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‘ 2S apropunurnnat os ou ‘sobergy sop coy euremiadsy oe cui $05 V@lA 10 SOGNNW ONOX V3VA [OLX siQSvwsn «¥QIA 30 SoaNnW Durante a tarde, na escola priméria da vila, o menino dos caraccis es- tava_a construir um robs. —Voupér uma portinhola nas costas —diz ele professora de artes — para guardar pecas, parafusos e botées de comando. —Como é que esté a tua «robites? — pergunta a profe: ‘Arobite>, para quem no sabe, é um problema co —Sabes —explica a muito tempo em frente dos ecra » acontece a quem passa lets, a jogar ea ver videos. Este ano, algumas criancas da escola, como 0 menino dos caraccis, apanharam arobiten, e é preciso resolver o problema. A professora de artes teve a idela de propor aos alunos @ realizacSo do projeto de um robé, para combater esta espécie de doenca meia contagiosa.. © rapaz dos caracéis tem o projeto quase pronto. Depois de aplicar uma ventoinha na cabeca do robé, coloca um casquilho para uma lémpada dentro da portinhola: —Amanhé, vou testé-lo — pensa ele, depois de usar todo o material que consegue para o construir. Nisto, por uma janela aberta, entra um vent m rte que faz com que a ventoinha da cabega comece a gi ita forcal Sem que nin- uém espere, 0 robé levanta-se do chao e sai a voar pelo céu. cols 2 sem pensarem no penigo, 2 Marae |, curiosas pare descobrir 0 objeto mistenoso que Gi im rob aterrou em cma das Couves! Tem uma ventoinha — Oa! U yermaha v3 cabece, como aquelas que se usem nos bonés! — diz 2 Mera, —E este cere Miu, procurendo uma explicagéo. fumo! Qu talvez seja apenas pé... — acrescenta a ‘As duas amigas andam na sala Lilés, a sala da escola com criangas de cinco anos. A Milu tem cabelos loiros, cor de palha, e vivia na Casa das ‘Andorinhas com doze criangas. Num dia memorével feito de abracos, passou 3 morar na casa dos pais da Maria, que so agora a sua fami- ka de acolhimento. Com as duas amigas, vive o Quincas, o papagaio verde mais esperto do mundo, que fala como gente grande. Foi o pre- sente dos pais da Marie quando ela fez trés anos. Os amigos passam. © dia juntos, na escola ¢ em aventuras, numa alegria grande como 0 planeta. — Maria, cv 5 Y am "2, cvidado, 0 10b6 pode explodir! — avisa o Quincas. — Liga 2 Tarauera 02g para lhe arrefecer a cabeca, Coitado, 0 robs fcarg ; "card molhado, mas aquele: -gesto pode salvé-lo! 4 No meio da horta, a Maria e a Milu ficam um pouco assustadas com a ‘observagio do papagaio. — Parece mesmo fumo a sair da cabesa do robé, e poders explodir a qualquer momento — concorda a Maria, enquanto corre para ligar a torneira da mangueira. Usando o bico, 0 papagaio jé tinha a ponta orientada para a cabeca do r0b6 e, de imediato, comeca a regi-lo com aqua fria — 0 fumo desapareceu, fosse o que fosse! Estou mais sossegada — remata a Mil Os trés amigos esto aliviados, salvaram 0 robé por um triz. A primeira coisa que querem agora é falar com aquela figura de pape- lo parecida com gente, com um botdo azul na barriga e uma ventoi- nha na cabega: — Robé, estés-me a ouvir? Acabaste de aterrar no quintal da avé Mi- mosa— informa a Maria. —Somos humanos, néo te vamos fazer mal Como te chamas? © robe nada diz. A Maria insiste, falando agora com carinho e lenta- mente: —Ro-bé, es-tds a ou-vir?, es-tés a ov-vir? ‘AMilu comenta com graca: —Nao vale a pena falares tio devagar, Maria, se o robé for estrangei- ro e se sé souber inglés, ndo vai perceber na mesma, ‘Contudo, apés uma breve pausa, pede 8 amiga que continue a tentar, ois, «mesmo que nao entenda as palavras, vai perceber que o quere- mos ajudar e sentir que somos amigaveis». ‘A Maria