanto eles tiravam os casacos de inverno.
— O que traz vocês ao meu encontro às quase quatro horas da tarde
de uma quarta-feira?

— Dei de cara com Cassidy se pegando com a esposa no escritório


dele — disse Hunter Cross, caindo sentado no banquinho. —
Precisei de uma dose imediata de álcool para apagar essa visão, e
esses dois gentilmente se juntaram a mim.

Nick assentiu em compreensão. O chefe deles transando com a


esposa gostosa no escritório dificilmente era uma ocorrência
incomum. Também explicava como o grupo levemente atípico diante
dele havia surgido ali.

Hunter Cross estava acompanhado por Lincoln Mathis e Jackson


Burke, e, embora os três fossem caras legais, geralmente não
frequentavam os mesmos grupos da Oxford. Lincoln e Jackson
faziam parte da unida equipe editorial, enquanto Hunter era o vice-
presidente de marketing digital e trabalhava no outro lado do edifício.
Todos os caras eram amigos, mas Nick não estava acostumado a ver
os dois grupos juntos.

O próprio Nick estava em uma situação pouco comum, porque


conhecia os dois grupos igualmente bem. Como colunista, na maioria
das vezes ele fazia parceria com o pessoal da redação – na verdade,
ele havia assumido a função de Lincoln, a curto prazo, quando o
outro homem tirou uma licença pessoal no ano passado.

Mas desde então, sempre que Nick pegava um trabalho temporário,


a mesa que ele utilizava ficava do outro lado do prédio com o
pessoal de marketing/publicidade devido as limitações de espaço.
Foi assim que Nick conheceu Hunter.
Aliás, foi também como ele passou a conhecer Taylor tão bem
quanto conhecia, mas não estava com disposição para pensar
naquela mulher sexy e caótica agora.

— O que vão querer?

— Qualquer coisa que você fizer — Jackson Burke respondeu. —


Cole disse que você recentemente ganhou uma competição de
coquetéis personalizados? Faça-nos isso.

— Eu vou fazer para vocês dois — Nick disse, acenando para Hunter
e Jackson enquanto pegava a taça adequada. — Mas você... — Ele
apontou a taça própria para coquetel na direção de Lincoln Mathis.
— Você vai arrebentar minhas bolas se a bebida não for rosa,
cremosa e não tiver uma borda crustada de açúcar?

Lincoln deu um sorriso largo.

— Minha reputação me precede. Eu nunca sequer estive aqui, e


você conhece minhas preferências de bebida.

— É o que dizem os rumores — disse Nick, escolhendo as palavras


com cuidado.

Lincoln simplesmente alargou mais o sorriso enquanto se inclinava


sobre o balcão.

— Daisy?

— Se você está me perguntando se sua garota estava aqui


esculachando sua masculinidade, me dizendo que eu era o cara
muito melhor para ela... talvez.

Lincoln riu do sarcasmo de Nick.

— Desgraçado. Prepare para mim o que quer que você for fazer para
eles. Eu aguento.
Nick sorriu em resposta, um pouco aliviado por se aproximar um
pouco mais do círculo íntimo de Lincoln Mathis.

De todos os caras da equipe da Oxford, ele e Lincoln eram os menos


prováveis a se dar bem um com o outro, cortesia do fato de Nick ter
ocupado temporariamente o emprego de Lincoln e dado em cima da
garota de Lincoln – embora, para ser justo, ele não fizesse ideia de
que Daisy sequer conhecesse Lincoln quando a convidou para sair
algumas vezes.

Além do mais, pela maneira como Nick – e, ele esperava, Lincoln –


viam a situação, ele e Daisy tinham só compartilhado refeições.

Ele nunca colocou a mão nela, a não ser para ajudá-la com o
casaco.

Nick ficava feliz por isso. Não somente porque significava que
Lincoln não tinha motivos para odiá-lo, mas porque significava que
ele e Daisy ainda podiam ser amigos – amigos de verdade. Ela ia
para o bar de vez em quando com Brit ou uma das garotas da
Stiletto.

Ele gostava muito dela – o suficiente para respeitar que ela estava
obviamente superfeliz com Lincoln. E embora Nick se achasse um
cara bonito, até ele sabia que Lincoln Mathis era mais adequado
para Hollywood do que para a Oxford. O homem tinha cabelos
pretos, olhos azuis e um suprimento insuportável de piadinhas
prontas.

Nick mediu a dose de Cynar, a do uísque de centeio e a dos bitters e


os colocou em três coqueteleiras, e, um a um, foi adicionando uma
clara de ovo em cada. Ele agitou as de Jackson e Hunter primeiro,
despejando a bebida nas taças que havia refrigerado com gelo,
depois fez o mesmo com a de Lincoln.

Ele não se preocupou em observar as reações dos homens


enquanto lavava as coqueteleiras. Nick já sabia que era uma bebida
boa pra caramba. Ele não colocava nada que não considerasse o
mais perfeito possível na frente de um cliente.

— Porra — disse Jackson. — Sou um cara bastante devoto à


cerveja, mas isso é incrível pra caralho, mesmo que seja servido em
uma taça de mulher.

Nick assentiu em reconhecimento, sem se ofender nem um pouco.


Jackson Burke era um ex-quarterback profissional do Texas e havia
levado o time a vários Super Bowls. Nick aceitaria qualquer elogio
que pudesse receber do homem.

— Então, quais são as novidades? — Nick perguntou enquanto


colocava as coqueteleiras de volta no devido lugar. Ele olhou para
cima e viu que as senhoras sentadas no canto ainda estavam
tomando os martínis que ele havia feito antes.

— Quem se importa? — Hunter disse, tomando um gole da bebida.


— É você que tem novidades.

— Eu? — Nick levantou uma sobrancelha.

— Cara. Você foi morar com Taylor Carr.

— Caramba — Lincoln disse, surpreso. — Tá falando sério? Como


eu não sabia disso?

— Porque seu rosto está sempre enterrado na… — Jackson olhou


para as mulheres no canto e baixou a voz. — Flor da Daisy.

Lincoln riu, mas não desviou a atenção de Nick.

— Taylor, hein? Sempre soube que tinha algo fermentando sob toda
essa porcaria de “eu te odeio” de vocês dois.

— Somos colegas de quarto — disse Nick. — É só isso.

— Sinceramente? — disse Hunter. — Com tantos apartamentos


disponíveis nesta cidade, e você optou pelo da sua pior inimiga
mora?

— Acho que a ideia tem o seu mérito — Lincoln comentou. —


Mantenha seus inimigos por perto e tudo mais. Sim, vamos pensar
assim.

— Acho que sim — Hunter murmurou, os olhos cor de avelã


estudando Nick. — Achei que pudesse ser outra coisa.

— Eu não estou ficando com a Taylor — Nick falou. Não importa o


quão fantástica ela fique naquelas roupas de academia. De pijama.
Nas roupas de sair. Nas de ir para o trabalho.

Merda.

— Não, eu esperava que tivesse mais a ver com se vingar de


Bradley — Hunter acrescentou.

Nick olhou em surpresa para o outro homem.

— Você e Calloway são amigos?

— Sim — Hunter disse cautelosamente. — Não significa que eu


goste da forma como ele trata as mulheres.

— Mulheres. Mais do que só a Taylor? — perguntou Jackson. — Eu


soube que ele a deixou na mão no dia em que deveriam se mudar.
Que atitude de merda do caralho.

— Bem colocado, cara — disse Lincoln, batendo no ombro do amigo.


— E sim, eu também ouvi isso. Alguém mais está tendo a impressão
de que o nosso escritório é ainda mais fofoqueiro que o da Stiletto?
Mas, de verdade, qual é a história?

— Não é minha para contar — disse Nick, servindo um copo de água


para cada um a fim de poder evitar os olhos deles.

— Ele foi de Jess Hayes para Taylor e agora voltou com a Jessica —
disse Hunter, o desdém nítido na voz. — Não me incomodaria tanto
se a linha do tempo em que as duas coisas aconteceram não
estivesse tão perto de se sobrepor.

A cabeça de Nick disparou ao ouvir isso. Já era suficientemente ruim


que Calloway tivesse machucado as duas mulheres. Se ele tivesse
traído cada uma delas uma com a outra…

Jackson fez um barulho com o nariz.

— Que idiota. Ele não poderia ter escolhido mulher pior para
enganar. Tenho certeza de que Taylor Carr poderia chutar todas as
nossas bundas. Ao mesmo tempo.

— Ela é bem feroz — Lincoln concordou, pegando o copo de água.


— Muito tigresa. Mas, sabe... gostosa.

— Não acho que você precise teorizar que mulheres tigresas são
gostosas — ponderou Hunter. — Está implícito, certo?

Lincoln pareceu considerar isso e abriu a boca para responder, mas


Jackson levantou a mão.

— Cross, não faça Lincoln começar a falar dessa merda. Ele vai
acabar levando o assunto para um tópico estranho do Animal Planet,
e nunca mais vai calar a boca.

Lincoln levantou um ombro, como se dissesse: Verdade.

— Ok, mas sério — disse Lincoln, voltando a atenção para Nick. —


Daisy vai me matar se eu não conseguir os detalhes. Você e Taylor
estão tendo algo agora?

— Por que não pergunta a ele? — Nick retrucou, apontando o queixo


na direção de Hunter. — Ele e Taylor compartilham uma melhor
amiga.

Hunter olhou de volta para Nick em diversão.

— Não pense que não sei o que você está fazendo.


— O quê? — Nick perguntou, irritado.

Hunter apenas sorriu.

— Jogando verde para descobrir o que Taylor disse à Brit sobre


você.

A observação foi tão certeira que Nick mal conseguiu conter um


estremecimento por agir de forma tão transparente e feminina.

Ok, então talvez ele estivesse ciente de que a melhor amiga de


Hunter era ninguém menos que Brit Robbins. E talvez estivesse
curioso para saber sobre o que Taylor e Brit estavam falando quando
ele interrompeu a conversa das duas na outra noite.

Deus sabia que ele não podia perguntar à Taylor. Eles voltaram a se
falar, mas não de uma maneira civilizada. Nos últimos dias, a
animosidade dos dois foi promovida a nível de ameaça global em
alerta.

— Faça-me outro desses e eu lhe direi algo — Hunter prometeu.

Nick encarou-o, furioso.

— Ótimo. E depois podemos pintar as unhas um do outro?

Lincoln levantou a mão.

— Estou dentro.

Jackson abaixou a mão de Lincoln com mais força do que o


necessário.

— Não.

— Ok — Hunter dizia quando Nick começou a misturar as bebidas.


— Então, hora do papo feminino. Segundo Brit, ela acha que a coisa
perfeita para ajudar Taylor a ver que Bradley é um idiota por quem
não vale a pena ficar se remoendo é uma boa trepada.
Lincoln, Jackson e Nick estavam todos olhando para ele.

— Trepada? — Nick repetiu.

Hunter deu de ombros.

— Eu tenho parentes ingleses.

— Isso explica o cabelo ruivo estilo príncipe Harry — Jackson


murmurou.

— Como você sabe quem é o príncipe Harry? Parece até o Mathis


falando. E meu cabelo é castanho — disse Hunter, um pouco irritado.

— Castanho-avermelhado — argumentou Lincoln.

— É castanho, caralho…

— Gente — Nick interrompeu. — Não me façam colocá-los para fora


daqui por me irritarem pra cacete.

— Então, o que acha, Ballantine? — Hunter disse, com um olhar de


aviso para os outros caras. — Taylor está pronta para uma transa
para superar o término?

A mão de Nick vacilou no processo de agitação da bebida quando


ele largou o filtro em cima da coqueteleira.

— Espera aí. Você está propondo que você seja a pessoa com quem
ela vai transar para superar o término?

— Por que não? — Hunter disse com um dar de ombros. — Esses


dois palhaços são inexplicavelmente comprometidos com mulheres
gostosas, você não está interessado, então… Eu estou interessado.

De fato, ocorreu-lhe recentemente que ele e Taylor entre lençóis


poderia ter vários benefícios além de punir Calloway. Para começar,
talvez ele e Taylor pudessem descobrir como soltar suas presas da
garganta um do outro, caso estivessem presos ao pescoço um do
outro de uma maneira mais interessante.

E Taylor não era a única que poderia se beneficiar de uma transa


sem-compromisso para superar o término. Nick estava tentando
deixar o lance que ele havia tido com Kelsey para trás, mas estava
fazendo isso com mulheres que, apesar de parecerem certas, foram
escolhas completamente erradas.

Talvez transar com uma mulher que ele sabia que era problema
fosse o antídoto perfeito.

— Fique longe dela — ele rosnou para Hunter, servindo as três


bebidas.

Então, ele reprimiu um xingamento, porque pelos sorrisos largos e


coletivos que recebeu, era óbvio que tinha acabado de fazer
exatamente o que eles haviam planejado desde o começo.

Capítulo 11

— Ah, você só pode estar de brincadeira — Taylor murmurou,


encarando o saca-rolhas na mão direita, que exibia
desafiadoramente a extremidade irregular de uma rolha que se partiu
ao meio quando ela tentou removê-la.

Ela espiou o gargalo da garrafa, olhando para a metade restante da


rolha, que estava obstinadamente emperrada e fora de alcance.

— E agora? — ela murmurou para a garrafa de vinho branco.

Ela sabia como abrir uma garrafa de vinho, mas nunca uma dera
tanto trabalho antes. Ela precisava de um especialista em vinho, ela
precisava…

Os olhos de Taylor voaram para o quarto de Nick. Ela precisava de


um barman.
Taylor bateu o saca-rolhas contra os lábios, refletindo sobre o que
queria mais: o vinho branco ou o próprio orgulho.

Então, teve um flashback de Jessica e Bradley entrando juntos em


um carro depois do trabalho, nessa mesma noite. O vinho. Ela
definitivamente queria o vinho.

Taylor marchou em direção ao quarto de Nick. Ela sabia que ele


estava em casa, porque ouvira o chuveiro ser aberto alguns minutos
antes.

Não pela primeira vez, ela ficou aliviada pelo apartamento de dois
quartos ter a característica bastante incomum de Manhattan: dois
banheiros. O pensamento de compartilhar um banheiro com Nick
Ballantine era… perturbador.

A porta estava entreaberta, e ela bateu as unhas contra a madeira


antes de abri-la. No que diz respeito a batidas, aquela foi patética e,
no segundo em que a porta se abriu, ela soube exatamente o que
seu subconsciente esperava.

Nick não estava nu, embora a visão dele usando nada além de uma
toalha azul escura enrolada na cintura fosse quase tão boa quanto
se ele estivesse.

Taylor respirou fundo, porque, bem…

Nota 10, Ballantine. Uma bela nota 10.

Ele era alto, tinha ombros largos e ficava bem de roupa, mas nu era
ainda melhor.

Bem, quase nu.

A parte superior do corpo dele era perfeitamente esculpida, coberta


sedutoramente por pelos escuros que se estendiam por todo o
estômago liso, desaparecendo sob a toalha.
Taylor engoliu em seco. Bradley também tinha uma parte superior do
corpo agradável, mas seu peito não tinha pelos, ele os depilava.

Era um garoto vaidoso.

Ela achava que gostava daquilo, mas a visão da masculinidade


confiante de Nick fez a pulsação dela acelerar.

Ele não pareceu particularmente surpreso com a presença intrusiva


dela. Irritado, mas não surpreso.

— Devo dar uma voltinha bem devagarinho? — ele perguntou


ironicamente. — Para assim você poder me ver de todos os
ângulos?

Ela arrastou os olhos de volta para o rosto dele.

— Você poderia? — ela indagou docemente, mexendo o dedo em


um movimento giratório. — Estou torcendo para que, para o seu
próprio bem, suas costas não sejam tão horríveis.

Ele abriu uma gaveta da cômoda e tirou uma camiseta e uma boxer,
embora não parecesse estar com pressa para vesti-las. Por ela tudo
bem.

— O que você quer, Taylor?

Ela ergueu a garrafa de vinho.

Ele encarou.

— Você vem praticamente cuspindo veneno em mim há quase uma


semana, e agora quer dividir uma garrafa de vinho?

— Não — ela resmungou. — A rolha emperrou. Eu tinha esperanças


que, se pedisse com gentileza, suas habilidades de barman
poderiam me ajudar a ter acesso à bebida.

Os lábios dele se moveram em um quase sorriso.


— Isso é você pedindo gentilmente?

— E se eu te elogiar? Ajudaria? Porque tudo isso aí é muito


agradável de se ver — ela disse, acenando com a mão para o corpo
dele. — Digo, para quem gosta do conjunto másculo, musculoso e
em forma, mas digo, sejamos honestos, a maioria das mulheres não
gosta. Sinto muito.

Ela estava tentando usar o tom de sarcasmo habitual dos dois, mas
sua voz saiu meio provocante e sedutora.

Entretanto, Nick não deve ter se importado, porque não a mandou


sair do quarto dele e parar de secá-lo com o olhar.

Em vez disso, ele caminhou na direção de Taylor, segurando o olhar


dela durante todo o percurso.

Ela se recusou a recuar, mesmo quando ele se aproximou o


suficiente para que ela conseguisse sentir o cheiro do sabonete dele
e visse como seus pelos do peito, ainda úmidos, eram levemente
enrolados.

Taylor empurrou a garrafa de vinho contra o peito dele para não se


sentir tentada a fazer o que realmente queria: percorrer os dedos e
talvez os lábios sobre o peitoral dele, só para provar rapidamente…

Nick se aproximou ainda mais, e Taylor saltou para trás, ganindo um


pouco quando bateu o ossinho do cotovelo na parede.

— O que está fazendo? — Ela ofegou.

Ele lançou-lhe um olhar meio divertido, meio irritado.

— Indo até a cozinha para pegar meu saca-rolhas próprio para


vinhos. O quê? Achou que eu ia abrir com os dentes?

Nick passou diretamente por ela, sem vergonha nenhuma de estar


usando apenas uma toalha enquanto se dirigia para a cozinha.
Ela o seguiu, observando-o abrir uma gaveta e pegar um pequeno
dispositivo parecido com o que garçons usavam para abrir garrafas
de vinho em restaurantes.

— Eu esperava algo no estilo MacGyver, de Profissão: Perigo — ela


comentou, sentando-se em uma banqueta. — Tipo um clipe de papel
ou algo assim.

Ele abriu a parte do saca-rolhas da ferramenta com o polegar e a


encarou.

— Você quer o vinho ou não?

Ela fez um gesto de por favor, continue com a mão.

— Então. Não vai trabalhar hoje?

— Não no bar.

Ela o observou quando ele começou a usar o saca-rolhas próprio


para vinho na garrafa. Taylor tinha que admitir, a pequena ferramenta
tinha muito mais requinte do que o saca-rolhas enorme dela. Ou
talvez parecesse pequeno porque a mão dele era tão grande que....

— Você escreveu algo? — ela perguntou, forçando a atenção para


longe das mãos dele antes que sua mente curiosa pudesse começar
a pensar em todas as outras coisas interessantes que ele poderia
fazer com aqueles dedos longos.

— Sim.

— Coisas da Oxford ou coisas de livros?

Os olhos castanhos dele se ergueram para os dela.

— Um pouco dos dois.

O olhar de Taylor voltou para as mãos dele quando ele começou a


tirar a rolha da garrafa.
— Descobri seu pseudônimo.

— Descobriu?

— Não foi difícil.

— O que significa que você me stalkeou no Google.

Ela deu de ombros.

— Basicamente.

Houve um momento de silêncio, pontuado somente pelo estalido


suave da rolha saindo da garrafa.

— Você comprou algum?

— Sim. — Todos.

Ele foi até o armário, e ela ficou estranhamente contente quando ele
pegou duas taças de vinho em vez de uma.

— Você o leu? — ele indagou enquanto servia-lhes o vinho.

Até o último livro.

— Sim — disse ela, aceitando a taça de vinho. — Obrigada.

Ele assentiu enquanto colocava a taça dele de lado, puxava a rolha


destroçada do saca-rolhas próprio para vinhos e colocava a
ferramenta de volta no lugar onde a encontrara. Era estranha a
rapidez com que a cozinha havia deixado de ser a cozinha dela para
ser a cozinha deles.

— Eu gostei — ela afirmou suavemente.

— Eu não perguntei — ele murmurou.

Ela sorriu por sobre a taça de vinho. Não. Ele não perguntaria.
Ele era parecido demais com ela – provavelmente estava morrendo
de vontade de saber o que Taylor achou do livro, mas era orgulhoso
demais para se expor diante de sua nêmesis.

Taylor também percebeu que, em vez de pegar a taça de vinho e se


retirar para o quarto, ele se permitiu ficar um pouco mais.

— Então, quando vamos descobrir o que acontece com o Jax? — ela


perguntou. — Depois que ele descobre que o Dackery é um traidor?

As sobrancelhas de Nick se ergueram.

— Ou você leu fora de ordem ou esteve bastante ocupada. O livro ao


qual está se referindo é o mais recente da série.

— Eu disse que eu era uma leitora.

— Sim, de clássicos — ele retrucou.

— Por falar nisso, obrigada por terminar de montar a estante —disse


ela.

O móvel permaneceu desmontado por dias após aquela briga, mas


ontem ela chegou em casa do trabalho e encontrou-o montado, no
local exato do quarto onde imaginara colocar a estante.

— De nada.

Por mais que tentasse, ela não conseguia parar de passear os olhos
pelo corpo dele.

— Você quer, hum, colocar umas roupas?

Nick encolheu os ombros.

— Eventualmente.

Ela exalou de irritação. Ou excitação. Ultimamente, Taylor notava


que essas duas emoções pareciam imensamente semelhantes.
— Você parece menos pirada hoje — observou ele. — Estamos no
estágio de aceitação do período de luto por Bradley?

Ela girou a taça e suspirou.

— Você não entende.

— Então me ajude a entender. Me explique como pode dar a mínima


para esse cara.

— Por que eu desabafaria sobre isso? Eu nem gosto de você — ela


murmurou. — Você também não gosta de mim.

— O que pode tornar o ato de falar sobre isso comigo mais fácil.

Ela revirou os olhos.

— Por que você acha isso?

— Bem — disse ele, colocando a taça de lado e caminhando na


direção dela. — No meu ponto de vista, se nós nos odiamos, é
impossível que passemos a gostar menos um do outro, não importa
o que a outra pessoa diga, certo? Parece que deve haver uma certa
sensação de liberdade nisso.

Taylor abriu a boca para dizer-lhe que a lógica dele era ridícula, mas
então percebeu que ele tinha certa razão.

Fazia sentido, de uma maneira meio estranha.

Ela também se perguntou se, em algum nível, era por isso que ela e
Nick haviam concordado em morar juntos nesse jeito estranho de
convivência. De certa forma, na maioria das vezes, eles poderiam
ser eles mesmos perto um do outro, porque não fazia sentido fingir
ser outra pessoa para alguém que não dava a mínima de qualquer
maneira.

Sem mencionar os detalhes não tão pequenos de que Nick


Ballantine já a vira no pior dela.
— Eu nunca te agradeci — Taylor deixou escapar antes que pudesse
repensar. — Não foi?

— Por? — Os olhos dele estavam calmos. Pacientes. Isso tornava a


situação mais fácil.

— Aquela noite — ela sussurrou.

Ela não precisou explicar qual noite era. A noite em que Taylor
descobriu que sua única parente – a única pessoa em sua vida que
realmente se importava com ela – havia morrido. A noite em que
Taylor estava sozinha no escritório da Oxford.

Exceto que não totalmente sozinha. Outra pessoa estava


trabalhando até tarde da noite. Alguém a ouvira chorando.

Esse alguém não fez uma única pergunta. Ele simplesmente


aproximou o corpo trêmulo de Taylor do seu muito maior e a abraçou
enquanto ela chorava. Enquanto ela soluçava.

E então, ele escutou-a contar tudo sobre Karen. Sobre como sua tia
a adotara e cuidara dela quando ninguém mais o fez.

Essa não foi a parte constrangedora, no entanto. Não, a humilhação


com a qual Taylor mal conseguia viver desde aquela noite era que,
de alguma forma, ele descobrira a mais dolorosa verdade que ela
guardava no coração.

Que ela tinha medo de que ninguém a amasse.

Que ela não era digna disso.

E Nick Ballantine gentilmente afastou a cabeça dela de seu peito,


segurou o rosto dela com aquelas mãos grandes e disse a ela –
prometeu a ela – que alguém iria amá-la.

— Mas você estava errado — ela sussurrou, encontrando os olhos


de Nick.
— Sobre?

Ele estava perto agora. Se ela esticasse o braço, conseguiria tocá-lo.


Talvez ser abraçada por ele.

— Sobre alguém me amar — ela sussurrou. — Ele não amava. Acho


que estou percebendo só agora que ele não me amava. Não de
verdade.

A cabeça de Nick se afastou um pouco.

— Isso é sobre Bradley. Ainda?

Ela piscou, porque a resposta fria dele não era exatamente o que ela
esperava – ou tinha esperanças de ouvir.

— Bem… sim. Sobre o que você achou que era?

Nick deu uma risadinha fria e engoliu o resto do vinho. Ele colocou a
taça no balcão e olhou para ela.

— Me avise quando descobrir, Taylor.

Alguns segundos depois, a porta do quarto dele bateu, deixando


Taylor ali, imaginando o que diabos aconteceu.

Nick enfiou os braços na camiseta furiosamente e a empurrou por


cima da cabeça. Ele repetiu o processo com uma boxer e uma calça
de moletom cinza, xingando a si mesmo – e a Taylor – o tempo todo.

Ele colocou as duas mãos em cima da cabeça, entrelaçando os


dedos enquanto olhava pela janela, sem realmente olhar para a Rua
83ª lá embaixo.

O que diabos havia acontecido na cozinha?

Seria fácil culpar Taylor. Inferno, ele queria. Desesperadamente.


Culpá-la pelo fato de que ele estava no quarto, se remoendo por uma
garota feito um adolescente idiota.

Mas ele estava desconfortavelmente consciente de que a pessoa


problemática era ele.

Ontem mesmo, ele estava decidido a transformar Taylor Carr em um


casinho para superar um término. Ele deveria estar lá fora, com a
língua na boca dela, as mãos em sua calcinha, fazendo-a esquecer
completamente do maldito do Calloway.

Nick xingou novamente e fechou os olhos, a verdade atingindo-o


desconfortavelmente.

Ele desejava Taylor Carr – mas quando finalmente colocasse as


mãos nela, ele não queria que fosse sobre Bradley.

Ele queria que fosse sobre eles.

Capítulo 12

Taylor adorava o emprego dela.

Não era um tópico sobre o qual ela andava pensando muito


ultimamente, já que sua vida pessoal estava em frangalhos e a vida
em casa incluía um colega de quarto muito introspectivo e sexy
demais para o próprio bem.

Mas ela adorava tudo sobre a Oxford e todas as áreas da


publicidade. Ela adorava descobrir como as pessoas trabalhavam,
como pensavam, como se sentiam e o fato de saber quais dos
publicitários da Oxford acertavam em cheio nas sugestões e quais
precisavam de ajuda para descobrir como atrair o público leitor da
revista.

O que ela não adorou foi o pedido de Bradley, por e-mail, para que
eles se encontrassem em uma reunião à tarde, como antigamente, e
que ela levasse cópias impressas do anúncio comercial da próxima
edição da revista, em vez de analisá-lo nos próprios iPads, como
costumavam fazer. Aparentemente, um figurão da Rolex estava no
edifício e queria ver como o anúncio do relógio da marca, que
ocuparia duas folhas inteiras, ficaria nas páginas brilhantes da revista
física. E as várias reuniões de Bradley significavam que ele
aparentemente não conseguia imprimir o anúncio sozinho.

A princípio, a vontade que ela teve foi de dizer a Bradley para enfiar
as duas páginas onde o sol não brilha. Não porque era um pedido
irracional – era irritante, mas não tão incomum em um mundo em
que as pessoas às vezes gostavam de fingir que ainda viviam nos
anos da era Mad Men.

Não, ela queria dizer a Bradley onde exatamente ele poderia enfiar o
rascunho do anúncio que ela tinha que imprimir, porque ele não se
incomodou em avisá-la pessoalmente.

Ela estava fazendo o impossível para que as coisas no trabalho


permanecessem normais e profissionais, mas ele não estava
retribuindo o favor. Ele se recusava a olhá-la durante as reuniões e,
quando precisava falar com Taylor pessoalmente, geralmente dizia
as coisas com o olhar direcionado a um ponto acima do ombro direito
dela.

A reunião habitual de sexta-feira fora formal e constrangedora, e


agora ele estava enviando e-mails em vez de caminhar os doze
passos de distância que o separava do escritório dela.

Esse término havia mostrado a ela um novo lado de Bradley e,


embora uma parte dela ainda sentisse sua falta, uma parte maior se
perguntava se ele era sequer metade do homem que ela pensava
que fosse.

Taylor verificou as configurações de impressão, selecionou a grande


impressora colorida na copiadora e enviou seu trabalho para lá. Ela
se afastou da mesa e foi em direção à copiadora, enfiando a mão na
porta aberta do escritório de Hunter Cross – que estava em uma
ligação – para cumprimentá-lo, em seguida, soprou um beijo para
onde Brit estava sentada, falando ao telefone.
Os olhos de Taylor voaram para a mesa onde Nick ficava nos dias
em que trabalhava no escritório. Vazia. Ela não tinha muita certeza
se ficava aliviada ou decepcionada.

Taylor virou o corredor, seguiu na direção da copiadora e parou


bruscamente.

Ela poderia não ter certeza se queria ver Nick – ou, nesse caso,
Bradley. Mas tinha muita, muita certeza de que não queria ver a
mulher diante da impressora.

Jessica Hayes estava de costas para ela, e Taylor deu um passo


silencioso para trás, desejando conseguir sair dali antes que Jessica
a visse.

A outra mulher se virou. Os olhos fixos em Taylor.

Droga.

Por razões óbvias, desde aquele primeiro encontro desconfortável no


escritório de Bradley, Taylor fez todos os esforços possíveis para
evitar Jessica, mas não havia como escapar dessa situação sem
acabar revelando o quanto a existência da mulher a machucava.

