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‘Osartigos que compoem est livro se propdemadiscutirascontribuigbes do método dialético para a pesquisa em educagio, com énfase nas pollticas educacionais. Para tanto, dscutem o método dialético como uma bordagem que reconhece ser a ciéneia um produto da historia, da ayo do préprio homem, que estf inserido no movimento das formagées socias. ‘Com base-nessa perspectiva, os textos explicitam como o método dialético revela uma aproximagio da escolha pela cientficidade da realidade, a medida que propicia oestabelecimento de umarelagio quetem como referéncia a dindmica entre o sujeito c o objeto. Como instrumento Tégico de interpretagao da realidade, o método em questao caractetiza- “se pelo movimento do pensamento através da materilidade histérica da ‘vide dos homens nas relag6es sociais que sto por eles contaidas. ‘Bm sintese, os vérios artigos zeunidos no presente livro convidam ‘a0 conhecimento da importancia € da necessidade de todo pesquisador ‘compreender e explicr determinada realidade concrete, Afinal, €por meio dessa atudco que 0 investigador poderé indicar, de mancira conerets, ‘lgumes altemativas de ago para responder & problemséticn analisada, O METODO DIALETICO NA PESQUISA EM EDUCACAO | Célio da Cunha José Vieira de Sousa Maria Abadia da Silva (Org) AUTORES, =e psttnes Q) x Ue Be AUTORES, pee Pare ASSOCIADOS: XIV | Ométode dialético na pesquisa em eccagdo politicas, subsidios e indicagdes que possam ser relevantes para tomada de decisées e elaboragio de politicas educacionais nos anos vindouros, Prof, Dr Célio da Cunbe Prof. Dr. José Vieira de Souse Profe, Dra, Maria Abédia da Silva ‘Organizadores APRESENTACAO METODO MATERIALISTA HISTORICO- ~DIALETICO E PESQUISA EM POLITICAS EDUCACIONAIS UMA RELAGAO EM PERMANENTE CONSTRUGAO (O métode de se elevar do abstrato ao concreto é apenas a ‘maneira de proceder do pensamento para se apropriar do concrete, reproduzi-lo como concreto espiritual. Mas de ‘modo nankurn este é 0 processo de surgimento co préprio ‘conereto [.n] Também no método reérico, por i850, 0 sujet, a ‘sociadade, deve figurar sempre como pressupasto. ‘Manx, 1997, p. 11 ¢ forma mais ample, o método em pesquisa possui tes grandes abordagens, que se diferenciam: »empirico- -analitica, fenomenolégico-hermenéutica ¢ critico-dialética (norzo, 2001). ‘A primeira abordagem segue os prinofpios vélidos para as cigncias fisicas e naturais, com uma concepeao de ciéncia rela- cionada & explicagio pelo procedimento experimental. Ao apre- sentar uma visio ideelista do mundo, ela considera que o conhe- cimento acontece a partir de determinado objeto jé existente © que para ser conhecido é preciso inseri-lo em wma realidade, de maneira que cabe ao homem somente identificé-la ¢ interpreté- -la, Desse ponto de vista, a construgao do conhecimento implica a representago de um processo, que parte do todo para as partes ¢ exige 0 afastamento do pesquisador em relago 20 objeto ou fenémeno investigado. 2 | Ométodo dialético na pesquisa em edtucagdo A abordagem fenomenolégico-hermenéutica consi te na compreensio ¢ interpretagdo dos fendmenos, em suas diversas manifestagdes, mediadas pela comunicagéo. Dessa forma, apresenta uma visdo idealista de mundo, na qual 0 co- mhecimento nfio est centralizado no objeto sim no sujeito a priori, que interpreta e explica a seu modo. Diferentemente da visio empirico-analitica, nessa segunda perspectiva meto- dolégica 0 processo de construgo do conhecimento vai das partes para 0 todo e exige a aproximagdo do pesquisador em relagdo ao objeto, ao fendmeno estudado. Por sua vez, a abordagem critico-dialética reconhece a ciéncia como produto da histéria, da ago do préprio homem, que esté inserido no movimento das formagées sociais, Nesse sentido, encara a ciéncia como uma construgao decorrente da relagdo dialética entre 0 pesquisador ¢ 0 objeto envolvidos em determinada realidade histérica. O processo de constru- Ho do conhecimento vai do todo para as partes e depois das partes para 0 todo realizando um circulo de sintese conforme © contexto, com necessidade de aproximagio e, as vezes, de afastamento do pesquisador em relagdo ao objeto. Todavia, é importante considerar que em qualquer abor- dagem metodolégica, constituindo-se em uma referéncia e no em um roteiro fixo (Garr, 2002), 0 método é dependente, dentre outros fatores, de um conhecimento s6lido ¢ da expe- rignoia por parte do pesquisador. Com base nessa perspectiva, a perspectiva materialista hist6rico-dialética revela uma apro- ximagio da escolha pela cientificidade da realidade, a medida que cle propicia 0 estabelecimento de uma relagdo que tem como referencia a dindmica entre 0 sujeito e o objeto, bem como o reconhecimento da luta dos contrarios como fonte do conhecimento. Como instrumento l6gico de interpretago da realidade, co método em questo caracteriza-se pelo movimento do pensa- mento por meio da materialidade histérica da vida dos homens nas relagBes sociais que eles contraem. Pesquisar significa, as- sim, refletir acerca da realidade social tomando como referén- cia o empirico e, por meio de sucessivos movimentos de abstra- ‘80 (elaborag6es teéricas), chegar ao concreto. Na perspectiva dielética, 0 método Apresentagio | 3 esté vineulado a uma concepedo de realidade, de mundo e de vvida no seu conjunto. A questio da pastura, neste sentido, ante- cede 0 método, Este constitui-se numa espécie de mediagto no processo de aprender, revelar e expor a estruturago, o desen- ‘volvimento e a transformago das fenémenos sociais [FRicorTo, 2001, p. 77). Ao proporem um novo olhar sobre a realidade social, a luz dos fundamentos do materialismo histérico-dialético, Marx (1996, p.12) ressalta a fungao social do