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Uma Nova Visão de Polícia Judiciária No Estado Democ
Uma Nova Visão de Polícia Judiciária No Estado Democ
Orientadora:
Professora Dra. Samyra Haydée Farra N. Sanches
__________________________________________
Profª Dra. Samyra H Dal Farra N. Sanches
__________________________________________
Prof.
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Prof.
Primeiramente a Deus por ter me dado forças e paciência para alcançar o meu
objetivo, e sabedoria para vencer mais essa trajetória da vida.
Agradeço a minha família que sempre me incentivou para que eu pudesse alcançar
mais este objetivo em minha vida;
Agradeço a todos os amigos que conquistei, pois sem eles não teria conseguido
forças para superar cada obstáculo destes anos;
Agradeço a todos os professores que com zelo e destreza puderam transmitir seus
conhecimentos a mim;
Agradeço a minha professora orientadora Dra. Samyra Haydee Farra N. Sanches
pela sua paciência e dedicação dispensada para que eu pudesse ter êxito nesta etapa da minha
vida.
E a todos que de maneira direta ou indireta me apoiaram para que eu chegasse ao
final desta trajetória.
“Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar
certo, na hora certa, no momento exato. E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional,
não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a
ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma
situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o
momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas,
tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou
essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes
planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas
menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o
futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me
decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e
valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver!!!
Charles Chaplin.
RESUMO
No Brasil, a polícia apresenta composição complexa, pois é formada por duas instituições
distintas, com relativa divisão de funções. Um segmento é fardado, com administração
militar, e tem como principal atribuição o policiamento ostensivo. O outro segmento, de
natureza civil e atua como auxiliar do Poder Judiciário, por isto é chamado de Polícia
Judiciária e sua principal função é a apuração das infrações penais. A Polícia Judiciária é
dirigida por Delegados de Polícia de carreira, bacharéis em direito. Histórica e culturalmente a
Polícia Judiciária exerce suas atividades de forma apenas repressiva embora desempenhe
diversos papéis no Estado Democrático de Direito, incluindo o social. Diante do aumento da
criminalidade conclui-se que a repressão, utilizada pelas agências policiais para contê-la não
é, isoladamente, eficaz para combatê-la. Desse modo, surge a necessidade de se buscar
alternativas, em especial de prevenção ao crime. Para enfrentar o desafio de construir um
papel também preventivo para a Polícia Judiciária, tornando-a mais legítima e eficaz, o
presente trabalho apresenta uma alternativa que propõe a mudança de conduta da Autoridade
Policial, o Delegado de Polícia, que passaria a atuar com o objetivo de tornar efetivos os
princípios norteadores da nova ordem constitucional a fim de garantir e dar maior eficácia a
dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades sociais, promovendo a conciliação
e orientação em conflitos sem natureza criminal ou em crimes de menor potencial ofensivo,
ou ainda deixando de autuar em flagrante delito, de forma motivada, quando as circunstâncias
e a gravidade do crime assim indicarem, autores de crimes de pequena ou eventualmente
média gravidade. Na estrutura da Delegacia de Polícia haveria a criação de equipes
multidisciplinares, com profissionais do Serviço Social e Psicologia que auxiliariam a
Autoridade Policial na busca das motivações do crime e da personalidade dos envolvidos para
se encontrar soluções mais justas e adequadas já na fase pré-processual. Também
participariam se desejassem as pessoas atendidas, autoridades religiosas, para promover o
conforto espiritual e auxiliar na busca da solução pacífica e consensual do conflito. Um
profissional de jornalismo auxiliaria a Autoridade Policial em campanhas preventivas visando
a redução do medo e a insegurança pública. A participação da comunidade seria de
fundamental importância para o desenvolvimento da proposta e sua atuação se daria pó meio
do conselho comunitário de segurança que passaria a funcionar nas sedes das Delegacias de
Polícia, ao lado da Autoridade Policial, para auxiliá-la e promover estudos com vistas à
participação nas políticas públicas de segurança. Este novo modelo de Polícia Judiciária teria
incumbências preventivas e participaria ativamente da solução de conflitos que lhe chegassem
ao conhecimento com base nos modelos de polícia comunitária e práticas restaurativas. A
finalidade desta atuação preventiva seria buscar maior eficácia das garantias aos direitos
fundamentais e seus elementos jurídicos encontram supedâneo nas modernas teorias do
garantismo penal e do direito penal mínimo.
In Brazil, police have complex composition, because it is formed by two different institutions,
with relative division of functions. A segment is uniformed, with military administration, and
he/she has as main task the ostensible policing. The other segment has civil nature and acts as
assistant to the Judiciary, for that is call of Judiciary Police and its main function is the
investigation of criminal offenses. The Judicial Police is headed by Deputy Police career, in
bachelors law. Historically and culturally the Judiciary Police performs their activities in
repressive but only plays various roles, formal and informal, in the Democratic State of Law,
including the media. Faced with rising crime conclude that the repression, used by police
agencies to tell it is not, in isolation, effective. There are the needs to seek alternative
arrangements, in particular the prevention of crime. To meets the challenge of building a
preventive role also for the Judicial Police, making it more legitimate and effective, this work
creates an alternative that proposal which proposes to conduct of the Police, the police Officer
who will work with order to make effective the principles of the new constitutional order to
ensure greater efficiency and to human dignity and reduction social inequalities, promoting
reconciliation and guidance on conflicts without criminal or crimes of lower offensive
potential, or also reported leaving in flagrante delicto, so motivated, when so indicate, the
authors of minor crimes or, average severity. The structure of the Police station there is
proposal of the creation of multidisciplinary teams, with professionals of the Social Work and
Psychology to assist the police in the investigation also the motivations of those involved in
crime and to seek fair and adequate solutions in the pre-procedure. Also participate if they
whish people attended, religious authorities, in order to promote the comfort and spiritual help
in the search of the peaceful and consensual solution of the conflict. A professional journalism
to help the police in preventive campaigns aimed at reduction the public fear and insecurity.
Community participation is essential of the proposal and its performance will be given
through Community Security Council that would work in the headquarters of the Police
station, next to the Police Authority, to assist them and promote studies in order to participate
and guide the public policies of security. This new model of Judiciary Police have preventive
tasks and actively participate in resolving disputes brought to it by using the techniques of
conciliation, mentoring, community policing and restorative practices. The purpose of this
preventive action is to search for more effective guarantees of fundamental rights and their
legal aspects find supedâneo guaranteed in the modern theories of criminal and penal law
minimum.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
I - A Polícia Judiciária e seus Papéis no Estado Democrático de Direito .......................... 15
1.1. O Papel Institucional e Formal da Polícia Judiciária ......................................................... 15
1.2. O Papel Repressivo e Informal das Agências Policiais e o Poder de Polícia da Polícia ... 19
1.3. O Papel Social Formal e Informal da Polícia Judiciária.................................................... 24
1.3.1. Segurança Pública como Direito Social Formal e Polícia Judiciária ............................. 24
1.3.2. Fatos de Natureza Social e o Papel Social Informal da Polícia Judiciária ..................... 26
1.3.3. O Boletim de Ocorrência sem Natureza Criminal e Polícia Judiciária .......................... 27
1.4. O Papel da Polícia Judiciária no Regime Democrático ..................................................... 30
1.5. Construindo um Papel Preventivo para a Polícia Judiciária .............................................. 35
1.5.1. O Papel Preventivo da Polícia Judiciária e alguns princípios Constitucionais do Estado
Democrático de Direito ............................................................................................................ 39
II – CRIMINALIDADE E ATUAÇÃO POLICIAL ........................................................... 46
2.1. Ocupação Espacial das Cidades ........................................................................................ 47
III – ELEMENTOS JURÍDICOS PARA A ATUAÇÃO PREVENTIVA DA POLÍCIA
JUDICIÁRIA .......................................................................................................................... 55
3.1. Estado de Direito - Garantismo Penal................................................................................ 59
3.2. Garantismo Penal e Polícia Judiciária ............................................................................... 63
3.3. Prevenção e Garantismo Penal .......................................................................................... 65
IV – TÉCNICAS DE PREVENÇÃO À CRIMINALIDADE E O PROGRAMA
NACIONAL DE SEGURANÇA CIDADÃ (PRONASCI) .................................................. 69
4.1. Justiça Restaurativa............................................................................................................ 69
4.2. Polícia Comunitária ........................................................................................................... 75
4.3. A Política de Segurança Pública voltada a Prevenção da Criminalidade do Governo
Federal ...................................................................................................................................... 81
V - PROPOSTA ALTERNATIVA DE PREVENÇÃO Á CRIMINALIDADE
CONDUZIDA PELA POLÍCIA JUCICIÁRIA ................................................................... 84
5.1 Funcionamento Permanente do Conselho Comunitário de Segurança na Delegacia de
Polícia ....................................................................................................................................... 86
5.2. Equipes Multidisciplinares Atuando ao Lado da Autoridade Policial ............................... 89
5.3. Plantões Sociais ................................................................................................................. 94
5.4. A Asistência Religiosa ....................................................................................................... 97
5.5. A Publicidade Preventiva feita pela Polícia Judiciária ...................................................... 98
CONCLUSÃO....................................................................................................................... 101
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 105
10
INTRODUÇÃO
1
Art. 144, parágrafo 5º., da Constituição Federal de 1988: Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública;...