procura comunicar com aquela figura estranha, mas o robé do responde e permanece tao quieto como um inseto prestes a apa- nhar a sua presa Ento, sem avisar, a Milu corre para ainda mais perto daquela figura de papeldo, com 0 Quincas a voar ao seu lado para a proteger... cocam olhares em siléncio, masjé se adivinha o que se vai Mania fecha os olhos, aproxima devagar 0 dedo do botso azule fica & espera de um incentive: —Posso cart E.um momento de muita responsabilidad je. O que se disser pode vir a de tentar; se fosse peri- —Se obotdo esté a vistanom 450, estaria escondido. Mas ¢ importante estarmos preparados para co que possa acontecer. Corajosamente, a Milu aproxima mais 0 dedo e carrega no botdo, pri- meiro devagar e depois com muita forga, mas nada acontece, Muda de estratégia e continua a carregar, primeiro pouco tempo e depois ‘com demora, até o dedo ficar roxo e cansado. ja avariado, devido & aparatosa queda em cima das cou- ves verdes e vicosas da avé —conclui a Mar — Ou entdo — sugere a Milu —, depois de ter apanhado com tanta ‘gua fria na cabeca, pode precisar de algum tempo para reagir. Com alguns remorsos por ter sido sua a ideia da molha, o papagaio aproxima-se. Como se estivesse a pedir desculpa, anda volta do robé de papelio e vai reparando melhor no seu estado, até que chama as duas meninas: —Vejam aqui, na parte de trés! Parece ser uma porta montada nas costas do robé. 0 que esconderd ld dentro? Vamos tentar abri-la? — Pode ser perigoso, Quincas! Quem sabe que mecanismos esto ai ocultos ou se de la irdo sair aiscas... Vou antes tentar carregar outra vez no botdo azul com toda a forca — decide a Mil. Nessa altura, ao verem aquela figura estranha, os pardais que por ali co escondem-se, assustados, no grande carvalho do quintal da avd imosa be No robé nada mexe. Nem os bracos, que, de repente, vor metalica: —E-rro do sis-te-ma! E-rro do sis-te-ma! nem a cabega, nem o olhar, até Prega a todos um valente susto, dizendo com uma Os trés amigos querem, & forca, comunicar com ele e tentam tudo. ‘carregam no botdo, puxam-the o braco, dizem umas palavras em in- 9185 que as meninas aprenderam na sala Lilds e até chegam a0 pon- to de Ihe prometer um gelado, como se isso interessasse muito a um robé... No entanto, aquela figura de papelio mantém-se sempre quieta e calada. $6 Ihes resta abrir a portinhola aplicada nas costas do roba! Nao Ihes falta a coragem, masa tarefa é mais dificil do que esperavam: a porta Parece empenada, talvez inchada devido & Sgua que apanhou, e ndo abre por nada. © Quincas resolve entao enfiar o seu bico forte na ranhura da porta para a puxar, enquanto as meninas o incentivam, gritando: «Fora, forca, forcal» Derepente, a portinhola solta-se e abre de par em par. Asurpresa n5o Podia ser maior, e tém de se afastar. La dentro, encolhido, estava um apaz que, coma abertura inesperada da porta, rola para fora e cai em cima das couves. — No se assustem... — diz ele, tentando sossegar as duas meninas € 0 papagaio, que 0 olham muito pasmados. — J4 0s vi a todos no recreio da sala Lilds. Eu estudo na sala em frente, na escola priméria —Como te chamas? — quer saber a Maria. —Sou 0 rapaz dos caracdis! —Eo teu nome? Nao queres dizer? — insiste a Milv. Com ar brincalho, o menino responde com a mesma voz metélica —E-rro do sis-te-ma! E-rro do sis-te-ma! perto do carvalho, lange dos alhares curiosos, quém. Quando 0 sol desaparece atrés do la cena misteriosa, as duas amigas eo © robs foi escondido para ndo ser visto por nint monte, envolvendo toda aquel papagaio decidem manter tudo em se: © pequeno inventor que encontraram no q cara uns carrinhos