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Os Circulos Operarios e a intervencao da Igreja Catélica no mundo do trabalho no Brasil: uma discussao historiografica' Jessie Jane Vieira de Souza? “A caracteristica notdvel do homem, a | Igreja, como instituigo, assistiu, até o final marca que o distingue, nao é a sua natureza metafisica ou fisica, mas seu trabalho. E este trabalho, o sistema das atividades humanas, que define e determina o cfreulo de ‘humanidade’. A linguagem, o mito, a reli- gifo, a arte, a ciéncia, a hist6ria sdo os constituintes desse circulo.”> RELOGIO MORAL NO CORACAO DE CADA TRABALHADOR Em 1992, o diretor de cinema belga Stijin Coninx produziu e dirigiu Daens—_Um grito de justiga, um filme que conta a interessante histéria de Adolfo Daens, um padre secular, que no final do século XIX, se viu obtigado a enfrentar os proprietérios de uma fabriea situada em um distrito industrial. Daens, a0 se posicionar junto ao operétios, termina por enfrentar a alta ciipula da Igreja. Trata-se da hist6ria do fundador da Democracia-Cristd belga e da hostilidade da Caria romana frente possibilidade de a Igreja ter qualquer intervencdo critica perante as miserdveis condig6es de trabalhoe de vida em que viviam os operarios europeus. A | do século XIX, de forma impassfvel, & glorificagdo do trabalho fabril. ‘A sociedade do trabalho € a grande utopia que, criada a partir do século XVI, se realizou plenamente no século XVIII. 0 espeticulo do disciplinamento social foi realizado por meio de diferentes formas institucionais (fabricas, prisbes, hospitais, fabricas-prisdes, fabricas-conventos). Temos a partir daf a transformagao do trabalho em algo grandioso. Hannah Arendt‘ assinalou, com propriedade, que aquilo que fora sinénimo de penalizacdo, de sofrimentos ¢ de miséria foi assumido com profunda positividade, passando a ser, com Locke, Adam Smith ¢ Karl Marx, com a economia politica, fonte de toda riqueza e a expresso da propria humanidade. © aprisionamento do trabalho nas fabricas dos tempos modernos € 0 momento crucial dessa glorificacéio do trabalho, porque foi quando ele se organizou e se disciplinou, quando, enfim, 0 homem se superou em termos produtivos. Momento em que “a sociedade burguesa introjeta um relégio moral no coragao de cada trabalhador”§ bpaueacmm mo PaROdna 149 PHoadan mo be won Man A obra de Stijin Coninx busca apresentar comoa Igreja Catdlica, contempordinea desse longo processo, se projetou nessa dinamica € como, ao final do século XIX, ela se instrumentalizou para ouvir Um grito de _justica langado em toda a Europa industrial. E 6 0 que também busco. O catolicismo social me parece um elemento cultural definidor. Foi introduzido no mundo do trabalho a partir da Rerwn Novarum (1891) € se imps no Brasil a0 longo de décadas, até tornar-se, nos ‘atuais, presente nos discursos de liderancas de classe e nos textos normativos das relagdes trabalhistas, assistenciais, previ- dencirias e sindicais, Parto da premissa de que, no que di respeito ao trabalho, trata-se de um discurso normative, centrado na praxis, que, por sua vez, rege as “posigdes basicas do proprio discurso”, tornando-se 0 ponto central do dominio exercido sobre o trabalho na sociedade brasileira. Percebe-se, assim, um projeto que pretende trazer 8 tona, na elaboragio de uma determinada cultura baseada no catolicismo social, indicativo da politica trabalhista brasileira no perfodo estudado e os diferentes modus operandi por meio dos quais essa proposta foi exercida, na busca da harmonia social, O enfoque estaré centrado nos Cireulos Operérios Catdlicos, experiéncia corpo- rificadora da forma catdlica hierdrquica de intervengio junto ao mundo do trabalho ¢ da relagdio expressiva da Igreja com o Estado naqueles anos. Naio se pretende aqui realizar um estudo apenas sobre as relagGes formais entre Igreja € Ministério do Trabalho mas, sobretudo, dos sinais que possam indicar diferentes discursos baseados no ideério de harmonia social, progresso e ordem, que, como ja apontou Angela Castro Gomes’, parecem ser 0s liames sobre os quais se buscou o consenso que marcou a normatizagtio do trabalho no Brasil Partindo da idéia de que a ago estatal nfio se caracteriza por uma racionalidade que Ihe configure uniformidade, pode-se afirmar gue € possivel que o Estado tenha elaborado varias estratégias a serem exercidas com diferentes parcerias. O catolicismo social é fruto dos confrontos da Igreja com o liberalismo do século XIX c instrumento teolégico da sua inserg%io no mundo do trabalho fabril. A Rerum Novarum foi o primeito “alerta profético"* da Tgreja quanto a deterioragao. das condigdes de vida dos trabalhadores submetidos as relagdes de trabalho capitalistas. Foi o primeiro de uma série de alertas, consubstanciados em Enciclicas que, a0 longo deste século, compéem a chamada doutrina social; a Igreja se preocupou com 0 novo campo de Iutas instalado no espaco de trabalho. Aquela Enciclica, lancada em 1891, pelo Papa Leao XII, fez 0 primeiro diagnéstico catélico da nova situaco que havia se instalado no campo das relacdes entre capital ¢ trabalho apontando que Uma vez despertada esta avidez de inovagées que hd muito agita os Estados, néo podia deixar de acontecer que a série de trans- formagées passasse de um dia para © outro do terreno do politico para © campo vizinho da economia De Fato os novos progressos da indiistriae os novos rumos tomados pelas artes das relagdes reefprocas entre operirios e patrdes, actimulo das riquezas nas maos de poucos, a par da indigéncia da multidio, nos operirios a consciéncia crescente do proprio valor e © maior espfrito da solidariedade, enfim a comupeaio das costumes, fizeram instalar a luta? 8a aco se lesenvolveu em consondincia com o Estado, que, naquele momento, exercia uma politica de aproximagio com a Igreja, e vice-versa, Sobre essa questdo, Roberta Romano observou que Jina década de 30, com o Estado Novo, ¢ com o apoio da Igreja, foram dadas as condigdes da ampliagio do governo central, em detrimento do livre jogo das foreas sociais. A regulamentagio do trabalho acompanhou um vasto esquema de medidas controladoras da sociedad, afastando a crenea no individuo e na liberdade civil: O Pousada mo Pe Ronn a 151 fea te: Hoey tt pe mo bem OdoeD 152 Estado ndo conhece direitos de individuos contra a coletividade, Os individuos nao tém direitos, tm deveres! Os direitos pertencem & coletividade! O Estado sobre- pondo-se & luta de interesses garante $6 os direitos da coletividade e faz cumprit os deveres para com ela. O Estado nfo quer, ndo reconhece a Iuta de classes. As leis trabalhistas sfo leis, de harmonia social!" Em 7 de fevereiro de 1890, pelo Decreto 119, a Igreja Catdlica se viu definitivamente apartada do Estado, passou a ser reconhecida ‘apenas como personalidade juridicae perdeu 0s atributos até entio garantidos pelo padroado. Dessa forma, ela foi despojada dos privilégios de que vinha desfrutando desde 08 primérdios da colonizagao, perdendo, como assinala Roberto Romano, aquilo que Ihe era essencial: Afora as vantagens materiais, 0 ‘mais importante dos privilégios catélicos foi o monopélio de religiio do Estado, até 0 final do Império, com a decorrente proibigo de culto piblico, em pé de igualdade, para confissdes cristis, Além disso, as autoridades eclesidsticas detinham © dominio da educagao, da satide piiblica, obras assistenciais, do