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Brazilian Journal of health Review

Fitoterápicos na odontologia, quando podemos utilizá-los?

Phytotherapy in dentistry, when can we use them?

DOI:10.34119/bjhrv2n4-114

Recebimento dos originais: 27/06/2019


Aceitação para publicação: 16/07/2019
Gabriela Bohneberger
Acadêmica do curso de graduação em Odontologia
Instituição: Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC)
Endereço: Rua Getúlio Vargas, 2125. Centro. 89600-000, Joaçaba – SC, Brasil
E-mail: gabibohne@hotmail.com.

Michele Aparecida Machado


Graduada em Odontologia
Instuição: Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC).
Endereço: Rua Getúlio Vargas, 2125. Centro. 89600-000, Joaçaba, SC, Brasil.
E-mail: michele_mithi_@hotmail.com

Marcelina Mezzomo Debiasi


Mestre em Ciência e Biotecnologia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina
(UNOESC); Professora do curso de Odontologia
Instituição: Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC).
Endereço: Rua Getúlio Vargas, 2125. Centro. 89600-000, Joaçaba, SC, Brasil.
E-mail: marcelina.debiasi@unoesc.edu.br.

Acir José Dirschnabel


Doutor em Odontologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná; Professor do curso
de Odontologia.
Instituição: Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC).
Endereço: Rua Getúlio Vargas, 2125. Centro. 89600-000, Joaçaba, SC, Brasil.
E-mail: acir.dirschnabel@unoesc.edu.br

Grasieli de Oliveira Ramos


Doutora em Odontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Professora do
curso de Odontologia e do Programa de Pós-graduação em Biociências e Saúde
Instituição: Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC)
Endereço: Rua Getúlio Vargas, 2125. Centro. 89600-000, Joaçaba – SC, Brasil
E-mail: grasieli.ramos@unoesc.edu.br.

RESUMO

A fitoterapia estuda o uso de plantas com potencial terapêutico, advinda do conhecimento


popular, que é passado de geração para geração, é considerada uma alternativa ao tratamento
médico e odontológico. Evidências científicas são constantemente buscadas para comprovar
sua efetividade, diante disso o presente estudo teve como objetivo revisar a literatura sobre uso
de fitoterápicos aloé vera, calêndula, camomila, copaíba, malva, papaína, penicilina, própolis,
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romã e tansagem, relacionando o uso popular com as evidências científicas na odontologia.
Foram realizadas busca por artigos nas bases de dados da Scielo e Pubmed utilizando como
palavras-chave: fitoterapia, plantas medicinais e odontologia, publicados entre 2005 e 2015,
que foram agrupados de acordo com a planta medicinal. Todas as plantas estudadas
apresentaram potencial terapêutico e aplicação na odontologia. O potencial antibacteriano foi
identificado na aloé vera, calêndula, copaíba, papaína, própolis, romã e tansagem, a ação
cicatrizante está presente com o uso da aloé vera, calêndula, papaína e própolis e analgésica
com camomila, copaíba, malva e penicilina, além disso todas apresentaram poder anti-
inflamatório. Com isso estes fitoterápicos devem ser considerados como alternativa no
tratamento de afecções bucais por apresentarem propriedades que visam a melhora dos sinais e
sintomas presentes na cavidade oral durante processos patológicos, com facilidade de acesso.

Palavras-chave: Odontologia. Fitoterápicos. Plantas medicinais. Afecções bucais.

ABSTRACT

Phytotherapy studies the use of plants with therapeutic potential, derived from popular
knowledge, which is passed down from generation to generation, is considered an alternative
to medical and dental treatment. The present study aimed to review the literature on the use of
herbal remedies aloe vera, calendula, chamomile, copaiba, malva, papain, penicillin, propolis,
pomegranate and tansage, relating popular use with the scientific evidence in dentistry. We
searched for articles in the databases of Scielo and Pubmed using phytotherapy, medicinal
plants and dentistry, published between 2005 and 2015, which were grouped according to the
medicinal plant. All the plants studied presented therapeutic potential and application in
dentistry. The antibacterial potential was identified in aloe vera, calendula, copaiba, papain,
propolis, pomegranate and tansagem, the healing action is present with the use of aloe vera,
calendula, papain and propolis and analgesic with camomile, copaiba, malva and penicillin,
besides of them all had anti-inflammatory power. Therefore, these phytotherapics should be
considered as an alternative in the treatment of oral diseases because they present properties
that aim to improve the signs and symptoms present in the oral cavity during pathological
processes, with easy access.