conhecimento no sentido de enriquecer a prépria existéncia humana — a préxis em sua di- mensao transformadora, ‘A questi do saber se cabe 20 pensamento hurnano uma verdade objetiva nfo é uma questo terica, mas pritca.E na prixis que o homem deve demonstrar a verdade, isto 6, a relidade e o po- der, o cardter terreno do pensamento [..] n80 basta interpret, 0 aque importa étransformar. E A perspectiva metodoldgica dialética que os textos orga- nizados nas quatro partes que compdem este livro se vinculam. A primeira parte ~ “Bases da discuss4o do método em Marx” — 6 composta por dois artigos, sendo o primero deles — “A questéo do método na constituigso da teoria social de Marx” — de au- toria de Edson Marcelo Hungaro. Pertindo do suposto de que nfo hé uma discussto metodolégica auténoma no pensamento de Karl Marx (1818-1883), o autor analisa a trajetéria desse clssico nna constituiggo de sua teoria social. Ao mesmo tempo em que ressalta que essa teoria é o resultado da relagio de determinado sujeito investigador ~ Marx — em sua busca de compreenstio da sociedade civil burguesa, chama a atenclo para o fato de que, nesse esforgo investigativo, o pensador alemfo acaba por consig- nar alguns apontamentos de cardter metodolégico. Ressaltando parte da trajetéria de Marx até 1857, a reflexio focaliza os textos em que se nota a descoberta das categorias que constituem um chamado “método em Marx”. Nessa diregio, Hungaro destaca que em 1843 ~ nos Manuscritos de Kreuznach, temos um Marx democrata radical ¢ vinculado & sua formagao filosdfica. Seis meses depois —na obra Critica a filasofia do direito de Hegel — introdugdo ~, trata-se de um autor que jé identifica os confitos 4 | Ométode dialético na pesquisa em educagdo de classe ¢ se afirma comunista. Nos Manuscritos de 1844, j& é possivel vé-lo com os resultados de uma aproximaclo inicial & economia politica e retomando positivamente 0 pensamento de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) — 0 qual, sob a influencia de Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872), havia ‘duramente criticado. Nos anos de 1845 € 1846 — nos livros 4 sa- grada familia e A ideologia alema, o encontramos, juntamente com Friedrich Engels (1820-1895), fazendo o balango de sua trajetéria no qual rompia com a tradigfo filoséfica alema pés- -hegeliana. Bm 1847 — no livro Miséria da filosofia, fruto de sua vinculaeio com 0 movimento operério, Marx estabeleceu ume polémica com Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), levando a natureza desse polémica a induzi-lo a elaborar a sua primeira cr{- tica da economia politica burguesa — na quel apresenta intmeros avangos na compreensio de seu objeto. Por fim, nos Manuscritos de 1857/58, 0 conjunto de suas categorias analiticas estaré con- signado, Com este “ponto de partida” (que representa, teori- camente, também, um “ponto de chegada”), 0 autor do artigo conclui que Marx detém-se em aprofundar sua investigagio da ordem burguesa e, 20 mesmo tempo, refletir sobre como expor 0s resultados a que chegou. ‘No artigo “O método materielista dialético e a consciéncia”, Raquel de Almeida Moraes interpreta, com base no pensamento de Karl Marx, a tese por ele desenvolvida de que a consciéncia nfo é 0 que determina a realidade, nfo se podendo, com base nela, entender os fendmenos sociais, econémicos ¢ culturais, Para tan- to, sustenta que a consciéncia é criada a partir do ser social ¢ tem nas categorias como o trabalho seu findamento. A autora mostra gue, pata o materialismo dialético, é necessério iniciar 0 proces- so de conhecimento da realidade pelo concreto, apreendendo as categorias mais simples e concretas para perceber as represen- tages que so estabelecidas sobre esse mundo, suas ideologias (Galsas representag6es), conflitos e contradigdes. Chama também a.atenglo para o fato de que o método materialista dialético nfo pode ser entendido de forma mec&nica, descompromissado com a superagdo do mundo material, utilizando-o de forma especula- ‘iva € nfo engajado muma préxis revolucionéria, pois isso seria uma contradic&o epistemolégica, ontologica e ética. Apresentogdo | 5 A segunda parte do livro ~ intitulada “Atualidade do ma- terialismo historico-dialético para a investigagao das politicas sociais” — situa o debate nas contribuigBes desse método para compreensiio das politicas sociais no mundo contemporé- neo. Nessa perspectiva, Conceigtio Paludo e Fernando Bilhalva Vitéria, autores do artigo “Contribuigdes do materialismo histérico-dialético para o entendimento da politica piblica so- cial na atualidade”, partem de pesquisa bibliogréfica para ana- lisar as politicas publicas sociais, principalmente apés a crise da economia mundial em 2008 e das configuragées assumidas pelo Estado. Para tanto, buscam nas obras de Marx ¢ Engels as contribuigdes do materialismo histérico-dialético para o enten- dimento da crise e do papel que cumprem as politicas piblicas sociais na atualidade. Também situam 0 processo de constituigao dos direitos sociais, o que ocorre sob a dindmica da luta de clas- ses, além de examinar a crise dos anos de 1970 e seus desdobra- ‘mentos ao longo do tempo, em termos das solugGes propostas possibilidades de resisténcia e enfrentamento pelos movimentos organizados. Concluem os autores que a critica materialista dis- Iétioa do modo de producto capitalista é, além de atual, neces- sitia, visto que a categoria da totalidade continua central para entendimento da sociedade e que a forma assumida pela politica publica social, assim como a desconstituigto dos direitos sociais, configura-se em uma das condigSes para a recolocago dos pres- supostos do modo de producdo capitalista. Reafirmam, assim que, dentre outros, esses trés elementos indicam a necessidade