registro da populacdo (nascimento, batismo, casamento e 6bito), entre outros.!? outras Mas, por outro lado, a Igreja Catdlica tinha, pela primeira vez no Brasil, a possibilidade de construir algo que Ihe permitisse uma presenga na sociedade emergente e em todo 0 territério nacional ‘Tal fato se evidencion nas palavras de Dom | Fernando de Aquino Corréa, arcebispo de | Cuiabé, em 1939: “Sobreveio a Reptiblica e renovou a face da terra. Muitos males, por certo, ela trouxe & igreja de Cristo em nossa patria; mas trouxe juntamente um bem, que a liberdade.” ‘A chamada Reacio Catélica aghutinou em torno do Cardeal Leme aqueles electuais que terminaram por compor 0 Centro D. Vital e a revista A Ordem, eujo nome € emblemitico da leitura que & hierarquia eclesidstica realizava sobre a sociedade brasileira de entdio. Desse nticleo intelectual, tendo a frente Jakson de Figueiredo e, apés a sua morte, Tristio de Atayde, saem os principais indicativos da doutrina social catdlica e as propostas que, a partir dos anos 30, vilo constituir os discursos sobre a normatizagao da questtio trabalhista e assistencial no Brasil Com Getilio Vargas, a Igreja retomou alguns dos mais importantes espagos perdidos com 0 advento da Repubblica. Quando chegou a Constituinte de 1934, por meio da Liga Eleitoral Cat6lica (LEC), a vit6ria se evidenciou, com as reformas constitucionais: desde reivindicagdes ecle- sidsticas particulares até a legislagio trabalhista, sindical e assistencial, além do direito de mobilizacio e educagio da classe operéria, por meio do Estado, com 0 ensino religioso. Nesse periodo, a Igreja, por intermedio de suas liderangas, adotou posigdes que reforcaram a intervencdo estatal mediante de um governo forte, apoiado na ag#o © na formacao de um consenso. Até 1943, a relagio entre os dois poderes aqui comentados inseriu-se nessa perspectiva. O lero se posicionou como coadjuvante de uma politica que buscava a hatmonia social; sua ago entre os assalariados urbanos era centrada na questo da regulamentagio das relagdes trabalhistas e, ao mesmo fempo, em ‘uma organizago corporativa e das instdincias hierarquicas necessdrias a um trabalho yoltado para diferentes intervenc6es culturais. De todo esse processo, surgiram os " Circulos Operdrios, a Aco Catélica e, como - desdobramento desta, a Juventude Opera | [Cat6lica GOCE A Izreja desenvolveu, | assim, um intenso trabalho organizacional, |_que expressavaliiésmovimientos! 0 plano temporal: o primeiro, em que buscou firmar- se como interlocutor junto ao Estado dos interesses dos assalariados urbanos e, dessa forma, projetar-se como elemento mediador necessdrio na relag3o capital- trabalho; um segundo, que procurou alargar seu proprio poder institucional no seio da sociedade, colocando-se como alternativa ao proprio modelo social ao se autodenominar a "terceira via". J no plano teolégico, procurou, essencialmente, reafirmar-se como agéncia ‘monopolizadora do divino e, assim, portadora - dos valores transcendentais da humanidade, Nessa perspectiva, a reconciliagdio com 0 capitalismo € factivel, ja que seu poder € atemporal e, como tal, esté acima das Formacées econdmico-sociais, ‘A pedagogia catélica baseou-se na sua vocagdo primeira, isto é, na sua agio educativa, aquela que produz ¢ reproduz valores culturais que compZem 0 universo ée individuos de determinada sociedade. | Mas ela nao estava falando de uma sociedade humana. qualquer. E)aiifalavalee ina) sociedade proposta por Tomas de Aquino, baseada no estabelecimento de um vineulo entre os homens suficientemente forte para substituir o mundo pela caridade'. Para muitos, a Igreja vem sendo vista como a maior agéncia ideolégica de todos os tempos da cristandade. Preferimos colocar'® tal questo no plano da cultura, porque possui | um sentido geral de continuidade, para além pHusdeam no bomOdMem 153 pHooden nO Perodua m dos paradigmas explicativos que tém dominado as andlises religiosas, Nessa perspectiva, a experiéncia social concreta no € por defini¢do fundamental porque As relagdes econdmicas © sociais ndo so anteriores as culturas, nem as determinam; elas préprias stio campos de pratica cultural rodugdo cultural —-o que nao pode ser dedutivamente explicado por referencias a uma dimensao extracultural da experiéneia!” A Igreja Catélica utiliza essencialmente a linguagem oral, gestual, etc,, como instru- mento de intervencio no social, Seu discurso explicativo e, ao mesmo tempo, normativo torna-se atemporal ¢ aplicdvel as comu- nidades porque parte dos sentimentos mais profundos da psique humana. O fetiche de sua dominagio est4 ancorado nessa imensa capacidade de lidar com as questdes mais caras ao homem, aquelas relacionadas com © equilibrio e a permanéncia, elementos necessérios & reprodugdo da vida A preocupacao do catolicismo com a linguagem est presente na propria formacao clerical, em que aescoldstica deitou profundas raizes. Nesse aspecto, a Igreja € pioneira, a0 asso que S6 contemporaneamente passou a ser objeto da filosofia, muito embora a compreensio de que o homem apreende seu mundo, articula-o e 0 exprime por meio da linguagem jé fosse preocupagao dos antigos ‘gregos. Mas a filosofia atual se caracteriza pela idéia de que existe uma teoria dos signos que precede a uma teoria das coisas. Esta parece ser também uma idgia-chave para 0 catolicismo, preocupado em construir um mundo imagindrio a ser representado simbolicamente: sem linguagem no haverd comunidade dos homens”* Ernest Cassirer afirmou que linguagem € mito sao parentes préximos e pela sua prépria natureza e esséncia sdo metaféricos, Para ele, a linguagem “no tem existéncia forae além do tempo; nifo pertence ao reino das idéias eternas”” Ocexemplo mais claro dessa concepcao.e agio discursiva encontra-se_no_plano educativo, em que Para reafirmar seu espaco no campo da educacio, reelaborou valores centrados na idéia de unidade histérica, a despeito de, no plano institucional, definir-se como trans cendente, atemporal e universal, E uma légica. discursiva que foge & aparente racionalidade, mas que, ao ser manipulada por sua aio politico-teolégica, Ihe confere estatuto de profunda legitimidade no plano temporal. A Igreja temia a ago do Estado liberal, que nfo reconheceu a esfera da agao religiosa na sociedade civil. Para essa Igreja, a idéia de uma sociedade autOnoma, corporativamente organizada, aexemplo da sociedacde medieval, que se sobrepuscsse ao Estado, era a tinica possibilidade de se constituir como um poder capaz de intervir no espaco piiblico, que durante o século XIX foi cada vez mais reduzido a esfera do privado. Assenhorou-se de um conceit caro ao liberalismo para Justificar a existéncia de uma esfera propria da Igreja, ja agora dentro da "sociedade civil" A moralidade crist contraposigio a seus preceitos religiosos e fundamentais, sempre insistin em que se deve cuidar de seus afazeres © que a respon- sabilidade politica constitui, em primeiro lugar, um lugar aceito exclusivamente em prot do bem- estare da salvagdo daqueles que ela liberta da preocupagao dos negécios No Brasil, essa relagio se constituiu em parceria com o Estado, que necessitava de ‘um suporte politico-cultural para a formacao dos consensos necessirios 8 dominagdo burguesa, que seria estabelecida entre os anos 30 e 64. Este €, em linhas gerais, 0 arcabougo do que pode ser chamado de objetivos da Igreja Cat6lica ao estabelecer