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REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S A CONSOLIDACAO DA LEI 10.639 NO MUNICIPIO DE CAMPINAS-SAO PAULO: EXPERIENCIAS E DESAFIOS, Angela Fatima Soligo! Caroline Felipe Jango? Tamyris Proenca Bonilha Garnica’ Edina Lourenco* Resnmo: Este estdo apresenta os dados referentes a uma pesquisa realizada com asios educadoras/es do Municipio de Campinas-SP, a respeito da implantagao ¢ desenvolvimento das agdes relativas & lei 10.639, a partir de demanda apresentada pela Comissao de Educagao da ‘CAmara Municipal de Campinas. questionério elaborado para a realizagao da pesquisa foi disponibilizado para a rede docente do municipio de Campinas em ambiente virtual da Secretaria ‘Municipal de Educagao, a0 qual responderam 218 profissionais da Educacao. Os resultados indicam que, embora as questies das afticanidades e da Historia da Africa estejam contemplados ros Projetos Politico-Pedagégicos e Planos de Ensino, elas ainda nfo adentram as priticas pedagégicas das/dos docentes. Evidenciam ainda as lacunas da formac3o e corroboram a constatacdo da dindmica do racismo institucional no cotidiano escolar, que se opera pela auséncia, pelo siléncio e pela superficialidade. Palavras-chave: Lei 10.639/03; afticanidades: praticas pedagégicas; formacao docente. THE CONSOLIDATION OF LAW 10.639 IN THE MUNICIPALITY OF CAMPINAS- SAO PAULO: EXPERIENCES AND CHALLENGES Abstract: This study presents the data referring to a research carried out with the educators of the ‘Municipality of Campinas-SP, regarding the implementation and development of the actions related to Law 10.639, based on demand presented by the Education Committee of the Campinas. The questionnaire prepared for conducting the research was made available to the teaching network of the city of Campinas in a virtual environment of the Municipal Education Department, to which 218 Education professionals responded. The results indicate that, although the issues of African and African History are covered in the Political-Pedagogical Projects and Teaching Plans, they still do not enter into the pedagogical practices of teachers. They also highlight the lack of ' Docente da Faculdade de Educagdo da Unicamp, Departamento de Psicologia Educacional, Membro do Grupo de Pesquisa DiS (Grupo de Estudos e Pesquisas Diferengas e Subjetividades em Educagao: estudos surdos, do racismo, género e infancia), Presidente da ABEP-Associacao Brasileira de Ensino de Psicologia ¢ Presidente da ALFEPSI-Associagio Latinoamericana de Formacio e Ensino em Psicologia. E Pedagoga no Instituto Federal de Educacio, Cincia e Tecnologia de Sto Paulo (IFSP), membro do Miicleo de Estudos Affo-brasileiros e Indigenas do IFSP desde 2015 « membro do grupo de pesquisa DiS (Diferencas e Subjetividades na Edueacio - Unicamp) desce 2006. > ‘tua como Professora do Ensino Bésico Técnico e Tecnolégico, area de Educagdo, no Instituto Federal de Sto Paulo - Campus Avaré Assessora do Vereador Carlos Roberto de Oliveira, da Cémara Municipal de Campinas-SP. Membro do Forum para Promogio da Igualdade ¢ Diversidade Etnico-racial de Campinas. Fundadora ¢ Membro da ‘Coordenacio do Grupo Forca da Raca. Em 2014 recebeu a Comenda Abdias do Nascimento. 265 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S training and corroborate the evidence of the dynamics of institutional racism in school life, which ‘operates through absence, silence and superticiality. Key-words: Law 10,639/03; africanities; pedagogical practices; teacher training LA CONSOLIDATION DE LA LOI 10.639 DANS LA MUNICIPALITE DE (CAMPINAS-SAO PAULO: EXPERIENCES ET DEFIS Résumé: Cette étude présente les données se référant & une recherche réalisée avec les éducateurs de Ja municipalité de Campinas-SP, concernant la mise en ceuvre et le développement des actions liges & la loi 10.639, basée sur la demande présentée par le Comité de l'éducation de la Campinas, Le questionnaire préparé pour mener la recherche a été mis a la disposition du réseau denseignement de la ville de Campinas dans un environnement virtuel du Département de Véducation municipale, auquel 218 professionnels de l'éducation ont répondu. Les résultats indiquent que, bien que les problémes de histoire africaine et afticaine soient couverts dans les projets politico-pédagogiques et les plans denseignement, ils n'entrent toujours pas dans les pratiques pédagogiques des enseignants, Ils soulignent également le manque de formation et corroborent les preuves de la dynamique du racisme institutionnel dans la vie scolaire, qui opére par labsence, le silence et la superficialité. Mots. Loi 10.639/03; africanités; pratiques pédagogiques; formation des enseignants LA CONSOLIDACION DE LA LAY 10.639 EN EL MUNICIPIO DE CAMPINAS-SAO PAULO: EXPERIENCIAS Y DESAFIOS Resumen: Este estudio presenta los datos referentes a una investigacién realizada con las/los educadoras/es del Municipio de Campinas-SP, respecto a la implantacién y desarrollo de las acciones relativas ala ley 10.639, a partir de la demanda presentada por la Comisién de Educacién del Ayuntamiento de Campinas. El cuestionario elaborado para la realizacién de la investigacién quedd disponible para la red docente del municipio de Campinas en ambiente virtual de la Secretaria Municipal de Educacién, al que respondieron 218 profesionales de la Educacién. Los resultados indican que, aunque las cuestiones de las afticanidades y de la historia de Aftica estén contempladas en los proyectos politicos-pedagégicos y en los planes de ensefianza, todavia no adentran las précticas pedagégicas de las/los docentes. Evidencian atin deficiencias de la formacién y confirman 1a constatacién de la dindmica del racismo institucional en el cotidiano escolar, que opera por la ausencia, por el silencio y por la superficiatidad. Palabras-clave: Ley 10.639/03; afiicanidades: practicas pedagégicas; formacién docente. CONTEXTUALIZACAO O ingresso do povo negro no Brasil teve sua origem no escravismo, proceso mareado pelo sequestro, aprisionamento ¢ despersonalizagao de povos afticanos, que foram trazidos revelia e submetidos a condicdes de trabalho e vida crugis e desvmanizantes 266 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S A cidade de Campinas recebeu, no periodo eseravista, grande contingente de negros escravizados, em fungao das lavouras de agicar e café, e hoje conta com uma populagio composta por aproximadamente 35 por cento de pessoas que se declaram negras, segundo dados do IBGE (2018). © escravismo brasileiro foi o mais longo da América Latina, e a aboligio da escravatura em 1888 foi resultado, por um lado, dos interesses das forgas econémicas dominantes, ¢ por outro da luta dos negros por liberdade, das revoltas, dos quilombos dos movimentos abolicionistas e republicanos. Findo o escravismo, povo negro nao contou com leis de protegao e reparagao — como as que foram criadas para os imigrantes europeus’ - foi deixado as margens das cidades que cresciam e, a0 longo de nossa histéria, ocupou © ocupa as camadas desfavorecidas da sociedade, apresenta os menores percentuais de renda e acesso a bens sociais como Educagio, Sade, trabalho assalariado formal (Soligo, 2001; Theodoro, 2008; Paixao e Rosseto, 2012). No campo da Educagao, segundo dados do Censo Escolar (Bonilha ¢ Soligo, 2015), as erianeas e jovens negros vio, ao longo de sua trajetéria escolar, sendo excluidos da escola, ¢ a0 final do nivel médio representam menor percentual de estudantes matriculados. No Ensino Superior, as pessoas negras correspondem a 35% dos matriculados, embora hoje representem mais de 50% da populago brasileira, Apesar das disparidades entre as condigdes de vida entre brancos/brancas negros/negras, a cultura brasileira cultivou e cultiva a ideologia da democracia racial, cunhada pelos trabalhos de Gilberto Freyre e, nos anos 50, a partir de pesquisas de Pierson publicadas pela ONU (Soligo, 2001). A ideologia da democracia racial, que marca até hoje a cultura brasileira, produziu e deu suporte nfo apenas a projetos higienistas ¢ de branqueamento da populagio brasileira, resultando em politicas desiguais para os segmentos branco e negro, bem como 5 Alguns exemplos de protecionismo e incentivo & imigracio