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| Loe kk KKK rd - RENASCER INSTITUTO TEOLOGICO www.institutorenascer.com CURSO LIVRE DE TEOLOGIA ANTROPOLOGIA RENASCER INSTITUTO TEOLOGICO Capitulo 1 ANTROPOLOGIA GERAL Por mais isoladas entre si que tenham vivido as diferentes sociedades humanas sempre souberam, salvo rarissimas excecées, que além de suas fronteiras havia “outros homens": homens que viviam de forma diversa, cuja pele ea talver de outra cor, que née adoravam os mesmos deuses, que pensavam de outra maneira. A curiosidade de conhecer esses homens e povos “diferentes” motivou © nascimento da antropologia, que atualmente nao estuda apenas “os outros”, mas todos os seres humanos. 1.1. Coneeitos gerais Entre as muitas ciéncias que tém por objeto o ser humano, a antropologia “ciéncia do homem’, segundo a etimologia, o estuda do ponto de vista das caracteristicas biolégicas e culturais dos diversos grupos em que se distbui o género humano, pesquisando com especial interesse exatamente as diferencas. © nascimento da antropologia como ciéncia ocorreu a partir dos grandes descobrimentos realizados por navegadores e viajantes europeus. A curiosidade de conhecer povos exdticos, de saber como viviam e pensavam homens de culturas tao distantes da européia, de descobrir que aspecto fisico e que costumes tinham, levou & classificactio e ao estudo dos dados recolhidos in loco - isto 6, no lugar de origem - por exploradores, comerciantes ¢ missionérios chegados aquelas terras longinquas.. Qs primeiros antropélogos tinham como caracteristica comum a distéincia do objeto: de seu estudo, o qual consistia sempre em homens pertencentes a culturas distintas da evropéia e dela geograficamente afastadas. A modema antropologia, no entanto, estende sua pesquisa ds sociedades industriais e alé mesmo as grandes concentragées urbanas. Mas seus instrumentos de trabalho se foram aos poucos delineando justamente no estudo das sociedades “primitivas’, mais simples e com um processo de mudanca menos vertiginoso que © das sociedades modernas. Com frequéncia, os antropélogos do século XIX relacionavam as. caracterislicos biolégicas dos povos com suas formas culturais. Mais tarde, estabeleceu-se que os tracos iolégicos e os culturais finham menos ligagio entre si do que se acreditara. Isso levou a uma primeira subdivistio das ciéncias antropolégicas em antropologia fisica e antropologia cultural, esta cillima comumente assimilada ao conceito de etnologia. Desde a segunda metade do século XK @ antropologia cultural comegou a ser considerada uma ciénciahumana, com aslimitagées e ambiguidades préprias dessa categoria ientifica, enquanto a antropologia fisica conlinuoy desenvolvendo seus métodos de trabalho - medicéo e estabelecimento de correlacées entre as medidas encontradas - como uma ciéncia natural. Hoje os dois campos estdo totalmente diferenciados e poucos sdo os pesquisadores que trabalham ao mesmo fempo em ambos. —&. Curso Live de Teolosio | BACHAREL RENASCER [aM 1.1.1. Antropologia e outras ciéncias Duas disciplinas muito relacionadas com a antropologia séio a arqueologia pré- histérica ec lingtistica. A arqueologia, necessdria para conhecer o pasado das sociedades, pode esclarecer em grande escala seu presente. A terminologia arqueolégica, anterior 6 da aniropologia, proporcionou a esta diltima muitos vocébulos titeis. Por outro lado, @ propria antropologia 6 util d arqueclogia, na medida em que estuda ao vivo sociedades muitas vezes semelhantes por exemplo, no desconhecimento dos metais - a outras jé desaparecidas, sobre as quais pode langar abundanie luz. Também a linguistica é de grande importéncia para a antropologia, néo s6 porque © conhecimento do idioma se faz necessdrio ao antropélogo nas pesquisas de campo, isto & feitas no local de origem, mas também porque muitos conceitos elaborados pelos lingUistas séo fundamentais para a anélise de determinados aspectos das sociedades: por exemplo, 0 concepgio da sociedade como uma rede de comunicagéo, a andlise esirutural ov a forma fem que se organiza a experiéncia vital do sujeito de uma comunidade em estudo. A sociologia, por sua ver, pode até certo ponto ser considerada uma “ima gémea" da antropologia. Em principio, o que distingue as duas ciéncias 0 objeto de seu injeresse: enquanto o socidlogo se dedica ao estudo das sociedades modemas, © aniropdlogo comumente pesquisa as sociedades primitivas, embora o estudo das sociedades coloniais e de seu rapido processo de aculturagéio e modemizacio social tenha desenvalyido um campo intermedidrio no qual fica dificil estabelecer os limites enite 0 trabalho sociolégico e trabalho antropolégico. Nesse terreno intermediério surgiv a chamada antropologia social. 1.1.2. Quem 6 o Homem? Que é 0 homem, para que facas caso dele, para que te ocupes dele, para que © inspeciones cada manhé e © examines a cada momento? “O homem é a medida de todas as coisas”. “Muitas so as coisas grandiosas dotadas de vida, mas a mais grandiosa de todas é 0 homem’. A primeira dessas trés frases & uma das perguntas que J6 dirige «a Deus; a segunda, uma reflexdo do pensador grego Protégoras; ¢ a terceira, uma fala da tragédia Antigona, de Sdfocles. A elas poderiam reunir-se milhares de outras sobre o mesmo tema, de todas as épocas e civilizagées, o que mostra que nada preocupa tanto 0 homem quanto a condicéio humane, nenhum espetdculo é mais atraente para o homem do que o préprio homem. Em sentido amplo, homem 6 qualquer membro da espécie humana. Assim ele 6 entendido pela filosofia e abordado, em cada um de seus aspectos particulares, pela biologia, antropologia, histéria, medicina e outras disciplinas que tém por objeto. A tarela de definir homem, consiste em procurar respostas para algumas perguntas essenciais: qual a natureza ou a esséncia do homem? Como se distingue ele dos outros seres organicos, especialmente dos animais superiores? Essa distingéio é essencial e absoluta, ou apenas uma variagéo de grau? Qual @ lugar do homem no mundo? Qual sua missiio ou seu destino? Como se relaciona com Deus ou com absolut? BL BIER RENASCER Curso Lire de Teologia | BACHAREL 1.1.3. Abordagem filoséfica ‘Anogéio ocidental de homem como individuo tem como ponto de paride o pensamento grego. Para Sécrates @ Platéo, cada ente sé pode ser definido so todos os seres do universo estiverem classificados segundo certas arficulagées lagicas e ontolégicas. Definir um ente consiste entdo em tomar a categoria 4 qual ele pertence e situar essa categoria no lugar ontolégico que Ihe corresponde. Esse lugar ontolégico é determinado por dois elementos de cardter lagico: a categoria préxima e a diferenca especifica. Por eles se chega 4 definicéo de Atistételes: homem é um animal racional. Animal é a categoria préxima, na qual se inclui © homem; racional é a diferenga espectfica, por meio da qual se distingue conceitualmente © homem dos ovttos animais. Para a filosofia grega, o homem é um “ser racional”, ou melhor dito, um animal que possvi razdo. Essa definigéo implica dizer que o homem & uma coisa cua natureza consiste em poder dizer 0 que séo as outras coisas. Qu seja, a razdo permite ao homem definirsse e definir 0 conjunto do universo. Os gregos admitem que o homem tenha sido “formado”, e também que sua formacéo enha obedecido a condigées especiais em relagio aos demais seres, mas tejeitam a hipotese da criagéio. A viséio do homem como ser criado é comum ao judaismo e ao cristianismo @ exerceu forte influéncia sobre todas as concepsées filoséficas relacionadas com essas religides ¢ também com 0 islamismo. O homem seria, entio, uma criatura, ou seja, um ser cuja realidade ndo é prépria, mas que foi criado “a imagem e semelhanga de Deus", 0 que Ihe confere superioridade em relactio aos outros seres 1.1.4, Abordagem biolégica Para as cién naturals, a dificuldade de definir © que seja *homem” consiste em escolher entre dois pontos de vista: o da estrulura anatémica e o que se refere as faculdades rellexivas, No primeiro caso, o homem encontrar-se imerso em sua animalidade;no segundo, eslaria pairando sobre 0 mundo, isolado da natureza. Uma definigéo mais abrangente completa de homem deveria levar em conta, porianto, tudo o que nele seja suscetivel de constatagao positiva, isto é, além da conformagdo anatémica, é preciso considerar a faculdade de pensar. Dessa dupla abordagem se depreende a originalidade do fenémeno humano. ‘© mais exterior dos coracteres humanos @ sua ténue diferenciagao morfolégica, dada por especializagdes anatémicas (a face menor que o cranio, a postura vertical etc.) € fisiolégicas (o desamparo em que se enconira o ser humano nos primeiros meses de vida, a sexualidade aperiddica etc.). Masmo assim, dentro dos critérios adotados pela biologia pore classificar os seres vivos, pode-se dizer que, por sua esirutura orgénice, © homem néo pode espirar sendo a um lugar modesto na texionomia animal: ele perience ao subfilo dos vertebrados, & ordem dos primatas e « uma familia formada por um Unico género, Homo. Mas outra caracteristica zoolégica do homem evidencia proniamenie sua originalidade: @ capacidade de expansdo © conquista. Apesar da homogeneidade do grupo humano, 0 homem conquistou em relactio ao conjunto do globo um sucesso vital sem precedenies, que se explica, pelo menos em parte, pela aparigio, com o homem, de uma nova fase na hist6ria —&. Curso lire de Teslogio | BACHAREL RENASCER da vida: 0 uso de instrumentos artificiais, mais uma caracteristica do fenémeno humano. As lentativas de inserir © homem dentro da ordem dos primetas néo primam pela preciso, uma vez que as diferencas de detalhes sao complexas e controversas. O tamanho, e mais ainda, a complexidade do cérebro humano em relagéo ao dos primatas nao-humanos consitui © principal ponto de diferenciagéo anatémica. A postura ereta 6 também um aspecto importante. Outras caracteristicas anatémicas que distinguem o homem dos outros primatas, seja dos macacos antropdides, seja dos primatas inferiores, além do tamanho absoluto e ralativo do cérebro, sdo: 0 pd, que serve de suporte e nao é preénsil; o primeiro dedo do pé, que néo é oponivel; os maxilares, de tamanho reduzido e pouco salientes; «@ auséncia de caninos salientes e interpostos; cura lombar, bacia e pelve formadas ou modificadas para atender as fungées de equiliorio e suporte do corpo na posigéo erela; membros inferiores hipertrofiados, adaptados para 0 andar bipede; membros superiores mais curtos © operfeicoados, com méos grandes e preénseis, dotadas de dedos curtos polegar oponivel; nariz saliente com pontas ¢ asas bem desenvolvidas; auséncia completa de pelos tateis ou tentdiculos; escassez acentuada de pélo secundario no corpo, exceto na cabaca, regides axilares e pibica e no rosto dos adultos masculinos; e presenga de labios cheios, invertidos e membranosos. 