— Oi! — Taylor murmurou, forçando um sorriso radiante.

— Olá. — A expressão de Jessica era um tanto cautelosa, e talvez


um pouco... suplicante. — Você mandou algo para a impressora? A
minha deve ficar pronta em poucos segundos.

— Não tem problema — disse Taylor, odiando o quão falsa sua voz
soava. — Eu volto depois.

Taylor começou a girar os saltos. Ela não estava particularmente


orgulhosa de fugir da situação, mas também não tinha estômago
para ficar de conversa fiada com o novo amor de Bradley. Ou antigo
amor. Tanto faz.

— Taylor.
Foi o tom silencioso e desesperado na voz de Jessica que fez Taylor
parar, quando o que ela realmente queria era se virar e arrastar Brit
para um almoço acompanhado de bebida alcóolica.

— Podemos conversar? — Jessica perguntou suavemente.

Taylor hesitou por uma fração de segundo, sem ter certeza de que
queria ouvir a mulher pela qual Bradley a deixara.

Mas então, ela supôs que, se Nick estivesse certo, a própria Taylor
também era a mulher por quem a outra fora deixada.

Talvez ela e Jessica devessem isso uma à outra. E a si mesmas.

— Claro — ela respondeu, virando-se para encarar Jessica por


completo.

A outra mulher era realmente bonita, Taylor percebeu. Não de uma


forma chamativa, mas bonita de uma maneira sutil e comum, uma
que não requeria o uso de bronzeador ou gloss.

Por um momento, houve apenas o zumbido silencioso da impressora


cuspindo papel, e então Jessica falou.

— Eu não sabia. Eu não sabia mesmo que vocês dois estavam


juntos quando ele voltou para mim. Ele me disse que tinha terminado
tudo, mas eu não sabia... — Os olhos azuis dela se moveram para
as sapatilhas que calçava, depois de volta para Taylor. — Eu não
sabia de que forma ele terminou. Nem o momento em que tudo
ocorreu.

— Então ele finalmente te contou? — Taylor adivinhou. — Que ele


me deixou no dia em que íamos começar a morar juntos? Que ele
terminou comigo por uma carta?

— Se isso faz você se sentir melhor, ele também terminou comigo


por uma carta — Jessica contou. — Na primeira vez, quero dizer.

Desgraçado.
— E, ainda assim, você voltou para ele — Taylor observou.

Os lábios de Jessica se separaram, e então ela levantou os ombros.

— Eu o amo.

— Eu também — Taylor respondeu baixinho. Embora, enquanto


dizia, pareceu... errado.

Ou talvez não parecesse tão errado, e sim... águas passadas.

Aliás, ela poderia jurar que havia um ligeiro tom de dúvida no final da
declaração de Jessica também. Como se talvez ela, assim como
Taylor, estivesse começando a se perguntar se Bradley era mesmo o
cara perfeito que um dia elas acreditaram que era.

Parecia que não havia mais nada a dizer e, quando Taylor começou
a se afastar, Jessica falou novamente.

— Ele não me contou. — Ela deixou escapar.

Taylor não entendeu e lançou um olhar interrogativo para Jessica.

— Sobre como ele terminou com você. Ele se recusa a mencionar


seu nome. Foi Nick quem me disse.

Taylor paralisou, um pouco chocada ao se dar conta de que ouvir o


nome de Nick sair dos lábios de Jessica fazia Taylor se sentir muito
mais possessiva do que quando era o nome de Bradley.

— Sim, ele mencionou que você revisa os livros dele — disse Taylor,
querendo ter certeza de que Jessica ficasse ciente de que ela
conhecia Nick. Mesmo que não estivesse totalmente certa de que
realmente o conhecia. Deus é testemunha de que ela não era boa
em desvendar aquele homem.

Os lábios de Jessica tremeram um pouco, como se ela tivesse


entendido que Taylor estava reivindicando o colega de quarto como
dela.
— Nick não estava fofocando sobre você — explicou Jessica. —
Acho que ele só... queria que eu tivesse uma visão geral da situação.

— E você tem essa visão? — Taylor perguntou.

A impressora terminou a impressão de Jessica e parou por alguns


segundos antes de começar a de Taylor.

Em vez de responder à pergunta de Taylor, a outra mulher se virou e


pegou a pilha de papéis.

Quando Jessica voltou a olhá-la, seus olhos estavam inseguros.

— Eu não sei. Doeu quando Bradley me deixou por você. Digo, eu


entendi. Você é linda, confiante. Ele me disse que foi amor à primeira
vista.

Taylor se encolheu, tanto em razão da memória que Jessica evocou


como em solidariedade pela outra mulher. Não deve ter sido algo
fácil de se ouvir.

E então, porque precisava saber, Taylor perguntou:

— Ele te disse por que voltou para você?

Jessica desviou o olhar.

Taylor deu um passo à frente.

— Por favor. Se fosse o contrário, você não gostaria de saber?

Jessica soltou um suspiro.

— Ele disse que começou a pensar na relação a longo prazo, a ver a


situação de um modo mais geral.

— Eu também! — Taylor não pôde deixar de exclamar. — Eu assinei


um contrato de aluguel com o homem!
Jessica estremeceu.

— Isso não é da minha conta.

— Com todo o respeito, meio que é sim — disse Taylor com um leve
sorriso.

Jessica olhou para a pilha de papel nas mãos e depois para Taylor.

— Ok. Ok, tudo bem. Ele disse que percebeu que queria casar e ter
filhos, e que você não queria nada disso. Mas eu quero essas coisas,
então...

Taylor sentiu uma onda de mágoa surgir dentro de si, não somente
pelas palavras de Jessica, mas pela deslealdade de Bradley.

— Mas... — Ela lambeu os lábios. — Ele me disse que também não


queria. Digo, essa coisa de formar uma família.

A mente dela estava girando.

Ela e Bradley conversaram sobre filhos. Taylor havia dito a ele desde
o início que nunca se via tendo filhos, assim como dizia a todos os
homens com quem se envolvia.

Ele simplesmente sorriu, puxou-a para perto e disse que por ele tudo
bem, que contanto que a tivesse, ele não precisaria de filhos, que
eles seriam a família um do outro.

Talvez ele tenha mentido. Ou talvez tivesse mudado de ideia e, em


vez de falar com ela sobre a mudança de opinião, decidira voltar com
a ex-namorada, que provavelmente tinha mais instintos maternos no
dedo mindinho do que Taylor em todo o corpo.

A impressora já havia iniciado e terminado o zumbido provocado pela


impressão muito menor de Taylor, e ela caminhou em direção à
máquina, reunindo os materiais de apresentação para a reunião.

Reunião de Bradley.
Céus, ela era uma idiota. Por se envolver com um colega. Que
estava envolvido com outra colega. Quanta baboseira, parecia uma
novela.

Mas mais do que tudo, ela estava irritada consigo mesma por se
envolver com um homem que não sabia o que queria, ou quando
queria.

Taylor virou-se para Jessica, encontrando o olhar da outra mulher.

— Seu namorado é um merda. Mas acho que você já está


percebendo isso por conta própria.

Os lábios de Jessica se separaram em surpresa, mas ela não disse


nada em resposta.

Taylor foi em direção à porta e, desta vez, Jessica a deixou ir e não a


chamou de volta.

Melhor assim. Não havia mais nada a ser dito. Ela só podia torcer
para que Jessica abrisse os olhos em relação a Bradley o mais
depressa possível.

Quanto à Taylor?

Ela havia o superado. Superado por completo. Finalmente.

Capítulo 13

Nick não costumava trabalhar nas noites de terça-feira, e a bartender


que ele estava substituindo o assegurou de que o movimento estaria
fraco.

Ela mentiu.

Houve uma convenção no hotel, o que significava que o bar estava


lotado desde o segundo em que Nick começou seu turno, às quatro,
e ficou ainda mais cheio às seis e meia.
Não era o tipo de gente que ele gostava de servir. A maioria era
executivos a fim de encher a cara rapidamente para se entorpecer
depois de ter passado o dia inteiro ouvindo seja lá qual for a
baboseira entediante dita na conferência. Aquelas pessoas não
sabiam apreciar as nuances de um coquetel bem-feito. Queriam
muitas doses de martínis feitos com vodca, bebida que a maioria dos
barmans se esforçava para fazer sem dar uma revirada de olhos. Um
verdadeiro martíni era feito com gim.

Mas tanto faz. As gorjetas eram boas e os clientes geralmente


esperavam com paciência enquanto Nick misturava bebida após
bebida, servia vinho e mais vinho, até que finalmente o grupo
necessitado de álcool, disposto ao redor do balcão, se dissipou um
pouco.

Os clientes cada vez mais bêbados dividiram-se em grupos e se


instalaram nas confortáveis áreas com assentos à parte do bar, onde
as garçonetes bem treinadas poderiam anotar os pedidos de cada
um.

Isso deixou Nick à vontade para fazer os drinques que ele gostava
de fazer, para aqueles sentados ao balcão de mogno. Ele examinou
a área da esquerda à direita, bebendo um copo de água gelada. O
trio de mulheres gostosas no canto estava bem estabelecido com
seus champanhes, o casal esquisito desfrutando de um primeiro
encontro bebia vinho tinto e Manhattan, um punhado de participantes
da conferência bebericava gim com tônica. A idosa Sra. Bay tomava
um gole de seu uísque habitual, outro casal ainda olhava o cardápio
de coquetéis e…

Nick congelou quando viu a recém-chegada. Ela devia ter entrado


durante o auge da aglomeração. Não era o fato de que ele não fazia
ideia de quanto tempo a deixara ali sentada, sem uma bebida, que o
incomodava.

Era o fato de que a mulher deslumbrante sentada do outro lado do


bar, observando-o com um leve sorriso pretensioso, não era ninguém
menos que Taylor Carr.
Quando os olhos deles se encontraram, o sorriso pretensioso dela
suavizou-se em um sorriso verdadeiro, e ele se viu sorrindo de volta
enquanto colocava o copo de lado e caminhava em direção a ela.

Nick se inclinou sobre o balcão, apoiando-se nos antebraços.

— Te conheço de algum lugar?

Ela riu.

— Bela cantada, Ballantine. Não é à toa que você está solteiro.

— Estou solteiro porque minha colega de quarto está queimando


meu filme.

Taylor se inclinou para frente.

— Ela me parece uma verdadeira vaca.

Ele sorriu.

— Às vezes ela é.

O sorriso de Taylor diminuiu um pouco.

— Ela não tem a intenção de ser.

Nick resistiu à vontade de tocar a mão dela. Para tranquilizá-la.

— Suspeito que ela tenha os próprios motivos.

— Belo eufemismo. Talvez suas cantadas não sejam tão ruins, afinal.

— Minhas cantadas em forma de coquetel são ainda melhores.


Posso servir alguma coisa para você?

— Que tal um Princesa do Coração de Gelo? Não foi o meu coquetel


de marca registrada certa vez?

A cabeça de Nick inclinou-se para trás, um pouco surpreso.


— Isso te incomoda. Ainda?

Ela desviou o olhar.

Desta vez, ele tocou a mão dela.

— Foi há um ano. Eu te conhecia há trinta segundos.

— Foi uma intuição certeira, no entanto — ela respondeu. — E


também não foi a primeira vez que ouvi isso.

Ah-há. Então era por isso que o comentário improvisado dele a


incomodava tanto. Ele atingira um ponto fraco.

— Quem disse isso para você não a conhecia. Não de verdade.

Ela o estudou por um momento, e ele absolutamente não estava


preparado para a próxima pergunta.

— Naquela vez que eu te chamei para jantar. Você estava saindo


com alguém. Quem?

Nick puxou a mão para trás e recompôs a postura.

— Nossa. Qual a razão dessa viagem ao passado hoje à noite?

— Você já se perguntou o que teria acontecido se nosso timing


tivesse sido diferente?

Ele passou a mão na nuca e se forçou a voltar a olhar para ela.

— Sim. Sim, o tempo todo.

Seus olhares permaneceram fixos por um longo momento antes de


ela sacudir a cabeça levemente e soltar a respiração.

— Tudo bem, Ballantine. Prepare uma bebida para mim. Chega de


Princesa do Coração de Gelo.

— Sidecarr — ele corrigiu. — E ficou no cardápio por vários meses.


Os lábios dela se afastaram em surpresa.

— Você colocou uma bebida cujo nome era uma homenagem a mim
no cardápio?

Nick deu de ombros, sentindo-se envergonhado.

— Sim. Recomendei a todas as pessoas de quem não gostei.

Ela riu.

— Ok, agora você definitivamente vai fazer uma bebida para mim. E
é melhor que esteja boa.

Nick sorriu, parando para pegar o pedido do casal indeciso antes de


preparar o de Taylor. Depois de tanto tempo enrolando, o casal optou
por uma taça de vinho Chardonnay e um entediante drinque de
vodka com gelo.

Ainda bem. Dessa forma, Nick teria mais tempo para descobrir o que
fazer para Taylor.

De alguma forma, parecia importante que ele acertasse em cheio na


escolha. Ele optou por preparar uma de suas receitas originais, uma
mistura de mezcal, limão, Campari e uma pitada surpresa de hortelã.
O resultado foi uma bebida forte, com um sabor defumado e ácido,
mas de alguma forma, perfeitamente refrescante.

Não muito diferente da mulher para quem ele serviria a bebida.

Ela tomou um gole cuidadoso, depois outro.

— O que é isso?

Nick deu de ombros.

— Ainda não dei um nome. Essa é a parte mais difícil. Precisa


combinar com o drinque.
Ela tomou outro gole, e o sorriso genuíno que ela deu o aqueceu
mais do que ele gostaria de admitir.

Mas, sendo Taylor, ela se recusou a elogiá-lo em voz alta. Em vez


disso, acenou com a cabeça em direção a uma extremidade do
balcão.

— Os caras ali querem uma outra rodada.

Nick olhou para o local e, sem dúvida, o grupo que bebia gim com
tônica estava claramente dando a ele um olhar que dizia “outra
rodada”.

Droga. Nick se orgulhava de sempre estar um passo à frente das


necessidades de bebida de seus clientes.

Não havia dúvida sobre o que – quem – estava distraindo-o.

Nick serviu os gins com tônica e fez outra rodada preventiva para os
outros clientes, sentindo os olhos de Taylor fixos nele durante todo o
tempo.

Quando ele voltou para perto dela, ele meio que esperava que seu
interesse em falar com ele tivesse diminuído, ou que ela tivesse
voltado a atenção para o celular, como a maioria das pessoas
solteiras no bar costumava fazer.

Em vez disso, ela apenas se sentou, parecendo perfeitamente


contente e sobretudo sexy, o cabelo preso em um rabo de cavalo alto
e ondulado, o vestido preto sem mangas expondo com perfeição
suas curvas, sem revelar muita pele.

— Devo confessar que — disse Nick — nunca pensei que veria o dia
em que você estaria no meu bar.

Ela ergueu os ombros magros.

— Queria ver qual era o motivo de tanto alvoroço.


— Por que esta noite? — ele perguntou.

Taylor olhou para a bebida e passou uma unha vermelha pela borda.

— Comemorar. Ou lamentar. Não tenho certeza.

Nick ficou tenso.

— Calloway de novo?

Para a surpresa dele, ela bufou.

— Não. Ele não. Minha tia. — Ela olhou para cima. — Hoje é o
aniversário dela. Eu só… Não sei. Não queria ficar sozinha, e pensei
em ligar para Brit ou Daisy. Mas depois percebi que também não
queria estar com ninguém. — Ela torceu o nariz. — Isso
provavelmente nem faz sentido.

Nick a observou por um momento.

— Qual era a bebida favorita de Karen?

Taylor levantou a cabeça.

— Você se lembra do nome dela?

Ele encolheu os ombros e ela sorriu para ele.

— Karen não bebia. Uma taça de vinho tinto no jantar, talvez, mas
nunca um coquetel. Se você a conhecesse, entenderia. Ela não fazia
o tipo que tolerava a perda dos próprios sentidos.

Nick assentiu e pegou uma taça de aparência antiquada.

Encheu-a de gelo, cobriu-a com água gaseificada e enfeitou com


uma fatia de limão. Depois, colocou-a em cima de um guardanapo de
coquetel, à direita da bebida de Taylor.
— O motivo pelo qual você não quer ficar sozinha, mas também não
quer estar com ninguém, é porque a pessoa com quem realmente
deseja conversar é Karen — disse ele em voz baixa. — Então, por
essa noite, apenas... se permita fingir.

Ela encarou a taça e olhou para ele.

— Estou tendo a suspeita bem irritante de que, por baixo desse


desleixo e das carrancas, você é, na verdade, um pouquinho fofo.

Ele ignorou o comentário e segurou o olhar dela.

— O que você gostaria de dizer a ela?

Ela olhou para a bebida e depois para ele.

— Eu não posso conversar com uma taça de água gaseificada.

— Tudo bem, então — disse ele, apoiando-se no balcão mais uma


vez. — Converse comigo. Como barman, tenho muita prática
fingindo ser gente morta.

— Os seus outros clientes…

— Estão bem — ele interrompeu. — Agora, vamos lá. Coloque tudo


pra fora para Karen.

Ela soltou um suspiro e tomou um gole da própria bebida.

— Eu te odeio.

Ele sorriu, porque ambos sabiam que ela não o odiava. Não no
momento, de todo modo.

— Ok, Karen — disse ela, respirando fundo. — Antes de mais nada,


sinto sua falta. Eu sei que você não quer ouvir isso, e me diria que é
sentimentalismo, mas você também me criou para ser honesta,
então aqui estou.
Nick não disse nada, porque ela precisava conversar, não de alguém
para conversar com ela. Mas ele sentiu uma pequena pontada de
compaixão pela mulher que aparentemente fora criada para não
sentir – ou pelo menos para não expressar os próprios sentimentos.

— E já que estamos sendo honestas — Taylor prosseguiu, girando o


guardanapo lentamente, os olhos fixos na água gaseificada. — Eu
provavelmente deveria lhe dizer que você estava certa quando disse
que não se pode confiar em homens, e que o amor é uma fantasia
ilusória.

Nick cerrou os dentes. Ele não queria pensar mal dos mortos, mas
essa Karen estava realmente dando nos nervos, mesmo dentro de
um caixão. Não era de admirar que Taylor fosse, bem... Taylor.

— De qualquer forma, eu fui estúpida — Taylor dizia. — Eu me


apaixonei por um cara. Pelo cara errado. O cara totalmente errado.

Ela soltou uma risada autodepreciativa.

— E percebi, um pouco tarde demais, que ele não era quem eu


pensava que fosse… que ele não valia um segundo do meu tempo.

Enquanto ela dizia isso, seus olhos se voltaram brevemente para


Nick, depois para baixo.

— De qualquer forma, ele está com outra garota agora e, bem, eu


também não acho que ele a mereça, mas creio que é ela quem
precisa se dar conta disso.

Taylor respirou fundo.

— E eu só... Sinto sua falta. Gostaria que você pudesse me dizer o


que vem a seguir e me lembrar de manter o foco na minha carreira
e…

Ok, aquilo era o suficiente.


Nick estendeu a mão, os dedos roçando as costas da mão de Taylor,
até que ela olhou para cima.

— Eu não duvido que você sinta falta pra caramba da Karen, mas ela
não estava certa sobre tudo.

Taylor piscou.

— Como assim?

— Você não precisa se concentrar em sua carreira agora — disse


ele. — Ou pelo menos não só nisso.

Os olhos dela se estreitaram um pouco.

— E suponho que você vai me dizer do que eu realmente preciso.

— Vou, e você vai ouvir — disse ele, pressionando os dedos na mão


dela mais uma vez antes de recuar. — Você precisa fazer alguma
coisa, qualquer coisa, sem um planejamento por trás. Tire um mês
para apenas deixar a sua vida acontecer.

Ela parecia cética, e ele riu.

— Confie em mim, Carr. Algumas das melhores coisas da vida são


as não planejadas.

— Tipo novos colegas de quarto? — ela perguntou sarcasticamente.

— Não soe tão cética. Pergunte a si mesma: em que bar você entrou
essa noite? — ele disse, se endireitando e dando uma piscadela. —
Depois, se pergunte o porquê.

Capítulo 14

Taylor não conseguia se lembrar da última vez em que esteve de


tamanho bom humor.
Desde o momento em que abriu os olhos naquela manhã, ela se
sentia... renovada.

Feliz.

Ajudava o fato de que o cabelo dela estava perfeito, que o vestido


cor rosa-choque que usava fosse um de seus favoritos e os sapatos,
novíssimos e um tanto caros.

A única leve imperfeição que ia contra o fato de ter começado o dia


com o pé direito era que ela e Nick não tiveram a briga habitual sobre
qual era a melhor opção de café da manhã, iogurte (ela) ou cereais
(ele).

A porta dele permaneceu fechada, mas ela não podia culpar o


homem tanto assim. Ela saíra do bar do hotel por volta das nove
horas da noite anterior e, quando chegou em casa, tomou um banho
de espuma e teve uma ótima noite de sono, ao passo que, de acordo
com Nick, ele teria que fechar o bar às duas da madrugada.

Sendo assim, foi um choque enorme que, quando ela caminhou (ok,
talvez tivesse desfilado um pouquinho… os sapatos eram realmente
fantásticos) para as instalações da Oxford às nove e meia da manhã,
ela deu de cara com…

Nick Ballantine.

Ele estava sentado em sua mesa de costume, com uma camisa


social branca e uma calça escura, parecendo muito mais revigorado
do que deveria, considerando as horas de sono e de trabalho que
teve.

Não muito tempo atrás, a presença dele a teria feito se endireitar e


colocar as garras para fora, isso se ela estivesse com saco para
aturá-lo.

Nesta manhã, de alguma forma, ela se viu diante da mesa dele e,


embora fosse negar isso até o dia da própria morte, um pouco feliz
em vê-lo.
Ele não olhou para cima quando ela se aproximou, mas Taylor sabia
que ele estava ciente de sua presença. Assim como ela sempre
estava da dele.

Nick finalmente terminou de digitar o que quer que estivesse


digitando, então ergueu os olhos castanhos para encontrar o olhar
dela.

— Sim, Taylor?

— Como diabos você chegou aqui primeiro que eu? — ela


questionou.

Ele olhou de forma sugestiva para o copo de café do Starbucks que


ela segurava.

Os lábios dela se contraíram defensivamente.

— A fila estava enorme. Mas, independentemente, você sequer


dorme? Que horas chegou em casa noite passada?

Ele se recostou na cadeira e sorriu pretensiosamente.

— Preocupada comigo, colega de quarto?

Antes que Taylor pudesse responder, Brit surgiu do lado dela, um


pouco sem fôlego.

— Tudo bem? — Taylor perguntou à amiga.

Brit olhou entre Taylor e Nick.

— Eu vi vocês dois conversando. Achei melhor vir aqui antes do


derramamento de sangue começar. E por falar em derramamento de
sangue — ela abaixou a voz e se aproximou de Taylor — Por que
não me disse que confrontou Jessica ontem?

Taylor sentiu o olhar de Nick nela, mas não olhou para ele.
— Eu não a confrontei — disse Taylor. — Eu esbarrei com ela na
copiadora. Nós conversamos. Só isso. Por que todo mundo parece
achar que uma carnificina vai acontecer sempre que eu tenho uma
conversa com alguém?

Brit pressionou os lábios e olhou para Nick.

— Quer responder?

Ele levantou as mãos em recusa. Então, seu olhar esfriou um pouco


quando ele olhou para um ponto acima do ombro de Taylor.

— Bom dia, Calloway.

Ah.

Taylor apreciou a tentativa de Nick de avisá-la que seu ex se


aproximava, mas ela também sabia que não se importava nem um
pouco se Bradley estava na mesma sala, na mesma cidade, no
mesmo planeta que ela.

Ela se virou e, sem dúvidas, lá estava ele. Terno azul, cabelos


perfeitamente penteados…

Tedioso. Muito tedioso.

Ele acenou com a cabeça para Brit, que apenas revirou os olhos, se
virou e foi embora. Que amiga boa.

Bradley parou ao lado de Taylor.

— Bom dia, Taylor. Nick. Como estão indo as coisas por aqui?

O olhar de Nick estava firme.

— Não me lembro de ter que informá-lo, Calloway.

Bradley ignorou a alfinetada e virou-se para Taylor.


— Dê uma passadinha no meu escritório, se estiver livre.

Ela deu de ombros.

— Certo.

Ele pareceu surpreso com o tom entediado dela, depois assentiu e


foi em direção ao próprio escritório, claramente esperando que ela o
seguisse.

E ela seguiu, porque ele era seu colega, mas seu corpo estava muito
mais consciente do homem de quem ela se afastava do que do
homem de quem se aproximava. Taylor sentiu o olhar de Nick fixo
nela enquanto ela seguia Bradley, desejando que, pelo menos desta
vez, soubesse o que Nick estava pensando.

Ele fora gentil com ela ontem à noite – inferno, ele havia sido gentil
com ela com muito mais frequência do que ela merecia. Mas ele
nunca demonstrou nenhum interesse nela como mulher, e... bem,
isso a incomodava.

— O que houve? — ela indagou quando Bradley fechou a porta do


escritório atrás deles.

Ele gesticulou distraidamente em direção a uma das cadeiras.

Ela se sentou.

— Você recebeu alguma resposta de Vance? — ela perguntou,


referindo-se ao executivo da Rolex da reunião de ontem. — O que
ele achou?

— Ele ficou satisfeito — Bradley respondeu, sentando em sua


própria cadeira. Parecia um pouco distraído. — Mas não é sobre isso
que eu quero discutir.

— Certo.
Ele franziu o cenho, sentindo claramente que ela não iria facilitar as
coisas para ele. Ele limpou a garganta.

— Eu queria perguntar como você está. Já faz um tempo desde que


nos falamos.

E de quem é a culpa?

— Eu estou bem.

Ele deu um sorriso cheio de intimidade. O tipo de sorriso que


costumava aquecê-la de dentro para fora, mas que agora a deixava
completamente apática.

— Como você está, de verdade?

Ela se inclinou para frente e fixou o olhar no dele.

— De verdade? Estou bem.

Taylor ficou um pouco surpresa ao perceber o quanto estava sendo


sincera. Quanto tempo ela havia perdido com esse cara?

Patético.

Bradley piscou, desviou os olhos e voltou a olhá-la.

— Eu queria… eu preciso te dizer que me arrependo da maneira


como lidei com as coisas.

Taylor recostou-se e cruzou as pernas, notando que o olhar dele


seguiu o movimento que a saia do vestido fez ao deslizar por sua
coxa.

— Sim, bem, você provavelmente deveria estar arrependido, Bradley.

Ele assentiu, parecendo arrependido.


— Eu sei. E estive pensando sobre isso. Quero ajudá-la com a
situação do apartamento.

— Está tudo bem com minha situação do apartamento.

— Você está morando com Nick Ballantine — ele falou, como se ela
não estivesse profundamente consciente disso. Em todos os níveis
possíveis.

— Estou? — Ela deu um suspiro irônico.

— Você e Nick são como óleo e água.

Taylor se permitiu sorrir.

— Ele não é tão ruim assim.

Bradley cerrou a mandíbula.

— Ainda assim, você está velha demais para ter um colega de


quarto. Vou conversar com meus advogados, ver se nós não
conseguimos tirá-la desse contrato de aluguel...

— Velha demais? Tá de brincadeira? Além disso, parou de existir um


nós quando você deixou aquela carta no balcão da minha cozinha,
Bradley. E embora eu concorde que preciso de assistência jurídica,
minha principal preocupação é remover o seu nome do contrato. Eu
contratei meu próprio advogado para isso.

Ele franziu a testa.

— Taylor. Por favor. Não precisamos apressar nada…

Ela levantou a mão para impedi-lo de falar mais merda.

— Bradley. Você me deixou ou não por outra mulher? E, inicialmente,


você deixou ou não essa mulher por minha causa?

Ele suspirou e passou as mãos pelos cabelos.


— Eu acho que... Eu cometi um erro e…

— Em qual das vezes? — ela perguntou.

Ele encontrou o olhar dela miseravelmente.

— Tay. Eu só preciso pensar…

— Resposta errada — ela retrucou friamente. — A resposta correta é


que você cometeu um erro nas duas vezes. Você não tem o direito
de tratar as mulheres assim: mantendo uma no bolso de trás até
decidir que gosta mais da outra. E com certeza não tem o direito de
mudar de ideia de novo.

— Taylor…

— Não — ela o interrompeu. — Estou farta de discutir sobre a minha


vida pessoal, mas há algo que preciso discutir com você. Em nível
profissional.

A mandíbula dele contraiu em ressentimento, mas, para crédito dele,


Bradley sempre tentou ser um bom colega de trabalho. Ele assentiu.

— Tudo bem. Sobre o quê?

Ela segurou o olhar dele.

— Enviei um e-mail para o RH ontem à tarde. Solicitando uma


transferência.

Ele piscou.

— Uma transferência.

— Para a equipe do Hunter Cross.

— Que por…
— Ele tem várias vagas disponíveis — insistiu Taylor. — E agora que
o novo design do site principal foi aprovado, ele precisa de alguém
para descobrir como melhor integrar os anúncios ao conteúdo.

— Taylor…

— É um ótimo encaixe para mim — ela prosseguiu calmamente. —


Você sabe que é, Bradley.

Ele tamborilou os dedos na mesa.

— Você ama mesmo o lado digital das coisas — ele admitiu em voz
baixa.

Ela assentiu. A publicidade era o primeiro amor dela, mas ela


preferia muito mais o lado tecnológico daquele mundo.

Anúncios impressos não estavam fora de linha, não por um bom


tempo, mas a publicidade online era onde estava o desenvolvimento.
O futuro.

— Eu não quero te perder — ele falou calmamente. — Formamos


uma boa equipe juntos.

Taylor não disse nada. Ela não tinha certeza se ele estava falando
sobre perdê-la como colega de trabalho ou como mulher, mas ela
não se importava.

— É o melhor a se fazer — disse ela baixinho. — Você sabe que é.

Houve um longo momento de silêncio antes de ele finalmente


assentir.

— Você não precisa da minha aprovação.

— Não. Mas gostaria da sua garantia de que isso não afetará nosso
relacionamento de trabalho.