urgente da rearticulagdo da teoria com a prética e a retomada da Juta ¢m nivel internacional, como forma de efetivo avango na emancipagao humana, Por sua vez, Margarita Victoria Rodriguez sistematiza suas reflexes no texto intitulado “Pesquisa social: contribuigdes do miétodo materialista histérico-dialético” com o propésito de dis- cutir as contribuigdes desse método na pesquisa social e mais, cespecificamente educativa, para aprender o real concreto. A au- tora fimdamenta sua discussio na tese de que as questdes sociais, como nunca na histéria, sfo objeto de preocupacdo dos cientistas que tentam entender os efeitos da concepgio da pés-modema e da ideologia neoliberal. Assim, sustenta que 0 método marxista 6 | Ométodo dialético na pesquisa em educagao apresenta-se como um referencial propfcio para aproximasiio 0 conhecimento ¢ explicagdo da realidade, a vida e a natureza, porque permite analisar e compreender as estrondosas e répidas mudangas da economia, da polftica e da sociedade. O terceiro artigo que configura esta parte do livro de auto- ria de Erlando da Silva Réses ¢ tem como titulo “A construgéo do metodo no materialismo histérico-dialético ea atualidade do pen- samento marxista no contexto da crise econdmico-financeira”” Nele a discusso proposta é orientada pela seguinte questi como se constr6i a base metodoldgica do materialismo histérico e dialético? Ao tentar responder esta questo, o autor aborda a perspectiva da construgo do método em Marx, a partir dos pres- supostos analiticos de sua teoria. Em seguida, apresenta evidén- cias da atualidade do pensamento do autor de O capital em uma interpretagio para a crise econémico-financeira desencadeada a partir de 2008, tendo como ponto de partida a tese de que a eco- nomia politica marxista tem se reduzido & vida académica, em que ela € rejeitada pela economia ortodoxa, Para o autor, esse abandono da economia politica marxista em prol de uma expli- cago pés-keynesiana enseja maiores interpretagdes acerca da referida crise. A reflexdo proposta defende ser possivel afirmar que essa crise nfo foi causada por um aspecto pontual, isolado e desvinculado de outros fatores sociais, politicos e econémicos, apesar de considerar que houve um detonador. Para tanto, defen- de que nas interpretagGes da crise a classe trabalhadora'é vista como vild ou responsével por suas consequéncias, seja de forma explicita ou implfcita. Duas outras perguntas so abordadas no texto, a saber: qual é a interpretaco dada pela teoria clissica marxista para a atual crise? qual o papel da acurmulago do capi- tal neste cendrio ¢ como se comportou nos filtimos anos? A terceira parte do livro, que tem como titulo “Materialismo histérico-dialético e pesquisa em politicas educacionais”, pos- sui quatro artigos, sendo o primeiro deles de autoria de Angela Cristina Belém Mascarenhas ~ “A contribuigao do materialismo histérico-dialético para a andlise das politicas educacionais”. esse texto a autora china a atenedo para o fato de que o ma- terialismo histérico-dialético no pode ser considerado simples- mente um método, mas, sobretudo, como os fundamentos da filosofia ¢ da cigncia marxista. Ao declarar isso, apresenta as Apresentagao | 7 contribuig6es desse método para uma melhor compreenstio da modemidade, ressaltando dentre elas, o fato de que o mantismo representa uma linha de pensamento que se contrapde a mate- ‘matizagdo do pensamento e & positivagao que empobrece con- sideravelmente a anélise da realidade, Argumenta também que © pensamento marxiano se fundamenta a partir de uma leitura critica e superadora de quatro linhas de pensamento: 0 idealismo hegeliano e neo-hegeliano, a economia politica burguesa, as va- riadas formas de socialismo (verdadeiro socialismo, socialismo ‘utépico) ¢ também 0 materialisino de Feuerbach, considerado 0 neo-hegeliano que mais avancou na tentativa de superar compo- nentes do idealismo hegeliano. Por tiltimo, chama a atengao para © fato de que, & luz de uma anélise critica do materialismo his- t6rico-dialético, no plano das politicas educacionais, a avaliagao ‘em se convertido em um meio de controle do campo educacio- nal, além de nfo ter assumido o objetivo de realmente melhorar a qualidade do ensino No artigo “O campo de mediagdes: primeiras aproxima- ges para a pesquisa em politicas educacionais”, Patricia Laura ‘Tomtglia e Vidaloir Ortigara discutem a dialética na pesquisa em politicas educacionais, enfocando a singularidade destas em sua relagdo com a totalidade € 0 método como conjunto de ideias € regras que orientam os seres humanos na sua atividade com a finalidade de efetivar suas ages. Assim, focalizam as politi- cas piiblicas com abordagem dialética no contexto do complexo juridico ¢ educacional da constituig#o humana, ressaltando que isso exige a reflexflo entre o singular, o particular ¢ o univer- sal. Os autores partem do pressuposto do método dialético como ‘um processo de captura pela consciéncia do movimento do real, niio permitindo que os juizos e emmciados sejam manifestagbes aligeiradas ¢ superficiais de um mundo altamente intricado ¢ contraditério. Além disso, enfatizam que para compreender as politicas pablicas além de suas manifestagGes superficiais, como 0 fazem os discursos atomisticos, a dialética exige que os proces- sos de pesquisa para 0 campo da educago ¢, em especifico, das politicas educacionais, tenham abordagem materialista historica que explicite suas complexas mediac6es. O texto seguinte ~ “A importancia dos fundamentos onto- I6gicos nas pesquisas sobre politicas educacionais: contribuigdes 8 | Oméiodb dialético na pesquisa em educagdo do materialismo hist6rico-dialético” ~ foi produzido por Gisele ‘Masson, ¢ contribui no debate sobre a importincia