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192 assim com a quantidade continua e mensuravel que é magnitude (megethos, q. v.). Para a solugao final platonica do problema do Uno (hen) e do miultiplo (plethos), ver trias 5. pnetima: ar, respiracao, espirito, spiritus 1. Pneuma, que significa ar ou respiragao (o verbo grego cognato ¢ usado em ambos os sentidos em Homero), é usado no primeiro sentido quando aparece pela primeira vez em Anaximenes. Pneuma ou aer, diz ele, unifica 0 kosmos tal como a nossa psyche, que é também aer unifica 0 nosso corpo (frg. 2; a linguagem do fragmento impressionou muitos por ser um pouco «moderna» de mais para os sentimentos genuinos de Anaximenes). A identi- ficagao do ar e da respiracdo, implicita na analogia de Anaximenes, é tornada explicita pelos pitagéricos quando sustentam que o pneuma e o vazio sao inalados pelo universo (Aristételes, Phys. 1v, 213b). 2. Mas a ligacdo da respiragao e do principio vital transita, tal como no conceito da propria psyche, para uma ligacao posterior com a cognicaéo na especulagado de alguns escritores do século v. Segundo Didgenes de Apolénia, o aer (q. v.) 6 a arche de todas as coisas € o ar quente dentro de nds ¢ a alma (frg. 5; o mesmo passo salienta que o ar dentro de nés é mais quente do que o ar circun- dante mas consideravelmente mais fresco do que o ar a volta do céu; confrontar Cleante, 4 infra e ver nous). Somos entdo infor- mados (Teofrasto, De sens. 39, 44) de que ele ¢ a fonte da cognicao, tanto da sensago (aisthesis, q. v.) como do pensamento (phro- nesis). O ar interno deve ser seco e quente (confrontar a alma ignea de Heraclito) ¢ circula pelo corpo com o sangue (ver kardia). Uma teoria semelhante aparece entre os escritores médicos (ver De morbo sacro 16). 3. Aristételes continua a fazer uso de pneuma nos seus sentidos vulgares de ar, respiragdo e vento, mas introduz, além disso, algo chamado pnewma inato (symphyton) que é uma espécie de substancia quente e espumosa andloga na sua compo- sigdo ao elemento de que sao feitas as estrelas (para o desenvol- vimento desta sugestéo até ao corpo astral dos neoplaténicos, ver ochema). Partindo do coracdo, a sua fungao é fornecer o elo sensitivo e cinético entre os érgdos fisicos e a psyche (ver De gen. anim. tt, 736a-737a). Este pneuma esta presente no esperma e transmite a alma nutritiva e sensitiva do progenitor a descendéncia (ibid, 735a). 193 4, O interesse filosdfico de Aristételes pelo pneuma nao cra consideravel, mas os estéicos deram-lhe uma posicao de destaque. O pneuma é um composto de ar e fogo (SVF 11, 442) ¢ é uma versdo aquecida daquilo a que se chama alma (ibid. 1, 135). Este pneuma, que é inato (symphyton), é levado pelo sangue através do corpo (ibid. 11, 885; ver psyche 28) do mesmo modo que Deus, 0 qual é também chamado pneuma, esta espalhado através do kosmos (ibid.; ver a opiniao de Posidénio, ibid. 11, 1009), apenas variando pelos seus graus de tensio (tonos, q. v.). Cada sistema pneumdatico tem o seu hegemonikon (q. v.) ou papel directivo: o do homem no coragao (kardia, q. v.); 0 do kosmos ou no aither (q. v.; assim Zendio e Crisipo, ibid. 11, 642-644) ou no sol (assim Cleante, ibid. 1, 499). 5. Tal visdo materialista da alma encontrou pouca simpatia quer entre os funcionalistas aristotélicos quer entre os aderentes platénicos de uma alma divina e imaterial. Plotino sugere (Enn. 1v, 7, 4) que os proprios estdicos, ab ipsa veritate coacti, viram a inadequacao dos seus pontos de vista e assim se viram constran- gidos a juntar ao pneuma hilico uma certa dose de notagao quali- tativa ou formal, chamando-lhe «preuma inteligente [ennoun]» ou «fogo intelectual [noeron]». 6. Mas, mesmo antes da época de Plotino, outras correntes estavam a transformar o conceito estéico. Alguns estéicos estavam eles préprios a separar 0 hegemonikon da corporeidade do pneuma (ver nous), posigéio fortemente sugerida pela ética estdica que estabeleceu uma distingdo nitida, moral e intelectual, entre o homem e os outros animais (ver Cicero, De leg. 1, 7, 22; Séneca, Ep. 121, 14). Além disso havia a tradicao religiosa judaico-crista que fez a mesma distingéo e, embora continuasse a usar a expressio pneuma ou spiritus, a empregou num sentido espiritua- lizado e nao material. Assim Filon descreve 0 homem como criado a partir de uma substancia terrena e de um espirito divino (theion pneuma), mas continua a salientar, comentando o Gen. 1, 7, que este ultimo é uma parte (ou como lhe chama, «uma colénia») da natureza divina, e esta é nous (De opif. 135). poiein: actuar, accao A acgao é uma das dez kategoriai aristotélicas enumeradas nas Cat. 1b-2a; os seus exemplos sAo «corta» e «queima». Tanto a accao como a paixdo (paschein) admitem contrarios e graus (ibid. 11b). Mas num contexto ético Aristételes distingue (Eth. Nich. vt, 1140a) entre poiein, no sentido de «produzir» (dai poietike episteme,

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