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CARTA AOS NOVOS MESTRANDOS

Fernanda Gabriela de Rezende Casagrande

10 de março de 2023

Mestrandos.

Primeiramente gostaria de parabenizar a todos vocês por essa conquista de estar


iniciando no mestrado. Sei como a realidade de ser professor não é fácil, sendo nossos
horários corridos e nossos dias cansativos. Mas mesmo com essa realidade, é muito bom
ver que existem tantas pessoas competentes, que além de trabalharem diariamente por
uma educação de qualidade também buscam uma melhor formação.

Compreendo bem como é o dia a dia na escola, muitas vezes caímos no


comodismo e na monotonia por conta da rotina, mas não podemos deixar que isso
aconteça, precisamos sempre buscar proporcionar um ensino melhor e com isso uma
mudança da realidade que estamos inseridos.

Nesta busca de sempre mais, me lembro que há um ano estava no lugar de vocês.
Estávamos em um período mais calmo após a pandemia de covid-19, mas não sabíamos
até quando essa calmaria iria continuar, além disso, estávamos também resistindo ao
governo genocida, que não se preocupava em nenhum momento com a população, nem
com a saúde, nem com a educação e desvalorizava o máximo a ciência.

Nessa realidade complexa, no dia 01 de abril de 2022, às 19:00 iniciava a nossa


aula inaugural, um dia histórico para o IFSULDEMINAS – Campus Muzambinho pois
fomos a primeira turma de mestrado da instituição. Esse dia também foi histórico para
nós, pois aí se iniciava uma mudança em nossas vidas.

Lembro muito bem, que tivemos como vocês, naquela aula inaugural, um dia
tranquilo, divertido, leve e com muito café. Mas logo depois, no nosso próximo encontro
começamos a articular junto aos professores Daniel Maldonado e Samara Moura na
disciplina de problemáticas da Educação Física um primeiro esboço da nossa dissertação.

Até esse momento eu não tinha pensado sobre o assunto, e dentro da disciplina de
problemática comecei a buscar o que mais me inquietava no fazer docente. Nessa
realidade, comecei a desenvolver uma ideia de pesquisa que pudesse proporcionar um
avanço nas aulas de Educação Física escolar, desenvolvendo algo que influenciasse no
processo de ensino aprendizado, para que pudéssemos desenvolver a criticidade dos
estudantes quanto as desiguales presentes em nossa sociedade, de forma articulada com
os conteúdos básicos da Educação Física.

Sendo assim, como tanto na graduação quanto na pós-graduação eu tinha tido


contato com alguns textos de Dermeval Saviani, e tinha um pouco de conhecimento
quanto aos princípios e a constituição da Pedagógica Histórico-critica, escolhi essa
perspectiva pedagógica para ser a base dos meus estudos. A Pedagogia Histórico-Crítica
é uma pedagogia contra hegemônica que busca o desenvolvimento conceitual e crítico
dos alunos para que com isso eles possam promover mudanças na sociedade superando
as desigualdades sociais, e é exatamente isso que eu busco no meu fazer docente, embora
isso não seja fácil e nem simples dentro da realidade que estamos vivendo.

Caminhando nessa perspectiva o professor Mateus aceitou me orientar, e durante


as reuniões de orientação comecei a aprofundar nas bases epistemológicas da Pedagogia
Histórico-crítica e, a partir disso, começamos a pensar no como proporcionar uma aula
de Educação Física com as características, objetivos e bases de tal pedagogia. Sendo
assim, após analisarmos o contexto dos alunos e da cidade, pensando na luta de classes
que está presente em tudo que fazemos, decidimos construir uma prática pedagógica
embasada, discutida e problematizada teoricamente com a unidade temática Práticas
Corporais de Aventura.

A escolha da temática Práticas Corporais de Aventura se deu por conta que na


cidade em que a escola que a professora atua está inserida tem como característica o
turismo com principal enfoque na natureza e nas águas termais, que são muito valorizadas
e preservadas.

Dentro dessa realidade existem diversas Práticas Corporais de Aventura, mas a


maioria delas são proporcionadas como forma de turismo, sendo que muitos de meus
alunos trabalham para empresas que proporcionam tais práticas, mas nunca tiveram a
oportunidade de realiza-las. Sendo assim, dentro da sequência didática buscaremos
proporcionar uma análise crítica dessa realidade em conjunto com os alunos e buscar
formas de proporcionar acesso a essas práticas para mais pessoas, em principal para a
classe trabalhadora que muitas vezes se vê afastada dessa realidade.
Então, estou buscando em minha dissertação analisar a Pedagogia Histórico-
Crítica e o Currículo Crítico-Superador, fazendo uma análise do que já foi escrito quanto
a temática, fortalecendo e avançando no debate teórico e crítico dessa perspectiva, e por
fim, construindo e aplicando uma sequência didática com a temática Práticas Corporais
de Aventura, buscando utilizar as bases epistemológicas de tal pedagogia, para construir
possibilidades de avanço e inserção no ambiente escolar.

Bem, este ano de mestrado foi um ano de muito aprendizado, considero que
minhas concepções e visões de mundo e da Educação Física, vêm ampliando a cada
momento. Mas também temos que considerar que foi um ano de muito esforço e
dedicação, foram longas e diversas atividades semanais, gravação de vídeos, aulas
presenciais em diversas sextas e sábados, lives, ciclos de debates e congressos, foram
noites, finais de semanas, feriados e férias dedicados para chegarmos até agora. Quando
escrevi essa carta por exemplo, foi em um sábado às 18:00.

Embora não seja algo simples e nem fácil, não quero que vocês achem que realizar
um mestrado é algo impossível, ou algo que não cabe na sua realidade. Pois é possível, e
vocês são capazes, mas é necessária muita dedicação e organização.

Além disso, nós da primeira turma de mestrado tivemos muita sorte, os colegas e
professore são ótimos, e embora em muitos momentos nos vemos cansados, temos um
uns aos outros para nos apoiar e sempre fazemos algumas brincadeiras e piadas para
divertirmos. Então, mesmo com as dificuldades que estarão presentes no percurso, saibam
que cada momento vale a pena. Aproveitem cada ensinamento, cada oportunidade, cada
live, cada aula, para que vocês possam somar o máximo de aprendizados em sua realidade
docente.

Só por estarem aqui, vocês são professores que vêm além, que querem mais, e
lutam por uma educação melhor, e eu estou aqui para o que precisarem para auxiliar nesse
percurso.

Professora Fernanda Casagrande

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