europeia podem ser identificados desde a Carta Régia de 1818, que autoriza a aquisigao pela Coroa de lotes para assentar familias suicas. Em 1871, © govemo brasileiro criaw leis de incentivo a imigraglio, que previam subsidios para transporte de familias ceuropeias a0 Brasil ¢ também as fazendas de destino quando de sua chegada, assim como adiantamento de 20 mil réis a cada familia de imigrante. Em 1886 cria-se a Sociedade Protetora da Imigragao em S20 Paulo (Carvalho, 1940) 267 Revista da ABPN v. 10, Ed. Especial - Caderno Temitico: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . fraturas na construgio da identidade negra, além de um proceso de apagamento ¢ silenciamento do povo negro e das questées do racismo (Soligo e Weschler, 2002). Por volta do final dos anos 1980, period que corresponde ao processo de redemocratizagio do pais, diversos estudos ¢ movimentos negros trouxeram a tona a temitica da realidade do racismo que marca nossas relagdes, mostrando no apenas a profunda desigualdade evidenciada nas condigdes de vida do povo negro, mas também as varias facetas pelas quais se revela 0 nosso racismo, chamado por muitos de racismo & brasileira, racismo cordial, racismo camuflado (Munanga, 1999; Hasenbalg, 1979; Soligo, 2014) Apesar dos impactos incontestiveis do legado do escravismo nas relagdes racializadas, o racismo brasileiro ganhou contomos especificos a0 longo do século XX, 0s quais demarcam o lugar de subordinagio e inferiorizagio do negro na sociedade. Dessa forma, a raga, como attibuto socialmente elaborado, é analisada como um critério eficaz dentre os mecanismos que regulam o preenchimento de posigdes na estrutura de classes € no sistema de estratificagao social (Hasenbalg, 1979). Longe de ser mera sobrevivéncia do passado escravista, o racismo no Brasil esta funcionalmente relacionado aos beneficios simbélicos e materiais que os brancos obtém em virtude da desqualifieagao competitiva do grupo negro, eonforme explica Hasenbalg (1979, p.118): [..1] depois da Abolicao o preconceito foi redefinido socialmente num duplo sentido: ndo sé formalmente, cor e condiedo social nto correspondiam mais & ‘mesma irremissivel situacao de casta dos escravos, como 0 negro livre passow a frustrar mais generalizadamente as expectativas dos brancos e, mais tarde, a ameacar a exclusividade das posicdes sociais por eles mantida. A partir desse ‘momento, comeca realmente 0 “problema negro”: o preconceito muda de contetido signitficativo e de fungdes sociais Historicamente, os lugares sociais destinados & populagao negra so aqueles com ‘menor prestigio social, subordinados aos interesses da populagao branca, e que negam 0 reconhecimento da importincia da cultura e da histéria do povo afticano para a constituigiio da sociedade brasileira; um lugar em que se apagam as diferengas, as tadigdes e os conhecimentos construides por geragdes; que por inviabilizar 0 “outro” e negar-lhe as diversas possibilidades de existéneia, caracteriza-se como wn “nio-lugar”. 268 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . © “nio-lugar” é compreendido por Bonilha e Soligo (2015) como um espago do anonimato, que é impessoal, sem qualquer trago de identidade ou de valorizagao; uma forma eficaz de silenciar e apagar um segmento da populagio da historia e da cultura de um pais, Tal exclusio acontece principalmente no nivel simbélico, isto é, o no-lugar nao corresponde apenas a um espago fisico, mas trata-se também de uma exclusfio que opera no nivel da subjetividade. Estudos sobre a realidade do racismo institucional na educacdo, sobre as condigdes das criancas negras na escola, vieram para mostrar a permanéncia do negro nos “ndo-lugares” sociais e afirmar que a democracia racial brasileira é uma falécia frente a0 racismo operante cotidianamente no contexto escolar, produzindo exclusio e sofrimento (Feitosa, 2012; Silva, 2008; Soligo e Wechsler, 2002) Os elevados indices de desigualdade racial refletem tanto a acumulacao histérica dos prejuizos softidos pelo povo negro como as deficiéncias na qualidade da edueacdo oferecida 4 populagdo em idade escolar. Os negros so os brasileiros com menor escolaridade em todos os niveis, os que enfrentam as piores condigdes de aprendizagem ¢ o maior nivel de defasagem escolar. Dados do Censo Escolar analisados por Bonilha e Soligo (2015) apontam que, em 2013, a populacao branca possuia 8,8 anos de estudo em ‘média; jé a negra, 7,2 anos; a taxa de analfabetismo entre os negros (11,5) é mais de duas vvezes maior que entre os brancos (5,2). Outras pesquisas mostraram a auséneia, no curriculo escolar, de contetidos que levassem em conta os conhecimentos ¢ contribuigdes das culturas afficanas € afro- brasileira, bem como a presenga do racismo como elemento estruturante da organizagio escolar e seus conteiidos (Souza, 2005). ‘Nessa linha de andlise, estudos como os de Soligo (2001); Cavalleiro (2005); Nascimento (2003); Gomes (2011); Feitosa (2012) apontaram para o siléncio presente no interior da escola em relago ao racismo e as desvantagens que as criangas negras sofrem nna sociedade brasileira. Para as autoras, o siléneio na escola nao é neutro, uma vez que orienta para a definicdo de padrdes, daquilo que é superior e inferior; baseado no discurso da igualdade de direitos entre os sujeitos, nega as contradigdes sociais, as diversidades culturais e legitima um tipo de saber hegeménico, que ¢ tido como universal. 269 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST . © ambiente escolar esti impregnado de um racismo difuso, silencioso, fundamentado na cristalizagiio das imagens negativas presentes no imagindrio social, afetando especialmente o desempenho escolar das alunas e alunos negros (Romio, 2001; Cavalleiro, 2005; Souza, 2004; Verissimo, 2005; Cardoso, 2009; Castro E Abramovay, 2006). A difusdo de representagies sociais negativas sobre a populagio negra é estratégia de discurso racista observada como forma de discriminagdo no interior das escolas, via livros didaticos e literatura infanto-juvenil (Pinto, 1993; Rosemberg 1998: Telles, 2003), atuante também em diversos espacos sociais, notadamente nos meios mididticos O processo de redemocratizagao da sociedade brasileira, a LDB de 1996, a agao dos movimentos negros organizados, os estudos académicos e debates em tomo do racismo resultaram na urgéncia de se pensarem politicas de reparagio e ages afirmativas e, em 2003, foi promulgada a lei 10.639, que determina o ensino de Historia da Aftiea na Educagio Bisica e na formagio de professores, na perspectiva de combate ao epistemicidio affo e constituigdo de referéncias de identidade positiva as criangas e jovens negros (Gomes, 2006). © Conselho Nacional de Educagio, quando aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educagao das Relagdes Etnico-raciais e para o Ensino de Histéria e Cultura Afrobrasileira e Africana (Parecer CNE/CP n°. 03 de 10 de margo de 2004), estabeleceu orientagdes a respeito de contetidos a serem incluidos e trabalhados nas escolas e também as necessérias modificagdes nos curriculos escolares, em todos os niveis e modalidades de ensino. A Resolugdio CNE/CP n°. 01, publicada em 17 de junho de 2004, detalha os direitos e obrigagdes dos entes federados frente 4 implementagdo da Lei n° 10.639/2003. Em Campinas, por meio do MIPID‘, agdes afirmativas baseadas no ensino de Historia da Africa e africanidades foram pioneiras no Estado de Sio Paulo, tendo sido implementadas desde 1998. O MIPID, que se antecipou a promulgagio da lei, tem sido ‘um projeto estratégico na cidade para implementagao das ordenagdes legais, oferecendo aos docentes do municipio formagio e suporte ao trabalho com a historia da Africa e afticanidades. Programa Mem iae Identidade: Promocao da Igualdade na Diversidade na Rede Municipal de Campinas. 