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A Economia do Subdesenvolvimento Coletanca de artigos e estudos, selecionados ¢ organizados Pe A. N. AGARWALA. S. P. SINGH ee “ ee J Rio be 0 P. Primeira edicao: 1969 ‘Teaduzide de: ‘THE ECONOMICS OF UNDERDEVELOPMENT Oxford University Press — New York Copyright © 1958, by OXFORD UNIVERSITY PRESS ee) nna vraducéo de: ‘Mania Cexawa Wuarety Revisdo téeniea F de: AxrOxto Barsos pr Castro Reservados os diseitos de propriedade desta traducdo pela COMPANHIA EDITORA FORENSE Av. Erasmo Braga, 299 - 19 ¢ 2° and. ~ Rio de Janeiro Largo de S, Franeiseo, 20 - loja - S40 Paulo Impreso no Brasil Printed in Brasil Plano da Obra InrRovugio 1. ABORDAGENS DO PROBLEMA, DO SUBDESENVOLVIMENTO ‘A Economia do Desenvolvimento — Jacob Viner ‘A Expansio Demogtifica © 0s Padres de Vida — Colin Clark © Problema do Desenvolvimento Econémico Limitado — Gerald M. Meier - Economia Politica do Subdesenvolvimento — Paul A. Baran + Uma Interpretacio do Atraso Econémico — H, Myint 2, © CONTEXTO HISTORICO (0s Paises Subdesenvolvidos e a Fase Pré-Industrial nos Pafses Avan- cgados — Simon Kuznets ‘A Decolagem para o Desenvolvimento. AuloSusteniade — W. W. Rostow 7 40 oe 83 99 mt 159 © MECANISMO DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO * H, W. Sixczr No Que sr’sraue, consideraremos algumas das importantes. relagies no planejamento de desenvolvimento de paises subdesenvolvidos, pri- meiramente (segdes I, I ¢ IIL), com 0 auxitio de um exemplo numé- rico (considerado, com otimismo, como bastante realista) e, depois (secio TV), com o auxilio de um modélo mais geral do tipo tornado mais conhecido pelos trabalhios ce Domar, Harrod ¢ Hicks. Espera-se que a orientago seguida contribuird para a compreensio de alguns problemas relativos ao planejamento do desenvolvimento © suas mmi- fuas inter-relagbes. I © modelo mostra, em sua parte superior, a estrutura tipiea de luna economi subdesenvelvida. + The Indian Eeonomie Review, agisto de 1952. Reimpresso com per= tlssio do editor da Indian Beanomie Review e do autor, que € mem= Jiro do Sceretariado das Nacoes Unidas. As opinidesmanifestadas no presente estudo representa, contudo, pontos de Vista pessoais © nd0 Os da referida organizagao, 388, 8 ECONOMIA DO SUBE SENVOLVIMENTO ESQUEMA DO MODELO 1,000 pessoas a 100 délares cada = total da renda “nacional” 100,000 dél. AGRICULTURA, ATIVIDADES NSO-AGRICOLAS 700 pessoas a 57 dolares cada 300 pessoas a 200 délares cada 40.000 délares 160.000 délares ‘Aumento natural anual 12,5 pessoas = 1,25% 70% na agricultura 30% fora da agricultura + 8,75 pessoas Transjeréucias da Agricultura: ++ 3,75. pessoas = 8,75 pessoas “Industrializagaio" +875 pessoas F120 pessoas = 0 pessoas ESBOGO DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIALIZAGKO” (Transferéncia) custo 4.000 délares por trabalhador transferido Aumento da pro- 1.600 d6lares por pessoa transferida dugao anual liquida (8,75 pessoas) = 14.000 délares (Rendim, 16%) = 2.333 délares (Capital/Renda: razie de 6:1) B, INvESTIMENTO AaRfcOLA custo 4.800 délares Lucto = 3% de produgio agricola (Rendimento 25%) = 1.200 délares (Capital/Renda; razao de 4:1) C. PROVISTO DE. CAPITAL ADICIONAL PARA 3,75 PESSOAS FOR\ DA. AGRICULTURA (800 délares por pessoa) (Capital/Renda: razio 4:1) Custo = 3.000 délares Lucto: 750 délares custo Tora, (A+ B+ C) — Lwcko Toral: 4.283 délares por ano $ 21.800 dos quais § 3.033 constituem o “Naturalmente sumento per capa, dispontvet - $_ 6.000 Deficit. ...... $ 15.800 (aumenta a uma taxa de 1-1/4%) a desenvolvimento torna-se Disposigao do. aumento ‘auto-suficiente nos per capita ‘Anos Novo Aumento desenvolvimento do_ consumo EY se Com 2 1,500 délares (50% 1.500 délares 50 (27) ++ €aso Ml “Goo délares (20%) 2:40 délares munca (67) ....+., Caso MM 180 d6lares (6%) 2.820 délares (© MECANISMO DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO 389 (0 “esquuema de modélo” supde que 70% da populagao estejam no setor agricola; que a participagao da agricultura na renda “nacional” total seja de 40%; que a relacaio da renda agricola per capita compa- rada com a renda média per capita seja de 57%. B interessante obser- var que entre 1799 e 1860, quando a renda nacional per capita nos Estados Unidos era de 216 délares (poder aquisitivo de 1926) os 72,8% da populacio encontravam-se na agricultura; esta representa vya'39,3% da renda nacional total e a relagéo das rendas per capita na agricultura comparada as rendas médias era de 54%. Estes dados aproximam-se perfeitamente das hipdteses de nosso modélo, Consideremos um grupo de 1.000 pessoas numa comunidade subdesenvolvida e atribuanos a essa comunidade uma renda per capita de 100 délares cada um aos precos correntes. ‘Tanio quanto se possa confiar nas cifras relativas a renda nacional, isto representaria uma comunidade que se poderia considerar como, aproximadamente, média tem relacio as partes subdesenvolvidas do mundo. A renda “nacional” total do grupo seria, portanto, 100.000 délares. Nao nos preocupamos aqui com as dificuldades de uma determina;io precisa da renda nacio- nal ou de sua significagao, em comunidades subdesenvolvidas. Admi- tiremos, apenas, que tenha sido encontrado um método satisfatério de cileulo da renda. Deixaremos em aberto a questo de saber se a cifra representa medida de bem-estar econdmico, de recursos materiais fou sdmente dos recursos que entram na economia do mercado. Qualk quer definicio seri satisfatéria desde que seja consistentemente mantida, A seguir dividiremos 0 nosso grupo cm setor agricola e em ricola. E uma das caracteristicas de comunidades subde- senvolvidas que 60 a 80% da_populacao se dedicam & agricultura, Admitiremos, por hipstese, 70% na agricultura e 30% fora. Esta € ‘uma proporcio que parece correlacionar-se bastante intimamente