1.1.5. Abordagem psicosociolégica Permanece vaga e ambigua a correlacéo entre as dimensdes fisica @ cultural do homem. Tal ambiguidade levania a davida quanto ao problema de ser 0 homem causa ou resuliado, ctiatura ou criador de seu patriménio cultural. A questo do determinismo ou da liberdade da condigéo humana extrapola 0 émbito da antropologia e convoca a uma perspectiva inovadora no campo das ciéncias humanas, trazida pela psicologia: 0 conceito psicanalitico de inconsciente, Essa nocdo, que foi a principal descoberta de Sigmund Freud, veio mostrar que o psiquismo nao é redutivel ao consciente e que cetios conietidos psiquicos 86 se fomam acessiveis & consciéncia depois de vencidas certas resisiéncios. Para a sociologia, ohomem, como ser social, 6 resultado de processes sociais e de cultura que antecedem ao aparecimento do individuo. © homem nasce com uma base organica, que © permite desenvolver-se em pessoa. Seus érgios € sentidos estabelecem © contato entre © que 6 verdadeiramenie hereditario, natural e individual, e @ vida social e a cultura, O comportamento humane dé-se num quadro de circulago permanente de informagéo. Cada homem recebe ininterruptamente estimulos diversos e diversamente organizados, cos quais responde por comporlamentos. Se isso 6 verdadeiro para qualquer ser vivo, no homem se distingue pelas propriedades de sistematizagao, de transferéncia e de significacao. 1.1.6. Abordagem antropolégica ‘A classificagéo dos seres vivos proposta por Lineu e George-Lovis Leclerc Buffon, no século XVIII, permiliu pela primeira ver integrar o homem numa série zool6gica e estudé-lo pelo método das ciéncios naturals. A espécie Homo sapiens faz parte do género Homo, © que deixa aberia a possibilidade de existéncia de outras espécies. © proprio género & SUN RENASCER Curso Lr de Teologia | BACHAREL Homo pertence & familia dos hominideos, @ ordem dos primatas, & classe dos mamfferos, ao sublilo dos vertebrados e ao filo dos cordados. Dentro da espécie, pode-se distinguir 08 grupos (negro, branco, pigmey etc.) e dentro de cada grupo as etnias (nérdica, alpina, australiana etc.), depois as sub-einias, 0s tipos ete. A classificagao do homem a partir do modelo z00l6gico introduziv o conceito diferencial de elnia e, ao mesmo tempo, tornou possivel definir a espécie por outros aspectos que do a racionalidade. Homo sapiens néo é necessariamente sinénimo de animal racional Os critérios anatémicos e fi légicos 6 que foram considerados com maior rigor para a diferenciagio da espécie. A antropologia preocupou-se também com os problemas da origem e da filiagéo da espécie, © Home sa Jo 0 elo alval de uma ou varias longas cadeias de ancestrais hominideos e pré-hominideos ¢ lalver simios. Mas a reacdo a taxionomia positivisia acabou por impor um modelo que, sem desprezar os tragos anatomo-fisioldgicos, restituiu @ antropologia geral as dimensdes mentais do homem -- psicolégicas, culturais etc. Ouira contibuigéo ao aprofundamento da perspectiva antropolégica foi o estudo do heranca cultural. Em muitos aspectos, ela que permite ao homem moldar uma vida adaptada variedade de ambientes naturais e possibilita, dentro dos limitagdes ambientais, tipos de vida que tanto podem resultar de uma escolha como de uma determinactio psicolégica interna. A heranca cultural 6 a transmisséio das caracteristicas culturais pelo ensino e aprendizagem. A cultura se transmite sob forma de padres explicitos e implictos de comportamento e em suas materializacées. © homem 4, portanto, um animal portador de cultura, seja pelo dominio da linguagem, seja pelos padres de organizacéo familiar, pelo uso de ferramentas, enfim, pelo controle de um vasto dominio de conhacimento empirico e pela presenca de elementos de ordem simbdlica, como tabus, mitos,rituais religiosos etc, Capitulo 2 ANTROPOLOGIA CULTURAL 2.1. Conceituando Cultura Em aniropologia, a palavra cultura tem muitas definigées. Coube a0 aniropélogo inglés Edward Burnett Tylor, nos pardgrafos iniciais de Primitive Culture (1871; A cultura primitive) oferecer pela primeira vez uma definigdo formal e explicita do conceito: “Cultura 6 0 complexo no qual esto incluidos conhecimentos, crengas, aries, moral, leis, costumes ¢ quoisquer outras aptidées e hdbitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.” J4 0 antropélogo americano Melville Joan Herskovits descreveu a cultura como a parte do ambiente feita pelo homem; Ralph Linton, como a heranga cultural, e Robert Harry Lowie, come o conjunto da tradigio social. No século XX, 0 antropélogo e bidlogo social inglés Ashley Montagu a definiu como © modo particular como as pessoas se adaptam a seu ambiente. Nesse sentido, cultura 6 © modo de vida de um povo, o ambiente que um grupo Curse Live de Teslogio | BACHAREL RENASCER [ig de seres humanos, ocupando um territério comum, ctiou na forma de idéias, instituigées, linguagem, instrumentos, servicos e sontimentos. $6.0 homem 6 portador de cultura; por isso, $6 ele a cria, a possvi e a transmite. As sociedades animais e vegetais a desconhecem. E um complexo, porque forma um conjunto de elementos, inter-relacionados e interdependentes, que funcionam em harmonia na sociedade. Os hébitos, idéias, técnicas, compéem um conjunto, dentro do qual os diferentes membros de uma sociedade convivem e se relacionam. A organizagio da sociedade, como um elemento desse complexo, esté relacionada com a organizacéo econdmica; os dois entre si relacionam-se igualmente com as idéias religiosas. © conjunto dessa inter-relacéo faz com que os membros de uma sociedade atuem em perfetta harmonia 2.1.1 Sentidos de cultura Assim, dentro do conceito geral de cultura, é possivel falar de culturas e, por isso, se identificam sentidos especificos segundo os quais a cultura é anitopologicamente considerada. So quatro, a saber: © primeiro sentido apresenta aqueles elementos de cultura comuns a todos os seres humanos, come a linguagem (todos os homens falam, embora se diversifiquem 68 idiomas ou linguas faladas). Séo aqueles habitos -- 0 de dormir, o de comer, o de ter uma afividade econémica - que se tornam comuns a toda a humanidade. No segundo sentido, encontram-se 0s elementos comuns a um grupo de sociedades, como o vestudrio chamado ocidental, que é comum a francases, a portugueses, a inglases. Sdo diversas sociedades que 1m o mesmo elemento cultural; um exemplo & o uso do inglés por habitantes da Inglaterra, do Ausirélia, da Africa do Sul, dos Estados Unidos, que, entre si, eniretanto, tm valores culturais diferentes. O terceiro sentido & formado pelo conjunto de padrées de determinada sociedade, por exemplo, aqueles padrées cullurais que caracterizam 0 comportamento da sociedade do Rio de Janeiro; ou as peculiaridades que assinalam os habitantes dos Estados Unidos. © quarto sentido de cultura refere-se a de modos especiais de comporiamento de um segmento de sociedade mais complexa, Uma dada sociedade possvi valores culturais comuns a todos os seus integrantes. Denlro, porém, dessa sociedade encontram-se elementos culturais restrtos ou especificos de determinados grupos que a integram. Séo certos costumes que, dentro da sociedade mullipice do Rio de Janeiro, apresentam os habitantes de Copacabana, os de uma favela ou de um subirbio disiante. A esses segmentos culiurais de uma sociedade complexa, da-se também o nome de subcultura. ‘SG esses sentidos que permitem verificar a diferenciagtio de cultura entire os diversos grupos humanos. Tal diferenciagéo resulta de processos inlernos ou exlernos, uns e oulros atuando de maneira diversa sobre fendmeno cultural 2.2. Aculturago © termo aculluracée é usade em antropologia para designa o conlato entre duas ou mais culluras diferentes, bem como as transformagées decorrentes em cada uma delas, por forga desse conialo. Os anttopdlogos, especialmente Bernard Siegel, conceituam a aculturagéo como “uma mudanga de cultura que se inicia pela conjugacéo de dois ou mais & SU) RENASCER Curso Lure de Teologia | BACHAREL sislemas culturais auiénomos”. Para eles, 0s sistemas culturais de caracteristicas proprias jé esto por si mesmos em continua transformagéio e, se dois ou mais se aproximam, surgem estimulos tanto para maiores mudancas intemas de cada um como para outras, reciprocas, 1no conjunto que se formou. Como indicadores dessas modificagées e dos significados que assumem, esses antropélogos apontam etapas como a da “transmissdo intercultural” @ a dos “adapiacées reativas”, do ojustamento por assimilagéo ou fusio. Tratam ainda de dois faios sociolagicos inerentes ao processo, © papel e a comunicagéo interculturais. Por papel intercultural entendem a fungio desempenhada pelos individuos que entram em contato, 608 quais, pelo falo de jamais dominarem todos os aspectes da pr6pria cultura, transmitem apenas parte do inventirio culural. Comunicagdio intercultural seria “o arcabouso da trama de popéis inierculturais" que prové linhas de comunicagao e de fransmissdo entre duas culturas. 2.2.1 Modalidades Véirios avtores se detém no exame das diferentes modalidades de aco ¢ reagéo no process aculturaiva. Em linhas gercis, sto contemplados casos padrio como os que seguem. Na aceitagéo, com maior ou menor cuidado e resisténcia, adotam-se componentes do cultura alheia (ndo necessariamente a dominante: © tabaco, por exemplo, entrou na Europa a partir do contato com as culturas amerindias). Na adaptagéo, uma cultura se altera para incorporar components culturais tomados de empréstimo a outro ou outros povos e de presenca constante, inavit dos aborigines de ilhas do Pacilico; muito sobrevoados pelos avides, passaram a integré-los em seus cultos, preparando-lhes rituais “de alerrissagem’ e levando-lhes oferendas. wel. E 0 caso dos cultos No corte, os agentes de uma cultura aceitam uma parcela relativamente grande de componentes culturais alheios, 0 que leva ao surgimento de dois padrées coexistentes de comportamento, usados alternativamente conforme a situagao. O corte cultural é tipico de Japdo contemporaneo. Na oposicao, as reacées vo do desprezo ou hostilidade as influéncias estrangeiras até um messianismo que se opie ao nova, como a rebelido de Canudos e outros movimentos do século XIX, no Brasil. Na fuga uma cultura fenta ignorar a outta ¢ isolar-se ao ver-se ameagada, seja restabelecendo costumes do passado, seja buscando refigio geograficamente favordvel, como seria 0 caso da “cidade perdida” de Machu Pichu, no Peru, uma provével maneira de ‘ocular dos espanhéis importantes remanescentes da civilizagi incaica, No destruigéio 0s representantes de uma cultura se esforgam, direta ou indiretamente, para exterminar aquela ou aquelas que the causem estorvo. Todas as culturas amerindias, por exemplo, foram desiruidas, total ou parcialmente, ap6s contato com as européias. 2.3 Objeto da antropologia cultural A antropologia cultural estuda 0 homem iniegrado em seu contexto social, psicolégico, biolégico, fisico e teolégico, apreciando o seu comportamento, valores, —O Curso Live de Teclogia | BACHAREL RENASCER [i hébitos, lingua e crenga. © conceito chave da Antropologia Cultural é a cultura, mostrando a sua beleza, singeleza, simplicidade, complexidade e arquitelura relacional. A antropologia cultural é © espelho do homem refletido na sociedade; ela apanha todo o sistema de valores, de comportamento, de atitudes expressées e reflete tudo isto numa expresso cultural distinta 2.4 Antropologia da Religiao E © ramo da antropologia que dedicado ao estudo das crencas religiosas do povo. A religiio é.a maior expressiio da crenga de um povo. A religido é uma das insiituigées sociais universal em todas as culturas. Toda sociedade conhecida pratica alguma forma de religido. A palavia religido vem do latim, que dizer “religar”, dando a ideia de laco, alianga, pacio, religido 6 a ligagdo do homem com Deus. Para a antropologia, “religido, sao todas {as crencas praticas em forma de doutrinas e rituais de uma religidio”. 