suas prioridades teolégico-politicas no trato com 0 Estado com os trabalhadores urbanos daqueles anos. Acredito que essas sejam questdes profundamente relevantes para a producio historiografica brasileira, ja que se toma cada vez mais evidente a incorporagtio de elementos da cultura catélica na formagio polftico-cultural do Brasil ‘Na definigao desse objeto de pesquisa, ‘optei por aprendé-lo por meio da proposta dos Circulos Operirios ¢ como os mesmos se relacionavam com o aparato estatal Para alcangar tal finalidade, fiz um recorte temporal baseado no entendimento de que o periodo 30-64 definiu © mundo do trabalho no Brasil, tanto em termos da composigdo social de classe quanto da Pam et mo pam OnMe feeb cis of ht ng Pre rONdead 156 constitui¢Zo de um imaginétio. No que se refere 20 recorte temético, creio ser suficiente ater-me aos textos circulistas, mormente aqueles relativos as federagdes e confederagdes e a seus jornais, aos Boletins do Minisiério do Trabalho, Inddstria e Comércio, aos documentos contidos nos Arquivos Eclesiasticos, além das revistas A Ordem e Revista Eclesiéstica Brasileira (REB) € do material de trabalho produzido pela Escola de Lideres (ELO), mantida pela Pontificia Universidade Catélica do Rio de Janeiro ¢ Confederagao Nacional dos Trabalhadores (CNTC), a partir de 1955. Interessa-me perceber como a histo- riografia tem tratado essa questo ¢ qual o didlogo possivel de ser travado com a historiografia do perfodo enfocado. omega por tentar aprender como essa historiografia tem trabalhado com a Igreja Cat ‘Nela se enfrentaram, no passado, atitudes mais liberalizantes, representadas por Lamennais®, e outras mais conservadoras, destacadas nas formulagdes de Donoso Cortés e de Joseph Maistre™. No caso da politica ficial, muito clara nos documentos ¢ textos da hierarquia, nota-se a predominancia conservadora.* Para Maistre, ao estudar os pressupostos do catolicismo em termos sociais, toma-se nnecessaria uma pesquisa sobre 0 pensamento da contra-revolugo do século XIX suas conseqiiéneias nas doutrinas seguintes, que, no Brasil, foram elaboradas sobretudo pelos intelectuais reunidos em torno da revista A Ordem, objeto da reflexio de varios autores, entre os quais Tania Salem*, Monica Veloso, Jarbas Medeiros, Norma Gouveia de Melo Monteiro ¢ Valdir Calvillar. Contudo, convém ressaltar que, ao ser analisado o pensamento catélico no Brasil, miltiplas interpretagdes historiogrificas foram encontradas, como é 0 caso de Antonio Vilaga, Jofio Camilo de Oliveira Torres, Antonio Paim””, entre outro: Entretanto, o estudo do idedio catélico 6 necessario a esse tema de pesquisa, na medida em que a proposta do Cfreulo Operdrio era uma das expressdes desse pensamento, como ja observaram Luiz Werneck Vianna ¢ Gilda Gonella?™, Em linhas gerais, levando-se em conta a historia da [greja Catélica no Brasil, o que tem dominado so as grandes sinteses. A historiografia sobre a agdo social daquela instituigao, anterior ao Vaticano IL. € diminuta ow pouco divulgadi ‘io é uma oposicdo manifesta em forma de conflito aberto — 0 que 86 ocorre na inevitavel evocagio 3 hist6ria da chamada “questio religiosa” -, mas certamente sempre latente, 0 que, nos dias atuais, assume contornos revolucionarios®. O trabalho que mais exemplifica tal abordagem é 0 de Thales de Azevedo”, cujo contetido esté claramente explicito em seu titulo: Iereja ¢ Estado em tensiio e crise. Esse tipo de pesquisa traga um perfil institucional complexo dessa Igreja e tenta periodizar sua historia x pantir dos papéis que ela desempenhou na sociedade brasileira ap6s os anos 50, quando foi apresentada como ator importante do processo de modernizagda da sociedade brasileira. E uma literatura que, como diz Thomas Bruneau, pretende tirar da Igreja Catéliea no Brasil. 0 papel de patente pobre da “bibliografia historiografica do nosso pais. Situago tanto deploriivel quanto se sabe que a histéria da Igreja Catélica entte n6s e a propria historia em larga medida se confundem’™ Bruneau, talvez 0 mais conhecido pesquisador do tema, definiu muito bem © caréter inovador dessa produgdo, que pretende avaliar os papéis desempenhados pela Igreja na contemporaneidade, possuidora de abjetivos espectficos e com meios préprios para realizé-los, O pesquisador analisou 0 processo hist6rico da Igreja CatGlica no Brasil, sob um viés ins- titucional. Tal andlise tem sido predominante nos diversos trabalhos sobre a historia da Igreja na América Latina, tanto pelos autores institucionais quanto pelos classicos da sociologia da religiio. E nessa perspectiva que Main- waring também construiu sew problema, centrado na atuagao da Igreja no plano Politico, e nao, como o faz em Bruneau & Marcio Moreira Alves, procurando entender como essa patticipagio se realiza Esses trabalhos, mesmo sob diferentes perspectivas metodoldgicas, partem do mesmo problema, ou seja, arelagdo da Tgreja Catélica com a politica, Eles no procuram perceber tal Sgreja como Cotpa Mistico, pottador de uma verdade transcendente. Néo esto preocupados em analisar essa mesma Igreja como uma instituigao cultural que se move no tempo histérico com profundo sentido de permanéncia. Na verdade, sto trabalhos que se inscrevem no campo da histéria politica e que analisam aquela instituiggo apartir de seus embates temporais, analisarei como apareiho ideoisgica do Estado, jd que parto da premissa de que, 20 estabelecer suas aliangas, ela tragou sua propria pauta centrada na idéia de salvagio, Nao analisarei a Lgteja como aparelho de hegemonia, porque tal definigao implica subsumi-la como parte da burocracia estattal, Adolo a definigzio de Roberta Romano, para pO bHundme pen Odeo booed mo Pe RON war 158 quem a Igreja Cat6lica é um Corpo Mistico, ou seja, dotada de uma coeréncia propria, designada por ele como projeto teolégico- politico, Essa idéia nao deve ser apreendida na politica imediata, mas sim na tradigo teoldgica dessa Igreja, que se move no tempo com sentido de permanéncia, incorporando 4 sua propria tradigo doutringria os novos desafio: ee pelo temporal ncio que, se pesquisado, poder nos indicar varias possibilidades. ‘Outro aspecto abordado por alguns autores é a relagdo existente entre a Izrejae 0 Estado pés-30, Para Oscar Beozzo ¢ Paulo Krischek, a Igrejaentrou na légica da politica getulista e, como tal, articulou-se com 0 chamado populismo.*? Para aqueles autores, estabeleceu-se uma alianga, no sentido politico recorrente, entre a Igrejae 0 Estado, na qual a primeira no foi analisada na sua di istico, Em tal producao historiografica, apenas dois autores, Roberto Romano e Alcir Lenharo, inovaram nessa interpretagao porque, apesar de também terem operado com 0 conceito de populismo, partiram da anélise de que a Igreja € um corpo teolégico assim deve ser entendida na sua dimensdo de Corpo Mistico.® Nessa discussdo sobre 0 populismo, parte-se aqui da hipétese de que os individuos, como seres hist6ricos, trazemem si uma sabedoria especitica, baseada em méilkiplas vivencias. E algo que foge & l6gica dos analistas politicos, porque esti na esfera da representago simbélica de uma ‘comunidade marcada pela idéia de exclustio social c da luta pela sobrevivéncia, ‘Acredito que hd muito mais, sabedoria nesse proceso, de aparente aceitagaio da légica do poder, do que alguns analistas, como, por exemplo, Francisco Weffort e Otdvio Ianni, tém percebido.