Key words: Dentistry. Phytotherapics. Medicinal plants. Oral disorders.

1 INTRODUÇÃO
“A Fitoterapia é a ciência que estuda a utilização de plantas ou parte delas para
tratamento de doenças que acometem a espécie humana” (Aleluia et al., 2015). Os
medicamentos fitoterápicos são substâncias obtidas a partir de plantas que podem ser utilizadas
sob a forma de chás, soluções, comprimidos, dentre outros. Segundo a Organização Mundial
da Saúde, aproximadamente 80% da população mundial faz uso de fitoterápicos como uma
alternativa ao tratamento médico (Francisco, 2010; Oliveira et al., 2011).
No Brasil há uma das maiores diversidades vegetais do mundo e por isso inúmeros
estudos têm sido realizados buscando vincular o conhecimento popular sobre às plantas
medicinais e a comprovação de sua efetividade científica (Santos et al., 2009). Antigamente era

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a população mais carente quem cultivava, comercializava e utilizava como opção de tratamento,
mas atualmente o uso em todas as classes sociais e em diversas regiões está aumentando
(Francisco, 2010). A finalidade da fitoterapia é prevenir, curar ou minimizar os sintomas das
doenças, com um valor mais acessível à população e aos serviços públicos de saúde. Devido a
sua ação antibacteriana, anti-inflamatória, anti-hemorrágica e anestésica, o uso da fitoterapia
veio para somar e abrir novos caminhos terapêuticos e possibilitar seu uso diário na prática
ambulatorial (Evangelista et al., 2013).
Há séculos as pessoas utilizam as plantas medicinais, passando o conhecimento popular
de geração para geração. No entanto, na odontologia brasileira, apenas em 2008 a fitoterapia
foi reconhecida e regulamentada como prática integrativa e complementar à saúde bucal pelo
Conselho Federal de Odontologia, no dia 19 de novembro de 2008, pela Resolução nº 082/2008-
CFO.
A busca do conhecimento científico motivado pelo saber popular é de extrema
importância para que sejam melhor compreendidos os efeitos das plantas medicinais e assim
contribuam de forma efetiva em todos os campos da assistência à saúde, incluindo a odontologia
(Reis et al., 2014). A Organização Mundial da Saúde tem motivado pesquisas científicas para
esse tipo de alternativa terapêutica, devido ao seu baixo custo e fácil acesso. Entretanto a
inclusão da fitoterapia nos procedimentos odontológicos clínicos de rotina ainda consiste em
um desafio a ser superado (Lins et al., 2013).
As afecções bucais mais comuns são a cárie, a gengivite, a periodontite, estomatite
aftosa, herpes simples e problemas de cicatrização na mucosa bucal, diante disso a fitoterapia
é utilizada para o tratamento destas patologias (Oliveira et al., 2007). Quando administrado de
forma correta os medicamentos fitoterápicos contribuem para a melhora de quem os utiliza.
Deste modo, é imprescindível que ocorra previamente o correto diagnóstico da doença para que
possa ser escolhida a planta adequada (Aleluia et al., 2015).
Uma vez que o uso dos medicamentos fitoterápicos não é frequente na odontologia, esta
revisão de literatura sobre os fitoterápicos, visa identificar as propriedades terapêuticas das
plantas: aloé vera, calêndula, camomila, copaíba, malva, papaína, penicilina, própolis, romã e
tansagem.

2 METODOLOGIA
Foram realizadas buscas de artigos em bases de dados como Scielo e Pubmed, além de
cartilhas informativas sobre medicamentos fitoterápicos. A busca foi realizada utilizando como

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palavras-chave: fitoterapia, plantas medicinais e odontologia. Foram selecionados artigos em
língua portuguesa e língua inglesa, publicados entre os anos 2005 - 2015. Os artigos
selecionados foram agrupados de acordo com a planta medicinal e foram apresentadas em
ordem alfabética no artigo.