2.5 Enoteologia Einoteologia é a drea de estudo relacionada com a apresentagao do Evangelho e os modelos culturais relevantes na cultura receplora, & a disciplina concemente a desculuralizagée (separagéio da cultura) e contextualizagée do teologia. Cada ciisiéio aprende sua teologia num conjunto cultural e logo comega a ver seu comportamento como um “comportamento cristo”, 2.6 Antropologia cultural e a Biblia A Biblia 6 0 Gnica regra de Fé e pratica, e a Gnica fonie de confianga do cristae. A veracidade e autoridade final da Biblia sobrepéem a todas ovtras ciéncias ¢ argumentos. A nica fonte fidedigna que temos sobre Deus e as coisas relacionadas « Ele, é a Biblia. A Biblia 6 a revelagée divina, possui inspiracéo divina e tem avtoridade divina. Deus se revelou a si mesmo na Biblia (2Tm 3.16). Revelacdo divina é Deus comunicando a verdade para o homem, ¢ inspiragdo divina é a influéncia divina que garante a irensteréncia fiel daquela verdade revelada. A antropologia cultural confere ao estudante de Biblia conceitos e ferramenias para compreender a culiura em que a Biblia foi escriia e consequentemente eniender melhor a passagem biblica. No campo da etnoteologia, « aniropologia cultural ajuda-nos a estabelecer uma teologia verdadeira intercultural ¢ totalmente relevante & cultura local, fornecendo ferramentas para a contextualizactio da mensagem. Este estudo da elnologia mostra que a Biblia 6 sagrada e infalivel, mas a transmissdo da mensagem esta atada a cultura. E preciso entdo distinguir o que é uma verdade biblica absoluta, eo que & um aspecto cultural expresso na passagem biblica. 2.7 Cosmo visdo e contextualizacao, Cosmo visdo € a maneira pela qual as pessoas vém ou percebem o mundo, a maneira pela qual elas entendem mundo ao seu redor e percebem sva pariicipacao e localizacéo BL BUD RENASCER Curso Livre de Teologia | BACHAREL neste mundo, & @ compreensdo pessoal da realidade ao redor e do que elas edo. Na cosmo visio animista a visto é que a terra é governada por espititos, e devido 4 esta percepgtio do mundo tudo é regulado por esta crenca, a plantagio, a colheita, @ arquitetura de suas casas, os rituais, a raligiéio, as festas e os modos de expulsar os mavs espiritos. Na cosmo visio Hindi, a vida néio esté num tempo linear comecando com © nascimento @ terminando com a morte, mas num tempo circular, onde os individuos renascem centenas e milhares de vezes. Para eles, a morte 6 apenas um ponto de reiniciar © processo circular da vida, visto que iré nascer e comecar outras vezes. Na cosmo visio espirita, @ reencarnagio e contato com os mortos e espiritos é algo natural. Na cosmo visdo catélica romana, Maria € personagem principal no eristianismo @ a que assume a meméria cultural constantemente. Na cosmo vistio humanistica, o homem € 0 centro de todo saber e de todas as coisas. Na cosmo viséo islémica, ocorre uma substiuigée das idéias do cristianismo, onde Maomé é a avtoridade méxima, o alcordo 0 livro de regras, f8 e pratica, e Deus um juiz impessoal que julgard sem dé alguma. Capitulo 3 MITOS E TEORIAS DA CRIACAO 3.1. A narrativa mitolégica Um mito é uma narrative tradicional com cardter explicativo e/ou simbélico, profundamente relacionado com uma dada cultura e/ou religiéo. © mito procura explicar 68 principais acontecimentos da vida, os fendmenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e herdis (iodas elas séo criaiuras sobrenaturais). Pode-se dizer que o mito é uma primeira tentaliva de explicar a realidade: A explicacéio mitica é contraria 4 explicagéo filosdfica. A Filosofia procura, através de discussdes, reflexes e argumentos, saber e explicar a realidade com razao e légica enquanto que o mito néo explica racionalmente a realidade, procura interpreté-la a partir de lendas e de hisiérias sagradas, néo tendo quaisquer argumentos para suporiar a sua interpretagao. ‘Ao mito esté associado © rito, que 6 0 modo de se pér em ago © mito na vide. (ex: ceriménias, dancas, oragées, sacrificios...). O terme “mito” 6, por vezes, ufilizado de forma pejorativa para se referir as crencas comuns (consideradas sem fundamento objetivo ov cientifico, @ vistas apenas como historias de um universo puramente maravilhoso) de diversas comunidades. No entanto, alé acontecimentos histéricos se pode Iransformar em mitos, se adquirem uma delerminada carga simbélica para uma dada cultura, Na maioria das vezes, 0 termo refere-se especificamente aos relatos das civilizagies antigas que, organizados, consiiluem uma mitologia - por exemplo, @ mifologia grega ¢ a mitologia romana. Curso Live de Teologia | BACHAREL RENASCER [itd Todas as culturas 18m seus mitos, alguns dos quais stio expressdes particulares de arquétipos comuns a toda a humanidade. Por exemplo, os mitos sobre a criagéo do mundo repetem alguns temas, como 0 ovo césmico, ou © deus assassinado e esquartejacéio cujas partes vao formar tudo que exist. Mito no @ 0 mesmo que fabula, conto de fadas, lenda ou saga. 3.2 Modelos de mitos cosmo génicos Apesar de sua diversidade, as concepcées miticas da origam do mundo recorrem, de modo geral, a dois modelos basicos. Criagéo por um ser supremo, os estudiosos do século XIX pensavam que o tema da criagio por um ser supremo era inerente a um esiégio cultural avangado. Pesquisas posteriores, no entanto, observaram essa crenga entre povos primitivos da Africa, ilhas do norte do Japao, América, Australia central e em muitas outras partes do mundo. A natureza desse ser supremo, que frequentemente é acompanhado de algum out, hierarquicamente inferior, difere de cultura para cultura. A criacdo se realize mediante seu pensamento, sua palavra - como na Biblia e no Popol Vuh - e, as vezes, com certo sentido de emanagéo, com seu calor e sor, Todos esses mitos, porém, possuem caracleristicas comuns: (c} O ser supremo é onisciente @ todo-poderoso; (b) © ato de criagéio & consciente, deliberado, planejado e livre, jd que a divindade do fica vinculada & criagéo; (9 A divindade desaparece até que se produza algum acontecimento catastréfico; (d) A criagdo € um paraiso que se desfaz por causa de um pecado. 3.2.1 A cosmogonia germanica No inicio dos tempos, nao existia nada além do Ginnungagap, nemem areia, mar céu ou tetra, haviam sido criados. Depois de muito tempo, um novo reino ao sul emanou, um reine chamado Muspellheimr, feito de foge, brasas ardentes e calor abrasador. No norte uma segunda regiéio, chamada Niflheimr, surgiu, e que consistia de ventos amargos, gelo ¢ neve. Ginnungagap ficava entre estes dois reinos, ¢ as dguas dos onze rios da fonte Hvergelmir ali fluiam. No meio do vécue tudo era moderado, até um dia em que os elementos de fogo e gelo colidiram, ao norte « brisa fria de Niflheimr comegou a congelaro vacuo, enquanto a parte meridional foi degelada pelo calor que emanava de Muspellheime Tudo era desordem. Mas das gotas deste grande caos, a vida emergiu, na forma de um gigante de gelo. Seu nome era Ymire os gigantes de gelo so seus descendentes. Certa ver, enquanto Ymir estava adormecido, 0 primeiro homem e mulher nasceram do suor da sua axila esquerda, e suas pemas deram & luz a um filho., Enquanto isso, 0 gelo em Ginnungagap confinuava derretendo, até que a vaca Audumla (Audumla) emergiv. Esta alimentou 0 gigante Ymir com suas quatro tetas © se sustentou lambendo seu gelo. Quando Audumla passou trés noites sucessivas lambendo BL BEd RENASCER Curso Lire de Teologia | BACHAREL 68 blocos de gelo salgado, outro ser apareceu, seu nome era Buri, ¢ seu filho Bor casou com Bestla, e desta unido surgiram Vé, Vili e Odinn (Odin), os primeiros deuses (os dois primeiros so provavelmente correspondentes a Loki e Hoenit, respectivamente). Os filhos de Bor sentiam um édio tremendo pelo gigante Ymir, e eniéio engendraram sua morte Os 1tés itmGos tomaram o cadéver de Ymir e © levaram ao centro de Ginnungagap ¢ 0 cortaram em varios pedagos. 3.2.2 Génese grega Os gregos conheciam diversas lendas sobre a origem do mundo. Homero considerava 6 tit oceano a origem dos outros deuses; as douirinas érficas, a julgar por testemunhos lardios, mencionavam Nix como o principio de todas as coisas; para Hesiodo, tudo havia comecado com Caos e Guia. Ferécides de Siros (séc. -VI) sustentava que Zeus, Crono e Gaia haviam existido sempre e, portanto, nd teria ocortido propriamente uma criagio. Outras fontes mencionam, ainda, a origem a partir de um “ovo primordial!” Todas as forcas que haviam atuado no momento da criagéio, em qualquer das versées conhecidas, eram divinas para os gregos. ‘Acosmogonia de Hesiodo. A versio contida na Teogonia de Hesiodo é, dentre todas, uma das mais coerentes bem estruturadas, além de diddtica. €, também, a mais conhecida: Caos | + Gaia Tartaro Eros Erebo Nix +. No principio, existia apenas 0 Caos (g° ...), vazio primordial e escuro que precedeu toda a existéncia; depois, surgiu Gaia, a “mée de todos’, e a seguir vieram Térlaro e Eros, e Erebo e Nix. Essas poderosas divindades primitivas comecaram a existir, aparentemente, a partir de simples desdobramentos, sem a ajuda de qualquer uniéo sexual. Originaram, posteriormente, os deuses propriamente ditos alravés de mais desdobramentos ou, enliio, “ynidos em amor”... (Hes.Th. 125). Eros e Tértaro. Assim como Caos, essas duas entidades eram mais conceituais do que corpéreas ¢ refletem 0 gosto dos antigos gregos pelas abstracdes. Eros (gr. E...), © amor, “o mais belo dentre os deuses imortais”, representa o impulso amoroso que compeliu as primeiras divindades a se unir para gerardescendéncia. Esse Eros no deve ser confundido com 0 “travesso” filho de Afrodite; trata-se, aqui, de uma forca primordial capaz de formar 0 mundo alravés da uniéio de elementos individuais.. 0 Tériaro (gt era uma espécie de abismo distante, localizado bem abaixo —O CER Curse Live de Teslogia | BACHAREL de Goia. Era uma regido de trevas profundas e elernas, onde os deuses encarceravam em geral seus maiores inimigos, como por exemplo os derrotados tits. Muito tampo depois da criagdo do mundo, quando Zeus era jé a divindade suprema, Tértaro uniu-se o Gaia e gerou o monstrveso Tifon. Depois do Periodo Classico, Tartaro tomou-se um sindnimo de Hades, nome do local para onde iam as sombras dos mortos. Pois bem, no principio nascev Caos; depois, Gaia de amplo seio, a eterna base de tudo (Hes.Th. 116-117). Gaia ou Gé (gt. Gaa / G), a tera, “mae” dos deuses e dos homens, personificava a inesgotével capacidade geradora da terra; as linhagens divinas mais importantes, os piores monsiros e também todos os homens descendem dela. Sua parlicipacdo nas lendas se caracteriza pelas infoliveis profecias, ou ento simplesmente pela capacidade de ter filhos. 3.2.3 A Cosmogonia da Mesopotamia Os povos mesopotémicos, em especial sumérios e babilénios, desenvolveram uma cosmogonia completa que se preservou em textos como © Poema de Gilgamesh e o Enuma elish, com mitos consolidados durante o terceiro e 0 segundo milénios antes da era cristé. Enire esses povos representava-se 0 inicio da criagéo como um proceso de procriagéo: os deuses feriam sido 0s elementos naturais que formaram universo, muitas vezes por meio de lutas contra forcas desagregadoras. Os babilénios, numa epopéia sobre a criagéo, glorificavam a vitéria de Marduk, o dnico deus bastante forte para derotar 0 dragéo Tiamat, personificactio do caos e das aguas do mar. Em linhas gerais, @ mitologia mesopotémica apresentava como principio do mundo Abzu e Tiamat, elementos masculino e feminino das dguas, origens do universo celeste & lerresire, Tiamat produziv o céu, de que nascev Ea (0 conhecimento magico), que engendrou Marduk. Este derratou os outros deuses e dividiu © corpo de Tiamat, separando assim 0 céu da Terra e, com 0 sangue de um monsiro derrotado, produziu o primeiro homem. 