* Resisto A idéia de que as classes dominantes, por meio de diferentes maquiavelismos, sustentam-se essencialmente sobre estratégias demagégicas. Para uma andlise da base social do trabalhismo, objeto de diferentes abordagens sobre 0 populismo no Brasil, simpatizo com as posigdes sugeridas por Ernest Laclau’. Para este autor, 0 populismo pode ter bases dispares de classe e surgir em contextos hist6ricos diversos. Ainda para Laclau, as manifestagdes de populismo teriam como onto comum a presenga de interpretagdes popular-democriticas desenvolvidas a partir da contradigo “povo-bloco de poder", independentemente de seus contetidos especificos. E certo que, para o Brasil, esse é ainda um trabalho a ser realizado, a despeito de alguns esforgos que apontam nessa diregdo, entre os quais deve ser ressaltado 0 de Miguel Bodea a respeito do trabalhismo riograndense®’, A introdugaio a esse estudo, elaborada por José Alvaro Moisés, parece-me ser um excelente ponto de reflexdo para aqueles que se propdem a estudar tal tema. Nessa mesma perspectiva, pode ser analisado o trabalho de Angela M. Castro Gomes", para quem a l6gica desse processo deve ser buseada na formagio de uma identidade coletiva que consiste na constragio de um discurso capaz de produit uma drea de igualdade substancial que nega as desigualdades em um espago definido e, dentro dele, enfatiza um conjunto de valores & tradigdes solidarios, podendo inclusive se materializar em formas institucionais diversas como leis, organizacses, ete Sob esta abordagem torna-se aqui dificil ‘entender o movimento realizado pela Igreja Catélica a partir do que tem sido chamado de "l6gica populista”, dentro da qual estaria © movimento do catolicismo social Em linhas gerais, afirmar que a produciio historiogrifica sobre a Igreja Catélica no Brasil nio privilegia © objeto © nem a abordagem tedrica proposta por meu projeto. ‘Até porque, grande parte dos trabalhos que surgiram na dltima década, a exemplo dos anteriores, como os de José Carlos Aratljo e Raul Silva, sobre a histéria da Igreja, ‘caminham na perspectiva da "historia das idéias"®. Da mesma forma, monografias produzidas em diferentes universidades* tratam, em sua grande maioria, de estudos de caso ou até mesmo de andlises sobre a atuag%o catélica, no plano pastoral, em diferentes movimentos."" Segndo inventério realizado pela Associagdo Nacional dos Professores Universitarios de Histéria (Anpuh) das monografias ¢ teses produzidas no Brasil, entre os anos de 1965 1994, é possivel avaliar que, de maneira geral, nao houve muito interesse dos estudiosos pela hist6ria da Tgreja ou por sua agi social. Quanto & Igreja pés-Vaticano II, diversos bpHorean no pemOnnnn 159 paUHaHE nO Per Odum trabalhos surgiram até meados dos anos 80, a maioria com uma proposta de recuperagdo de sua agdo social junto aos movimentos populares, sindicais e, principalmente, entre os camponeses. Curiosamente, esses tra-balhos, mesmo assinalando as aliangas conservadoras dessa Igreja, terminaram por reeditara mesma idéia de continuidade. E uma abordagem entrada no pensamento da Igreja como um espago essencial para a transformacio da sociedade brasileira. Tais trabalhos, alguns sob a chancela das Edigdes Loyola, procuraram divulgar, em minha opinidio, uma histéria da Igreja Catélica que silenciasse sobre 0 pré- Vaticano IL Nesse aspecto é interessante o livro organizado por Vanilda Paiva, fruto de um semindrio produzido pelo Centro Joao XXII, tratando da questio agréria. Si artigos sociol6gicos que buscam evidenciar uma antiga tradicZo cat6lica no trato da problemética rural, De maneira geral, essa produgio é também uma anilise da instituigo, agora “transformada pela sua oped pelos despossuidos"* Em relagdo aos textos especificos sobre (05 Circulos Operarios, a produgiio nfo tem sido extensa. © primeiro € de Howard Wiarda‘, constituindo-se num estudo monogréfico sobre 0 circulismo em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. E relevante pelo seu pioneirismo, mas € um trabalho pouco analitico e que ndo traz qualquer proposta metodolégica que possa torné-lo referéncia importante, Na realidade, € uma versio laudat6ria sobre "como a Tgreja enfrentou a ditadura militar" Em 1975, Berenice Cavalcanti Brandio apresentou 0 segundo trabalho sobre o circulismo, embora este niio fosse 0 objeto de sua preocupagao, Ela o apresentou como elemento irrelevante para a dinémica do movimento social brasileiro, pois procurou analisé-lo apenas do ponto de vista das disputas, existentes entre catélicos e comunistas. Na realidade, é uma pesquisa preocupada em recolocar as disputas histéricas que durante ddécadas marcaram a dinamica da vida sindical brasileira, concluindo que o circulismo foi um movimento efémero pois “nao marcou seu meio social”. No final dos anos 80, Astor Anténio Diehl foi responsivel pelo trabalho mais importante jé realizado sobre o circulismo até agora!” Trata-se de uma bem-cuidada monografia de mestrado a respeito do movimento no Rio Grande do Sul. E relevante pelo seu aporte metodoldgico, pelo universo pesquisado, pela construgiio do texto e pela bibliografia apresentada sobre a historiografia gaticha. Porém, também nao analisou a Igreja como Corpo Mistico e, dessa forma, desqualificou o movimento por nao conseguir percebé-lo como um projeto teolégico-politico. Para o autor, ocirculismo era um projeto sécio- politico da Igreja Catélica no Brasil que, a0 tornar-se prética, contribuiu para a introdugé dos elementos corporativo-assistencia mutualistas no movimento operdtio e na legislagdo trabalhista, Representou a defesa de uma ordem conservador-paternalistaconcebida e realizada por uma elite oriunda da Repiblica Velha. Astor AntOnio Diehl se propos a mostrar em bases empiricas por que os Crews se tomaram doutrind- ios € ideolégicos, servindo de fundamento a elaborago do corporativismo, explicitamente presente na organizagio do Estado Novo © na Consolidagdo da Legislagio Trabalhista (CLT}** Para cle, o anticomunismo do circulismo nao significou apenas a negagio dos objetivos e tdticas comunistas, elaboracdo de valores e posturas politicas incorporadas cultura politico-partidéria brasileira. Dessa forma, desautorizou 0 comunismo de ser uma altemativa politica aos regimes tradicionais, além de perpetuar um divisor politico entre ©campo dos que jd so homens (os ‘comunistas), por haverem renegado as caracteristicas da civilizagio humana? mas a Assinalou ainda o autor que o projeto sécio-politico dos Cfrculos pode ser apre- sentado por suas perspectivas orientadoras; pelas formas de operacionalizagao dessas ‘mesmas perspectivas; formas de representaco; fungSes de orientagdio existencial individual ou coletiva; € que, no plano estratégico, a lereja projetava recuperar a hegemonia das suas idéiase atuar frente aos oper: de pressao" para, dessa forma, consolidar seu projeto junto ao Estado. Ao longo desta pesquisa, pretendo travar diferentes discusses com esse trabalho, evidenciando pontos comuns na medida em que fentar retirar das sombras uma experiéncia te6rico-organizativa que, 20 contrario do que nos disse Berenice Cavaleanti Brando, marcou muitissimo seu meio social. O trabalho em referéncia abre diferentes possibilidades para a andlise do nosso objeto de estudo. Porém, nossas divergéncias certamente estario centradas na perspectiva tedrico-metodolégica, jf que para aqucle autor a instituigo