com ‘os niveis de renda figurados. Em prosseguimento, 0 modéto atribui uma ronda per capita de 57 délares a8 700 pessoas ocupadas no setor agricola, ¢ 200 délares a cada uma no setor nio-agricola. AAs estalisticas disponiveis — tanto quanto merecam {6 — parécem extraordiniriamente undnimes em de- terminar a renda per capita no sctor agricola de cconomias subdesen- 1 Ropenr F. Maris, ‘National Income in the U.S., 1799-1938, National Industrial Conferenee Board, Nova York, 1899; eitado por Siow Kus erg, ‘National Income Estimates for the US. prior to 1870, Journal of Economie History, primavera de 1052, 390 ‘A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO volvidas, como sendo em t6mo de 55-60% da renda per capita média.! A designagio de 57% da renda média per capita para o sctor agricola é feita em virtude do pequeno tamanho do setor nio- agricola? Uma elevada proporgao da renda média no setor nao-agricola em relagdo média nacional € consoante com os fatos observados e as impressives gerais. ‘Ao considerar os niveis de renda figurados no setor agricola ¢ no setor no-agricola, convém relembrar novamente que a renda nao € necessiriamente usaca aqui como medida do relative bem-cstar nos dois sctores. Conclui-se do nosso modélo — e da realidade se as nossas hip. teses so realistas — que a renda nacional origindria da agricultura responde sdmente por 40% do total da renda nacional, mesmo que © grosso da populagio se dedique ao setor agricola. Assim, é sdmente com referéncia ao emprégo e nao com referéneia & renda nacional que a agricultura pode ser verdadeiramente descrita como atividade “bi- sica’” dos paises subdesenvolvidos. Vale a pena ressaltar éste ponto, Porquanto os relatérios de Missies © documentos semelhantes fre- Giientemente afirmam que as melhorias na agricultura sio de certo ‘modo “mais importantes” do que melhorias niio-agricolas, pois a. agt cultura € a “atividade basica”. Isto basta para a estrutura atual do nosso grupo subdesenvol- vido. © desenvolvimento econdmico para ésse grupo significara uma moditicagio estrutural. A proporcao da populagao nia agricultura teré de calt € 0 SeIOF nio-agricola deverd expandir-se. Deve notar-se que para os fins presentes ¢ inteiramente irrelevante que essa modifi estrutural seja considerada como “finalidade” ou “objetivo” do desen- volvimento ccondmiico, ou suas consegiiéncias. Quer iniciemos pela 2 # notivel que essa relagio também seja apliedvel a paises mais de- senvolvides. Nos EU.A. a'renda per capita na agrieultura, em. 1930, era 59% da renda nacional médio; na Gré-Brotanha, 63%, Na Suéeis era 8% em 1920, mas esta parcee ter eaida para 40% em 1980. (Dados extraidos de E, M_ Ovata: Agriculture and Beonomie Progress, Oxford University Press, Londres, 1952, Tabela 1). 8 “Este iltimo dado 6, naturalmente, mais’ alto do que os dados cor- respondentes para os Estados Unidos, Grd-Bretanha © Suécia, por quanto 0 setor nao-agricola ¢ muito maior nesses paises, Em nenhum déles a rends nao-agricola jamais se aproximou do dabra da media nacional, embora a Sucvia, em 1870, qunse atingisze esta, proporgso ioe, cif). 0 MECANISMO DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO 391 industrializagao, quer pelo desenvolvimento agricola, ou por que outra maneira seja, a clevacao dos niveis de renda terd de ser acompanha- da por uma correspondente alteracao estrutural; isto é, uma diminuigao relativa do setor agricola, Se uma relacdo 70:30 da agricultura & tipica de paises subdesenvolvidos, algo como uma relagio de 20:80 fou de 15:85 é caracteristiea de paises num elevado estidio de desen- Volvimento econémico, os quais si0 considerados sistemas fechados (apés feitos os descontos de excedentes de importagies ou de expor- tages de produtos agricolas) _A velocidade ou taxa de desenvolvimento econdmico pode entio ser descrita pelo ritmo segundo 0 qual a relacao 70:30 na estrutura econdmiea vai-se aproximando da relacio 20:80, que representa 0 equilibrio tiltimo a um alto nivel de desenvolvimento econdmico, ‘Uma hip6tese conveniente para uma economia que se encontre fem processo bastante répido de desenvolvimento econdmico & admitir que a populacio agricola permanecerd constante em nimeros absolutos ¢ que a modificagio estrutural é ocasionada por uma con- centracio do crescimento natural da populagio no setor nio-agricola, Essa hipstese tem sido verificada com razoavel grau de aproxi ‘magio em varios paises que vém atravessando um proceso de desen- volvimento em rea de populacao estavel.t Assim, durante longos periodos do desenvolvimento. britanico, sueco, russo e japonés, a populacio agricola permaneceu aproximad mente constante em tamanho absoluto, Essa hipétese de tamanho abso- Tuto constante da populagio agricola foi incorporada a0 nosso mo- délo. Deve ser acentuado, todavia, que isto representa desenvolvi- mento ceonémico bastante ripido.* © modelo poderia ser ajustado a qualquer outro ritmo de desen- volvimenio. Assim, poder-sc-ia admitir que um térgo ow a metade do crescimento natural da. populacao encaminha-se para a agricultura, om que a taxa de aumento no setor nao-agricola & duas, irés ou cinco vézes maior do que no setor agricola, ete 4 Exeluindo-se pafses como os EULA. Canadi, Austrilia, etc, onde © desenvolvimento foi associado & colonizagao, e os selores agricolas se expandiram simultancamente, 5_ Embora sejam necessirios 100 anos, nessa hipstese, para uma rel gio de 70:30 ser convertida em uma relayao 20:80 (admitindo-se uma faxa de crescimento da populagao 1.25% par ano, durante todo © pes iodo): 392, ‘A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO No nosso modélo imaginamos um aumento por ano de 1,25% nna populagio. Esta é a estimativa atual para o mundo subdescnvol- vido em geral. Contrariamente & impress4o corrente, nfo hi prova conelndente de que a populacio no conjunto das reas subdesenvol- vidas do globo cresga de modo significativamente mais rapido do que nas dreas desenvolvidas.