11
2
Artigo 144, parágrafo 4º, da Constituição Federal de 1988: Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares.
12
foram abordados detalhadamente porque seu conhecimento facilita o planejamento das ações
preventivas da proposta.
No terceiro capítulo o autor trouxe a fundamentação jurídica que legitima a
atuação policial preventiva.
Os modelos de prevenção à criminalidade existente foram objetos do
quarto capítulo. A justiça restaurativa e a polícia comunitária foram pormenorizadas porque se
identificavam com a proposta alternativa preventiva que foi conduzida pela Polícia Judiciária
e que é objeto do quinto e último capítulo.
A proposta de atuação preventiva trás contornos de como será feita a
prevenção pela Polícia Judiciária.
15
Neste capítulo, o autor desta pesquisa pretende fazer uma breve análise da
história, cultura e estrutura da Polícia Judiciária e também dos vários papeis que ela
desempenha no sistema penal e demonstrar que sua função institucional formal tem conotação
repressiva.
A crítica criminológica e até pesquisas com dados históricos revelam que
as agências policiais, incluindo a Polícia Judiciária, sempre foram utilizadas como longa
manus do Estado com a finalidade de manter o poder da classe dominante. Pode-se afirmar
que a esse respeito às agências policiais exercem também um papel político informal.
Em razão da grande procura das unidades de Polícia Judiciária pelas
camadas mais pobres da sociedade para resolver conflitos de cunho social, principalmente por
não haverem outras instituições que lhes dêem esse amparo, a Polícia Judiciária exerce um
papel social, também informal.
Será necessário construir um papel preventivo para a Polícia Judiciária já
que as leis não prevêem atribuições preventivas para a instituição.
Os principais atos do dirigente da Polícia Judiciária, a Autoridade Policial,
são exclusivamente repressivos e, em sua maioria, atingem as classes mais pobres da
sociedade. Para uma adequação desses atos ao programa preventivo de combate à
criminalidade, será necessário, por parte da Autoridade Policial, uma interpretação principio
lógica e conforme a Constituição Federal que enfatize principalmente o princípio da
dignidade da pessoa humana.
Para que haja a efetiva aplicação da lei penal, o fato criminoso e sua autoria
precisam ser investigados. Essa apuração é feita pela Polícia Judiciária, outra instituição
policial, mas de caráter civil, que atua de maneira formal e por meio de um procedimento
administrativo denominado Inquérito Policial.
Para o cumprimento das funções previstas na Constituição Federal de 1988
a Polícia Judiciária conta com uma estrutura física e humana. É a única instituição policial
dirigida por agentes públicos com formação jurídica como requisito: o Delegado de Polícia de
carreira.
O papel institucional da Polícia Judiciária está delineado no artigo 144,
parágrafo 4º., da Constituição Federal, assim redigido:
A instituição, no entanto, tem diversas atribuições que vão muito além das
funções de Polícia Judiciária e da apuração da infração penal e sua autoria, como, v.g., a
expedição de importantes documentos públicos (trânsito, antecedentes criminais, etc.), bem
como os registros de fatos de interesse jurídico sem natureza criminal e prestação de serviço
social, este de caráter informal.
17
Por exercer funções públicas relevantes que exige tomada de decisões com
certo poder discricionário, o Delegado de Polícia é intitulado Autoridade Policial.3 Para seu
auxílio há um quadro de funcionários públicos denominados agentes da Autoridade Policial,
ou simplesmente policiais civis.
A Autoridade Policial é o Delegado de Polícia, incumbindo-lhe por
dispositivo legal a mantença da ordem social e a tranqüilidade coletiva. Possui, assim, poder e
exerce autoridade. Poder e autoridade que devem ser empregados unicamente a serviço da
população.
Nilsson (1996, p. 93) afirma que só “é autoridade o funcionário que está
investido no poder de mando, que exerce coerção sobre pessoas e coisas, que dispõe do poder
de polícia, ou seja, discricionariamente, nos expressos termos previstos na lei”.
No Brasil o cargo de Delegado de Polícia surgiu com o Decreto nº. 120, de
31 de janeiro de 1842, que regulamentou a Lei nº. 261, de 3 de dezembro de 1841. O nome
Delegado de Polícia foi usado pela primeira vez no Alvará de 10 de maio de 18084, para
designar a autoridade policial da Província, que representava o Intendente Geral (NILSSON,
1996, p. 93).
As funções da Polícia Judiciária são exercidas em sedes próprias chamadas
Delegacias de Polícia ou Distritos Policiais.
3
Código de Processo Penal - Art. 4º: A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território
de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Artigo 144, §
4º da Constituição Federal: "às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares". Damásio Evangelista de JESUS adverte que o "conceito processual penal de autoridade policial é
mais restrito do que o do Direito Administrativo na medida em que este último alcança todos os servidores
públicos”. Assim, o artigo 301 do CPP, tratando do flagrante compulsório, acentua que ‘as autoridades policiais
e seus agentes’ deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. A lei faz distinção entre os
termos ‘autoridade e agente policial’, indicando que nem todo agente policial será autoridade". Será considerada
autoridade policial, exclusivamente, aquela com poderes para conceder fiança, presidir o inquérito e requisitar
diligências investigatórias, tomando todas as providências previstas no artigo 6º do CPP, ou seja, somente os
Delegados de Polícia. No IX Encontro dos Tribunais de Alçada do Brasil, realizado nos dias 29 e 30 de agosto
de 1997, em São Paulo, SP, através do Comunicado de n.º 20, de 16 Outubro de 1997, na Resolução de Matéria
Criminal, em seu item 7, por maioria decidiu-se que a Autoridade Policial a que se refere à Lei n.º 9099/95, é o
Delegado de Polícia".
4
No Brasil, pode-se dizer que a Polícia ganhou o primeiro sopro de vida institucional com o Alvará de 10 de
maio de 1808, assinado pelo príncipe regente, criando, a exemplo do que já existia em Portugal, o cargo de
Intendente-Geral da Polícia do Brasil. Em 03 de dezembro de 1841, através da Lei n° 261, que reformulou o
Código Criminal do Império, logo no Título I, é criada a Instituição Policial, estabelecendo-se a hierarquia entre
Delegados e Sub-Delegados, chamando-os de AUTORIDADES POLICIAIS, subordinando-os ao denominado
CHEFE DE POLÍCIA. O projeto de Código de Processo Penal de Frederico Marques, na Exposição de Motivos,
já dizia: “Mantém o Projeto a designação “Autoridade Policial” em lugar de “Delegado de Polícia”, por abranger
a primeira os funcionários públicos que exerçam a mesma atividade, tanto nos Estados como na Polícia Federal.
Distingue-se, ainda, a Autoridade Policial de seus agentes. Tem-se a primeira como pessoa que, investida por lei,
dirige as atividades da Polícia Judiciária, no âmbito de suas atribuições” (FOGOLIN, Marco Antônio Scaliante.
Autoridade Policial, conceito e tratamento. São Paulo, Revista ADPESP, ano 19, nº. 26, dezembro de 1998, p.
55).
18
5
O PCC – Primeiro Comando da Capital – organizou vários ataques a Delegacias de Polícia e postos policiais
em São Paulo no ano de 2006 (Souza, 2006).
6
Município de Castilho, interior do Estado de São Paulo. População de 16.580 habitantes. (Fonte IBGE, posto
de Andradina).
7
Pesquisa de campo realizada pelo autor no município de Castilho exclusivamente para este trabalho, nos meses
de agosto e setembro de 2008. Foram entrevistadas 176 pessoas em todos os bairros da cidade, inclusive fora do
perímetro urbano. Questionou-se: 1) Qual repartição pública você mais procurou no ano para solucionar
problemas? 2) Você procurou por uma delegacia de polícia durante este ano? Você pode informar qual motivo
levou a procurar uma repartição pública: () documentos; () conflitos com outras pessoas; () assuntos relacionados
a imóveis; () assuntos relacionados à família, etc.? Foram feitos questionários escritos, com explicações para
preenchimento e espaço para respostas. A folha foi colocada dentro de um envelope e entregue a pessoa para
responder com prazo de 2 dias, quando então seriam recolhidos os envelopes. Foram distribuídos 500 envelopes
e recolhidos houve aproveitamento com respostas e em condições de atender à pesquisa 176. Não houve registro
da pesquisa ou qualquer detalhamento técnico, porque serviria exclusivamente a obter dados para este trabalho.
19
1.2. O Papel Repressivo e Informal das Agências Policiais e o Poder de Polícia da Polícia
O poder de polícia (police power), em seu sentido amplo, compreende um sistema total de
regulamentação interna, pelo qual o Estado busca não só preservar a ordem pública, senão
também estabelecer para a vida de relações dos cidadãos aquelas regras de boa conduta e
de boa vizinhança que se supõem necessárias para evitar conflito de direitos e garantir a
cada um o gozo ininterrupto de seu próprio direito, até onde for razoavelmente compatível
com o direito dos demais.