dos funda- mentos ontol6gicos no contexto da problemética do conhecimen- to no campo das pesquisas em politicas educacionais. Nele a au- tora aborda as contribuigGes do materialismo histérico-dialético, a partir de Marx e Lukes e, também, de pensadores contempo- raneos como Tonet, Lessa, Netto, Chasin ¢ Mészéros. Em suas reflexbes destaca, também, os limites do desenvolvimento do co- nhecimento numa abordagem gnosiolégica ou ontolégica metafi- sica, evidenciando que a ontologia critica, com cariter histérico- -social, supera as outras formas de conhecimento. No artigo “Alto 1é! Uma nova ordem € possivel: contri- buigées do materialismo histérico a pesquisa e as politicas em educagao”, Wellington Ferreira de Jesus discute a relevncia do método materialista hist6rico-dialético para a pesquisa em edu- cag, considerando que este se organiza, em suas origens, em tum proceso de longa elaboragio teérica, de um esforgo em que se unin a teoria, O autor esclarece a existéncia de um diferencial, em relago ao método em questo: os resultados obtidos se desti- nam A transformacdo da realidade ow A superagio de determinada realidade, acentuadamente marcada pela desigualdade estrutural, ‘0 modo de produgo capitalista. Para ele, é nesse contexto, em que a educagao, 2s politicas educacionais ¢ a escola assumem centralidade, que uma onda contra-hegeménica, embasada na produgo de pesquisas, estudos, trabalhos, avaliagbes ¢, de forma mais especifica, no campo da universidade, apresenta uma visto diferenciada. Em suas reflexdes 0 autor considera que na concep- ‘odo materialista hist6rico-dialética é possivel pensar a edueagdo, a escola ¢ os processos que se inter-relacionam nela ¢ com ela, a partir da propria dinémica da sociedade em que se vive. Todavia, acrescenta que, nesse nivel de compreensio, os limites nfo sto os da permanéncia e sim os da consciéneia para a transformagao. ‘A quarta ¢ ‘iltima parte do livro ~ “Materialismo histérico- -dialético: perspectivas de anélise na formagaio de professores € pOs-graduagao em educagfo” — apresenta uma natureza um tanto peculier em relaglo as demais. Isso se deve, sobretudo, a0 fato de os textos que a comptem revelarem duas abordagens com- plementares entre si—uma teérica e outra que, embora também, recorra A teoria, avanga para o campo da pritica, na medida em Apresentagio | 9 que discute resultados de pesquisas envolvendo o método privi- legiado no livro, Nesse sentido, o primeiro texto a ser apresen- tado é “A tradigdo do materialismo histérico-dialético na pro- dugo académica sobre professores”, e foi produzido por Ruth Catarina Cerqueira Ribeiro de Souza, Solange Martins Oliveira Magalhiies e Marly de Jesus Silveira. Nele as autoras descrevem ¢ analisam resultados de pesquisa interinstitucional realizada por uum grupo de investigadores vinculados a diversas universidades da Regitio Centro-Oeste do pafs, focalizando a produgio dos Programas de Pos-Graduacio em Educago dessas instituigdes em duas etapes: a primeira — série 1999 a 2005 — contemplou a leitura, andlise e sistematizagfo de 360 dissertag6es, produzidas nesse perfodo nos programas participantes, envolvendo o tema professores(as); a segunda — série 2006 a 2009 — contou com a anilise de 132 trabalhos dessa netureza. Ao buscar a questio do metodo nessas produgdes, as autoras partem da premissa de que no método materialista hist6rico-dialético, na relago sujeito- -objeto, os dois tém papel ativo na construgo do conhecimen- to. Com base nesse e em outros pressupostos do referido méto- do, explicitam e discutem como seu a busca € os resultados do estudo a partir de descritores eleitos, das seguintes caracteris- tices nos trabalhos examinados: abordagem do objeto na pers- pectiva histérica, a partir de suas origens; busca na histéria as, origens do problema, do todo e nfo de tudo; trabalho com os sujeitos tfpicos a serem pesquisados; apresentago do concreto pensado, evidenciando o objeto que estava oculto, o movims to dialético; utilizagdo de categorias marxistas para andlise — trabalho, alienagio, ideologia, classe social, contradigfo, nega- fo, totalidade, universalidade; articulaco teoria e pratica e sua denominagéo com praxis; apresentago dos dados, evidenciando seus nexos internos e contraditérios com a totalidade. No artigo intitulado “Andlises de préticas contra-hegemd- nicas na formagio de educadores: reflexdes a partir do curso de licenciatura em Educacdo do Campo”, Ménica Castagna Molina analisa 0 proceso formativo que integra a pesquisa realizada no ambito do Observatério da Educago da Coordenagio de Aperfeigoamento de Pessoal de Nivel Superior (Carrs), in tulada “Educagao do Campo e educagdo superior: uma endlise de priticas contra-hegeménicas na formago de profissionais 10 | Oméiodo aiolético na pesquisa em educagdo da educagio e das cincias agrérias nas Regides Centro-Oeste, Nordeste ¢ Norte”, desenvolvida em rede pelas seguintes ins- tituigdes: Universidade de Brasilia, Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal do Paré e Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pard. A partir das categorias de anélise do materialismo histérico-dialético, a autora pontua no artigo quais, concepebes teéricas e estratégias metodol6gicas materializam essas préticas contra-hegem@nicas na formagéo de educadores do campo, com énfase nas experiéncias formativas desenvolvi- das nas licenciaturas em Edueag#o do Campo da Universidade Federal do Sul ¢ Sudeste do Pard e da Universidade de Brasilia. Para tanto, busca sustentagfio para suas reflexes no pensamento de Antonio Gramsci, teérico que ressignificou um dos mais con- troversos debates do pensamento marxista, atribuindo novos sig- nificados a aspectos fundamentais da estrutura e da dindmica do