3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 ALOÉ VERA (ALOE VERA L.)
Pertence a família das Liliáceas. Popularmente conhecida no Brasil como babosa, erva-
babosa, babosa-medicinal, aloé, aloé-do-cabo, erva-de-azebre, seu nome científico é Aloe vera
L. A parte mais utilizada para tratamento são as folhas (ITAIPU Binacional, 2012). Seus
componentes potencialmente ativos, incluem aminoácidos, açúcares, enzimas, vitaminas e
minerais com propriedades importantes, como a penetração do tecido, efeito anti-inflamatório,
função imunorreguladora, além de propriedades antimicrobianas, cicatrizantes e regenerativas,
favorecendo a recuperação do tecido agredido (Fé et al., 2014; Francisco, 2010). É
contraindicada para gestantes, lactantes e crianças, teve o uso de preparações orais relacionada
com casos de hepatite aguda, cólicas intestinais, náuseas e diarreia (Freitas & Rodrigues &
Gaspi, 2014).
O princípio ativo da aloé vera pode ser usado para preparação de enxaguatórios bucais
e géis dentários, com a função de eliminar bactérias pelas suas propriedades antimicrobianas e
antisépticas. Pode ainda ser usado após cirurgias periodontais e de exodontia, nos casos de
gengiva traumatizada e de mucosite por ter propriedades cicatrizantes e regenerativas
(Francisco, 2010; Freitas & Rodrigues & Gaspi, 2014).

3.2 CALÊNDULA (CALENDULA OFFICINALIS L.)


Pertence a família Asteraceae, conhecido popularmente como calêndula, malmequer,
maravilha dos jardins, margarida dourada. Seus principais constituintes químicos são o óleo
essencial, saponinas, carotenoides, flavonoides, polissacarídeos, substâncias amargas entre
outros (ITAIPU Binacional, 2012).
O uso tópico de calêndula na odontologia é aceito para tratamento de estomatites aftosas
e após extrações dentárias pelo seu efeito antisséptico, além disso promove hemostasia
prevenindo inflamações e favorecendo a cicatrização (Parente, 2009).

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3.3 CAMOMILA (MATRICARIA CHAMOMILLA L.)
É pertencente à família Asteraceae. Indicado para o uso adulto e pediátrico. Por via oral
ou tópica. Apresenta propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, sedativas e antimicrobianas,
além disso pode ser utilizada em quadros leves de ansiedade devido ao seu efeito calmante leve
(Ministério da saúde, 2015). Na odontologia pode ser utilizado em processos inflamatórios da
gengiva e mucosa oral como gengivites, abcessos, inflamações e aftas e também no período de
erupção dental por sua ação analgésica. Têm sido incorporados as fórmulas de dentifrícios com
o objetivo de reduzir a halitose e combater a gengivite (Francisco, 2010). Também pode ser
usado quando há o diagnóstico de mucosite, principalmente em pacientes sob quimioterapia, é
recomendado fazer bochechos com chá de camomila por proporcionar redução no grau de
mucosite e alívio dos sintomas (Schirmer; Ferrari; Trindade, 2012; Shabanloei et al., 2009).
O uso deve ser controlado, pela possível interação com anticoagulantes que pode
aumentar o risco de sangramento, intensificando ou até prolongando a ação depressora do
sistema nervoso central quando usado concomitante a barbitúricos e outros sedativos
(Monteiro, 2014; Aleluia et al., 2015).

3.4 COPAÍBA (COPAIFERA LANGSDORFFII)


As copaibeiras são árvores da família das Leguminosae, subfamília Caesalpinoideae. É
frequentemente empregada na medicina popular brasileira na forma de pomadas e xaropes, por
administração oral ou aplicação tópica (Montes et al., 2009).
É usada a mais de 500 anos pelos povos indígenas que observaram o comportamento de
alguns animais feridos, que se esbarravam no tronco das árvores de copaíba, na busca da
cicatrização de suas feridas. Com isso seu uso se generalizou na medicina popular como
cicatrizante e anti-inflamatório local (Pieri & Mussi & Moreira, 2009).
Pesquisas comprovam que o óleo de copaíba pode ser administrado como anti-
inflamatório em processos agudos e após procedimentos cirúrgicos. No tratamento endodôntico
tem uso associado com o curativo de demora juntamente com o hidróxido de cálcio e em
tratamento de alveolites, além disso estudos comprovam a ação antimicrobiana da copaíba
sobre bactérias formadoras da placa dental (Pieri & Mussi & Moreira, 2009; Monteiro, 2014).