Igreja tomou-se uma agéncia politico-religiosa, nfo sendo analisada como um Corpo Mistico que se move no campo do politico, com uma légica propria a seus objetivos de hegemonia no campo do transcendente. Por fim, na dissertacdio de mestrado que defendi na Unicamp, em 1991, procurei, por meio do Circulo Operaio de Volta Redonda, aprender 0 circulismo como expresso de uma Igreja historicamente constitufda.S* Recentemente tomei conhecimento de duas outras dissertagdes produzidas a respeito do circulismo. Sao, curiosamente, trabalhos que também tratam de experiéneias locais O primeiro trata-se da dissertacio de mestrado de Hildrio Barbian, centrada na anilise da experiéncia citeulistaem Tjut (RS), em que 0 autor desereveu 0 processo de ocupactio do planalto riograndense com 0 desen-volvimento econdmico, a formagao de organizagées de empregadores e a struturagdo dos sindicatos de trabalhadores, destacando o que chama de contetido ideoligico dos sindicatos edo circulismo e como anilise dos, PHO 4B mo Pom Odwadt pHandan no bam Onunant ‘mesmos niio pode ser realizada fora da ealidade mundial tendo em vista a crise do capitalismo no perfodo entre a primeira e segunda guerra mundiais, de 1923 a 1946.5 O segundo, uma dissertagzo claborada por Paulo Roberto de Almeida, trata do circulismo em Jundiaf (SP)*, analisando-o tanto naquela cidade como em Sao Paulo. Paulo de Almeida acompanhou © surgimento da Confederacio Nacional de Operdtios Catélicos, analisando as posigées assumidas pela lgreja Catélica frente a questo sindical e legislagao trabalhista Discute a estrutura assistencial montada pelos Circulos Opertios © 0 tratamento dado a questoes como habitagdo, satide, lazer. Mostra como a atuago dos Cireulos desarmava a capacidade de luta dos trabathadores, tomando- a imétil. Analisa a proposta de educagao para o trabalhador dos Circulos Operérios, examinando as escolas circulistas, ereches para filhos de operarios e cursos profissionalizantes. Constatei que ambos periodizaram o circulismo de 1930 a 1945, como o fazem todos aqueles que até 0 momento trabalharam ou apenas assinalaram a existéncia dos mesmos. Outra observacdo que pode ser apontada fica por conta do racioefnio de que Saee ee sean que o segundo trabalho, principalmente, pode trazer fatos relevantes, pois aborda o que considero roncordo que So € possivel dar conta de analisar 0 circulismo tendo esta como questo fundamental ‘Ha ainda um instigante artigo de Angela Castro Gomes* em que a autora procurou evidenciar, pela primeira vez, a complexa rede de interesses que unia a Igreja Catélica € 0 governo de Gettilio Vargas, no que diz respeito ao ordenamento do mundo do trabalho, demonstrando, mediante da indicago de diferentes fontes, as mtltiplas relagdes estabelecidas no interior do Ministério do Trabalho de entio e como os catdlicos, por fim, terminaram dominando a maquina estatal naquele espaco do fazer politico. E sem diivida um texto que tem uma importancia capital para 0 trabalho que pretendo realizar, porque, além das indicagdes para novas pesquisas, a autora tragou um perfil de uma instituigao que operava com a perspectiva da construgdo de um poder sem paralelo na sociedade brasileira daquela época. autora sugeriu, ao dar a palavra a Segadas Vianna e Jacy Magalhaes*, que os sindicatos "pelegos" nasceram da gestio de Régo Monteiro™’ no poderoso Departamento Nacional do Trabalho, Afirmou também gue a posse do ministro Waldemar Falcdo, em 1937, foi fruto da pressao catélica, Todavia, no texto em questo, a autora acompanhou aqueles que trataram da presenga circulista, a0 sugerir que o movimento se esgotou no apés-I945 e que sua acdo assistencial cresceu entre os anos 38 e 45, Encontramos essa mesma afirmagio no estudo sobre o trabalhismo realizado por Angela Castro Gomes, para quem proposta da Igreja estruturada nos Circulos Operdrios contou com 0 respaldo do ministro Waldemar Falciio mas conseguiu sensibilizar os trabalhadores. Profundamente assistencialista, a proposta circulista vinculou-se a um clima politico de intenso combate ao comunismo e de grande simpatia por um estado autoritério, com estas caracteristicas marcantes, tornou-se ineémoda quando os ventos da politica internacional ¢ nacional comegaram soprar em outra diregio Encontrei diferentes visées para essa afirmago, quando de nossa pesquisaem Volta Redonda, cidade fluminense que surgiu como realidade urbano-fabril exatamente ap6s aquele periodo. José Ricardo Ramalho™, a0 estudar a Fabrica Nacional de Motores (FNM), em Xerém (RJ) nos anos 50, também encontrou um movimento circulista atuante, fazendo frente aos comunistas. José Sérgio Leite Lopes", ao estudar uma cidade operiria no interior de Pernambuco nos anos 50, sugeriu a mesma realidade. A presenga circulista nos anos 50, no meu entender, tendeu a ser reforcada exatamente Porque, a partir de entio, 0 movimento se estruturou como proposta organizativa e se colocou com visibilidade nas disputas trabalhistas. Nesse perfodo, encontra plcnamente seu eixo como espago de construgiio pedagégico-cultural, formando as Escolas de Lideres (ELO), criando diferentes instrumentos de inseredo no cotidiano dos trabalhadores. Desse modo, deixou de serum movimento aninhado no Ministério do Trabalho c passou ase colocar para o conjunto da sociedade, por meio de palestras sobre a questdo social. No inicio dos anos 60, aglutinou os chamados sindicatos demo- critics, configurando-se a época, como afirmou Silvia Maria Manfredi, em sua excelente pesquisa sobre educagdo sindical, como a principal agéncia formativa e de organizagao de trabalhadores, No entanto, Angela Castro Gomes aproximou-se da avaliagdo de Roberto Romano ao sustentar que as intengdes deste Ministério (do trabalho nas maos de Waldemar Falco) ndo se esgotavam no controle rigido do sindicalismo Pande mo PrrOdaem “163 bound mo beROHMa=o oficial, Blas também se vinculavam a um outro tipo de projeto politico sob controle da Igreja catélica. O escopo deste projeto era amplo & envolvia nfo apenas a area do trabalho, como também as da ‘educagdo e das relagdes exteriones, Existem ainda alguns artigos® pro- duzidos por entusiastas do circulismo, como Hugo Ramirez (1958), José Odelso Schneider (1965) ¢ José Dutra (sem data), publicados em jornais ou revistas religiosas. Tais textos refletem o entusiasmo com a experiéncia circulista, sendo seus autores intelectuais catélicos. H4 também os trabalhos oficiais do movimento, tais como 08 artigos de Leopoldo Bretano, idealizadot do circulismo, e do Padre Pancrécio Dutra, ainda hoje assistente nacional do movimento®; inumerdveis folhetos. jomais, apostilas e outros materiais produzidos pelas federagdes e confederacdes; além de diversos artigos publicados pelas revistas A Ordem, Revista Eclesidstica Brasileira e Cultura Politica, a respeito da doutrina social da Igreja e sobre a ética do trabalho. No meu entender, Alecu Amoroso Lima € 0 Ginico intelectual brasileiro que pensou filosoficamente a questao trabalhista. O autor em evidéncia expés artigos, deixando também um excelente livro sobre o tema, trabalho no mundo moderno™, em que analisou, do ponto de vista da doutrina social, © significado do trabalho como fonte de identidade social ¢ moral. E um tratado a respeito da ética nessa érea. A importncia de Alceu Amoroso Lima ja foi assinalada por Angela Castro Gomes®, a0 afirmar que anova politica social, a