Segundo o citado autor (1996, p. 91), “foi Marshall, no caso Brown vs.
Maryland, em 1827, quem empregou a primeira vez a expressão “police power”, a qual voltou
a ser usada dez anos mais tarde, no caso Mayer of New York vs. Miln, tornando-se, depois,
costumeira”.
O Poder da polícia, espécie do gênero poder de polícia, é mais específico,
portanto, mais nítido. Em linhas gerais é definido como o poder de restringir direitos e
20
agências policiais são usados para manter a ideologia do controle social9. É oportuna a
observação de Batista (2002, p. 168):
9
Controle que o Estado exerce sobre a sociedade para legitimar a ideologia do governo. Ideologia é considerado
um estilo político que indica e prescreve aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o
que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e
como devem fazer (Lopes, 1997, p. 133-134).
10
Em especial a Lei 9.455/97, sobre a tortura.
23
A criminalidade nos grandes centros toma proporções de uma velada guerra civil, em que
se digladiam poderosas organizações criminosas. Entre a apatia da sociedade
(caracterizada por uma generalizada descrença na Justiça e no Parlamento) e a ineficiência
do Estado (agravada pelo descompasso no paralelismo processo-Constituição) instala-se o
que poderíamos denominar de uma “atual crise da Justiça. Que se distingue pela
ineficiência dos mecanismos repressivos, conduzindo a uma vexatória e ameaçadora
impunidade dos infratores, em todos os níveis da sociedade” (grifos nossos).
11
Ditos populares em relação ao que representa os presídios na concepção popular.
24
Em face do que foi dito fica claro, destarte, que as agências policiais
exercem um papel político informal de natureza exclusivamente repressiva, dirigido as
camadas mais pobres da sociedade com o fim de manter o controle social, por isto são tidas
como longa manus do Estado.
intervir nos momentos de crise, atuando com mais eficácia se estiver consciente da
complexidade causal que vai do social ao psicológico (BALESTRERI, 1998, p. 19).
Agências e policiais fornecem e são responsáveis pela qualidade de um
importante direito social, o da segurança pública. “O desiderato dos direitos sociais, como
direitos a prestações, consiste precisamente em realizar e garantir os pressupostos materiais
para uma efetiva fruição das liberdades [...]” (Sarlet, 2007, p. 303). Ao oferecer segurança
com qualidade, atuando preventivamente e dispondo de maneira racional da repressão, a
instituição policial estará cumprindo de maneira adequada sua função social.
A polícia está em posição de garante em relação ao direito social de
segurança pública. Bobbio (1992, p. 25-64) chama a atenção para a problemática das
garantias do direito. Uma coisa é falar de direitos e outra garantir-lhes proteção efetiva. Sobre
isso pondera o referido autor que: “à medida que as pretensões aumentam, a satisfação delas
torna-se cada vez mais difícil. Os direitos socais, como se sabe, são mais difíceis de proteger
do que os direitos de liberdade”.
À efetivação de direitos correspondem garantias para seu exercício. O
direito à segurança é, em parte, garantido pelo Estado por meio das agências policiais. Estas,
para desempenharem bem suas funções, necessitam dividir tarefas e buscar novos
instrumentos de atuação.
O direito à segurança deve merecer, ainda, especial atenção quanto ao seu
custo social. A atuação policial deve ter excelência para que não se produza injustiças.
As “cifras da injustiça”, formada pelo número de inocentes processados
(condenados ou não), são apontadas por Ferrajoli (2006, p. 196-197), para quem “os custos da
injustiça, por seu turno, são, neste diapasão, injustificáveis [...]”. A isto pode se fazer um
paralelo em relação aos custos da ausência de atuação preventiva da Polícia Judiciária.
Se agir de forma preventiva a Polícia Judiciária reduzirá consideravelmente
as cifras da injustiça. Sua atuação será, assim, legítima.
26
passou a freqüentar uma igreja evangélica. Mas, porque procurou primeiramente a Delegacia
de Polícia?12 Certamente por acreditar que teria ali a solução que buscava para o conflito que
vivia.
Apesar de bizarro e insólito o episódio oferece um bom exemplo do que
acontece amiúde nas Delegacias de Polícia e do papel social que a Polícia Judiciária exerce.
Infelizmente há poucas pesquisas e estudos a respeito.
12
Fato registrado no setor de serviço social da Delegacia de Polícia de Castilho e consta dos arquivos. O
interessado e toda sua família foram atendidos pela Autoridade Policial que os encaminhou para o setor de
serviço social. Foram devidamente orientados e todas as providências tomadas para que se evitasse qualquer
conduta criminosa daquele homem.
13
Dados obtidos nas delegacias de polícia da região de Andradina, estado de São Paulo (Fonte: Delegacia
Seccional de Polícia de Andradina).
28
14
Decreto Estadual nº. 25.410, de 30 de janeiro de 1956, estado de São Paulo. Art. 7º. – As ocorrências de que
tomem conhecimento as Autoridades Policiais serão objeto de boletim, em fórmula impressa, a ser preenchido
em três vias, destinando-se a 1ª. ao início do processo, inquérito ou outra providência; a 2ª. será enviada, dentro
de 24 horas, à 6ª. Divisão Policial, e a 3ª. destina-se ao arquivo. Parágrafo único: O boletim, cujo modelo será
fixado por ato do Secretário da Segurança, substituirá a atual folha de informações.
29
elaboração do referido documento. É o que acontece, v.g., com empresas como a Telefônica,
dentre outras, que retira débitos contestados após o mencionado registro.
Os próprios advogados e mesmo entidades de defesa do consumidor, como
o PROCON, dentre outros, instruem as pessoas a promoverem, antes de qualquer medida
judicial ou administrativa, o registro do Boletim de Ocorrência de Preservação de Direitos,
como garantia da obtenção de um documento que comprove a violação do direito material a
que se busca preservar. Verifica-se aí sua urgência e meio acautelatório de formação de prova
através de documento público.
A Autoridade Policial, destarte, determina o registro do Boletim de
Ocorrência de Preservação de Direitos, formalizando um meio de prova que contém a
indicação do direito material violado, para, inclusive, instruir processos judiciais ou
administrativos.
Por ser medida cautelar de atribuição da Autoridade Policial, não pode ser
dispensado o registro deste tipo de Boletim de Ocorrência com o argumento de que não é
assunto de interesse da segurança pública ou porque não tem natureza criminal.
O referido registro se constituiu num direito subjetivo do interessado em
construir um meio de prova célere para a defesa de direitos que foram violados. Assim sendo,
é medida cautelar adotada pela Autoridade Policial, a pedido do interessado, com as
características de urgência (perigo da demora) e indicação do direito que foi violado (fumaça
do bom direito).
Além disto, o registro pode ser utilizado como medida de prevenção à
criminalidade. Alguns fatos poderão não terem, inicialmente, natureza criminal, mas se não
forem tomadas medidas preventivas poderá evoluir para a prática de um crime.
Vale ressaltar que o Boletim de Ocorrência, criado, por legislação
administrativa, no estado de São Paulo, hoje é adotado em todos os estados da federação e faz
parte do texto da Lei Federal 5.970, de 11 de dezembro de 197315.
Posteriormente, com a entrada em vigor da Lei 9.099/95, foi criado o
Boletim de Ocorrência Circunstanciado e/ou Termo Circunstanciado de Ocorrência Policial
(TC), para registro de infrações penais de menor potencial ofensivo.
15
Art. 1º. – Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro tomar conhecimento do
fato poderá autorizar, independentemente, do exame do local, a imediata remoção das pessoas que tenham
sofrido lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o
tráfego. Parágrafo único – Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policial lavrará boletim de
ocorrência, nele consignando o fato, as testemunhas que o presenciaram e todas as demais circunstâncias
necessárias ao esclarecimento da verdade.
30
Assim haveria a mitigação do papel repressivo e político da polícia para assumir outro, mais
democrático e com finalidades preventivas.
O método preventivo que o autor propõe ao final deste trabalho tem a
vantagem de pesquisar os motivos do fato concreto e as pessoas nele envolvidas para que se
adotem medidas mais eficazes destinadas a incentivar comportamentos socialmente
adequados e diminuir a possibilidade da reincidência.
O aumento da criminalidade combatida unicamente pela repressão, por si
só, indica que este método não está sendo totalmente eficaz.
Embora a legislação, em relação à atuação policial, tenha buscado o maior
controle das agências e a limitação de seu poder, contraditoriamente, o Estado preferiu
políticas privilegiadoras da norma penal incriminadora mais severa, a policialização das
políticas públicas de segurança com a estratégia repressivo-ostensiva para lidar com a
criminalidade e conter o seu aumento (TANGERINO, 2007, p. 1).