de linha que funcionavam como roda ra de papelio parecida com gente. N5o foi por isso d empurrarem o rob6, através da horta, sem fazerem barulho, até a um gredo. wintal contou-Ihes que apli- s daquela figu- sitio protegido pela drvore, a casa da lenha. Sentados debaixo do carvalho, os trés amigos ficam a ouvir o que o rapaz tem para Ihes contar: — Quando tudo aconteceu, eu tinh: da lampada dentro da portinhola. O meu proj mas, de repente, uma forte ventania fez levan vvoar pela janela da sala das artes. —Nio conseguiste fazé-lo para — 0 robé esta pensado para at Como eu estava dentro da portinhola, no consegui saltar e vim Ia dentro, a voar pelo céu, até aqui. = Como é que 0 robé levanta voo sem uma ordem de comando e aterra, descontrolado, em cima das couves? — pergunta a Maria, —Sabes? No dia seguinte, ia testé-lo, mas jé estava 8 espera de que 1ndo funcionasse muito bem... Usei todos os materiais que consegui da casa do meu avd, mas o projeto teve de acabar por limite de tempo. 1a acabado de colocar 0 casquilho estava quase pronto, © rob6, que saiu a admira-se a Milu. zinho, sem ninguém o pilotar. Nao podia fazer mais nada! ae —0 robé de papelo é uma grande invengSo.e uma obra de arte. Nun- ca vi nada igual — elogia o Quincas. — E ter conseguido chegar da escola até aqui a voar foi um grande feito. As vezes, os grandes fo- guetdes desenvolvidos pel explodem. sto do «rob» é para um concurso? — quer saber a curiosa da nem sequer chegam a subir ou Maria (© menino dos caracéis explica que no é bem para um concurso: — Este robé faz parte do meu projeto da escola para combater a uro- bite». —Arobite? — ficam todos muito interessados. —O que ¢ isso? © rapaz explica: —Ainda hoje a minha professora disse que a «robite» & um problema que esté a transformar-se numa espécie de doenga. Se uma crianga a apanhar, pode passar a ter os comportamentos de um robé. —E como é que se pode apanhar? — pergunta a Ma —A professora de artes explicou que quem passa muito tempo em frente dos ecras a jogar e a ver videos pode ficar com robite. —E, pe- rante os olhos arregalados das duas meninas, o rapaz pergunta e res- ponde: —Conhecem os sintomas? Sem o perceberem, as criangas ficam com 2 pupila dos olhos quadrada e a fazer faisca, a voz parece de um altifa- estudar ‘ou sentar-se & mesa, ndo costumam —E como é que o projeto do robé vai conseg ma? — questiona o Quincas. —As criangas gostam de brincar com pequenos robés que realizam tarefas sozinhos e emitem sons engragados. E facil, por isso, imaginar que venham a gostar de conviver com um rabé verdadeiro, em sua proble- casa. vis testaro robs comigo, em minha casa —confessa o rapaz dos caractis —, mas, como viram, nao funciona como deve ser e comete erros. = Ngo desanimes! A avé costuma dizer que, quando somos peque- tentar coisas novase no ter medo de errar. Eassim que as melhores —lembra a Maria, 1m dirego a0 robé e abraca-o como se fosse uma ‘om as meninas por perto, abre a portinhola e diz: ros, devernos ., pensava colocar uma lampada e, no encaixe de papeldo, um aparelho de som que também guardasse a energia pro- duzida pela ventoinha, para os dias sem vento. ‘AMariatrazalguns aparelhos usados que o avé guarda numa bancada da asa da lenha. Pode ser que sirvam para completar 0 rob6 de pape- 150. 