3.2.4 A Cosmogonia da América Os onondagas, povo ave habitava a regido que posteriormente seria o estado de Nova York, nos Estados Unidos, elaboraram uma cosmogonia mitica inteiramente particular, Em ess6ncia, 0 relato pode assim se resumir: 0 grande cacique das pradarias celestiais cansou- se de sua mulher e langou-a ds infinitas 4quas turvas. Ela pediv ajuda aos animais marinhos para que retirassem o barro do fundo do mar. © sol secou o barro e pdde instalar-se nele a Mulher celestial, ov o grande mae Terra. Enite 0s povos americanos foram provavelmente os maias que desenvolveram um mito mais coerante sobre a origem do mundo. Sua explicacéo remonta ao principio Ultimo e concebe a criagdo em 13 etapas. Na primeira, Hunab Ku, o deus uno, fez-se a si mesmo e criou 0 céu e a terra, Na décima ferceira, tomou terra e agua, misturou-os e desse modo foi moldado © primeiro homem. Mesmo assim, os maias consideravam que varios mundos se & Gi} RENASCER Curso Lure de Teologia | BACHAREL haviom sucedido ¢ que cada um deles se acabou em consequéncia de um dildvio. © Popol Vuh, dos povos maias, constitui uma extraordindria narrativa sobre a criagéio do primeiro homem a partir do milho. Em outras religides amerindias, as crencas @ mitos césmicos também se relacionam com os elementos da natureza. Para os incas, 0 lugar da criagéo do homem pelo deus Huiracoché situava-se perto do lago Titicaca. Os astecas, segundo o Cédigo matritense, situavam em Teotihuacan a catastrofe csmica que pés fim a idade anterior Nesse lugar, 08 deuses se reuniram para deliberar quem se lancaria na foqueira para transtormar-se em Sol, © que foi conseguido pelo humilde Nanahuatzin No Brosil, @ cosmogonia dos indios se reporta a um criador do céu, da Terra e dos animais (0 Moné dos tupinambés} ¢ a um criador do mar, Ama Atupane, talvez Tupa, entidade mitica que os jesuttas consideraram a expressiio mais adequada da ideia de Deus surgida nos dominios da catequese. 3.3 A Teoria Big Bang © Universo no surgiv em uma grande exploséo - pelo menos néo da forma como uma bomba explodiria, O terme big-bang - (“grande explosao", em inglés) foi escolhido como a mais simples definigéo do modelo cientifico que afirma que, hd bilhes de anos, todo 0 Universo estava concentrado em um espaso tao exiguo que faria qualquer particula parecer gigantesca. De um inicio muito mais quente que o inferno @ incrivelmente mais apertado que um nibus as 6 da tarde, o cosmo passou a se expandir e.c esfriar rapidamente. Essa “explosao” teria ocorrido em todos os pontos do Universo ao mesmo tempo. O segundo erro é ainda mais grave: nenhum cientista é capaz de dizer o que existia antes do big-bang, Pode até ser que realmente néo houvesse nada, mas néo é impossivel que existisse alguma coisa. O fato & que essa quesidio ainda desafia as menies mais brilhantes do planeta. Para chegar até aqui, a aslronomia precisou de milénios de pesquisa e perspicdcia. Mas, nos bastidores, « histéria de uma das maiores teorias de todos 98 fempos também traz relatos de intriga, vaidade, fugas espetaculares, bobogens. 3.3.1 100% Periferia Para conhecer a histéria completa do big-bang, ¢ preciso voltar ao século 4 .C. Isso porque © primeiro passo em direcdo a ele foi dado por um filésofo arego, Aristarco, que propés uma idéia ousada: a Terra néo seria 0 centro do Universo, mas giraria em tomo do Sol. © modelo foi considerado ridiculo e ficou esquecido por 2 mil anos, até que um polonés atrevido esctevau sobre as revolucdes das esferas calestes. Nicolay Copérnico, o autor do tratado, voltou-se contra a teoria dominante do grego Ptolomeu, segundo a qual a Tera estaria no ceniro de tudo. A obra de Copémico saiu em 1543 - e s6 endo ele percebeu uma terriveliraigéio. No prefécio, escrito sem 0 seu consentimento, sua teoria era apresentada como *néo necessariamente verdadeira nem ao menos provavel” e a hipotese de que o Sol estava no ceniro do Universo era considerada “absurda”. A punhalada sé foi possivel porque, durante a impressdo do livro, ele estava de cama se recuperando de uma we CER Curse Live de Teslogia | BACHAREL hemorragia. Morreu no dia em que recebeu a edigio. Ao longo das décadas seguintes, na Dinamarca, um astrénomo chamado Tycho Brahe hovia ganho tanta reputacde que o rei Frederico Il deu a ele uma ilha e dinheiro para construir um observatério. Apesar das lunetas, a especialidade da ilha eram as festas. Pessoas importantes eram convidadas para ceriménias animadissimas, que contavam com a presenca de Jeep, um anéo que fazia as vezes de bobo da corte. Em 1588, com a morte do rei, Brahe perdeu seus privilégios. Acabou tendo de abandonar o castelo (e badalagéo) e migrou para Praga, onde conheceu o aleméo Johannes Kepler. Era uma dupla perfeita: Brahe fazia as mais precisas observacées da época. E Kepler, que seria o melhor iniémprete desses dados, descobriu irés coisas fundamentais: os planetas néio se movem em circulos, mas em elipses; a velocidade desses planetas varia confinuamente e © Sol no esté exalamenie no centro dessas érbitas. A suspeita se confirmou com as pesquisas do italiano Galileu Galilei, um catélico devoto que tirov proveito das recém-inventadas lunetas. Ele percebeu que havia Ivas em tomo de Jlipiter, o que era uma prova incontestével de que a Terra nao era 0 centro do Universo, acabou condenado pela Inquisigio 4 pristio domiciliar. 3.3.2 Contra Einstein Antes de se tomar o mais famoso fisico de sua época - @ uma referéncia para os séculos seguintes - 0 inglés Isaac Newion feve uma infancia conturbada. Seu pai havia morrido trés meses antes do seu nascimento. A mée se casou com um homem mais valho, que ndo permitiu que o garoto Isaac morasse com eles. Abandonado, Newion se tomou um homem amargo e ds vezes cruel a ponto de, quando se tornou inspetor da Casa da Moeda britanica, mandar enforcar e esquartejar os falsificadores que tiveram o azar de passar pela sua frente. Mesmo assim, consiruiv as fundagdes de uma nova ciéncia. A sua lei da gravidade, de 1666, ensina que todo objeto no Universo altai outro objeto. "O poder da formula 6 resumir tudo o que Copérnico, Kepler e Galileu vinham tentando explicar sobre o sistema solar", escreveu o inglés Simon Singh em Big Bang, um livro que descreve a historia dessa explostio. Ou seja, uma magi cai no chéio néo porque se dirige a0 centro do Universo, mas porque a Terra e a macd tém massa. Assim, a lei explicava, por exemplo, por que os planetas fazem uma érbita eliptica em tomo do Sol © que havia sido demonstrado por Kepler. As descobertas permitiam que os cientistas entendessem o funcionamento de quase todas as estrolas que conseguiam ver na época, mas néo dava a minima pista de onde saiu aquilo tudo. Um grande passo nessa direcdo veio em 1915, quando 0 alemdo Albert Einstein, entéio [4 famoso © acostumado a revolucionar a fisica, resolveu mudar tudo de novo @ apresentou sua teoria da relatividade geral. No centro dela estava a nogio de que fanto 0 tempo como 0 espago sdo flexiveis e deforméveis por fatores como velocidade, energia e gravidade. $6 tinha um problema: como 0 Universo era molengao e as estrelas se atraiam todo 0 espago jé deveria ter se curvado e desabado sobre si mesmo, a ideia parecia ridicula, “Einstein tinha ideias em cosmologia completamente reacionarias. Era um homem do século 19, quando todos achavam que o Universo tinha um fim ¢ estava parado desde sempre", diz 0 fisico Mario Novello, presidente do Instituto Nacional de Cosmologia, & GL} RENASCER Curso Le de Teologia | BACHAREL ite! Relatividade e Astrofisica. Einstein elaborou entéio o que ele mesmo depois considerou a maior bobagem de sua carreira: alterou as equagées para que elas se encaixassem na sua Vistio de um Universo que néo cresce nem diminui. Em 1927, ouviu deste um veredito nada animador: “Seus calculos estéo corretos, mas a suc fisica € abomindvel”. A teoria teria de esperar mais alguns anos antes que fosse aceita - inclusive por Einstein. 3.3.3 Tudo se Expande © comeso do século 20 foi marcado no apenas pelo surgimento da relatividade, mas também pela consirugdo de telescépios grandes e modemos. © ameticano Edwin Hubble foi o nome mais conhecido dessa safra de observadores. Em 1923, trabalhando no Observatdrio de Monte Wilson, na Califémia, Estados Unidos, ele identificou uma cefeida (um tipo de estrela) em uma nebulosa e mostrou que ela estaria localizada muito longe do Via Léclea. Isso provou que née habitamos a nica galéxia do Universo. Mas © passo mais importante comecou a ser dado em 1929, quando Hubble percebeu que as estrelas mais afastadas da Terra sao aquelas que esto se afastando mais rapidamenta. O Universo estaria, portanto, se expandindo. Hubble, no entanto, deixou claro que o problema dele era coletar os dados - e nunca se propés a teorizar sobre isso. Ele preferia os holafotes de jomais e TV’s, pois agora também era uma celebridade Com prova de que © Universo estava se expandindo nas més, 0 trabalho dos teéricos passou a ser “relroceder no lempo" para tentar descobrir como exalamente chegamos aié aqui. © ucraniano George Gamow era uma das figuras centrais dessa “arqueologia do cosmos", mas a interferéncia politica dos governantes soviéticos nas pesquisas cientificas fez com que ele e a mulher resolvessem fugir de seu pais. Depois de duas tentativas fracassadas - na primeira, pretendiam alravessar © Mar Negro em um caiaque - eles finalmente conseguiram e, em 1940, chegaram aos Estados Unidos. 3.3.4 E Antes? AAs teorias sobre a gravidade niio baslavam para ir akim das descobertas de Gamow. O inicio do Universo seria tao quente e pequeno que, para entendé-lo, era necessdrio usar 8 conhecimentos da mecéinica qudintica, que descreve 0 comportamento das coisas nessa escala. A medida que os cientistas descobriam quarks, leptons, mésons e um enorme némero de particulas subatémicas, novos elementos foram encaixados no retrato do inicio de tudo. Hoje, os cientistas acreditam ter esclarecido como era o Universo até 10-43 segundos depois do Big-Bang ('ss0 significa 0 némero 1 colocado 43 casas depois da virgula, ou um tempo ta pequeno que nem vale a pena fentar visualizar). A situagéo se complica mais cada ver que alguém raz novas evidéncias. No final dos anos 1990, por exemplo, descobriu-se que o Universo ndo sé aumenta, como esté acelerando. Alguma forca - até agora chamada de “energia escura' - esté empurrando 0 cosmo, mas ninguém sabe muito bem 0 que 6, nem o que ela fez desde o big-bang. (© grande mistétio agora € outro: © que havie antes do Big-Bang? “Para Einstein, s6 —O CER Curse Live de Teslogia | BACHAREL existia 0 nada. Mas, segundo a mecéinica quantica, & possvel criar novos espagos - tempos. Isso significa que pode ter havido alguma coisa’, diz o fisic Elcio Abdalla, da USP. Nessa ponto, 4 discusséio comega a tomar-se cada vez menos cientilica e parece até voltar a um estagio anterior aos gregos, quando os mitos explicavam todo o Universo. Para a ciéncia deste comego de século 21, parece um fim de linha, mas esses obstaculos so sempre provis6rios. Capitulo 4 A BIBLIA E A CRIACAO 4.1 Como a criagao biblica ¢ considerada? Como considerar a descrigio da criagéo pela Biblia? Ciéncia, fébula ov revelagio? Se, por ciéncia, entendermos a disposictio sistematica dum ramo do saber, diremos, entdo, que a descrigdo nada tem de “cieniffico". E ainda bem, pois se fosse villizade a linguagem cientifica do século XX, como a entenderiam os leitores dos séculos precedentes? E mesmo 0 atuais necessitariam duma adequada preparacao cientifica. Nesse caso ainda, nao seria de prever que passados cem ou duzentos anos fosse j@ considerada antiquada aquela linguagem? A narragéo do Génesis néo foi, portanto, redigida em moldes cientificos, talvez para melhor mostrar sua inspitagdo divina. Poderiamos, no entanto, fazer a seguinie interrogagéo: Nao sendo cientifica quanto a forma, serd a descricéo do Génesis cientifica quanto & substancia, ou quanto ao contetido? Graves confltos tém surgido entre prematuras conclusdes da ciéncia e supostas dedugdes cientificas da Escritura, Mas esudos ulteriores 1m vindo provar que, por um lado, nao eram vélidas as conclusées cientilicas, ou, entéo, por outro, eram mal interpretadas no texto as afirmagées cientificas. Quanto a suporse uma fabula a narragéo do Génesis, quer no sentido popular, aver no sentido cléssico, nao 6 facil de admitir-se. Pois no primeiro caso trata-se duma cobra puramente imagindria, e no segundo duma exposigéo simbélica dum fato com cerlas verdades abstratas, que de outro modo seriam incompreensiveis. Trata-se, sim, duma narragdo dos acontecimentos que ndo seriam compreendidos, se fossem descritos com a precisdo formal da ciéncia. E neste estilo simples mas expressivo que a divina sabedoria se manifestou claramente aos homens, indo assim ao encontro das necessidades de todos os tempos. Os fatos apresentam-se numa linguagem abundante e rica, que é possivel incluir todos os resultados das pesquisas cientiicas, © primeiro capitulo do Genesis néo hd davida que supe a revelacao divina. Pelas muitas versées, alguma delas correntes jé entre os pagéos da antiguidade, é facil concluit- se que esta revelacdo é anterior a Moisés. Nao deve, no entanto, considerar-se como uma nova versdo das tradicées politaistas dos fenicios ou dos babilénicos; porque acima de tudo «@ obra criadora de Deus s6 por Deus poderia ser revelada. E essa revelacéo nao deixou de ser praservada de qualquer contaminacéo paga ou corrupcéo supersticiosa, encontrando- se perfeita e inviolavel nos cinco livros de Moisés. BL BED RENASCER Curso Lire de Teologia | BACHAREL 4.2 A Teoria Geoldgica da Criagao (TGC) O Livro do Génesis, capitulos 1 @ 2, revelou a origem do mundo mais de dois milénios antes que a ciéncia viesse a decifrd-la e de acordo com os teéricos da "Teoria Geolégica da Criagéo" os dias da semana sao divisdes do tempo, da mesma forma que anos e eras € que a substituicao de um pelo outro néo altera em nada o sentido do texto, cujo foco 6 colocar Deus como origem da eriagGo. Segundo os teéricos da TGC autor quer dizer que Deus criou o mundo e néo como Deus criou e em quanto tempo a criacéo foi consumada. A aco criadora em seis dias © © descanso no sélimo tem por objetivo claro a instituigo sagrada do repouso dominical (sabado para o judatsmo), néio o tempo gasto por Deus para fazer os elementos da Criagio. Quando se entender que os dias foram utilizados para descrever as fases da criagéo, cada uma perdurando milhées de anos, nota-se que a descri¢éio do Gn 1 esté perfeitamente de acordo com a ordem em que 0 mundo foi criado, segundo a Ciéncia. A intencéo do autor 6 clara como elemento teolégico: Tudo vem de Deus, para quem o tempo é eterno. Supdem que considerando-se Gn 1 néo como relato jornalistico preocupado em descrever como Devs criou, mas como uma afirmacéo de #6 do autor sobre quem criou © mundo @ 0 que 6 o homem, o texto inspirado ganha abrangéncia @ néo conflita com 08 conhecimentos atuais que atestam a existéncia do mundo hé 13,7 bilhdes de anos e co aparecimento do homem no mundo hé cerca de 70100 milhdes de anos. O tempo na Biblia & um tempo légico, ndo cronolégico. A divistio das agées divinas em dias e noites € outta evidente forma literdria, facil de ser percebida, visto que © autor fala em primeiro, segundo e terceito dia, antes que estes existissem. 4.3 A Teoria da Lacuna Baseados em motives meramente te6ricos, varios comentadores supdem que a criagio original de Deus foi destrvida por uma torivel caldsirofe. Assim o verso | descreve ato inicial de Deus, que deu a existéncia ao universo; o verso 2 0 estado desse universo arruinado “sem forma e vazio", se bem que nao se faca avalquer aluséo & catistrofe provocadora dessa ruina; os restantes versos fazem uma andlise da obra de Deus na reconslitvicdo desse universo. Trata-se duma teoria, ainda hoje muito seguida, para resolver cerlos problemas que, no fim de conlas, confinuam insoldveis, e é contestada por forles argumentos linguisticos. A chamada teoria da “lacuna” ndo assenta em bases firmes © 6 desmentida pela propria Geologia. 4.4 Exposigéo biblica da Criagéo Séo duas as palavras com que a Escritura designa a agéo criadora de Deus: bara’ (criar) © ‘asah (fazer). A primeira 6, sem divida, a mais importante, @ aparece, sobretudo nos versiculos 1,21,27, ou seja, quando se pretende frisar 0 inicio de todos os seres em geral, dos seres animados e dos seres espiritvais, respectivamente. O cerio & que nao ha possibilidade de exprimir, por palavras humanas, essa obra maravilhosa de Deus, que —&. Curso lire de Teslogio | BACHAREL RENASCER transcende toda a ciéncia, por muito profunda e completa que seja. O significado exato de bara’ nao é facil de determinar. Numa das suas formas significava originariamente “corlar, separar” e passou a ser uilizada apenas para indicar a ago divina de trazer & existéncia algo inteiramente novo. No vers. | a idéia de criagdo exclui maleriais jd existentes, podendo eniio dizer-se que as coisas foram produzidas “do nada’. Mas nos vers. 21 ¢ 27 nada obsta «a que se fenham utiizado materiais preexistentes. O principal é sublinhar o significado de bara’ que apenas supde a produgio dum ser, completamente novo, que antes néo exist. 4.4.1 Os dias da Criagao E que dizer dos “dias” em que se operou a criagtio? Ha quem suponha tratar-se de dias de 24 horas, uma vez que se mencionam tardes e manhés, ou entéo admitirse apenas uma visio dramatica, jé que a historia se apresentou a Moisés numa série de revelacées, que duraram seis dias. Sugestées interessante e curiosas, sem divida, mas que ndo passam de conjeturas, o mesmo sucedendo a leoria moderna, segundo a qual o “dia” representaria uma idade geoldgica. Para isso vamos dizer que o sol, supremo regulador do tempo planetério, rndo existia durante os primeiros tés dias; de resto, a palavra “dia” em 2.4 estende-se aos seis dias da criagéo; por outro lado, em diferentes textos da Escritura 6 mesmo vocdbulo relere-se «a periodos de tempo ilimitado, como no SI 90.4. A principal dificuldade que se levanta contra esta lima interpretagdo € a alusdo a “iarde" e a “manha", mas pode admitir-se que a obra do criagio figuradamente soja coracierizada por épocas bem definidas. E espiritual e religioso 0 objetivo da narragdo de Gn 1. A formagao dos seres vem manifestar as relagées entre Deus e as criaturas de sorte que sé a fé as compreenderé devidamente: “Pela fé entendemos que os mundos pela Palava de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vé nao foi feito do que é aparente” (Hb 11.3). S6 0 crente, porianto, compreenderé 0 alcance da narragio; mas néo admira que por vezes surjam hesitagées, perante as dificuldades de interpretacéio. Mas a narrativa tem ainda um sequndo objetivo: o de pér o homem em contato com toda a criacdo, ou melhor, o de colocé-lo em posicéio de primazia perante todos os seres criados, Por isso vemos Deus « agir gradualmente na Sua abra criadora, que atinge, com a formagéio do homem, o ponto culminante dessa obra-prima de Deus. 4.4.2 A revelacéio de Deus e a Criacéo Deus se revela na Biblia como um ser infinito, etemo, auto-existente e como a Causa Primdria de tudo 0 que existe. Nunca houve um momento em que Deus nao exislisse, Conforme afirma Moisés: “Antes que os montes nascessem, ou que tv formasses a terra @ © mundo, sim, de etemidade a etemnidade, tu é Deus" (S| 90.2). Noutras palavras, Deus existiv eterna e infiitamente antes de criar 0 universo finito. Ele & anterior a toda criagio, no céu ena terra, esta acima e independe dela (11m 6.16; Cl 1.16). Deus se revela como. um ser pessoal que criou Addo e Eva “a sua imagem” (Gn 1.27). Porque Adio ¢ Eva foram criados & imagem de Deus, podiam comunicar-se com Ele, e também com Ele ter comunhéo de modo amoroso e pessoal. Deus também se revela como um ser moral que BL BEd RENASCER Curso Lire de Teologia | BACHAREL criou tudo bom e, portanto, sem pecado. Ao terminar Deus @ obra da criagdo, contemplou tudo © que fizera @ observou que era “muito bom” (Gn 1.31). Posto que Addo e Eva foram criados & imagem e semelhanca de Deus, eles também néo tinham pecado (Gn 1.26). pecado enirou na exist@ncia humana quando Eva foi tentada pela serpente, ov Satands (Gn 3; Rm 5.12; Ap 12.9). 4.4.3 Atividade de Deus na Criagao. Deus criou todas as coisas em “os céus ¢ a terra” (Gn 1.1; Is 40.28; 42.5; 45.18; Mc 13.19; Ef3.9; Cl 1.16; Hb 1.2;Ap 10.6). O verbo “criar” (hb.“bara”) é usado exclusivamente em referéncia a uma atividade que somente Deus pode realizar. Significa que, num momento especitico, Deus criov a matéria e a substéncia, que antes nunca existiram (Gn 1.3). A Biblia diz que no principio da criagéo a terra estava informe, vazia e coberta de trevas (Gn 1.2}. Naquele tempo o universo nao tinha a forma ordenada que tem agora. O mundo estava vazio, sem nenhum ser vivente e destituido do minimo vestigio de luz. Passada ssc etapa inicial, Deus criov a luz pare dissipar as trevas (Gn 1.3-5), dev forma ao universo (Gn 1.6-13) e encheu a terra de seres viventes (Gn 1.20-28). O método que Deus usou na criagao foi o poder da sua palavra. Repetidas vezes est declarado: “E disse Deus..." (Gn 1.3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26). Noutras palavras, Deus falou e os céus e a terra passaram a existir. Antes da palavra criadora de Deus, eles néo existiam (SI 33.6,9; 148.5; Is 48.13; Rm 4.17; Hb 11.3) Toda a Trindade, e néo apenas o Pai, desempenhou sua parte na criagio. O proprio Filho é « Palavra (*Verbo") poderosa, através de quem Deus criou todas as coisas. No prélogo do Evangelho segundo Jodo, Cristo 6 revelade como a etema Palavia de Devs (Jo 1.1). “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). Semelhantemente, o apésiolo Paulo afirma ave por Cristo “foram criadas odas as coisas que hé nos céus € na terra, visiveis e invisiveis.. tudo foi eriado por Ele & para Ele" (Cl 1.16). Finalmente, o autor do Livro de Hebreus afirma enfaticamente que Deus fez 0 universo por meio do seu Filho (Hb 1.2). Semelhanlemente, o Espirito Santo desempenhou um papel alivo na obra da eriacio. Ele € descrito como “pairando” (‘se movia") sobre a criagdo, preservando-a e preparando-a para as otividades eriadoras adicionais de Deus. A palavra hebraica traduzida por “Espirito” (ruah) também pode ser traduzida por “vento” e “félego". Por isso, 0 salmista testiica do papel do Espirito, ao declarar: “Pela Palayra do Senhor foram feitos os céus; ¢ todo © exército deles, pelo espirito (rah) da sua boca” (SI 33.6). Além disso, o Espirito Santo continua a manter e sustentar a criagtio (16 33.4; SI 104.30) 4.4.4 O propésito e 0 alve da criacéo Deus criou os céus e a terra como manifestagéo da sua gléria, majestade e poder. Davi diz: “Os céus manifestam a glétia de Deus e 0 firmamento anuncia a obra das suas mos" (SI 19.1; ef. 8.1). Ao olharmos a totalidade do cosmos criado desde a imensa —&. Curso lire de Teslogio | BACHAREL RENASCER expansdo do universo, & beleza e & ordem da natureza ficamos tomados de temor reverente ane a majastade do Senhor Deus, nosso Criador. Deus criou os céus e a terra para receber a gloria e a honra que Ihe sio devidas. Todos os elementos da natureza e.g., 0 sol e a lua, as érvores da floresta, a chuva e a neve, 05 rios e 08 cérregos, as colinas e as montanhas, os animais ¢ as aves — rendem louvores a0 Deus que os criou (SI 98.7,8; 148.110; Is 55.12). Quanto mais Deus deseja © espera receber gléria e louvor dos seres humanos! Capitulo 5 TEORIAS DA ORIGEM DO HOMEM. 