3.5 MALVA (MALVA SYLVESTRIS)


Conhecida cientificamente como Malva sylvestris e popularmente como Malva, malva-
alta, malva-silvestre, malva-verde, malva-selvagem, pertence a família Malvaceae. As partes

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utilizadas são as folhas e flores secas. Possuí propriedades anti-inflamatórias, calmantes,
expectorantes, emolientes e antimicrobianas. Sendo usada para tratamento de afecções
respiratórias, como expectorante, para contusões e processos inflamatórios da boca e garganta.
Se encontra na literatura que a malva apresenta mucilagem, taninos, óleos essenciais e
flavonoides que são substâncias capazes de promover um eventual efeito antimicrobiano
(Monteiro, 2014; ITAIPU Binacional, 2012; Moreira & Ferreira & Hashizume, 2012).
Recomendada na odontologia como antisséptico bucal (Malvatricin®), para realização
de bochechos após exodontia e no controle do biofilme e da cárie em função de suas
propriedades antibacterianas, antifúngicas, anti-inflamatórias, antioxidantes e anti-aderentes
(Oliveira et al., 2007; Ecker et al., 2015). Este antisséptico tem como princípios ativos a
tirotricina e o quinosol que apresentam atividade antimicrobiana contra Streptococcus mutans,
Lactobacillus spp. e sobre um grupo de microrganismos da cavidade bucal (Moreira & Ferreira
& Hashizume, 2012).

3.6 PAPAÍNA (CARICA PAPAYA)


Pertencente à família Caricaceae, conhecida cientificamente como Carica papaya e
popularmente como papaína. A papaína tem apresentação comercial liofilizada, é uma enzima
proteolítica de origem vegetal, extraída do látex do mamão. Possui efeitos anti-inflamatórios,
bactericidas, bacteriostático, ações debridantes, aceleradora e modeladora da formação de
tecido de granulação e processos de cicatrização tecidual, reduzindo a formação de queloide
(Rocha & Gurjão & Brito Júnior, 2009).
No Brasil a utilização desta enzima se deu pelo fato de ter baixo custo e excelentes
propriedades curativas no processo de cicatrização de feridas em inúmeras patologias crônicas,
insuficiência circulatória venosa ou arterial, úlceras de decúbito e em algumas patologias
viscerais. Outros fatores que contribuíram foram: pouco efeito colateral, a fácil aplicação e
custo acessível (Brito Júnior & Ferreira, 2015).
Na odontologia é utilizada no tratamento restaurador atraumático na forma de gel,
conhecido como “gel de papaína”, sendo indicado para remoção químico-mecânico de dentina
cariada. O uso é recomendado para pacientes com necessidades especiais, crianças e adultos
com fobias, pois dispensa o uso de anestésicos e muitas vezes das canetas de alta e baixa rotação
que por fazerem ruídos provocam traumas aos pacientes. Outra indicação é para lesões cariosas
muito profundas porque a sua aplicação amolece o tecido cariado, não necessitando de
instrumentos rotatórios (Pereira & Freitas & Mendonça, 2013).

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Estudos revelaram que o gel apresenta como desvantagem a interferência na
polimerização do sistema adesivo autocondicionante, promovendo infiltração marginal e cárie
secundária (Pereira & Freitas & Mendonça, 2013). Outro fator relatado pela literatura é o maior
tempo e número de sessões para a remoção de tecido cariado comparado com a técnica de
remoção convencional (SOUZA et al., 2012).

3.7 PENICILINA (ALTERNANTHERA BRASILIANA)


Conhecida cientificamente como Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
(Amaranthaceae), e popularmente como penicilina, terramicina, doril, carrapichinho, sempre-
viva, perpétua-do-brasil e infalível. É encontrada nos estados de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul sendo cultivada como atrativo, devido à coloração arroxeada de suas folhas que chamam
atenção, é também empregada na medicina popular (ITAIPU Binacional, 2012; Rocha, 2013).
As folhas têm ação farmacêutica diurética, digestiva, depurativa, antitérmica e quando
maceradas curam ou amenizam problemas do fígado e bexiga. As flores são indicadas contra
diarreia, inflamação, dores de cabeça, resfriados, gripes e tosse. As raízes são úteis contra a
diarreia e a planta toda para prisão de ventre. Tem ainda ação antiviral, antimicrobiana,
hepatoprotetora, antifúngica, antidiarreica, analgésica, diurética e digestiva (Giraldi &
Hanazak, 2010; Rocha, 2013).
Na odontologia pode ser usada como infusão com as folhas para realização de
bochechos e gargarejos produzindo um efeito analgésico e anti-inflamatório da mucosa bucal e
da garganta (Giraldi & Hanazak, 2010).