0 rapaz dos caracéis acha que sim: dio de bolso antigo pode servir para o robs falar pelos alti- falantes e para guardar nas pilhas a energia produzida pela ventoinha ias de acalmia apagaio consegue ligar um fio ermitindo que essa parte do robs fique a funcionar. Depois é a Milu que, com todo o cuidado, traz uma limpada: —Era do candeeiro de mesa do avé da Maria. € muito antiga! O rapaz limpa-Ihe 0 pé e atarraxa-a no casquilho dentro da portinho- {a enquanto a Mily Ihe pede que no desista, Nao tenho mais materiais nem muita vontade — explica 0 rapaz. E tem mesmo ar de quem nao vai mudar de opinio. — fina para acabaro projeto da escol prazo — Ento, podemos ajudar de outra maneira — propée a Maria. — D3- -nos o teu robé, , para o acabarmos de construir! Confiando nas duas meninas e no papagaio, © pequeno inventor con- corda, © Quincas, que jé viveu na América, comenta que sero pi 6 de papelao f0 «ROb6 Voador» do mundo a funcionar a vento. Nesse instante, o desafio: = Virando-se para o menino dos caracéis, 2 Maria lanca — Quando 0 robé estiver quase pronto, prometes que vens ajudar a sala Lilds a terminé-lo? —Fica combinado— diz 0 rapaz. Depois de ter comegado.o projeto de cconstruir um «robés, tinha desistido de o terminar, Mas agora nota-se que ficou mais animado. Na escola da pequena vila, os quatro amigos encontram-se durante 05 dias em que trabalham na construcao do rob6. Fazem-no junto a0 muro que separa o recreio da escola ideias e preparar testes. ia da sala Lilds, para trocar —0 robs jé tem nome? — pergunta a Maria, —Ainda no — responde 0 rapaz dos caraccis.—Querem dar ideias? —Rob6 «eremiase, o que vai aonde — A-pro-va-do! Ro-bé em fun-ci-o-na-men-to! — ouve-se de novo a voz metilica disfarcada do rapaz, enquanto todos riem a gargalhada. 'Nesse mesmo dia, jd ao final da tarde, o menino dos caractis despede- -se dos amigos no port3o da casa da avé Mimosa. A Maria, a Mil e ‘© Quincas aguardam ainda pelo carro da mae da Maria, que, como é costume, os vem buscar depois do trabalho. ‘Asmeninas acham que a avé nao suspeita de nada. Na casa da len transformada em sitio secreto, j8 com a limpada e o atifalante a cados, ficou escondido o robé Jeremias. Sé amanha, depois da escola, as meninas e o Quincas voltarao para o ver. luz apagad: ecer: no ¢ fai fa, a Maria, a Milu e 0 Quincas cil deixar de pensar no robé aracéis com um problema No seu quarto, 80 tem dificuldade em ad sescondido nacasa da avé eno menino dos C todos a caminho da escola. pergunta a Maria. Como ninguém complcedo, Mae, sabes o que € a erobite» responde, muda rapidamente de assunto e diz: —No fim da escola, vamos para & avd Mimosa! respondido porque no ouviv a pergunta da Ma- achado estranho que ela tenha falado na casa da ‘Amie pode no ria. Mas deve 5, Porqué 0 aviso, se vo para ld todos os dias? av rd que o Jeremias continua na casa de lenha do quintal imados do robé a sair pela «fo da cozinha. Como é que tal & Durante a noite, 0 vento forte conseguiu entrar pelas frinchas da ma- deiraefez funcionar a ventoinha, a qual carregou as pilhas que, agora, fornecem a energia para o Jeremias funcionar. ‘Aav6 s6 nfo hat rque, por acaso, no dia anterior e menin A ‘ ja tinha visto 0 rob6 através da jane- laa aterrar em cima das suas couves! 58 2 porta da cozinha e pede & avd Mimosa: ntar-me? —e logo. 140 depois apresenta-se—Sou o Jeremias. —Eusou a Mimosa — diz a av dina avs. — ; porta 8. — Mas & costume bater primeiro & —Eusouum obs, ainda ni '80 conheco os costumes dos humanos. no cho, com a educadora da sala Esti todos sentados em roda, Lilds, quando a Maria dispar: : —Um robé aterrou em casa da minha 2v6! AMilu acrescenta: — Endo é um robé de hho da professora de artes. © burburinho é grande: podia lé ser! Uns comesam a rir, outros ficam assustados, Uns acreditam, outros acham que € pura imaginacéo. © papagaio, que todos admiram, explica que agora esto a arranjar co robé, pois este teve problemas a0 cair desgovernado no