5.1 A Teoria da Evolugdo A teoria da evolugao, também chamada evolucionismo, afirma que as espécies animais @ vegetais existontes na Terra no sdo imutéveis, mas sofram ao longo das geracées uma modilicacéo gradual, que inclui a formagio de racas ¢ espécies novas. Aié 0 século XVIII, o mundo ocidental aceitava a doutrina de criacionismo, segundo a qual cada espécie, animal ou vegetal, finha sido criado independentemente, por ato divino. O pesquisador francés Jean-Baptiste Lamarck foi dos primeiros a negar esse postulado € a propor um mecanismo pelo qual a evolugio se teria verificado. A partir da observagéo de que fatores ambientais podem modificar certas caracteristicas dos individuos, Lamarck imaginou que tais modificagées se transmitissem € prole: os filhos das pessoas que normalmente tomam muito sol j& nasceriam mais morenos do que os filhos dos que néo tomam sol. Chegava, mesmo, a admitir que era a necessidade de adaptar-se ao ambiente que fazia surgir nove caracteristica, a qual, uma vez adquirida pelo individvo, se transmitiria «a sua prole. Em contraposigéio, a inutilidade de um érgao faria com que ele terminasse por desoparecer. A necessidade de respirar na atmosfera teria feito aparecer pulmées nos peixes ve comegaram @ passar pequenos perfodos fora d’égua, o que teria permitido a seus descendentes viver em tera mais tempo, fortalecendo os pulmées pelo exercicio; as brdnquias, cada vez menos uilizadas pelos peixes pulmonados, terminaram por desaparecer ‘Assim, o mecanismo de formagao de uma nova espécie seria, em linhas gerais, 0 seguinte: alguns individuos de uma espécie ancestral passavam a viver num ambiente diferente; © navo ambiente criava necessidades que antes nao existiam, as quais 0 organismo satisfazia desenvolvendo novas caracteristicas hereditarias; os portadores dessas caracteristicas passavam a formar uma nova espécie, diferente da primeira. A doutrina de Lamarck foi publicada em Philosophie zoologique (1809; Filosofia 200l6gica), € teve, como principal mérito, suscitar debates e pesquisas num campo que, alé eniio, era dominio exclusive da filosofia e da religido. Estudos posteriores demonstraram BL BAD RENASCER Curso Live de Teologia | BACHAREL que apenas © primeiro postulado do lamarckismo estava correto; de fato, 0 ambiente provoca no individu modificagées adaptativas; mas os caracteres assim adquiridos néo se transmitem a prole. Em 1859, Charles Darwin publicou The Origin of Species (A origem das espécies), livro de grande impacto no meio cientifico que pés em evidéncia o papel da selecao natural no mecanismo da evolugdo. Darwin partiu da observagéie segundo a qual, dentro de uma espécie, os individuos diferem uns dos outros. Hé, portanto, na luta pela existéncia, uma competicio entre individuos de capacidades diversas. Os mais bem adaptados séio os que deixam maior niimero de descendentes Seaproleherda os caracteres vantajosos, os ndividuos bem dotados véo predominando nos geragdes sucessivas, enquanto os tipos inferiores se vo extinguindo. Assim, por efeito da selegio natural, a espécie aperfeicoa-se gradualmente. Entretanio, 0 sentido em que age a selegdo natural é determinado pelo ambiente, pois um cardter que é vantajoso num. ambiente pode ser inconveniente em outro, Os individuos que t8m © corpo recoberto por uma espessa camada de pélos levam vantagem num clima frio, mas estéio menos adaptados « um clima quente. Se uma espécie tem individuos dos dois tipos (peludos desprovides de palos), a selegiio natural faré com que venham a predominar os primeiros nas regiées frias e os outros nas regides quentes Isso seré o inicio da diferenciacao de duas racas que, tornando-se cada vez mais diferentes, acabaréo por constituir espécies distintas. 5.1.1 O que sugere a teoria da evolucéo? O mundo que nos rodeia revela dois aspectos notaveis. Em primeiro lugar, existe uma surpreendente variedade de plantas e animais cenlenas de milhares de espécies diferentes, mais organizadas em ordem perfeita, com uma clara diviséo em familias que compariilham certas qualidades. Cada espécie existente possvi caracteristicas invariéveis que Ihe so proprias. Em segundo lugar, existe um certo abjeliva na existéncia do mundo, lodos os aspectos de cada ciatvra, como a sua conduta, estdo destinados a um propésite especifico, por exemplo, a sobrevivéncia individual ou a continuagio da espécie. Assim, as formas com que cada individuo interage com outros em sua espécie 1ém uma razio definida. Igualmente existem molivos nas relagies entre espécies diferentes e, ainda, entre a vida vegetal ou animal e © seu meio. © estude destas relagdes € o objetivo da ecologia. A teoria da evolucéo se esforca para explicar estes dois aspectos do nosso mundo — a infinita e organizada variedade de espécies existentes. Darwin formulou a teoria da evolugéio baseando-se em certas descobertas cientificas. Sue teoria sustenta, em resumo, que “que no principio houve maiéria inerte". Ele acreditava que 4 conjungéio casual de certos produtos quimicos dev origem a um composto que, por sua estabilidade e caraclersticas superiores, adquiriv a capacidade de sobreviver, adaptar- s0 e reproduzirse, Em outras polavras, esta subsiéncia inicial finha a capacidade de criar —O CER Curse Live de Teslogia | BACHAREL outros composios do mesmo tipo por meio de processes fisicos e quimicos comuns. Islo é © que chamamos de “a primeira célula”, Por meio de sucessivas reagées quimicas e mudancas no meio ambiente, o composto adquiriu uma crescente complexidade. Através de bilhdes de anos, sofreu inumerdveis mutagées, adquiriu novas caractersticas, até que, finalmente, resultou na estrutura quimico- fisica que conhecemos como “homem”. Todas as formas de vida existentes na atualidade sGo apenas estigios da evolugio casual da mesma matéria inerte. A infinita variedade de espécies ¢ explicada pela grande quantidade de aliteracées ocorridas, casualmente, em diferentes meios circundantes. As similaridades enire as espécies devem-se ao fato de que a vida evolviv a partir dos mesmos produtos auimicos. Como se produziram exatamente estas mudangas @ © que as originov? As explicagdes para fais perguntos foram diferentes em cada época. As teorias de Darwin como foram inicialmente enunciadas foram rapidamente refuladas pelas evidéncias cientificas A teoria atualmente em pauia é a denominada “neodarwinismo” e est6 baseada no conceito das mutagées, alteragSes repentinas e casuais nos cédigos genéticos transmitidos @ uma nova geracdo, causadas por um “erro” da natureza. Esses emos podem ser evidenciados, por exemplo, no nascimento de cordeiro com duas cabecas, ou de uma crianga sem membros, devido a alguma droga administrada @ sua mae. Segundo esta teoria, supée-se que as mutagées operam em conjunto com outros dois mecanismos: a sobrevivéncia do mais apto e a adaptagdo as mudancas do meio. Sao estes fatores que deram origam ao mundo que conhecemos alualmente através da “selegéo natural” 5.1.2 Passando a limpo a teoria da evolucao O maior enigma quando nos deparamos com uma nova maquina de complexo e suave funcionamento, projetada para um determinado fim, € explicar como ela foi produzida. Digamos que o primeiro astronaula na Lua fivesse encontrado ali instrumento relafivamente simples. Suponhamos que ele tivesse achado um relégio, onde cada pare esivesse integrada {8 outtas e, juntas, produzissem uma agtio para um fim determinado: girar seus ponteiros num Ciclo constanie. Teria ele exclamado: “como é maravilhoso que isso tenha sido criado pelas leis do naturezal” se alguém escuta um concerto para piano, pensaria, por acaso, que poderia fer sido composto por um gato pulando sobre as tedas em uma ordem casual? Poderiam macacos adestrados para usar uma maquina de escrever datilografar sozinhos as Escrituras Sagradas, mesmo num lapso de milhdes de anos? A eoria da evolugao sustenta que todo ser vivo foi ctiado por um processo casual, por uma série de erros ou acidentes nas transferéncias dos cédigos genéticos de uma geractio para a seguinte. Esta idela 6 téo absurda quanto as antigas crengas pagiis, sobre as quais hd muito tempo disse Rabi Akiva: “tal como a constructio é 0 tastemunho do construtor, assim o mundo é testemunha do criador”. Mesmo em termos mateméticos modemos, os defensores da teoria da evolugéo admitem que a probabilidade de que a molécula inicial foi criada por acaso é uma em 10, isto é, um sobre 10 seguido por 251 zeros! E esta inexpressiva, mindscula probabilidade & Gi RENASCER Curso Lure de Teologia | BACHAREL de que este primeito elo hipoiético houvesse sido produzido. Desde este principio até a formacéio do homem se estende, por certo, uma colossal cadeia de probabilidades. Mesmo se todos 08 outros “fatos” que validam e susientam essa teoria fosse comprovado, © que 1ndo ocorreu, seriamos capazes de negar as conclusées da matemética? Além disso, @ evidente que a teoria da evolugdo néio dé uma resposta @ questo bdsica de quem criou a vida, ou seja: quem criou o primeira dtomo® Hoje, sabemos que mesmo o dtomo mais simples é tao complexo, que o homem néo estd em condigées de compreender seus segredos. © ganhador do prémio Nobel, Francis Crik, cujo trabalho sobre as mutagdes exerceu uma grande importéincia em relagéo as evidéncias da teoria da evolucdo, discutiv esse problema em um artigo recente. Afirmou que chegou a conclusdo de que a evolugéo da vida sobre a terra pode ser eniendida nos termos admitidos pela teoria de Darwin. Ele sugeriu a feoria da impregnagio universal, a qual alirma que « origem da vida sobre a terra deve-se a criaiuras de oviros planetas que transportaram as sementes da vida ao nosso. Porece ignorar que simplesmente fransferiu © problema a outro plano. Quem criou eslas hipotéticas criaturas do espago exterior? Voliemes 0 uma anélise cienifica da probabilidade da teoria da evolugio do ponto de vista de uma das leis da natureza, comumente considerada como uma das mais fundamentais: @ segunda lei da lermodindmica. Em termos mais simples, esta lei afirma que todo proceso natural que opera de forma auténoma “provoca um estado de maior desordem que quando comegou". Em outras palavras, na natureza todo processo esponténeo aumenta sua desorganizagdo e acarreta uma dissipagéo de energia. Se jogarmos cem ilhées de bolas de bilhar sobre uma enorme mesa, a probabilidade de que formem um quadrado, aleatoriamente, é zero em comparagie de que sua configuragéo final néo mostre nenhuma ordem. Segundo esta lei da natureza, se dese[dssemos que estas bolas continuassem colidindo entre si perpetuamente, sem interferéncia alguma, elas criariam uma situacéo de crescente desordem. Ndo podemos esperar que formem, repentinamente, por exemplo, uma linha reta. A forma com que uma barra de acicar se dissolve em uma xicora de ché quente é outro exemplo desta lei em agtio. Quiro exemplo, ainda, 6 misturar uma colherinha de dgua fervente em um copo de agua fria. Isto produziria uma temperatura uniforme intermediaria em todo 0 copo. Nao teria sentido cientifico sustentar que um setor do copo de 100°C e outro, de 0°C. Isto é, precisamente, o que afirma a teoria da evolugao. Voltando as nossas bolas de bilhar: permifiia a segunda lei da fermodindmica afimar que bilhdes de dtomos se ordenariam por si préprios, sem nenhuma assiséncia externa, em uma configuragao te organizada e improvavel como © corpo humano? Certamente, néo! E esta ‘anomalia nao é um fato isolade que teria ocorrido uma vez num passado distante! Palo contrario; para que a vida seja possvel, deve-se preservar um estado de organizagéo, a despeito da pressfio do meio, 0 qual atva de acordo com as leis da natureza “para dispersar a energia de destazer «a ordem"! © fato de que © corpo humano conserva uma femperatura consiante quaisquer que sejam as condicées do ambiente & um fascinanie contrasle com 0 nosso corpo d‘agua. Por causa dessa inegével singuloridade, um “defalhe” no universo, Wignes, um dos mais dsinios fsicos de nosso tempo, deu a seguinie defnigio & vida: “um estado de probabilidade zero”, —&. 