— Claro que não vai — ele garantiu em voz baixa.


Taylor assentiu.

— Obrigada. De verdade.

Ele deu um sorriso triste.

— Eu tenho que dizer “de nada”, ou posso fazer birra por um tempo?

— Remoer — ela corrigiu enquanto se levantava. — Homens de


verdade não fazem birra, eles remoem o assunto.

— Claro. Deixe-me remoer, então — ele disse, os lábios tremendo.

Ela o estudou por um tempo, sentindo uma pequena pontada no


coração, porque não muito tempo atrás, esses diálogos silenciosos
significavam tudo para ela.

Agora? Tudo o que ela conseguia pensar era que estava pronta para
algo diferente.

Não. Para algo melhor.

Capítulo 15

Uma semana depois, enquanto Taylor manobrava as sacolas de


compras da Bloomingdale’s pela porta da frente, Nick estava de pé
atrás do fogão.

Ao ver a situação incomum, ela piscou por um momento. Além dos


ocasionais ovos mexidos, nenhum deles gostava muito de cozinhar,
mas a lufada de cheiros deliciosos no ar insinuava que ele sabia o
que estava fazendo.

Ele olhou para as sacolas dela.

— Deixe-me adivinhar. Saltos altos e vestidos justos?

— Não se esqueça das calças leggings — disse ela enquanto levava


as sacolas para o quarto e as jogava na cama.
Ela não comprara leggings, mas mencioná-las a fazia lembrar que,
por mais que ela amasse o lindo vestido rosa que usava, a peça não
era confortável. E os saltos altos estavam pinicando em cerca de
seis lugares diferentes.

Alguns minutos depois, ela voltou para a cozinha, vestindo uma


legging que terminava na metade da canela e um enorme moletom
roxo ombro-a-ombro.

— Você sabe que agora já sou imune a essas calças — ele


comentou, sem tirar os olhos de algo que mexia com uma colher de
pau, uma que Taylor pensou que talvez fosse dela, mas que quase
nunca utilizava. — Eu repensei minha opinião, e essas leggings não
fazem nada pela sua bunda.

Ela sorriu, se sentando na banqueta e colocando meias cinzas


quentes e felpudas nos pés.

— Não? Que bom. Considerando que são minhas calças de ficar em


casa e o fato de sermos colegas de quarto, eu odiaria que você se
sentisse desconfortável com qualquer tipo de coisa que pudesse te
fazer sentir atraído. — Taylor endireitou ainda mais a postura, a fim
de espiar a panela. — O que você está fazendo?

— Molho de cogumelos. E depois vou acrescentar macarrão.

— O conceito que a maioria das pessoas tem de preparar pratos


com macarrão é despejar um pote de molho de tomate em uma
panela, aquecê-lo e jogar tudo em cima de um espaguete cozido em
excesso.

— Eu tenho duas especialidades na cozinha. Essa é a minha outra


— ele disse enquanto usava uma faca para pegar um tipo de erva já
picada e jogá-la na panela.

— Quem te ensinou a cozinhar?

— Minha mãe. Esse é o prato que ela costumava fazer em


feriados/aniversários, porque leva mais tempo. Com cinco filhos, a
maioria dos jantares envolvia alguma comida assada em caçarolas
ou macarrão de tempero pronto, enquanto ela tentava conciliar
refeições, treinos de futebol, aulas de balé…

— Aposto que você era um bailarino adorável — ela provocou,


apoiando o queixo nas mãos e batendo os cílios.

Ele deu-lhe um olhar que dizia uau, que engraçado.

— Cinco filhos, hein? Você é um dos mais velhos ou mais novos?

— O segundo mais velho, por um espaço de tempo de dois anos.


Todos nós temos dois anos de diferença.

— Irmãos? Irmãs?

— Dois de cada.

— Vocês são próximos?

Ele levantou um ombro.

— Sim. Sim. Sem muita briga, alguns dramas mínimos de vez em


quando.

Ele pegou uma colher, provou o molho e acrescentou mais sal.

— Eles moram por perto?

Ele olhou para cima.

— Qual a razão de tanta pergunta ultimamente? Você tem sido...


gentil durante toda a semana. Isso é altamente suspeito, Carr.

Ela apenas esperou.

— Eu cresci em Bend, Oregon. Meus pais ainda moram lá, assim


como meus irmãos e uma das minhas irmãs. Minha irmã caçula se
casou com um cara que mora na Baía de São Francisco; eles se
estabeleceram em São José — disse ele, colocando a colher em um
prato ao lado do fogão. — Vinho?

Taylor assentiu, observando-o abrir uma garrafa de vinho tinto e


servir duas taças.

— Deveríamos arranjar um avental para você.

— Nós não deveríamos arranjar um avental para mim — disse ele,


entregando uma taça a ela.

Ele começou a tomar um gole, mas Taylor ergueu a taça em um


brinde.

Ele deu de ombros e bateu de leve a taça na dela.

— Ao que estamos brindando?

— À melhor semana de todas.

— Sim, eu notei que esses dias você tem sido excepcionalmente


otimista — observou ele.

— Por onde você tem andado? — ela perguntou, ignorando a


pergunta implícita sobre seu bom humor na afirmação dele. — Eu
não tenho te visto na Oxford desde aquela manhã na semana
passada.

— Eu não trabalho lá em tempo integral, lembra? Tive uma reunião


com o Cassidy, conversei sobre as previsões do Super Bowl com a
Penelope e o Cole, depois fui a uma cafeteria para escrever. Estive
ocupado desde então.

— Ah. — Ela tomou um gole de vinho.

— Taylor.

— O quê?
— Você perdeu a parte em que eu disse que tinha duas irmãs? Acho
que sei o significado de um “ah” quando ouço um.

— Não é nada.

Ele mexeu o molho na panela novamente, colocou a colher de lado


mais uma vez e deu a volta no balcão, apoiando o quadril no granito
e dando a ela um olhar impaciente.

— Desembucha, Carr.

— Tudo bem — ela disse formalmente. — Pensei que talvez você


tivesse desaparecido naquele dia porque eu saí para me encontrar
com Bradley.

Nick levou o vinho tinto aos lábios.

— Por que eu me importaria com isso?

— Por que você o odeia?

— Eu não odeio ninguém. Eu só o acho um idiota. Mas ele sempre


foi um idiota. Não significa que vou sair correndo do escritório feito
uma princesa toda vez que cruzarmos o caminho um do outro.

— Nossa reunião foi principalmente sobre assuntos profissionais —


disse Taylor, ignorando as respostas evasivas de Nick.

— E de novo, eu me importo com isso porque...?

Ela mordeu o lábio e se levantou, dando um passo mais para perto.

— Você disse uma vez que eu deveria superá-lo.

— Eu disse. — Ele tomou outro gole de vinho, os olhos castanhos


não revelando nada.

Ela franziu a testa um pouco, porque ele estava agindo de forma


estúpida ou espinhosa.
— Bem, eu fiz isso. Eu superei — disse Taylor, dando um pequeno
passo adiante.

Ela deixou os olhos deslizarem sobre os ombros largos e cintura


afilada dele. Então, mais para baixo.

Foi um gesto deliberado. Um convite.

Mas quando seus olhos voltaram para o rosto dele, o ego dela
recebeu um tapinha desconfortável.

Ele estava rindo dela.

Não gargalhando, mas não havia como confundir o sorriso largo ou


aquele olhar de entendimento nos olhos dele.

— Você pensou que as coisas iriam funcionar assim? — ele


questionou. — Você me diz que está farta do seu ex, e eu me derreto
todo com a chance de poder te levar pra cama?

— Mas…

Nick colocou a taça de lado e se aproximou dela.

— É o seguinte, Carr. Você está acostumada demais a conseguir o


que quer, na hora que quer. Você acha que, por ser inteligente e
linda, também é irresistível.

Afetada pelo que ele disse, ela começou a dar um passo para trás,
mas ele estendeu a mão e agarrou o queixo dela firmemente entre o
polegar e o indicador.

— Espera, eu não terminei. Você acha que eu quero você, e está


certa pra caralho. Eu te quero desesperadamente.

O corpo dela se encheu de calor, mas as próximas palavras dele a


esfriaram um pouco.
— Mas não assim — ele disse rispidamente. — Lembra o que eu te
disse naquela noite no bar? Você sempre tem um plano. Um objetivo.
No momento, seu objetivo sou eu, e não é assim que eu faço as
coisas.

Taylor engoliu em seco. Os olhos dele estavam febris, e ela,


perigosamente perto de implorar para que ele lhe mostrasse como
fazia as coisas.

Como ele faria com o corpo dela.

— Então... o quê? Nós vamos só ignorar tudo isso? — Taylor


conseguiu perguntar, gesticulando entre os dois.

Pensativo, ele roçou o polegar no queixo dela.

— Quando você vier para a minha cama, quero que seja por minha
causa. Não porque eu não sou o Calloway.

— Eu te disse, eu já…

— O superou. Sim, eu te ouvi. Então prove.

— Como?

Ele pressionou o polegar nos lábios dela, somente uma vez, depois
deixou o braço cair.

— Um mês. Se em um mês você ainda quiser que eu te foda, farei


isso da maneira que você quiser.

A boca de Taylor ficou seca.

— Um mês. O que faremos até lá?

Ele sorriu, colocando as mãos nos quadris dela para empurrá-la para
trás antes de dar um tapinha brincalhão em sua bunda.
— Vamos dar um passo de cada vez. Por enquanto, que tal um
jantar?

O queixo dela caiu quando ele voltou para trás do fogão, parecendo
completamente imperturbável com a discussão que acabaram de ter.
Enquanto isso, cada parte dela formigava.

Ansiava.

Ele mergulhou uma colher no molho e estendeu-a para que ela


provasse.

— Eu realmente te odeio — ela murmurou, inclinando-se para


saborear o delicioso molho diretamente da colher.

Nick apenas abriu um sorriso largo.

Capítulo 16

De vez em quando, Taylor conseguia ser uma colega de quarto


barulhenta, por isso Nick passara a usar fones de ouvido com
cancelamento de ruído sempre que escrevia em casa.

Como resultado, ele não ouvia quando ela chegava em casa,


retornando do que quer que estivesse fazendo com o próprio fim de
semana.

Ele também não a ouvia bater na porta, coisa que ela havia notado; e
na semana e meia que se passara desde que ele emitiu o decreto
que dizia que os dois deveriam manter as mãos longe um do outro,
ela passou a entrar no quarto dele sem bater, muitas vezes se
jogando na cama e mexendo no celular até que ele terminasse a
cena que estivesse escrevendo e se virasse para ver o que ela
queria.

Esta noite, no entanto, ela não estava tão paciente assim, e depois
de dois minutos tentando ignorar o fato de que ela continuava
andando de um lado a outro, ele tirou os fones de ouvido e deu um
suspiro.
— Que bicho te mordeu, Carr?

Ela bateu palmas, contente por receber atenção.

— Eu preciso de ajuda. Por favor. Assim que você puder fazer uma
pausa.

Ele revirou os olhos.

— Nem finja ser o tipo de pessoa paciente e agradável. Você


arrebentou uma rolha de vinho de novo?

— Não. — Ela agarrou o pulso dele e o arrastou para a sala de estar.

Ele foi, só porque estava com bloqueio criativo e, de todo modo, não
conseguia escrever nada de bom na página.

Ela soltou a mão dele no segundo em que entraram na sala, e Nick


imediatamente sentiu a perda do contato.

Toda vez que ela o tocava, por mais casual que fosse o toque, ele
quase se esquecia do próprio decreto idiota de um mês e a colocava
contra a parede, ou no sofá. Ou contra o balcão. Ou no chão. Ele
não se importava. Fazia somente alguns dias, e ele já estava
morrendo.

Nick se perguntava se ela estava morrendo também, porque a


mulher não tinha feito uma única referência sexual desde o decreto,
e ele estava seriamente começando a se perguntar se havia lidado
mal com toda a situação.

Talvez ele devesse ter aceitado o que ela ofereceu no momento em


que o ofereceu.

Taylor se inclinou para vasculhar uma sacola de compras, e ele


reprimiu um gemido ao ver a bunda dela naquele jeans.

Então, ela se virou e a atenção dele se voltou para a caixa na mão


dela.
— Nintendo — ele disse.

Ela assentiu animadamente.

— Vamos organizar a festa de aniversário de um garoto de dez


anos?

Ela empurrou a caixa contra o peito dele, depois voltou para a


sacola, retirando de dentro nada menos que cinco jogos.

— Você pode configurar para mim?

— Tá falando sério?

— Bem, eu estive pensando — ela respondeu, mordendo o lábio. —


Você disse que a minha vida era planejada demais e que eu sempre
tinha um objetivo em mente, e eu pensei e… isso meio que é
verdade. Eu não sei mesmo como me divertir só pela diversão em si.

— E você acha que videogames são o jeito certo de fazer isso. Você
comprou uma arminha de brinquedo também?

Ela olhou para os sapatos, e ele quase se sentiu mal por provocá-la.

— Eu nunca joguei videogame. — Taylor olhou para cima


novamente. — Isso não é triste? Karen achava que videogames e
televisão estragavam o cérebro. E eu era uma criança estranha, não
era convidada para várias festas.

Ele gemeu e levou o Nintendo até a TV.

— Você está me matando, Carr.

Ela sorriu de volta.

— Eu sabia que se fizesse você sentir pena de mim, você me


ajudaria.
A voz dela era provocadora, mas ambos sabiam que havia uma triste
verdade por trás do que ela dissera. Mais uma vez, ele se viu
xingando a tia dela. Seus próprios pais eram rigorosos com o tempo
que os filhos deveriam passar assistindo televisão, de vez em
quando o forçavam a comer vegetais, e toda essa porcaria, mas eles
também entendiam que crianças precisavam se divertir. Que vez ou
outra precisavam jogar Mario Kart.

Ele conectou os cabos apropriados e ajustou as configurações da TV


antes de voltar a atenção para os jogos que ela colocara na mesinha
de centro.

— Por qual começamos?

A incerteza no rosto dela era de partir o coração.

— Não tem uma opção incorreta, Taylor. Apenas escolha um.

Ela mordeu o lábio e ele suspirou. Cedendo, Nick pegou o Mario


Kart.

— É um clássico.

— Ah! Esse aí. O nerd da Best Buy insistiu que eu precisaria disso
aqui caso fosse jogar com mais de uma pessoa…

Ela pulou do sofá e foi em direção à sacola de compras, que


aparentemente era uma fonte inesgotável de um paraíso de
videogames.

Taylor ergueu um volante de plástico e outro controle.

— Tudo certo? Isso não vai ser divertido?

Ele balançou a cabeça, exasperado, depois fez um sinal para que ela
trouxesse os controles para ele.

— Eu quero mesmo saber quanto você gastou nisso tudo?


— Menos do que gastei nessas botas — disse ela, levantando o pé.

Nick apontou para o sofá.

— Senta.

Ela fez o que ele disse, quase saltitando, enquanto ele carregava o
jogo. Nick entregou-lhe o controle principal, que ela pegou
timidamente. Então, ela olhou para ele e deu um tapinha no espaço
ao lado dela, esperançosa.

Nick suspirou.

— Se vamos mesmo fazer isso, precisaremos de bebidas.

Dez minutos depois – nenhum barman que se preze apressaria o


preparo de um drinque –, ele sentou ao lado dela no sofá e entregou-
lhe um drinque chamado Old Fashioned, decorado com cerejas que
ele mesmo havia embebido em conhaque.

— Você sabe que eu vou te dar uma surra nesse jogo, não sabe? —
ele falou, pegando o outro controle.

Em resposta, ela se inclinou e deu-lhe um beijo na bochecha.

Nick lançou um olhar assustado para ela e ficou ainda mais surpreso
ao ver Taylor Carr corar – algo assim não acontecia todos os dias.

Talvez eles conseguissem sobreviver às próximas duas semanas e


meia sendo platônicos, no fim das contas.

— Então — disse ela, voltando a atenção para a televisão antes de


se aconchegar mais perto de Nick, o quadril pressionando de forma
tentadora contra o dele.

Ele pensou que fosse um gesto acidental, mas então notou o rubor
na bochecha dela. O sorriso malicioso nos lábios.
Não. Ele não era o único que ainda pensava em como seria quando
os dois ficassem nus.

Ele sorriu e começou a ensinar a Taylor Carr tudo o que sabia sobre
Mario Kart.

Esperando pacientemente até que a oportunidade de ensiná-la tudo


o que ele sabia sobre outras coisas chegasse.

Capítulo 17

— Esperem, esperem… esperem por mim! — Brit e Taylor olharam


para cima e se depararam com Daisy quase correndo em direção à
mesa delas, o movimento surpreendentemente ágil, considerando os
saltos altos que ela usava.

— Ufa — disse Daisy, sentando-se na cadeira ao lado de Brit, os


cabelos loiros desgrenhados. — Sinto muitíssimo pelo atraso, mas
me digam que não perdi nada de bom.

Brit apontou para Taylor.

— Não se preocupe. Nossa garota aqui passou a maior parte dos


últimos quinze minutos discutindo entre pedir atum apimentado ou
salmão apimentado.

Daisy torceu o nariz e olhou para Taylor.

— Quem se importa com o pedido de sushi? Queremos ouvir a parte


boa.

Taylor olhou por sobre o cardápio.

— Vou começar pedindo uma sopa de missô.

Daisy estendeu a mão e empurrou o cardápio de Taylor na direção


da mesa.

— Você e o Nick. Detalhes. Agora.


Taylor suspirou e tomou um gole de água.

— Essa é a única razão pela qual vocês me trouxeram para almoçar


hoje, meninas?

— Não — disse Daisy, ao mesmo tempo em que Brit respondeu:

— Sim.

— Que foi? — Brit falou, dando um encolher de ombros inocente em


resposta ao olhar sério que recebeu de Daisy. — Faz muito tempo
que eu não transo... estou vivendo a minha vida pelas aventuras dos
outros.

— Bem, então você terá que perguntar à Daiz, porque eu também


não tenho transado com ninguém.

— Isso é o que você diz — Brit falou. — Mas parece esquecer que
eu tenho que dividir um escritório com vocês dois e seus feromônios.
A tensão sexual é insuportável.

Daisy assentiu.

— Lincoln disse que o Nick passa o dia inteiro te comendo com os


olhos sempre que está trabalhando no escritório.

— Jura? — Taylor perguntou, mordendo o lábio.

— Ah-há! — Brit apontou o dedo para ela. — Então você não é


imune a ele.

— Não, eu não sou imune — Taylor admitiu, exasperada. — Mas é


como eu disse a vocês na semana passada... ele não está
interessado.

— Mentira — Brit retrucou.

— Ok, tudo bem, ele não está interessado o bastante. Ele


basicamente me disse para falar com ele de novo em um mês, se eu
ainda quisesse.

— Faz quanto tempo que ele disse isso? — perguntou Daisy.

— Duas semanas.

— E você ainda quer? Ainda está considerando?

Taylor tomou outro gole de água.

— Vai passar.

As duas deram a ela um olhar cético, e Taylor não as culpava.

A verdade? Nos últimos dias, ela não só perdia uma quantidade


doentia de tempo fantasiando sobre Nick, como também sentia que
havia um sentimento oculto de algo ainda mais perigoso se
formando.

Ela gostava dele.

De alguma forma, o cara que outrora era a única pessoa que ela não
suportava, passou a ser a que ela mais ansiava para ver todos os
dias. Ele era engraçado, grosseiramente fofo e – talvez a
característica mais atraente de todas – parecia ter muita pouca
tolerância para com as besteiras que Taylor dizia, coisa que ela
achava surpreendentemente revigorante.

E tudo isso tornava o decreto temporário de não transar não somente


inconveniente, mas assustador. Taylor estava aterrorizada com a
possibilidade de que quando o momento chegasse, acabasse sendo
algo importante demais e nem um pouco parecido com a simples
vontade de transar que eles vinham nutrindo desde que ele dera um
tapa na bunda dela, no dia da mudança.

Daisy deu à amiga um olhar compreensivo.

— Você quer falar sobre isso?


Taylor quase disse sim, quase desabafou tudo para as amigas,
esperando que elas explicassem o porquê da situação ser tão
perigosa quanto parecia.

Em vez disso, ela acenou uma negação com a cabeça.

— Sabem o que eu acho? Acho que somos três mulheres


maravilhosas com carreiras bem-sucedidas, e que certamente
podem encontrar outro tópico para discutir além de homens.

Daisy estremeceu.

— Sou uma péssima amiga. Eu nem perguntei sobre o novo


emprego! Como está indo?

— Honestamente? Incrível — disse Taylor, dando um sorriso. —


Quero dizer, sei que só se passou um dia e meio, mas parece a
coisa certa.

Levou um tempo até o RH resolver toda a papelada da transferência,


mas desde ontem, Taylor era oficialmente uma gerente sênior de
marketing digital da equipe de Hunter Cross.

A coisa toda poderia até ter começado com a necessidade dela de


se afastar de Bradley, mas quanto mais tempo ela passava com a
equipe de Hunter durante o processo de transferência, mais ela
percebia o quão certa fora a decisão que havia tomado.

Era um novo desafio, um que a deixava entusiasmada. Ajudava o


fato de que ela e Hunter se davam incrivelmente bem. Ela já sabia
que ele era amigável e dono de um grande senso de humor, mas o
homem era também verdadeiramente inteligente.

— Não é à toa que você o adora — disse Taylor à Brit enquanto


colocava as amigas em dia sobre tudo que acontecera com ela.

Brit revirou os olhos, como sempre fazia.

— Eu não o adoro. Nós só... nos damos bem.


— Não, eu me dou bem com o Hunter. Vocês se encaixam.

— Platonicamente — argumentou Brit.

— Certo — disse Taylor, dando um suspiro zombeteiro. — É só que


ele é bom demais para você deixar uma mulher inferior capturá-lo.

— Ele nem está saindo com ninguém no momento. Não é? — Brit


perguntou, colocando a cabeça para fora do cardápio.

Pelo canto do olho, Taylor viu Daisy esconder um sorriso. Taylor


sabiamente reprimiu o próprio sorriso largo.

Platônico uma porra.

Ainda assim, ela deixou Brit direcionar o assunto para algum drama
que estava tendo com a madrasta medonha dela. Elas pararam de
conversar por tempo suficiente para pedir uma variedade de rolinhos
de sushi, antes do foco do assunto se voltar para Daisy, que contou
sobre o casamento que estava organizando para uma noiva
neurótica que insistia que Daisy encontrasse uma maneira de
permitir que a preciosa gata dela fosse a “daminha” que levava as
flores.

Agora que todas estavam a par dos assuntos essenciais da vida uma
da outra, um ligeiro silêncio tomou conta do grupo enquanto elas se
esforçavam muito para não falar sobre o único tópico ainda na
cabeça de todas.

Taylor cedeu, dando um suspiro.

— Está bem. Digam o que estão pensando.

— Ok. Eu acho que você deveria seduzi-lo — Brit sugeriu,


esfregando as mãos uma na outra e inclinando-se animadamente
para frente.

— Seduzi-lo? Como... tipo vestir um sobretudo, sem roupa por


baixo?
— Eu sempre quis fazer isso — Daisy admitiu.

— Você tem que fazer! — Brit disse. — É muito libertador. Digo,


supondo, é claro, que não esteja frio e ventando lá fora e você não
receba rajadas de vento na sua perseguida.

O garçom escolheu aquele exato momento para lhes trazer o


almoço, e a maneira como a mão dele vacilou ao depositar um prato
na mesa indicava que ele claramente escutou o que fora dito.

Brit sorriu para ele.

— Obrigada. O rolinho de atum parece delicioso.

— Meu Deus — disse Daisy com uma risada depois que o garçom
saiu apressado. — Ele vai pensar que você estava fazendo algum
tipo de referência ao seu rolinho de atum.

— E que eu quero usar o pauzinho dele — disse Taylor, juntando os


pauzinhos para sushi que segurava e dando um sorriso malicioso.

Daisy negou com a cabeça enquanto despejava molho shoyu no


próprio prato.

— Se vamos mesmo ter essa conversa, quero voltar a discutir sobre


como o pauzinho do Nick vai chegar no rolinho de atum da Taylor.

— Não — disse Taylor, colocando um pedaço de salmão na boca. —


De jeito nenhum. Vamos descartar imediatamente essa metáfora
nojenta, para nunca mais ser usada outra vez, pelo receio de arruinar
o meu amor por sushi. Todas de acordo?

— Todas de acordo — as outras duas ecoaram.

— Mas, de verdade, o que você acha do plano do sobretudo? — Brit


perguntou. — No que diz respeito à sedução, é bastante infalível.

— Eu acho que funcionaria melhor se não fôssemos colegas de


quarto. O que ele vai pensar, que esqueci de vestir minhas roupas,
coloquei meu sobretudo e que também esqueci de sair?

— Você está sendo muito prática — disse Daisy, acenando com os


pauzinhos. — Ele vai pensar: “Ah, Taylor Carr está nua e eu seria um
idiota de não tocá-la.”

— Que forma romântica de pronunciar isso, querida — Brit


comentou, dando tapinhas na mão de Daisy. — Mas sim, Tay, ela
está certa. De alguma forma, esse cara ainda usa a cabeça quando
está perto de você. Precisamos fazer com que ele use a outra
cabeça. A menos que, claro, você esteja ok em esperar mais meio
mês.

— Acho que posso sobreviver a algumas semanas sem sexo —


resmungou Taylor. — Por que vocês duas estão me pressionando
tanto? O código feminino convencional não determina que vocês me
digam que devo abraçar a vida de solteira por um tempo? Que eu
não deveria voltar à ativa logo depois de um término?

— A questão é a seguinte, Carr — disse Brit, passando um rolinho


califórnia no shoyu. — Eu acho que você subestima o quanto você e
Nick Ballantine têm enchido o saco de todos nós que temos que
estar no mesmo espaço do tesão reprimido de vocês.

— Faz duas semanas.

— Nananinanão — Brit discordou por sobre o sushi. — Faz muito


mais tempo que isso.

— E qual é a sua desculpa? — Taylor perguntou, virando-se para


Daisy. — Você quase nunca vê eu e o Nick juntos, e com Lincoln
Mathis na sua cama, de jeito nenhum você sofreria de tesão
reprimido.

— Verdade verdadeira. — Daisy sorriu. — Mas quanto ao motivo de


eu estar me metendo nesse negócio entre você e o Nick... é
curiosidade, principalmente.

— E isso significa que...?


— Bem... ok, mas lembre-se que foi você que perguntou.

— Lá vem — Taylor murmurou contra o copo de água. — Eu não vou


gostar do que ouvirei, não é?

— Não. — Daisy deu um sorriso largo. — A questão é que o Nick te


disse “nada de sexo por um mês” e você de fato concordou. Pelo
tempo que te conheço, você nunca deixou uma única pessoa dar as
ordens. Eu só acho... interessante. Só isso.

Taylor recostou-se na cadeira enquanto as palavras da amiga a


atingiam.

— Meu Deus.

— Aqui vamos nós — Brit murmurou.

— Meu Deus — repetiu Taylor, as palavras soando mais sinceras


dessa vez. — Você está certa.

Daisy assentiu.

— Eu normalmente estou.

— Aquele desgraçadinho hipócrita.

— Eu não acho que isso seja um adjetivo, querida.

Taylor ignorou isso enquanto acenava com os pauzinhos para a


amiga.

— Eu fiquei parada lá, ouvindo a palestra dele sobre como sempre


consigo o que quero, que preciso aprender a ter paciência e levar
uma lição, ou sei lá o quê. Mas a consequência de eu não fazer as
coisas do meu jeito é ele fazer do jeito dele! Ele está conseguindo
exatamente o que quer.

— Se isso faz você se sentir melhor, não acho que ele esteja
realmente conseguindo o que quer — disse Brit. — Eu tenho o visto
ultimamente. Ele está com um tesão dos grandes reprimido.

— Bem, então vamos dar a ele o que ele quer, certo?

Brit abriu um sorriso largo.

— Hmmm. No que você está pensando?

— Estou pensando... — Taylor limpou a boca com o guardanapo e


cruzou as duas mãos sobre a mesa. — Que precisamos descobrir
quais sapatos vão se encaixar melhor nesse plano do sobretudo.

Capítulo 18

Com o passar das últimas semanas, Nick ficara tão acostumado a


receber visitas surpresas dos caras da Oxford ou de Taylor – nos
dias em que o movimento no hotel estava fraco –, que se sentiu um
pouco decepcionado quando às três horas de uma tarde chuvosa
não havia nenhum conhecido sentado ao balcão.

E não só isso: não havia nenhum cliente no bar.

Nick normalmente franzia o cenho para barmans que usavam o


celular durante o serviço, mas depois de trinta minutos seguidos sem
ver um único cliente, ele seguiu o exemplo da única bartender
trabalhando com ele hoje e pegou o próprio iPhone.

Recentemente ele modernizara seu processo de escrita exatamente


por esse motivo. Ter trocado o antigo aplicativo no qual escrevia por
um compatível com dispositivos móveis permitia a ele acessar o
próprio trabalho em andamento, mesmo quando estava sem o
notebook.

Digitar no celular demandava mais tempo, mas era melhor do que


ficar sem escrever nada.

Encostado no balcão, a criatividade de Nick estava fluindo muito bem


enquanto ele escrevia uma cena de luta em que o protagonista da
história ainda não havia descoberto que seu oponente era um
androide. Foi quando Colette o chamou.

Ele se virou e viu a garçonete acenando para fazê-lo direcionar a


atenção para a entrada do bar.

Nick olhou para cima quando viu Taylor se aproximando, e depois


deu outra olhada para confirmar. Ao vê-la, o corpo dele começou a
vibrar, como sempre acontecia ultimamente. Inferno, ultimamente?

Desde sempre.

Sem sombra de dúvidas, ele desejou essa mulher no segundo em


que a viu. A maioria dos homens desejava. Mas agora era diferente,
porque agora ele a conhecia.

Ou pelo menos estava chegando lá.

E o adjetivo “fascinante” não chegava nem perto de dar conta de


descrever a atratividade inabalável de Taylor Carr.