quintal da avé Mimosa, em cima das couves. E deixa a promessa de o trazerem brinquedo, é mesmo a sério, quase do tama- quando ficar pronto. ‘ho fim da tarde, os trés companheiros chegama casa da avé e encon- ‘tram o Jeremias a ler, ao lado da casa da lenha. Sem desviar os olhos do papel, diz-thes: — Este é um livo de instrugdes. Mas no se admirem: é o que 0$ r0- ds leem nos tempos livres para se acalmarem. "Na verdade, um robs é uma maquina que aprende cédigos para fazer a mesmas tarefas, sem erros. A avé chama aiatengo das meninas: — }8 viram como a horta esté perfeita? No sitio onde o robé caiu, as couves é estdo plantadas e regadas. Ele fez tudo sozinho e depressa! — Na casa de lenha — revela o Jeremias —, li tudo o que encontrei Um almanaque com informagées sobre o cultivo das hortas e livros ce cea ‘muito de um sobre empilhadores. aacrerepaaes cera meas con 0s bragos es As meninas fogem, dizendo «nao so- ‘mos uma encomendan, mas a mas alegrando-se por terem ganhado mais um companheiro de. brincadeiras! : No quintal da avé, perto da casa da lenha, de acabar 0 roba, —Atarde, esto a combinar a forma durante a minha sesta — diz o Jeremias —, vi, através da lampada, a avé Mimosa ainda pequenina, num élbum de fotografias antigo. —Deve ser a foto do vestido azul & marinheiro...— diz a ave. —Pois era! E fez-me pensar —revela o Jeremias — que gostaria de ter nascido pequeno e de crescer devagar como os humanos. Os robés J nascem com o tamanho final. E cansativo e no tem graca, porque fomos criados para fazer as coisas sempre da mesma forma. — Mas, se crescermos livres — afirma a Milu —, + podemos escother 0 que fazer da vida, sem ter de seguir sempre as mesmas regras, como as maquinas que so escravas dos programas do seu inventor. —Podem entao tornar-me mais humano? — pede 0 robé. — Mais pa: recido com a avé Mimosa, com a Maria e com a Milu? Quero ser curio- so e aprender a fazer coisas novas. —Cantar, pintar, escrever ou dancar é uma forma de sermos criativos e de mostrarmos aos outros que somos humanos — lembra a avo. — Podemos comecar por aqui. E logo se oferece para ensinar o Jeremias a dangar. No dia seguinte, comegam os ensaios, & sombra do velho carvalho. ‘A misica popular é dancada em linha, batendo palmas. Ao andar em frente, o par tem de rodar para direita e& volta um do outro. Que belo efeito tem a danca! Num dos ensaios, com 2 forga do movimento, um dos bracos do robé solta-se e vai cair em cima das couves do quintal. ‘Asmeninas ea avé procuram-no por todo o lado, mas ngo conseguem encontrar um dos parafusos, que faz muita falta, Preocupadas com —Onde poder —Logo a seguir’ do espaco. Chegou car com os extrate quando voltou, com id robés e de discos voadores usados. E a avé coneluis — conde podem enco do 0 tipo de parafusos, pegas e botdes de comando de que precisam, éna Fabrica do Engenhocas. (Os quatro companheiros avistam a antiga chaminé de tilo. Chegados ‘20 portdo da fébrica, as duas amigas, 0 Quincas eo rob6 so recebidos pelo préprio dono, uma figura sorridente de éculos redondos que fala uma mistura de portugués e inglés. —0 vosso robé é «beautiful», quero dizer é lindo — diz primeiro su- cateiro robstico do pais. — Mas vejo que Ihe falta o parafuso numero imaginar — exp! 1s nunca vi — confessa o Ent ym uma ventoinha vermel rrmazém! —0 Jeremias funciona com o vento das lampadas que as pessoas Use’ agora revelar as historias das suas vides. — Ento 0 vosso robé é mesmo Unicono mundo — a, —Nao hd nenhum igual olhem que conheso tudo! .genhocas — um rob6 de papelso tao ha na cabeca. E ja passaram mi- —explica 0 Quincas. —E, através ara ler ou