Em relação aos fatos criminosos, em particular os de maior repercussão,
houve sempre a preferência governamental por novas leis penais que aumentavam o rigor
repressivo. De resto isto também colabora para nutrir a cultura repressiva dos policiais uma
vez que deles será sempre exigida mais repressão à criminalidade.
Uma contradição pode ser detectada neste contexto. Apesar do aumento da
repressão com a proliferação de novas leis que aumentam as penas ou criam novas infrações
penais, Franciulli Neto (2004, p. A3) chama a atenção para o aumento preocupante, no Brasil,
de assassinatos, trabalho escravo, tráfico de mulheres, menores para a prostituição, de drogas
e chacinas, dentre tantos outros comportamentos desviantes. É um sinal de que o sistema
penal da repressão não tem sido totalmente eficaz.
Parece paradoxal, mas a legislação da nova ordem constitucional, ao
mesmo tempo em que exige uma atitude mais democrática do policial no exercício de suas
funções, desenvolveu-se tão somente para aumentar a repressão aos crimes em geral ou criar
novos crimes, sem confiar a eles qualquer função preventiva. Foi assim que se viu o porte de
arma sair de contravenção penal para crime punido com reclusão sem direito à fiança; à
edição de inúmeras leis repressivas como a dos crimes hediondos (1990), improbidade
administrativa (1992), proteção ao meio ambiente (1998), crime organizado (2001), etc., além
de outras que trouxeram modernas formas de investigação criminal (infiltração de agentes,
escuta telefônica etc.). Nenhuma destinada a atuação policial preventiva.
32
Há, infelizmente, sociólogos, professores e até juristas que ainda confundem, talvez por
falha universitária ou outro vício desconhecido, a simples diferença entre os termos
ostensivo e preventivo, e depois reclamam da violência e dos crimes não evitados, como
bem prova o texto da Constituição Federal, no artigo 144, em que os nobres constituintes
de 1988, embora assessorados por estudiosos, não fizeram inserir o substantivo prevenção,
o adjetivo preventivo, nem o verbo prevenir – palavras sem as quais não se pode falar em
segurança pública -, como incumbência das polícias dos Estados.
16
Artigos 301 e seguintes do Código de Processo Penal.
17
Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995: Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo
para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2
anos, cumuladas ou não com multa. Art. 69...Parágrafo único: Ao autor do fato que, após a lavratura do termo,
for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
prisão em flagrante nem se exigirá fiança...
33
18
A prisão em flagrante é tida como facultativa pelo artigo 381 do Código de Processo Penal italiano para os
delitos puníveis com reclusão superior no máximo a 3 anos se o crime é doloso. Se o crime for culposo a prisão
em flagrante será facultativa quando a pena máxima cominada ao crime não for superior a 5 anos. Na Itália é
também a Autoridade Policial a responsável pela prisão em flagrante (art. 380 do Código de Processo Penal). A
prisão em flagrante é obrigatória para a Autoridade Policial somente quando o crime tiver pena mínima de 5
anos ou mais.
34
Os policiais japoneses não são meramente agentes do cumprimento da lei; são mestres na
virtude da lei. À polícia japonesa atribui-se um mandado moral, baseado no
reconhecimento de sua importância na formação da sociedade organizada; os policiais
americanos têm recebido instruções legais e a recomendação de não se desviarem da lei.
A polícia no Brasil, como visto, é alvo de muitas críticas. Não será porque
atua apenas repressivamente?
A “violência institucional ocorre quando o agente é um órgão do Estado,
um governo, o exército ou a polícia” (Baratta, 2002, pg. 48) e pode ser exercida dentro da
legalidade ou fora dela. Não se constituirá em violência institucional o uso da repressão pela
Polícia Judiciária, principalmente pela constrição da liberdade, quando o meio mais
apropriado seria o preventivo?
Sobre a solução de conflitos pelo meio repressivo, escreve Baratta (apud
NASPOLINI SANCHES, 2006, p. 3):
O sistema penal gera muito mais conflitos do que aqueles que pretende resolver. Na
verdade o sistema punitivo não resolve os conflitos existentes na sociedade, ele os
reprime. Dessa forma, muitas vezes os conflitos alcançam uma dimensão mais grave do
que se fossem resolvidos pelos envolvidos na situação, no momento de seu
surgimento. Por outro lado, o custo social da intervenção penal produz novos conflitos,
muitas vezes piores do que os que se reprimiu. (grifo nosso).
Entende o autor deste estudo que a repressão deve ser dirigida à grande
criminalidade, incluindo os crimes financeiros, econômicos e organizados. Aos pequenos
delitos e aos comportamentos desviados será mais eficaz a atuação preventiva.
A atuação preventiva terá reflexos diretos no combate a grande
criminalidade. Se não, vejamos:
Os grupos criminosos, organizados ou não, só podem agir se contarem com
uma rede de colaboradores que estão filiados à mesma ideologia e facilmente manobráveis. O
recrutamento é feito entre os que praticaram crimes de pequena e média gravidade e que não
encontram assistência para uma opção diferente desta que lhes é oferecida por esses grupos.
São facilmente manobráveis porque não tiveram acesso à educação, à cultura e às
informações necessárias para enxergarem criticamente sua situação.
O exemplo mais comum são os viciados em drogas que praticam pequenos
crimes para sustentarem seu vício e são logo chamados a servir os grupos criminosos onde
encontrarão farta oferta da substância da qual dependem. Pela condição de dependência
também são facilmente influenciados e articulados para servir aos interesses do grupo.
As organizações ou grupos de criminosos sofrerão forte impacto em suas
estruturas se não tiverem acesso àqueles que cometeram pequenos delitos. A prevenção
evitaria que houvesse referido acesso.
A atuação preventiva se daria em relação à pequena e, eventualmente, a
média criminalidade e consistiria em pesquisar as causas do crime e a personalidade dos
envolvidos para que medidas adequadas fossem tomadas e evitar que ocorresse a reincidência
ou ainda, para que os envolvidos superassem os problemas que os levaram àquela situação.
Crê o autor desta pesquisa que atuando em conformidade com os princípios
constitucionais e de forma preventiva a Polícia Judiciária conciliaria sua função social de
proporcionar segurança e não atuaria seletivamente para manter os estratos sociais,
contribuindo para a redução das desigualdades e exercendo um papel mais democrático.
Construir a cultura preventiva não será tarefa fácil porque não se trata de
edificar em terreno vazio, mas onde há uma construção repressiva que precisa ser reformada.
Além da cultura preventiva, necessário será uma conscientização para desenvolver modelos
de atuação policial comunitária junto a profissionais que geralmente são hostis a estas idéias.
Além da repressão, há formas mais democráticas de atuação policial
dirigidas a enfrentar a pequena, média criminalidade e comportamentos desviados com
participação da comunidade e que vem sendo desenvolvidas e defendidas mundo afora, como
veremos mais à frente.
Não se pode, e nunca ninguém ousou afirmar que a repressão não é
necessária ou que tem mais valor que a prevenção, ou vice-versa. O que se constatou, com a
evolução do pensamento, é que isoladamente uma e outra não são totalmente eficazes para
enfrentar um dos mais dramáticos problemas da humanidade, a criminalidade.
Repressão e prevenção devem coexistir e são os instrumentos postos à
disposição do sistema penal para realizar o desiderato de fornecer segurança pública.
A observação histórica, entretanto, demonstra um recuo sempre crescente
na forma repressiva, pelas conseqüências que gera. A experiência aconselha que sua aplicação
deva ser restrita aos casos necessários, extremos ou justificáveis.
A prevenção, realizada nas mais diversas modalidades, vem sendo objeto
do interesse cada vez maior da sociedade e tem mostrado resultados alentadores,
principalmente porque investiga as causas do fenômeno da conduta desviada e procura
interagi-las com diversos outros fenômenos que formam a personalidade humana, como o
social, cultural, etc. Talvez por isso sua eficácia e legitimidade alcancem maior sucesso.
A maior importância da prevenção, na visão do autor deste trabalho,
decorre da sua maior capacidade de impedir a exclusão social, a seletividade policial, a
criação de estereótipos e realizar os objetivos do Estado Democrático de Direito, ampliando
consideravelmente a cidadania.
39
Por todas estas razões a predileção deste estudo é pela proposta de uma
atuação preventiva especializada, com fins práticos e científicos, realizada pela Polícia
Judiciária em parceria com a comunidade.
[...] verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem
evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de
caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e
da práxis.
40
Tem por objeto a garantia imediata da tutela de um bem jurídico para evitar as
conseqüências do periculum in mora. Prende-se para garantir a execução ulterior da pena,
o cumprimento de futura sentença condenatória e assenta-se ela num juízo de
probabilidade; se houver probabilidade de condenação, a providência cautelar é decretada.
1.5.1.2. Conciliação Prévia feita pela Autoridade Policial nos Delitos de Menor Potencial
Ofensivo como outra Forma de Prevenção à Criminalidade
O artigo 2º. da Lei nº. 9.099/95, em consonância com seu artigo 62, especifica critérios e
princípios da prestação jurisdicional, e, por via reflexa, da atividade policial-judiciária,
onde pontificam, com destaque, os critérios da informalidade e da celeridade do
procedimento traçado para a fase preliminar, no âmbito da Polícia Civil.