— Olá — disse ele, franzindo a testa um pouco ao vê-la marchar em


sua direção com um olhar determinado no rosto. Não era do feitio
dela sair do escritório antes das seis da tarde. — Tudo certo?

Ela apoiou os dois cotovelos no bar, mas não se sentou, o olhar


intenso quando se fixou no dele.

— Você tem um minutinho para conversar?

Nick já estava deslizando o celular de volta para o bolso.

— Claro. O que houve?

Ela desviou os olhos para Colette e abaixou a voz.

— Talvez não aqui?


A bartender era a única outra pessoa no local, e sua atenção já
estava de volta ao celular. Nick duvidava que ela fosse dar a mínima
para o que Taylor tinha a dizer, mas ele deu de ombros.

— Está bem. Colette, você pode segurar as pontas por uns minutos?
Eu volto já.

— Não tenho certeza se vou conseguir dar conta do movimento —


ela respondeu, sem se preocupar em olhar para cima. — Mas farei o
meu melhor.

Ele sorriu em agradecimento à ruiva, passando devagar por debaixo


do balcão.

Nick acenou com a cabeça em direção a uma porta lateral que


levava aos banheiros e a uma pequena sala de descanso para
funcionários. Taylor saiu caminhando na frente dele, na direção que
ele indicara. O sobretudo que ela usava não dava a ele muita visão
de sua bunda, então ele se contentou com a visão da cintura fina e
as expostas panturrilhas longas e bem torneadas que terminavam
nos sexys saltos vermelhos.

— O que houve? — ele perguntou quando eles chegaram no


corredor deserto.

Taylor deu um sorriso lento por cima do ombro e agarrou a mão dele,
puxando-o em direção ao banheiro feminino.

— Taylor, o que você está…

— Tem alguém aqui? — ela perguntou alto, abrindo a porta com um


empurrão.

Ninguém respondeu, mas ela se abaixou para checar por baixo das
portas das duas cabines, por precaução, antes de se virar e trancar o
banheiro.

— Que por…
As mãos de Taylor voaram para os ombros dele. E ela ficou surpresa
ao notar que fora capaz de fazê-lo cambalear para trás até as costas
dele atingirem a porta do banheiro.

— O banheiro feminino é mais limpo — disse ela com um sorrisinho


antes de se aproximar e passar a mão pela parte frontal da camisa
dele.

Ele colocou a palma da mão sobre as costas da dela, desacelerando


o movimento para baixo que os dedos de Taylor faziam. Estar assim
tão perto dessa maldita mulher já era torturante o suficiente quando
ela não o tocava.

— O que você está fazendo, Carr? — ele questionou, os olhos


estreitados.

— Bem. — A outra mão dela começou a traçar o contorno da gravata


borboleta que ele sempre usava para trabalhar. — Eu estive
pensando...

— Algo assim é sempre um perigo.

— Não é? — Ela sorriu para ele. — Enfim, eu estive pensando que


você tinha razão sobre eu estar sempre um pouco certa demais de
conseguir o que eu quero. Mas então minhas meninas apontaram
que o fato de nós dois termos que esperar um mês simplesmente
porque você estalou os dedos e mandou... bem, isso não é fazer o
que você quer?

— Você não faz ideia do que eu quero — ele rosnou quando a unha
dela acariciou-lhe a mandíbula.

Ela riu.

— As meninas disseram isso também.

Nick revirou os olhos.

— Quais meninas? Brit? Daisy? Eu vou esganar as duas.


— Não, eu acho que não — disse ela, aproximando-se ainda mais, a
fragrância picante de seu perfume o enlouquecendo. — Acho que
você vai agradecê-las pelo que está prestes a acontecer.

Ele queria rir, queria dizer que não iria dormir com ela antes que o
final do mês chegasse, não até que ela tivesse realmente superado
Bradley. E que quando ele fizesse sexo com ela, não seria no
banheiro feminino de seu local de trabalho.

Mas o único som que saiu dele foi um grunhido sufocado quando os
seios firmes dela pressionaram contra seu peito, a mão livre
prosseguindo com a carícia provocativa ao longo da mandíbula dele.

— Eis o que estou propondo — ela sussurrou, puxando a cabeça


dele para baixo a fim de que seus lábios pudessem flertar com a
orelha dele. — Você não quer fazer sexo comigo até que mais
algumas semanas tenham se passado. E eu não quero esperar.

No momento, Nick achava que ter estabelecido um período de um


mês antes que eles transassem era a ideia mais idiota que já tivera,
mas seu instinto lhe dizia que ceder aos caprichos dela era
exatamente o que essa mulher complexa não precisava.

Eles travaram uma guerra silenciosa com os olhos para ver quem
cederia e, caramba, ele iria vencer, mesmo que morresse tentando.

E com o corpo macio dela pressionado contra o dele, ele tinha


certeza de que morreria.

Os dentes dela mordiscaram o lóbulo da orelha dele, e a ereção de


Nick surgiu. Ele a envolveu com o braço, a palma da mão contra as
costas dela.

— Taylor…

Ele pretendia voltar ao controle da situação, mas as palavras


seguintes dela o paralisaram.

— Que tal um meio-termo? — ela sugeriu.


Nick levantou a cabeça.

— Como assim?

— O sexo pode continuar no seu cronograma. Mas as outras


coisas... podem ocorrer de acordo com o meu.

— Outras coisas? — ele repetiu.

Taylor deu um sorriso malicioso e deslizou a mão pela parte de trás


do pescoço dele, abaixando a orelha dele até a altura de seus lábios
mais uma vez.

— Eu não estou vestindo nada por baixo deste sobretudo.

O cérebro de Nick precisou de um segundo inteiro para compreender


o que ela dizia. O corpo dele precisou de metade disso para
responder.

Ele fechou os dedos em volta do pulso dela e a girou para que suas
posições se invertessem – ela com as costas contra a porta, ele
prendendo-a ali com o corpo.

Ele esperava ver triunfo no rosto dela, mas havia apenas luxúria.

O mesmo tipo de desejo forte e renovador que disparava do corpo


dele.

Não teria feito diferença. Ele teria beijado-a de qualquer maneira.

A boca dele foi de encontro à dela no momento exato em que os


lábios dela se ergueram para os dele, e seus rostos se uniram em
um beijo faminto que há meses se construía em pensamento,
mesmo que nenhum dos dois tivesse notado.

Ela era mais doce do que ele esperava. Ou talvez ele esperasse, e
por essa razão havia se segurado por tanto tempo, aterrorizado com
a possibilidade de ela ser completamente irresistível. De que uma
degustação, um beijo, nunca fosse ser o suficiente.
A língua dela encontrou a dele, um pouco timidamente a princípio, e
depois com mais ousadia. As mãos dela foram para os ombros dele,
acariciando-o ali como se precisasse aprender o formato de Nick,
antes de envolver o pescoço dele com os braços.

Ela o puxou para mais perto e ele deixou, a boca explorando cada
canto da dela. Nick deslizou uma mão pela nuca de Taylor, mantendo
o rosto dela contra o dele enquanto os dedos da outra mão
alcançavam o cinto atado na cintura dela. Ele ordenou os próprios
dedos a permanecerem onde estavam. Ordenou a si mesmo a
satisfazer-se apenas com o gosto dela.

Eu não estou vestindo nada por baixo deste sobretudo.

Nick gemeu contra a boca dela e a sentiu sorrir. Ele mexeu no nó até
afrouxá-lo. Os dois paralisaram, e ele se afastou, observando o rosto
dela corar quando ele desfez o nó por completo.

Ela não abotoara nenhum dos botões. Claro que ela não abotoaria.
Taylor preferia viver a vida no limite, e agora ele aprovava de todo o
coração essa atitude.

Nick segurou o olhar dela enquanto afastava lentamente as laterais


do sobretudo. Ela ofegou quando o ar frio se chocou contra sua pele
quente, fechando os olhos com força.

Só então ele deixou os próprios olhos se direcionarem para baixo.


Nick achava que não poderia ficar mais duro, mas ao ver o corpo
perfeito de Taylor Carr, sua ereção aumentou sob a calça.

Ele deslizou as mãos ao longo das laterais do corpo dela, a pele


quente e macia sob as mãos dele.

Os olhos dela estavam abertos agora, observando-o enquanto os


dedos dele traçavam sua barriga lisa, a pele ao longo de suas
costelas.

Ela era mais magra do que ele pensara, quase frágil de uma maneira
que contradizia a personalidade feroz dela.
Nick deixou os polegares acariciarem a curva inferior dos seios dela.
Nada pequena aqui, no entanto, ele pensou, explorando o peso de
seus seios. Ali ela era macia e pesada – a coisa mais perfeita que
ele já vira. Que já tocara.

— Por favor — ela sussurrou, os olhos cinzas, enevoados e


suplicantes.

Ele passou os polegares sobre os mamilos dela e capturou o


choramingo que ela deu com os lábios, beijando-a profundamente
enquanto a moldava com as mãos, alternando entre movimentos
provocantes e carícias possessivas.

Minha.

Os dedos dela foram para a gravata dele, mas ele ainda não havia
terminado de tocá-la. Não queria nada que pudesse distraí-lo do
corpo dela.

Ele levou a boca ao pescoço dela e a cabeça de Taylor caiu contra a


porta com um gemido suave.

As mãos de Nick deslizaram sobre a caixa torácica dela, movendo-as


para os quadris, cravando os dedos naquela bunda perfeita que ele
mal podia esperar para ver de perto. Mas isso teria que esperar até
mais tarde, quando eles tivessem todo o tempo do mundo.

— Essas outras coisas que você mencionou — Nick disse contra o


ombro dela. — O quão longe você estava planejando deixar rolar?

— Hum... — Taylor ergueu a cabeça, como se tentando organizar os


próprios pensamentos.

A mão dele se moveu entre as pernas dela, um dedo pressionando


levemente a região úmida. Ela choramingou, e o pau dele tensionou
dolorosamente contra a calça.

Ele repetiu o movimento, pressionando ainda mais desta vez, as


pontas dos dedos roçando seu clitóris, de modo que os quadris dela
se contraíram contra a mão dele.

Nick xingou baixinho, direcionando os olhos para onde seus dedos a


tocavam, cada carícia deixando-a ainda mais molhada, até que ela
se apertou contra as pontas dos dedos dele.

— Nick. — A voz dela estava em pânico, as unhas cravadas nos


ombros dele. — Não foi isso que eu... longe demais... Pare.

— De jeito nenhum — ele rosnou, capturando a boca dela. Ela podia


ter começado isso, mas era ele quem iria terminar.

Ele deslizou o dedo médio para bem fundo dentro dela, o polegar se
movendo mais rápido sobre seu clitóris.

Nick havia imaginado que em momentos assim Taylor Carr seria


escandalosa, e estava pronto para abafar os gritos dela com um
beijo.

Em vez disso, ela gozou silenciosa, mas explosivamente, o corpo


magro dando espasmos violentos contra ele, contraindo-se ao redor
do dedo dele repetidas vezes.

Era tudo o que ele podia fazer para permanecer com ela: segurá-la
enquanto ela estremecia.

Fazer Taylor Carr gozar com a mão foi um dos momentos mais
gratificantes da vida sexual dele.

A testa dela caiu contra o ombro de Nick, e ele resistiu à vontade de


pressionar os lábios na têmpora dela. O gesto parecia terno demais,
considerando o que acabara de acontecer em um banheiro público,
mas também parecia... certo.

Foi porque parecia certo que ele se conteve. Ele não tinha certeza de
que qualquer um dos dois saberia o que fazer com esse tipo de
carinho instintivo.
Em vez disso, ele passou um braço em volta dela, deixando-a
recuperar o fôlego.

Então, ele sentiu dedos em seu cinto e tirou a mão dela de lá.

— Acho que não, Carr.

Ela olhou para ele, surpresa.

— Mas…

Ele deu um beijo rápido nos lábios dela.

— Eu preciso voltar ao trabalho.

Taylor fez uma careta.

— Eu não quis que acontecesse assim.

Ele arqueou uma sobrancelha enquanto ia até a pia para lavar as


mãos e arrumar o cabelo que os dedos dela haviam bagunçado.

— A minha intenção era fazer nós dois... você sabe.

Ele secou as mãos e caminhou em direção a uma Taylor ainda


aborrecida, puxando-a para perto. Os olhos dela brilharam, mas ela
franziu a testa mais uma vez quando percebeu que ele estava
apenas fechando o sobretudo, atando o cinto na cintura.

Ele sorriu.

— É assim que vai ser com você? Sempre faminta por mais?

— É assim que vai ser com você? Sempre fugindo, deixando


negócios inacabados?

— Ora, Taylor. Não seja gananciosa — ele disse, verificando se a


camisa que vestia estava enfiada dentro da calça.
— Esse é o problema — ela murmurou, os olhos direcionados para a
virilha dele. — Estou me sentindo um pouco gananciosa.

Nick a empurrou para o lado e destrancou a porta do banheiro,


dando-lhe um tapinha brincalhão na bunda enquanto saía.

Ele entrou no corredor, agradecido pelo local ainda estar vazio, mas
antes de retirar a mão da porta para deixá-la fechar, ele se virou para
ela.

— Carr.

— O quê? — ela perguntou, ainda um pouco mal-humorada.

— A meu ver, eu fui o ganancioso da situação. Fazia um bom tempo


que eu não experienciava algo tão satisfatório assim.

Ele deu uma piscadela, mas foi só quando se afastou para voltar ao
trabalho que se deu conta de uma verdade bastante alarmante.

Ele foi sincero em cada palavra dita.

Capítulo 19

Fazia mais de vinte e quatro horas desde o seu encontro no banheiro


com Nick, e o constrangimento de Taylor em relação à situação havia
desaparecido... levemente.

Ela nunca foi o tipo de mulher que se sentia envergonhada do


próprio prazer, mas gozar depois de segundos dele a tocando? Não
fazia parte do plano.

Taylor sorriu um pouco enquanto entrava pela porta da frente e


deixava as chaves na mesa. Talvez ele tivesse razão quando sugeriu
que ela fizesse coisas sem um planejamento por trás de vez em
quando – o resultado poderia ser realmente muito prazeroso.

— Nick, você está aqui? — ela perguntou alto.


Ele não respondeu, mas isso não queria dizer nada. Hoje era um dos
dias que ele tirava para escrever, o que significava que poderia estar
enfiado no quarto usando os fones de ouvido com cancelamento de
ruído, ou escrevendo em alguma cafeteria.

De todo modo, ela sabia por experiência própria que não deveria
incomodá-lo caso ele estivesse em casa. Ele sairia do quarto quando
tivesse terminado.

E ela tinha grandes planos para ele quando ele saísse.

Taylor estava removendo os brincos e indo para o quarto para trocar


de roupa quando seu celular tocou. Ela recuou até a bolsa deixada
no hall de entrada do apartamento e pegou o aparelho.

— Alô?

— Srta. Carr, aqui é Ken, da recepção. Uma tal de Srta. Young está
aqui querendo ver o Sr. Ballantine, mas ele não atende o telefone. A
jovem diz que é uma emergência.

— Ah... — Taylor olhou para a porta fechada de Nick. Ela não


conhecia nenhuma mulher chamada Srta. Young que fizesse parte
da vida de Nick, mas agora que parava para pensar nisso, se deu
conta de que não sabia quase nada sobre a vida dele. E os caras do
andar de baixo eram quase seguranças. Eles não deixariam alguém
subir se achassem a situação esquisita.

— Claro, mande-a subir — respondeu Taylor por instinto. Assim que


ela desligou, foi bater na porta de Nick.

— Nick. Nick, você está aí? É importante.

Nada ainda.

Ela bateu novamente, e então abriu a porta.

— Droga — murmurou. Ele não estava lá.


Com o celular ainda na mão, ela imediatamente ligou para ele, mas,
assim como o cara da recepção havia dito, ele não atendeu.

Nick geralmente escondia o celular enquanto trabalhava, para evitar


distrações.

Então ela mandou uma mensagem, Volte para casa o mais rápido
possível.

Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, houve uma batida
na porta, discreta, mas rápida, como se a pessoa do outro lado
estivesse surtando.

Taylor abriu a porta e deu de cara com uma loira linda e... um bebê.

— Ah! Oi — a mulher exclamou, dando uma outra olhada em Taylor,


um gesto não tão hostil, mas que sugeria a mesma coisa.

Sem sombra de dúvidas, algum dia essa mulher já havia considerado


Nick propriedade dela.

Taylor encarou de volta, não exatamente amando o fato da mulher


ser tão bonita. Seu cabelo era liso e loiro claro, quase branco, os
olhos, azuis e amigáveis. Ela tinha um punhado de sardas que lhe
faziam parecer uma garota simples e amigável, mas o corpo cheio de
curvas lhe dava a aparência de Marilyn Monroe.

Ótima escolha, Ballantine.

— Eu não sabia que ele estava morando com alguém. — A mulher


não sorriu quando falou.

— Sou só uma colega de quarto — disse Taylor, se perguntando se


deixar essa mulher subir havia sido uma má ideia. — Você disse que
era uma emergência? Sinto muitíssimo, mas ele não está.

O rosto da mulher se enrugou por um segundo em angústia e


preocupação enquanto ela mudava o bebê cada vez mais agitado de
um lado a outro no quadril.
Taylor não sabia quase nada sobre bebês, mas dava para ver que
aquele era uma graça. Uma menina, a julgar pelo vestido rosa e
meias de babados. Não era uma recém-nascida, mas também não
parecia ser uma criança em idade de aprender a andar.

— Droga — a garota resmungou. — Droga, droga, droga.

A bebê começou a chorar.

— Você está bem? — Taylor perguntou. — Quer entrar?

A mulher acenou uma negação, mas os olhos lacrimejavam.

— Eu não tenho tempo, é só que... Acabei de receber uma ligação


informando que minha mãe teve um AVC, e preciso ir em Jersey, e
essa gracinha aqui mal se recuperou de um resfriado terrível, e odeio
a ideia de ter que levá-la a um hospital cheio de germes.

— Ok — Taylor falou, entendendo a situação, mas não


compreendendo de que forma envolvia Nick.

A menos que... O coração de Taylor parou por um minuto. Ela só


conseguia pensar em um motivo que levaria uma mulher a presumir
que Nick Ballantine tomaria conta de seu bebê: se o bebê também
fosse dele.

Ela não conseguia respirar. Ele teria contado a ela, certo?

Será mesmo que ele teria contado?

Eles não estavam dormindo juntos. Mal eram amigos.

Meu Deus.

— Não tenho mais ninguém para tomar conta dela — dizia a mulher.
— Eu pensei que o Nick…

Merda. A mulher estava desesperada de verdade. Estava estampado


no rosto desolado dela.
Cara. Você está prestes a me dever uma e tanto, Ballantine.

Taylor suspeitava que se arrependeria do que estava prestes a fazer,


mas na real, que outra opção havia?

Independentemente de ser a linda ex e mãe da filha de Nick ou não,


a mulher estava claramente em uma situação difícil, e Taylor
conhecia muito bem a ansiedade devastadora de descobrir que um
ente querido estava hospitalizado.

— Tenho certeza que Nick voltará logo — disse Taylor, hesitante. —


Se você quiser, acho que posso tomar conta dela até ele chegar?

A mulher visivelmente estremeceu de alívio.

— Ai, meu Deus. Você faria isso? Sei que não me conhece, mas
estaria me fazendo um favor tão grande, você não faz ideia.

Ela já estava entregando à Taylor a bebê, que ainda chorava, mas


era mais uma inquietação que dizia o que está acontecendo? , mais
um choramingo do que um choro de verdade. Taylor tinha a
sensação de que não duraria muito.

— Ela é muito boazinha — a mulher garantiu, largando a bolsa na


entrada da porta. — Tudo o que você precisa está aí dentro. Fraldas,
brinquedos, cereais. Tem uma mamadeira aí também, mas só dê a
ela se ela se recusar a beber com o copo com canudinho. Estou
tentando fazê-la largar a mamadeira.

A mulher pegou o celular de Taylor, que ainda estava desbloqueado,


e digitou o número do telefone dela.

— Acabei de me mandar uma mensagem pelo seu celular, então


agora você tem meu número — disse ela, devolvendo o telefone de
Taylor.

Taylor, de alguma maneira, deu um jeito de segurar o aparelho sem


soltar a bebê.
Está indo bem até agora. Você consegue, Carr.

— Eu preciso mesmo ir, mas vou mandar mensagem sobre qualquer


outra coisa em que eu consiga pensar. Nick saberá o que fazer
quando chegar.

— Hum, claro — disse Taylor, tentando não entrar em pânico.

A outra mulher deu um passo à frente e fez barulhos de beijos contra


a bochecha da bebê antes de dar um abraço rápido em Taylor.

— Obrigada. De verdade. Você não tem ideia do quanto agradeço.

— Espera! — Taylor disse quando a outra mulher começou a se virar


e a fechar a porta.

A mulher parou.

Essa bebê é filha do Nick?

Ela não perguntou isso. Mas cara, ela teria muitas perguntas a fazer
para Nick quando ele chegasse em casa.

— Que tal me dizer seu nome? — Taylor perguntou.

A mulher soltou uma risada rápida.

— Verdade. Desculpa. Eu sou Kelsey Young. E esse docinho que


você está segurando é a minha filha. Hannah.

Capítulo 20

Nick tinha quase idade suficiente para se lembrar de uma época em


que celulares não existiam, mas não a ponto de se lembrar tão bem
assim.

Quando ele entrou na faculdade, quase todo mundo tinha um, e ele,
como a maioria das pessoas, aprendeu a depender de um celular.
Para tudo.
Ele até gostaria de dizer que não era o tipo de cara que corria
imediatamente para uma loja da Apple depois que seu iPhone se
chocava tristemente contra o chão da academia, mas…

Bem, ele era exatamente esse tipo de cara.

E a loja da Apple estava cheia, como costumava estar, portanto,


embora ele só tivesse passado algumas horas sem o celular, parecia
uma eternidade.

Tudo o que ele queria era voltar para o apartamento, servir-se de um


pouco de uísque e configurar o novo aparelho telefônico.

E talvez ver se Taylor estava a fim de dar uns amassos, porque


desde que ele a masturbou contra a porta de um banheiro público,
ele estava com um tesão sem fim, um que as próprias mãos não
conseguiam aliviar, não importava a quantidade de vezes que
tentasse.

Ele mudou a sacola branca da Apple para a mão esquerda e puxou


as chaves do bolso, abrindo a porta do apartamento.

Ele congelou.

De todas as coisas que Nick achava que nunca veria na vida, a visão
diante dele estava no topo da lista.

Taylor Carr, sentada no meio da sala, com apenas um sapato de


salto alto no pé, o outro fora de vista. Ela ainda vestia uma das
roupas de trabalho, mas o que não muito tempo atrás provavelmente
tinha sido um vestido lilás muito limpo, agora estava adornado no
ombro com um tipo de gosma.

O cabelo dela estava desgrenhado, o rosto marcado pelo pânico, e


não era preciso ser um gênio para descobrir o porquê.

Uma bebê aos berros se mexia nos braços dela.


Os olhos arregalados de Taylor encontraram os dele, alívio
inundando-lhe o rosto.

— Ah! Graças a Deus. Ela não para de chorar!

Em um instante, Nick já estava agachado ao lado de Taylor, e


imediatamente ergueu a bebê para o ombro dele, depois voltou a se
levantar e começou a niná-la suavemente, da forma que ele sabia
que bebês – essa bebê em particular – adoravam.

Hannah prontamente parou de chorar.

— Oi, querida — disse ele, pressionando os lábios na bochecha


macia da bebê e tentando afastar o fluxo de emoção que o atingiu.

Maldita Kelsey. Maldita Kelsey, por fazê-lo passar por isso, por fazê-
lo lembrar que…

Tarde demais, ele lembrou-se de Taylor. Quando olhou para baixo,


deu de cara com ela encarando-o em choque.

Se era em razão da familiaridade dele com a bebê ou o fato de que


havia um bebê nos braços dele, ele não tinha certeza.

Nick colocou Hannah no braço direito e estendeu a mão esquerda


para Taylor. Ela pegou e deixou que ele a erguesse.

O corpo dela vacilou sobre o único salto alto no pé, antes de Taylor
se abaixar para removê-lo. Ela olhou ao redor, procurando em vão
pelo outro sapato, então desistiu e jogou o salto de lado.

— Como você fez isso? — ela perguntou, maravilhada. — Estou


tentando fazê-la se acalmar há quarenta e cinco minutos!

Nick estremeceu. Com tantos dias para o celular dele pifar.

Ele contou à Taylor a versão curta da história da queda do celular


antes de inclinar a cabeça na direção onde Hannah cutucava um
dedo gordinho na bochecha dele.
— Onde diabos está Kelsey?

Taylor torceu o nariz.

— É certo xingar na frente de um bebê?

— É, bem, seria bem-feito para a mãe dela se a primeira palavra da


Hannah fosse essa de seis letras — ele murmurou.

— A avó da Hannah teve um AVC — Taylor contou, enfiando os


dedos nos cabelos, como se tentasse organizar os próprios
pensamentos. — Kelsey disse que tinha que ir em Jersey, não queria
levar a Hannah por causa de germes hospitalares ou algo assim.

Nick assentiu, fazendo um ruído com o nariz contra os dedos da


bebê, o que a fez rir descontroladamente. O coração dele apertou
com aquele som. Ela tinha quase nove meses agora, e doía um
pouco ver o quanto ela cresceu. O quanto havia mudado. E o fato de
ele não ter estado lá para presenciar nada disso.

Com as lágrimas há muito tempo cessadas, Hannah se contorceu


para ser colocada no chão, e Nick obedeceu, experimentando outra
pontada amarga no peito quando viu que ela já engatinhava, em
passinhos rápidos que o fizeram sorrir.

Nick a seguiu pela sala, mantendo-a longe de perigo, ao mesmo


tempo em que mantinha um olho em Taylor.

— Nick — disse Taylor baixinho.

Lá vem.

Ele encontrou o olhar dela quando Hannah parou para se sentar e


inspecionar um porta-copo.

— Sim?

— Essa bebê é... — Taylor engoliu em seco. — Hannah é sua filha?


As palavras ainda doíam. Meses depois, elas ainda doíam.

Ele balançou a cabeça lentamente.

— Não.

Ela olhou dele para a bebê, e novamente para ele.

— Então por que... por que você? Tive a impressão de que Kelsey
era uma ex sua, então por que ela presumiria que você tomaria conta
de uma criança que não é sua?

Nick se ajoelhou e passou a mão pelos cabelos castanhos claros


sedosos de Hannah.

— Porque durante os três primeiros meses de vida da Hannah, eu


achei que ela fosse minha.

— Eu não vou mentir — sussurrou Taylor. — É muito mais fácil


cuidar dela quando ela está dormindo.

Nick sorriu quando olhou para onde Hannah estava, a bochecha


encostada no ombro de Taylor.

— Parece que ela gosta de você.

Taylor bufou.

— Não, com certeza não é isso. Ela só está exausta de tanto chorar
pelo tempo que você levou para chegar aqui.

Nick olhava para ela de um jeito que a fez se contorcer.

— Você não é muito fã de bebês?

— Eu pareço ser uma pessoa que adora bebês? — Taylor perguntou.


Ela tentou manter a voz leve, mas sua cabeça continuava a repetir a
conversa que ela teve com Jessica. O motivo de Bradley ter voltado
para Jess foi porque ele queria uma família.
Doía um pouco saber que ele aparentemente mudou de ideia sobre
querer ter filhos. E, em vez de considerar que Taylor também poderia
mudar de opinião, ele simplesmente se envolveu com outra mulher.

E não era só isso. Ele se envolveu com um tipo diferente de mulher.


Uma que era gentil, simpática e maternal.

Taylor percebeu que estava passando a mão nas costas de Hannah,


um gesto instintivo, mas será que bebês sequer gostavam disso? Ela
deu a Nick um rápido olhar constrangido para ver se ele havia
notado. Para ver se ele a julgava por ser quase insuportavelmente
desajeitada no quesito lidar com pequenos humanos.

O sorriso que ele deu foi gentil.

— Nesse momento, você me parece muito uma pessoa que adora


bebês — ele comentou calmamente.

— Vai passar.

Nick estendeu a mão e pegou uma mecha do cabelo de Taylor.

— Por que você faz isso?

— Isso o quê?

— Acaba com qualquer insinuação de que você possa ser gentil.

— Só porque eu não sou maternal, não significa que não sou gentil
— ela retrucou com mais severidade do que pretendia.

— Concordo — ele disse lentamente. — Eu só quis dizer que você


parece bem determinada a me convencer de que não é boa nisso.

Ela suspirou e tentou mudar o corpo para uma posição mais


confortável no sofá, sem acordar Hannah.

— Eu nunca fiz o tipo maternal. Não é da minha natureza.


— Explique.

— Bem, vejamos — ela falou com um sorrisinho ressentido. — Minha


mãe engravidou por acidente, tentou bancar a mamãe por dois anos
e depois foi embora. Minha única outra parente do sexo feminino
cumpriu o dever de me criar da melhor maneira possível, mas
digamos que não houve histórias para dormir, nem piqueniques entre
mãe e filha.

— Isso é culpa delas — Nick respondeu com um encolher de


ombros. — Não sua.

— Olha, você poderia, por favor, me poupar do discurso da mágica


da maternidade? — ela disparou, irritada. — Estou tão farta de
pessoas que, no século em que estamos, agem como se o valor de
uma mulher estivesse no útero dela. Eu não quero filhos. Fim de
história.

Enquanto dizia isso, ela se sentiu estranha, mas repetia esse


discurso para si mesma tantas vezes que simplesmente... saiu.

Ele lançou-lhe um olhar que dizia: Eu acho que não, mas assentiu.

— Justo, Carr.

Hannah emitiu um ruído sonolento que suavizou a tensão na sala e,


após alguns momentos em silêncio, Taylor descansou a cabeça no
encosto do sofá e virou o rosto para Nick.

— E você? Quer ser pai?

Os olhos dele estavam fixos em Hannah, a expressão tão triste que


Taylor sentiu um nó na garganta pelo desejo que viu ali.

— Sim — ele disse, um pouco rouco. — Pode apostar que sim.