270 Revista da ABPN v. 10, Ed. Especial - Caderno Temitico: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST . Apesar de mais de 10 anos desde a promulgagio da lei 10.939/03, estudos evidenciam uma descontinuidade em sua aplicagio, entraves e dificuldades, bem como uma relativa aderéneia das escolas e professores ao sentido da lei e do que ela representa (Passos, 2014). Diferentes pesquisas sobre o tema constataram que as reflexdes acerca das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educagao das Relagdes Etnico-Raciais ainda nao foram universalmente incorporadas nas politicas de formagio docente nem fazem parte da cultura escolar e dos projetos politico-pedagégicos da escola, ficando, muitas vezes, restritas apenas 4 realizagao de projetos e programas isolados e/ou reduzidos a agdes de um tinico professor ou grupo de professores (Oliveira, 2010; Muller; Coleho, 2013). Assim, a promulgagao da Lei n°. 10.639/03 deve ser entendida como um ponto de chegada de uma luta histérica da populagdo negra para ser valorizada e reconhecida por sua importincia na constituigdo da cultura brasileira, e ao mesmo tempo um ponto de partida, visto que no cenario da politica educacional, a referida lei provocou mudangas relevantes quanto 4 compreensdo sobre o papel da escola no processo de formagio de subjetividades, contudo permanece como desafio a transformagio das concep¢des/ideais em priticas pedagdgicas que efetivamente contribuam para a melhoria da qualidade da educagao e que estejam amparadas nos principios da educagao para as relagdes étnico- raciais, A memoria coletiva, a historia, a cultura ¢ a identidade das alunas e dos alunos negros, apagadas na escola pelo predominio da perspectiva eurocéntrica, quando so abordadas seguem a dtica humilhante e despersonalizada, do ponto de vista do “Outro” Como adverte Munanga (2005), as consequéncias desse fato so incontestaveis para 0 rendimento escolar dos alunos negros ¢ afeta diretamente sua estrutura psiquica, por falta de conhecimento e valorizagio dos saberes geracionais; nao se reconhecem na histéria “oficial” contada no curriculo escolar. Se adotamos a interpretagiio de Fanon (2008), podemos compreender mais profundamente as consequéncias nefastas desse racismo que opera no siléncio e apagamento, na medida em que, segundo esse autor, 0 povo negro sequer logrou ser reconhecido como o Outro das relagdes marcadas pela branquitude, ja que historicamente teve sua humanidade negada e interditada. 271 Revista da ABPN + v. 10, Ed. Bspecial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S O resgate ¢ a valorizagiio da meméria coletiva e da historia da populagio negra no interessam apenas aos alunos de ascendéncia negra, mas também aos alunos de outras ascendéncias, principalmente branca, pois também sto afetados em sua constituicio indentitaria por uma educagio estruturada em tomo de relagies desiguais preconceituosas e de uma patolégica crenga na superioridade branca (Fanon, 2008). Além disso, essa meméria nao pertence apenas aos negros, mas a todos os brasileiros, j4 que a cultura da qual partilhamos foi construida por diferentes segmentos étnicos que, apesar das condigdes desiguais nas quais se desenvolvem, contribuiram cada um de seu modo nna formagao da riqueza econémica e social e da identidade nacional (Munanga, 2005). Passado 0 periodo de implementagdo de uma politica piblica, com rupturas e quebras de paradigmas, é fundamental analisar 0 modo como tal politica é apropriada e ressignificada pelos sujeitos em seu contexto, Nesse sentido, considera-se que o sucesso da implementagdo da lei 10639/2003 depende, entre outros fatores, do modo como os sujeitos apropriam-se de seu contetido e passam a modificar suas ages em virtude dessas representagdes. A partir dessas reflexes, consideramos que o periodo transcorrido até agora seria suficiente para realizarmos um levantamento que aponte como se tem consolidado, em Campinas, a lei 10.639, 03 avangos, as experiéncias singulares e as dificuldades enfientadas no cotidiano da escola, Este constitui-se o objetivo deste estudo. Este trabalho, procurou nao apenas contribuir com a produgio de dados sobre a temitica racial na Educagao Basica de Campinas, mas também conhecer as experiéncias singulares e os obsticulos e dificuldades enfrentadas por professoras/es e gestoras/es, no sentido de colaborar com o aperfeigoamento dos projetos e praticas. APORTE METODOLOGICO O objetivo dessa pesquisa foi identificar e analisar as experiéneias com a educacdo das relagdes étnico-raciais do Municipio de Campinas, a partir do relato das/dos educadoras/es, buscando evidenciar conhecimentos, avangos, dificuldades e priticas singulares. 272 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S Esta pesquisa caracteriza-se como quali-quantitativa, pois visa levantar dados quantificdveis sobre conhecimentos ¢ ages com 0 ensino de Historia da Africa, assim como relatos de experiéncias, impresses e apontamentos de dificuldades e perspectivas. E importante ressaltar que o intento do estudo nio se limita a apontar avancos ou entraves, mas visa produzir conhecimentos que permitam identificar necessidades apontar possibilidades e estratégias de apoio ao trabalho docente, razo pela qual os dados qualitativos so tio relevantes para a pesquisa e receberio tratamento e anilises aprofundados. Para efetivagao da pesquisa, foi construido um questiondrio semiaberto contendo questdes relativas a localizagio na rede municipal e trajetéria formativa dos respondentes, bem como conhecimentos ¢ priticas com a questo das africanidades. O questionério foi aplicado por meio do sistema informatizado Educagiio Conectada, da Secretaria de Educagio de Campinas, ficando disponivel para as/os educadoras/es durante um més. Antes de disponibilizarmos o questionario, foram feitas reunides entre a equipe da pesquisa, membros da Secretaria de Educagao ¢ gestoras/es educacionais — diretorasies, supervisoras/es, coordenadoras/es, orientadoras/es educacionais, com 0 intuito de explicitar os objetivos da pesquisa ¢ solicitar apoio e incentivo a participagio das/dos educadoras/es, Esses momentos foram extremamente importantes, pois resultaram em, sugestdes ricas para a equipe da pesquisa. Participaram da pesquisa 218 profissionais da educagdo — professoras/es, diretoras/es, orientadorasies pedagégicas/os, supervisoras/es, monitoras/es de creches - que voluntariamente optaram por responder ao questionatio. ‘As questdes fechadas gerais foram processadas no sistema e as abertas analisadas pela equipe responsivel, utilizando-se as estratégias propostas por Bardin (2001), que incluem anilise temética, identificagio de micleos de significados e categorias emergentes e/ou definidas pela equipe da pesquisa.” 7 Para as etapas de elaboragdo e insergdo do questionério no ambiente virtual ¢ andlise dos dados uantitativos, a equipe contou com 0 trabalho colaborative do Assessor da Secretaria de Educacdo ‘Alexandre Tadeu Dias e dos téenicos assessores da Camara Municipal Ivan Gois Santos Jr. © Mateus Zanetti 273 Revista da ABPN v. 10, Ed. Especial - Caderno Temitico: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . Faz-se imprescindivel salientar que, em nenhum momento, dados de identificagao da escola ou do professor foram ou serio tornados pablicos, garantindo-se o direito a confidencialidade e preservagio dos respondentes. RESULTADOS E DISCUSSAO. A amostra foi constituida por 218 profissionais, que se dispuseram a responder a0 questionario, de uma rede de Educago composta por 7.080 educadoras/es, distribuidos entre os cargos de professor, agente de Educagao Infantil, Gestor e Gestor de nivel centra Se considerarmos a totalidade da Rede, nossa amostra representa 3,8% do universo de educadoras/es do municipio. Esse percentual nfo impacta a qualidade dos dados obtidos pela pesquisa, j4 que 218 respondentes representam uma quantidade expressiva em uma pesquisa de carter quali-quanti e que nio teve a pretensio de construir uma amostra estatisticamente representativa, Por outro lado, revela, entre outros possiveis fatores, 0 siléncio da Educagao e seus atores em torno da tematica racial. A interpretagao desse mimero a partir da perspectiva do siléncio tem suporte em outras pesquisas realizadas sobre a temitica, como ja apontado em nossos fundamentos tedricos (Cavalheiro, 2005; Feitosa, 2012; Soligo, 2014). © primeiro dado geral do estudo que deve ser ressaltado & © que aponta a distribuigdo da amostra segundo 0 sexo, ou seja, 93.6% das/dos profissionais que responderam ao questionario so do sexo feminino e apenas 6.4% sio do sexo masculino, sendo assim, a pesquisa reitera um dado ji conhecido e evidenciado