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“A exatidao do arquivo” Philippe Artigres Ora como escafandrista, ora como filésofo anénimo, Foucault gostou de se representar mascarado; ele se afeicoou, assim, particularmente, & imagem do filésofo cirurgido. Ele comparou sua pritica a de seu pai operand; este abrindo os cadéveres, incisando os tecidos; ele, fazendo esse mesmo gesto, mas sobre o passado, para fazer aparecer dele o aquém da histéria. Esse autorretrato com o bisturi nao é his- t6ria de familia ou simples galanteio de autor, ele esta estreitamente ligado ao positivismo que Foucault procurou desenvolver. P. Macherey lembrava desde 1987 que o “positivismo” de Foucault consistia, com efeito, “em afirmar que o saber depende da combinacao entre aparelhos ¢ teorias, tal como ela se efetua historicamente, sem que seja possivel explicar essa combinagio por ‘causas; sejam estas da ordem da pura experiéncia ou do puro pensamento, visto que nao ha, ao contrario, experiéncia e pensamento sendo na base dessa combinagao, ou, antes, sob seu horizonte”' No cerne dessa combinagao, ponto de fuga de sua filosofia era, portanto, o arquivo. Era nos arquivos, no meio dos macos de papéis, no fundo das bibliot cas que Foucault tinha feito a experiéncia de seu préprio pensamento. Na SOMBRA DE THORIN Essa cena tinha acontecido uma primeira vez durante a preparacao da Histéria da Loucura, no fira dos anos 1950. © primeiro preficio 4 obra guarda dela um leve vestigio, uma enigmética mengio, a de um nome que remetia em observago a um registro num estabelecimento de arquivos parisiense: ‘Muito magro, sem diivida;algumas rugas que inquietam pouco,e ndo alteram muito a grande calma razo- fvel da histéria. Que peso tém eles, em face de algumas palavras decisivas que tramaram o devir da raza0 ocidental, todos esses propésitos vios, todos esses dossis de delirio indecifravel que 0 acaso das pisses © das bibliotecas thes justapuseram? Ha um lugar no universo de nossos discursos para as milhares de péginas onde Thorin lacaio quase analfabeto, ¢“demente furios0’transcreveu, no fim do século XVI, suas visdes «em fuga eos latidas do seu espanto? Tudo isso é apenas tempo declinado, pobre presanglo de uma passagem que o futuro rejeita, algo no devir que & ireeparavelmente menos que a histria Besse “menos” que se deve interrogar. Sabe-se hoje, gragas a certos elementos do dossié preparatério da obra? que Foucault consultou, antes de sua partida para a Suécia, intimeros arquivos, em especial na Biblioteca Sainte-Genevive, nos Archives de [Assistance Publique ou ainda na Biblioteca Nacional. Ble listou sistematicamente os ma- nuscritos e mergulhou em suas leituras, acumulando em fichas muitas notas que deixou de lado, em seguida, quando da redacio, e de que Thorin, o “demente furioso” ¢ o discreto portador. Mas foi ainda dessa experiéncia silenciosa que Foucault foi em busca, a partir dos anos 1970. Por uma série de cantei- 108 que se consideraram por muito tempo como secundarios, ele procurou experimentar essa passagem no espelho do arquivo. No semindrio que seguia sua aula no Collége de France, ele escolheu trabalhar a partir de dossiés de arquivos. A Memoria de Pierre Riviére (1973), 0 parricida normando dos anos 1830, T Pierre Macherey, Foucault avec Deleuze. Le Retour Eterne! du Vrai, Revue de Synthése. n?2, p.277-285, avil-juin 1987, 2 Consultavel gragas generasidade de Daniel Defer em seu site 3w.michel-foucault-archives.org. foi um deles, Jean-Pierre Peter, que participou dele, lembra quanto o filésofo era apegado a essa prova dios arquivos, nao que se tratasse de tornar historiador, mas que seu exercicio do pensamento passava por essa confrontagdo, © primeiro projeto da histéria da sexualidade tinha também dado lugar ¢ uma Exploragio precisa nos arquivos da medicina legal, nessa imensa massa de relatérios de pericia