* A populagdo de 1.000 do modelo aumen- tard, portanto, de 12,5 no primeiro ano. De acérdo com a nossa hipdtese, a populagio agricola perma- necerd em 700, € © aumento total de 12,5 pessoas sera adicionado as 300 pessoas do setor ndo-agricola, disso resultando uma taxa de eres- cimenio de cétea de 4% nesse setor. A relagdo estrutural, nessa hhipé- tese, & modificada de 70:30 para 69,1:30,9, aproximadamente, Se a taxa de crescimento da populacio decrescesse no decorrer do desen- volvimento econdmico, 0 grau de modificacio estrutural, cada ano, resultante désse fato, scria correspondentemente menor, © aumento de 12,5 pessoas no setor ndo-agricola pode ser divi- dido €m 3,75 pessoas, ‘representando o crescimento natural da popu- lagio no setor ndo-agricola® © 8,75 pessoas representando a. transfe- réncia do crescimento natural da populagao no setor agricola désse setor para o sctor ndo-agricola, Esta distincdo entre os dois acrésci- ‘mos no setor no-agricola pode ou nao ser considerada relevante num estudo através de um modélo numérico. Ter-se-d de admitir que-0 acréscimo, de qualquer que seja a fonte fem de ser provido de cupital em padres idénticos para ambos 03 grupos, ou entZo Id que admitir padrdes diferentes. Por exemplo, no nosso modélo consideramos os dois incrementos separadamente. Ad- mitiremos que 0 contingente de aumento natural de populagio no selor ndo-agricola (3,75 pessoas) seré entrosado no. setor niio-agri- cola, segundo os padres usuais de produtividade e de bens de pro- duo, ao passo que ss 8,75 pessoas representando a transferéneia da ragricultura serio a ponta‘de-lanca de uma tecnologia mais avangada equivalente a uma “intensficagdo de capital” no setor néo-agricola. 5 A impressio contraria pode ser devida om grande parte & fixaeic de umas poucas areas (quase sempre sthas), de rapido ereseimento de popilagio, tais como Pérto Rico, Ceilao ¢ oulzas, Também se pode atri= Duir essa ‘nocao 2 comparagoes com a baixa taxa de natalidade dos paises industrializados na deeada que se seguiu n 1990 ¥ Admitindo que a taxa natural de erescimento da’ populagéo ¢ a mesma no setor agricola e no setor nAo-agricola, © MECANISMO DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO 393 un Estamos agora em condigdes de examinar um Esbdgo ds Desen- volvimento para a nossi comunidade subdesenvolvida. Essa é con- frontada por trés tarefas: 8) equipar as 8,75 pessoas transferidas da agricultura para o setor ndo-agricola, de tal mode que possam ser-a vanguarda de uma teonologia melhorada. Essa _transferéncinpoderd ser chamada, abreviadamente, “industrializagdo”, contanto que permanegamos cons- cientes do fato'de que inclui transferéncias para servigos comerciais, financeiros, pessoais, ete.s b) aumentar a producio agricola, com 0 niimero constante de pessoas empregadas na agricultura, de medo suficiente. para. prover de alimentos a populagio aumentada do setor nao-ngricola, © tam- bbém para atender a tais aumentos de consimo quais sejam os resul- tantes do programa de desenvolvimento; €) fazer provisies para 0 aumento natural da populagio no setor nio-agricola, segundo os padres correntes. Consideratemos cada um désses trés problemas separadament ustrializacao” dopenderao das cit “individuaimente, Sera melhor ¢al- iemio em dolar por pessoa transteri ou por trabalhador. O custo, por trabalhador, seri elevado onde a proporcio de servigos paiblicos c indistrias pesadas, incluidas no pro- arama de desenvolvimento, for alta, ¢ também onde forem edotadas tunidades de larga escala de producio, segundo padres adiantados de tecnologia. Ha alguns anos passados, custo de assegurar emprégo adicional de um tipo nio-agricola era freqiientemente calculado em 2,500 détares por trabalhador transferido, ou 1,000 délares por pes- S0a transferida. Para os fins ora visciios, esta cifra terd de ser um ppouco aumentida, em parte por eausa da alta de precos verifieada, desde enti, e, em parie, porque « comunidade 2 um nivel de rend nacional de'100 délares per capita teria de incluir num programa de desenvolvimento a longo prazo uma alta proporeio de servigos. bi sicos ¢ utilidades intensamente eapitalizados. O padrio tecnoligico dependerd cm parte da tecnologia disponivel. Desde que ns pesquisas (© concentradas em paises de abundantes capitais, © de~ vendo ser os bens de producéo, em grande parte, importados, con- cluise que os niveis de teenologia deverdo ser mais adiantados do que naturalmente corresponderiam as circunstincias do grupo subdesen- 394 A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO. volvido, Deve ser observado que a superpopulagio, embora torne a “industrializacao” mais necesséria, também tende' a tornd-la_mais barata, contanto que o tipo adequado de tecnologia, caracterizado pela utilizacao intensiva de mao-de-obra, esteja ao alcance dos paises subdescnvolvidos. Dai ser verdadeiro somente em sentido restrito que 1 superpopulacao é um obsticulo ao desenvolvimento econdmico. Admitiremos por hipétese um custo de 4,000 délares por traba- Ihador transferido ow 1.600 dolares por pessoa transferida. Isso per- mitiria assegurar, aos pregos atuais, uma proporgio razoavel de ins- talagdes do tipo intensivo de capital, tais como irrigacéo em larga eseala, energia c estradas de ferro, ao mesmo tempo admitindo um nivel modesto de tecnologia, que se incline no sentido de indiistrias mais leves e de menor escala, da mesma maneira que servigos comer- ciais © pessoais. Inclui pequenas provisoes para habitacio e servigos comunais urbanos, porém isto ainda acarretaria considerdveis encar- 208 dessa natureza, Partindo-se dessa hipstese, a transferéncia