por diversos autores, que é a predominncia de profissionais da educagao do sexo feminino (Costa, 1999; ‘Vianna, 2013) Historicamente, em nosso pais, 0 principal mecanismo de insergao das mulheres no mundo do trabalho valorizado foi o magistério, em especial a Educagio de eriangas, pois se acreditava, no inicio do século XX, que sendo as mulheres possuidoras de dons “naturais” para o cuidado com as criangas, elas poderiam ser também boas educadoras no contexto da escola (Freire, 2011). Ao longo do processo de desenvolvimento, outras opgdes foram conquistadas pelas mulheres, mas o magistério continua sendo uma profisstio majoritariamente feminina, marcada pela ideia de complementariedade salarial 274 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . e pelo recorde de género, que confere as profissdes ditas femininas um status inferior e ‘menos valorizado em relagdo aquelas consideradas masculinas. Quanto a distribuigdo da amostra segundo a auto declaragio de cor/etaia devemos destacar que a grande maioria das/dos professoras/es respondeu ao item, somente 0.9% no se declararam, Nossa amostra possui 22.5% de profissionais negras/os ¢ 74.8 % de profissionais brancas/os, evidenciando uma sub-representagio do segmento negro na profissiio. Devemos ressaltar, também, que nossa amostra nfo possui representante indigena, Essa sub-representagao esté associada aos determinantes histricos, sociais € educacionais, que resultam em exclusio de grande parte dos negros dos contextos universitérios, ¢ representa um ponto a se considerar, do ponto de vista das politicas piiblicas, no que se refere a presenga de educadores negros, que representem elementos de identificagio positiva para as criangas. Grafico 1. Distribuigo dos educadores por regido na Cidade de Campinas Distribuicao dos grupos por regio 60,00% 50,00% msul 40,00% Norte 30,00% teste 20,00% 10,00% mNoroeste 0,00% mSudoeste Homens Brancos Homens Negros Mulheres Mulheres Negras. Contrg A amostra conta com profissionais de todas as regides, porém com mais representantes da regio norte, sul e noroeste. As educadoras e os educadores negros concentram-se prioritariamente nas regides noroeste e sul, respectivamente, assim como estilo sub-representados na regifio central e nas regides de maior poder aquisitive. Na cidade de Campinas, as regides centrais e norte apresentam maiores indicadores sécio- econdmicos, como renda, acesso & educagio e satide, saneamento, entre outros, a0 passo que as regides noroeste e sul concentram a populagdo com menos indices de renda e 215 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S acesso a bens sociais, como mostra o estudo demogrifico realizado por Nascimento (2013). Com relagio ao tempo de atuagio na rede publica, mais da metade da nossa amostra possui mais de 10 anos de atuagio na educagao piblica ‘Ao separarmos os dados por cargo, observamos que o piblico que mais aderiu & pesquisa foram as/os Professorasies de Educagio Infantil, seguidos pelos monitores/agentes de educagio infantil. Tal dado pode indicar maior abertura deste nivel de ensino & tematica em questo, bem como maior articulagao dos gestores deste nivel para que os profissionais respondessem aos questionarios, pois se compararmos dados dos gestores por nivel de ensino também veremos que os que atuam na educagao infantil tiveram participagio expressiva em relagdo aos demais gestores, principalmente os Orientadores Pedagégicos, Esse interesse e disposigio jé haviam sido evidenciados nas reunides preparatérias realizadas com a equipe de pesquisa. Abaixo apresentamos o Grifico 4, que traz os dados combinados relativos ao sexo, cor e cargo. Grafico 2. Distribuigao da amostra por Cargo, sexo e cor declarada Distribuigao por Cargo 60,00% 50,00% Gestor 40,00% 30,00% = Monitor/Agente de Educa¢o 20,00% Infantil, 10,00% sm Professores de Educacso 0,00% Infantil Homens Homens MulheresMulheres ss professores de Ensino Brancos Negros Brancas_-—«-Negras_— Fundamental Anos Iniciais grafico apresenta dados bastante interessantes ¢ que corroboram estudos ja realizados. O primeizo deles refere-se & auséneia de homens de nossa amostra, brancos ‘ow negros, como professores de Educagao Infantil, o que reforca a ideia corrente de que ‘no cabe ao homem 0 cuidado ¢ educagio das criangas pequenas (Vianna, 2013) Outros dados importantes sio a representatividade dos homens negros na Educagio de Jovens € Adultos, 0 que os coloca em contato prioritariamente com uma 276 Revista da ABPN + v. 10, Ed. Bspecial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S faixa etiria que ja formou seus referenciais identitirios primérios, e a maior presenga de mulheres negras como agentes de Educagio Infantil e nao como professoras, 0 que novamente reforga a ideia de subaltemnidade dos sujeitos negros. Esse dado reporta-nos aos componentes da exclusio dos negros da educago superior, bem como & importancia de problematizarmos a menor presenga de educadores negros nos anos iniciais e seus reflexos na formagdo identitaria dos alunos. Em relagio a formagio dos profissionais, podemos destacar que 68.8% sfo pos- graduados, dado este que indica um bom nivel de formacao dos profissionais. No grafico 3 podemos observar 0 dado dividido por sexo, cor e formagio. Grifico 3. Distribuigao da amostra por sexo, cor, formagio Distribui¢do por formagtio 60,00% 50,00% mEnsino Médio 40,00% m Especializagio 30,00% se Uicenciatura 20,00% 10.00% L mMestrado 0,00% = m Outras graduagoes Homens Brancos Homens Negros Mulheres Mulheres NEET2S « pedagogia Brancas Podemos afirmar, de acordo com os dados, que ha uma procura de todos os segmentos por ampliar a formagio para além da formagio inicial, o que contradiz com o discurso corrente, de que os professores nao se interessam por aperfeigoar sua formagao e trabalho, como apontado no estudo realizado por Pereira, Leite e Soligo (2008). Em sua maioria, a especializagdo é o grau atingido pela amostra, mas chama atenglo o maior grau. de qualificagao formal dos educadores negros, no nivel de mestrado. FORMAGAO E TEMATICA ETNICO-RACIAL, Quando questionados sobre 0 contato com a questio étnico-racial na formagao inicial, 47% dos profissionais evidenciam nio ter tido contato com a temitica; 42.4% destacam que tiveram contato de forma transversal em diversas disciplinas ¢ apenas 10.6% em disciplinas especificas. Tal dado demonstra a lacuna da formagio inicial an Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST . docente acerca da temética em questio, indicando que grande parte dos professores precisa buscar 0 conhecimento acerca da questio étnico-racial apés a formagao inicial No entanto, inclusive por ser mais especifica, a formagio em nivel de pos-graduagio também no supera esta lacuna, uma vez que 60.6% dos profissionais destacam que também nio tiveram contato com a temdtica nesse nivel. Esse é um dado importante, porque coloca para as instituigSes formadoras — faculdades ¢ universidades, a questo premente de romper com o silenciamento da temitica racial e das afticanidades, inclusive com o epistemicidio que cotidianamente se pratica contra os saberes cientificos africanos. Com relagio a formagao continuada, a participagao das/dos professorasies em cursos e agdes especificas sobre as relagdes étnico-raciais ocorre em grande maioria de forma esporddica, como indicam 40.4% dos participantes. Porém, 0 nimero mais preocupante é o que indica a no participagdo destes profissionais em formagdes nesta temiitica, ou seja, 42%, Poderiamos prever que o baixo oferecimento de formagio continuada pela rede municipal ocasionaria a no participagdo, porém os participantes tinham a opgao de escolher “nunea participei, mas tenho interesse”, mas apenas 9,6% 0 fizeram. Ou seja, do total de profissionais que nunca participaram de formagées, aproximadamente 77,2% nao indicaram interesse em fazé-lo. Além disso, quanto ao dado que indica a busca de formagao em outros espagos que discutem as relagdes étnico-raciais, apenas 9.2% destacaram buscar com frequéncia, 21,6% buscam esporadicamente e 0 restante no busca. Para compreender esse pouco interesse declarado, € necessario recorrer a influéncia da ideologia da democracia racial que ainda atua fortemente na cultura escolar e representagdes