19
Sobre isto interessante consultar pesquisa com o título de “Janelas Quebradas” (Broken Windows), em artigo
de Q. Wilson e George L. Kelling, publicado em março de 1982, na revista norte-americana "The Atlantic
Monthly" (TAM) – (Fenapef, 2008)
48
20
Dogmática penal – Sistema ou doutrina que trata dos ilícitos penais e das penas, orientando-se por certezas prévias e
criando dogmas indiscutíveis. Comentário: “O Dogmatismo é um sistema filosófico, o que significa discutível, mas contraria
o próprio conceito de Filosofia ao forjar os dogmas indiscutíveis.” (Santos, 2001, p. 85).
56
21
A teoria do “[...] o labeling approach tem se ocupado principalmente com as reações das instâncias oficiais de
controle social, consideradas na sua função constitutiva em face da criminalidade. Sob este ponto de vista tem
estudo o efeito estigmatizante da atividade da polícia, dos órgãos de acusação e dos juízes.” (Baratta, 2002, p.
86).
57
Quanto às polícias estaduais, muito mais antigas, inúmeros estudos mostram que elas
foram criadas para lidar com o criminoso pobre, o ladrão de rua. Em seu livro Crime e
Cotidiano, Fausto (1984) revela que o público alvo da ação policial, já na virada do
século, eram os “marginais” e os criminosos pobres em geral. Pinheiro (1982) também
fala no uso da polícia como meio de controlar as camadas desfavorecidas, isto já na
década de 70. Praticamente todos os mortos pela ROTA (Rondas Ostensivas Tobias
Aguiar) citados por Barcellos (1992) eram também pessoas pobres, muitos também
pequenos marginais. Os métodos “investigativos” usados durante muitos anos pela Polícia
Civil, principalmente nas áreas dos crimes contra o patrimônio, foram o “Ganso”
(informante) e o “Pau” (tortura). Gerações de policiais foram treinadas para combater
especialmente aquilo que os americanos chamam de Street Level Crime, nada mais.
Policiais treinados para reprimir estes crimes podem, quando muito, atuar eficientemente
contra quadrilhas comuns.
Castilho (apud STRECK, 1999, p.109) afirma que em nosso país quase não
existe condenação de réus por crimes do colarinho branco, enquanto há, cotidianamente,
processos nos quais pessoas são condenadas – em primeira instância – por furtar um tubo de
cola (usado), avaliado em R$ 1,25.
Diminuir o impacto das agências de poder na sociedade e reduzir ao
máximo sua estrutura, conter a inflação legislativa como forma de criminalização primária,
minimizar o Sistema Penal e buscar soluções alternativas ao Direito Penal são objetivos que
encontram aceitação da comunidade jurídica como resposta a repressão seletiva que atinge
apenas as camadas mais pobres da sociedade e não está sendo eficaz para reduzir a
criminalidade.
A Polícia Judiciária contribuiria com esses objetivos acrescentando às suas
funções o paradigma preventivo de combate à criminalidade neste estudo desenvolvido.
58
22
Artigo 3º., inciso III, da Constituição Federal de 1988.
59
Por isso Zaffaroni (1989, p. 58) assevera que “creemos que el desafio que
tenemos por delante es la reconstrucción del derecho penal de garantias sobre esta base o
sobre cualquier outra que no intente la re-legitimación del poder punitivo”24.
23
Pode levar a perda de respeito e majestade, o que é considerado alto no sistema de justiça penal, uma vez que
pode ser visto como uma admissão de que ele estava operando sem a devida justificação no passado.
24
Acreditamos que o desafio é a reconstrução do direito penal de garantias nessa base ou qualquer outra que não
tentar a re-legitimação do poder punitivo.
25
Teoria que sustenta que o mais forte estaria legitimado pelo mero fato de sê-lo.
60
do século XVI com a criação das Casas de Correção, cujo “objetivo principal era transformar
a força de trabalho dos indesejáveis, tornando-a socialmente útil” (RUSHE e
KIRCHHEIMER, 2004, p. 69).
Na lenta evolução das teorias e sua aplicação às transformações sociais se
dá o nascimento do Estado moderno, como Estado de Direito, com uma série complexa de
vínculos e de garantias estabelecidas para a tutela do cidadão contra o poder opressor.
O constitucionalismo moderno pode ser entendido como uma técnica de
limitação do poder com fins de garantismo.
O Sistema Penal, sustentado pelas teorias da defesa social26, passa a ser
confrontado e expõe seu objetivo real: instrumento de dominação social.
A pena de prisão, como é concebida, mostra sua contradição quando se
constata a impossibilidade de se contrapor proteção da sociedade a vingança ou retribuição.
Após a segunda guerra mundial, com a reação humanitária no direito penal,
surgem teorias abolicionistas da pena de prisão27 num choque profundo com a cultura
repressiva.
Atualmente, em posição harmônica entre os extremos, há os que propõem
uma redução maior do poder punitivo e um aumento real das garantias contra o abuso deste
poder28 (direito penal mínimo e garantismo penal).
Bobbio, prefaciando a obra de Ferrajoli, (2006, p. 8), ao falar sobre o
garantismo ensina que o modelo:
[...] tem idéia inspiradora iluminista e liberal, iluminista em filosofia, liberal em política,
segundo a qual frente à grande antítese que domina toda a história humana entre liberdade
e poder, pela qual nas relações entre indivíduos e entre grupos, quanto maior a liberdade
tanto menor o poder e vice-versa, é boa e ainda desejável e propugnável que de vez em
quando aquela solução que alarga a esfera da liberdade e restringe aquela do poder; com
outras palavras, aquela pela qual o poder deve ser limitado de modo a permitir a cada um
gozar da máxima liberdade compatível com a igual liberdade de todos os outros.
29
MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. Saraiva, 1987, p. 176. “Mas os Juízes da Nação como dissemos, são
apenas a boca que pronuncia as palavras da lei; seres inanimados que não lhe podem moderar nem a força, nem o
rigor”.
62
vinculam legislação, poder executivo e jurisdição como direito vigente diretamente (HESSE,
1998, p. 275).
É possível uma atuação democrática da Polícia Judiciária, voltada a
garantir os direitos fundamentais, já que o policial é um cidadão. Um cidadão qualificado
porque representa esse Estado no contato mais próximo com a população, exercendo uma
profissão formadora de opinião. O policial é “um legítimo educador” e embora não possa se
eximir da sua função técnica de intervir, quando necessário, de forma repressiva, em
momentos de crise, tem sua conduta pautada na busca do ideal democrático (BALESTRERI,
1998, p. 19).
Destarte, cabe à Polícia Judiciária a busca de soluções alternativas que
contribuam com o Sistema Penal para alcançar os objetivos do Estado Democrático de
Direito, em especial a plena justiça, a dignidade humana e a redução das desigualdades
sociais.
As funções de polícia judiciária previstas na Constituição Federal de
198830, como dito, vão muito além de mera repressão a crimes e apuração de sua autoria.
Defende o autor deste estudo a possibilidade de solução de conflitos de
menor gravidade por outros órgãos, inclusive a Polícia Judiciária e comunidade (Polícia
Comunitária). À jurisdição caberia, nesses casos, tão somente a fiscalização (garantia). O
Magistrado e o órgão do Ministério Público cumpririam melhor esta função com máxima
efetividade e mínimo tempo.
Não se pode falar em garantismo, segundo os novos modelos, se existir um
hiato entre a Constituição Federal que coloca à disposição da comunidade jurídica um
conjunto de direitos e mecanismos para a sua implementação, e uma sociedade carente de
garantias, no interior da qual o acesso à justiça tem sido negado a imensa maioria da
população. “A inefetividade do aparelho judiciário coloca a lume uma das funções específicas
da função do Estado: a jurisdição.” (STRECK, 1999, p. 108).
Por isso muitos propugnam por uma mudança na postura dos operadores
jurídicos para apontar saídas possíveis para superar a crise de legitimidade do Estado.
A polícia existe em toda comunidade, está junto da comunidade, vivencia
com ela os conflitos, interage para sua solução e intervém quase que imediatamente; diferente
da jurisdição, que na maioria das vezes fica distante e só recebe as informações escritas, frias
30
Art. 144, § 4º., da Constituição Federal de 1988: “Ás polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares”.
65
e incompletas sobre o conflito, intervindo posteriormente. Por isso pensa o autor deste
trabalho que a Polícia Judiciária poderia prestar maior auxílio à Jurisdição, recebendo
atribuições legais conciliatórias e preventivas, deixando para o Magistrado e Promotor
Público a fiscalização, que as exerceriam direta e indiretamente.
Dias (apud STRECK, 1999, p. 110) ensina que:
31
... apenas como mais ou menos segura área da mediação, para além da habitual entre legalidade e legitimidade,
bem como - de forma mais dramática esta ligado a todos - entre legitimidade e justiça.