sobre os “jnormais? Houve também o dossié da hermafrodita Herculine Barbin (1979), morta no fim do século XIX, num quarto do bairro do Odéon, de que se encontraram as recordagdes. Mas foi principalmente com 0 Désordre des Familles, coescrito com a historiadora Arlette Farge ¢ publicado em 1982 que essa experiéncia foi a mais concludente, a mais radical também. Desse face a face com 0 arquivo nao dispomos sendo de rdpidas mencdes que se caracterizam todas pela evocagao de uma mesma intensidade, “Surpreso” ou “subjugado’, a cada vez, Foucault destacou sua perturbacdo, Mais que interragar o gesto que provocava essa emocio ¢ os desafios epistemolégicos que Ai se concentravam, 0s comentadores colocaram desde entio em exergo esse relatério e fazem dele a marca redutora da abordagem foucauldiana. A rejeigao de Foucault em se prestar ao jogo do autor que ‘comenta suas maneiras de trabalhar nao resolveu as coisas; apegando-se 4 sua poética, os leitores do famoso texto “La Vie des Hommes [nfimes’, publicado num nimero dos Cahiers du Chemin, de 1977, contribuiram para “desrealizar” essa relagio com os arquivos, para esvazid-lo de sua dimensio tedrica ¢ politica. O interesse de Foucault pelo arquivo foi reduzido a um simples gosto, que Philippe Lejeune chegow a qualificé-o de Sromantismo”® Foi sobre essa representagdo que muitos crticos se apolaram também para contestara atitude do filésofo, a veracidade de suas andlises, a cientificidade de sua relacdo com as fontes. Foucault tinha ficado deslumbrado coma beleza dos arquivos, e foi esse encantamento que o levou a fazer uso livre dele, por assim dizer, literario. Tal foi o discurso que se impos hé 20 anos. Leitura redutora que s6 Michel de Certeau rejeitou, destacando em sua homenagem a importancia do gesto ope- rado por Foucault e seus efeitos de pensamento.’ Ha, com efeito, em Foucault, uma outra “exatidao” dos arquivos. Uma investigagao realizada sobre os vestigios conservadores da Désorre des Famulles valida 0 julgamento de Certeaus esses dossiés permitem de maneira quase tinica entrar diretamente nesse atelié¢ compreender no ato 0 uso foucauldiano do arquivo. "Apoderar-se desses vestigios e tentar com e gragas historiadora fazer 0 retorno.*Trata-se de partir dessas algumas caixas de arquivos de pesquisa e das recordagbes que eles suscitam em um dos autores, postulando que € primeiramente na anslise minuciosa desses documentos, na materialidade que o pro- esso de trabalho se mostra.’ Método simples para 0 que nao é uma tentativa de revisitagdo, nem uma busca que tem por objetivo revelar nos manuscritos o mistério da escritafilos6fica, mas simplesmente uma tentativa de arqueologia: identificar, definir, ordenar uma série de infimos gestos que dao testemu- ho de escolhas e de decisdes no trabalho de um pensamento. Nos ARQUIVOS DA BASTILHA © objeto escolhido, sem divida, simplifica a tarefa: a destinagio do trabalho de Foucault e Farge & a colecéo Archives, Fundada por Pierre Nora nas edig6es Julliard, em 1964, continuada nas edicbes Gallimard em colaboragao com Jacques Revel desde o inicio dos anos 1970, essa colegio “se propde a Ver, por exemplo, a aula de 12 de marco de 1975 eo estado do dassié sobre o soldado Bertrand, vilador de cadaver. Philippe Lejeune, Lie Peste Rivitre. Le Débat, n° 66, p. 92-106, sept-oct. 1991 Ver sobre esse pont a introdugio a veedicio do texto: Collectif Maurice Florence, Archives de Tyfame, Pars: Les Praiies Ordinaires, 2009 6 Nossos agradecimentos a Arlette Farge pela confiangae generosidade que ela nos concede no ambito do programa “La Bibliotheque Foucaldienne’, propondo seus arquivos & comunidde cientifica e dando-nos duas entrevstassucessivas em Fevereiro de 2008 Patrick Boucheron realizou uma investigaao idéntica sobre G. Duby: “La Lettre eta Voix: Apercus sur le Destin Literate des Cours de Georges Duby no College de France, A travers le Témoignage des Manuscrits Conservés IMEC. Le Moyer ‘Age, 200913-4 (tome CXV). 