3.8 PRÓPOLIS (APIS MELLÍFERA L.)


É uma resina elaborada por abelhas, principalmente pelas Apis melífera L., que são a
espécie mais estudada entre as abelhas. A própolis é recolhida da colmeia de abelhas
apresentando composição básica com: 50% de resinas vegetais, 30% de cera de abelha, 10% de
óleos essenciais, 5% de pólen e 5% de detritos de madeira e terra. As características da
vegetação da região e as reservas de pólen e mel determinam a composição química da própolis,
devido a diferenciação de composição química ocorre uma variação também nas atividades
farmacológicas da própolis (Menezes, 2005).
As propriedades terapêuticas da própolis são: antimicrobiana, anti-inflamatória,
imunoestimulatória, cicatrizante, antisséptica (Aleluia, 2015), antioxidante, antineoplásica
(Menezes, 2005) e atividade antifúngica (Pinto & Prado & Carvalho, 2011).

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No Brasil, é usado como remédio popular para doenças infecciosas da cavidade bucal e
orofaringe. Dentro da área odontológica a própolis é utilizado no tratamento de várias afecções
na forma de pasta de dente, antissépticos, spray, pastilhas e pó. Popularmente é conhecido como
antibiótico natural. Atua na redução da resposta inflamatória por meio da promoção da atividade
fagocítica, auxiliando no sistema imunológico. É indicado na terapêutica pós-operatória, no
capeamento pulpar direto como agente indutor da formação de dentina reparadora e tecidos
duros. Na endodontia pode ser usado como solução irrigadora intracanal pelo potencial
antimicrobiano. Além disso pode ser usado para o tratamento da doença periodontal e como
agente cariostático pela inibição do crescimento bacteriano (Aleluia et al., 2015).
Seu uso deve ser cauteloso e com indicação de um especialista, pois a própolis pode
interagir com outras drogas, como dissulfiram (Antabuse®) ou metronidazol (Flagyl®),
levando a náuseas e vômitos. Pode causar alergia para algumas pessoas, estando relacionado
com a substância do ácido cafeico, que inclui sintomas como aparecimento de erupções
cutâneas, inchaço, coceira, lesões de psoríase na pele ou feridas na boca. É contraindicado para
pessoas que possuam alergia ao pólen, asmáticas, grávidas ou que apresentam alergia à picada
de abelha (Aleluia et al., 2015).

3.9 ROMÃ (PUNICA GRANATUM)


Com nome científico de Punica granatum e popularmente conhecida como romã,
romanzeiro, romeira, granada, milagreira, miligrã. Para a fitoterapia tem como partes utilizadas
o pericarpo (casca do fruto) e o fruto que tem o tanino e flavonoides como os principais
constituintes químicos. É indicado para inflamações e infecções da mucosa da boca e faringe
como anti-inflamatório e antisséptico (ITAIPU Binacional, 2012; Monteiro, 2014).
A romã é dita como planta medicinal que promove regeneração tecidual e modulação
da resposta imune. Na odontologia tem se mostrado eficaz no combate a bactérias gram-
positivas e gram-negativas constituintes do biofilme bucal, em função de possuírem os taninos
hidrolisáveis complexos de alto peso molecular com proteínas solúveis que aumentam a lise
bacteriana, assim como interferem no mecanismo de aderência bacteriana à superfície dos
dentes. Tem ação antioxidante também, sendo assim é utilizada no tratamento da periodontite
e em estomatites como antisséptico (Aleluia et al., 2015). Pode ainda ser usada para cicatrização
pós-extração, dor de dente, gengiva inflamada, úlceras bucais (aftas), abscesso dentário, ferida
e erupção dentária, além disso tem atividade antimicrobiana comprovada contra o
Streptococcus mutans, sendo considerado um agente anticariogênico (Vieira et al. 2014).

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Quando é realizado o bochecho não deve ser engolido, uma vez que quando ingerido,
pode provocar zumbido, distúrbios visuais, espasmos musculares e tremores. É contraindicado
para gestantes devido ao risco de contrações e aborto (Monteiro, 2014; Aleluia et al., 2015;
ITAIPU Binacional, 2012).