das/dos educadoras/es, que faz silenciar e negar a importincia dos conhecimentos relativos a historia da Africa e africanidades. Entre todos os segmentos, a formagio em outros espagos realiza-se em universidades, sindicatos, pontos de cultura, ONGs, igrejas, Outro dado importante refere-se maior procura por formagio por parte de educadoras ¢ edueadores negros, 0 que foi evidenciado nos questionérios respondidos pelas/os professoras/es do Ensino Fundamental, da EJA e pelas/os gestoras/es. E preciso salientar, no entanto, que desde a criago do MIPID, em 1998, a rede municipal de Campinas tem oferecido, mesmo que de forma descontinuada, como salientou Passos (2014), cursos e experiéneias de formagio, disponiveis a toda a rede. 278 Revista da ABPN + v. 10, Ed. Bspecial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST . Ainda acerca da formagio continuada, 76.6% dos profissionais indicam participar de formagdes com outras temiticas, ou seja, novamente a questio da educagio das relagdes étnico-raciais parece relegada ao lugar da auséncia, do siléncio. E mais, sendo a maioria dos participantes pertencente ao segmento branco, reitera-se a ideia de que a questio racial é problema dos negros, nao do conjunto da sociedade brasileira, como ja apontado por Oliveira (2010). Acerea das motivagdes indicadas pelos profissionais para participagio nas formagdes disponiveis identificamos os seguintes argumentos: necessidade de atualizagao, discussio e articulagao entre os pares; interesse profissional; identificagao com a temitica; preocupago em cumprir a Lei 10.639/03; cursos oferecidos pela Rede, pelo CEFORTEPE®; para aprimorar a pratica em sala de aula; pela oferta de formagio nos TDCs*: pelo evento que ocorre uma vez por ano sobre a cultura negra e indigena; pela necessidade de construgdo de uma sociedade mais justa; em fungio das responsabilidades do cargo que ocupam (gestores). No caso das/dos edudadoras/es negros, podemos inferir a busca pela construgio de identidades negras positivamente referenciadas, ‘Jd 0s argumentos para nfo participar foram: poucas opgdes de cursos e eventos, 0 que dificulta o acesso; os cursos ¢ eventos so pouquissimo divulgados; localizagaio ¢ horatios incompativeis; actimulo de fungio e falta de horérios; conflito com as tarefas burocriticas; o assunto nao é prioritério; ndo possui interesse pelo tema; por desconhecer cursos que trabalham a temtica na area especifica de formagao do docente. Embora nao revelada explicitamente, a branquitude marea as justificativas. No grupo de respondentes, majoritariamente branco, as questdes das afficanidades aparecem novamente subalternizadas, silenciadas, coerentes com a ideia de democracia racial, que desresponsabiliza 0 segmento branco do enfientamento do racismo. Alguns elementos apontados pelos respondentes podem ser considerados pela Secretaria Municipal de Educago, na perspectiva de melhoria das condigdes de oferta de formagio para a Educagiio das Relagdes Etnico-raciais: os locais de oferta de cursos * Centro de Formagdo, Tecnologia e Pesquisa em Educagdo “Professor Milton de Almeida Santos” ° Trabalho Doceate Coletivo 279 Revista da ABPN v. 10, Ed. Especial - Caderno Temitico: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S podem ser escolhidos visando ampliar as possibilidades de participago; pode-se também otimizar as formas de divulgagdo e as condigdes de participagao. Com relagio aos contetidos trabalhados na formagdo, as professoras de educagio infantil apontaram uma gama de componentes/contetides aprendidos nos espagos de formagio que tem orientado sua pritica pedagégica. Em relagio a temitica alvo desta pesquisa os componentes, contetdos ¢ atividades destacadas sio: racismo e suas implicagdes; empoderamento negro, afirmacio e auto-estima; literatura infantil voltada para a questo étnico-racial; escuta verdadeira; diversidade étnica, cultural e racial; direitos humanos; diretrizes curriculares; igualdade, afetividade, autonomia; politica do branqueamento; cotas raciais; videos voltado para a questio étnica; contacdo de histérias ‘com personagens negros; mulheres negras; historia da Africa; contetidos historicos, culturais, foleléricos, religiosos, folguedos, instrumentais/musicais. gastrondmicos, linguisticos; a abordagem em relagdo as familias; a importincia de falar com as eriangas sobre a diversidade e respeito pelo outro; uso dos termos: preto, negro, valorizacio da cultura e beleza negra; panorama geral sobre as estatisticas no mercado de trabalho dos negros/brancos; identidade das criangas negras, acolhimento sem distingaio entre as criangas; refletir sobre a visibilidade da cultura afro-brasileira ¢ Afficana dentro do trabalho pedagégico realizado. J4 aslos professoras/es do ensino fundamental meneionaram: valorizagio da historia da Africa e sua importancia para nossa cultura, enfatizando aspectos da arte; personagens negros importantes na historia ¢ na musica, jogos e brincadeiras indigenas As/os professoras/es de edueacio de jovens ¢ adultos apontaram os seguintes conteiidos: respeito as minorias; relagdes étnico-raciais, histéria de luta. Os gestores e gestoras mencionaram os seguintes contetidos: racismo; constituicio da identidade e representagdes; leis; cultura agdes de enfrentamento; multiculturalismo e diversidade; histria da Africa; priticas pedagégicas na temética étnico-racial; democratizagao da escola; Cadernos Tematicos da Rede Municipal; processos reflexivos. Podemos perceber, pelos conteiidos mencionados, que hi grande diversidade de temas abordados nos cursos de formago, que apontam para o respeito a diversidade, 0 reconhecimento da historia e da cultura africana e afro-brasileira, a dinémica do racismo ea importincia de agdes pedagogicas de enfrentamento. 280 Revista da ABPN + v. 10, Ed. Bspecial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . Nota-se, no entanto, a prevaléncia, ainda, de uma visio que restringe a contribuigo do povo negro nas dimensées das artes, da literatura ¢ da cultura cotidiana, sem 0 devido reconhecimento de sua contribuigdo em todos os campos da vide, como por exemplo a filosofia, as ciéncias ¢ as tecnologia! de maneira geral, 0 que acaba por reforgar o apagamento da contribuigo negra no conjunto das priticas culturais e cientificas do pais. CONHECIMENTO DAS LEIS Quanto ao questionamento que diz respeito a legislago que regulamenta a abordagem da temética no espago educativo, devemos destacar que todas/os as/os professoras/es de educacao infantil negras/os evidenciaram conhecer 0 teor da Lei 10,639/2003 que estabelece a obrigatoriedade do Ensino de Historia da Africa e da ‘Cultura Afro-brasileira e Africana na Educacao Basica. No entanto, a Lei 9.777/1998 que dispde sobre a inclusto no curriculo escolar da rede municipal de ensino de Campinas, inclusive supletivo, na disciplina de Historia, de matéria relativa ao estudo do negro na formagdo sociocultural brasileira, nfo é conhecida por estes professores. O mesmo ocorre com o Parecer CNE/CP — 003/2004 que dispée sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educagiio das Relagdes Etnico-raciais e para o Ensino de Historia e Cultura Afro- brasileira e Africana, Jé o Estatuto da Igualdade Racial, Lei 12.012, foi citado por apenas 16,6% das professoras e professores negros de educacdo infantil, assim como ocorreu com a lembranga da Lei 7716/89, que dispoe sobre os crimes resultantes de preconeeito de raga e de cor. Analisando os dados dos professores ¢ professoras brancos do nivel de ensino em questo, constatamos que 18,9% destes profissionais desconhecem qualquer legislagao que respalda a insergdo da temitica étnico-racial no espago educativo. Continuando a anilise, pereebemos que 27.5% das/dos _professoras/es de educagio infantil "© Nesses campos, podemos destacar, entre muitos, Merit Ptah (2700 a.C.) cientista eipeia, considerada a primeira médica registrada do mundo; André Reboucas (1838-1898), engenheiro considerado o pai da engenharia no Brasil; Granville Tailer Woods (1856-1910) engenheiro eléirico e mecdnico autodidata affoamericano, responsivel pela invengto do tansmissor de telefone, sistema ferrovidrios, sistema de ‘mett6, montanha-russa; Sonia Guimaraes, primeira mulher negra PhD em fisica do Brasil, especialista em isseis no ITA em Sto José dos Campos. 