66
Pode-se dizer, inclusive, que quanto mais altos e ambiciosos são os valores de justiça
professados e perseguidos por um ordenamento, e quanto mais complexas e vinculantes
são as garantias incorporadas para tal fim em seus níveis normativos superiores, mais
ampla é a possível divergência entre modelos normativos e práticas efetivas e, por
conseguinte, o índice de ineficácia das primeiras e de falta de validez das segundas [...]
32
No sentido de que se opõe a uma interpretação que leva em consideração os princípios e a realidade social pela
Autoridade Policial.
69
33
Trabalho na integra, disponível em http://www.realjustice.org/library/paradigm_port.html.
71
si. Sendo assim esta atuação torna o serviço policial mais complexo e o faz transcender da
esfera judiciário-penalista para atingir outros setores do conhecimento humano.
Como defende o autor deste trabalho, para a completa apuração do fato
criminoso e a busca mais próxima da verdade substancial será necessário um aprofundamento
das investigações na busca das motivações da conduta e a efetiva participação dos envolvidos
objetivando a reunião de elementos para uma melhor cognição e prevenção de novos fatos
pelos mesmos envolvidos.
A atuação policial não pode se dar apenas de forma reflexa ao fato
criminoso. Deve aprofundar-se na investigação do contexto mais amplo (social, urbano e
psicológico) em que ocorreu. Os casos com que se defronta a polícia não podem ser tratados
apenas sob o ângulo penal-repressivo. A prevenção e a participação da comunidade devem
compor o modo de atuar da polícia.
Inverte-se dessa maneira o papel do policial que deixa de ser um mero
representante do Estado para ser um representante da comunidade, sensível a seus anseios e
apelos.
Nesse sentido a Polícia Comunitária é uma filosofia e estratégia
organizacional que promove um novo tipo de cooperação entre o público e sua polícia.
Baseia-se no pressuposto de que polícia e comunidade devem trabalhar juntas visando a
melhoria da segurança pública e a qualidade de vida.
A linha mestra da perspectiva da cura ou saneamento comunitário é a
ênfase que se dá a uma participação significativa desta mesma comunidade não apenas no que
diz respeito ao procedimento judicial, mas também nos esforços tendentes a resolver, dirimir,
constituir ou reconstituir relações sociais desgastadas. A participação construtiva dos cidadãos
no sentido de manter e reparar estas relações e de solucionar conflitos junto com a polícia
torna-se fundamental para o fortalecimento da capacidade comunitária para o controle da
criminalidade (LIMA, 2004, p. 156).
Há um esclarecimento que precisa ser proposto e que é um dos principais
obstáculos para aceitação mais ampla da filosofia comunitária: o relativo às restrições da sua
aplicação.
Amitai Etzioni (apud LIMA, 2004, p.157), diretor do Instituto de Estudos
sobre Polícia Comunitária, especialista nesta matéria, chama a atenção para o fato de que a
Polícia Comunitária não pode nem deve atuar em relação a todos os crimes ou criminosos.
Casos graves que necessitam de maior repressão devem ficar fora do programa. Para ele a
78
Polícia Comunitária deve atuar nos trabalhos preventivos e junto a infratores primários e não
violentos. O autor desta pesquisa comunga desta idéia.
A Polícia Comunitária é uma alternativa no Sistema Penal do nosso país
onde a atuação policial tem aspecto exclusivamente repressivo e penal em razão das políticas
que dão preferência a este tipo de solução de conflitos. Os sintomas mais visíveis dessa
atuação, além da omissão em relação às práticas preventivas, são as inqualificáveis prisões
onde se exacerbam os sentimentos anti-sociais e os reclusos aprimoram a vocação criminosa.
À polícia é atribuído, como dito anteriormente, apenas funções repressivas
que excedem suas forças. Seus integrantes são levados a lidar apenas com os efeitos da
criminalidade reagindo como podem a eles. Consequentemente, a polícia é tida por
ineficiente, violenta e corrupta. Essa avaliação é exacerbada pela mídia e a opinião pública se
volta contra a instituição policial, enfraquecendo os laços e dificultando sobremaneira a
adoção de programas de Polícia Comunitária, por isso será importante um profissional de
publicidade atuando junto a Autoridade Policial para a divulgação dos trabalhos preventivos
feitos pela Polícia Judiciária.
Para Silva (2008, p. 501) existem grupos manipuladores que com
motivação político-eleitoral tem dependência vital da mídia. “Fora do poder, dão toda razão à
mídia nas críticas que esta faz ao poder público. No poder, só aceitam elogios e a acusam de
sensacionalismo e de contribuir para o pânico por não retirar a violência de foco”.
“Para as camadas mais altas os policiais nada mais são do que operários a
seu serviço, mantidos com os seus impostos para combater criminosos incertos encontrados
em lugares certos”. Um papel ambíguo já que num momento exige-se da policia cada vez
mais repressão aos seus presumidos alvos e em outro se cobram os abusos a que foi induzida
exatamente por aquelas exigências (SILVA, 2008, p. 467).
O próprio meio jurídico, como visto, demonstra reservas em relação à
polícia e de forma preconceituosa a exclui de uma formulação teórica que lhe dê contornos
democráticos e maior participação preventiva nas iniciativas de alternativas no sistema penal.
Em razão da desvalorização, da falta de identidade e de apoio, a polícia é
objeto das mais diversas críticas e não suscita qualquer interesse político. Por isso não há
investimentos na sua melhora, o que é conveniente, porque assim fica mais fácil manter uma
estrutura manobrável e acrítica, possibilitando seu uso e direcionamento para as
conveniências eleitas. Sem investimentos e projetos que lhe mudam a feição a polícia não
pode ser mais do que é e o sentido do seu ser não passa para além de procurar ser melhor no
que é. Cria-se, destarte, o estereótipo de ineficiente, violenta e corrupta.
79
Sem dúvida, o papel dos policiais orienta-se pelas regras universais e formais da sociedade
mais ampla, mas a ação na comunidade é influenciada pelos laços comunitários, pelas
regras particulares. Portanto, o modo de apropriação do poder público de que os policiais
estão investidos ajusta-se aos valores comunitários. A ambigüidade entre a ação dos
policiais na periferia e as normas oficiais que orientam o seu desempenho, tem relação
direta com a dissonância entre o discurso dos operadores da justiça e os pobres, detectada
no Fórum. A diferença é a adaptação dos policiais mais próximos da população e o
estranhamento dos operadores no Fórum, isto ocorre porque os primeiros geralmente são
oriundos daqueles mesmos grupos sociais e os últimos são de classe social diferente.
O conceito de segurança cidadã parte das premissas de que, para que os órgãos de
segurança pública atendam bem sua missão, a comunidade precisa ter confiança nos
profissionais da segurança pública. Precisa enxergá-los além de sua condição humana.
Estes profissionais, por sua vez, devem ver a comunidade como cidadãos e cidadãs que
eventualmente poderão incorrer em algum ato delitivo como, por exemplo, atropelar
alguém, mesmo que não intencionalmente.
As políticas levadas a efeito pelo SUSP buscam intervir sobre os modos de convivência
social, proporcionando recursos para o melhoramento da qualidade dos vínculos
estabelecidos, a fim de garantir a segurança integral e cidadã. Entre as ações do
PRONASCI, estão a formação e valorização do policial, com os cursos de capacitação
oferecidos pela Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública (Renaesp) e a
Bolsa-Formação. A reestruturação do sistema penitenciário, com a criação de cerca de 34
mil vagas, o combate à corrupção policial e o fortalecimento das guardas municipais e o
policiamento comunitário (interação entre polícia e comunidade) também são prioridades
do programa.
34
Segundo o artigo 144 da Constituição Federal a segurança pública é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos. Ao mencionar que a segurnaça pública é responsabilidade de todos indica que haverá
participação de todos na elaboração, implementação e fiscalização de projetos destinados a garantir o direito
social de segurança.
35
Esta união é fundamento da Polícia Comunitária. O Estado é representado pelas suas instituições policiais e a
sociedade civil pelos conselhos comunitários.
85
Os mesmos autores (2008, p. 166) enfatizam: “no que diz respeito à relação
existente entre o controle social e a participação, vale lembrar que o sentido de controle social
inscrito na Constituição Federal é o da participação da população na elaboração,
implementação e fiscalização das políticas sociais”.
“Em relação ao nosso país, cumpre enfocar o problema da prevenção
criminal, função precípua e, entre nós, descurada da polícia. Trata-se, entretanto, de
pressuposto básico de qualquer projeto que envolva a colaboração da comunidade”. (Lima,
2004, p. 20). Mais à frente o autor (2004, p. 25) complementa dizendo que:
36
A participação da população no controle e gestão das políticas públicas se dá por meio de conselhos. Artigos
10; 194, inciso VII; 198, inciso III; 204, inciso II; 206, inciso VI, da Constituição Federal de 1988.
87
membros natos, os líderes das policias civil e militar e, como membros mandatários,
representantes dos mais diversos setores da sociedade. 37
Os CONSEGs, em geral, não contam com uma sede. Este tem sido um dos
maiores problemas enfrentados pelo conselho para o seu efetivo funcionamento.