ser Social, com énfase nas relagbes que envolvem a estrutura © a superestrutura. As quest6es que interessam ao texto relacionam- -se intrinsecamente com os debates sobre classe, Iuta de classes e consciéncia de classe, sendo neles buscada a compreensio sobre as'potencialidades das praticas contra-hegem6nicas de formago de educadores do campo em curso nas Teferidas licenciaturas. argumento principal para a reflexio sobre tais potencialida- des baseia-se no materialismo cultural, que considera as préti- cas educativas e culturais como forgas produtivas, oferecendo relevantes subsidios para ampliar a compreensto que considera a determinagdo da base sobre a superestrutura. Ao interpreti-las, como mutuamente determinantes, o marzismo cultural pée foco na relevancia dos processos educativos culturais para a trans- formagfo da sociedade, visto incidirem diretamente na forma- gio da compreensio de mundo dos sujeitos e, portanto, em sua praxis, : O texto seguinte é de autoria de Sonia Meire Santos Azevedo de Jesus, Solange Lacks ¢ Maria Gorete Bezerra Araijjo — “Problemas de pesquisa na pés-graduaco em educagio: ques- tes colocadas a partir da epistemologia materialista histérico- -dialética”. Nesse texto as autoras partem da premissa de que, no Brasil, a luta pela educagao piiblica de qualidade tem sido uma constante, uma vez que a crise da educagao é, na realidade, a crise da instituic#o piblica em meio a um processo violento de Apresentagdo | AN privatizago ¢ sujeigio dos processos de produgfo a interesses meramente econdmicos. Considerando que esse problema diz respeito tanto ao acesso, quanto ao contetido da educagio, re- fletem a respeito de construcio e produgo do conhecimento no Ambito da pés-graduagio stricto sensu (mestrado ¢ doutorado) em educaso, Ao problematizar o tema, asseveram que uma das quest6es centrais para avancar nesta discussdo consiste na anéli- se da base filosética a partir do materialismo hist6rico-dialético de Karl Marx como fundamento para a produgo do conhecimen- to. Com base nesse referencial critico analisam como determina- das orientagdes dos sistemas de aveliagao da produgao académi- ca acabam fazendo com que 0 conteiido fique esvaziado de sua significagio para atender aos referidos sistemas. Concluem as autoras que as exigéncias do sistema na pés-graduardo brasilei ra induzem a resultados pouco proveitosos para a transformagio da educagfo © da propria realidade das condigées educacionais brasileiras, portanto, em nosso entendimento, sem a menor im- porténcia cientifica Para finalizar esta parte e, consequentemente, 0 livro, José ‘Vieira de Sousa interpreta resultados de pesquisa que também teve como locus a pés-graduagio em educagto, sistematizados no artigo “Abordagens metodologicas no estudo de politicas educa- cionais: 0 caso do Programa de Pés-Graduagio em Educagfo da Universidade de Brasilia (2010-2012)”. Nesse texto o autor des- creye eanalisa os resultados de estudo sobre as perspectives meto- dolégicas adotadas em dissertagdes e teses defendidas no ambito da Linha de Pesquisa Politicas Publicas e Gestao da Educagéo do Programa de P6s-Graduagdo em Educagio da Universidade de Brasilia, no perfodo entre 2010 e 2012. Os resultados discutidos dizem respeito a leitura ¢ andlise de um conjunto de 27 trabalbos académioos defendidos nessa linha de pesquisa, no periodo men- cionado ~ 16 dissertagBes e 11 teses. A investigag&o relatada no artigo parte da premissa que a temtiética do método na pesquisa em educagio, especialmente no campo da politica e gesto, tem assu- mido um papel de destaque crescente nos tltimos anos. Todavia, em decorréncia de sua complexidade e abrangéncia, ela reflete diferentes pontos de vista sobre o que, por que, para que e como abordar esse campo e, em decorréncia, a respeito dos métodos para investigé-lo. Em suas argumentagdes, defende a importéncia 12 | Ométecio dialético na pesquisa em educagio enecessidade de compreender que a pesquisa ¢ apenas uma parte do processo de conhecer para modificar ou transforma. Partindo dessa premissa e da proposta de Sénchez Gamboa (2008), a0 propor trés abordagens metodolégicas da pesquisa — empirico- -analitica, hermenéutico-fenomenolégica ¢ critico-dialética — 0 artigo explicita as varias abordagens metodol}gicas utilizadas no conjunto de dissertagdes teses analisadas, no Ambito da politica, e gesto da educacao do referido Programa de Pés-Graduagio em Educag&o, no recorte temporal definido. Em sintese, os varios artigos reunidos no presente livro con- 1m & compreensiio da importéncia e necessidade de todo pes- quisador compreender e explicar determinada realidade concre- ta. Afinal, 20 fazer isso, & que o investigador poderd indicar, de ‘maneira concreta, algumas alternativas de ago para responder & problemética analisada. Para tanto, as discusses empreendidas pelos autores dos diversos artigos clegem como método o mate- rialismo histérico-dialético e é para a leitura deles que convide- mos vocé! Prof. Dr, José Vieira de Souse Docente do Programa de Pés-Graduapio ‘em Eduapio da Universidade de Brasilia (PPGE/UnB) Referéncias Frucorro, G. (2001). “O enfogue da dialética materialist histérica na ‘pesquisa edueacional” In: Fazenoa, I. (Org.). Metodologia da pesquisa educacional. 7. ed. Sto Paulo, Cortez. (Biblioteca da Educagfo, série 1 Escola, v. I), p. 71-90. Gar, B.A. (2002). 4 construgéo da pesquisa em educagao no Brasil. Brasfli, Plano. Manx K, (1996). “Teses sobre Feuerbach’” In: MARX, K. & ENGELS, F. A ideologia alemd. 10. ed. S40 Paulo, Hucitee. (1997). 