Ela assentiu, a resposta enfática dele incomodando-a mais do que


ela gostaria de admitir, mesmo que para si mesma.
Mas fazia sentido. Nick era o tipo de cara estável e protetor que daria
um pai incrível. Sem mencionar que ele tinha um ótimo
relacionamento com a família e que a mãe dele teve cinco filhos.

Putz. Taylor não conseguia sequer lidar com uma criança por uma
única noite.

Mas aquilo era um pequeno lembrete de que ela e Nick, seja lá o que
fosse isso que os dois estivessem tendo, não estavam destinados a
durar para sempre. Ele se estabeleceria com uma garota legal que
daria filhos para ele e prepararia pratos assados em caçarolas, e
Taylor acabaria como…

Bem, como Karen, provavelmente. Trabalhadora. Ambiciosa.

Sozinha.

Mais cedo, enquanto ela alimentava Hannah, ele havia configurado o


novo celular, e agora o aparelho vibrava. Ele olhou para o telefone.

— Kelsey acabou de sair da estação do metrô. Ela deve chegar em


dez minutos.

Taylor assentiu.

— Graças a Deus. Eu preciso dormir um pouco. Posso entregá-la a


você?

— Sim, claro.

Taylor pretendia entregar Hannah a Nick imediatamente e ir para o


quarto, onde poderia pensar em... algumas coisas.

Em vez disso, ela se viu acariciando a bochecha macia da bebê com


um dedo.

— Tchau, neném — ela sussurrou. — Desculpe por não termos


começado com o pé direito.
Ela cuidadosamente evitou olhar para Nick quando lhe entregou
Hannah, que se mexeu um pouco ao passar do ombro de Taylor para
o muito maior de Nick.

— Vejo você de manhã — disse ela suavemente para Nick.

Ele assentiu, mas não disse nada.

Taylor foi em direção ao quarto dela, incapaz de resistir a dar uma


última espiada no cara gostoso que embalava a bebê minúscula.

O coração dela apertava por causa dele. Ele encerrou o assunto


quando ela tentou conseguir mais informações, e ela estava
morrendo de vontade de saber como diabos Kelsey poderia ter
deixado ele pensar que a criança era dele e depois tirá-la de Nick.

Como ele conseguiu suportar isso?

Taylor estava no banheiro escovando os dentes quando ouviu a


batida silenciosa na porta, as vozes suaves.

Não demorou muito. Quando ela terminou de lavar o rosto e saiu do


banheiro, não havia nenhum sinal de Hannah e Kelsey. Nenhum
sinal de Nick também.

Taylor vestiu uma camisola rosa e se arrastou para a cama.

No momento em que sua cabeça tocou o travesseiro, ela soube que


o sono estava muito longe de chegar.

Ela tentou se forçar a dormir, mas toda vez que fechava os olhos,
continuava a ver o rosto de Nick no momento em que ela perguntou
se Hannah era filha dele.

Continuava ouvindo a resposta dele. Durante os três primeiros


meses de vida da Hannah, eu achei que ela fosse minha.

E hoje à noite ele teve que reviver aquela dor mais uma vez.
Taylor se livrou dos cobertores e saiu da cama. Ela podia não ser
maternal.

Mas era boa em outras coisas.

A porta de Nick estava fechada e não havia sinal de luz acesa por
baixo. Ela empurrou a madeira devagar.

— Nick?

Ele estava deitado de costas, as mãos atrás da cabeça, olhando


para o teto. Os cobertores em volta da cintura, o peito nu.

Ela não conseguia ver a expressão dele no escuro, mas o viu virar a
cabeça na direção dela. Sabia que ele estava acordado.

— O quê, Carr?

A voz dele estava fria, a mensagem clara: Vá embora.

Mas Taylor sabia uma coisinha ou outra sobre afastar as pessoas


quando se estava sofrendo. Sabia que raramente funcionava tão
bem quanto você esperava.

Ela também conhecia a sensação de ter alguém que decidia ignorar


a teimosia. E te abraçava até a dor passar mesmo assim.

Uma vez Nick fez isso por ela, então…

Antes que pudesse se acovardar, Taylor foi até a cama e, sem ser
convidada, deslizou por baixo das cobertas.

— É sério isso? — ele murmurou quando ela se aconchegou mais


perto, descansando a bochecha no peito dele, o braço envolvendo-
lhe a cintura.

Ela se preparou para ele se afastar e expulsá-la do quarto. Não o


culparia se ele fizesse isso.
Em vez disso, após um momento de quietude, ele moveu a mão para
a parte de trás da cabeça dela, e seus dedos começaram a brincar
descontraidamente com uma mecha do cabelo de Taylor.

— Essa é a parte em que eu pergunto se você quer conversar, e


você rosna dizendo que não, mas conversa comigo mesmo assim —
ela sussurrou.

Nick deu uma risadinha.

— É mesmo?

Taylor assentiu.

Ele virou a cabeça levemente na direção dela e suspirou, o hálito


quente dele bagunçando os cabelos de Taylor.

— Na verdade, a história é surpreendentemente curta — disse ele.


— Kelsey e eu estávamos namorando. Era sério, mas não tão sério a
ponto de eu estar prestes a comprar as alianças. Pelo menos não até
ela me dizer que estava grávida. Desde o momento em que ela me
contou, mergulhei de cabeça na possibilidade de nos casarmos. Mas
ela disse que não queria se casar só porque estava grávida. Disse
que deveríamos esperar, deixar as coisas acontecerem
naturalmente. Concordei com relutância, mas fizemos tudo de acordo
com o protocolo: compramos o berço, fizemos um chá de bebê com
os colegas de trabalho dela.

Ele fez uma pausa, os dedos ainda brincando com o cabelo dela.

— Quando olho para trás, percebo agora que devia ter notado que a
insistência dela para que eu continuasse morando no meu
apartamento era um sinal de alerta, mas estava tão animado com a
chegada da bebê que não vi esse sinal. Hannah nasceu e…

— Você se apaixonou — Taylor concluiu com um pequeno sorriso, o


coração derretendo com o pensamento dele segurando a recém-
nascida pela primeira vez.
— Sim — ele confirmou, um pouco rouco. — Eu me apaixonei. Nada
mais importava além da Hannah. Nem o fato de Kelsey não querer
se casar comigo, ou que eu e ela não conversávamos sobre nada
que não envolvesse discutir qual era a melhor papinha ou leite, ou
quem precisaria ir comprar as fraldas. Aquela coisinha pequena era
meu mundo inteiro.

— Então, o que aconteceu? — ela perguntou.

Ele se remexeu sob ela.

— Aconteceu mais ou menos o que você provavelmente está


imaginando. Era uma manhã de domingo e Kelsey tinha saído para
um brunch com as irmãs. Então, um cara apareceu na porta da
frente alegando que ele era o pai da Hannah.

— Não — Taylor respirou. Ela sabia que isso estava por vir, mas
ouvir a história se desenrolar como uma novela da vida real doía.

Doía por causa de Nick.

— A pior parte era que eu acho que já sabia. Meu coração se


recusava a acreditar, porque eu amava a criança, mas ela se parecia
com ele. Ela nunca se pareceu comigo, nem um pouco. Também
explicava a razão de Kelsey nunca fixar o olhar no meu, o porquê de
ela não querer se casar.

— Mas os bebês às vezes não se parecem com nenhum dos pais.


Como você pode…

— Fizemos um teste de paternidade. Provavelmente eu devia ter


feito isso logo no início, mas até então não achava necessário. Eu
não... eu não percebi que Kelsey tinha sido infiel. Nick Ballantine,
zero. Shawn Key, o personal trainer idiota, um.

Taylor olhou para ele, o coração apertado.

— O que você fez?


Ele encolheu os ombros.

— Eu me mudei. Ele foi morar lá.

— Eles ainda estão juntos?

— Vão se casar no próximo mês. — Ele bufou. — Ela me convidou.

— Eu vou com você — disse Taylor. — Vou usar o meu vestido mais
vulgar. Não, melhor ainda, vou usar um vestido branco e vulgar. É a
vingança perfeita, confie em mim.

— Tentador. Mas estou fazendo o possível para deixar tudo para


trás.

— Você sabe que vai ser difícil, certo? — Taylor disse, apoiando-se
em um cotovelo para olhar para ele. — Caso Kelsey continue
trazendo Hannah até você sempre que estiver em um aperto?

— Eu falei isso pra ela — ele respondeu bruscamente. — Por mais


que eu goste de ver a criança, me manter a par da vida dela só vai
tornar a situação cada vez mais complicada à medida em que ela for
crescendo. Quando ela começar a se lembrar das coisas. A
reconhecer as pessoas.

O rosto dele estava sério quando ele disse isso. Nick claramente
tentava manter a dor para si mesmo, em um esforço para fazer o que
era melhor para Hannah.

Sabendo que ele precisava de uma distração, Taylor passou os


dedos sobre o peito dele e suspirou.

— Você sabe o quão insuportável é, não sabe? Te ver insistindo em


ser uma boa pessoa quando por tanto tempo eu estive tão
determinada a te odiar?

— Você nunca me odiou — ele respondeu com um sorrisinho breve.


— Estava só chateada porque eu descobri que você tem um
coração.
— Possivelmente. — Ela deu um beijo no centro do peito dele.

Foi um gesto brincalhão e casual, mas ela sentiu a resposta dele.

Ela olhou para cima, erguendo as sobrancelhas.

— Não deixe isso te subir à cabeça — disse ele com irritação. —


Que diabos você está vestindo? Parece um lencinho de papel rosa.

— Eu sempre durmo nisso — ela respondeu, roçando os lábios


novamente no peito dele.

Ele gemeu.

— Eu não precisava saber disso.

— Está repensando sua regra de ficar um mês sem sexo? — ela


indagou, a boca descendo mais para baixo, passeando pelas
costelas dele.

— Todo maldito dia — Nick admitiu em um rosnado, os dedos se


enroscando nos cabelos de Taylor.

— Faltam menos de duas semanas. — Os dedos dela encontraram


os cobertores enrolados em volta da cintura dele e ela começou a
puxá-los para baixo. — Você vai conseguir aguentar?

— Você vai? — ele perguntou, a voz rouca.

Ela deu uma risada maldosa, porque os dois sabiam quem estava no
controle no momento.

Então, Taylor interrompeu o movimento da própria mão. Ela


encontrou o olhar dele e fez a pergunta que permanecia no fundo de
sua mente.

— Kelsey... era com ela que você estava saindo quando eu te


convidei para jantar?
Ele deu um sorriso arrependido, passando a mão sobre os cabelos
dela.

— Sim.

Ela apoiou o queixo no ombro dele.

— Eu não sabia. Eu com certeza não sabia que você tinha uma filha.
Ou que você achava que tinha.

O peito dele subiu e desceu quando ele inalou profundamente.

— Estranhamente, foi só alguns dias depois dessa situação na copa


da Oxford que descobri que a Hannah não era minha. Algumas
semanas depois, percebi que talvez houvesse um lado positivo na
situação toda. Porque me deixou livre para ir atrás da mulher mais
interessante que eu já conheci, mas...

— Eu estava com o Bradley — ela concluiu a frase para ele.

— Em nenhum momento eu disse que estava falando de você — ele


provocou.

Taylor puxou um pelo do peito dele e deu um sorriso travesso


enquanto sua mão continuava empurrando os lençóis.

Uma distração faria bem aos dois.

Taylor esperava que ele dormisse nu, mas o fato de ele usar apenas
uma boxer não era nada mau. Os dedos dela sem-querer-querendo
roçaram a frente do corpo dele enquanto ela abaixava os cobertores.

Ele soltou um suspiro.

— Taylor.

Ela deslizou a mão por dentro do cós da boxer e envolveu os dedos


ao redor do pênis longo e duro dele.
— Sinta-se livre para me parar a qualquer instante.

Ele não a parou. Nem quando ela o acariciou do topo à base.

Nem quando o polegar roçou a cabecinha macia dele, espalhando


aquele pouco de umidade sobre seu pênis.

Ele não a parou quando ela deslizou o corpo mais para baixo,
puxando a cueca dele até que ele estivesse maravilhosamente nu, e
inteiramente dela.

Taylor não se apressou. Ela deixou os cabelos caírem sobre o


estômago dele, depositando beijos ao longo dos ossos do quadril
dele, provocando-o, querendo que ele implorasse.

Ela deveria saber. Nick Ballantine não implorava. Em vez disso, ele
juntou o cabelo dela em uma mão, e com a outra apertou os lençóis
embaixo dele enquanto a esperava. A respiração entrecortada dele
era o único sinal de que ele estava afetado.

Os lábios de Taylor roçaram o topo do pau dele, e os quadris dele se


contraíram. Ela sorriu e repetiu o movimento, se demorando mais
desta vez.

Os dedos dele se apertaram no cabelo dela.

— Porra.

Era o mais próximo de uma súplica que ela conseguiria dele esta
noite. E ela aproveitaria qualquer coisa que conseguisse.

Taylor o colocou na boca, chupando centímetro por centímetro


enquanto os quadris dele se arqueavam com um impulso cheio de
desejo, pedindo a ela que o engolisse por inteiro, mais fundo.

Ela fez isso. Ela se deu por inteiro, e ele retribuiu, alternando entre
se impulsionar para dentro da boca dela e ficar perfeitamente imóvel
para que ela pudesse assumir o controle.
— Puxe sua camisola para baixo — ele pediu com a voz rouca,
olhando para ela. — Me deixe ver os seus seios perfeitos.

Ela fez o que ele pediu, afastando-se apenas por tempo suficiente
para deslizar as alças da peça pelos ombros até que a camisola
estivesse parada na cintura. Taylor ficou onde estava por um longo
tempo, amando a maneira como os olhos dele vidraram ao vê-la.

Ele estendeu a mão para tocá-la, mas ela o afastou.

— Minha vez.

Então, ela colocou a boca de volta no pau dele, ainda mais ávida
dessa vez.

Um minuto depois, a respiração de Nick acelerou e os dedos dele se


apertaram nos cabelos dela, puxando-a para cima.

— Taylor.

Ela olhou para o corpo dele e encontrou seus olhos para dizer que
entendia o que ele estava dizendo. Ao mesmo tempo respondendo o
que ela mesma queria.

Desta vez, quando ele disse o nome dela, foi um apelo e uma súplica
e, com um último impulso, ele gozou na boca dela, finalmente dando
a Taylor o que ela queria: Nick Ballantine era inteiramente dela.

No momento.

Um minuto depois, ela deslizou de volta pelo corpo dele,


acomodando-se em cima de Nick.

O braço dele a envolveu.

— Se sentindo bastante orgulhosa, não é?

Ela sorriu contra o peito dele.


— Talvez.

Ele suspirou e sentou-se o suficiente para alcançar os cobertores e


envolvê-los ao redor de ambos.

— Não tem como eu continuar morando com você depois disso.

— Eu nunca me gabaria por causa de um sexo oral, Ballantine. É


impróprio para uma dama.

Os lábios dele roçaram-lhe a testa.

— Você está mentindo?

Ela riu.

— Um pouco.

Taylor o sentiu sorrir.

— Foi o que eu pensei.

Ela sentiu os olhos pesarem um pouco, e cedeu à vontade de fechá-


los. Quando ela se esgueirou até o quarto dele, tinha sido com a
intenção de distraí-lo das memórias dolorosas com um boquete dos
bons, e depois voltar para a cama dela.

Ela certamente não imaginou ficar aqui com ele. Não se permitiu
imaginar como seria bom dormir aconchegada no calor dele.

E foi melhor assim. Nada que sua imaginação pudesse ter conjurado
teria sequer chegado um pouquinho perto da realidade.

Capítulo 21

O grito que Taylor deu quando a cortina do chuveiro foi aberta


enquanto ela passava o xampu não foi nem um pouco digno.
— Jesus, Ballantine — ela falou, colocando a mão ensaboada sobre
o coração acelerado. — Você é louco?

Em resposta, ele apenas sorriu, tirou a cueca boxer e entrou no


chuveiro sem ser convidado.

— É sério? — ela resmungou quando ele a encurralou sob a corrente


de água morna. — Você se recusa a dormir comigo, mas tomar
banho pode?

— Eu dormi com você. A noite toda.

— Você sabe o que quero dizer.

— Eu sei. Você está fazendo birra porque ainda me recuso a transar


com você.

Ela riu.

— Tanto faz.

— Eu posso fazer outras coisas — ele disse com a voz rouca, se


pressionando contra ela.

O coração dela bateu um pouco mais rápido em expectativa, mas ela


definitivamente não esperava que as mãos dele fossem se dirigir à
sua cabeça, que as pontas dos dedos dele fossem começar a
massagear o xampu pelos cabelos dela.

Taylor não conseguiu conter o gemido.

— Por que a sensação é tão melhor quando é outra pessoa


fazendo?

Ele não respondeu, apenas pressionou os dedos suavemente contra


o couro cabeludo dela em um gesto que parecia mais um carinho do
que qualquer outro toque que ela não recebia há muito tempo… que
talvez nunca recebera.
Nick inclinou a cabeça dela para trás e ela obedeceu, deixando o
fluxo de água enxaguar seu cabelo.

Ela abriu os olhos e se deparou com Nick encarando-a com uma


expressão ilegível.

— Condicionador? — ela perguntou. O objetivo dela era que sua voz


soasse atrevida, mas saiu em um tom... tímido.

Um canto da boca dele se ergueu e, em vez de pegar o frasco do


condicionador, ele deslizou a mão para a nuca dela e puxou a boca
de Taylor até a dele para um beijo.

Ele tinha gosto de pasta de dente e dele mesmo, e ela o puxou para
mais perto, pressionando o corpo molhado contra o dele. Nick
gemeu, as mãos deslizando pelas costas dela para segurar sua
bunda, puxando o corpo inteiro dela contra o dele.

Taylor ficou na ponta dos pés, inclinando os quadris para pressioná-


lo contra a ereção dele, e ele bateu na bunda dela levemente.

— Lá vem você de novo tentando apressar meu cronograma.

— Só quero chegar à parte boa.

O sorriso que ele deu foi maldoso.

— Você quer a parte boa, é?

Taylor não se opôs quando ele a virou lentamente na direção da


parede do chuveiro, embora tenha ofegado quando ele a empurrou
gentilmente contra os azulejos gelados.

— O que você está…

As palavras dela se dissiparam em um gemido quando ele moveu os


cabelos dela para o lado e distribuiu beijos quentes, da ponta do
ombro dela até o espaço entre as omoplatas, depois para baixo, ao
longo da espinha.
As mãos dele seguraram a bunda de Taylor, e ela pôde jurar que o
ouviu sussurrar um “Perfeita” antes de mordiscar uma banda
levemente, e depois amenizar a dor com um beijo no local antes de
virá-la outra vez.

Os olhos de Nick encontraram os dela por uma fração de segundo


antes de ele pressionar a língua em sua boceta. Taylor arfou o nome
dele, as mãos indo para a cabeça de Nick, os dedos segurando os
cabelos úmidos dele como se a vida dela dependesse disso.

Nick não era nem um pouco tímido, e se recusou a deixá-la ser.

A mão dele ergueu a perna esquerda dela levemente, abrindo Taylor


por completo enquanto a lambia.

Como no dia em que ela usou o sobretudo, ele parecia saber tudo o
que ela gostava, cada toque que ela precisava, antes mesmo de ela
saber.

O prazer tornou-se quase insuportável, a boca quente de Nick contra


o corpo dela, a parede gelada do banheiro contra as costas de
Taylor. O som da respiração ofegante dela se misturando ao barulho
da água do chuveiro caindo era como a própria trilha sonora erótica
deles.

Dois dedos deslizaram para dentro dela enquanto a língua dele


circulava seu clitóris, repetidas vezes, até ela gozar. Taylor se desfez
como um pedaço de porcelana, seu corpo, sua alma, tudo se
desfazendo em um milhão de direções diferentes.

As mãos dele a seguraram firmemente enquanto ele se levantava,


arrastando os lábios pelo corpo dela até roçar-lhe o pescoço.

— Agora é a hora de passar o condicionador? — ele sussurrou


contra a orelha dela.

Taylor riu, um som irregular e exausto.

— Algo assim.
E então, antes que ele pudesse detê-la, os dedos dela envolveram o
pau dele. Ela ficou completamente excitada de novo ao sentir o quão
duro ele tinha conseguido ficar só de dar prazer a ela.

Ele se afastou, apoiando a testa na dela enquanto ela o acariciava


em movimentos lentos e quentes. Era maravilhosamente íntimo
observar o rosto dele enquanto ele se aproximava cada vez mais do
orgasmo. Ela se viu estranhamente emocionada com a maneira
como ele a deixou observá-lo, como se ele se recusasse a deixar
qualquer um deles negar o que estava acontecendo entre os dois.

Ela observou as veias do pescoço de Nick saltarem e ele cerrar a


mandíbula. Observou a maneira como a cor dos olhos dele mudou
de um castanho iluminado para um tom de chocolate derretido.

Esperou até os olhos dele finalmente se fecharem quando ele cedeu


ao prazer com um ruído silencioso.

Quando ele parou de ofegar, abriu os olhos e olhou para ela,


perplexo.

— O que vamos fazer com nós dois, Carr?

— Não faço ideia.

Sorrindo, ele entregou a ela o frasco do condicionador e lavou o


próprio cabelo antes de colocar sabonete líquido na esponja de
banho dela e limpar os dois em movimentos curtos e eficazes tão
masculinos que a fizeram rir.

Minutos depois, eles estavam na cozinha, ela de roupão, ele com


uma toalha amarrada na cintura enquanto servia uma xícara de café
para cada.

— Você tem planos para esta noite? — ele perguntou, tirando do


armário a caixa de cereal sem glúten que costumava comer.

Ela tomou um gole de café.


— Não. Eu ia sair para tomar uns drinques com a Brit, mas ela está
resfriada. Um outro amigo meu vai dar uma festa para comemorar o
aniversário, mas é com um grupo de pessoas que adora beber
tequila e dançar a noite toda, e não sei se tenho esse tipo de
disposição dentro de mim. Estou ficando velha? Não responda.

Ele foi até a geladeira, pegou um dos potes de iogurte de framboesa


dela e colocou isso e uma colher na frente de Taylor.

— Saia comigo.

Ela congelou no processo de abrir o iogurte.

— Seja mais específico.

Ele despejou leite na tigela dele.

— Você. Eu. Jantar fora.

Taylor deu um sorriso muito lento.

— Você está me convidando para um encontro, Ballantine?

— Depende. Você vai me jogar um balde de água fria?

— Ei, não sou eu quem está nos fazendo esperar — ela falou,
acenando com a colher na direção dele antes de mergulhá-la no
iogurte.

— Não parecia que nenhum de nós estava fazendo o outro esperar


alguns minutos atrás.

Ela lambeu a colher, considerando.

— Sair para jantar parece ser uma ótima ideia. Se eu pagar a conta,
você vai jogar um balde de água fria em mim?

Ele abriu um sorriso largo e colocou uma colher de cereal na boca.


— Por via das dúvidas, vista algo sexy.

Capítulo 22

Por fim, ela decidiu vestir algo sexy: um vestido preto e curto de
frente única.

Mas não pagou pelo jantar.

Nick se recusou a deixá-la sequer encostar na comanda antes de


colocar o cartão de crédito dele na pasta para contas.

— Eu que tive a ideia, eu que pago.

— Isso significa que não vou ter sorte hoje, hein? — ela adivinhou,
passando a colher pela lateral do prato para raspar o restante do
crème brûlée.

Ele deu uma risada indiscreta.

— Você só pensa em sexo?

Ela largou a colher, um pouco envergonhada.

— Acho que devo estar fazendo você se sentir como um pedaço de


carne, não é?

Ele olhou para ela com curiosidade, e ela se apressou para falar.

— Desculpe. Eu realmente não sou tão obcecada por sexo quanto


pareço. Acho que simplesmente parece mais fácil focar nisso. No
sexo.

— Em vez de...?

Taylor desviou o olhar.

— Outras coisas.
— Outras coisas? — ele repetiu, a voz em uma provocação quando
se inclinou para frente. — Diga.

— Não — ela respondeu teimosamente.

Ele sorriu.

— Carr. Fale comigo.

— Eu não sou boa nisso — ela admitiu, brincando com a taça de


vinho quase vazia. — Sou muito boa com casinhos sem
compromisso, mas relacionamentos tendem a explodir na minha
cara.

— Você se saiu bem com Calloway — disse ele, a voz engrossando


um pouco.

— É mesmo? — ela disse, encarando-o. — Seja como for, aquilo


foi... diferente.

— Ah. Entendi.

Embora o queixo dele estivesse tensionado, os olhos pareciam


quase... magoados.

— Não, não foi isso que... — Ela suspirou. — Viu só? É isso que eu
quero dizer. Eu estrago tudo que envolva delicadeza.

Ou sentimentos.

Houve um momento de silêncio quando o garçom trouxe de volta a


conta e o cartão de crédito de Nick.

— Eu não sou delicado, Carr — ele disparou, pegando a caneta para


assinar o recibo. — Basta dizer o que você precisa dizer.

— Certo — ela retrucou, cruzando os braços e recostando-se na


cadeira. — Eu acho que gosto de você. Mais ou menos. Tipo, muito.
Digo, quando não estou te odiando.
A mão de Nick que segurava a caneta paralisou e ele olhou para
cima, a expressão surpresa.

Taylor engoliu em seco. O silêncio era... horrível.

Não era como se ela tivesse confessado amor eterno ou algo assim,
mas ela se sentiu muito mais vulnerável com aquela tagarelice
aleatória com Nick do que jamais sentiu com qualquer declaração
que fizera a Bradley.

Nick voltou a atenção para passar o cartão de crédito, e o coração


dela apertou. Ele anotou a gorjeta e o total pagos, rabiscou a própria
assinatura, depois jogou a caneta dentro da pasta e se levantou.

— Ok, então — ela murmurou baixinho, aceitando a mão que ele


estendeu.

Nick a levou para fora do restaurante sem dizer uma única palavra,
pegando os casacos de ambos no espaço destinado a isso, e a
ajudando a vestir o dela.

O restaurante que ele escolheu ficava a somente alguns quarteirões


do apartamento, então eles optaram por ir a pé.

Taylor estava prestes a dizer que não estava gostando do gelo que
ele estava dando nela, mas antes que pudesse verbalizar isso, ele
pegou a mão dela, entrelaçando seus dedos nos dele.

O gesto foi meigo e inesperado, e ela estava tão ocupada tentando


descobrir se aquilo significava um Eu também gosto de você, que só
percebeu que eles haviam chegado ao apartamento quando ele tirou
o casaco.

— Ok, Ballantine — disse ela, tirando o casaco e jogando-o nas


costas de uma cadeira. — Sei que não sou muito boa com essas
coisas, mas aparentemente você também não é muito bom nisso. No
que está pensando?

Quando Nick caminhou na direção dela, ela pensou em recuar.


Em vez disso, porém, Taylor decidiu se manter firme onde estava e
ergueu o queixo teimosamente.

— Estou pensando. — Ele estendeu as mãos e envolveu-as no rosto


dela. — Que está na hora de você e eu pararmos de fazer joguinhos.
De pararmos de deixar que tudo o que está acontecendo seja sobre
o seguimento de um cronograma ou sobre se vingar de Calloway, ou
superar Calloway, ou ganhar algum tipo de disputa estúpida. —
Estou pensando — ele continuou, se aproximando — que devemos
fazer o que queremos. O que nós dois queremos. Não por causa de
um prazo determinado, mas porque é certo.

Ela levantou as mãos e agarrou os pulsos dele.

— Isso significa que... esta noite...?

Ele deu um sorriso lento e sexy pra caralho.

— Exatamente isso.

Taylor encontrou os lábios dele em um beijo, esperando que o gesto


fosse tórrido e frenético, mas ficou surpresa ao sentir um toque
vagaroso e um pouco gentil.

Eles permaneceram como estavam por longos momentos, os corpos


pressionados juntos, as mãos dele no rosto dela, as dela nos pulsos
dele, enquanto as bocas se moviam juntas lentamente, as línguas
flertando timidamente.

Ela estava tanto faminta quanto nervosa pelo que estava por vir.

Não era uma combinação de emoções familiar para ela, nem


particularmente confortável.

Taylor se perguntou se Nick sentia isso também, porque mesmo


quando suas mãos deixaram o rosto dela, ele manteve o toque
gentil. As palmas das mãos dele deslizaram sobre os ombros e pelas
laterais do corpo dela até os dedos dele agarrarem seus quadris.
Os lábios dele encontraram o pescoço dela e Taylor gemeu, a
cabeça caindo para trás. As mãos dela deslizaram sob o suéter dele
e ela colocou as palmas na pele quente das costas de Nick.

Ele rosnou e, de repente, o toque dele ficou um pouco mais violento,


a boca mais exigente enquanto ele erguia as mãos pelas costas
dela, nuas por causa do vestido.

Ela não estava usando sutiã e, se ele não sabia disso antes, ficou
sabendo agora com os mamilos endurecidos dela roçando contra o
peito dele quando Taylor se moveu para se aproximar.

Ela mordiscou o pescoço dele e ele xingou, virando-a gentilmente,


mas com firmeza, até que ela estava encarando o balcão.

Instintivamente sabendo o que ele queria, ela juntou os cabelos de


lado e inclinou a cabeça para a frente, para que os lábios dele
pudessem tocar a pele ao longo da nuca dela, depois as costas, em
beijos úmidos e quentes que a deixaram tremendo de antecipação.

As mãos dele deslizaram pelas laterais abertas do vestido,


apalpando-lhe os seios. Os mamilos dela sempre foram sensíveis,
nunca particularmente gostando de serem tocados com brutalidade,
mas isso ele também parecia saber, porque tocou-a leve e
provocativamente.

Taylor ouviu uma súplica baixa e se deu conta de foi ela quem a
proferiu, se deu conta de que precisava de mais. Agora.

Um segundo depois, ele a levantou, um braço em volta dos ombros


dela, o outro por baixo dos joelhos, e ela riu em deleite, porque
ninguém nunca a fez se sentir tão feminina.

— Para onde? — ele indagou.