escrever, conseque diz o dono da fabri- ‘Engenhocas pergunta pet nal do rob6 & de um amigo nosso da escola priméria io. Como nao tinha mais pecas nem vontade de con. en, quis desistr. Mas nds dissemos que, =0 projeto 0 —dizo papagai tinuar porque apanhou «robit ; talvez conseguissemnos acabs-lo, ite» na vossa escola? —pergunta o Engenhocas, — por todo o lado! € um dos maiores todos juntos, —Também hd «ro! E incrivel como esta a espalhar-se problemas do mundo, quando o Jeremis fcar pronto, valarascriangas desta espécie de doenga—revela o papageio. oo ser precsosmilares derob6s semelhantes! Pelo que eu obser- vo nas minhas viagens, a procura serd muita — prevé o Engenhocas, que resoleu fazer um visita guiada & sua fébrica maravilha. ‘Aoatravessar oantigo portio de ferro, as paredes de granitoe as gran- desjanelas de vidro marcadas pelo tempo lembram os dias em que, ali dentro, os tearesfabricavam os mais belos tecidos. Agora, os tetos. tosda fabric abrigam um tesouro de inventos modernos, mostrando 20s nosss olhos que ¢ a imaginaco humana que transforma o novo de hoje no antigo de amanha Nos armazéns de pecas usadas, para além de parafusos, olhos de vi- dro, antenas erelégios para robés, hd uma seccdo infantil com pegas sobressalentes de colecdes de super-herdis. Por ser passaro, 0 Quincas mostra-se muito interessado na sala dos «Discos voadores usados» —0s discos voadores server para qué? ear Sé para pecas,jé andaram muito pelo univer- $6 tenho um disco voador que fez um filme H quem venha de propé ratidade. PPSSitO€ de ange 56 para vé-lo. E uma grande esta € a nossa ideia: vai ajudar a Por fim, entram na grande sala dos «Robés do futurom. £ tdo secreta que muda todos os dias de forma e de lugar ‘observa o Jeremias. —So robés futuristas, muito sofisticados, que fazem tudo e se transformam em qualquer coisa. —Adorei 0 robé «Mordomo» — revela a Maria. — € fant fazer todos fessora pensar que foram feitos por mim Chega o final da visita. O Engenhocas dizsthes que, se precisarem de ar este relégio de ponteiros? — pergunta 0 Engenhocas, . — Como estou a aprender a ser mais humano, vou aplicé-lo no peito, para me lembrar sempre do que me disse a avé Mimosa: «O coragio 6 o lugar para guardar 0 bem que eu fzer'» (© dono da fébrica vai ao portdo despedir-se dos trés amigos e doJere- mias, que também levanta o braco a dizer adeus! ‘A.avé percebe que o robé chega a casa taciturno, de olhos no cho. ‘Sem as meninas por perto, o Jeremias conta-the: —Acho que vou ser substituido. A Maria gosta de um rob moderno ‘que é muito melhor do que ev. Sei plantar a hortae cortar arelva, mas ‘no sou capaz de Ihe fazer os trabalhos de casa e de imitar 3, 8 av ve motivos de alegria. O Jere 1umano! Se fosse apenas um rok Naguel rnar-se ma daquelas emogées. © Jeremias entra em casa da menina das trancas para a conhecer. 28 passou uma hora, e ela continua a ver videos no tablet sem Ihe di. gir a palavra, -G2F nos meus botes para ver o que acontece, so pare- '5es dos teus jogos e videos — tentando entrar no seu mundo. ‘A menina escolhe finalmente carregar no bot3o «conversar». © Je- remias, que tinha colocado a limpada do avé dela no seu interior, ji conhecia muitas histrias da sua familia e sabia que, desde pequena, aquela menina passava muito tempo a ol ma: diz 0 rob6 de papelio, Para os ecras. Ela confir- — Quando era bebé, a minha mae dava-me o tablet para comer a Sopa. Mais tarde, aprendi que, se dissesse «No gosto de til», tinha tudo 0 que quisesse. Foi ‘ou no restaurante. Na sal: conversava pouco em ca tablet na mesa, no car 12 loja 'ndo sabia muitas palavras porque se jora, na