4.0 TANSAGEM (PLANTAGO MAJOR L.)


Pertencente à família Plantaginaceae, sua espécie é Plantago major L., conhecida
popularmente como tansagem, tanchagem, transagem ou plantagem. É vista como uma planta
invasora por ter muitas sementes, o que facilita sua dispersão nas hortas e jardins. Seu
crescimento é espontâneo em gramados, jardins, hortas, pomares, trilhas e beiras de estradas. É
empregada para fins medicinais, suas folhas possuem propriedades antibacterianas e são
utilizadas para o tratamento de doenças cutâneas, infecciosas, digestivas (gastrites) e
respiratórias (bronquites), no combate a tumores, no alívio da dor e redução de febres e como
adstringente impedindo infecções e proporcionando ação hemostática. Tem ação protetora das
mucosas inflamadas e das vias respiratórias auxiliando na expectoração. É capaz de destruir
grande número de microrganismos e estimular a epitelização. Possui ação antidiarreica por
diminui a irritação da mucosa intestinal, mas também, é usada como laxante, pois estimula o
peristaltismo. É contraindicado para pessoas que tenham hipotensão arterial, obstrução
intestinal e grávidas (Mota et al., 2008).
Na área da Odontologia, é encontrado na literatura como um ingrediente ativo na
preparação de enxaguante bucal. Diante das pesquisas nos dados de patentes, foi demonstrado
que a utilização da tansagem é, na maioria das vezes, associada a outras plantas, sua aplicação
é principalmente em feridas cutâneas e lesões de pele (Oliveira et al., 2007; Ministério da saúde,
2014).
Os resultados (tabela 1) mostraram que todas as plantas estudadas tiveram ação anti-
inflamatória, sendo que 70% apresentaram ação antibacteriana (aloé vera, calêndula, copaíba,
papaína, própolis, romã e tansagem), 40% ação antisséptica (aloé vera, própolis, romã e
tansagem), cicatrizante (aloé vera, calêndula, papaína e própolis) e analgésica (camomila,
copaíba, malva e penicilina) e 20% ação antifúngica (romã e própolis). Demonstrando assim
que todas essas plantas são benéficas e podem ser usadas como terapêutica alternativa para o
tratamento de afecções bucais. É importante ressaltar que todos essas plantas devem ser
administradas de forma segura, levando em consideração as contraindicações para cada caso.

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Os medicamentos fitoterápicos, quando indicados e utilizados corretamente, só têm a contribuir
para a saúde de quem os utiliza.

TABELA 1 – Ação terapêutica proporcionada pelo fitoterápico e porcentagem das plantas estudadas que a
desempenham.
Ação Fitoterápico Porcentagem
Aloé Vera
Calêndula
Camomila
Copaíba
Malva
Anti- 100%
Papaína
inflamatório
Penicilina
Própolis
Romã
Tansagem
Aloé Vera
Calêndula
Copaíba
Papaína 70%
Antibacteriano
Própolis
Romã
Tansagem
Aloé Vera
Própolis
40%
Antisséptico Romã
Tansagem
Aloé Vera
Calêndula
40%
Cicatrizante Papaína
Própolis
Camomila
Copaíba
Analgésico 40%
Malva
Penicilina
Romã
20%
Antifúngico Própolis

4 CONCLUSÃO
Em geral a população tem acesso fácil aos fitoterápicos devido ao baixo custo, desta
forma podem ser considerados como uma alternativa eficiente nos tratamentos médicos e
também odontológicos. Ainda são pouco utilizados pelos cirurgiões-dentistas, mas de acordo
com a literatura revisada, existem diversas plantas que comprovaram eficácia para o tratamento
odontológico. É importante que o profissional da saúde conheça os benefícios e terapêutica das

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medicações fitoterápicas, bem como seus efeitos adversos e contraindicações. Quando
prescritos corretamente auxiliam no tratamento e cura de diversas condições patológicas
presentes no cotidiano odontológico.

REFERÊNCIAS
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Universidade Cidade de São Paulo. São Paulo. v. 27, n. 2, p. 126-134, mai./ago. 2015.
Disponível em:
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<http://revista.fmrp.usp.br/2015/vol48n2/AO6-Cicatrizacao-de-feridas-contaminadas-
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