Ela deu de ombros e deu um beijo rápido na mandíbula dele.

— Você escolhe. — Aquilo não era sobre ser no território dele ou no


dela; era sobre desejar tanto a outra pessoa a ponto de não importar
o lugar onde ocorresse.

Nick virou-se e caminhou para o próprio quarto, deitando-a


suavemente na cama antes de se abaixar sobre o corpo dela.

A boca dele foi até a dela; o movimento exploratório e lento de antes


rapidamente se transformando em um desejo urgente.

Os dedos dela lutaram contra o fecho da calça dele. As mãos de


Nick deslizaram pelas coxas dela, e para cima, levando o vestido
junto.

Como ele usava mais roupas, eles lidaram com ele primeiro,
trabalhando juntos para livrá-lo de cada peça.

Com Taylor foi mais fácil. Ela tirou os sapatos enquanto ele puxava o
vestido de seda sobre a cabeça dela.

Ele gemeu um pouco ao ver a calcinha sexy dela, preta e simples na


frente, mas com um inesperado lacinho vermelho e ligas na parte de
trás.

Ela deu um sorriso sagaz.

— Achei que você poderia gostar.

Ele provou que ela estava certa, virando-a de bruços e passando um


dedo sobre a fita provocativa antes de mover a mão para o lado e
traçar a curva externa da bunda dela.

— Eu estava errado. As calças legging não fazem jus nenhum a essa


parte do seu corpo — ele disse, a voz rouca.

Taylor se apoiou nos cotovelos e deu um sorriso de satisfação para


ele.

— Nick Ballantine, você é um homem com um fraco por bundas?


— Quando se trata de você, sou um homem com um fraco por todas
as coisas.

Ele puxou os quadris dela para cima e, antes que ela pudesse
raciocinar o que ele pretendia, Nick enfiou um dedo na calcinha,
puxando o tecido para o lado antes de pressionar a boca na boceta
úmida dela por trás.

Ela gemeu contra o edredom. A posição a deixava mais vulnerável


do que ela estava acostumada, mas ela não conseguia pensar em
fazê-lo parar. Especialmente quando a língua dele deslizou por seu
clitóris, a mão dele pressionando a parte inferior de suas costas para
segurá-la no lugar.

As respirações dela ficaram mais rápidas e ele a lambeu com mais


força até Taylor gritar, gozando mais forte do que ela jamais gozou
em toda a vida. Um terremoto de sensações que ela pensou que
pudesse matá-la.

Ela caiu de bruços, e ele distribuiu beijos ao longo de sua coluna até
se deslocar para o lado para deitar ao lado de Taylor, uma mão
quente nas costas dela.

— Eu sempre soube que poderia te fazer gritar.

Taylor deu uma risada cansada.

— Eu te odeio. Você me matou.

— Não foi assim que você sempre imaginou que acabaríamos? —


ele disse, depositando um beijo no ombro dela. — Com um de nós
matando o outro.

Ela virou a cabeça para dar-lhe um olhar semicerrado.

— Agora que você mencionou, eu meio que realmente tive essa


premonição, exceto que não era eu quem morria.
Então, ela praticamente se jogou sobre ele, virando-o de costas, os
dedos prendendo as mãos dele contra o travesseiro.

Ele poderia se livrar dela facilmente, mas não o fez, optando por
levantar a cabeça e abocanhar um de seus seios.

Ela rebolou os quadris e os dois gemeram quando a cabeça do pau


dele roçou contra ela.

— Eu tomo anticoncepcional — ela conseguiu dizer entre arfadas. —


Você tem algum motivo pelo qual eu não deva…

Em resposta, as mãos de Nick envolveram a cintura dela, erguendo-


a um pouco antes de posicioná-la sobre ele. Os olhos dele estavam
famintos ao se fixarem nos dela, e ela sabia que ele não queria nada
além de assumir o controle, mas, em vez disso, ele ficou parado,
deixando-a assumir o comando. Uma espécie de presente.

Ela recompensou a ambos, abaixando-se sobre ele lentamente, cada


centímetro a fazendo abrir mais as pernas até ela se apertar em volta
dele.

— Taylor — ele ofegou, apertando os dedos nos quadris dela.

Ela começou a mover os quadris, rebolando sobre ele em círculos


lentos. Ele abocanhou um mamilo, lambendo-o suavemente, e ela
gemeu, movendo-se cada vez mais rápido.

Era rápido e cedo demais, mas ela não conseguia mais segurar.

Taylor conseguiu gritar em aviso antes de se apertar em torno dele.

Nick permaneceu com ela, os quadris se chocando contra os dela


quando ele emitiu um ruído e gozou dentro de Taylor.

Alguns instantes depois, as mãos dele deslizaram para as costas


dela, empurrando-a para baixo, de modo que ela se deitou
esparramada sobre seu peito, saciada e sonolenta, mas acima de
tudo…
Feliz.

Uma espécie de felicidade profunda que era tão estranha quanto


maravilhosa, mas também assustadora.

Assustadora porque Taylor nunca havia se sentido assim. E ela não


tinha a menor ideia de como manter essa felicidade.

Capítulo 23

Duas semanas depois de dormir com Taylor pela primeira vez (e


definitivamente não a última), Nick invadiu o escritório de Lincoln
Mathis sem ser convidado.

Assustado, Lincoln olhou para cima, e Nick ficou meio decepcionado


ao perceber que Mathis não estava sozinho; Nick claramente
interrompera uma reunião.

Mas como o outro homem no local era Alex Cassidy, a quem Nick
considerava um amigo, ele entrou no escritório mesmo assim.

Ele avançou na direção da mesa de Lincoln e se sentou na cadeira


vazia ao lado de Cassidy. Então, olhou para os dois homens e
franziu a testa.

— Essas conversinhas geralmente não acontecem no escritório de


Cassidy, já que ele é o chefe e tudo mais?

— Ele estava comendo a Emma lá de novo — disse Lincoln. — Eu


me recusei a entrar e me expor ao clima de sexo.

Cassidy o fuzilou com os olhos.

— Convicto como estou de que você deu uns amassos na Daisy


neste mesmo escritório, o que faz de você um hipócrita, persistir
nesse pensamento também significaria aceitar que você já viu minha
cunhada nua. Então, vou me abster.
Nick entrelaçou os dedos e deixou-os resolverem o assunto pessoal
deles.

Todo mundo na Oxford parecia namorar alguém que já conhecia


algum membro do grupo ou tinha algum parentesco com alguém do
grupo, mas a situação de Lincoln e Cassidy era particularmente
esquisita.

Suas respectivas cara-metades eram gêmeas idênticas. Não que as


duas mulheres fossem muito parecidas hoje em dia. Emma tinha
cabelos castanhos, enquanto Daisy havia tingido o dela de loiro,
entre outras características…

Ainda assim, nada disso tinha relação com o motivo de ele ter ido
parar nesse escritório.

— Eu preciso de ajuda — ele anunciou.

— Claro — disse Cassidy, começando a se levantar. — Eu tenho


uma hora livre. Quer conversar no meu escritório?

Nick deu um aceno, pedindo para ele voltar a se sentar.

— Não é esse tipo de ajuda. A matéria que você me deu está indo
bem, apesar de ser entediante pra caramba. Preciso de um tipo
diferente de ajuda.

Ele não sabia o que era mais irritante: a surpresa inicial dos homens
ou os sorrisos presunçosos e insuportáveis que se seguiram.

— Diga — Lincoln falou, recostando-se na cadeira e cruzando as


mãos sobre o tronco esbelto. — O Convencido Sabe-tudo Ballantine
caiu em uma armadilha de amor?

Armadilha de amor?

Nick apontou um dedo com incredulidade para Lincoln e olhou para


Cassidy.
— Ele sempre fala assim?

— Durante a maior parte do tempo, sim — Cassidy respondeu. —


Mas antes que essa conversa avance, eu preciso perguntar. Você
está prestes a discutir suas relações íntimas com uma das minhas
funcionárias?

Nick ergueu as sobrancelhas.

— Talvez. Mas você já não está acostumado com isso?

Cassidy deixou uma risada surpresa escapar e tentou disfarçar.

Lincoln assentiu com aprovação para Nick.

— Com essa ele te pegou, Cassidy. Além do mais, não existe uma
regra oficial que nos impeça de transformar colegas de trabalho em
amigos mais íntimos. Cole e Penelope já verificaram isso.

— É claro que eles verificaram — murmurou Cassidy, referindo-se


aos principais colunistas de esporte da Oxford, que também eram
muito envolvidos intimamente. — Certo, tudo bem. O que está
acontecendo? — ele perguntou a Nick.

— Esse é o tipo de pergunta que vale um milhão de dólares — disse


Nick, passando as mãos pelo rosto.

— Então, você e a Taylor. É oficial? — Lincoln perguntou.

— Se eu soubesse o que diabos Taylor e eu somos, não estaria aqui


conversando com vocês dois.

— Bem, vocês estão morando juntos — Cassidy disse devagar.

Nick assentiu com impaciência.

— E dormindo juntos?
Outro aceno, além de uma lembrança muito agradável da noite
passada. De todas as outras noites.

— Bem, eu não sei — Cassidy declarou, olhando para Lincoln. — O


que você acha que isso parece, Mathis?

— Parece muito com a minha relação com a Daisy.

— É diferente — Nick rosnou.

— Diferente como?

— Porque a Daisy é...

Ele quase disse mais fácil, mas não queria que Lincoln interpretasse
errado e achasse que Nick estava chamando a mulher dele de fácil.
Mathis era gentil por fora, mas tinha um lado alfa e protetor quando
se tratava da mulher dele.

Mas Nick não fazia ideia de como explicar que se envolver com
Taylor era como dormir de conchinha com um bastão de dinamite.

Tudo estava calmo agora, mas ela era a mulher mais intensa que ele
já conheceu, e ele tinha uma vaga sensação de que um passo em
falso por parte dele significaria que ele teria um trabalhão para
reconquistá-la.

— Taylor é complicada? — Cassidy sugeriu.

— Inferno, sim — disse Nick, grato pela ajuda.

— Todas as mulheres são complicadas — disse Lincoln.

— Verdade — Nick concordou. Ele nunca namorou uma mulher que


não fosse. Mas... ele e Taylor estavam namorando?

Talvez esse fosse o cerne da questão. De algum modo, eles foram


de inimigos a colegas de quarto, de amigos a amantes, mas todas
essas palavras, embora precisas, não pareciam certas.
Ele queria ser mais que isso para ela. E esse era o problema.

Quanto mais tempo passava com Taylor Carr, mais ele a queria por
inteiro. E ele não conseguia escapar do pressentimento de que ela
não era dele.

— Isso é por causa do Bradley? — Lincoln questionou.

Nick se inclinou para frente, passando as mãos pelos cabelos.

Ele queria negar. Queria dizer que não dava a mínima para o ex de
Taylor.

— Ela o amava. — Ele se ouviu murmurar.

Taylor podia até enxergar quem Calloway era de verdade com mais
clareza agora, e ele não achava que ela estava sofrendo pelo idiota,
mas ela nunca negou que se importava bastante com o outro
homem, mesmo que ele tenha provado não merecer esse carinho.

— E como ela se sente sobre você? — Cassidy perguntou.

— Ela gosta de mim — ele murmurou, sentindo-se um garoto do


ensino fundamental II.

Era embaraçoso saber que, uma semana atrás, ouvi-la admitir algo
tão simples quanto gostar dele o fez sentir como se ele fosse o dono
do mundo.

Ultimamente, no entanto, não parecia suficiente. Não chegava nem


perto de ser o suficiente.

— Esse papo feminino está ficando bom — Lincoln afirmou,


esfregando as mãos. — Como você se sente sobre ela?

Nick olhou sério para o outro homem, deixando-o saber que aquilo
não estava em discussão.

Principalmente porque ele não tinha uma boa resposta para dar.
Se importar com Taylor Carr parecia inevitável e perigoso. A mulher
era generosa, sedutora, gentil.

E, no entanto, mesmo enquanto ele caía ainda mais nos encantos


dela, ele sabia que os dois tinham visões de futuro diferentes. Ela
pareceu bastante determinada quando disse que não se via no papel
de mãe, e Nick sempre quis uma família grande.

Normalmente ele nem pensaria nessas coisas. O relacionamento era


recente demais. Ele poderia mudar de opinião. Ela poderia mudar a
dela. Mas com a ferida que perder Hannah havia causado ainda tão
fresca em sua mente, ele estaria mentindo se dissesse que a
possibilidade de não ter outra chance de ser pai não o machucava
bem na alma.

— Então, vamos ver se consigo resumir — disse Cassidy. — Ela


gosta de você. Mas amava Bradley. Você não quer nos dizer como
se sente sobre ela. Nem tem um nome para definir o que vocês são.
E você quer que nós dois te ajudemos com...?

Lincoln jogou um clipe em Cassidy, surpreendentemente ficando do


lado de Nick.

— Cala a boca, Cassidy. Não me lembro de você ter tudo resolvido


quando estava reconquistando a Emma.

— Eu não era tão ruim assim — Cassidy murmurou.

— É mesmo? Você só levou o quê? Oito anos para resolver tudo? —


Lincoln provocou.

Cassidy arremessou o clipe de volta em Lincoln. Com força.

Nick quase sorriu. Pelo menos ele não era o único agindo feito um
aluno de ensino fundamental hoje.

— Ballantine, eis aqui o que você realmente quer ouvir de nós —


disse Lincoln, desviando a atenção de Cassidy. — Você está se
sentindo desequilibrado porque encontrou a mulher. Ela te tem na
palma da mão, você não consegue parar de pensar nela, está
aterrorizado com a possibilidade de nunca conseguir parar de pensar
nela. E você quer que a gente te diga que vai ficar mais fácil. Que vai
passar.

Nick lançou um olhar cauteloso para Lincoln.

— E vai passar?

— Não.

Nick estremeceu e olhou para Cassidy, que deu de ombros e acenou


uma negação com a cabeça.

— Merda — ele murmurou. — Então o que eu faço?

— A única coisa que você pode fazer — Lincoln respondeu, — é


tentar não foder com tudo.

Capítulo 24

Taylor colocou as mãos nos quadris e olhou para a cadela deitada de


barriga para cima aos pés dela.

Os olhos castanhos do animal claramente diziam Me faz carinho? ,


mas era mais uma exigência do que um pedido.

— Eu só vou acariciar sua barriga quando você pedir desculpa por


morder o meu sapato — disse Taylor para a cadela chamada
Bolinho.

Bolinho abanou o rabo e Taylor cedeu, se ajoelhando e passando a


mão timidamente pela barriga macia e rosada da cadela.

— Me prometa que não vou me arrepender de ter trazido você para


casa — ela pediu.

O animal se ergueu e lambeu o queixo de Taylor. Prometo.


— Ok, e você vai me proteger do Nick quando ele ver que arranjei
uma terceira colega de quarto sem pedir a opinião dele antes?

A cauda marrom de Bolinho balançou furiosamente contra o piso de


madeira, obviamente bastante confiante da própria capacidade de
cativar qualquer pessoa.

Taylor não tinha tanta certeza. Dizer que adotar a cadela foi uma
decisão impulsiva seria um eufemismo.

Em um minuto, ela estava acessando o YouTube durante uma pausa


que fez no trabalho, planejando assistir a um tutorial de maquiagem
para dar ao cérebro algo em que pensar além de protótipos
publicitários que pareciam todos exatamente iguais.

No minuto seguinte, ela estava assistindo a um comercial que falava


sobre os milhares de cães em abrigos, sem um lar, sem ninguém
para amá-los...

Por alguma razão, aquele maldito comercial mexeu com ela. As


carinhas tristes dos cães, a desesperança.

Ela quis salvá-los. E é claro que não poderia salvar a todos, mas
poderia salvar um...

Então, foi exatamente isso que ela fez.

Depois do trabalho, ela parou para comprar uma coleira e uma trela
e ligou para um pet shop perto do apartamento, pedindo ração,
petiscos, brinquedos e comedouros para serem entregues em casa.

Então, marchou até um abrigo de animais em Manhattan, fingiu uma


confiança que não tinha e declarou que queria um cachorro.

O voluntário de vinte e poucos anos perguntou que tipo de cachorro


ela queria, e Taylor simplesmente disse:

— O que mais precisar de amor.


Vinte minutos depois, ela saiu do local com Bolinho, que puxava a
coleira alegremente.

Ela não sabia muito sobre cães, mas supunha que, no que dizia
respeito à aparência comum de cachorros, Bolinho não era uma
beldade.

O abrigo havia informado-a que a hipótese principal deles era que


Bolinho tinha cerca de cinco anos e era uma mistura de labrador,
pastor alemão e pitbull. Todas as raças eram atraentes por si só, mas
misturadas?

Taylor ficou profunda e completamente encantada.

Não, mais do que isso, ela pensou enquanto acariciava o pelo


áspero da cabeça de Bolinho.

Ela já estava perdidamente apaixonada.

— Ok, vamos ver o que mais esses cem dólares gastos no pet shop
me trouxeram — disse Taylor, indo até a sacola.

Ela pegou uma vaca de brinquedo de aparência feia e riu quando


Bolinho saltou no ar e pegou o brinquedo de sua mão.

— Calma lá — disse Taylor, pegando o brinquedo de volta. —


Precisamos remover as etiquetas antes.

Bolinho choramingou tristemente enquanto Taylor arrancava as


etiquetas, depois, abanou o rabo em gratidão e foi para a sala de
estar com a vaca de brinquedo na boca, sacudindo-a furiosamente.

— Sinta-se em casa — Taylor murmurou quando Bolinho pulou no


sofá e se acomodou para fazer barulhos com o brinquedo.

Uma hora depois, quando Nick chegou, Taylor estava sentada no


sofá, ao lado de Bolinho, tomando uma taça de vinho e lendo um
blog para donos de cães de primeira viagem em seu iPad.
Ela havia acabado de ler um post sobre como cães – principalmente
os mais velhos que não vieram de bons lares – muitas vezes não
respondiam bem a estranhos. Especialmente a homens.

Aparentemente, esse não seria o caso de Bolinho e Nick.

A porta não havia sequer fechado atrás dele quando Bolinho se


lançou nos joelhos do homem.

Bolinho não era particularmente alta, mas era robusta, e seu corpo
marrom fez Nick cambalear um passo inteiro para trás.

— Que por…

Nick olhou para a cadela tentando subir no corpo dele antes de seus
olhos procurarem por Taylor.

Ela deu um sorriso nervoso.

— Então. Eu adotei um cachorro.

Ele olhou para ela, e outra vez para Bolinho.

— Você adotou um cachorro.

— Surpresa!?

Nick não respondeu, colocando a bolsa no chão antes de se


agachar.

Bolinho deu um beijo entusiasmado no rosto dele, e a mão grande de


Nick acariciou a cabeça da cadela.

— Ei, amiguinha. Creio que pela coleira cor-de-rosa você deva ser
uma garota?

Taylor bebeu outro gole de vinho para tomar coragem. Ele não
parecia bravo. Isso era um bom sinal.
— Nick, conheça Bolinho.

Ele levantou a cabeça.

— Ah, não, de jeito nenhum. Bolinho? Já basta a coleira cor-de-rosa.


Deixe a criatura ter um pouco de dignidade.

— Não foi ideia minha — ela respondeu, levantando as mãos. — Eu


tinha outro nome em mente, mas aí eles me disseram que ela tinha
cinco anos, e não tive coragem de mudar a identidade dela.

— Como você queria chamá-la? — ele indagou, agraciando Bolinho


com um carinho na barriga quando ela rolou de costas.

— Granulado.

Ele riu, os olhos ainda na cadela.

— É sério.

Ela fez uma careta para ele.

— Eu estou falando sério.

Ele olhou para cima e viu pela expressão de Taylor que ela falava
sério.

— Você teve sorte — ele sussurrou para Bolinho, mesmo sabendo


que Taylor o ouvia.

— Tá, que seja, não é o melhor nome do mundo — disse ela,


levantando-se do sofá e se juntando a ele na cozinha.

— Não é ruim — disse ele, pegando a taça de vinho dela e se


servindo de um gole. — Se você for uma menina de sete anos
usando maria-chiquinhas.

Taylor desviou o olhar, mas não rápido o suficiente.


Ele pegou a mão dela e puxou-a para mais perto.

— Ei. — Ele a esperou direcionar os olhos para os dele antes de


perguntar: — Esse é o seu primeiro cachorro?

Ela assentiu.

— Mas você queria um quando criança?

Ela deu um sorriso triste.

— Sim. Um yorkshire. E sim, eu iria chamá-la de Granulado. — Ela


levantou um dedo em aviso. — Mas eu não usava maria-chiquinhas.

Ele beijou o dedo dela.

— Você não conseguiu ganhar o cachorro?

Taylor olhou para ele.

— Eu sei que você nunca chegou a conhecer a Karen, mas com


base em tudo que te contei sobre ela, o que você acha?

Ela se sentiu um pouco culpada por criticar Karen, mas ultimamente


desejava que as coisas tivessem sido, bem… diferentes. Que Karen
tivesse dito a ela que não havia problema em chorar e que não seria
o fim do mundo se um cachorro fizesse xixi em um tapete branco.

Talvez então ela soubesse como ser suficiente para um cara como
Nick, e não ficaria aterrorizada com a possibilidade do cachorro não
amá-la de volta, e…

— Eu acho — ele comentou em uma voz suave — que a Bolinho tem


muita sorte de ter você.

Bolinho aparentemente concordava, porquê de alguma forma


conseguiu enfiar o corpo entre as canelas dos dois, ofegando de
felicidade por estar no meio de um sanduíche humano.
— Você não está bravo? — ela perguntou.

— Não. — Ele deu um beijo rápido nela e deu um passo para trás. —
Eu gosto de cachorros.

Ela o observou pegar uma taça de vinho e se servir da garrafa que


ela abriu.

— Simples assim? — ela insistiu. — Você não vai me dar um sermão


sobre como eu deveria ter pedido a sua opinião primeiro?

Ele a estudou por sobre a taça de vinho.

— O apartamento é seu, Taylor. Eu só te pago metade do aluguel.

Ele não disse isso de uma maneira cruel – foi apenas uma
observação discreta e perfeitamente verdadeira. E, no entanto, as
palavras dele foram como um tapa no rosto dela.

— Certo — ela disse rapidamente, tentando se recuperar. — Claro,


nós somos só…

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Sim?

Colegas de quarto? Duas pessoas que dormem juntas? Que estão


só se divertindo? Aminimigos com benefícios?

— Você está dormindo com outras pessoas? — ela perguntou.

Ele abaixou a taça de vinho.

— O quê? Você realmente me perguntou isso?

Bolinho sentiu a tensão no ar e sabiamente recuou para o quarto


para continuar mastigando o brinquedo barulhento.
— Eu não sei! — Taylor agitou a taça que segurava freneticamente.
— Nós nunca conversamos sobre sermos exclusivos e você acabou
de me dizer que, basicamente, mora aqui por acaso, e nunca me
disse que queria que eu fosse sua namorada, e agora estou
começando a me dar conta de que há uma chance muito alta da
cadela gostar mais de você do que de mim e…

Nick colocou a taça de lado, caminhou até ela e pegou a taça de


Taylor da mão dela antes que ela derramasse vinho por todo o chão.

— Você deveria vir com uma etiqueta de aviso — ele murmurou,


puxando-a para si. — Ou pelo menos um manual de instruções. —
Ela começou a recuar, mas ele não deixou. — Não estou saindo com
mais ninguém, Taylor. Eu não conseguiria, nem se quisesse. Você
me consome.

— É mesmo? — Ela se aproximou e passou a mão pela camisa dele.

— É. — A boca dele se juntou a dela em um beijo. Ele tinha gosto de


café e promessas.

— Taylor — ele disse finalmente, a boca se arrastando para cima e


para baixo suavemente sobre a dela.

— Hmm? — Ela tentou aprofundar o beijo, mas ele se afastou um


pouco e esperou ela abrir os olhos.

— Vamos oficializar isso — ele propôs. — Namorada, namorado,


seja como for.

O coração de Taylor saltitou.

— Ser mais que colegas de quarto que dormem juntos?

Ele tocou o lábio dela com um dedo.

— Sim. Mais que isso.

Por quanto tempo?


Ela não perguntou isso, no entanto. Por enquanto, decidiu deixar
aquilo ser o suficiente e jogou os braços em volta do pescoço dele.

— Nunca pensei que eu fosse namorar sério com Nick Ballantine. Ou


que adotaríamos um cachorro juntos.

Ele bufou.

— Você conseguiu distorcer os fatos bem rápido.

— Ah, qual é — disse ela, afastando-se e se virando para gesticular


na direção da sala de estar. — Como você pode já não amar a
Bolinho…? — E então seu queixo caiu, porque a sala estava coberta
de tufos de algodão. — O que diabos aconteceu?

— Sua cadela acabou de destruir o bichinho de pelúcia dela — disse


ele, pegando as duas taças de vinho e entregando uma a ela.

— Nossa cadela — ela insistiu teimosamente.

Ele olhou com ceticismo para a sala de estar, mas seus olhos
estavam calorosos e havia um sorriso despontando nos lábios.

— Certo. Está bem, Carr. Nossa cadela.

Capítulo 25

Bolinho fez bastante pressão para conseguir um lugar na cama, mas


no final, a teimosia de Nick venceu. Depois que os três deram uma
passada rápida no pet shop da esquina para comprar uma cama
para cachorro, Bolinho estava deitada no canto do quarto de Taylor, o
focinho descansando na carcaça da vaca de brinquedo destruída, os
olhos fechados.

— Eu queria conseguir dormir cedo assim — disse Taylor, finalizando


sua rotina de cuidados noturnos ao aplicar hidratante nas mãos e
subir na cama.

Nick ergueu os olhos do livro que estava lendo.


— Se precisar de ajuda para dormir, eu sei de algumas coisas que
podem funcionar.

— Estou bem ciente disso — disse ela, inclinando-se sobre ele para
um beijo.

Ele levou a mão para os cabelos de Taylor, e ela ouviu o livro ser
colocado de lado quando ele aprofundou o beijo. A língua
pressionando mais a fundo, explorando cada canto da boca dela
enquanto a outra mão brincava com a alça fina da camisola.

Taylor ergueu uma perna para montar nele e, embora ele tenha
permitido, em vez de abaixar a camisola, como ela esperava, ele
pegou as mãos dela, apertou-as entre as dele e deu um beijo rápido
nas pontas dos dedos dela.

— Espera um segundo. Eu quero falar com você sobre uma coisa.

— Já está cansado de mim? — Ela brincou.

Os olhos dele se voltaram para a renda da camisola.

— Nem um pouquinho.

Ainda assim, a expressão dele estava quase séria, e ela suspirou,


sentando-se.

— Desembucha.

— Vai ter uma conferência de escritores na próxima semana. Em


Portland.

— Em Oregon ou Maine? — ela perguntou.

— Oregon.

— Eba! — Ela deu um soquinho no ombro dele. — Seu estado natal.


— Exatamente. Faz tempo que eu pensava em ir lá, só que eu
estava indeciso. Mas acabei de descobrir que minha mãe vai fazer
uma artroplastia de quadril na mesma semana. O momento bateu
certo para eu conseguir ver minha família pelo tempo que estiver por
lá.

— Você deveria — ela encorajou enfaticamente.

Ele deu um sorriso breve.

— Entre os dias da conferência e os que passarei ajudando meus


pais, ficarei fora por duas semanas ou mais.

O estômago dela apertou desconfortavelmente ao perceber o quanto


ela sentiria falta dele.

Ele sorriu de satisfação, lendo a mente dela da maneira irritante que


costumava fazer.

— Você vai sentir a minha falta.

— Que absurdo. Eu tenho a Bolinho agora. União feminina. Você,


por outro lado... — Ela traçou o centro do peito dele com uma unha.
— Sentirá a minha falta.

Ele segurou o olhar dela.

— Você poderia vir comigo.

Ela paralisou.

— Ir com você? Para Oregon? Conhecer os seus pais?

Nick deu de ombros, parecendo um pouco envergonhado sob a


carranca no rosto.

Ela ficou tentada e aterrorizada. Ou talvez estivesse aterrorizada


porque ficou tentada?
Ela nunca conheceu os pais de um cara, e talvez isso fosse um
pouco triste, mas também era simplesmente inteligente.

Criar laços com a família de alguém significava que, quando as


coisas inevitavelmente dessem errado, você não iria somente dar
adeus a uma pessoa, mas sim a várias.

Além disso, com a criação atípica que teve, Taylor não tinha certeza
de que ela saberia como agir no meio de uma família.

Ela nunca seria a pessoa que prepararia pratos assados em


caçarolas com a mãe dele, ou a que os sobrinhos e sobrinhas dele
implorariam para ter como babá.

— O momento provavelmente não deve ser bom para você ir — ele


falou, dando-lhe uma escapatória. — Por causa do novo emprego. E
da cadela.

— Verdade, sim, seria complicado. — Ela mordeu o lábio, mas ele


estendeu um dedo para acariciar o mesmo local.

— Taylor. Não se preocupe com isso, sério. Foi só uma ideia. Eu


reconheço que minha carreira atípica torna a minha agenda mais
flexível do que a de muitos.

— Talvez na próxima vez? — ela sugeriu.

Ele sorriu. Mais uma vez, foi um gesto breve, como se ele sentisse a
hesitação dela.

— Sim. Na próxima vez.

— Quando você vai?

— Sexta-feira de manhã. Ainda não reservei o voo de volta, mas


como eu disse, ficarei fora por mais ou menos duas semanas.

— Bem, nesse caso... — Taylor se aproximou, deliberadamente


pressionando os quadris para baixo, observando os olhos dele
brilharem de desejo. — É melhor eu garantir que você não vai se
esquecer de mim.

O beijo começou leve, os toques brincalhões e provocadores, mas


Taylor sentiu que havia um sentimento oculto ali, uma necessidade
de conexão tão emocional quanto física. A necessidade de um
garantir ao outro que eles descobririam como fazer isso dar certo,
porque era bom demais para abrir mão.

As mãos de Nick apertaram os quadris dela, colocando-a de costas.


Ele correu os dedos pelas coxas dela, abrindo espaço para si entre
elas.