Sem sede, nem estrutura condizente, os membros do conselho não se
motivam a participarem e quando o fazem limitam muito suas atividades. Como membro nato
de diversos conselhos o autor desta pesquisa tem notado esta dificuldade.
Os Conselhos Comunitários de Segurança Pública já existem, tem
regulamentação, mas não encontram apoio para montarem uma estrutura que permita atingir
com eficácia suas finalidades.
Sem a participação efetiva dos conselhos as ações de Polícia Comunitária
ou projetos de prevenção à criminalidade se tornam muito difíceis ou quase impossíveis. Isto
porque, segundo Sudbrack (2008, p. 142), sem a participação comunitária, expressada pelos
conselhos, não haverá mudanças na maneira de se posicionar nem nas atitudes práticas das
pessoas diante do problema da criminalidade e a intervenção não adquire, assim, uma outra
eficácia, porque não se fundamenta na contribuição de todos.
Para o autor citado (2008, p. 142):
O enraizamento social, ou seja, o trabalho, tem sua origem no grupo de pessoas sobre o
qual a ação se dirige; nesse caso, enfatiza-se uma atuação de parcerias que têm como
resultado o funcionamento em rede de todas as iniciativas ligadas à prevenção;
As parcerias múltiplas permitem uma percepção global dos recursos da comunidade e
evitam que a intervenção seja restrita à ação de especialistas; o trabalho exige a utilização
de recursos comunitários não mobilizados até então.
37
Em 10 de maio de 1985, o então governador de São Paulo, André Franco Montoro, assinou o decreto que criou
os Conselhos Comunitários de Segurança. Os CONSEGs aproximam a comunidade das Polícias Civil e Militar,
com o objetivo de aprimorar os trabalhos de segurança pública de uma determinada região. Desde 2004, a data
de criação dos CONSEGs passou a ser, também, o Dia dos Conselhos Comunitários de Segurança, que foi
instituído pela Lei 11656. Cada Conselho é um grupo de pessoas que se reúne, mensalmente, em local público e
fora do horário de trabalho, para discutir quais os problemas de segurança da região que abrangem e levantar
possíveis soluções. Um representante da Polícia Civil, um da Polícia Militar e pessoas da comunidade compõem
o grupo do CONSEG. Hoje, são, aproximadamente, 770 Conselhos em todo o Estado de São Paulo, que têm
colaborado para a melhoria da segurança. O trabalho dos CONSEGs provam que a união entre a polícia e a
comunidade é o melhor caminho na luta contra a violência. (www.conseg.sp.gov.br/conseg).
88
38
Lei nº. 1060/05, do Município de Nova Aurora-PR, que autoriza o Poder Executivo Municipal firmar convênio
com o CONSEG para transferência de recursos municipais. Lei nº. 4.622/04, que cria no município de Cuiabá-
MG, o fundo municipal de Segurança Pública, administrado pelo CONSEG e que também autoriza repasse de
recursos municipais a estes conselhos.
90
A desorganização social é uma tese muito aceita pelos países em vias de desenvolvimento,
que partem da premissa de que, sedimentada a organização sócio-econômica, cessará ou
reduzir-se-á a criminalidade.
A colocação de que o crime é conseqüência de conflito cultural está ligada à tese de
desorganização social. Cultura sem violência e sem crime é mera abstração, pois sempre
abrange as expressões inferiores e superiores de uma sociedade. Quanto a tese da
transformação social como causa da criminalidade, enfocando os processos de
urbanização, industrialização, crescimento demográfico, migração, mobilidade social, por
si só se justifica. Podem criar novas formas de crime, mas muitas vezes conseguem
extinguir outras.
Por outro lado, as relações entre os fatores biológicos, e o crime antecedem mesmo a
própria origem da criminologia e têm como base o paralelismo psico-fisiológico, que
pressupõe que a natureza do homem possa ser prevista pelas suas características físicas.
Finalmente, quando aos aspectos psicológicos que integram o núcleo central da
personalidade criminal, podemos mencionar a agressividade, o egocentrismo, a labilidade
e a indiferença afetiva para a análise do comportamento criminoso. Não existe uma
correlação direta ou generalidade entre doença mental e crime, seja no que se refere às
causas ou à predisposição.
alternativas de solução de conflitos nas unidades de Polícia Judiciária, como as expostas neste
trabalho (orientação, mediação, conscientização, práticas restaurativas, polícia comunitária).
Segundo Lima e Portão (1982, p. 64/65) o Brasil adotou o sistema jurídico
francês e a polícia tem sido desviada da tarefa preventiva, que deveria ser sua finalidade
básica. “O abandono da atuação preventiva que deveria estar conectada à outra, a repressiva,
tem sido sentido como omissão policial, podendo-se ainda apontá-lo como importante fator de
agravamento da criminalidade”, já que menores carenciados e desassistidos são deixados,
inteiramente à própria sorte, vivendo em favelas e locais promíscuos, sob as piores influências
e deles não se toma conhecimento, até que penetram na esfera da grande criminalidade. A
prevenção neste campo é também nula.
A criação de plantões sociais, com equipes multidisciplinares, devem ter
como objetivos o amparo, orientação e encaminhamento de pessoas necessitadas e carentes
que recorrem aos distritos policiais ou se envolvem em ocorrências policiais (LIMA e
PORTÃO, 1982, p. 66).
Segundo os mesmos autores à equipe multidisciplinar caberia tomar
providências de caráter administrativo, ficando as de caráter criminal sujeitas aos órgãos
componentes da Polícia. A polícia preventiva teria estrutura aberta, de modo a permitir o
entrosamento e a cooperação com outros órgãos públicos e particulares, inclusive associações
de bairros. A composição das equipes seria feita por pessoal especialmente treinado no campo
da prevenção criminal, sendo para isto necessário criação de cargos de Assistente Social,
Psicólogo e Criminólogo no quadro da Secretaria de Segurança Pública (Ibidem, 1982, p. 67).
Para o autor deste trabalho bastaria a possibilidade de convênios com
Faculdades e Universidades ou a Municipalidade ou Organizações não Governamentais
(ONGs) e as Delegacias de Polícia para a implantação dos plantões sociais com equipes
multidisciplinares, utilizando-se principalmente de estagiários e voluntários.
Para Garcia e Meserani (1982, p. 88), prestar serviços diretos a indivíduos
e famílias que se encontram em crise, do ponto de vista biopsicossocial e estado de
marginalização, que recorrem ou são levados à Delegacia de Polícia, é a forma mais rápida e
eficaz de atuação preventiva no combate à criminalidade e na prestação de serviço de
segurança pública.
Ensinam as autoras que a crise do ponto de vista psicossocial se dá em
situações em que o indivíduo experimenta um crescimento de tensão interna até um grau que
não pode dominar, ou grave ansiedade ou talvez depressão. Pode haver, com isso, um
rompimento em suas defesas, sendo que seus mecanismos de luta tornam-se inadequados para
92
lidar com a ocorrência que se precipita. Vivenciando esta experiência, o ser humano pode
chegar de um extremo ao outro, entre apatia e ação precipitada, desencadeadora, muitas vezes,
de delitos de natureza mais grave, não conseguindo manejar adequadamente seus impulsos
agressivos. Nestes casos, o objetivo mais imediato da ação profissional é restabelecer um
estado de maior equilíbrio emocional, a fim de que o indivíduo seja capaz de melhor manejar
a situação (GARCIA E MESERANI, 1982, p. 89).
As citadas autoras (1982, p. 91) asseveram que:
Durante a situação de crise, os costumeiros mecanismos de defesa tornam-se
enfraquecidos, estando o indivíduo mais aberto para influências exteriores e mudanças.
Portanto, uma força mínima, ministrada nesta fase, pode produzir um efeito máximo, ou
seja, uma pequena ajuda fornecida de forma apropriada, no momento certo, pode ser mais
efetiva, do que uma ajuda mais ampla, quando o indivíduo está menos aberto à mudança.
O estado de atividade da crise é limitado pelo tempo, dependendo do campo total das
forças biopsicossociais, levando-se em conta a natureza do evento de perigo; percepção
individual e padrões de luta. Geralmente, de quatro a seis semanas, um novo estado de
equilíbrio é alcançado.
Durante a fase de reorganização, novos modelos de adaptação poderão ser desenvolvidos,
para melhor manejo de futuras crises. Entretanto, padrões inadequados podem emergir,
resultando em fraca habilidade para conduzir as situações futuras.
A intervenção na crise, constitui-se na única forma de tratamento especialmente adaptada
à situação crítica, não podendo ser considerada como uma terapia de longo prazo truncada
e restrita no tempo e na situação.
Concluímos com isso que a pessoa em crise pode, quando levada à unidade
policial, ter orientações e ser influenciada, de maneira positiva, a deixar ou não reincidir, na
criminalidade.
