Você está na página 1de 8
Magda Soares ‘Toda crianga pode aprender a ler e a escrever wh editoracontexto el wk SUMARIO INTRODUCAO ALFABETIZACAO E LETRAMENTO Unipapes Aprendizagem da lingua escrita: um todo em trés camadas Unipave2 Conceitos de alfabetizagio ¢ letramento Unipaves O texto: eixo central de alfabetizagao e letramento, A ENTRADA DA CRIANCA NA CULTURA DA ESCRITA Unipaver O objeto do processo de alfabetizagio: ‘o sistema de escrita alfabética Unwave2 Desenvolvimento e aprendizagem na apropriagdo do sistema de escrita alfabética Uniwapes As primeiras escritas da crianga: dos rabiscos as letras O DESPERTAR DA CONSCIENCIA FONOLOGICA Unipaver Consciéncia fonolégica: conceito e dimensdes. Unipane2 —Escrita silébica sem valor sonoro Unipaves Escrita silébica com valor sonoro. a5 7 23 4 43 51 61 75 77 87 97 ALFALETRAR * MAGDA SOARES Vocé deve estar pensando... ° Oo Leia, a seguir, um re- gistro de aulas observa- das durante quatro dias por uma pesquisadora que buscava a resposta para essa pergunta, O livro ao lado foi o centro da aula, 28, Como atividades de letramemto podem sugerir atividades de alfabetizacao? FLAVIA MUNIZ A calxa & xq MALUCA ALFABETIZAGKO € LETRAMENTO OBSERVACAO DE AULAS DE LINGUAGEM ~ 1° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 2.A5 DE ABRIL, 2018 (40 dias apés 0 inicio do ano letivo) Primeiro dia, segunda-feira: Depois de conversar um pouco com as crian- as sobre 0 que tinham feito durante a semana anterior (Semana Santa), a professora anunciou que iam comecar o dia com uma histéria bem engracada; pediu as criangas que se organizassem na “rodinha da hora do conto”: percebi que elas ja tinham ocostume de ouvir histérias em rodinha, Colocou no centro da rodinha uma grande caixa fechada, com sinais de interrogagiio em cada lado, dizendo que aquela era uma “caixa maluca’, Perguntou as criangas © que achavam que havia dentro da caixa e varias sugestées foram dadas: um coelho... chocolate... uma boneca... pipoca... bala... Mostrou, entao, o livro, leu o titulo na capa acompanhando com 0 dedo cada palavra ¢ silaba: A CAIXA MALUCA. Apontou na capa o de- senho da “caixa maluca” (semelhante ao que estava no centro da rodinha), relacionou o desenho da caixa com a palavra “caixa” no titulo do livro e perguntou: sera que o que esta dentro desta caixa maluca (apontando 0 desenho da caixa no titulo do livro) sio aquelas coisas que voces disseram que estio dentro da nossa pediu as criancas que mostrassem onde estava o nome de quem tinha es- crito o livro, a autora, leu ~ Flavia Muniz; apontou e leu o nome de quem tinha feito os desenhos do livro, o ilustrador ~ Michele Iacocca, Em seguida, mostrou a quarta capa ¢ pediu que as criangas identificassem os animais que ilustram capa e quarta capa ¢ foi construindo, em uma folha de papel pardo, uma lista (destacou que estava fazendo uma lista) com os nomes dos animais identificados (as criangas identificaram varios), Passou, entao, a ler a historia, com o livro sempre aberto diante das criangas, e correndo 0 dedo indicador ao longo das linhas, da esquerda para a direita e de cima para baixo; levava as criangas a observar as ilustragdes (desenhode animais e alimentos citados na hist6ria), apontava e relia no texto a palavra que correspondia a ilustragio, Ela lia bem, usando um tom de vor diferente para a fala de cada animal, Antes de virar a pagina para a que revelava 0 que havia na caixa, interrompeu a leitura criando suspense: afinal, o que sera que est dentro da caixa? As criangas ficaram em grande expectativa, e, quando foi visto e lido o desenlace, manifestaram grande surpresa, riram, comentaram a ilustraso, o susto do macaco, a careta da mola, Em seguida, com 0 auxilio das criangas, abriu a “caixa maluca” colocada no inicio da aula no centro da rodinha e distribuiu o que havia dentro dela: pirulitos. ixa maluca? Continuow