3ENASCER, Curse Live de Teslogia | BACHAREL Todas as tentativas de explicar esta interessante imutével ~ a temperatura do corpo humano — como resultado das acées da selegio natural e mero acaso, encerra uma ébvia faldcia em sua légica, Estes supostos mecanismos estariam svjeitos @ influéncia do meio, visando destruidos. Desta forma, sua existéncia continua deveria, ipso facto, requerer mecanismos ainda mais amplos de controle, e assim sucessivamente (ad infinitum]. Se assim, © fenémeno da vida nao pode ser explicado como persisténcia natural de uma anomalia fermodinémica, © o problema permanece insolivell Em resumo, as leis da natureza provéem uma adequada explicagéo sobre como a vida se forna inanimada apés a morte, mas néo podem explicar como 0 inanimado, por si proprio e como resultado de uma série de acidentes, pode produzir a vida. O espago disponivel néo nos permite examinar todos os problemas contradigées da teoria da evolugio. De qualquer forma, eis um resumo do trabalho “acaso necessidade”, do biélogo francés e prémio Nobel Jacques monod. Baseando suas idéias nos elementos quimico-biolégicos da teoria da evolugao, este cientista se viv forgado a admitir que exista um problema insolivel: se tudo é produto do acaso, por que tudo sucede da mesma forma e de acordo com © mesmo plano? “Nossos dcidos nucléicos se formam somente uma vez. Por que nao duas ou trés vezes? Por que é suficiente um nico cédigo genético para todo © mundo? Estas séio perguntas muito dificeis para as quais néo temos respostas”, A propria teoria da evolucao se contradiz. E uma tentativa de explicar por que parece haver um método no desenvolvimento da vida. No entanto, este método aparente deve ser obra das leis da natureza que, por sua vez, néio podem ser consideradas metédicas, mas sim casuais. Mesmo quando néo se possa afirmar que estas leis tenham algum propésito, 0 mecanismo por meio do qual operam — selecdo e adaptacéio natural ~ esté definitivamente dirigido segundo um certo objetivo. 5.1.3 Por que a teoria da evolucae é amplamente aceita? Em visla do que foi dito anteriormente, por que, entio, grande parle dos cientislas e do populacéo em geral, acredita que a teoria da evolugdo representa um fato comprovado? Uma das ra2ées desta ampla aceitagio & que muita gente esté predisposia a ela. Através da explicagdo do surgimento da vida como resultado das forcas natura fortuitas, as pessoas se consideram autorizadas a negara existéncia do criador e a acreditar que nossa vida aqui néo tem. ‘uma finalidade predeterminada. Esta teoria foi formulada precisamente quando os movimentos agnésticos ganharam terreno na Europa. O movimento da hascalé — o iluminismo judaico — também se originou nesse perfodo. De fato, o século XX foi conhecido como o século ateu. A teoria da evolugéo também serve aos te6ricos policos e a distintes partidos, que se auto proclamaram aleisias, comunisias ou nazistas, ¢ a teéricos socies, Para estes, a luta de classes pode ser considerada um exemplo da luta natural do individue para sobreviver. E a Iuta natural do individuo serve, como selegio nalural, para aperfeigoar a espécie. O credo racial de Hier 6 0 exemplo mais aterrorizante do que acontece quando os principios da teoria de Darwin so aplicados @ sociedade humana, Hiller propés, enire outtas alrocidades, a “eutandsia’ para os casos afetados de males incuréveis, porque: “a natureza no tem piedade das ciaturas mais & GZ RENASCER Curso Lure de Teologia | BACHAREL fracas que stio desiruidas, sobrevivendo apenas os apics. Ir contra a natureza causa a ruina ao homem, ¢ isso é um pecado contra a vontade do Etemo Criador, somente o descaramento judeu pode exigir que dominemos @ naturezal!” (Mein Kamp) A raxéio mais importante para a ampla aceitagéo da teoria da evolucdo entre os seculares 6 0 fato de que ela 6 lecionada nas escolas - e mesmo nas universidades ~ como um fato cientificamente comprovado. Ela é descrita através de impressionantes termos latinos © reconstrugées gréficas. Sua natureza hipotética, entretanio, suas inconsisténcias, as quesiées sem respostas @ a critica dos cientistas acerca dela séo ignoradas. Acrescente 0 fato de que é lecionada por cientistas. Assim, néo é de se espantar que muita gente acredite que esta teoria seja uma verdade incontestavel. 5.1.4 Consideracées finais Muitos cientistas esto dispostos, erroneamente, a sair dos limites de suas disciplinas. Este fato tem sido a causa da cautela com que muitos sabios judeus consideraram as ciéncias através da histéria. No por se oporem a ciéncia, mas por estarem inteirados da facilidade que é para uma pessoa ceder aos proprios desejos. A questo da atitude da Toréi para com as ciéncias 6 muito ampla para ser tratada aqui em profundidade, portanto, coneluiremos considerando apenas alguns pontos chave Quando Deus disse a Adam: “Encha a terra domine-a", ordenou-lhe um preceito que visava uillizar seus recursos criatives a fim de modificar © meio e utilizar as leis da natureza como instrumentos para servir Deus. Os dados cientificos sao frequentemente necessdrios para resolver problemas de halachd, a lei judaica. Elaborar calendétio judaico e determinar as horas do dia, por exemplo, requer conhecimentos de aslronomia, Também é necessério grande conhecimento de medicina para assuntos relacionados com o iransplante de érgéios ou para estabelecer quem nao deve jejvar em Yom Kipur ‘Outro aspecto do estudo da ciéncia é que, quanto mais uma pessoa aprende da obra da natureza, fanto mais sente veneracéio pelas maravilhosas realizagSes de Deus. Deste mado, seu conhecimento acerca do criador e sv0 {6 nele se fortalecem. As palavras do Rei David (Tehilim 8.3-4): “Quando considero teus céus, obra de teus dedos, e a lua e as estrelas que tu criaste, 0 ue 6 o homem para que tenhas lembranga dele?" encontram eco nas palavias pronunciadas por Albert Einstein, quando afirmou: “a esséncia da minha religio é um senlimento de humildade & admiracéo pelo infinito e supremo poder metafsico, que se revela em pobres fotos compreenstveis pata nossa infantis e débeis mentes". Em “Hilchot Yessodé Hatord”, o Rambam (Maiménides) escreve: “Qual é 0 caminho do amor etemor a Deus? Quando o homem observa Suas grandiosas «a admiréveis proezas e criaturas, v8 aitavés delas sua imensa e infinita sabedoria. Imediaiamente louva-o, exalta-o @ adora-o, sentindo uma intensa satisfacéio por conhecer Deus”. 5.2 Teorias Criacionistas O criacionismo foi durante muito tempo & explicagéo mais aceita sobre a Criagéo CER Curse Live de Teslogia | BACHAREL desenvolvimento do Universo e da vida. Mos durante vétios séculos alé @ era contemporanes, com © avango das ciéncias naturais @ 0 sau posterior desvinculamento da religido, novas explicacées foram deduzidas sobre a origem do Universo, do planeta Terra e da vide. Essas transformagées geraram e aié hoje geram um enorme conflifo entre certos grupos religiosos, onde os crsiéios se configuram como os principais proponentes dessa polémica que pode ser definida pelo sev mais famoso embaie: criacionistas x evolucionistas. Criacionismo é um termo geral utiizado para definir 0 sistema de crengas em que se afirma que o Universo e tudo contido nele (galéxias, planetas, a vida, etc.) foram criados por uma enlidade inteligente. O criacionismo em si é dividido em vétias vertentes e sub- vertenies, dependendo da religido que ele se origina (certos tipos de criacionismo néo tm ligagées com religiées}, ¢ na interpretagdo que cada grupo de criacionistas dé & Criagéo do Universo ou do mundo, normalmente ligando « Deus 0 papel da entidade inteligente. 5.2.1 Tipos de Criacionismo Grupos eriacionistas podem ser classificados das mais variadas formas jé que o critério, escolhido para divici-los sempre seré subjetivo, os criacionistas podem sor divididos em trés grandes categorias. Os que acreditam que a entidade inteligente é Deus ou deuses, os representantes desse grupo sdo normalmente relacionados a religiées. Teoricamente todas as religiées que englobam a criagéio do Universo por deuses podem ter adepios que se denominam criacionisias. Nessa categoria, © cristianismo a religido mais participativa, tendo como principais grupos: © Young-Earth Creationism (Criacionismo da Terra Jovem, conhecidos como YEC"s na sigla em inglés) e 0; Old-Earth Crationism (Criacionismo da Terra Antiga, conhecidos como OEC, na sigla em Inglés). Vale fazer uma pequena observagéo aqui. Embora YEC’s e OEC’s serem grupos cristéos, nada impede de grupos de outtas religides estimarem a idade da Terra ou do Universo, ¢ também serem classificados pelo mesmo termo. 5.2.2 Criacionismo judaico ‘O ctiacionismo judeu néo se difere muito do criacionismo cristao, ja que compariilham da mesma historia da Criacao. As verlentes também ndio se alleram, existindo criacionistas & evolucionistas tetas. As Unicas coisas que se alteram so as interpretagées dadas @ Criagéio como ela vem refletir na religiosidade do adeplo. A maior parte dos judeus se considera evolucionisia teista, embora os criacionismo mais literais ganhassem enorme espago entre 08 segmentos Ortodexos do judaismo. 