281 Revista da ABPN v. 10, Ed. Especial - Caderno Temitico: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . autodeclaradas/os brancos conhecem somente a legislagio que estabelece a obrigatoriedade da insergio da temética no curriculo, ou seja, a Lei n° 10.639/2003 (Ensino de Historia da Africa e da Cultura Afro-brasileira e Africana) e/ou 11.645/2008 (Historia e Cultura Afio-brasileira ¢ Indigena). Ademais, apenas 22.4% afirmam conhecer a Lei Municipal 9.777/1998 que dispde sobre a incluso no curriculo escolar na disciplina de Historia, de matéria relativa ao estudo do negro na formagao sociocultural brasileira e dé outras providéncias. Podemos observar, também, que apenas 17.2% dos professores e professoras tem conhecimento do Estatuto da Tgualdade Racial, Lei n’ 12.012. Além disso, o parecer que dispde sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educagio das Relagdes Etnico- raciais ¢ para o Ensino de Historia e Cultura Afro-brasileira e Africana é desconhecido por mais da metade dos/das profissionais (56.4%). Nenhum dos professores e professoras da educagZo infantil autodeclarados brancos indicaram conhecer a Lei 7716/89 que dispSe sobre os crimes resultantes de preconceito de raga e de cor. Entre as/os professoras/es do Ensino Fundamental, todos os negros dos dois niveis informaram conhecer a lei 10.639. A quase totalidade conhece também a lei 11.645. Dos 3 docentes negros do Fundamental II, dois conhecem também o Estatuto da Igualdade Racial, o Parecer CNE que dispdes sobre as diretrizes para educagdo das relagdes étnico- raciais e a lei especifica do municipio. Entre os professores e professoras brancos, 84% afirmam conhecer a lei 10.639; 25% conhiecem a lei 11.645; 29% tém informagiio sobre o Parecer CNE 003; apenas 16% conhecem a lei 9.777, que trata do ensino de Historia da Africa no Municipio de Campinas (todos do fundamental II); ¢ 16% conhecem pouco sobre o Estatuto da Igualdade Racial. Esse é um dado preocupante, pois o Estatuto é uma importante ferramenta de orientagao do olhar, das priticas e sobre os direitos do povo negro. Entre os professores e professoras de Edueagio de jovens e adultos, 0 conhecimento relativo 4 lei 10,639 engloba 92%; 79% conhecem a lei 11. 645; 46% tém conhecimento sobre a lei 9.777; 50% conhecem 0 Parecer 003 CNE; 25% conhecem 0 Estatuto da Igualdade Racial. Um respondente informou conhecer a lei Cao, que criminaliza os crimes de racismo, 282 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST . E importante salientar que, do conjunto dos respondentes, a quase totalidade dos educadores negros conhece 0 corpo todo das leis, enquanto entre os brancos 0 conhecimento est mais direcionado as leis relativas a inclustio da Historia da Africa e Historia indigena, No segmento dos gestores, 91% conhecem a lei relativa 4 historia da Africa, sendo que a totalidade das gestoras e gestores negros informam conhecer a lei; 69% conhecem a lei relativa a historia da Africa e indigena; 51% conhecem as orientagdes curriculares para a Educacao das relacdes étnico-raciais; 39% conhecem a legislacao especifica do municipio para essa temética e apenas 22% afirmam conhecer o Estatuto da Igualdade Racial. Embora seja importante salientar que a grande maioria dos gestores conhece a legislago referente 4 Historia da Africa, ha ainda um desconhecimento em relagiio ao conjunto dos regramentos relativos a Educagio das Relacdes Etnico-raciais e aos direitos do povo negro, o que pode afetar a profundidade do seu trabalho com a questio ¢ de orientacdo a equipe escolar. Ao olharmos 0 conjunto dos dados, um elemento importante é reconhecer que ha conhecimento dos mecanismos reguladores, especificamente concentrado nas leis que tratam do ensino da Historia da Africa. Porém, esse conhecimento ainda demanda maior aprofundamento, para ampliar e contextualizar essas leis em um espectro maior de direitos. Também merece mengo 0 fato de que, entre os educadores negros, é maior o conhecimento relativo aos regramentos legais, o que nos leva a refletir, como ji apontado por pesquisadores do racismo, como Munanga (2005), sobre a ideia corrente em nossa sociedade de que o racismo e a responsabilidade por construir relagdes igualitarias é uma questo apenas dos negros, e no do conjunto dos cidadaos, Com relagao importincia e necessidade dessas leis, © conjunto dos educadores e educadoras, em todos os niveis, destaca que as leis tém fungao de promogio da educagio para o respeito, para os direitos humanos, para a contemplagio das diferencas, bem como para a construgdo de identidades positivas e 0 combate ao racismo e as desigualdades. Destaca ainda que as leis tem fungao indutora, no sentido de garantir o trabalho com as relagdes étnico-raciais, respaldar projetos e ages e fomentar priticas de enfrentamento. 283 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST NK Muitos educadores ¢ educadoras salientam que, nao fossem as leis, as questdes das afticanidades seriam negadas ou ignoradas no contexto da escola. Mas que a existéncia das leis no garante sozinha 0 seu cumprimento, face a cultura do silencio, e que deveria haver, por parte do poder piblico, maior investimento em formacio ¢ estrutura adequada ao trabalho com as africanidades. TRABALHO PEDAGOGICO Com relagio ao trabalho com as questées étnico raciais, o primeiro ponto investigado refere-se ao Projeto Politico Pedagégico da Unidade em que a/o educadora/or trabalha, Segundo 4.6% dos educadores/as de educagio infantil, as questdes da igualdade étnico-racial nao sio tratadas na proposta politico pedagdgica de seu local de trabalho. 14 para 37.5% deles estas questdes so tratadas de forma superficial. Entretanto, 57.8% afirmam que as questdes sto tratadas de forma explicita e significativa. Cinquenta e um por cento dos professores e professoras do ensino fundamental informaram que os projetos pedagégicos de suas instituigdes tratam a tematica racial de forma explicita e significativa; 45% afirmaram que os projetos contemplam a temética de forma superficial, e 3,2% informaram que os projetos nao contemplam a questio. Os professores/as da educagao de jovens e adultos informam que a tematica racial aparece de forma explicita e significativa em 50% dos projetos pedagogicos, de forma superficial em 48% e ndo aparece em 4.2% dos projetos. Entre grupo gestor, 46% apontaram que os projetos pedagégicos de suas instituigdes abordam a tematica de forma explicita e significativa; para 52%, a tematica racial é tratada de forma superficial; e segundo 1,9%, a temética nao aparece no projeto pedagégico da escola. Podemos afirmar que esse pode ser considerado um avango, mesmo que em muitos casos o aporte da tematica ainda seja superficial, mas ha aqui um evidente avango no reconhecimento da questo racial como tarefa da Educago basica. A existéncia de um baixo percentual de projetos que nao contemplam a tematica deve ser observada, no entanto, pelos gestores da Educagio, uma vez que hi ainda instituigSes que nao estio 284 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S cumprindo a legislagdo municipal e a lei maior, mas no invalida o reconhecido caminho percorrido no processo de insergao da Historia da Africa no contexto educativo da cidade de Campinas. Com relagio ao modo como as questées so abordadas no Projeto Pedagégico da escola, todos os segmentos apontaram: a valorizacio da histéria e da cultura; leis; literatura, arte e culinéria; brinquedos — bonecas negras; identidade ¢ familia; estética negra — cabelos; videos e filmes; dia da consciéneia negra e semanas culturais; formagio continuada; MIPID; Reunides e TDC; rodas de conversa, assembleias de classe e trabalho cooperativo — resolugio de contflitos Merecem mengio os trabalhos com a construgio de bonecas negras, pois atingem as virias possibilidades educativas: a construgao de identidades positivas, a discussie das diferengas, 0 envolvimento das familias e a ludicidade, Também merece destaque um trabalho do ensino fundamental realizado por uma escola - os Informafricativos"', que so produgdes realizadas por professores ¢ alunos ¢ sintetizam um conjunto de ages sisteméticas € constantes em toro da temética racial. Esse trabalho envolve conhecimento, criatividade, reflexio e protagonismo das e dos estudantes. Outro elemento interessante diz respeito 4 questo da reflexdo sobre a estética, que se atrela ao cabelo negro, pois esse tem sido um dos elementos que ancoram os preconceitos contra criangas e jovens negros. Vale ressaltar, também, que muitos educadores, em todos os niveis, apesar de reconhecerem a presenga da tematica no texto dos projetos, informam que as praticas sto pontuais e, muitas vezes, atreladas a vontade individual. Docentes da educagio infantil salientam também que muitas vezes as vozes dos negros nao sao ouvidas e o assunto ¢ tratado de forma superficial e preconceituosa. Com relagio a abordagem da questio racial nos horirios de trabalho coletivo, 0 conjunto dos educadores/as respondeu que nem sempre é possivel tratar da temitica de forma aprofundada, uma vez que hé outros temas a serem tratados, ¢ que em geral esse hordrio é reservado 4 discuss4o de questdes relativas 4 organizago do trabalho e das praticas pedagogicas e a solugo dos problemas cotidianos. Temas como alfabetizagio, 8 Acessiveis em http:/educacaoconectada,campinas.sp.gov.br/mipid/africanidades-e-informatticativos. 