das 8,75 pessoas custa- ria 14.000 délares por ano a nossa comunidade subdesenvolvida, ou sejam 14% da renda “nacional” de 100,000 délaces. Que rendimento se poderia esperar désse investimento de 14.000 délares em “industrializagao”? Nesse ponto, temos de nos afastar dt tendéncia dos economistas de admitir uma alta “produtividade margi nal” nos paises subvlesenvolvidos. Em paises subdesenvalvides rara- mente € possivel adicionar, simplesmente, uma unidade de equipamen- to diretamente produtivo €, a0 mesmo tempo, observar 0 ceteris pa- ribus de produtividade marginal. Servigos basicos, tais como ener transportes, etc., j4 se encontram sobrecarregados, ¢ 1&0 € possi ‘aumentar a carga sem inciuir no investimento uma expansio dos pr6- prios servigos bisicos (ou entao desviar servigos de outras empresas € assim, diminuir ainda mais a verdadeira produtividade marginal social). Assim, embora a produtividade marginal em paises subdese volvidos possa ser considerada como alta, em virtude da escassez uni- versal de capital, € de fato um conecito irrelevante. Relevante & 0 conccito da produtividade do completo “conjunto” do capital-equipa- mento diretamente produtivo mais aquéle exigido para produzic con ponentes ou bens complementares, mais as provisoes de servigos ba sicos. requeridos. pelo ndvo investimento, Se relacionada a todo ésse “conjunto”, a produtividade pode vir a ser bastante baixa, como tem ceorrido (muitas vézes inesperadamente) com numerosos investimen- {os em paises subdesenvolvidos. Por outto lado, na medida em que © MECANISMO DO DESENVOLVIMENTO ECONOMIC 395 0s investimentos continuam e se tornam cumulativos, a produtividade do investimento comeca a erescer de novo, tio logo enirem em opera cdo as economias de escala e de conexto. Em nosso modélo, jé que imaginamos uma comunidade pobre, ‘em scus estidios iniciais de desenvolvimento, empreendendo um pro: ‘grama geral de investimento em todos os setores, teremos de admitir uma produtividade bastante baixa (ow sou reverso, uma alta relagdo copital/renda). Figararemos uma produtividade de 17%, equivalente a rela¢io de capital/renda da ordem de 6:1.7 Nessa hipstese, o investimento de 14000 délares produzird uma renda Ifquida anual’ de 2.333 dolares, ou 2,3% da renda “nacional” inicial 'b) A meta de investimentos agricolas pode ser determinada, ten- do em vista a taxa de modificacio estrutural. Dado que a populagao total cresce de 1,25% por ano, enquanto a populagdo agricola per- manece constante, segue-se que a produtividade agricola. (producio por pessoa) deve aumentar de, pelo menes, 1,25% por ano para que possa ser mantido 0 suprimento de alimentos.* “Todavia, ésse crescimento de 1,25% de produtividade repre senta um minimo. Na pritica a produiividade agricola terd de ser aue mentada em mais do que isso. Em primeiro lugar, nfo € suficiente produzir 1,25% mais de alimentos; € necessario também transferi-los para o setor ndo-ugricola De fato, a transferéncia de alimentos deve erescer de pelo menos 4% por ano para que os suprimentos no setor ndo-agricola sejam mantidos. Na pratica, para aumemtar de 4% a transferéncia de ali- mentos seri necessirio aumentar a produtividade de mais do que 1,25%, porquanto os agricultores, normalmente, nao transferirao seu aumento total de producio de alimentos, Desejarao consumir, les proprios, uma parte do mesmo. A curva de oferta dos agricultores em paises subdesenvolvidos notdriamenle inelstien ou mesmo as cendente © recurvada para tris. Além disso, no processo do desen- 8 ‘Tendo em vista alguns dos arqumentos subsoqiientes, talvez conve- nha aereseentar aqui que esta relacao capital/renda € baseada na hipd- tese de formas ortodoxas de Investimentos, Le., cum a exelusio de uli= lizacao especial de recursos ndo-empregador ou subempregados de ma0- de-obra pura a formagao direta de capital, ou ottras formas nao-orto- doxas de investimente, © Em paises subdesenvolvidos, os suprimentos de géneros alimenticios podem ser consideracios, muitag vézes, na préticn, como representatives do consumo em geral 396 A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO volvimento econdmico, sera necessirio fazer provisdes, pelo menos, para um moderado aumento de consimo no setor nio-agricola. Quase que por métodos compulsérios, lgum tipo de incentive deveri ser ado tanto aos proprios agricultores quanto a populagio do sctor nao-agricola. Na hipStese de que 0 consumo per capita deverd ser au- mentado de, pelo menos, 1% por ano — um aumento relativame pequeno e admitindo-se que os agricultores transferirao metade de seu aumento de producao, conclui-se que 0 aumento da produtivi de agricola deverd ser de 3% no minima, Sendo a produgio agricola 40,000 délares na nossa comunidade-modélo, um aumento de 1.200 délares deve ser realizado. Bsia & meta a ser atingida pela agri cultura e que & compativel com 0 esbigo geral de desenvolvimento. Quanto custaré realizar éste aumento de 1.200 délares por ano na produgio agricola? Dz ndvo, hi diferentes circunstincias. Neste ‘caso, paises superpovoaclos poderfo achar mais dispendioso uumentar fa produedo agricola do que paises que contam com abundantes areas de terra, Em quase todos os pais:s subdesenvolvidos existem oportu- nidades para clevar 0 nivel d= producio agricola por métodos relat vamente pouco d como melhores sementes, irrigacio local, melhor rotacao de colheitas, methores ferramentas, etc. Consie derando que semelhantes oportunidades existem e so sistematicamente aproveitadas, admitiu-se que um rendimento de 25% (ou uma rclagio capital/renda de 4:1) seria possivel nos investimentos agricolas.