analisando 0 livro: 29 ALFALETRAR * MAGDA SOARES Segundo dia, terca-feira: No hordrio da aula de linguagem, a professora voltou ao livro, fez perguntas de compreensio e interpretagao da his- téria, retomando, quando necessario, a leitura (de onde tinha vindo a caixa? Que animal viu primeiro a caixa? Vamos lembrar os animais da histéria?) — aqui, foi construindo, ao lado da lista jé feita com os animais identificados pelas criangas na capa e quarta capa, uma lista dos animais da historia nao presentes na lista anterior, levou as criangasa comparar as duas listas e a identificar, comparandoas palavras, que animais apareciam nas duas listas; construiu também uma terceira lista com as respostas das criangas sobre 0 que os animais achavam que havia dentro da caixa, Neste momento, fez as criancas observarem as trés listas e pediu que concluissem: 0 que ¢ uma lista? Quando € que a gente escreve em forma de lista? Para que serve uma lista? ‘Terceiro dia, quarts-feira: Com base nas trés listas, que continuavam ex- postas nas folhas de papel pardo, com o livro ao lado, a professora propos brincadeiras com os nomes dos animais: identificar que animal tinha 0 nome maior, orientando-se pela lista; dizer palavras que comegassem igual 40 nome do animal que tinha visto a caixa primeiro, o SAPO (apontou o primeiro da lista) ~ as criangas falaram, por exemplo, SACOLA, SALADA, SAPATO, SALA, SACL...); palavras que terminassem igual aos nomes de dois animais da historia que terminavam igual, LEAO e PAVAO ~ as crian- gas falaram, por exemplo, BALAO, SABAO, AVIAO...). Props atividades de descobrir na lista e ler palavras que se diferenciavam por uma s6 letra (fonema): PATO - GATO; GALO ~ GATO. Em seguida, a professora voltou a atencao das criangas para a caixa que continuava no centro da rodinha € propés uma adivinhagdo: disse que tinha posto outra coisa dentro da aixa, distribuiu folhas de papel e pediu que cada crianga escrevesse, “do jeito que soubesse’, o que achava que ela havia colocado dentro da caixa. Cada crianga escreveu e leu o que escrevera e s6 entdo a caixa foi novamente aberta, para verificarem quem tinha acertado, A caixa tinha saquinhos de pipoca, cada crianga ganhou um ~ algumas criangas tinham “acertado” escrevendo POK, IOA, PIOA. Quarto dia, quinta-feira: A professora leu mais uma vez o livro e, em se~ guida, propés as criangas a construgdo de um eartaz que motivasse outras criangas da escola alerem o livro; 0 cartaz foi sendo construido com frases sugeridas pelas criangas. A professora funcionando como escriba, escre- vendo lentamente, pedindo ajuda das criangas para escolher as letras de certas palavras ou silabas, e falando em voz alta cada palavra; o cartaz foi ilustrado por algumas criangas, obedecendo as ideias dadas pelos colegas. Verifiquei depois que o cartaz foi realmente colocado na biblioteca, 30 ALFABETIZAGAO E LETRAMENTO PARE E PENSE Pea Sea Ce Cot ene cee mens eee mer Man ny eur NET Ot Coe Oe CN Lean a ato) vocé também o relatério das aulas que foram descritas, organizando-o nos eect Cea cnet Pa nna ots cnc cnt eCard Mee ne te aici ee scarey ee een tea eee Perc) PERM emie ye sea Eee Eee ai ee ere PMC une icetctet eS Soe ier Tac Mes a PRCA React ete irre ETM cnn) STEM sate cut Mee au een ec enue cor) Cone erate en ean eet Cem CTE ae 31 RESPOSTAS E COMENTARIOS AS QUESTOES io haven- nao ha demandas de registro escrito das interagGes orais, do, assim, razao para a representacdo da lingua oral em lingua escrita. 2. O contato de grupos dgrafos com culturas letradas cria a necessidade da aquisigao da lingua escrita dessas culturas, para se relacionarem com sociedades em que lere escrever sao habilidades indispenséveis, Por outro lado, passam a sentir a necessidade de ter a sua propria lingua escrita, para preservacao de sua cultura. Conhecer a alfabetizacio e letramento indigena no Brasil alarga, por contraste, a compreensao sobre a alfabetizacao e letramento dos falantes de portugués. Uma sugestao: leia na internet, em www.plataformadoletramento.org.br/em-revista-entrevista, html a entrevista com uma professora especialista em educacdo indigena: Josélia Gomes Neves. 