285 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S avaliagdo, indisciplina, questo ambiental, infaincia, género, so alguns dos abordados no hordrio de trabalho coletivo. No que diz respeito ao plano de ensino das/dos professoras/es da educagio infantil, somente 39% indicaram tratar as questées étnico-raciais e africanidades de forma explicita e significativa, 6,25% nio tratam do assunto e mais da metade (54.6%) tratam da temética de forma superficial. Entre os professores e professoras do ensino fundamental, 45% informam inserir a temitica racial em seus planos de ensino de forma explicita e significativa; 39% de forma superficial e 16% nao trabalham com a tematica. Na educagao de jovens e adultos, 52% trabalham com a temética racial de forma explicita e significativa, 38% de forma superficial e 13% nao trabalham. Para o grupo dos gestores a questio nao foi computada, pois para a maioria a questo nio se aplica as atividades previstas em sua fungio, Ao justificar suas respostas sobre o plano de ensino, muitos professores/as indicam a falta de orientagio pedagégica para o trabalho e a falta de conhecimento aprofundado da temética. Além disso, muitos/as destacam que desenvolvem o trabalho de forma superficial e esporidica, como no dia da consciéneia negra. Alguns/as profissionais destacam no desenvolverem este trabalho, muitos deles nao justificaram os motivos, outros indicaram que nao hé interesse dos alunos. Muitos/as profissionais s6 trabalham a temdtica quando ocorrem situagdes de conflito. Alguns profissionais da educago infantil afirmam que nao trabalham, pois as criangas sto pequenas e nao sabem a diferenga. Grande parte dos professores e professoras evidencia trabalhar a diversidade de um modo geral, a socializacao e aprendizado de varias culturas, assim como 0 respeito a0 outro e a incluso. Porém, nao incluem o tema das relagdes étnico-raciais e africanidades ow s6 incluem se o tema surgir no projeto. Em algumas respostas fica evidente a postura dos/das profissionais em reconhecer que deveriam trabalhar mais a temética, jé outros responderam de forma genériea que o tema esti no projeto pedagégico e no plano de ensino. AA literatura é 0 conteiido mais citado como forma de desenvolver o trabalho com, a temética, as brineadeiras e as miisicas também aparecem como alternativa. Alguns/as profissionais destacam pensar na representagdo dos negros nos recursos e no resgate da 286 Revista da ABPN + v. 10, Ed. Bspecial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . memiéria e da historia da cultura affo-brasileira. © trabalho com a identidade também & Jembrado, para tanto é indicado o uso de bonecos étnicos, fantoches, confecgao de painéis, pesquisas com as familias, atividades que promovem a valorizagiio da estética negra e ete. As artes no geral aparecem como estratégias em pouquissimas respostas e ainda menos expressivas so as respostas que apontam para um trabalho sobre elementos da religiosidade de matriz africana. A cultura, os costumes, so elementos presentes nos planos de ensino. Professoras/es do ensino fundamental mencionam disciplinas especificas, como portugués, matematica e cigncias. Os da educagio de jovens ¢ adultos trabalham a questao a partir da historia, literatura, ciéncias e arte. Mesmo evidenciando a temética em questio como transversal, so poucos professores/as que conseguem explicitar como este trabalho ocorre. Em relagio ao desenvolvimento das questdes relativas is relagdes étnico-raciais e afticanidades nas aulas ou demais atividades, 23.4% dos professores/as de educagio infantil destacaram que seu trabalho é pontual em uma sequéncia didatica (eitura de livros, interpretagio, debates, atividade artistica ou corporal, ete), 18.7% destacaram que © trabalho é regular, 15.6% evidenciaram que o trabalho ocorre como tema transversal, 12.5% indicaram que o trabalho ocorre a partir de situagdes conflitos, 9.3% que o trabalho € organizado como eixo temitico e 9.3% ocorre como projeto de pesquisa. Ademais, 3.12% afirmaram que o trabalho nao ocorre, Os professores/as do ensino fundamental, quando perguntados sobre 0 modo como trabalham em suas diseiplinas, informaram que trabalham pontualmente, em uma sequéncia didatica (32%), em datas comemorativas (6,4%), como tema transversal (64%), regularmente (29%), como eixo tematico (9,7%6), em situagdes de conflito (6,4%), em projetos de pesquisa (3,2%); 6,4% informaram nao trabalhar com a temitica, Entre os professores/as da educagao de jovens e adultos, 37% afirmam trabalhar a questio de forma significativa; 25% como tema pontual em uma sequéncia didética; 4,1% como projeto de pesquisa; 4,1% como eixo temitico, 4,1% em datas comemorativas; 8,3% como tema transversal; 4,1% em situagdes de conflito 12, 5% nao trabalham com a temética. 287 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . Quando solicitadas/os a descrever um contetido relativo as questdes étnico-raciais que desenvolvem e uma estratégia utilizada, 26.5% das/dos participantes do segmento da educagio infantil no responderam a questio, Grande parte dos/das profissionais respondeu novamente de forma genética, indicando que trabalham histérias, misicas, brinquedos, desenhos, pinturas, rodas de conversa, identidade, expressdes, respeito ao outro etc. sem nomear ¢ descrever as atividades ou indicar especificamente os recursos utilizados. Ademais, alguns professores/as se utilizaram deste espaco para relatar situagdes de discriminagao entre as criangas, evidenciando que na educagao infantil existem momentos em que tais conflitos vém A tona, mesmo se tratando de criangas pequenas. Os professores/as do ensino fundamental e de EJA mencionaram, além dos elementos citados, o trabalho com literatura e cigncias, e sobre a formagio do povo brasileiro. Em geral, também para esses segmentos as mengdes foram bastante genéricas, evidenciando apenas a presenca do trabalho e nao as especificidades do cotidiano. Os gestores e gestoras indicaram, no conjunto de seu trabalho, 0 compromisso com a valorizagdo das culturas negra e indigenas, 0 compromisso com 0 cumprimento das leis, © apoio ao trabalho pedagégico, a atuagdo na formagao continuada dos professores. De modo geral, podemos afirmar que as questdes das africanidades esto inseridas no cotidiano do trabalho docente, o que mostra um avango ¢ 0 resultado de um esforgo na implantagao da politica, mas observamos que essa insergao ainda é pontual e marcada pela inconstincia e nao transversalidade ao conjunto de contetidos e priticas. E ainda que a dificuldade na descrigao das praticas parece indicar que as afticanidades ainda nio ultrapassaram o nivel do discurso. Vale destacar, no entanto, as atividades da educagdo infantil com a confeccio de bonecas e com a literatura infantil, como formas de valorizagio da identidade negra. MATERIAL PEDAGOGICO. Com relagdo presenga de material pedagogico na unidade educacional, a tabela abaixo apresenta as respostas dos 4 segmentos pesquisados. 