Primaria, chego as aulas com sono, no consigo estar atenta e arranjel forma de nao fazer os TPC. ‘Queixo-me de que nao tenho tempo, e a minha mle diz logo «Vou falar com a professoral». —O ecrd afasta as pessoas, até atua mae—expli se conhece ninguém através de um ecra. Para se conhecer alguém & Preciso olhar nos olhos. S80 a janela para o coragao. Sabias? —Mesmo quando estou cansada dos ecras — diz a menina —, conti- ‘uo. A minha mae no consegue dizer «nao». Ja pensei explicar-Ihe que sou ainda uma crianga e que nao sei mandar bem, —Nio tens culpa, foi por isso que apanhaste «robite» — explica 0 Je- remias.—Amanhé, vou voltar, e poderds carregar em todos os botdes que quiseres! pela janela e abre a porta ao robs. ida», com os meus botdes? © Jeremias fala das ‘Amenina das trangas espreita — sd stds pronta para jogar 0 «Jogo da Vi Ela escolhe «cantar» e «amor». Nesse instante, palavras de uma cango de embalar que aav6 Ihe cantava quando ela era pequenina: Brith, britha Id no céu | aestrelinha que nasceu! — Era eu!—diz ela, comovida com esta boa lembranca.A seguir, pres- siona os botées «gentilezam e walegriay. —0 tev avd era uma crianga gentil que fazia amigos com facilidade — conta o rab. —Cortava 0 cabelo a tigela, e a sua alegria eramas brin- cadeiras. Uma vez, levou um funil para a escola, porque a professora dizia que ele lia muito baixinho na sala de aula Dia apés dia, a menina carrega nos botes criativos e dos sentimen- tos, até que escolhe adangars e «natureza». J ndo se lembrava de passear ao ar livre. Saiu, com o robé de papelio por bosques e campos tranquilos e encontrou ‘melros, joaninhas e até pampilhos amarelos, que serviram para fazer andou de maos dadas um colar. Perto da casa dos avés, o Jeremias ensinou-Ihe a danga que tinha aprendido. Nesse dia, oavé desce da varanda e diz-Ihe: —Atuaavé gostava daquela misica, Queres dancar comigo? —Claro! Que dia maravihoso! No dia seguinte, 0 rob6 revela que o «Jogo da Video fez parte da sua missdo para combater a «robiten. A menina das trancas, sentindo as Palavras como um adeus, dé-lhe um abraco e abre o seu coraggo: — Jeremias, nestes dias fui mais feliz. Percebi que, longe dos ecras, 2 vida real igada a familia, aos amigos ea natureza é mais emocionante! Hole, € a Festa das Limpadas, a maior de sempre da escola. AS gran des tilias de ramos verdes e flores perfumadas dio as boas-vindas a todos. O campo de relva onde as criangas costumam fazer as suas brincadei- 85 € agora o sitio onde os pais e avés esperam pelo comeco da festa —Aarobiten é um grande problema!—lembra, no palco, a professo- rade artes. Uma avé, ali presente, no esconde o que pensa dos tablets que Ihe roubam a companhia dos netos: — Quando vém a minha casa, n3o tiram os olhos dos ecras. Néo me canso de dizer aos pais que as pequenas plantas devem ser controla- das e guiadas com amor para darem bons frutos. ‘Ao seu lado, alguém reforca a ideia acenando que sim com a cabeca: —Sio 05 dias da infancia que marcam quem vamos ser! — Porque déi o coracdo ver tantas criancas presas aos ecras, tenho uma grande noticia para dar...