® Se aceitarmos esta estimativa, deverd ser possivel realizar © au- ‘mento requetido de 1.200 délares por ano no setor agricola, mediante investimento de capital no montante de 4.800 dolares. Deve ficar com- preendido, todavia, que isto se bascia em estimativas otimistas, por- quanto, para alguns paises, em todos os estidios e, na maioria dos paises, em certos estidios, 1 realizagio désse objetivo na agricultura podle ser mais dispendiosa, ©) A seguir, tomos de considerar of eustos a serem enfrentados para fazer face a0 aumento natural de populacio no setor nio-agri- cola. Admitiremos que nenhuma tentativa é feita no sentido de dotar © contingente de aumento natural de populacio com uma tecnologia mais avaneada do que_a correspondents a0 nivel atual existente no grupo em estudo. Isto signifiea que as 3,75 pessoas que representam 0 aumento natural do setor nao-agricola poderiam ser equipadas com 19 Measures for the Economic Development of Underdeveloped Coun- tries, relatario de autoria de wm prupo de téenieos nomeados pelo Se- cretirio-Gesal das Nagdes Unidas, Nova Verk, malo 1951, fab, 2, pai. 76 © MECANISMO DO DI ENVOLVIMENTO ECONOMICO 397 capital suficiente para produzirem 200 délares per capita por ano, A. relagao capital/renda que atualmente existe no setor nao-agricola é considerada como sendo de 4:1. Isto corresponde a um rendimento Tiquido anual de 25%. Esta hipstese parece harmonizar-se com os dados esparsos disponiveis a respeiio do rendimento fora da agri- cultura em paises subdesenvolvidos. Admite uma relagao capital/ten- ‘da mais baixa do que no caso de uma tecnologia mais adiantada, por causa de uma proporea maior de servigos pessoais, atividades comerciais ¢ emprésas de muito pequena eseala — tédas contendo, em paises subdesenvolvidos, um elemento de subemprégo ou de desem- prégo disfarcado. Por outro lado, 0 rencimento € considerado como sendo de certo modo mais baixo (ou a relactio capital/renda, mais alta) do que em paises mais adiantados. A razio disso reside nos cencargos dos servicos piiblicas, falta de economias externas, baixos padroes de administracao, fluxos menos seguros de matérias-primas, e dificuldades no suprimento de méo-de-obra_especializada. A ine- xisténcia de uma tecnologia adequad:t & abundincia de mio-de-obra © escassez. de capital também contribui para que a relagio capital/ renda seja maior do que deveria ser. Se a hipstese acima referente a um rendimento de 25% estiver certa, sera necessirio um investimento de 800 délares para cada uma das 3,75 pessoas que representam 0 aumento de populagao a scr incorporado no setor nao-agricola. Disso resulta um investimento total de 3.000 délares © um aumento anual de renda liquida de 750 dolares. ur Estamos agora em condigies de examinar os custos totais ¢ be- neficios do programa de desenvolvimento esbocado, aquilatando de sua exeqilibilidade em relagio aos recursos disponiveis. © custo total do programa de desenvolvimento ¢ 21.800 délares. Dessa quantia, 14.000 délares representam 0 custo da “industralizagao", 4,800 délares te- presentam 0 custo do desenvolvimento agricola € 3.000 délares re- presentam os eustos de provimentos para atender ao aumento natural de populagio no setor nio-agricola. 5 beneficios resultantes désse investimento correspondem a um aumento de 4.283 dolares de renda liquida por ano. Isto representa uum aumento de 4,3% na renda “nacional” total. Feitos os ajustes relativos ao aumento da populacao, 0 incremento da renda per capita Ede 3%. B uma taxa de crescimento bastante ripide, em parte por 398 A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO. causa da hipétese adm la de uma taxa de répida modificagio estru- tural, e em parte, porque admitimos uma taxa clevada de aumento de consumo como corolirio indispensdvel das modificacdes estruturais. imaginadas. A cifra de 3% de aumento na renda nacional per capita poderia ser reduzida se houvéssemos formulado hipsteses mais bran- das a-tespeito de ambos ésses aspectos. 0 cusio total de 21.800 délares representa 22% da renda na onal imaginada. Esta é uma taxa de investimento que, em niveis bainos de renda, tem sido ocasionalmente realizado sob condigdes especiais," mas que, claramente, nao pode ser considerada como financiada por ppoupangas voluntarias, mesmo se suplementadas pelos moderados su- peravits torados possiveis por certas técnicas fiscais praticéveis em paises subdesenvolvidos. Tampouco se poderia esperar que o moderado rau de inflacko que ainda seria compativel com a exccugao de um programa racional de desenvolvimento poderia resultar em “pou- pangas forcadas” que se aproximassem désse nivel Se admitirmos que as poupancss liguidas disponiveis para novo investimento resultantes de um nivel de renda de 100 délares per ca- pita nio sio superiores a 6%, coneluitemos que sdmente 6.000 d6~ Tares dos 21,800 dolares requerides seriam disponiveis para financiar 6 desenvolvimento esbosado. (Seis por cento de poupanca liquida nesse nivel de renda representam o presente estado de coisas em paises subdesenvolvidos: a admitir-se que t6da essa poupanga sera disponivel fara o financiamento de um programa de desenvolvimento representa lum progresso considerivel sdbre as pritieas atuais.) © nosso grupo subdesenvolvido vé-se a bracos, portanto, com um deficit de 15.800 dolares no financiamento do seu programa de desenvolvimento. A conelusio a que assim chogamos é que uma comunidade do tipo considerado no modélo no pode financiar um programs ripido de desenvolvimento ceondmico através de investimento de capital de seus proprios recursos domésticos disponiveis. A menos que adm mos derrota neste ponto, existem quatro métodos possiveis dc solucao: 1. © primeiro seria reduzir 0 custo do programa de desenvolvi mento, baisando a relagio capital/ronda (ou aumentando o rendimen- to por unidade de capital empregado). Isto exigitia a adocao de tec nologia de utilizacio intensiva de mio-de-obra, ¢ possivelmente de taxas de investimento acima de 20% foram caleuladas para 8 estidids iniviais de desenvolvimente econémico do Japio, Russia e, talvez, também para a Gri-Bretanha, © MECANISMO_DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO 309 formas no-ortodoxas de investimento baseadas na utilizago dos de- sempregados © dos subempregados no noso grupo subdesenvolvido, 2. Outra solucio seria aumentar a poupanga liquida através de tentatives para reduzir 0 consumo abaixo do nivel inicial de 94 déla- res per capita considerado como voluntariamente aceito com a distri- buigdo existente de renda. 