138 Michel Foucault contribuir com a elaboracao de um género novo: ela publica as fontes, coloca o leitor em contato direto com os documentos cuja montagem é confiada aos melhores especialistas. (..] Ela abre a todos a porta do laboratério, coloca as bibliotecas na rua e 0s depésitos de arquivos no bolso® O préprio principio da colegao convida, pois, a um trabalho sobre os arquivos, e seu objeto é a colocacéo em cena. Archives se aprimora, propondo apresentar uma etapa do trabalho que até entao era mantida secreta; ela revela um. pouco do que esta por trés da tapecaria. Foucault nao se enganou quando propés um espesso volume de 365 paginas, um dos maiores da colegio. Ele afirma em alto e bom tom uma posicao sobre os arquivos; tendo como incipit na apresentacao essas linhas: “A ideia de que a Histéria é destinada a ‘exatidao do arquivo, e a filosofia & ‘arquitetura das ideias, nos parece uma tolice. Nao trabalhamos assim? Désordre €nisso um manifesto. Os editores J. Revel e P. Nora nao intervieram minimamente no manuscrito. Esse livro se inscreve num momento singular; ele esti no cerne da tentativa de didlogo de Féucault com os paladinos da disciplina histérica: ele vem depois da mesa-redonda de “L'impossible Prison’, de maio de 1978, com, em especial, Arlette Farge e Michelle Perrot, Carlo Ginzburg, Maurice Agulhon ou ainda Jacques Revel e Jacques Léonard; a obra epOnima aparece em 1980. Trabalhar com uma historiadora € romper um longo perfodo de siléncio editorial com uma obra de arquivos nao é, portanto, anddino; Foucault se aplica em produzir um gesto filoséfico preciso destinado nao somente aos historiadores, mas mais amplamente a esfera intelectual que deseja paralisar seu trabalho nos dias que seguem o pés-1968. A reportagem de ideias no Ira, em 1979, como esse mergulho no arquivo, é uma resposta forte; publican- do essa obra, ele age exatamente como com a intervencio de Foucault no seio do Grupo de Informagio sobre as Pris6es, no inicio dos anos 1970: ele pensa por uma série de atos. A histdria desse uso de arquivos se estende por mais de seis anos. Foucault comeca primeiramente com a ajuda preciosa de Christiane Martin, que vai varias vezes Bibliotheque de l‘Arsenal para fazer um “inventério” dos arquivos disponiveis; ele evoca em sua aula de 15 de janeiro de 1975 essa pesqui sa entdo em curso: “Empresto isso do trabalho que esta fazendo Christiane Martin sobre essas cartas régias’, e cita estratos de uma dentre elas (p. 34-35) que se encontra integralmente na segunda parte de Désordre, dossié relativo a um certo Pierre Germain Béranger (p. 294-296). Ch. Martin é, em seguida, atingida por uma grave doenca, de que ela morre no inicio dos anos 1980; € uma das assistentes do Collége de France, Eliane Allo que trabalha, em seguida, ao lado do fildsofo.’ Parece que foi depois dessa dupla identificagao que Foucault propés a Pierre Nora e Jacques Revel fazer um novo volume da colecéo Archives; ele escreve entao a Arlette Farge para propor-lhe a coescrita dessa obra; Foucault conhecia 0 trabalho de tese da historiadora sobre o roubo de alimentos em Paris no século XVIII (Plon, 1974), rara referéncia feita & historiografia contempordnea em Vigiar e Punir.!