0 método da economia politica. Trad, de Fausto Castilto, $0 Paulo, IFCHY Unicawe. (3° parte). Skncwez Gamaon (2008). Pesquisa em educagdo: métodas ¢ epistemologias. Chapec6, Argos. Parte I BASES DA DISCUSSAO DO METODO EM MARX 2 A QUESTAO DO METODO NA CONSTITUICAO DA TEORIA SOCIAL DE MArx* Epson Maceo Hunaaro™ Consideragées iniciais"* discussio do método naquelas que se convencionou cha- mar de ciéncias humanas ¢ sociais sempre carregou um alto grau de complexidade. Podemos identificar sua gé- nese, na modemnidade, nas elaboragdes de Descartes (1973) ¢, em seu desenvolvimento, desde o século XVII, até a presente data, quando se fizeram rolar muita tinta e muito esforgo intelectual de imimeros pensadores do ocidente. Em acordo com Lakécs,julgamos que ao final da claborasSo ds Grundrisse (1857/1858), Marx jé dispoe de seu conjunto de categorias com © qual empreenderd a elaboragéo de © ceptal. Assim, nossa andlise tratard de una selegdo de textos até 1857, eopecimenteaqueles que nos ajudam a entender a constitu da tora social de Marx. obvio que, na selegfo, alguns textos clissieos ficaram de fora, mas foram lids ¢ alimentaram & anilise (como soos casos do "Manifesto do Partido Comunista" edo "18 Bruméro"). “Professor da Faculdade de Educa Fisica da Universidade de Brasilia (FEF(UnB), vineulado 20 Programa de Pés-Graduagio em Edvcacfo Fisica. Douior em educa fsiea pela Universidade Estadual de Campinas (Uracan) emesreem servigo social pela Pontificia Universidade Cattica de Sio Paulo (PUC-SF), Coordena, em conjunto com o professor doutor Femando Mascarenhas, o Grupo de Pesquisa e FormaeSo Sociceritica em ucagGo Fisica, Esporte e Lazer (AvANT2). {Nas citegbes, os echos em negrto slo destaqus do autor, € os em iieo So do original (N. da E.) 16 | Ométodo dialésico na pesquisa em educagao A genese desse complexo debate coincide com 0 proceso de crise da ordem feudal e de suas representagbes mentais. Como se sabe, o feudalismo supunha uma visio teocéntrica de mundo na qual a verdade era pattim6nio de poucos ¢ um ato de revela- odo divina (Hetzer, s.d.). © pensamento modemo, desde sua génese (no Renascimento), iré se defrontar com tal visio teocéntrica ¢ re- conheceré que a verdade ¢ uma descoberta da razo e nfo uma revelag&o (Heute, s.d.). Aos seres humanos ¢ possivel a desco- berta racional da verdade. is a afirmago, ao mesmo tempo, do racionalismo ¢ do humanismo! Eis, do ponto de vista do pen- samento, a passagem do teocentrismo para 0 antropocentrismo! Tal reconhecimento dessa possibilidade de acesso a ver- dade pela razo humana coloca uma problemética a ser enfren- tada: como conhecer? A resposta a essa questio fundamentou imdmeras elaboragbes de carter metodolégico. Algumas delas frontalmente colidentes — vejamos, por exemplo, as elaboracbes empiristas de David Hume (1973) em confronto com as formula- «Ges cartesianas que julgam ser a experiéncia (a empiria) fonte de erro —mas todas, as suas maneiras, reafirmando o reconhecimen- to de que é a razHo humana que distingue 0 verdadeiro do falso. ‘Verse, portanto, como é complexa a discussdo sobre méto- 4o no pensamento ocidental — tanto do ponto de vista da grande- za do debate quanto do ponto de vista das polémicas envolvidas. Tal complexidade é ainda maior quando a empreitada intelectual tem por objeto a questo do método em Marx, por algumas ra- es que relacionamos a seguir: a) Marx, diferentemente de Descartes, de Weber ¢ de Durkheim, nfo escreveu um tratado sobre método. Poucas so as paginas, na obra de Marx, destinadas 4 discusséo metodolégica ~ algumas compostas com Engels na Ideologia alemd, em 1845/1846; outras so ‘encontradas em sua polémica com Proudhon na Miséria da filosofia, em 1847; outres pouces, mas significativas, na Introdugda de 1857; mais umas poucas péginas no “Prefiicio” e no “Posfécio” & segunda edigo de O capital (Huvaaro, 2008). 5 t ‘A questo do método na constitlgdo da teoria social de Marx | 17 ) Imimeros foram os tratamentos equivocados do pen- samento marxiano, seja por parte de seus préprios se- guidores, seja por parte de seus detratores. No campo daquilo que se convencionou chamar indevidamente de ‘marxismo — melhor seria “marxismos” ~é possivel que se identifiquem péssimas tradig6es que muito mais ser- viram para adulterar e falsificar 0 pensamento de Marx’. ©) A trajetéria e a recepco da obra de Marx foram, histo- ricamente, marcadas pela censura e pela repressto, pois se trata de uma obra vinculada a uma perspective revo- lucionéria. Sua correta interpretago sempre teve contra si as deformactes originadas pelas reagbes aos supostos teérico-metodologicos resultantes da elaboragéo mar- xiana. Sobre isso ¢ exemplar a brilhante observagio de Paulo Netto (2011, p. 10): “Durante o século XX, nas chamadas ‘sociedades democriticas’, ninguém teve seus direitos civis ou politicos limitados por ser durkheimia- no ou weberiano — mas milhares de homens e mulheres, cientistas sociais ou ndo, foram perseguidos, presos, tor- turados, desterrados ¢ até mesmo assassinados por se- rem marxistas”. €) Como resultado das transformagdes sociais recentes (Pauto Nero, 1996) — especialmente aquelas notadas no ambito politico - no debate das chamadas ciéncias Sociais ¢ humanas — impactado pelo fim do chamado so- cialismo realmente existente (Hosspaw, 1995) e, con- sequentemente, dos Estados Sociais -, Marx & tido por muitos como ultrapassado, como um pensador jé supera- do. Para esses muitos, o fim do socialismo representou, 20 mesmo tempo, o fim de Marx (Evanaz.ista, 1992). ©) Aambiéncia cultural e politica contemporiinea é avessa a impostagiio ontologica de Marx (Pauto Nerro, 2002). Para alguns autores que se denominam pés-modemos, 08 problemas contemporineos tém como raiz. a manei- ra modema de pensar (Wooo, 1999; Evanogusta, 1992; 1 Fugiria totalmente ao escopo desse texto, especialmente em sua introdugo, ‘a abordagem detalhada dessas tradigbes. 