3. A terceira solucio seria reduzir a taxa de crescimento da populicZo. Isto, no nosso modélo, reduziria a necessidade de capital de trés manciras: a) menos pessoas teriam de ser transferidas da agri cultura, de modo a conservar constante a populacio agricola; b) con- seqiiemiemente © aumento da produgio de alimentos teria de sot mé nor, ¢ assim © programa de investimento agricola poderia ser corta- do; € ¢) 0 ereseimento natural da populaedo no setor ndo-agricola seria menor. Assim, no nosso modélo, o dispéndio total no progra- ma de desenvolvimento decresceria exatamente em proporsa0 a taxa de crescimento da populagao. 4, Finalmente, seria possivel executar o programa de desenvol- -vimento se 0s recursos nacionais do grupo fOssem suplementaclos com recursos do exterior Os trés primeiros casos sfo, talvez mais convenientemente suma- riados na forma mais geral de “equacao-dindmica” do tipo Domar- Harrod do que numa ilustragZo numérica. Isto serd feito na ii parte déste artigo. Antes, porém, 0 quarto caso pode ser ilustrado com © auxilio da seco inferior do Esquema do Modélo. Se admitirmos que o deficit total de 15.800 délares no ano in cial © os deficits dos anos subseqiientes sio cobertos por um influx de capital estrangeiro, as questdes que surgem — t6das elas correla- cionadas — sio: Por quanto tempo deverd o influxo de capital estran- geiro continuar até que o desenvolvimento possa ser financiado por Fecursos nuacionais? Qual sera o debito resultante, final, de capital? Que excedentes de balango de pagamento deverd realizar o pais rec piente de modo a poder pagar 0 débito inicialmente contraido? Obviamente, a resposta a essas questes depende, em grande par- te, dos. incrementos da producao conseguidos na evolucio do pro- cesso de desenvolvimento econdmico. No caso limite, s¢ 0 aumento total for consumido e a poupance liquida permanecer em 6.000 d6- Jares anuais, 0 problema é claramente insolivel. Dado que as neces- es aumentario graduslmentc com o aumento total da popula . 0 deficit aumentara, 0 periodo durante © qual capitais estrangei- 400 A ECONOMIA. DO. SUBDESENVOLVIMENTO ros setdio necessirios se_ proton; divida seri também intinit. © esquema do modélo inclui trés hipéteses diferentes sobre a disposigio dos aumentos da renda per capita. No primeito caso (1), fadmitiu-se uma clevada taxa de poupanga marginal, 50%; no segun- do (2), ainda uma alta taxa de poupanga marginal de 25%; no ter- ceiro caso (3), admitiu-se que a taxa d2 poupanga marginal nio mais alta do que a taxa média de poupanca f., 6%. O esquema do modélo mostra que, na primeira hipdtese, o desenvolvimento se torna futosustentado, em 13 anos; na segunda, em 50 anos; e na terceira, jamais. A dltima conclusio € assaz interessante: desde que o custo iotal do programa de desenvolvimento aumente de 1,25% cada ano, ive, de 197 délares no primeiro ano e cumulativamente mais em anos subseqiientes, segue-se que um aumento constante de 180 délares na poupanca, cada ano, scré to initil para a realizagao de um desen- Yolvimento autopropulsor quanto nenhuna poupanca Notar-se-4, também, que uma redugtio da metade na taxa de poupanga marginal, ic., de 50% para 25%, aumentara o periodo du- Tante o qual o influxo de capital estrangeiro sera necessirio (e assim ‘0 débito final de capital) nio duas, mas quatro vézes. Isso mostra que © encargo final de divida 6 altamente elastico em relagao & taxa de poupanga marginal. Um pouco de austeridade agora evitaré muita aus- teridade mais tarde. (© modelo ilustra, assim, 0 papel estratégico da taxa de poupanca marginal. As rendas atuais de paises subdesenvolvidos sio 120 baixas {que impdem limites bastante estritos ao volume de poupanca que é possivel fazer dentro delas. A principal esperanga de aumento de Poupanca repousa nia possibilidade de poupar uma alta proporcio dos incrementos de renda resultantes do proprio processo de desenvoh mento econdmico. Esse fato indica, também, a importineia de at buir-se, nos programas de desenvolvimento, uma alta prioridade Aqueles tipos de projetos em relacio aos quais uma alta percentagem dos ganhos pode ser recapturada para novos investimientos. Os sim- ples efleulos de ganhos/custos so apenas parte da historia Um mero calcula do modélo mostraré que, se a taxa de pou panga marginal for até 50% — ie., se 0 consumo per eapita aumenta ail de iri a0 infinito! € o eneargo 2 Ou durari, pelo menos, até que a estrutura da economia tenha sido modifieada para a relagao de 20:80 entre 2 agricultura ¢ 0 setor nio~ agricole, relagao essa que foi definida come correspondente a estrutura de uma’ cconomia madura, © MECANISMO DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO 401 nna percentagem de 1,5%, enquanto a renda per capita aumenta na percentagem de 3% — o influxo total de capital estrangeiro exigido durante um periodo de 13 anos seri de, aproximadamente, 100.000 dolares, Admitindo que &te débito aearreta um Gnus médio de juros de 8%, mas que nio é cxigida amortizacio, os encargos de reem- also serio de 8.000 délares por ano. Isso representaria, aproxima- damente, 5% da renda nacional no momento em que 0 desenvolvi- mento se tomasse auto-sustentado € uma percentagem decrescente, dai em diante, na medida em que a renda