288 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S ‘Tabela 1, Presenca de material pedagégico para os segmentos pesquisados, em percentuais por segmento Sim, em] Sim, mas nfo em|Nio | Naosei quantidade | quantidade adequada adequada Educagio Infantil 25 aN 0 78 ‘Ensino Fundamental 161 48.4 0 35,5 Educagio jovens/adultos [8,3 34,2 42 [333 Gestores 28.8 S17 7 [3.8 A tabela nos mostra que, embora sejam poucos os respondentes que afirmem nfo saberem ou nio haver material disponivel na escola, a maioria, entre os 4 segmentos, informa que ha material, mas nfo em quantidade suficiente ou adequada as necessidades. Essa informagao certamente deve ser considerada na elaboragao de politicas de incluséo e na proposta orgamentaria do municipio. ‘Ao serem questionados/as sobre a utilizagdo do material, no entanto, muitos educadores/as nfo utilizam ou utilizam pouco ou apenas pontualmente o material disponivel, o que parece incongruente frente & afirmagiio da insuficiéneia do material. Com relagio as fontes utilizadas, na auséncia de material disponivel na escola, a grande maioria utiliza-se de acervo pessoal, livros, filmes, e de contetido disponivel na intemet, esta citada como fonte privilegiada de informagdes. DIFICULDADES ‘Ao serem questionados/as sobre as dificuldades para o trabalho com a questio étnico-racial, 0s professores/as da educagao infantil apresentam, como principais dificuldades, os recursos e a estrutura. Os/as do ensino fundamental mencionaram prioritariamente os recursos e estrutura, os alunos, dificuldades pessoais e alguns citaram a comunidade local, em especial os atravessamentos religiosos que eriam obsticulos ao trabalho com as afticanidades. Do mesmo modo, os educadores/as de jovens e adultos também mencionam as dificuldades relativas religiosidade da comunidade. Colocam também bastante énfase na falta de estrutura e recursos. Também os gestores e gestoras concentram as dificuldades nos recursos e estrutura, mas mencionam ainda aspectos pessoais, ligados & necessidade de maior 289 Revista da ABPN + v. 10, Ed. Bspecial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S preparo para © trabalho com os docentes. Os gestores/as apontam ainda os atravessamentos religiosos como entraves ao trabalho com a tematica racial. De modo geral, hi demanda por melhorias nas condigdes do trabalho e estrutura, E preocupante, também, a meng3o aos atravessamentos religiosos, que ameacam a Iaicidade da escola ¢ os direitos de todas e todos de construirem identidades valorizadas de forma equitativa. Outro aspecto a considerar ¢ que, em fungio das dificuldades pessoais de assumirmos, como sociedade, nossa responsabilidade pessoal e papel no enfrentamento do racismo, marcados que somos pela ideologia da democracia racial, a tendéncia das educadoras e educadores é projetar as dificuldades em outros elementos que nao em si proprias, o que dificulta o aperfeigoamento do trabalho e representa desafio aos gestores da educagdo municipal. AS BOAS EXPERIENCIAS Com relagao ao relato de boas experiéneias, na educagao infantil os temas referem-se ao brincar, a contagiio de historias, & confecgdo de bonecas negras e elaboracio de histérias e contextos para elas. A arte ~ desenho, miisica, cinema, so apontados como ferramentas importantes. Vale ressaltar aqui o trabalho com o tema cabelo, objeto de discriminagao da crianga negra, principalmente a menina, Em geral o trabalho gira em tomo da construgdo de identidades positivas. No ensino fundamental, as experigucias incluem o trabalho com literatura, arte, matemitica, estética, identidade, conflitos e convivéncia. O cabelo também aparece como tema e pritica, e além da identificacao positiva, reflexdes para enfrentamento do racismo so propostas nessa etapa da escolaridade Na educagio de jovens ¢ adultos, destaca-se 0 trabalho com arte, literatura, cigncia, e a reflexdo sobre diferencas e preconceitos. Os gestores/as apontaram experiéneias de trabalho na formagio continuada, a experigncia com bonecas étnicas, novamente 0 cabelo e a produgio de reflexdes sobre a questdo racial. Alguns relataram problemas relativos 4 ades4o da comunidade escolar para discutir a temitica e outros ao proprio preparo para trabalha. 290 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ANAS NASSAR EST . A dificuldade de aceitagdo pode estar associada A ideologia da democracia racial, que perpassa a cultura nacional e escolar. A falta de preparo, embora ancorada na insuficiente formagio inicial, no parece coerente com a quantidade e qualidade de experigncias de formagio oferecidos pela rede, historicamente, por meio do MIPID e de outras iniciativas, como os Cademos Temiticos elaborados por docentes da Rede em 2016, e pode apresentar-se como discurso justificador para a propria dificuldade de adesio. OBRIGATORIEDADE E IMPORTANCIA DA PESQUISA Com relagio a obrigatoriedade do Ensino de Historia da Attica, ha um quase consenso em todos os segmentos de que ela ¢ necesséria, para induzir a politica, promover acesso a conhecimentos negados historicamente, apoiar o trabalho do educador. Reconhecem que, nao fosse a obrigatoriedade, grande parte desses contetidos seria subtraido da formagao das criangas e jovens, Com relagio a pesquisa, a maioria dos respondentes considera importante, necessiria no sentido de conhecer as dificuldades da rede. Destaca, no entanto, que o instrumento & muito longo, que deveria ser reduzido. Consideram ainda que a pesquisa deve ser socializada com as escolas e com a Secretaria de EducacZo, para que gere reflexes ¢ demandas concretas 4 implementagio de melhorias que deem suporte ao trabalho do educador. CONSIDERACOES, FINAIS A realizagio da pesquisa trouxe sem diivida contribuigdes na diregio de conhecermos melhor a realidade da implantagdo da lei 10.639/03 no Municipio de Campinas, e poder favorecer de forma substancial o didlogo entre a Secretaria de Educagio, as/os educadoras/es e as universidades participantes, na diregio do aperfeigoamento de priticas formadoras e promotoras da igualdade racial, Os dados nos apontam que, apesar de ainda se configurarem como praticas pontuais € ndo universalizadas na rede, houve avango nos movimentos de consolidagao da lei e hoje temos um importante corpo de experiéneias que podem e devem compor um 291 Revista da ABPN + v, 10, Ed. Especial - Caderno Temético: Historia e Cultura Africana e Afro- brasileira — lei 10.639/03 na escola + maio de 2018, p.265-294 DOM 10.31418/2177-2770.2018.v10.000.p265-294 REVISTA DA ABP. ASP NZS NSC SASS SNS SST S acervo ou base de dados sobre priticas formadoras na educagio das relagdes étnico- raciais. Hé ainda, no entanto, um longo caminho a percorrer, na diregao da efetiva insergio das afticanidades de Historia da Africa no cotidiano e na cultura escolar, na busca do enffentamento e ruptura do racismo institucional no cotidiano escolar, que se opera pela auséncia, pelo siléncio e pela superficialidade. E importante frisar a necessidade de continuidade das politicas implantadas, no sentido do aperfeigoamento ¢ melhoria das priticas educativas, de efetivagdo de agdes que se anunciam nos projetos pedagégicos, ¢ de modo algum a cidade, pioneira na implantagao de politicas de educagao para as relagdes étnico-raciais, pode ou deve aceitar impedimentos e retrocessos. Como apontam diversos autores, como Munanga (2005), Soligo (2014) Cavalheiro (2005), a ideologia da democracia racial ainda marca de forma perversa nossas relagdes sociais, o racismo configura-se como racismo institucional nas escolas e sistemas educativos e, portanto, urge um enfientamento constante e sistemitico do racismo e de todas as priticas discriminatérias e de inferiorizagio do povo negro e de sua cultura. REFERENCIAS BARDIN, Laurence (2001). Andlise de Contetido. S80 Paulo: Edigdes 70. BONILHA, Tamyris P. e SOLIGO, Angela F. (2015). “O nao lugar do sujeito negro na Educagao brasileira”. Revista Iberoamericana de Educacién vol. 68, 0°2, pp. 31-48. CARVALHO, Péricles de Melo (1940). A legislaga da imigragéo e colonizagao. Vol \(4): 719-736. igratéria do Brasil e sua evolucao. Revista CAVALLEIRO, Eliane (2005). Do Siléncto do Lar ao Siléncio Escolar: Racismo, Preconcetto e Discriminagéo na Educagao Infantil. S80 Paulo: Contexto. COSTA, M. V. 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