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silettel Dacor & pecriees IV oO 2 Foucault Estratégia, . g Poder-Saber 2 eoIGAo Otganizacio ¢ selegio de textos: ‘Manoel Barros da Mota Tradugio: Vera Lucia Avellar Ribeiro Dit ee ees Bigtoancesepreparada sob a dines de Daniel Defer Bema com 2 colaboragio de Jacque Lagrange kas mn a 98 attest roo satan 72-9 ecm Apresentac&o Construida sob o signo do novo, a obra de Michel Foucault ‘subverteu, transformou., modificou nossa relagao com o saber a verdade. A relagao da filosofia com a razao nao é mals a ‘mesma depois da Historia da loucura, Nem podemos pensar ‘da mesma forma o estatuto da punigao em nossas sociedades, A intervengao teérico-ativa de Michel Foucault int também us ‘partir de sua matriz ocidental na me- dicina, na psiquiatria, nos sistemas penais e na semualidade. Podese dizer que ela colabora para efetuar uma mutagao de episteme, para além do que alguns chamam de pos-estrutura: lismo ou pés-mocernismo. ‘A edicao francesa dos Ditos ¢ escritos em 1994 pelas Eal- es Gallimard desempenha um papel fundamental na difu- so de boa parte da obra do flésofo cujo acesso aa puiblico era fiscalieagao especial, ém estabelocimentos ea! ele Beste ar re tensa ai as plexo que e, sea senor qutser.0 stoea pantie: Sscriangas sto puradas; 00 alunos eo punidos. 1 Ent, se undo durante tia avida, Bo somes portm certo numero de colsas que nao sd0 mais as mesmas que no século XX. VE XLII tiene! Foucault itoseBsertos (a reslidade, é um sistema de poder penttenciario. Foucault ira definsr melhor a estrutara positiva esse poder ao formular claramente a fungao da diseiplina para além da concepeto repressiva do poder. Um movimento inédito, 0 GIP, poe em questo o regime penitenciario A esquerda proletaria — de orientagée maoista, dissolvida pelo governo emi malo de 1970 — tem um bom nrimero de mili- {antes presos. Daniel Defert reine os que iam manter cantata, com os militantes presos e preparar seus processes. Ble pro poe que um tribunal popular semethante ao criado por Sartre soja realizado sobre as condligdes desses militantes. Foucault aceitaa directo da movimento, mas muda totalmente o senti dodo dispositive a ser criado. Ele ira enticarlogo em seguida 0 uso pela esquerda do tribunal em seu debate com os maois- tas. Agora ele propoe a criacao de um movimento social que onha em questao a situaclo penitenciaria. Fazem parte do frupo inicial Casamayor, Vidal-Naquet e Jean-Marie Dome nach. Em Jaccuse, em margo de 1971, Foucault comenta o pri- ‘meio inqueritoiangado pelo GIP: ele observa inicialmente que nao fexperiéncias, essas Quem sao os elementos que esse grupo retine? "x-de tentos, familias de prisionelros, advogados, médiens, miltan Apresentagio NLU tes, todos 0s que esto decididos a no mais tolerar o atwal regime da prisio” Wer p. 4 neste volume). Foucault define de forma radical seu objetivo: nao se deve mals deixar a prisao ‘em paz em parte alguma. Ele expée a conjuntura de 1871 ~ fgreve de fome que levou a Imprensa a lalar ~ fazer cessar 0 Intoleravel, imposto pela forca e pelo siléncio (ver p. 4 neste volume) Nao ge trata de uma acumulacaa de conhecimentos, mas dealgodiverso, para aumentar a intolerancia ¢ fazer dela uma {ntoleraneia ativa (ver p. 4 neste volume). Essa lta nao concerne apenas as prisees, mas também & justica, ao sistema hospitalar, a pratica psiquidirica, ao servi ‘0 niliar. Método utiizado: distribuir na porta das prisves, tim questionario “a todes o8 que podem saber ou querem agit” (ver p- 5 neste volume). ‘O grupo criado por Michel Foucault tem como abjetivo pro- ceurar, provocar, repartir informacao. ter uma funcao ativa, pois "baliza alvos para uma acdo posstvel” (ver p. 6 neste volu ‘me). Foucault lembra que essa 6 uma idia recente: quando os, ‘presos politicos naquele ano fizeraun uma greve de fome, Fou ‘caultefta um comentario que fol feito: "isso € bem proprio de- les, desses jovens buirgueses. desses esquerdistas” (ver p. 6 reste volume). Como se tratasse de uma exigencia, de um tras tamento 4 parte, um regime especialt Foucault diz que essa ‘posieao nao surtiu efeitojuntoa imprensa, nem juntoas fami lias dos presos de direite comumn. ‘Quando se deu a mudanca, quando se produztu um eco que Foucault chama de muite forte? Quando houve uma mu- danga no ciscurso dos paliticas que reiwindicavam um regime especial, dizendo: “é preciso por em questao o regime peniten- lario em seu conjunto, o furiclonamento da prisa0” (ver p. 6 neste volume). O impacto se dew na imprensa c junto aos pri Stoneiros de direito comum. Como Foucault traduz essa re: percussao? Num enunciado geral, como relampago, um raio Subito que produz uma compreensao nova. uma mulacao, ‘uma nova forma cotetiva de subjetivar a relaca com o poder penal: "subitamente, compreendeu-se que o regime das pri ‘50es era Intoleravel" (ver p. 6 neste volume) ‘0 movimento contegat com um convite telefonico a advo- gados, medicos, capelaes da prisao, em gue muitos foram se Agregando, 0 que Surpreendeu muito a Foucault ¢ seus an XLIV_ steal Foueauh = Dose Excrtos ges que eriaram 0 GIP. Passou-se entao a fazer conhecer a euisténcia desse grupo e do movimento que 0 eriou, Jornais passaram a falardo GIP. o que produziu um movimento de formaco. O GIP passou a reecber cartas - médicos, detentos, parentes de presos, advogados que fam as prises. Miiltipla foram as reagoes: oferta de trabalho, questBes como 0 que fa- zer, remessa de dinheiro, Foucault fala sobre s930 eiico Sema rnas depois de crlado © movimento. Este se estende: nao apenas participacdo individual, mas grapos de estudantes, ‘comites do Secours Rouge. E um movimento que se di bem

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