nacional continuasse a crescer. Durante uma média de 30 anos, depois que o desenvolvi- mento se tenha tornado auto-sustentado, os encargos de reembslso representariam 3% da renda nacional. Dado que 08 paises subdesen- volvidos, em geral, exportam na base de cérea de 20% de sua renda nacional estimada, 0 eneargo inicial de reembélso exigitia exportacoes adicionais num montante de cérca de 1/4 das atuais exportacoes “nor mais”, declinando para um excedente exportivel de 15% da média dos primeiros 30 anos de desenvolvimento auto-suficiente. Essas cifras, scriam naturalmente aumentadas, se 0 débito inicial de capital nao 56 tivesse de ser mantido como reembolsadlo; mas 0 encargo inicial de reembélso seria compensado pela reducio subseqiiente nos encargos de juros. Essas cifras em propore%o nfo parecem irrealizdveis; deve ter-se em mente, contudo, que sao baseadas numa taxa de poupanca mar- ginal exiraordinariamente clevada, ou seja, 50%. Se a taxa de poupanga marginal fOsse 20% _ (caso 2), 0 influxo total de capital requerido elevar-se-ia a 400,000 délares ¢ os encar- gos de reembélso, depois de 50 anos, apis ter © desenvolvimento se tornado auto-suficiente, seria acima de 8% da renda nacional, mesmo sem reembslso, Em conseqiiéncia do consieravel debito de’ capital, © reembélso oneraria pesadamente os encargos anuais. Désic modo, hho segundo cas0, 0 influxo de capital estringeiro nao so teria de ser Iantido por muito tempo, mas pressuporia também um desenvolvi- mento cconémico intensamente orientado no sentido da exportacio ou entao ctiaria dificuldades de balango de pagamento (a menos que 08 fncargos de reembalso sejam_aliviados For meio de cancelamento, auxilio ou falta de pagamento). No teresiro caso, com a taxa marginal de poupanga nio superior & taxa média de poupanea, é evidente, desde que o deficit aumente cada ano mais do que os acréscimos figurados de 180 délares por ano, que 0 desenvolvimento jamais se tornard suto-suiciente 402 A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO Os citculos acima sao feitos na hipstese de um incremento abst Juto constanie da poupanga liquida, igual a 50%, 20% © 6%, respec- tivamente, do aumento inicial da renda per capita. Pode ser uma hi- pétese um tanto pessimista, tendo em vista o fato de que a renda nacional per capita aumenta de 3% por ano durante © periodo consi- derado. A despeito do fato de que recentes pesquisas parecem ter mostrado que as escalas de renda de uma crescente propensio para Poupar aparentemenie no se mantém por periodos além dos ciclos econémicos, pode-se, com otimismo, admitir que os inerementos anua a poupanga também aumentardo de 3% por ano, Nesse caso, natu- ralmente, 0 periodo necessirio para que o desenvolvimento se tone auto-sustentado sera encurtado, e 0 encargo final de reembélso, cor- respondentemente diminuido. Os resultados nessa hipétese sao tam- bem mostrados no esquema do modélo nos dados que se encontram entre parénteses, Deve ser notado que, se 0 aumento de poupanga eleva-se a 3% por ano, 0 desenvolvimento se torna auto-sustentado, mesmo no ter- ceiro caso, quando a poupanga marginal é, por hipstese, somente de 6%. Naquele caso, embora as poupancas adicionais sejam insuficien- tes para fazer face a custos adicionais do desenvolvimento nos pri- ‘meiros anos, tornam, em iltima andlise, possivel o desenvolvimento auto-sustentado, porquanto aumentam numa proporgio de 3% a0 ‘ano, enquanto custo do desenvolvimento aumenta apenas na pro- porgio de 1,25% por ano. Mesmo assim, serio necessitios 67 anos para que o desenvolvimento se torne auto-sustentado, e 0 débito final de capital seria muito elevado. Se, porém, a renda nacional dobrasse cada 13 anos, a renda nacional total em 60 anos seria de aproxima- damente 1,6 milhoes de délares (em vez dos atuais 100.000 d6lares) € 0 dnus de reembéiso resultante nao seria necessariamente muito alto. Nao € tanto uma elevada taxa de reembdlso, mas antes um periodo muito Yong0 de tempo durante 0 qual o influxo de capital teré de ser continuamente mantido, que faz ésse método de desenvolvimento econémico parecer irrealizavel. Vv Podemos, agora, tentar encarar ésse problema de modo mais geral, Uma equagao muito simples, quase tautoldgica, pode ser arma- da para estabelecer a ligagio entre D, a taxa de desenvolvimento eco némico (definido como erescimenio de renda per capita © consi- © MECANISMO DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO 403 derado proporeional ao crescimento de capital per capita) com a taxa dde poupanca liquida (s), a peodutividade dos novos investimentos por tnidade de capital (p)" e a taxa anual de crescimento da populagdo (r). A equacio sera a seguinte: D=sp—r Esta equagio pode ser usada para responder a quatro diferentes ‘questdes, ¢ fornece uma surpreendente quantidade de informagio sébre ‘© mecanismo intimo de funcionamento do desenvolvimento. 1. Dada a taxa de poupanca liquida, produtividade ¢ crescimento da populagio — qual sera a possivel taxa de desenvolvimento? 2, Dada a meta de desenvolvimento econdmico, e dadas a pro- dutividade do capital e a taxa de crescimento da populagio — que poupangas liquidas serao necessérias para sustentar determinada taxa de desenvolvimento? 3. Dada determinada taxa de desenvolvimento ccondmico, ¢ da- das as taxas de poupangas ¢ produtividads — que taxa de aumento de populagio poderé ser sustentada? 