partir de 30, deveria romper com a orientagao anterior e pautar-se por um novo conceito de trabalho e uma nova visio do papel do Estado, que, agora, viria a intervir na sociedade no para proteger fisicamente os trabalhadores, mas como elemento centralizador da organizaco de um sistema de instituigdes sociais capazes de harmonizar os conilitos entre patrées e operdrios. Foi exatamente nesse novo sentido, mais globalizante, que a autora assinalou a presenga de Alecu Amoroso Lima. Este, juntamente com Oliveira Vianna, foi capaz. de formular uma solugo para o problema social, nao mais centrado na proletarizagao das classes, mas sim na elevacdo da classe do operariado 2 categoria de classe proprietaria. Angela Castro. Gomes sublinhou “a importancia da Igreja numa verdadeira espiritualizacdo das relagdes de classe, e 0 Estado, na supervisio coordenacao destas relagées™. Sobre Oliveira Vianna, também nos fala Le6ncio Martins Rodrigues, a quem coube © papel de teérico do padriio de organizaczo sindical (corporativo) que acabou por prevalecer na legislacao brasileira.” Outro campo por mim escolhido foi o da historiografia sobre os trabalhadores brasileiros, j& que sera estudada a intervenedo de determinada proposta na dindmica das relagdes desses individuos.™ ‘Nessa produgdo, ndo foram encontradas mais do que algumas poucas referéncias & existéncia do circulismo como um movimento sem qualquer autonomia ou expresso politica, social ou cultural. Esses estudos no se preocupam em explicar se 0 processo de incorporagio dos trabalhadores & cidedania serviu ou nao para constituir uma identidade coletiva. Creio, como afirmou Angela Castro Gomes, que esse caminho est marcado pela problematica do trabalho € do direito ¢ nao na participagio olitico-representativa. Nesse contexto, 0 p6s- 30 tornou-se fundamental, ja que se traduziu numa época em que os traba-lhadores tornaram-se atores politicos e, portanto, ascenderam cidadania, mesmo que regulada, como afirmou Wanderley Guilherme dos Santos.” Sobre 0 caréter da intervengo do Bstado sobre o sindicalismo brasileiro, as reflexes de Leéneio Martins Rodrigues” nos parecem muito instigantes, Para ele, o significado do intervencionismo governamental esta longe de encontrar uma interpretagdo comum entre 08 diferentes especialistas. Na visio de alguns intelectuais, como Alberto Rocha Barrros’, o importante a ser ressaltado é 0 carter fascista e corporativo da legislaggo trabalhista (baseada na Carta del Lavoro), Outros, como Otvio fannie Francisco de Oliveira”, analisaram-na em funcao de um projeto de acumulagdo capitalista a servigo da burguesia industrial. Mas, no entender de Le6ncio Martins Rodrigues, torna-se dificil analisara politica varguista sob tais aspectos, devido A auséncia de medidas em relagao & politica agréria, momento em que néio se implementava nada que buscasse modemizar @ produgiio agricola, muito menos criar leis que atingissem os trabalhadores rurais, além do fato de a legislacdo ter enquadrado também as organizagdes patronais. A conclusto a que chegou o autor em evidéncia cenira-se na idéia de que existiam tentativas de fortalecimento do Estado em telacio & sociedade civil, processo esse que beneficiava tanto os estamentos burocraticos, como as Forgas Armadas, os tecnocratas & altos funcionarios, configurando, assim, segundo Leéncio Martins Rodrigues, a existéncia de um Estado bonapartista, Nesse sentido, a ago estatal significou uma incorporagao burocratica © nfo uma desmobilizagao sindical e politica das massas. Ledncio Rodrigues enfatizou que, além da outorga das vantagens, 0 aspecto coercitivo da legislaco sindical tem sido ressaltado por diferentes estudiosos, Para ele, no hd diivida de que os sindicatos foram feitos de cima para baixo. Mas argumentou beane mo H 1 8 re ° R I A PHundae no PamOdued nao haver indicacdes de oposigio dos operarios & politica varguista ou de que eles tenham entendido a legislagao como algo contratio a seus interesses, Essa abordagem parece corroborar a pesquisa realizada por Angela Castro Gomes a respeito das reivindicagées existentes na Primeira Republica, sobre a necessidade de uma legislagdo de protegdo 20 trabalho e aos trabalhadores. A autora indicou que havia, exatamente por parte dos anarquistas (considerados pela historiografia como os mais libertérios), toda uma mobilizagaio em prol de leis reguladoras que imprimissem uma ética trabalhista e incorporasse pela via do dircito, os trabalhadores & cidadania. E ara esse ponto que me parece convergir também os interesses do catolicismo social. Os dois autores comentados ante- riormente, ainda que trabalhando com temas correlatos, mas com énfase e instrumental tedrico diferentes, de certa maneira questionaram os mesmos pontos ¢, 0 mais importante, convergiram quanto a existéncia de apoio por parte dos trabalhadores ao projeto ‘rabalhista montado por Vargas. fantolLeOneio) Martins quanto Angela Gomes nao desqualificaram a palavra operdria e reconheceram, em sua ado, uma expressio de GlasSer Pode-se também afirmar que o pensamento desses dois intelectuais néo partiu de uma l6gica que pressupée a existéncia, em alguma sociedade, de uma classe portadora da consciéncia de si, capaz de torné-la ator social em qualquer circunstincia, muito menos que exista uma classe fora do seu contexto econdmico, politico e social No caso de Angela Castro Gomes, 0 conceito de classe com o qual opera é aquele proposto por Thompson: fendmeno hist6rico (..) que unifica uma (...) desconectados, tanto na matéria-prima da experiéncia como nna consciéncia”™® Portanto, pode-se dizer que fendmeno hist6rico é algo que ocorre efetivamente nas relagdes humanas, remetido a hist6ria de cada um. Nao é uma estruturae nem mesmo. uma categoria abstrata, j4 que se traduz em uma relagio entre pessoas ocupantes de lugares sociais em determinados momentos. Como qualquer outra relagao, tentar imobilizé-la ou dissecé-la pode provocar a diluigio de sua estrutura. Classe nfo é uma "coisa" passivel de ser reduzida a determinada relago com os meios de produgio, porque s6 se pode entendé-la por meio de sua formagdo social ¢ cultural. Esses meios, é bom lembrar, so construfdos 8 partir das experiéncias realizadas no Processo de produgdo e das tradigées intelectuais expressas no seu modelo de relagGes sociais © padres de organizagio politica e profissional, O discurso é, afinal, a forga constitutiva capaz de atribuir a palavta “operdria" a determinado grupo social endo a outro, criando-se assim uma nova identidade, que, Por sua vez, funde valores ¢ tradigées. Partindo dessa premissa valorizadora da Iogica simb6lica, pode-se afismar quel existe um exemplo puro de classe, pois, como relagdo, sempre ser encarnada em pessoas ‘ou contextos reais. $6 existem classes porque h4 relagdes entre pessoas socialmente localizadas e localizAveis, sendo a conseiéneia sobre esse conceito a forma como essas Nos textos da Igreja de Roma, 0 conceito em referencia se confunde com o de corporacao. Além disso, € sempre usado para designar qualquer trabalhador manter, que, por sua vez, se confunde com as "classes ‘Quanto & periodizaciio da histéria desses trabalhadores como classe e 0 papel do Estado, devem ser procurados, como 0 faz Maria Célia Paoli, numa nova perspectiva, Esse foi um movimento que colocou em questo a visivel heterogeneidade da sociedade brasileira, fruto das diferengas que