3. Resposta pessoal. A pergunta pretende que vocé identifique as demandas de escrita de sua vida pessoal, social, profissional, tome consciéncia da necessidade da lingua escrita no contextoem que vive. Pense também se algum dos usos que vocé faz da lingua escrita poderia ser substituédo pelo uso da lingua oral. Neste caso, analise: por que usa a escrita quando poderia usar a fala? Sugestdes de respostas para as questées propostas sobre a aula observada por uma pesquisadora, 1. a) Procedimentos que tém por objetivo especificamente a alfa- betizacao: Ler a historia correndo 0 dedo ao longo das linhas, evidenciando assim a diregdo da escrita; chamar a atencao para determinadas palavras do texto relacionando-as com o desenho; comparar pa- lavras em duas listas, identi ficando palavras iguais; desenvolver a consciéncia fonoldgica levando as criangas a dividir palavras em silabas oralmente, comparar o tamanho de palavras de acordo com 0 ntimero de silabas, encontrar palavras com silabas iniciais iguais e palavras que rimassem; introduzira consciéncia fonémi- ca, levando as criangas a comparar palavras que se diferenciavam apenas por um fonema; desenvolver a escrita espontanea, b) Procedimentos que tém por objetivo o letramento: 325 ALFALETRAR © MAGDA SOARES Manter uma “hora do conto”; desenvolver a aula em torno da leitura. de um liyro, despertando a curiosidade das criangas construindo uma situacdo semelhante 4 que viveriam os animais na historia; levar as criangas a analisar o objeto “livro”, analisando a capa, o ti- tulo, o ilustrador, as figuras de animais; construir listas - um género de texto ~ chamando a atengao para o género e explicitando suas caracteristicas e seu uso; desenvolver habilidades de compreensio ¢ interpretacao do texto narrativo ~ relagao das ilustragées com © texto, previsao da continuidade da histdria, identificagao de informagées na historia; desenvolver a produgao de cartaz. sobre o livro, escrevendo com a colaboragio das criangas. 2. A professora contextualizou atividades de alfabetizacdo em palavras da histéria, de modo que as criangas distinguissem o significado de palavras da cadeia sonora que expressava esse significado, iden- tificassem a identidade sonora de partes de palavras da histéria (rimas, aliteragdes) e a representagao da cadeia sonora por letras, por meio da construgio de um género de texto ~ listas sugeridas pela historia. Atividades de alfabetizacdo ganharam sentido porque contextualizadas em palavras com que se familiarizaram na histéria; as criancas desenvolveram, em conjunto de atividades articuladas, habilidades de leitura, compreensio e escrita, consciéncia fonoldgica e habilidades de representagdo da fala pela escrita, 3, Alfabetizar e letrar tomando um texto para leitura, desenvol- vendo habilidades de compreensao e de escrita, evidenciando as relagdes de palavras lidas com cadeias sonoras, com reflexdes que orientam para a apropriagao do sistema alfabético. UNIDADE 3 - O texto: eixo central de alfabetizacao e letramento Resposta pessoal, mas os argumentos principais sao: tal como a crianga aprende a lingua falada por meio de textos em situagoes de interagao com falantes que a rodeiam, ela também aprende a escrita em interacao com textos escritos que dao sentido ao uso da lingua escrita, mas com a diferenca que ela aprende a lingua falada naturalmente, sem neces- sidade de ensino, pois a fala é uma capacidade inata do ser humano, enquanto a lingua escrita precisa ser aprendida, porque é um produto cultural inventado pelo ser humano. 326

Você também pode gostar