5.2.3 Criacionismo islamico © criacionismo islamico se difere muito pouco dos demais, em questées de criacionistas, literalistas, divergem em algumas passagens do Génesis da Biblia jé que o Alcordo € que apresenta um relato mais sofisicado, enquanto a Criagéo contida na Biblia seria uma corrupgio do verdadeiro relato. Movimentos mais liberais dentro do islamismo apresentam BL Bd RENASCER Curso Live de Teologia | BACHAREL um ponto de vista evolucionista em relagéo & criagéio, sendo © homem diretamente criado por Deus. O ctiacionismo mais literal tem maior apoio entre as populagdes da Malasia, Indonésio, e entre algumos comunidades no Ocidente. A capital do criacionismo literalista 6 a Turquia onde seu maior proponente, Harun Yahya (pseudénimo de Adnan Oktat) organiza conferéncias, palesiras e é chefe de uma organizagéo de pesquisa criacionista 5.2.4 Exocriacionismo O exocriacionismo postula que em um determinado periodo da pré-hist6ria, civiizagoes alienigenas conduziram experiéncias de manipulagtio genética nos primatas ancestrais de nossa espécie, misturando DNA alienigena e primata, formando assim o Homo Sapiens e alguns de seus ancestrais mais préximos no processo. Depois do periodo de criagéo, essas civizacdes permaneceram na Terra, exercendo suas influéncias nos seres humanos, em um processo de aprendizagem e lransmissdio de conhecimento. Desde astronomia, as ci@ncias nalurais, ao uso de utensilios, esse grupo particular acredita que a maior parte da tecnologia e cultura das civilzagées e grupos humanos do passado foi de origem alienigena. Essa crenca 6 apoiada pelos incriveis monumentos criados por civilizagdes que oparentemente no apresentam o aparato tecnolégico para realizé-las, como as pirdmides tanto egipcias quanto das civlizacées da América central, quanto os gigantes de pedra da ilha de Pascoa 5.2.5 Desenho inteligente © desenho inteligente {Intelligent Design) postula que certas caracteristicas do Universo e dos seres vivos so mais bem explicadas por uma causa inteligente, € néo por um processo natural como a selecio natural. Seus defensores aclamam Intelligent design como uma leoria cientifica que é considerada no mesmo nivel, ou alé superior, as teorias propostas pela comunidade cientfica em relagéo @ origem da vida. Suas divisdes sdo ténves e pouco significativas. Enquanto alguns acreditam que toda a vida € © Universo foram criados por uma entidade inteligente, outros postulam que s6 cerlas partes dos organismos e do Universo foram criadas por essa entidade inteligente. 5.2.6 Criacionismo cristéo © ctiacionismo cristao 6 dividido em irs grupos principais: Criacionismo da Terra jovem: Os Young Earth Cretionisis acreditam que © Universo €.a Terra tenham sido criados recentemente (aproximadamente de 6 a 10 mil anos atrds) e toda a vida contida nele de acordo ao texto de Génesis literalistas). A maior parte aceita a “micro-evolugéio” enquanto um grupo menor néio, mas todos em geral negam a “macro- evolugao”. Dentro da micro-evolugéo existem os que defendem que Deus criou varios grupos de animais separados, chamados de tipos eriados (created kind) e que através do micro-evolugéo, eles se adaptaram aos mais diversos ambientes, mas continuando mesmo “tipo” de animal. Ja existem outros que negam prontamente qualquer existéncia de evolugdo, afirmando que Deus eriou todas as espécies como elas so até hoje sem —&. Curso Live de Teclogia | BACHAREL RENASCER modificagées. Os YEC’s tendem a negar praticamente todas as bases de ciéncias como a astronomia, paleontologia, biologia, geologia e et. Criacionismo da Terra antiga: Os Old Earth Creationists comparitham o maior parte de suas caracteristicas com as YEC's, mas divergem em certos pontos da interpretacéo biblica e da idade da Terra. Os OFC’s acreditam que a Terra foi criada em um periodo remoto entrando em acordo com a idade estimada pela ciéncia de 4,5 bilhées de anos. Eles também defendem que cerlas parles do Génesis devem ser interpretadas metaforicamente. Mesmo entrando em concordéncia com a maior parte das ciéncias, os OEC’s ainda néo aceilam a Teoria da Evolugéio em sva totalidade, ou a repudiam totalmente. Evolucionismo tefsta: Os Theistic Evolutionisis acreditam que © Universo, 0 planeta Terra e vida foram criados por Deus, mas diferem dos outros grupos criacionistas por aceitarem completamente a Teoria da Evolugio, vendo ela como uma ferramenta para com a qual Deus consirui a vida na Terra. A maior parte do grupo aceita uma visio alegérica do relato do Génesis e entram em conformidade com as ciéncias em si. Existem pequenas divergéncias sobre © papel do homem na evolucéi. Enquanto alguns grupos acreditam que os seres humanos evolufram da mesma forma que outros animais, outros véem que o homem foi & criagio especial de Deus, tendo uma evolugéio mais “planejada” que as dos outros animais A evolugdio telsta contradiz a Biblia. Em apoio ao papa, Donald Devine escreve: “O homem préshumano aparentemente existiv por milhées de anos... Isso ndo 6 uma refutacdo da Biblia, mas uma confirmagao — pois indica que foi preciso que DEUS soprasse nele uma alma antes que 0 homem pudesse ser homem.” Polo contrériol A evolucao teista, que exige ancesttais pré-humanos para o homem (para os quais nenhuma evidéncia jamais foi encontrada}, néio contradiz apenas 0 livro de Génesis, mas toda a Biblia. Capitulo 6 A CONSTITUICAO DO HOMEM 6.1 Descrigao biblica Os dois primeiros capitulos de Génesis fomecem a descrigéo biblica no que diz respeito & criagGo do homem. A primeira narrativa que é encontrada em (Génesis 1.26,27) 6 de natureza mais geral. A Segunda, em (Génesis 2.4-25), fornece alguns detalhes a mais; 6 o complemento da primeira. Deus 6 0 criador do homem. Foi Ele quem, num ato especial, © fez em conjunto com os demais elementos constituintes da criagéo, porém o homem 6a cored, © dominador; assim foi destinado pelo criador que, segundo 0 relato sagrado, 20 cridelo, usou uma linguagem especial: “Facamos o homem 4 nossa imagem". A Biblia afirma que os seres humanos foram criados & imagem de Deus. (Gn 1.26) registra as palavras do Criador: "Facamos © homem [’adam - humanidade”] & nossa imagem, conforme a nossa semelhanga’. Quiros textos biblicos demonsiram com clareza que os seres humanos, embora descendentes de Adéio e Eva ej caidos (a0 invés de criados diretamente por Deus), continuam a levar a imagem de Deus (Gn 9.6; 1Co 11.7; Tg 3.9) Os termos hebraicos em (Gn 1.26) sdo tseleme e demuth. Tseleme, empregado 16 BL RENASCER Curso Lire de Teologia | BACHAREL 498 vezes no Antigo Testamento refere-se basicamente a uma imagem ou modelo funcional Demuth, empregado 26 vezes, refere-se, de modo variado, a semelhangas visuals, audiveis € estruturais num desenho, padrdio ou forma. Esses termos parecem estar explicados na conlinvagao (vv. 26-28), quando a humanidade recebe poder para subjugar a Terra (ou seja, controlé-la pelo conhecimento, por saber aproveité-la) e governar (de modo benéfico} as demais criaturas, © Novo Testamento emprega as palavras eikén (1Co 11.7) e hemoidsis (Tg 3.9). Eik6n geralmente significa “imagem”, “semelhanca”, “forma” ou “aparéncia” em toda a sua gama de usos. Homoiésis significa “semelhanga", “correspondéncia”, “aparéncia semelhante”. Posto que os femos, tanto no Antigo quanto no Novo Tesiamento, parecem tor sentido amplo e intercambidvel, devemos olhar para além dos estudos lexicégrafos a fim de determinar a natureza da imagem de Deus. 6.2 A Doutrina da natureza do homem ‘Ao estudarmos as partes constituintes da natureza do homem, desejamos reiterar que cremos ser ele o resultado de uma criagéo especial de Deus, e assim que consideraremos toda a constitvigéio do homem, como vindo da parte de Deus. 6.2.1 A teoria monista Antes de ventilarmos acerca da dupla constituicéio da natureza humana, a parte material €.4 parte imaterial apresentamos a teoria monista ou simplesmente monismo, cosmo visio que femonta “aos filésofos pré-socrdticos que apelavam a um Gnico principio unificador para explicar toda a diversidade da experiéncia observada’. No entanto, pode adotar um enfoque muito mais estreifo e 0 faz quando se aplica ao estudo dos seres humanos. Os monisias teolégicos argumentam que os varios componentes dos seres humanos descritos 1a Biblia perfazem uma unidade indivisivel e radical. Parcialmente monismo era uma reagio neo-ortodoxa ao liberalismo, que havia proposto uma ressureigéo da alma, mas no a do corpo. Os monistas defendem que, onde o Antigo Teslamento emprega a palava “carne” {bosa1), 0s esctitores no Novo Testament oparentemente empregam tanto “came” (sary) quanto “corpo” (soma). Qualquer desses termos pode referir se ao ser humano inteiro porque, nos lermos biblicos, ele era considerado um ser unificado. Segundo © monismo, pois, devemos considerar o ser humano como um todo unificado, e néio como vérios componentes que podem ser individualmente identificados e classificados. Quando os escritores sagrados falam de “corpo e alma...” deve-se considerar uma descri¢do exaustiva do personalidade humana. No conceito do Antigo Testamento”, cada pessoa individual * 6 uma unidade psicofisica, carne animada pela alma”. A dificuldade do monismo, obviamente, & 0 fato de néo deixar lugar para um estado intermediario entre a morte e a ressurteigéo fisica no futuro. Esse ponto de vista discorda de numerosos textos biblicos. Jesus também faz clara referéncia ao corpo e & alma como elementos divisiveis quando adverte: “Nao temais os que matam o corpo e née podem —&. Curso Live de Teclogia | BACHAREL RENASCER matar a alma’ (Mi 10.28) 6.2.2 A parte material Em Génesis 2.4-7, a narragdo da origem de todos os seres, « atengdo vai concentrar= se no homem. Houve quem julgasse tratar-se duma segunda narrativa da criagéo, mas em vio, pois estamos em presenga apenas duma versio mais pormenorizada de (Gn 1), embora possa admitir-se que Moisés, divinamente inspirado, escrevesse a sua hisiéria sagrada baseado em varias relagées {6 existentes. Sabemos que a inspiragao ndo exclui a viilizagéo de fontes. Nada impede, portanto, que uma segunda narragao venha completar «@ primeira, Vejamos: Na primeira atende-se mais ao universo; na segunda ao homem, centro desse universo, Néo admira, porianto, que em (Gn 1.1-2.3) se descreva, sobretudo, a criagio dos céus e da terra, e que @ partir dai a origem de homem seja apresentada duma forma mais humana 0 mais intima, o que nao quer dizer que as agdes sejam menos divinas, mas o estilo é mais pormenorizado. Pela primeira vez aparece o nome de Yahweh (2.4), com que Deus a Si préprio se designou na histéria © na redencéio. © uso das duas palavras em conjunto (Yahweh Heloym) identiticam 0 Criador com o Deus histérico, como na expressiio “Jeové teu Deus". No versiculo 7 “...e formou o Senhor Deus o homem do pé da terra e soprou em suas narinas 0 fdlego da vida; ¢ 6 homem foi feito alma vivente", destaca-se a palavra “formou" heb. yatsar, rigorosamente “formou” ou “faz”. O corpo do homem nao é certamente diferente @ restante criacéio material, e Deus aparece agora a formar esse corpo duma substéincia [4 existente, “p6 da terra”. A semelhanga entre a estrutura fisica dos animais ado homem deve atribuir-se, néio a uma espécie de desenvolvimento natural, mas a um ato especial de Deus em conformidade com os Seus etemnos designios, ¢ que poderiam ter sido muito diferentes. A finalidade desta narragéio é explicar melhor o significado do ato divino indicado por Bara em 1.27, sobretudo para frisar que, ao contrério do que se passora com a criagéo dos outros seres, Deus formou 0 homem “soprando-lhe nos narizes o {dlego da vida" (2.7). A expresso pd da terra (7). heb. ‘adamah, significa @ terra ou solo ardvel, que se encontra na superficie da terra. E daf deriva o nome do homem. Excetuando os casos do 1.26 e 2.5, onde o artigo seria inadmissivel, a narracéio hebraica emprega sempre o artigo (“ Addo") aié 2.20, onde o termo passou a ser um nome préprio, sem arfigo, portanto. 6.2.3 Composigéo espiritual do ser humano iistem duos outras comrentes leolégicus de interpretagéio para a composicdo fisico-espirtval do ser humane. Essas correnies de interpretagio se idenificam como dicotomislos e ricotomistas. 6.2.3.1 Os dicotomistas A palavra dicotomista significa duas partes au divisdes. Esta teoria 6 seguida por um grande niimero de teélogos (enire eles os calvinisias): que © homem se compée de duas & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL

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