podem ser pensadas a partir de um sé paradigma, Faz-se necessaria uma nova definigao do "social", que inclua o cotidiano individual e de grupos pertencentes a setores sociais que tém diferentes formas de representacio e agdo. Nesse sentido, a dominagio nao é vista como algo introjetado “de fora", Olhar por outro angulo, que privilegie a ago nos espagos da produgao, poderé nos trazer novas dimensées da Proposta cat6lica. Implica nao analisar 0 Estado como algo compacto, que tenha uma Iogica e racionalidade que fogem a agao dos grupos sociais, Tradicionalmente, o periodo pés-30 tem sido analisado com énfase nos problemas da organizacdo corporativa do trabalho © no papel tutelar desempenhado pelo Estado, em que novamente o estudo concreto desses trabalhadores se perde. Se antes de 30 esse papel se tornava itrelevante, ja que era ausente, agora s6 ganha importancia no interior da ordem corporativa. Os estudos que tratam da politica trabalhista e das questdes relativas ao trabalho no Brasil, como € 0 caso da pesquisa de Kussumi Munakata, ignoram o apoio que a Igreja deu a essa politica oficial, pois a analisa apenas sob a perspectiva do Estado e daquilo que tem sido apontado como intervencionismo ou manipulago, como faz Paulo Sérgio Pinheiro.** Mas jé surgiram muitas reflexées as de Célia Paoli ¢ Angela Castro), que procuraram na vivéncia cultural dos setores sociais atingidos por essa politica trabalhista os mecanismos de aceitagiio construidos ao bdond aa nO Pow Odne bpHuecms mo PHP Onwstt longo dos anos. Porém, alguns autores classicos, como Edgar Rodrigues ¢ José Albertino Rodrigues™, localizam-na como parte de uma maquiavélica estratégia do Estado, que usava 0 suporte ideoldgico prestado pela Igreja (analisada aqui como “‘aparelho ideolégico" desse mesmo Estado), So leituras que percebem o poder governamental como sendo 0 tinico sujeito dessa hist6ria. Tentarei caminhar noutra diregdo, que recoloque a experiéncia vivida até entio, 0 que, no caso do circulismo, pode abrir cctivas importantes, pois SHOISamnpO| ‘Tentarei operar com a nogao de ideologia como forma de representagdo cultural com significado no real, trazendo para o campo da cultura 0 espago privilegiado da dominagao que, por sua vez, no € algo que se esgota na ideologia nem na légica das necessidades e do poder estatal. i Notas 1 Este texto foi escrito originalmente como parte da introdugao & tese de doutoramento intitulada Da transcendéncia & diseiplina: os Circulos Operirios e a intervengdio da Igreja Catdlica no mundo do trabalho no Brasil (1930-1964), apresentada no programa de Pos-Graduagio da ‘UFRJ, em abril de 1998. Ex-professora substituta do Departamento de Histéria da Ufes, Mestre em Hist6ria Social do ‘Trabalho pela Unicamp Doutorada em Histéria Social. 3. CASSIRER, Emest, Antropologia Filoséfica ~ ensaio sobre 0 homem. Sao Paulo: Mestre Jou, 1977. p. 116. 4 ARENDT, Hanna, A condigdo Humana, Rio de Janeiro; Forense Universitirio,1993. A tese de ‘Arendt nlo correspond, no caso de Marx, a0 rigor dos textos. Para o autor de O Capital, “o trabalho nai é fonte de toda riqueza, A natureza € também fonte dos valores de uso (e € nisto que consiste a riqueza material!) do mesmo modo que 0 trabalho, fo qual nada mais é do que a manifestagdo de uma forga material, aforga do trabalho humano € apenas fenquanto o homem se conduz como proprietirio dliante da natureea, primeira fonte de todos os meios cobjetos do trabalho, enquanto ee trata anatureza ‘como sua propriedade, primeira fonte de todos os ieios e objetos do trabalho, enquanto cle trata a natureza como sua propriedade, seu trabalho torna- se fonte dos valores de uso, logo, também de rigueza. Os bungueses th boas razdes para atribuir ao traballio uma poténcia sobrenatural de criaco (sublinhadlo por Marx) na verdade,¢ justo acadein ‘que une o trabalho & natureza que faz o homer, que sé possui sua forga de trabalho como propriedade, dever se, em texas as sociedades € civilizagdes, o escravo de outros homens, que Se tornaram proprietrios das condigbes materiais do trabalho, Ele sé pode trabalhar com a sua permissao, le s6 pode, pois, viver, coma sua permissio.” Este texto foi escrito apds O Capital. Ele waduz os fundamentos da atitude éica de Marx diante do trabalho. Ver Critica do Programa do Partido Opertirio Alemdo, (1875). In: MARX, K. Ocuvtes ‘T1. Paris: Gallimard, Pleiade, 1963. p. 1413, 5 DE DECCA, Edgar. 0 nascimento das fabrieas. ed. Sa0 Paulo: Brasileiros, 1986. (Coleco sudo é Histéria, 51) 6 OBRIEN, Patria, A histéria da cultura de Michel Foucault. In; Nova Histéria cultural. Coordenado por Lynn Hunt. Lisboa: Martins Fontes, 1992 Pag, 7 GOMES, Angela Masia Castro. Bungesia ¢ trabalho no Brasil: politica ¢ legislagao social, 1917-1937. Rio de Janeiro: Camps, 1979. 8 Designagiia usada por autores cat6licos. 9 LEAO XII Papa, Enefclica Rerum Novarum de sua Santidade 0 Papa Ledo XII ~ sobre a condigao dos operdrias. Imprensa Nacional, 141, Edigdo comemorativade cingilentensnio de sua publieagao. 10 tid 11 RONANO, Roberto. Brasil: Igreja contra Estado (una critica ao pepulismo extdlio). S50 Paulo: Kairds, 1979, p. 148. Palavras de Getulio Vargas recolhidas por L. W. Vianna, 12 Ibid p. 82. 13 CORREA, Dom Fernando de Aquino, arcebispo deCuiaba. Bispos do Brasil, Comemorigdes dos falecidos bispos nas solenidades exéquias celebradas no Primeiro Coneflio Plenariv. Rio de Janeiro: Ministério da Educagio,1939. p. 11 ~ citado por: Romano. op-it. p. 148 14 MURARO, Valmir Francisco. Jivertude Opertria Catdlica (JOC). So Paulo: Brasiiense, 1985. (S ARENDT, Hanna. op. sit p. 62 16 Como tem feito Roberta Romano em todos os seus trabatnos a respeito da Tgreja Cats 17 HUNT, Lynn. op. cit, p. 9. Introdugoes. 18 SILL, David L (editor) Inertational Encyclopedia of the Social Sciences. EUA: The Macmnillan Company & The Free Press, 1968. p. 1098 19 CASSIRER, Ernest, of. ct. p. 188. 20 Na perspectiva analitica sugetida por Foucault em: Michel Microfisica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 197. p XII 21 ARENDT, Hanna. op. cit p69. 22. ROMANO, Roberto, 0p. cit 23 LAMENNAIS, F Paroles dum eroyant, In: De la veligion considerde das ses rapposts avec ordre politique. Genéve: Editions du Millicu du Monde, p. 29-297 24 MAISTRE, Du Pape. Genéve, 1968 / CORTES, D onsoso Juan. Ensayo sobre el catolicismo ¢ liberalismo y el socialism; diseurso sobre Ia dotacion del culto y clero: discurso sobre 1a dictalura: cartas relacionaslas com el diseurse sobre la diviadura, In: obras compleras. Madre! La Editorial Catélica, MCMC, 1973. 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Infuéncia politica da Iereja na Assembléia Constituinte: 1933-1934, Brasilia: Universidade de Brasilia, 1978 MONTEIRO, Norma Gouveia de Matos, op. cit 40 PRIMOLAN, Emilio Donizete. A romanizagdo do carolicisma na Paroquia de Bauru (1909-1937). Monografia de Mestrado ~UNESP/ASSIS, 1993, / REIS, Martha dos. Iracema, a santinha de Marilia: um estudo sobre a eriagdo de um imagindrio popular. Monografia de Mestrado- UNESP/ASSIS, 1993, /DAVID, Solange Ramos de Andred. Um estudo de religiosidade popular: Santo Menino da Tibua, Tese de Doutoramento- UNESP/ASSIS, 1993. / FREITAS, Nainora Barbosa de. O Rosdrio de Mariana e suas irmandades (Segunda metade do séeulo XVII) ‘Monografia de Mestrado ~ UNESP/ FRANCA, 1991, / FABIAN, Roberto. JOC: da submissdo & contestagdo. Monografia de Mestraulo ~ PUCISP, 1988. / RERRARINI, Sebastiao Anténio. A imprensa eo arcebispo vermelho. Monografia de ‘Mestrado ~ PUCISP, 1989 / VIEIRA, Mariangel e Farias. 