18 | Ométodo diatético na pesquisa em educaeao Huwcaro, 2001), ou seja, 0 projeto da modemidade e a razio dele derivada. Tal critica, como se sabe, peca por excessiva generalizagZo — uma vez que trata Marx € Comte da mesma forma, jé que so representantes da “totalitéria maneira moderna de pensar”, sem perceber que, na modemidade, € possivel identificar, ao menos, dois vieses: um instrumental ¢ outro revolucionério/ emancipador. Marx é, indiscutivelmente, herdeiro do vigs emancipador. ) Essa ambiéncia contemporinea acaba por trazer uma importante problemética: como o debate pés-modemo entifica a razio (Woop, 1999), desconsiderando a his- téria (“o problema da humanidade é a totalitaria razo moderna”), ele acaba reduzindo os homens a sua capa- cidade de saber e, assim, reduz-se fundamentalmente a discussao epistemolégica (0 que chamamos de “episte- mologismo”). Tal ambiéncia resiste a uma elaborago de cariz ontol6gico como a de Marx (pela ética de Lukcs). A demonstragao da complexidade do tema, na sintese con- signada, contextualiza o nosso ponto de partida, uma vez que ele € uma tentativa de enfrentamento 4 complexidade aludida e a suas resultantes. ‘Na contracorrente do “epistemologismo” reinante, nao tra- taremos a questio do método independentemente do “espirito” da obra de Marx. Nao hé, em Marx, um tratamento metodolégi- co auténomo. A compreensiio de seus poucos, mas riquissimos, apontamentos metodolégicos exigem, ao mesmo tempo, o enten- dimento do significado de sua obra (a que ela se destina), bem como o processo de sua constituicao. Nosso ponto de partida para a compreensto da obra mar- xian € 0 de que hé nela uma nova teoria social (Luxacs, 2007). Empreendendo uma critica & economia politica classica — a pri- meira elaboracdo de uma teoria social na modemidade ~, Marx acaba por constituir — numa trajetdria rica e acidentada — uma nova teoria social. ‘Tal compreensao supde que muito mais do que procedimen- tos légicos (uma nova epistemologia, um “paradigma” de aidli- se, um conjunto de conceitos ou um “método de abordagem”), A questo do método na consttuigdo da teoria social de Marz | 19 ‘Marx nos deixa como heranga uma compreensio tedrica sobre um determinado objeto de investigaco: a ordem burguesa — 0 modo de produgo capitalista. ‘Nessa ética, Marx tratou de investigar a génese, 0 desenvol- ‘vimento, a consolidagdo as crises da ardem burguesa (PauLo Nerro, 2011) ~ a organizag&o social que esté fundada no modo de produgio capitalista’. Claro que o fez de uma perspectiva ra- dicalmente distinta daquela da economia politica classica — tanto que nomeou a sua de Critica da economia politica. J4 que partimos do suposto de que a obra marxiana é a cons- tituigo de uma nova teoria social, cabe-nos explicitar o enten- dimento de teoria aqui consignado, Teoria ¢ a reprodugio ideal do movimento do real (Pauto Nerro, 2011). Isso significa uma. concepeao ontolégica de teoria, ou seja, nfio hd nada que se passe na consciéncia que no se tenha passado previamente na propria tealidade; assim, “reprodugdo ideal” significa a “reconstrugio”, no plano das ideias, de algo que se passou, anteriormente, na realidade. Porém, essa mesma realidade é compreendida como uma processualidade, como movimento, enfim, como vir a ser que carrega em si elementos de superago e de continuidade. A investigagao sobre o social no é, portanto, uma “fotografia”, um espelhamento do real. # nesse sentido que supomos a obra de Marx como uma teoria social, mais especificamente, como uma teoria social da ordem burguesa, Uma rica tentativa de compreensio de um de- terminads sujeito investigador a fim de aprender os determi- nantes constitutivos de certa organizago social ~ o capitalismo. Porétn, diferentemente de outros “‘teéricos do social” (entre eles, os economistas politicos cléssicos), com uma clara perspectiva politica: a subversdo dessa ordem social — a revolugai ‘Como partimos, aqui, do “ponto de chegada” sobre a re- flexio marxiana, ou seja, de que ela nos fez herdeiros de uma nova teoria social, cabe, entdo, recuperar 0 processo de consti- tuig&o desse “ponto de chegada”. Em outras palavras, devemos 2 Outros pesquisadores também se ocuparem dessa problemétice — ‘nfo no mesmo enfoque (como Durkheim e Weber, por exemple) -, ‘mas as diferengas estfo na perspectiva de enflise, na concepedo teérico- -metodolégica ena perspectva politica 20 | Ométodo dialético na pesquisa em educagéo recuperar seu processo de apreensto dos determinantes constitu: tivos do movimento de seu objeto de investigagio. ‘Trata-se, como veremos, de um processo ““inaugurado” em 1843, o qual, numa trajetéria “acidentada”, estaré consolidado em 1857/1858. Em 1843, Marx se pBe as voltas com o entendi- mento da relagdo entre Estado e sociedade civil, instigado por sua leitura da Filosofia do direito de Hegel, e percebe que o des- ‘vendamento dessa questio exigiria a compreensio do que ¢ a so- ciedade civil. De 1843 a 1857/1858, Mar se enfrentard com esse objeto até “concluir” 0 processo de aquisigio do “arsenal cate- gorial” necessario A sua compreensio. De 1857/1858 em diante, feremos a fase de maturidade intelectual de Marx, na qual sero consignadas/expostas as suas mais geniais descoberias. A década de 1860 ¢ sua fase mais produtiva, De meados da década de 1870 até o final de sua vida, sua produgo decaird. ‘Antes de recuperarmos esse processo a que nos referimos, cabe, ainda, uma titima observagio ~ que jé foi relativamente aludida: essa recuperagiio do processo de construgio da obra marxiana é absolutamente necesséria pela propria especificidade do autor. O entendimento dos fundamentos te6rico-metodol6gi- cos de Marx s6 é possivel em concomitincia com a apreensdo de sua andlise tedrica. Em sua obra, Marx no estabelece um trato metodolégico