Salienta o autor desta pesquisa que os objetivos específicos a serem
buscados pela equipe seriam:
a) de assessoramento da Autoridade Policial, fornecendo todos os
subsídios de natureza psicossocial em relação às pessoas envolvidas em
ocorrências policiais ou que procurem as unidades policiais.
b) participação efetiva nos trabalhos de orientação, aconselhamento,
conciliação, práticas restaurativas, dentre outros meios alternativos de
solução de conflitos.
c) colaboração em sua área específica na interpretação das situações
sociais-problemas junto aos policiais objetivando um efetivo trabalho
em conjunto sócio-policial e preventivo.
d) fornecer a base de estudos específicos e subsídios que possam
esclarecer o fenômeno da criminalidade, visando propor medidas
profiláticas às causas de disfunções e sistema de atendimento social.
93
A Polícia Judiciária não pode ser vista como símbolo de opressão pela
comunidade. Para mudar essa idéia é preciso que a população a tenha como aliada e
prestadora de serviços de segurança pública de qualidade. A Delegacia de Policia deve ser
uma repartição pública popular, de acesso facilitado, principalmente aos mais carentes, para
que todos possam procurá-la livremente para buscarem ajuda, sabendo que serão
recepcionadas com atenção, dedicação e solidariedade.
As unidades da Polícia Judiciária devem ser também unidades prestadoras
de serviço social voltadas a um projeto preventivo amplo, para o fortalecimento das relações
entre a Polícia Judiciária e a comunidade.
A respeito da necessidade de um serviço social nas Delegacias de Polícia
um Delegado de Polícia Titular, citado por Poncioni Mota (1992, p. 6)39, fez o seguinte
depoimento:
“O que a gente chama de feijoada, você sabe bem o que é feijoada. Então, a maioria das
ocorrências são feijoadas, são problemas sociais, conflitos sociais: é barulho de vizinho, é
briga. É briga de marido e mulher, é a mulher que ta grávida e precisa descer lá do morro e
não tem como descer (...), é o outro que ta perdido, você já viu isso..., e quer voltar pra
Minas ou ir pro nordeste, o outro que quer ser operado, quer ser operado, e não tem
dinheiro (...), o cara tem um acerto com a mulher, de quem ele se separou, de passear com
o filho no sábado e a mulher não quer entregar o filho dele hoje, como é que faz (...) Estes
conflitos sociais, é o que tem a maior demanda na polícia, no fundo, entenda bem..., o
plantão policial trabalha muito mais com demandas de conflitos não criminosos do que
fatos jurídicos tidos como crimes. (...) nós estamos voltados estritamente para o crime, daí
(...) da necessidade extrema, extrema de um Serviço Social junto com o plantão para
resolver essas questões (...) olha, se eu to na delegacia pra cuidar de crime, não tem o
tempo pra tanto crime que há, (...) o cara tuberculoso não tem lugar pra dormir, quer
dormir na delegacia (...) o policial não ta preocupado com problema social, ta preocupado
com o crime. Entenda bem, o policial ele tá lá pra ver problema de roubo, de furto, de
39
A “feijoada” pode ser interpretada, através da fala de policiais, como uma categoria principalmente empregada
para designar problemas de cunho não-criminológico que chegam à delegacia predominantemente através da
população pobre, que por sua própria condição sócio-econômina não tem acesso a outra instituição que responda
a sua demanda. A relação estabelecida entre a “feijoada” e a pobreza é fartamente sinalizada quando policiais
descrevem as situações que frequentemente emergem no seu cotidiano (op. cit., pg. 6).
95
agressão, de morte. Ele ta lá pra isso. Então, quando chega a feijoada ele resolve, ele tem
que resolver, porque da feijoada sai também aí um crime, uma contravenção (...). Não é
nem que seja menor, até demanda muito mais tempo (,...) não é afeto ao policial. É e não é
(...) a gente não aprende na Academia a cuidar desses problemas, sabia? (...) É uma
demanda que te toma muito tempo, complica teu plantão, m as que não é computado.”
40
O projeto consistiu em um trabalho voluntário dos policiais de acompanhamento de famílias carentes que
tinham crianças e que passavam necessidade de toda ordem, inclusive alimentar. Os policiais se engajavam e
passariam a ser tutores destas famílias, acompanhando a educação, criação e dificuldades que enfrentam as
crianças no seu desenvolvimento físico e intelectual. Assim, os policiais podiam sentir que muitos criminosos
que combatiam, de forma excessivamente repressiva, tinham origem em famílias desestruturadas ou que foram
fortemente influenciados pela precariedade das condições de vida. Na lida diária com os criminosos os policiais
passaram a ter uma visão diferente e o tratamento, dispensado àqueles que visivelmente ingressaram no crime
em razão de problemas sociais, modificou-se completamente.
97
abandono aos valores e a imposição de uma realidade sem sonhos faz com que a humanidade
quase inexista na sociabilização dessas crianças.
O que o autor destas linhas chama de plantão social é um conjunto de
medidas tendentes a preparar o policial para o atendimento qualificado e identificação dos
“casos sociais” com a possibilidade de encaminhamento para profissionais das diversas áreas
do conhecimento que podem dar uma solução adequada ao conflito.
A finalidade do plantão social é o de incentivar as pessoas a procurarem a
unidade policial onde terão atendimento qualificado, aproximando assim a comunidade da
polícia para inverter o conceito de polícia repressora. A polícia, por sua vez, passa a ter
conhecimento mais detalhado da vida da comunidade e poderá desenvolver ações de polícia
comunitária preventiva específicas para áreas da cidade ou setores da população.
“A polícia, pelo lugar que ocupa entre o Estado e a sociedade, precisa ser
conhecida e reconhecida como um órgão importante da administração pública que deve servir
com um serviço público a todos os cidadãos” (Poncioni Mota, 1992, pg. 8).
41
O trabalho foi elaborado por Marcos Rolim sob encomenda da Secretaria Nacional de Segurança Pública
(SENASP) e entregue ao governo em Dezembro de 2004, sendo incorporado oficialmente pela secretaria.
100
Depois de imaginar que os crimes violentos são os mais freqüentes, as pessoas tendem a
supor que estão, todas elas, igualmente expostas ao risco de serem vitimadas por aqueles
mesmos crimes violentos, o que também não é verdadeiro. Os riscos de vitimização em
qualquer sociedade se distribuem de maneira bastante desigual. A depender do local onde
as pessoas moram, a depender da renda que possuem, da sua etnia ou da sua idade – entre
muitos outros fatores – os riscos reais serão bastante diferentes [...] Mas se todas as
pessoas imaginam que podem ser vitimadas a qualquer momento por um crime grave, o
que ocorre é que elas passam a viver com medo.
CONCLUSÃO
ou média gravidade podem ter como fatores determinantes problemas sociais que podem ser
combatidos eficazmente por uma atuação qualificada da Polícia Judiciária. O correto
tratamento destas situações evitaria, inclusive, a reincidência.
Sem abandonar suas funções institucionais de repressão a crimes graves a
Polícia Judiciária poderá acumular também funções preventivas para obter maior eficácia na
sua atuação.
Fatores que podem gerar criminalidade como as ocupações espaciais da
cidade e desestruturação da família poderão receber atenção especial da Polícia Judiciária e
possibilitar o planejamento de suas ações preventivas.
Os elementos jurídicos para atuação preventiva da Polícia Judiciária são
encontrados nas teorias do direito penal mínimo e garantismo penal.
Em face do direito penal mínimo a atuação da Autoridade Policial estaria
voltada à prevenção quando deixasse de autuar em flagrante delito os autores de crimes de
pequena repercussão e mesmo de média gravidade, diante das circunstâncias, para destinar a
eles um tratamento diferenciado com o fim de promover sua recuperação e evitar a
reincidência.
Importante a esse respeito é evitar o aprisionamento de pessoas que
cometeram crimes de pouca repercussão ou média gravidade e para isto a Autoridade Policial
pode utilizar um instrumento jurídico assemelhado a antecipação da tutela da liberdade
provisória, evitando que estas pessoas sejam recrutadas por grandes organizações criminosas.
Os envolvidos em crimes de pequena ou média gravidade, em situação de
flagrância ou não, serão encaminhados ao plantão social. As motivações do crime e a
personalidade dos envolvidos seriam analisadas pela equipe multidisciplinar com a finalidade
de se encontrar uma medida preventiva adequada e eficaz e ao mesmo tempo servir de
subsídio para a investigação do inquérito policial ou a instrução do processo.
No que diz respeito a crimes de bagatela e até mesmo os de menor
potencial ofensivo, ou ainda em conflitos não criminais, mas que aportaram na Delegacia de
Polícia, a Autoridade Policial poderá lançar mão do instituto da conciliação ou das práticas
restaurativas. A solução rápida e eficaz do conflito pela Polícia Judiciária nestes casos
contribuirá para evitar que referido conflito se agravasse ou mesmo volte a se repetir.
Numa atuação mais ampla, a Polícia Judiciária assumirá a estratégia de
Polícia Comunitária com a finalidade de integrar a comunidade a suas atividades para que sua
atuação seja legítima.
103
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