® Farge aceita e investe entao, Por sua vez, nos arquivos da Bastille, a partir de 1979. E também ela que retine a bibliografia existente ¢ realiza as pesquisas anexas. Por isso, Foucault vai também A Bibliotheque de Arsenal. £ ele quem toma a decisio de fixar a atengéo nos dois anos de 1728 e de 1758. Ai, ele copia palavra por palavea, linha apés linha, varias dezenas de dossiés oficiais em folhas A4. Ele tenta também fazer estatisticas de que varios manuscritos comprovam, mas que desaparecerio por assim dizer totalmente no seio da obra ~ encontra-se seu vestigio no inicio da segunda parte a propésito da idade das criangas cuja apreensio & requerida (p. 157), Farge produz um conjunto de quadros a fim de circunscrever 0 conjunto dos temas e das questdes tratadas no corpus. Varias reunides de trabalho aconteceram durante esse ano de 1979 no apartamento de Foucault, na rua Vaugirard. A coassinatura da obra oferece do ponto de vista do conteiido arquivos dos elementos de compreen- sio das préticas que, no caso de uma obra individual, sdo, no mais das vezes, nao informados. O didlogo no informa somente sobre a colaboragao, mas, principalmente, sobre a maneira como cada um trabalha: 8 Ver nessa perspectiva metodologica 0 ntimero da revista Génésis do Institut des Textes et Manuscits (ITEM) inttulado “Philosophie, coordenado por Paolo D'lorio ¢ Olivier Ponton: Genesis 22 (“Philosophie”, 2003). 9 E.Alloassina em 1986 na revista de P. Bourdieu um artigo inttulado "Les Deriéres Paroles du Philosophe’,seguido de uma entrevista sobre Foucault com Georges Duméail: Actes dela Recherche en Sciences Sociales, 1986, 61, p. 83-88. 10 Citado em nota por M. Foucault em Surveillr et Punir:p. 79, n° 2. Hi tradugio brasileira: Vigar e Punt. “A exatidao do arquivo” B9 as operagdes respectivas dos dois autores devem ser descritas para ser divisiveis © divididas. Nos diferen- tec extados do manuscrito dos dois tltimos volumes da histdria da sexualidade, conservados na Biblio- theque Nationale, esse nivel do trabalho nao pode ser apreendido. Dispoe-se de varios estados da obra, mas jamais da edificacio. Aqui, embora Foucault usasse frequentemente mais o telefone ou encontros ddo que 0 correio para dialogar com a historiadora, o dossié compreende, por exemplo séries de planose de manuscritos anotados e apreciagdes escritas sobre os documentos consultados pelo outro. Estes s4o, como se sabe, de um s6 tipo, todos extraidos de um mesmo arquivo: dossiés de cartas régias que compre- endem 2 ou as cartas de um sujeito requerendo a internagao de um préximo, 0 relat6rio dos delegados 6 placito correspondent, Se Farge vai a Prefetura de policia consultar outros arquivos de plécitos, eles indo sio conservados para a edicéo que se limita a um conjunto de dossiés dos anos 1728 ¢ de 1758. Bssa homogeneidade permite apreender a maneira como os autores respectivamente procederam na operagio de selegao e de transcrigdo nos 242 dossiés existentes para esses dois anos. No alto das fichas de E. Allo, a insisténcia em utilizar um eédigo para classificé-las por ordem de interesse, mas também avaliando sua beleza (“muito bonito’, pode-se ler &s vezes), mas é uma classificagdo temética que € utilizada: a atengio dos dois autores é em especial surpreendida por um conjunto de documentos relativos ao pés-aprisiona~ ‘mento; esse tema é colocado de lado, e Farge e Foucault projetam fazer um livro sobre esse tema (a massa dos arquivos de trabalho sobre esse ponto ¢, com efeito, importante). De uma maneira geral, 0s temas sio tals numerosos que os que figuram na obra: nos dossiés, encontra-se vestigio dos temas do segredo, do arrependimento, dos conflitos de soleira, da viuvez, mas também do néo essencial ‘Uma grande divisio ¢ feita. Arlette Farge indica, com efeito, que eles se repartiram as fontes. Fou- cault cuidou dos dossiés que tratavam de assuntos conjugais. Foucault nao deseja, diz ela, arriscar-se a uuma nova confrontagdo com as feministas contemporineas de que a fria receptividade de A Vontade do Saber, em 1976, lhe tinha suficientemente mostrado os desacordos. A primeira parte da obra, “A disc6rdia dos casais”, compreende 34 dossiés reproduzidos divididos em quatro subdossiés: “Casais em ruina’, “O aprisionamento das esposas’, “A devassido dos maridos, “A historia de um requerimento’; a segunda parte, que conta com quase o dobro de dossiés (59) e que se estende das paginas 155 a 340, € também