—anuncia a educadora, trazendo a es- Peranca a quem est na festa & espera de novidades! Um raio inesperado de luz, brilhando por entre as folhas das érvores, anuncia a primeira grande surpresa da tarde. — Olhem! Tantas luzinhas coloridas a piscar no céu! — apontam as criangas. Naquele instante, avista-se 0 disco voador do Engenhocas a descer devager por entre as nuvens, até pousar no meio do parque da escola, a0 lado de duas grandes caixas de cartéo. Nunca ninguém viu nada assim! Durante a maior salva de palmas da tarde, saem da nave os quatro companheiros responsaveis pela inven- ‘go de um robé que pode salvar as criangas da «robite». de coracéis descem as escadas ttenas de criangas, pais e avis. ppasso a passo, da primeira caixa uma explosdo de confetes, para {a ventoinha vermelha ‘A Maria, a Mily, 0 Quincas € 0 f@Paz do disco voador, acenando para (Os quatro amigos, aproximam: de cartéo, de onde sai, no meio surpresa de todos, um robé de papelao com umm na cabeca, — Viva! £ 0 Jeremias! Eu conheco-o—exclama a menina das trangas correndo na sua direcéo. No palco, dé-lhe um beijo na cara de papel acastanhade e revela a todos: —J6 nao tenho «robiter, porque me ajudaste. Volta & minha casa. Gosto tanto da tua companhiat ‘Se alguma vez um rob aparecesse numa escola com tanto carinho, teria de ser numa festa da ‘A avé Mimosa, que ndo perde um segundo do que e: 0 passar perto de duas familias que se mudaram para esta pequena vila, ouve uma conversa reveladora: «Nao é a primeira vez que aqui ser recebido 5, como foil a acontecer, acontecem coisas que so de outro mundo!» A professora das artes explica entdo aos pais e avés que 0 Jeremias uma semana em casa da menina das trancas. Foi um teste fi- pro- ele robé era mesmo capaz de ajudar a cura blema de «robite». Amenina ji ndo est8 presa aos ecrls. A experiéncia mudoua sua vida Passou a gostar de conversar, da natureza, de histdrias familiares, gentil e tornou-se melhor aluna na escola. —AQuando é que o Jeremias vai para a nossa casa? Vao ser construidos mais rob6s iguais? — perguntam os pais das criancas, mui sados e com pressa de avancar. LS : lado do papagaio, a menin corre em diregio a0s pais, a quem dé a mao — Que sorte, mae! Tenho um avd e duas avis. Por isso, tenho tudo para crescer feliz © rob} voador sobe ao cu e dé duas voltas com as luzes a prscar Ouvem-se as vores € as risadas das criangas a0 lar Um dia desaparecer! dizer que foi esta a tarde em que a erobites comegou a e J se passaram seis meses! Na escola da vila, a «robite» praticamente desapareceu. A novidade é que o Engenhocas agora organiza viagens de disco voador para os pais que saber da nova miso do Jeremias. Tudo comegou quando um rapazinho Ihe disse: —0s meus pais passam muito tempo nos ecras, até parecem que gos- ‘tam mais dos tablets do que de mim. Acho que apanhei a «robite» em casal Em vez de uma limpada, 0 robé faz um pedido diferente aos pais: «Dever trazer duas fotografias de uma rua préxima de casa: uma an- tiga, do tempo em que eram criangas, e outra nova, de agora.» —Olhem bem! —dizo Jeremias. — Na fotografia nova, comparando-a coma antiga, falta alguma coisa? —Faltam as marcas da macaca, os skates oua rede presa aos postes... —respondem os pais. — Endo falta mais nada? — insiste o rob. — Quando olham de novo, dizem sempre o mesmo: —Pois é...faltam as criangas! Nesse instante, percebem que esto fechadas em casa a olhar para osecras ea perder a melhor parte da sua inféncia, Os pais deram-thes _muitas coisas, mas no o que de melhor tiveram quando foram pe- uenos: uma vida em familia e tempo ao ar livre! ‘Avviagem termina com um cha com biscoitos e uma foto com 0 robé de papelao, a Maria, a Milu, o Quincas e o rapaz dos caracdis. Na hora de despedido, a avé Mimosa relembra aos pais o segredo: — Nao se esquecam dos avés, de saber dizer endo» e de escutar sem- Bre 0 coragio. E conversem e explorem a natureza com as criancas! A brocura para vencer a erobiten continua a aumentar, mas no se pirocupem, © Engenhocas é tem trés discos voadores. Eo Jeremias, 0 famoso robs de papelgo, vai continuar em missSo!

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