4, Dada uma taxa determinada de desenvolvimento econdmico, ¢ dadas as taxas de poupanca e de erescimento da populagio — qual doverd ser a produtividade dos novos investimentos por unidade de capital empregado? A resposta a t6das essas questdes pode ser obtida meramente pela substituicdo de térmos na equagio. Para exemplificar as respostas que podem ser obtidas, estipu- Jaremos uma taxa de desenvolvimento econémico de 2% de aumento anual de renda per capita; uma taxa de poupanga liquida de 69 da renda nacional liquida; uma taxa de erescimento de populacio de 1,25%, ¢ uma relagio capital/renda de 5:1 para investimentos 1. A resposta & primeira pergunta sera a seguinte: com 6% de poupanga liquida, una relagio capital/renda de 5:1 ¢ wna taxa de crescimento de populagio de 1,25%, nenluma melioria na renda na- 13 _(p) também representa a relagio inversa capital/renda préviamente mencionada. 4" "Bssas hhipéteses correspondem bastante aproximadamente & que ins- pirou 0 quadro a pag. 76 do relatério das Nagdes Unidas — Measures for the Economie Development of Underdereloped Countries, elaborado or um grupo de téenieos. Departamento de Assuntos Econdmicos. Na~ Ses Unidas. Nova Yori, malo de 1951, 404. A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO cional per capita, ow nenhum desenvolvimento econdmico serd possi- vel por meio de’ investimento, A economia sera estacionéria, tendo em vista que os pardmetros indicados para a poupanga, aumento da populacio ¢ relacio eapital/ renda podem ser considerados como bastante realistas; a equasao pa rece explicar a auséncia de desenvolvimento espontineo em’ tanlos paises subdesenvolvidos, a baixos niveis de renda. 2. A resposta a segunda questio: Com wma taxa estipulada de desenvolvimeno econdmico de 2% por ano, uma relacéo eapital/ren- da de 5:1 ¢ wma taxa de crescimento de populacdo de 1,25% serd necesséria para tornar possivel a taxa preestabelecida de desenvolvi menio. Semelhante taxa de poupanga € cérea de trés vézes a taxa de poupanga efetivamente observada em paises subdesenvolvidos. 3. Resposta a tereeira questo: Com wma taxa preestabelecida de desenvolvimento econdmico de 2%, uma taxa de poupanga liqui- da de 6%, e uma relagao capital/renda de 5:1, nenhum aumento de populacao poderd ser sustentado. © desenvolvimento no ritmo contem- lado somente seria possfvel numa sociedade de populagio estacioniria. 4. Resposta & quarta questo: Com uma taxa preestabelecida de desenvolvimento econdmico de 24% ao ano, 6% de poupanca liquida, € wma populagdo aumentando na proporgio de 1,25% por ano, a pro- dutividade do investimento, por unidade de capital, teria de ser de 54% (ou uma relagio de capital/renda inferior a 2:1). Se a produtividade normal do investimento for 20% (ou relagio de cupital/renda de 5:1) isto significa que a taxa estipulada de desenvolvimento econdmico sdmente poderd ser mantida se for descoberta uma tecnologia que em- pfegue pouco mais de 1/3 de quantidade de capital por unidade de producao, do que 0s investimentos ortadoxos de capital © titimo resultado nos dé o ponto crucial do problema. Admi- {indo que 0 rendimento do capital é de apenas 20% ¢ que a tecno- Jogia ¢ fixa numa relacdo capital/renda de 5:1, nio sera possivel qual- quer progresso econémico por meio de investimento a menos que a producto possa ser aumentada pela util jo-de-obra desempregada ou subempregada e de recursos naturais sem nenhu- capital. Alter- nativamente, t6da a tecnologia de todos os novos investimentos de- verd ser diltida no sentido de intensificacio do uso de mio-de-obra; a equagéo indica o grau em que semelhante diluico sera necessitia 4 ainda um outro caminho: sco tendimento unitirio cxigide do capi fi, mas o rendimento apenas de 20% ainda po- deria set possivel manter a taxa estipulada de desenvolvimento cco- 0 ME ANISMO DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO 40s nomico, desde que um aumento de produsio de 1,7 vézes isso reali- zada por mcio dz novos investimentos possa set conseguida pelo au- mento da produtividade do capital existent. Dado que 0 aumento anual de producio 6 de 3,25% (2% per capita © 1,25% de aumento da populace) e tendo-se consi. aumento da produc como associado a um correspondente aumento de capital, Z,, de 3,25% por ano, conclui-se que um aumento adi ccional da ‘producdo de 1,7 vézes somente pode ser obtido mediante tum aeréscimo da produtividade de capital existente de (1,7 X 3,25%) ou 5,525%. ‘A taxa estipulada de desenvolvimento pode ser mantida se, além do investimento normal, a produtividade do capital existente for, ao mesmo tempo, aumentada de um pouco mais do que 5,5% por ano. Estudos sobre a indtistria téxtil do algodio em paises da América Latina, © outros estudos, tm mostrado 0 campo para melhoria ma produtividade do capital existente. ‘Uma tiltima observacio deve ser sObre 0 r (taxa de crescimento da populagio) na cquagio (D = sp —r). Deve notar-se que na equa- gio, r aparece como fator negative, com um sinal menos (—) Isto nio deve ser interpretado como prova do ponto de visia de que populagtio € um obstéculo ao desenvolvimento econdmico. Se r — taxa de aumento da populagdo — aparece como fator negativo, isso de nenhum modo exelui a possibilidade de que: um clevado r possa produzir tais efeitos sobre s ou p que o resultado guido de um -aumentado possa nao ser tio negativo quanto a formula leva a crer, pode mesmo ser positive. Nio é provavel que 0 cfeito sdbre s scja especialmente benéfico, mas a relagdo entre r e p oferece aspectos in- teiramente diferentes. Um estado de superpopulacao — resultante de uum elevado r anterior — do mesmo modo que uma elevada taxa cor- rente de aumento de populagio — um elevado r corrente — oferece io sum desafio, mas também uma opertnidade. Uma oportuni- dade, no sentido que permite se ajuste a tecnologia dos novos inves- timentos, de modo que p — aeréscimo de producéo por unidade de capital — aumente, e, também, que se cleve a produtividade do capi tal existente pela aplicagio de mio-de-otra adicional, aumentando novamente p. 1 Labour Productivity of the Cotton Textile Industry in Five Latin American Countries United Nations Publications

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