Os polegares dele se prenderam em sua calcinha, deslizando-a


pelas pernas dela e jogando-a para o lado. Ele optou por não vestir
uma boxer essa noite, portanto estava maravilhosamente nu contra
ela.

Os dedos de Nick passearam em movimentos lentos sobre ela,


testando se ela estava pronta. Ele gemeu quando percebeu que ela
já estava molhada e ansiando por ele.

— Só com você — ela sussurrou antes que pudesse se conter.

Só tem sido assim com você.

Nick se empurrou para dentro dela com um único impulso, forte o


suficiente para fazê-la ofegar. Eles ficaram parados por um tempo,
respirando com dificuldade. Saboreando o momento. Ou talvez
apenas tentando sobreviver.

Então ele começou a se mover, equilibrando a aspereza de seus


impulsos com a maneira delicada com que apoiou os cotovelos no
travesseiro de Taylor e segurou a cabeça dela com as mãos.

Nick queria estar no controle, e ela permitiu que ele ficasse. As


pernas envolvendo a cintura dele, as unhas cravando em seus
ombros enquanto ela se mantinha no lugar.
Aí. Bem aí.

Ele entendeu. E acelerou os movimentos, os olhos fixos nos dela


enquanto os levava à beira do prazer e mais além.

Nick abafou o gemido alto colocando a cabeça na dobra do pescoço


dela, e então os dois ficaram parados, exceto pelo rápido sobe e
desce de seus peitos enquanto ambos deixavam os batimentos
cardíacos voltarem ao normal.

Finalmente, ele deu um beijo suave de boa noite no ombro dela,


depois mudou de posição para ficar ao lado de Taylor e envolveu o
braço na cintura dela.

Ele adormeceu quase de imediato e, embora as pálpebras dela


pesassem, sua mente zumbia demais para conseguir dormir –
embora pelo quê especificamente sua mente estava zumbindo, ela
não conseguia entender.

Toda vez que ela parecia focar em um pensamento, sua mente


mudava para outro.

Mas quase todos eram sobre o homem ao seu lado.

Taylor se sobressaltou um pouco quando sentiu algo se mexer no


outro lado da cama. Ela procurou ver o que era e se deparou com
Bolinho se instalando descaradamente no lado vazio de Taylor, como
se fosse direito dela dormir na cama.

Taylor sorriu e deu um tapinha no traseiro da cadela.

— Não conte ao Nick — ela sussurrou.

A cadela abanou o rabo, e o último pensamento que Taylor teve


antes de finalmente pegar no sono foi que talvez ela não tivesse
adotado um cachorro a fim de que o animal tivesse alguém para
amá-lo.
Talvez ela tivesse adotado um cachorro para ter alguém que a
amasse.

Capítulo 26

— Então, quando vai me contar sobre a garota?

Nick deu um olhar sério para a mãe.

— O fato de eu estar fazendo rolinhos de canela e café para você já


não é o suficiente?

— Os rolinhos de canela são industriais e a cafeteira fez todo o


trabalho sozinha.

— Tudo bem, então. Talvez eu os deixe aqui, fora do seu alcance —


ele disse, espalhando um pouco do glacê comprado no mercado
sobre os doces recém-assados – mas não caseiros.

Do sofá, sua mãe franziu o cenho para ele.

— Não se atreva a negar guloseimas a uma pessoa acamada.

A mãe de Nick era baixa e cheinha, o cabelo loiro, quase branco, na


altura do queixo, olhos castanhos e um sorriso constante. Ele
adorava o fato de ela sempre ter sido rechonchuda, e nunca ter
demonstrado o menor interesse em mudar o próprio corpo; dizia o
tempo todo que sorrisos sempre seriam melhores que a magreza.

— Quanta vantagem você planeja tirar de todo esse período de


recuperação da artroplastia de quadril? — ele perguntou, levando
para a mãe um prato com dois rolinhos de canela e uma xícara de
café cheio de creme de baunilha francês.

Fazia três dias que a mãe dele recebeu alta do hospital e ela se
aproveitava de cada momento sendo mimada pelo marido e pelos
filhos. Ele supôs que era justo, considerando que ela havia dedicado
uma vida inteira para mimá-los.
Mas seu pai e irmãos estavam todos ocupados com outras coisas
hoje, o que significava que a mãe dele finalmente tinha o filho que
morava na Costa Leste todinho para ela interrogar.

— Quanta vantagem eu puder conseguir — Belinda Ballantine


admitiu, colocando um pedaço do rolinho açucarado na boca,
enquanto ele se sentava na cadeira da sala com uma xícara de café
na mão. — Agora, me conte sobre a garota.

— Eu nunca disse que existia uma garota — ele respondeu.

Ela deu um sorriso.

— Não precisou.

— Intuição de mãe?

— Não, olhos — disse ela, acenando com o garfo. — Você tem


sorrido mais. Tem gargalhado mais alto. Checa o celular um milhão
de vezes por dia e fica até tarde da noite em ligações. Sinais
clássicos de se estar apaixonado.

— Eu não estou apaixonado — ele respondeu automaticamente. —


Nós não estamos juntos há tanto tempo assim.

— Ah-há! Então tem uma garota na jogada.

É, ele caiu direitinho no joguinho da mãe.

— Sim, mãe — ele respondeu com um suspiro. — Tem uma mulher.


E nem finja que Celine e Kerry já não te contaram cada mínimo
detalhe.

Ela deu outra mordida no rolinho.

— Eu quero ouvir os detalhes de você. Nome?

— Taylor.
— Bonita?

— Muito.

— Simpática?

— Ela é... sim. Ela é simpática.

A mão de Nick congelou com a xícara de café a meio caminho da


boca, um pouco surpreso com a própria resposta.

Somente alguns meses atrás, simpatia não seria uma palavra que
ele colocaria junto ao nome de Taylor Carr em uma frase.

Seria mais provável que ele a descrevesse como sexy, inconstante e


uma total pé no saco.

Mas se ele havia aprendido algo nessas últimas semanas, foi que a
maioria das coisas mais doces vinham em embalagens
extremamente picantes.

A guardiã legal fria como gelo de Taylor podia até ter conseguido
transformar a sobrinha em uma pessoa desconfiada, mas Karen Carr
não conseguiu extinguir a bondade de Taylor. Não foi capaz de
impedir Taylor de se tornar o tipo de pessoa que não só parava e
vasculhava a própria bolsa em busca de dinheiro toda vez que via
um mendigo, como também tentava convencer o desabrigado a
conversar com ela, deixando-os saber que eles eram dignos de ter
alguém para conversar. Karen não foi capaz de impedir Taylor de
entregar o próprio coração para uma cadela particularmente feia, ou
de fazer xícaras de cappuccino tarde da noite, quando Nick estava
em uma daquelas noites em que se sentia cheio de criatividade para
escrever.

Taylor era opinativa, teimosa e sarcástica pra caramba, mas esse era
só um lado dela. E ele gostava desse lado quase tanto quanto
gostava do lado acolhedor, encantador e surpreendentemente jovem
de espírito.
— Se parece bastante com amor para mim — a mãe dele sussurrou
por sobre a xícara de café.

E talvez fosse.

Nick esticou as pernas, cruzando os tornozelos.

— Tudo bem, você quer mesmo prosseguir com isso? E se eu te


dissesse que, se eu amasse essa mulher, isso significaria que você
não ganharia nenhum netinho da minha parte?

Ele evitou mencionar Hannah, a netinha que não era dela. Seus pais
estiveram presentes no nascimento de Hannah. Eles a amavam
como Nick a amava. Mas eram gentis demais para mencionar o
nome da criança.

Os olhos de sua mãe se entristeceram.

— Ela não pode ter filhos?

— Ela não quer ter.

— Ah, sim. — O semblante triste de sua mãe se desfez. — Isso é


diferente. Sempre fico de coração partido pelas mulheres que
querem, mas não podem ter. Mas se a maternidade não é a vocação
dela, quem sou eu para julgar?

— Você não ficaria desapontada?

A mãe dele esfregou a boca com um guardanapo.

— Não vou dizer que eu não adoraria ver versões em miniatura de


todos os meus filhos. Mas eu tenho outros netos. E respeito o fato de
que existem outros caminhos para seguir na vida além da
maternidade.

Nick tomou um gole de café, sentindo que sua mãe o estudava.

— Mas você quer ter filhos — a mãe dele disse em uma voz suave.
— Sim, eu quero — Nick admitiu. — Mas também quero a Taylor.

— Nem sempre conseguimos o que queremos — disse Belinda com


um pragmatismo ácido.

— Muito inspirador. Obrigado, mãe.

— Bem, o que você quer que eu diga? Que se pode ter tudo na vida?
Eu queria me casar com um médico que me levasse para morar em
San Diego ou em algum lugar quente, onde eu daria à luz a três
meninas, sendo duas delas gêmeas com cachinhos louros e
nascidas no Dia dos Namorados.

Nick coçou a região atrás da orelha.

— Isso é... específico.

— A questão é que eu não consegui ter isso. Tive vários garotos


bagunceiros, minhas meninas nasceram morenas, e nenhum de
vocês nasceu em fevereiro.

— Sinto muitíssimo por decepcioná-la.

— Fique quieto e me ouça. O que estou tentando dizer é que eu


consegui o que estava destinado a ser meu, e não mudaria nada.
Nem em seu pai, nem em vocês.

— Nem mesmo a data dos nossos aniversários?

— Isso talvez — Belinda concordou. — Sempre foi uma dor de


cabeça o fato de Kerry ter nascido na véspera do Natal. Mas ouça
sua mãe, Nicholas. As coisas que queremos mudam com o passar
do tempo. É assim que a vida é. Um grande, interminável e
maravilhoso ciclo de crescimento, mudança e adaptação.

— Eu deveria ter trazido um caderno para escrever tudo isso. — Ele


brincou.
— Vou enviar as partes mais importantes para o seu e-mail. Por
enquanto, apenas lembre-se disso: há muitas peixinhas férteis no
mar, muitas mulheres que querem ser mamães, mas nenhuma delas
poderá fazer você se sentir da mesma forma que essa garota faz.

O comentário de sua mãe foi tão angustiantemente verdadeiro que


ele sequer conseguiu protestar contra o uso da palavra férteis.

Todo o seu ser doeu quando ele perdeu Hannah, e ele assumiu que
se tornar pai novamente seria a única maneira de aliviar a dor.

Ele estava errado. Estar com Taylor o fazia se sentir mais vivo do
que nunca.

Droga. A mãe dele estava certa. Ele amava Taylor Carr.

Agora ele só precisava descobrir como dizer isso a ela e convencê-la


a amá-lo também, e ao mesmo tempo tentar dar um jeito de impedi-
la de surtar no processo. Fácil.

A mãe dele estendeu o prato.

— Eu quero outro.

— Você me disse para não te deixar comer mais de dois.

Ela fez uma careta, uma expressão que ele reconhecia muito bem
quando se olhava no espelho.

— Eu mencionei que a cirurgia de artroplastia do quadril é uma


operação delicada? Que eu poderia ter morrido?

Ele revirou os olhos e se levantou, levando o prato dela para a


cozinha para reabastecer.

— Acho que deveríamos fazer uma ligação por Skype com essa tal
Taylor — dizia a mãe dele. — Eu quero conhecê-la.

— Não. Não vai rolar.


O objetivo dele era não assustar Taylor. Ter a mãe dele falando sobre
bebês nascidos no Dia dos Namorados com ela não ajudaria.

— Bem, eu vou conhecê-la antes do casamento, não vou?

— Mãe. Já chega. Não está na hora das suas novelas começarem?

Sua mãe sorriu, sem dúvida tendo notado que ele não negou o fato
de que algum dia haveria um casamento.

Capítulo 27

Se Taylor não estivesse tão ansiosa por uma distração, talvez tivesse
dito não ao convite.

Mas agora que estava aqui, se sentia feliz por não ter recusado.

Por mais estranha que fosse a dupla que as duas formavam, Taylor
ficou um pouco surpresa ao descobrir que gostava de Jessica Hayes.

— Mais uma vez, obrigada por aceitar vir se encontrar comigo —


disse Jess.

Taylor tomou um gole de água gaseificada, dando uma de Karen no


happy hour de hoje.

— Sim, bem... não é todo dia que a ex-namorada do seu ex-


namorado te convida para tomar uma bebida.

Jessica deu um sorriso triste e tomou um gole de vinho tinto.

— Eu sei que é estranho. Acho que eu só precisava de alguém que


entendesse.

Taylor assentiu, porque ela realmente entendia. Ela entendia bem até
demais a decepção de descobrir que o homem que você colocou em
um pedestal não estava nem perto de merecer essa posição.

— Quer conversar sobre isso? — Taylor perguntou cautelosamente.


Jess suspirou.

— Não sei. Tem horas que quero só abrir meu coração, e outras em
que penso que ele não vale nem mais um suspiro meu.

— Sei como é — disse Taylor. — Sei bem como é.

Elas permaneceram em um silêncio amigável por um tempo, duas


mulheres que uma vez se apaixonaram pelo mesmo cara dividindo
uma mesa alta em um bar moderno no centro da cidade.

— Eu acho que ele nunca te superou. — Jess deixou escapar.

Taylor olhou para ela, surpresa, depois ficou ainda mais chocada
quando percebeu que as palavras de Jess não a fizeram sentir nada.

Ela não se importava nem um pouquinho com o fato de Bradley


Calloway estar arrependido de ter terminado as coisas entre os dois.

Na verdade, estava feliz que ele tivesse terminado.

Isso a levou a algo infinitamente melhor. A alguém infinitamente


melhor.

— Acho que eu soube que tinha algo errado desde o segundo em


que ele disse que me queria de volta — disse Jess. — Eu entendi
por que ele me deixou por você. Mas te deixar por minha causa?
Não fazia sentido.

Taylor encarou a outra mulher.

— Me escute bem, Hayes. Você deve saber que sou o tipo de


pessoa que dá puxões de orelha do bem, então vou logo dizendo
que essa autodepreciação que você está colocando para fora agora
é super inaceitável.

Jess deu uma risada surpresa.


— Viu só? É por isso que eu nunca poderia competir com você. Sua
personalidade é ousada e animada, e eu sou como um purê de
batatas em comparação.

— Eu gosto de purê de batatas — afirmou Taylor.

— Ok, certo, um purê de batatas que alguém temperou e esqueceu


de adicionar a manteiga e o sal.

— Aah. — Taylor respirou. — Isso é ruim.

— Muito ruim.

— E mesmo assim você deu um pé na bunda dele, não foi?

— É que eu estava tão…

— Entediada? — Taylor tentou adivinhar.

— Sim! Entediada. É exatamente isso. Ele não me interpretou mal,


achei que queríamos as mesmas coisas e, na teoria, queremos. Mas
eu... eu me dei conta de que todos os dias pareciam iguais, e então
fiquei pensando que seria assim pelo resto da minha vida, e só... não
sei. Acho que eu queria mais, mesmo não sabendo o que esse mais
é.

— Entendo — disse Taylor. — E gostaria de ter conselhos sobre


como encontrar esse “mais”, mas sinceramente, não acho que seja
algo que você possa sair por aí procurando.

— Espero que o meu “mais” se pareça com o seu — Jess disse com
um sorriso tímido. — Alto, moreno, lindo e que trabalhe do outro lado
do meu corredor.

Taylor não conseguiu segurar o sorriso de felicidade que surgiu em


seu rosto ao ouvir Nick ser mencionado. Ele estava fora há pouco
mais de uma semana, e ela odiava o fato de ter se tornado esse tipo
de garota, mas passou a contar os dias que faltavam para ele voltar.
— Você nunca pareceu tão feliz assim quando estava com o Bradley
— Jess comentou baixinho.

— Sério? — Por alguma razão, ouvir isso a surpreendeu. É claro que


ela sabia que o que ela teve com Bradley não era nada em
comparação ao modo como Nick a fazia se sentir, mas era
surpreendente saber que os outros também notavam.

— Aceite isso de alguém que observava vocês dois constantemente


— Jessica ironizou. — Ele era obcecado por você, mas você estava
só... — Ela parou.

— O quê? Vamos lá, lembra o que falei sobre puxões de orelha do


bem? Eu aguento.

— Era como assistir a um eclipse — Jess continuou. — Como se por


uma fração de segundo vocês dois ficassem muito ótimos juntos,
mas você é o sol e precisava de alguém que pudesse realçar a sua
luz, não tentar bloqueá-la.

— Uau — disse Taylor, um pouco impressionada. — Suponho que,


além de redatora, você seja também escritora, não é?

Jess sorriu.

— Eu me arrisco escrevendo ficção às vezes. Quero dizer, não sou


tão boa quanto Nick, mas escrevo contos e outras coisas.

— Ok, já que você conhece os dois homens, o que Nick é nesse seu
enredo chamado “Taylor é o sol”?

— Um prisma — Jess respondeu sem hesitar. — Ele captura a sua


luz e a torna ainda mais incrível, para que todos possam ver.

— Caramba. — Taylor ergueu o copo em um brinde. — Você é boa


nessa coisa de poesia.

— Eu sei. — Jess olhou para o vinho e girou a taça um pouco. — Eu


tenho outra pergunta, sobre algo que absolutamente não é da minha
conta.

— Dormimos com o mesmo cara, praticamente consecutivamente.


Meu voto é que nós duas nos envolvamos por completo nos
assuntos pessoais uma da outra — disse Taylor.

— Certo — Jess falou. — Nick sabe que você está apaixonada por
ele?

Taylor paralisou.

— Ok, talvez não nos envolver tanto assim nos assuntos pessoais
uma da outra.

— Então é um não — Jess disse com um sorriso gentil. — Você vai


contar a ele?

Taylor engoliu em seco e finalmente cedeu à estranha mistura de


pânico e alegria que a consumia durante toda a semana.

Ela não podia contar a ele. Os sentimentos dela pareciam intensos


demais para expressar. E mesmo que ela pudesse expressar…

Havia outra coisa que ela precisava contar a ele primeiro.

Capítulo 28

Nick fez um alarde para contar à Taylor que ele esperava conseguir
uma reserva para um voo que sairia mais cedo, mas não havia
conseguido, e por isso chegaria tarde em casa.

Desde então, ele não entrou mais em contato, o que deixou claro
para Taylor exatamente o que ela precisava saber.

Ele chegaria cedo em casa.

Homens eram tão ruins com surpresas.


Ela estava vasculhando a cômoda, tentando decidir a melhor lingerie
de boas-vindas, quando ouviu uma batida na porta.

Bolinho enlouqueceu, os latidos frenéticos ecoando pelo piso de


madeira.

Taylor torceu o nariz em razão da intromissão inesperada. Era cedo


demais para ser Nick, e ele tinha uma chave.

Mas da última vez que ela recebeu uma visita surpresa, um bebê
estava incluso. E por mais que Taylor estivesse surpresa com o
carinho que sentia pela pequena Hannah, a mãe da criança era outra
história.

Se fosse Kelsey do outro lado da porta, Taylor teria poucas e boas


para dizer à mulher que deixou Nick pensar que a bebê era filha dele
durante meses.

Ela foi até a porta e acariciou a cabeça de Bolinho, depois verificou o


olho mágico.

Ela inspirou em irritação. Taylor definitivamente não estava no clima


para isso.

Ela deu um suspiro cansado e abriu a porta.

— Oi, Bradley.

Bolinho se lançou afetuosamente sobre o corpo do ex-namorado de


Taylor, que estava com uma aparência... maravilhosa.

Se ele se sentia arrasado por Jess ter dado um fora nele, não
parecia. O suéter azul claro combinava perfeitamente com os olhos e
o jeans escuro demarcava perfeitamente o corpo em forma. Ele tinha
cortado o cabelo recentemente, e as covinhas estavam em total
exibição. Parecia mais engomadinho e arrumado do que nunca.

Senhor, como ele é sem graça.


— Você adotou um cachorro? — Bradley indagou com uma risada,
ajoelhando-se para acariciar Bolinho, que no momento o venerava.

Aproveite a paixão passageira enquanto ela durar, Bolinho. Ele


mostrará a verdadeira face em breve.

— Posso entrar? — ele perguntou, fazendo um último carinho em


Bolinho e se colocando de pé.

Taylor se afastou para que ele pudesse entrar.

— Como você conseguiu subir?

— Meu nome ainda está no cadastro. Afinal, eu ia morar aqui.

Ele falou isso de modo brincalhão, mas ela não achou graça.

— Ah, eu lembro disso — ela disse bruscamente. — Também lembro


de ter chegado aqui no dia da mudança e me deparado com uma
carta.

O sorriso dele diminuiu.

— Você não faz ideia do quanto lamento por isso.

— Tanto faz — ela murmurou. — O que houve?

Bolinho ainda não havia se cansado de venerar Bradley. Ela pegou a


carcaça da vaca de brinquedo e colocou-a carinhosamente no
sapato dele, como se fosse um presente.

Bradley deslizou o pé para fora do brinquedo destroçado e andou


pelo apartamento, passando os olhos pela enorme televisão e
brinquedos para cachorro que estavam literalmente por toda parte.

— É diferente do que combinamos.

— Bem, sim — ela concordou. — É o que acontece quando a sua


situação de moradia muda inesperadamente.
Bradley olhou sugestivamente para a porta aberta de Nick.

— Aquele é o quarto do Ballantine?

A parte mesquinha dela queria dizer a Bradley que atualmente


aquele cômodo era apenas o escritório de Nick, porque agora o
quarto dele era o mesmo que o dela.

Mas ele não valia o tempo perdido explicando. Ela deu de ombros.

— Sim.

— Ele está em casa?

— Sim, Bradley. Eu o tranquei no closet.

— Há boatos estranhos sobre vocês dois circulando.

Ele a olhou, claramente esperando – desejando – que ela o


assegurasse de que eram somente boatos.

Ela se recusou a matar a curiosidade dele.

— Bradley, por que você veio aqui?

Ele encontrou o olhar dela de forma direta.

— Eu sinto sua falta.

— Porque a Jess te deu um pé na bunda?

Ele estremeceu.

— Foi mútuo.

Taylor evitou bufar. Não deu muito certo.

— Independentemente da sua situação com a Jessica, eu segui em


frente.
— Você ainda está brava.

— Não, Bradley — disse ela, cansada. — Francamente, eu deixei de


estar brava e triste há muito tempo.

— Ótimo — ele disse com um sorriso. — Assim fica mais fácil te


fazer lembrar de todas as razões pelas quais somos tão bons juntos.

Ela deu um passo para trás quando ele se aproximou.

— Você não está me ouvindo. Você nunca me ouviu.

O pensamento surgiu do nada, mas uma vez instalado, ela percebeu


o quanto era verdadeiro. Ela e Bradley nunca estiveram no
relacionamento como iguais. Ele era inseguro e, ao mesmo tempo,
um pouco controlador.

Jessica esteve apenas parcialmente certa. Bradley tentava bloquear


a luz de Taylor, mas também se alimentava dessa luz.

Usou-a para os próprios objetivos, até que acabou chegando perto


demais e se queimou, porque ela era muito intensa para ele.

Ele não era como Nick. Nick se igualava a ela em todos os sentidos,
fazia dela alguém melhor.

E isso sim era amor de verdade.

— Nós só passamos por uma maré de azar, Tay. Eu estupidamente


achei que uma vida sossegada com uma mulher tranquila me faria
feliz, mas prefiro uma que seja um desafio.

— Um desafio? — ela repetiu, dando uma risada. — Eu não sou um


troféu a ser conquistado, Bradley.

— Eu sei disso. Mas Ballantine? Sério? O cara é um barman de meio


período, um aspirante a escritor...
— Para — disse ela, incapaz de manter o desgosto longe da voz. —
Só para.

Bradley fechou o espaço entre os dois, os braços envolvendo-a.

— Eu quero outra chance, Taylor. Não vou desistir de lutar por você.

Ela conteve um suspiro. Aquilo era simplesmente patético. E muito


irritante.

Taylor tinha duas opções. Ela poderia tentar explicar a esse ogro
imbecil todas as muitas razões pelas quais eles não iriam reatar.

Ou…

Ela poderia simplesmente verbalizar algo muito grandioso.

Taylor colocou a mão no peito dele, se preparando para jogar a


bomba no homem.

— Bradley? — ela ronronou.

Os olhos dele brilharam em vitória.

— Sim?

Ela abriu o sorriso mais bonito.

— Eu estou grávida.

Taylor esperava um silêncio de surpresa de Bradley, e foi o que ela


conseguiu, mas o efeito disso foi interrompido pelos latidos
empolgados da cadela.

Ela olhou por cima do ombro para verificar o que havia levado
Bolinho a ficar nesse estado... e congelou.

Taylor não fechou a porta da frente direito depois da chegada de


Bradley. Não ouviu Nick chegar.
E, a julgar pelo olhar atordoado no rosto dele, ele ouvira cada
palavra.

Capítulo 29

Os olhos de Nick foram de Taylor para Bradley, e depois para onde a


mão de Taylor repousava no peito do outro homem, as mãos de
Bradley nos quadris dela.

Quando os olhos dele voltaram para os dela, a surpresa se


transformou em raiva e incredulidade, com um pesado sentimento de
traição.

Não!

Ela se afastou bruscamente de Bradley, mas o estrago já estava


feito.

Bolinho continuou dando voltas alegremente em torno dos três, mas


a cadela era a única feliz no local.

Na verdade, Taylor não sabia como Bradley se sentia sobre a


situação. Não se importava o suficiente para olhar para ele e
verificar.

— Nick…

Ele não se moveu, uma mão na alça da mala, a outra na da bolsa


para notebook.

Ele não respondeu, mas Bradley sim.

— De mim?

Com exasperação e incredulidade, ela se virou para o ex.

— O quê? Tá de brincadeira? Não.


O pensamento de ter um filho com Bradley parecia absurdo. Ter um
filho com Nick, no entanto... isso parecia exatamente certo.

Ela virou-se para o único homem que importava, preparada para


dizer isso a ele. Mas então, viu o olhar no rosto dele.

Havia surpresa ali? Sim. Raiva? Definitivamente.

Mas também dúvida.

O queixo dela caiu.

— Nick. Não. Esse bebê não é de Bradley. Não tenho nada com ele
há meses.

Ele olhou para ela.

— Outro dia, quando você perguntou se eu estava saindo com mais


alguém, eu disse que não. Mas nunca lhe fiz a mesma pergunta.

— Eu não estava! — ela exclamou, indignada por ter que explicar


isso a ele e também aterrorizada pela indiferença e frieza que via em
seu rosto.

— Taylor. — Bradley tocou o braço dela. — Independentemente de


tudo, pode contar comigo.

— Ah, cala a boca, Bradley — ela retrucou, afastando o braço dele.


— Só... você pode, por favor, ir embora? Sinto muito pela Jess ter te
dado um pé na bunda, mas se pensou que eu estaria aqui sentada,
esperando por você, está enganado.

Ele olhou para Nick, depois para ela, e Taylor percebeu que Bradley
estava finalmente caindo na real.

— Você está falando sério. É ele. Sempre foi ele.

Taylor assentiu, incapaz de olhar para Nick. Ela ainda estava


sofrendo por ele ter pensado por um segundo sequer que o bebê
poderia ser de Bradley. Não que ela esperasse que ele
acompanhasse o ciclo menstrual dela ou algo assim, mas ele tinha
que saber que a conta não…

Taylor gemeu alto quando percebeu algo: Bradley não era o único ex
causando estragos nessa situação.

Kelsey também tinha ajudado.

Droga.

Mais determinada agora, ela envolveu os dedos no antebraço de


Bradley e o arrastou em direção à porta da frente.

— Tchau, Bradley.

Nick se moveu pela primeira vez, se afastando para que ela pudesse
empurrar o ex para o corredor.

Para crédito de Bradley, ele sabia reconhecer uma derrota. Com um


último olhar atordoado para os dois, ele sacudiu a cabeça e foi
embora. Ao menos era o que ela tinha certeza de que aconteceu.

Ela já havia batido a porta, não dando a mínima se ele ainda estava
lá ou não.

Ela respirou fundo e se virou para Nick, que ainda segurava as malas
como se estivesse se preparando para sair dali a qualquer momento.

De jeito nenhum.

— Nick. — Ela engoliu em seco. — Eu não queria que você


descobrisse assim.

— Não, suponho que não — disse ele, a voz baixa.

Ela levou a mão até a barriga e sorriu.

— Nós vamos ter um bebê. O médico confirmou ontem.


Ele não sorriu de volta.

— Achei que você estivesse tomando anticoncepcional.

Ela engoliu em seco.

— Eu estava. Estou. Eu... Eu sinto muito mesmo. Andei distraída,


não tomei tão regularmente quanto deveria, nunca imaginei…

— Quando poderemos fazer um teste de paternidade? — Ele a


interrompeu.

Ela ofegou de dor e até Bolinho ficou imóvel, como se entendesse


que seu amado dono havia acabado de cruzar uma linha muito
perigosa.

— Você não acredita em mim.

— O que você quer que eu pense, Taylor? — ele perguntou. — Eu


sou o otário que chegou cedo em casa para fazer uma surpresa para
a namorada, e a encontrou nos braços do ex, dizendo a ele que está
grávida.

— Eu estava tentando me livrar dele!

Ok, em voz alta aquilo parecia um tanto patético. Mas caramba, ela
não era Kelsey. Ela nunca deixaria o filho de outra pessoa se passar
como de Nick. Ela nunca deixaria nenhum deles na incerteza, nem
por um segundo sequer, sobre quem era o pai da criança.

Ele estava se movendo em direção à porta.

— Não! — ela falou, bloqueando furiosamente a saída dele. — Você


não pode simplesmente ir embora só porque a sua mente está te
fazendo interpretar as coisas de forma errada.

Os olhos dele queimaram de raiva.


— A minha mente? Você estava praticamente beijando seu ex
quando eu cheguei.

— Isso não é sobre Bradley. É sobre você estar revivendo o


pesadelo que a situação com Hannah causou. Lamento muito por
Kelsey ter te deixado pensar que a criança era sua. Lamento mais
ainda que Hannah não tenha sido sua filha, Nick. — Ela colocou a
mão na barriga. — Mas esse bebê... esse bebê é seu. Eu prometo.