tividida em subtemas (9): “O incémodo dos casos’, “Concubinas vergonhosas’, “A desonra da errancia, ““Violéncias domésticas”, “Maus aprendizes’, “Exilios’, “A honra das familias’, “A ética parental 1728: a razio dos sentimentos”, “Parental 1758: 0 dever de educagio’: Esse desequilibrio que se encontra no ti- tulo se deve ao fato de Foucault “ter querido publicar os arquivos’, testemunha A. Farge. Para Foucault, 6 interesse est na profusdo dessas cartas, em seu cardter repetitivo, na lingua que ai se inventa; Arlette Farge compartiha esse interess; ela consagra inicialmente um subdossié as expressoes utilizadas. Desde 1977, Foucault, em seu texto de A Vida dos Homens Infames, evoca essa dimensio: So texts que tém a ver com Racine, ou Bossuet, ou Crébillon; mas eles carregam consigo toda uma tur buléncia popular, toda uma miséria e uma violencia, toda uma “baixeza” como se dizi, que nenhuma lic teratura na época poderia ter acolhigo.(..] Ele fazem pensar &s vezes num pobre grupo de saltimbancos, {que se enfeitariam bem ou mal com alguns ouropéts outrora suntuosos para auar diante de um publico de ticos que zomnbaria deles. Mais ou menos assim ees atuam em sua propria via, e diante dos poderosos que podem decidir sobre eles, Personagens de Céline que querem ser ouvidos em Versailles. Essa mesma passagem é retomada por Foucault com ligeiras variagoes na conclusio em coautoria com Farge ~ a mengio de Céline desaparece, especialmente, em proveito de Callote Le Nain. Assim tam- bém, o texto de apresentacao ¢ objeto de um conjunto de correcoes depois de varias idas e vindas entre 0s dois autores. O que dizem essas rasuras é menos uma preocupagao de estilo do que uma vontade de restringir 0 comentirio, de ficar com um discurso minimo. O gesto esté na publicagio. ‘A pritica de citagio é aqui contréria a realizada por outros enunciados, por exemplo, 0s que Fou cault tinha mobilizado para As Palavras e as Coisas; aqui, ele ndo recorta nos discursos; os dois autores agem igualmente em ruptura com o principio da colegio Archives, que apresenta montagens, mas tam- bém, de uma certa maneira, em defasagem, enfim, com a pritica histérica do arquivo. Eles decidem reconstituir os documentos em sua integralidade e conservando “a escrita da época’ 140 ‘Michel Foucault Para o fildsofo, o essencial é mostrar um dispo: ivo historicamente inscrito e os efeitos que ele pro- duz nos sujeitos que dele se servem. Ou seja, 0 arquivo ndo a ilustragdo de sua tese sobre 0 poder, mas 0 lugar onde se ancoram relacées de poder. E somente por um trabalho de levantamentos minuciosos, uma pratica de copista que essas se mostram em sua exatidao. O arquivo é assim um teatro de sombras de que se deve permitir a reapresentagao. Le Désordre é um deles. Compreende-se por que Foucault e Farge fica- ram inicialmente irritados vendo a publicagao retardada - 0 livro s6 apareceu em 1982 ~ depois, tristes ¢ decepcionados ao constatar a auséncia de receptividade da obra. A critica ficou descontente, com efeito, ‘com 0 livros um jornalista falou até de “poujadismo” a seu propésito, enquanto os dois autores tinham tentado ndo colocar em cena esses arquivos, mas dé-los a ler em sua brutalidade. Preocupagao em dividir ‘menos uma sensacdo que uma experiéncia de pensamento. ae oie he legti steno = Few tus . Sean pou Yara deat? ye at © eee JAPA Me te emiune aso Beye a Winged drree lo epehons, goon Fe ufone) hehe seme bt hoc fy Fee et item pon ith nas ton Sonera ay B (Bes i. oni te rm dah ab bes Tena Aris Bag he es seven oe oy nah, mn at Be malian fe ayptink yor ard wstnigd mol me thane ty Wb erst Dn, ya ta locieane me peared mules ane oe wpe eH dee Upoe. = Se se era ae aipenee A ey ue sith uo eae tah sre aes fea Came vihe fous te eine EY Edgdbeah 6 epee thai Se a enp ate “A exatidao do arquivo” 141

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