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Essa posigao se diferenciava do corporativismo de Estado, no qual as corporagées Si parte organica dele mesmo e, ‘como tal, nfo tém autonomia de agdo, O termo corporativismo" pode expressar também relagdes do definidas em doutrinas mas em praxis corporativas como aquelas que se dio em diferentes sociedades industrializadas e descritas ‘como corporativismo pragmatico, Pode ainda ser definido como sistema econdmico com ccaracteristicas distntas ou ser identificado com 0 fascismo ou navismo. SOUZA, Jessie Jane Vieira, Valentino gurardiao dda menina circulista, Campinas. Dissertagio de Mestrado ~ Unicamp, 1992 '52_A leitura do trabalho preduzido sob a coordenagio da Dra, Maria Helena R. Capelato (85-94 ~ Producdo histérica no Brasil. USP/Anphu) ‘permitiu uma visio ampla do que foi produzidoa respeito da Igteja Cat6lica e do circulismo na iikima década, Chamo a atengSo para 0 fato de ‘que faltam alguns trabalhos, inclusive o mew ede outros colegas. 53 BARBIAN, Hilrio.Cireulo Operirio ¢ sindicalismo em liu RS, 1923-1946. Dissertactio de Mestrado ~ Universidade Federal de Santa Catarina, 1991. Introdugio, p. 10. 54 ALMEIDA, Paulo Roberto de. Cireulo caudtico: pnitica de assisténcia e de controle no Brasil- 1932-1945. Dissertagio de Mestrado ~ PUCISP, 1992. 5 55 GOMES, Angela Castro. Siléncio e Oragdes: as relagGes Estado, Igreja ¢ classe trubalhadora no ap6s-20. Religido e Sociedade. Rio de Janciso: ISER, n. 14/2. p. 88. 1986. 56 Depoimento ao CPDOC, em 1984, de José Segadas Vianna e Jacy Magalhies. 57 Augusto do Régo Monteiro foi militante catdlico desde a década de 20, amigo de Aleeu Amoroso Lima, presidente da Congregacdo Mariana Nacional e assfduo colaborador da revista A Orddem, onde esereveu sobre questdes relativas 40 trabalho, Ver Gomes. Ibidem, p. 96. A relagio do ministro Waldemar Faledo Filho com ‘0 catdlicos foi ressaltada nas paginas da revista ‘A Orden. A iliagdo catdlica de Waldemar Falcio também esti posta por Gomes em: A inveneo do trabathismo, p. 168. '58 As relagdes dos ministros do trabalho, Waldemar Falco ¢ Marcondes Filho, ficam evidentes nas paginas da revista A Order 59 GOMES. A invenao do trabathismo, op. cit. p. 168 60 RAMALHO, José Ricardo. Estado, patito e tuta operdria, conflro de classes na Fabrica Nacional de Motores. Sio Paulo, Tese de Doutoramento ~ USP, 1984. 61 LOPES, José Sérgio Leite. A recelagem dos conflitos de classe na cidade das chaminés. Rio de Janeiro, Tese de Doutoramento — UFRI/Museut Nacional, 1986 62 0 congresso de trabalhadores democriticas, realizado no Rio de Janeiro, em 1961, sob 0 ccomando do enti governador Carlos Lacerda, foi liderado pelo movimento circulista, que naquele ‘momento reunia em seu interior diferentes grupos, sendo o mais imporsante, o chamado Movimento de Renovagso Sindical, que tem sido confundido com um movimento de esquerda. (63 MANFREDI, Maria Silva. Educacdo sindical entre conformismo e resistencia, Sao Paulo Loyola, 1986, V.6, (Colegio Educaedo Popular). Ver particularmente © capitulo TH: "A Tereja Catélica e as priticas de capacitagho de orientagdo cristd, no interior do movimento sindical," p.61 Outro aspecto importante desse trabalho so as RPHnedme no Pep Odanm paused mo PaROMdwan pesquisas a respeito da Frente Nacional do ‘Trabalho, uma organizagio que, no ABC dos anos 80, so apresentari como a tiltima novidade no campo do sindicalismo combative, mas que teve sua origem exatamente no mesmo espaco circulista, indo, inclusive substitu-lo logo apés 0 golpe de 1964, quando, por divergéncias ainda pouco claras, a Confedera¢Zo Latino-Americana dos Sindicatos Cristios (Clasc) desfilia 0 movimento cicculista, 64 GOMES. Siléncio e oracbes: as relagdes Estados, Igreja e classes trabalhadaras no pbs-34. op. cit. p. 96-97 65 RAMIREZ, Hugo. A Obra dos Cireulos Opertirios ¢ a situagio social do Brasil, Rio de Janeiro: Of. Graf. Modelo, 1958 / SCHNEIDER, José Odelso. O operariado brasileiro os Circulos Operirios, Sintese Poiltica, Econdmica e Social. Estado da Guanabara:[s.n.J, ano 8, ¥.25,n.719.p. 49-67, 1965 66 BRENTANO, Leopoldo. Sindicatos profissionais em Pelotas e Porto Alegre, In: Primeira semana de agdo social do Ria de Janeiro. Relatérios apresentados e conclusdes votadas, Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1936/__, Oclero ea ‘aedo social, Rio de Janeiro: CNOC, 1945. ¥v.2,n.9, p. 54-70. Edigdo Comemorativa da Rerum Novarum / __. Os Cficulos Operivios & luz da experincia internacional. REB. Petropolis, v. 2, n. 9, p. $4-70, 1942 / DUTRA, Panerécio. Matévias do curso de base. Rio de Janeiro: CNOC = Escola de Lideres, (19—] / ALBERTO, J. 0 circulismo segundo 0 pensamento de seu furdador:[s.:s.n-J, mai 1966, 67 LIMA, Aleeu Amoroso, 0 trabalho no mundo modervo, Rio de Janeiro: J. Olympio, 1942. 68 GOMES, Angela M. Castro. Burguesia ¢ trabatho: politica e legislacao social no Brasit ~ 1917-1937, op.cit. p. 208-212. 69 Ibid., p, 208. 70 RODRIGUES. Leéncio Martins. Sindicalismo e classe operaria (1930-1964). In: O Brasit Rejniblicann, Coordenado por Boris Fausto.2. ed a0 Paulo: Difel, 1983. v.10, (Hist6ria Geral da Civilizagio Brasileira) 71 MARTINS, Heloisa H. T. 0 Estado ¢ a burocratizagdo do sindicato no Brasil. Sio Paulo: HUCITEC, 1979 / MARANHAO, Ricardo. Sindicatos e democratizacdo. $0 Paulo : Brasiliense, 1979 / SIMAO, Assis. Sindicatos sociedadle. So Paulo: Dominus. 1966 / SINGER. . Forca de trabalho e emprega no Brasil: 1920- 1969. Estudos Cebrap. S40 Paulo: Editora Brasileira de Cigneia, n.3., 1971 / WEFFORT, F. Sindicates ¢ politica, S40 Paulo: USP, 1972; RODRIGUES, Le6ncio Martins, op.cit. / ‘VIANNA, Luiz Werneek, op. cit. 72A respeito dessa permanente discussi, ver ‘CRUZ, Maria Cecilia Velasco e, Amarefo ¢ Negro: matizes do comportamento operdvio na primeira Repiiblica. Rio de Janeiro. Dissertagdo de ‘Mestrado ~ IUPERI, 1981 73 SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Cidadania € Justica: « politica social na ordem brasileira. Rio de Janciro: Campus, 1979. 74 op. cit 75 BARROS, Alherto Rocha. Origens e evolu da legisiacao trabathista, Rio de Janeiro; Laemmen, 1969 76 IANNI, Otévio, Estado e capitalisma, Rio de Janeiro: Civilizagao Brasileira, 1965, 77 OLIVEIRA, Francisco. A economia brasileira; critica a raziio dualista, Estudos Cebrap. S30 Paulo: Eaditora Brasileira de Ci€ncias, out, 1972. 78 THOMPSON, E.P.A formagdo da classe opendria inglesa. Sio Paulo: Paz.e Terra, 1987. p. 9, 79 PAOLI, Maria Célia, Os trabalhadores urbanos na fala los outros. In: Cultura e identidade operéria; aspectos da cultura operiria, Coordenado por Joss Sérgin Lopes. Rio de Janeiro: Marco Zerol ‘UFRI/Museu Nacional, 1988. 80 MUNAKATA, Kazumi. A legislagdo trabathista no Brasil, So Paulo: [sn], 1981. (Colegio Tudo & Hist6ria)/OLIVEIRA, L. Lippi etal. Esvado novo: iddeologia e poder Riv de Fancivo: Zahax, 1982. 81 PINHEIRO, Paulo Sérgio. Trabalho industrial no Brasil. Estudos Cebrap, Sio Paulo: Editora Brasileira de Cigneias, 1975. 82 RODRIGUES, Eagar. Socialism e sindicalismo no Brasil, Rio de Janeiro: Laemmert, 1969 / RODRIGUES, José Albertino. Sindicato Desenvolvimento no Brasil. Sao Paulo: Ditel, 1966.

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