Ele quase zombou dela.

— Mesmo que seja meu, você não quer essa criança.

Quanta. Dor.

— Como você tem coragem de me dizer isso?

— Você mesma me disse. Que você não faz o tipo maternal, lembra?

— Isso foi... — Ela gesticulou, impotente, tentando encontrar as


palavras. — Isso foi antes. Antes de eu perceber que a ideia de ter
um filho com alguém que eu amo faz eu me sentir completamente
diferente sobre a situação.

Ele paralisou ao ouvir a palavra amor, mas depois balançou a


cabeça e tentou sair de perto dela.

Ela tentou novamente, agarrando a frente da camisa dele.

— Você está me ouvindo, seu idiota absurdamente teimoso? Eu te


amo loucamente, mesmo você agindo feito um imbecil.

— Só... — Nick respirou fundo. — Eu preciso de um pouco de tempo,


Taylor. Essa notícia seria um choque mesmo sem o fator Bradley.

— O fator Bradley no sentido de que ele estava aqui, ou o fator


Bradley no sentido de que você ainda acha que ele pode ser o pai?

Ele não respondeu, e isso foi resposta suficiente.


Tudo bem, então.

Taylor tirou a mão da camisa dele, abaixando a cabeça.

Sentindo-se derrotada. Karen ficaria muito decepcionada com ela.

Nunca deixe ninguém te derrotar.

Bem, sinto muito, Karen. Esse aqui me derrotou. Ele me fez amá-lo,
mas não me ama de volta.

Ninguém a amava de volta. Caramba, até mesmo a cadela


provavelmente sairia porta afora atrás de Nick.

— Vou manter contato — disse ele em voz baixa.

— Sim — ela retrucou, a voz sarcástica. — Tenho certeza que vai.


Afinal, precisará fornecer uma amostra de saliva para o teste de
DNA, não é?

Ele apenas sacudiu a cabeça e saiu pela porta, fechando-a com um


clique silencioso.

Taylor ouviu um barulho terrível, e uma fração de segundo depois


percebeu que veio dela. Um barulho estridente e ofegante. Se ela
fosse mais experiente no quesito emoções, talvez soubesse
identificar o barulho pelo nome: um soluço.

Do tipo que precedeu uma enxurrada de lágrimas quentes que a


deixaram sem fôlego.

Ela caiu contra a porta, o corpo tremendo enquanto afundava no


chão. Bolinho lambeu o rosto dela antes de se enrolar ao seu lado.

Taylor havia chorado assim somente uma vez na vida: no dia em que
Karen faleceu.

Naquela noite, Nick Ballantine esteve lá para abraçá-la.


Nessa, ela estava completamente sozinha.

Capítulo 30

— Você poderia, por favor, parar de ser tão gentil quando eu estou
bem no meio do momento mais vergonhoso da minha vida? — Taylor
murmurou, agarrando com raiva o lencinho de papel que lhe foi
oferecido e secando os olhos.

Hunter Cross apenas sorriu para ela.

Ela estava sentada na poltrona para visitantes do escritório dele.

Ele, debruçado sobre a mesa, puxava lencinho após lencinho da


caixa sobre a mesa e os entregava para Taylor.

— Não pense assim — disse ele. — Tenho três irmãs e quatro


sobrinhas, e minha melhor amiga é uma mulher. Sou fluente na
linguagem de lágrimas femininas.

— Isso foi nojento — ela comentou com a voz embargada. — E, de


qualquer forma, nenhuma dessas pessoas é uma funcionária sua,
sentada em seu escritório, chorando na frente do chefe.

— Eu também sou seu amigo, Taylor.

Ela assentiu, os olhos lacrimejando de novo.

— Malditos hormônios.

A conversa começou como uma reunião perfeitamente profissional


agendada por Taylor para dizer ao chefe que ela precisaria tirar uma
licença-maternidade ainda este ano. Ela ainda estava no primeiro
trimestre da gravidez, então o aviso era um tanto antecipado. Mas
quando ela percebeu que o período da licença coincidiria com o
lançamento do novo site da revista, ela quis ser honesta com Hunter
e dar a ele a oportunidade de encontrar alguém para substituí-la.
E de alguma forma, no processo de contar a ele calmamente sobre a
gravidez, ela transformou tudo em um chororô terrível e, aos soluços,
contou tudo que havia acontecido.

A mulher que outrora nunca chorava de repente não conseguia


parar.

Não era de se admirar que Brit considerasse Hunter seu melhor


amigo. O homem era um ouvinte muito bom.

— Você quer que eu faça alguma coisa? — Hunter perguntou. —


Como chefe ou amigo? Ballantine não é meu funcionário, então
posso dar uma surra nele.

— Você não faz ideia do quanto estou tentada a aceitar a sugestão


— ela murmurou.

Ele riu.

— Amo o fato de você dizer isso como se estivesse falando sério.

— Eu estou falando sério.

Ela não havia visto Nick essa semana desde o momento em que ele
foi embora do apartamento. Não tinha certeza de que queria vê-lo.

Taylor estava de coração partido, sim. Tão destruída que se sentia


como um zumbi tentando sobreviver ao dia a dia.

Mas também estava puta da vida. Homens não deveriam tratar as


mulheres daquele jeito. Homens certamente não iriam tratar Taylor
Carr daquele jeito.

— Você quer alguns dias de folga? — ele perguntou gentilmente.

Será que ela queria?

Não. Parecia tempo demais para se passar pensando nos


problemas. Porém, mergulhar de cabeça no trabalho também não
ajudou muito. Não com a mesa de Nick vazia, local que bastava uma
olhada pelo canto do olho para ela enxergar.

Onde ele estava? Enfurnado em um acesso de criatividade,


escrevendo?

Você não se importa. Não se importa com o que ele faz. Ele está
morto para você.

Exceto que ele não estava. Ela ainda amava o babaca desgraçado.
Ainda amava o bebê dele que crescia dentro dela. O bebê deles.

Eu vou ser mãe.

Ela endireitou os ombros. Taylor daria um jeito. De jeito nenhum


deixaria o filho ou a filha dela nascer de uma mulher chorona que
mal conseguia agir normalmente porque havia se apaixonado.

— Eu estou bem — ela disse a Hunter, endireitando a saia e se


colocando de pé. — Me desculpe de novo pela crise de choro.

Ele acenou com a mão.

— Pode parar. Estou aqui para o que precisar.

Ela sorriu em agradecimento. O chefe dela era um cara legal.

Bonito, inteligente, charmoso... e usava óculos quando trabalhava no


computador, o que era meio que adorável.

E nada disso a fazia sentir alguma coisa. Mesmo se ela ainda não
tivesse aprendido a lição sobre não se envolver com alguém do
escritório, ela não conseguiria ter olhos para nenhum homem, porque
havia uma imagem constante de Nick que parecia estar sempre na
visão periférica dela, mesmo quando ele não estava por perto. E ele
definitivamente não estava por perto.

— Você está liberada por hoje — Hunter ordenou, guiando-a em


direção à porta. — Vá fazer uma pedicure, umas compras
terapêuticas, tanto faz. Só tente não pensar em Ballantine.

Até parece.

— Obrigada, Hunter — ela agradeceu, forçando um sorriso.

Ela já sabia que aceitaria a oferta de sair do trabalho mais cedo, e a


sugestão das compras terapêuticas lhe dera uma ideia.

Ela iria comprar todas as besteirinhas para bebês. Berço,


brinquedos, tudo.

A melhor maneira de tirar Nick Ballantine da cabeça? Tirar as coisas


dele da casa dela. Taylor iria transformar o quarto dele em um
quartinho de bebê.

Capítulo 31

Ele sabia que não deveria ir lá. E foi mesmo assim.

Nick bateu na porta do apartamento sem elevadores, no Brooklyn, as


mãos enfiadas nos bolsos.

Ela não o fez esperar muito.

— Oi — disse Kelsey, afastando-se para ele poder entrar no


apartamento.

— Shawn está em casa? — ele indagou, passando os olhos pelo


apartamento pequeno, mas limpo.

Ela fez que não com a cabeça.

— No trabalho.

Nick assentiu.

— Hannah?
— Dormindo. Eu não sabia que você ia passar aqui, ou teria
atrasado um pouco o horário da soneca dela.

— Provavelmente é melhor assim. — Ele a interrompeu. — Fui eu


quem disse que nós dois precisávamos parar de nos ver. Pelo bem
dela.

Kelsey assentiu.

— Admito que fiquei surpresa em ter notícias suas. Você parecia


bastante confortável com aquela sua top model na última vez que te
vi.

O tom de voz dela foi só um pouco sarcástico. Ele olhou seriamente


para Kelsey, que se encolheu, sentindo-se culpada.

— Tem razão. Eu não tenho o direito de dizer isso.

— Não. Não tem.

— Aceita uma bebida? Eu não namoro mais um barman, então acho


que só tenho cerveja.

— Por que você fez aquilo? — ele perguntou.

Ela respirou fundo.

— Eu sempre me questionei em que momento você perguntaria.

— Estou perguntando agora.

Ela limpou as mãos na frente do jeans.

— Por que eu fiz o quê? Trair você ou não te dizer que havia uma
chance do bebê não ser seu?

— A última parte.
Ele não se importava com o motivo de ela ter o traído. Deixara de se
importar com Kelsey há muito tempo. Com Hannah, no entanto...
isso sim tinha sido difícil de suportar.

Os olhos de Kelsey lacrimejaram.

— Eu não sei. Eu me arrependo muito. É só que... — Ela engoliu em


seco. — Eu queria tanto que fosse você. Eu sabia que você seria um
ótimo pai, e você foi um ótimo pai. E acho que pensei que se eu
fingisse o suficiente, se tornaria verdade.

— Como Shawn ficou sabendo do bebê, para começo de conversa?


Você que contou pra ele?

Ela acenou uma negação, e isso o fez desgostar ainda mais dela.

Mas ele não estava aqui para fazer as pazes com Kelsey; ele só
queria respostas. Queria entender.

— Eu parei de vê-lo depois que a barriga começou a aparecer, mas


ele era meu personal trainer — Kelsey falou, mordendo o lábio. —
Ele me contou depois que tinha percebido as mudanças no meu
corpo e passou a se questionar sobre elas.

Eles ficaram em silêncio. Por um momento, o único som no cômodo


eram os murmúrios suaves vindo da babá eletrônica. Aquilo fez o
coração dele apertar.

Ele queria isso de novo.

Foi Kelsey quem falou em seguida.

— Se Shawn não quisesse fazer parte da vida dela... se ele não


quisesse ser o pai dela ou não tivesse insistido para que nos
casássemos… você teria ficado? Teria a criado?

Nick cerrou os dentes. Era uma pergunta que ele havia feito a si
mesmo um milhão de vezes. Ele teria ficado mesmo sabendo que
Hannah não era dele?
Ele já sabia a resposta, no entanto. No fundo, sempre soube.

— Desde o momento em que a peguei nos braços, eu teria feito


qualquer coisa por ela. Se significasse que eu teria que ser o pai
dela, porque caso contrário ela não teria um, eu teria feito isso. Se
significasse que eu teria que me afastar para que o verdadeiro pai
dela pudesse entrar em cena... bem, eu fiz o que eu tinha que fazer.

Pela Hannah.

Os olhos de Kelsey lacrimejaram novamente e ela pressionou as


palmas das mãos contra os olhos para enxugar as lágrimas.

— Droga. Você é mesmo o melhor homem. Espero que sua top


model te mereça.

Eu não a mereço.

O pensamento o atingiu com tanta força que ele quase deu um


passo atrás.

Que porra ele estava fazendo?

Uma mulher com quem ele casualmente se importou teve um bebê


que não era dele, e no minuto seguinte ele já estava disposto a
morrer por Hannah.

A mulher que ele amava estava grávida do bebê dele, e ele estava…

Agindo feito um idiota.

Os olhos de Nick se fecharam quando o sentimento de autodesprezo


tomou conta dele.

Quando ele ouviu Taylor dizer que estava grávida, quando a viu com
Bradley, ele não foi capaz de raciocinar.

Naquele momento, em vez de enxergar Taylor, a mulher que ele


amava, ele viu o passado. Reviveu o momento em que descobriu
que Hannah não era filha dele, e ficou completamente aterrorizado
com a possibilidade de ter que experienciar aquilo outra vez.

Ao ver Kelsey agora, no entanto, ele percebia que o contraste entre


ela e Taylor era surpreendentemente claro.

Kelsey não era uma pessoa ruim, mas era covarde. O tipo de pessoa
que evitava confrontos e duras realidades. Ela convencia a todos que
a cercavam de que ela era doce e gentil, quando na verdade só tinha
medo. Medo de fazer o que era certo, porque era difícil.

Taylor não era assim.

Taylor não tinha medo de nada na vida. Se ela tivesse a menor


dúvida sobre quem era o pai do bebê, ela mesma teria arrancado os
cabelos de Bradley e Nick e levado os fios para um teste de
paternidade pré-natal. Ela teria tomado as rédeas da situação,
arcaria com qualquer realidade difícil.

Como ele pensou por um segundo sequer que seria o contrário?

Que sua linda Taylor seria outra coisa senão corajosa?

Nick cerrou os dentes com mais força.

Ela era corajosa, mas não inquebrável. Ele a magoou. Como ela
poderia não estar magoada? Naquele momento, Nick se odiou tanto
que desejou poder morrer.

Quando seus olhos se abriram, ele nem ficou envergonhado ao se


dar conta de que estavam um pouco úmidos.

— Eu tenho que ir — disse ele bruscamente. — Dê um beijo em


Hannah por mim, ok?

— Espera, Nick, você está bem?

Não.
Mas ele não se deu ao trabalho de explicar nada à Kelsey. Ele tinha
coisas mais importantes com o que se preocupar.

Por exemplo: recuperar a família dele.

Capítulo 32

— Certo, Bolinho, como podemos ser tão ruins nisso? — Taylor


perguntou, acariciando a cadela, que roía um osso ao lado de seu
quadril. — Somos mulheres inteligentes. Uma simples cômoda não
deveria nos vencer.

Ela e a cadela estavam sentadas no meio do quarto de Nick. Em


algum momento na semana passada, enquanto ela estava no
trabalho, ele passou no apartamento e pegou algumas das coisas
dele, então praticamente só restavam os móveis.

O quarto dele não era tão grande quanto o dela, o que não dava
muito espaço para ela montar os móveis. Não que isso importasse.

Provavelmente estava na hora de aceitar que ela simplesmente não


era alfabetizada na linguagem dos manuais de instruções de móveis
baratos.

Ela fez o pedido de um berço e um trocador já armados, com data de


entrega próxima a do parto. Ela não queria arriscar colocar o bebê
em qualquer coisa montada pelas próprias mãos, temendo a
segurança da pobre criança.

Mas, por algum motivo, parecia importante que ela mesma fizesse
alguma coisa para o bebê. Ela queria fazer algo para o filho ou filha.

Quanto mais ela olhava as instruções e as ilustrações indecifráveis,


mais percebia que deveria ter optado por tricotar algo.

Um lindo par de sapatinhos tinha de ser mais fácil do que essa


porcaria.
O lado positivo era que pelo menos isso a impedia de pensar em
Nick.

Na maior parte do tempo.

Um pouco.

Não, nem um pouco.

Ela suspirou e acariciou a cabeça de Bolinho.

— Vai passar, não vai? Eu vou superá-lo?

— Espero que não.

A voz rouca veio da porta, e Taylor virou a cabeça na direção do


som, no mesmo segundo em que Bolinho enlouqueceu com o
retorno de Nick.

Ele voltou.

Taylor ficou tão empolgada quanto a cadela, mas manteve a voz


cautelosamente fria e impassível.

— O que você está fazendo aqui?

Em vez de responder, ele tocou com o pé um dos bilhões de


pedaços de aglomerado de madeira que cobriam quase todos os
centímetros do chão.

— Outra estante de livros?

Ela desviou o olhar.

— Uma cômoda.

Não que seja da sua conta.

Ela se impediu de acrescentar o comentário infantil em voz alta, mas


nem faria diferença. A frieza no tom de voz dela falava por si só.
Ou talvez não, porque, em vez de sabiamente ir embora, Nick entrou
no quarto, contornando as peças dos móveis. Ele as chutou para os
lados até ter espaço livre suficiente para se sentar ao lado de Taylor.

Aparentemente, Bolinho decidiu que não havia espaço suficiente


para os três e a cômoda desmontada, e foi para a sala de estar.

Ou talvez ela tivesse se lembrado de que Nick as abandonou, e


estava punindo-o. A ideia agradou Taylor.

Sem dizer uma palavra, ele pegou o manual de instruções e


começou a folhear. Ela teve um flashback dolorosamente
maravilhoso da noite em que ela tentou montar a estante de livros.

Outra tentativa de autoterapia, só que naquela vez, ela estava


aborrecida por causa de Bradley.

Patético. Olhando para trás, ela conseguia reconhecer aquela noite


pelo que realmente era: o primeiro passo para perceber que Nick
Ballantine era dez vezes mais homem que Bradley.

Pelo menos foi o que ela pensou.

Mas homens bons não acusavam suas namoradas grávidas de


estarem carregando o bebê de outra pessoa e depois saíam porta
afora.

Sem dizer nada, ele começou a juntar as peças necessárias para o


segundo passo do manual (ela completara o primeiro passo sozinha,
mas não totalmente).

Ela queria mandá-lo dar o fora.

Mas não mandou. Disse a si mesma que a única razão pela qual não
o mandaria ir embora era porque queria que a cômoda fosse
montada.

E daí que isso proporcionasse um momento de prazer culposo


admirando-o?
Ele parecia... tá legal. Ele não parecia bem.

Havia olheiras sob seus olhos. A barba por fazer na mandíbula


estava ainda mais irregular do que o habitual. O cabelo estava uma
bagunça e a camisa, amassada.

Nick parecia tão infeliz quanto ela.

Ainda assim, ele não disse nada. Nem ela. Taylor simplesmente o
assistiu montar peça por peça da cômoda que um dia guardaria as
roupas minúsculas do bebê dela.

As roupinhas do bebê deles.

Era por isso que ele estava aqui? Nick estava apenas se
conformando com a ideia de que, se o resultado do estúpido teste de
paternidade tivesse o nome dele, ele teria um filho?

Porque por mais que ela estivesse sofrendo, por mais que seu
coração quisesse se afastar dele, não havia como manter Nick longe
do próprio filho. Qualquer atitude que envolvesse o desejo dele de
estar com o filho ou a filha, ela apoiaria.

Contanto que ele mantivesse distância dela.

Mesmo assim, ele não olhou na direção dela. Ela se forçou a olhar
apenas para as mãos dele, observando enquanto ele montava
silenciosa e competentemente a cômoda, até restarem somente os
puxadores.

Ele juntou as peças em uma mão, junto com a chave de fenda, mas
em vez de fazer os ajustes finais, estendeu as peças para ela.

Os olhos de Taylor lacrimejaram, porque ele entendia. Entendia a


necessidade que ela sentia de contribuir com algo para a criança que
ela ainda não podia segurar nos braços.

Colocar os puxadores no lugar era maravilhosamente à prova de


erros, não precisava de instruções. Ela os colocou um a um, até
chegar à última gaveta restante.

Ela aparafusou o puxador e, no segundo em que a peça estava bem


fixada, ela soltou a chave de fenda e cobriu a boca para esconder
um soluço.

Nick a colocou de pé, puxando o corpo dela contra o dele.

Ele a abraçou. Ele a abraçou enquanto ela chorava de soluçar por...


nem ela sabia ao certo. Por ele. Pelo bebê.

Pelo núcleo familiar que nunca seria real, porque ele a magoou.

Ele a magoou tanto.

— Eu sei — ele disse com uma voz embargada. — Eu sei, e sinto


muito, pra caralho.

O corpo dela paralisou. Ela havia verbalizado a própria dor em voz


alta? Ou ele simplesmente já sabia?

Não importava. Desculpas não eram o bastante.

Ela empurrou os ombros dele. Ele a deixou empurrá-lo para longe,


mas apenas o suficiente para que pudesse continuar segurando-a
com um braço, usando a parte inferior da palma da outra mão para
limpar suavemente as lágrimas dela.

— Vai embora — ela sussurrou.

Nick sacudiu a cabeça.

— Não posso fazer isso.

— Bem, você não tem esse direito — disse ela. — Não tem o direito
de me acusar de te trair, de me acusar de tentar fazer o bebê de
outra pessoa se passar como seu, e depois sair porta afora. Você
não tem o direito de fazer todas essas coisas, voltar, armar uma
cômoda e agir como se nada tivesse acontecido. Como se não
tivesse partido o meu coração.

O rosto dele se enrugou em angústia.

— Me diga o que posso fazer para melhorar as coisas. Para te fazer


minha outra vez.

— Eu não quero ser sua.

— Você acha que eu não sei que não te mereço? — ele disse com
urgência, segurando o rosto dela com as mãos. — Acha que não sei
que agi feito um idiota? Que o bebê que você está carregando é
meu? Eu sei de tudo isso, Taylor, mas eis o que preciso que você
saiba. Preciso que saiba que eu quero muito esse bebê, mas que
quero você mais.

— Ah, entendi — ela zombou. — Seu sonho de ser pai finalmente vai
se tornar realidade, e você decidiu que eu sou um receptáculo tão
bom para sua prole quanto qualquer outra mulher?

— Prole? Receptáculo? Quê? Não. Não. Isso não é sobre o bebê. É


sobre o fato de eu amar você.

O coração de Taylor parou. Ela o empurrou.

— Não diga isso. Não diga isso! Sabe quanto tempo esperei para
que alguém dissesse isso e que fosse sincero na afirmação? Quase
ninguém diz, e ninguém é sincero — ela retrucou no meio de um
soluço. — Ninguém é sincero quando me diz isso.

— Eu sou — ele prometeu suavemente. — Estou sendo sincero.

A simplicidade da resposta dele fez Taylor paralisar. Não houve


súplica, nem palavras bonitas. Somente aquela declaração tranquila
que a fez ter esperanças, que a fez desejar…

— Não — ela falou, sacudindo a cabeça. — Eu não vou fazer isso.


Vamos fazer o teste de paternidade, ver que o bebê é seu e depois
resolveremos a custódia, mas…

— Que se foda o teste de paternidade — Nick disse com raiva. — Eu


sei que o bebê é meu, mas poderia ser o filho do Calloway, do
George Clooney ou do Indiana Jones, e eu ainda estaria aqui. Eu
ainda faria isso.

Os olhos de Taylor se arregalaram quando ele puxou algo do bolso e


caiu de joelhos.

Ele abriu a simples caixa preta com o polegar, e um diamante


solitário brilhou para ela.

— Eu ainda te pediria para ser minha esposa, Taylor Carr, porque eu


quero casar com você. Grávida ou não, você é o amor da minha
vida. E você pode até dizer não, e eu vou ficar chateado, mas então
você também ficará chateada, porque eu não vou parar de pedir.

Nunca.

— Isso é tão clichê — ela sussurrou. — Um pedido de casamento


pós anúncio de uma gravidez.

Ele encolheu os ombros.

— Eu comprei o anel antes disso.

Os olhos dela voaram para os dele.

— Mentira.

— Quando eu estava em Oregon. Minha mãe me ajudou a escolher


e agiu de forma autoritária pra caramba. Essa vai ser mais uma das
razões pelas quais ficarei chateado se você disser não, porque não
aguentei aquilo tudo por nada.

— Você queria se casar comigo antes de saber que eu estava


grávida? — ela sussurrou, descrente, e ao mesmo tempo querendo
tanto, mas tanto, acreditar.
O canto da boca dele se ergueu.

— Muito.

Ela só conseguiu encará-lo, depois o anel, e ele outra vez.

Nick suspirou.

— O que vai ser, Carr? Você pode dizer sim agora, ou amanhã, ou
no próximo ano, mas você vai dizer sim. E, a propósito, eu ainda
estou pagando o aluguel deste lugar, e vai levar tempo para você
conseguir me despejar, e todos os dias que tentar fazer isso, será
outro dia que em que vou pedi-la em casamento, e…

O coração de Taylor estava explodindo. De fato, não havia escolha.

Ela pegou o anel da caixa, mas ele o pegou de volta, levantando-se


e jogando a caixa de lado para que pudesse agarrar a mão esquerda
dela.

— Por favor, me deixe fazer isso — ele sussurrou. — Estou


sonhando com esse momento há semanas.

— Você é um bobo — ela sussurrou.

Mas ela também era uma boba, porque quando ele colocou o anel no
quarto dedo dela, ela começou a chorar.

Outra vez.

Ele riu e a puxou para um abraço.

— Essa é sua nova mania? Chorar o tempo todo?

— Está reconsiderando o pedido? — ela disse.

— Nunca — ele sussurrou, roçando os lábios nos dela. — Eu amo


todas as suas versões, até mesmo a versão chorona.
— Eu também amo todas as suas versões — disse ela. — Até
mesmo a versão idiota.

— Eu mereci essa — ele sussurrou.

Ela assentiu.

— Ainda bem que tenho o resto de nossas vidas para me redimir


com você — ele sussurrou antes de lhe dar um beijo que parecia
uma promessa ainda maior que o anel. — Já sabemos se é menina
ou menino? — ele perguntou suavemente quando eles se afastaram
para respirar.

Ela sacudiu a cabeça.

— Não. Mas se for uma menina, estou pensando em chamá-la de


Taylor Junior. Se for um menino... Bradley, obviamente.

Nick riu e a pegou no colo antes de caminhar em direção à cama e


colocá-la deitada suavemente. Ele fez o mesmo, emoldurando o
rosto dela com o dele enquanto se movia com cuidado em cima dela.

— Eu sabia que você era problema desde o primeiro segundo, Srta.


Carr — disse ele, passando um dedo pela boca dela com reverência.

— Valeu a pena, no entanto. Não foi?

Ele sorriu ternamente.

— Você é a melhor coisa que já me aconteceu. Então, pode crer que


sim. Tudo valeu a pena.

Epílogo

SETE MESES DEPOIS

— Suponho que o fato de eles terem me ligado para avisar que ela
entrou em trabalho de parto compensa o de eu não ter sido a
madrinha principal do casamento — Brit Robbins comentou,
tamborilando os dedos na cadeira da sala de espera. — Mais ou
menos.

Hunter Cross não tirou os olhos do notebook que trouxera para


trabalhar um pouco enquanto eles esperavam.

— Estamos todos muito felizes em ouvir isso, Brit. Já que o dia de


hoje é definitivamente sobre você.

Ela chutou a canela dele.

— Eu também não tive a chance de ser a madrinha principal —


Daisy acrescentou. — Eles se casaram sem contar a ninguém.

— Sim, mas não me sinto tão mal por você, porque no ano passado
você foi a madrinha principal do casamento da sua irmã, onde
conheceu esse cara aí — disse Brit, apontando para Lincoln. — Eu
quero encontrar o meu Lincoln. Uma cerimônia de casamento seria
um bom lugar para começar.

— Sinto muito, boneca. Sou um em um milhão e homem de uma


mulher só — disse Lincoln, apoiando a mão no joelho de Daisy.

Hunter suspirou e fechou o notebook, dando a Lincoln um olhar


furioso.

— Precisa mesmo dizer isso? Você está arruinando a reputação dos


homens em todo lugar, dando às mulheres a impressão de que todos
nós seremos tão cadelinhas das namoradas quanto você. Sem
ofensa — ele disse à Daisy.

Ela soprou um beijo para ele.

— Não me senti ofendida.

Brit olhou para as unhas das mãos e depois para Hunter.

— Você parece nervosinho. As coisas não estão indo bem com a


Srta. Connecticut, vice-campeã de atletismo? — ela perguntou,
referindo-se à nova namorada dele.

Ele ignorou a pergunta, olhando para um ponto acima das cabeças


de Daisy e Lincoln.

— Então, vocês dois esvaziaram as lojinhas de presentes de todos


os hospitais de Nova York ou simplesmente foram a uma fábrica de
balões e roubaram diretamente de lá?

— É culpa do Nick e da Taylor que não nos disseram se era menino


ou menina — Daisy respondeu, olhando para cima e puxando um
dos barbantes. — Eu tive que comprar rosa e azul.

— E esses verdes com glitter? — Hunter perguntou.

Daisy olhou para ele e abriu um sorriso largo.

— Esses eu comprei simplesmente porque gostei.

— Não se preocupe — disse Lincoln, dando tapinhas na bolsa para


notebook. — Eu trouxe os presentes de verdade. Charutos.

Hunter sorriu e deu um tapinha na própria bolsa.

— Eu também.

Os dois homens trocaram um soquinho com as mãos e as duas


mulheres reviraram os olhos. E então, todos se levantaram quando
uma enfermeira apareceu para dizer que eles poderiam acompanhá-
la até o quarto de Taylor.

Daisy e Brit estavam prestes a invadir o quarto quando Hunter e


Lincoln seguraram ambas.

— Dê mais um minuto a eles — Hunter sussurrou no ouvido de Brit.

Ela estava prestes a protestar, mas depois olhou para o quarto e


entendeu.
O braço de Nick envolvia uma Taylor radiante, se não um pouco
cansada, e os dois olhavam maravilhados um embrulhinho azul.

Os olhos de ambos os pais brilhavam. Brit e Daisy choraram


abertamente ao ver a cena feliz.

Lincoln e Hunter não choraram. O pigarro idêntico que deram foi


apenas uma reação masculina comum.

Taylor olhou para cima duas vezes quando os viu.

— Parem de ser esquisitos, por que estão parados aí? Entrem aqui e
conheçam nosso filho.

Foi Nick quem orgulhosamente os apresentou a Aidan Benjamin


Ballantine, e Taylor quem entregou Aidan à Daisy para que ela
começasse as rodadas de dengos e carícias contra os dedinhos
minúsculos e olhos sonolentos do bebê.

Quando Nick deu um beijo no topo da cabeça de Taylor e a mão dela


apertou a dele, não houve sombra de dúvidas de que no mundo não
havia nenhum outro casal de pais de bebê que se amassem mais
que aqueles dois.
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Prologo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Chapter 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17
Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Epilogo
Table of Contents
Prologo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Chapter 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epilogo

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