auténomo. A ele nfo interessava uma discussdo sobre as condigties para se conhecer (cpistemologia), interessa- ‘vaclhe muito mais as condigbes para entender um objeto deter- minado — a ordem burguesa. H4, portanto, uma subordinagao da preacupaciio epistemol6gica & impostacto ontolégica. A origem do problema de investigacio: a critica a Filosofia do direito de Hegel (1843) Fracassado seu projeto de se tomar professor université- rio — inviabilizado pela ascensio de Frederico Guilherme IV 20 poder, o qual, entre outras medidas, promoveu um processo de Vimpeza, na universidade de Berlim, das influéncias hegelianas (a que Marx se filiava intelectualmente) — hé que se buscar uma altemativa profissional, e Marx ingressa, assim, no jomalismo ‘Vai trabalhar na Gazeta Renana — um jornal financiado pela des- contente e frégil burguesia alema — ¢ rapidamente se torna seu A questo do método na constitulgao da teoria social de Marz | 21 redator-chefe. Uma vez no jornal, Marx passa a criticar Frederico Guilherme que, por sua vez, coloca problemas ao jomnaP. Em 1842, Frederico Guilherme impée um decreto impe- rial que toma a coleta de lenha ilegal e, portanto, criminalmente imputével. Essa coleta de lenha, por parte dos desvalidos, era um direito consnetudinério que compunha uma antiga tradigao. Conclusao: hé um forte movimento de resisténcia a essa medida, ehda, como jornalista que era, fica responsabilizado de noticiar o fato. Marx, entio, escreve um artigo com o objetivo de defender 0s coletores de lenha, porém percebe que a sua defesa carece de fundamentagio tedrico-politica. Ou seja, a sua formago em filosofia nao Ihe deu condigées teéricas para uma correta inter- pretagao dos acontecimentos. Sua defesa dos coletores de lenha deveu-se muito mais a prinefpios ético-humanistas i A débil burguesia alemf, financiadora do jomal, consegue, ent&o, 0 que pretendia com os ataques ao monarca (um acordo que Ihe beneficia) e corta as verbas que o sustentavam. Marx, assim como seus colegas de jomal, fica desempregado. * ‘Da experiéncia no jornal, Marx recebe algumas influéncias: (ele nota que a formagao de flésofo era insuficiente para lidar com a histéria em seu cotidiano processo de construgao ~ propria da atividade jomalistica; (ii) percebe a debilidade da burguesia alema e os conflitos de classes; (iii) tem seu primeiro contato com a politica e percebe que nfo ha como se reivindicar ética nesse campo Em virtude de suas insuficiéncias e de seu desemprego, em 1843, Marx decide seguir para o exilio, em Paris, a fim de estudar. Além dessa, outras duas razdes o motivaram. Uma dessas foi o convite de Ruge para, com ele, editar uma revista de refugiados alemées na Franga — os Anais Franco-dAlemées; a outra razZo € 0 fato de ser Paris (no pés-década de1830) uma espécie de micro- cosmo do mundo. Antes de seguir para a capitel francesa, casa- -8e, € passa algumas semanas em Kreuznach. Nessa cidade, em- preende estudos sobre a histéria da Revolugfio Francesa e sobre a 3 Hajume coletines que trazdoisinteressantes ert ois interessantes artigos esritos por Marx acer- 6 das problemas enfrentados com o monarca. Ess coeténes jé estédispo- nivel pra o leitor brasileiro em Marx (2006), 22 | Ométodo dielético na pesquisa em ediucagao moderna teoria politica (de Maquiavel a Rousseau). Na empreita- da, marcado pelos acontecimentos recentes e por sua preocupago com a realidade alem8, confronta-se com um texto de Hegel que aborda as relagBes entre a sociedade civil e o Estado. Trata-se de uma obra, de 1821, intitulada Filosofia do direito. ‘Mare considerava a Filosofia do direito de Hegel como a mais refinada expresso tebrica do Estado modemo e, portanto, para 0 jovem publicist criticar a obra equivalia a criticar a propria realidade que Ihe servia de referencia. Como Mars, contraria- mente a Hegel, desconhecia ainda a economia politica, estava desarmado para uma refutaco profunda das andlises do seu ad- versirio [FRapenico, 1995, p. 52). Para Hegel, a sociedade civil ¢ 0 “reino da miséria fisica ¢ moral”. A tinica possibilidade de ela vir a se tomar um espago racidnalmente organizado, segundo Hegel, € pela intervencao do Estado, o qual é entendido como principio racional organizador da sociedade civil. Para esse fldsofo alemfo, portanto, o Estado finda e organiza racionalmente a sociedade civil. Em 1843, Marx enfrentava a obra hegeliane ¢ fazia a ela {imimeras criticas, as quais, sob a influéncia de Feuerbach*, cons- tatavam que, na Filosofia do direito, Hegel empreendia com 0 Estado a mesma mistificagao, notada por Feuerbach, operada na Fenomenologia do espirito. Ou seja, na compreensio da relagio 4 B tal infludncia se referia & polémica de Feuerbach com Hegel que, su Cintamente, poderiamas assim representar: Hegel, na Fenomenologia do espirto,afimava que o dado primério era o espirito. Este entra em contra- igo consigo proprio edilacera-se, Nesse processo de autodilaceramento, spiro aliena-se e pe o mundo (sai de si mesmo). Confrontando-se com ‘0 mundo, esprit e mundo modificam-se, alteam-se, nogam-se origina riamente, reconciliam-se e insteuram uma nova realidade — 0 “espitito- mundo”. Tem-£, aqui, a Zamosa trade da dialética hegeliane: afirmagio, negaglo e negasto da nogasdo. Ludwig Feuerbach, em 1841, esereyeu uma obra intitalads A esséncia do crstianlemo, na qual, polemizando com essa interpretagio de Hegel, desenvolve uma concepslo de alienagio distnta da do velho flésofo, Segundo Feuerbach, nto foi Deus quem criow os homens (omundo) e sim os homens que, esconhecendo suas reais potencislidades, alienaramse numa figura ideal que & Deus (ou os deuses). Para ele, portan- to, Hegel opera uma mistificagto colocando o que & predicado como sueito ea que ésujeito como predicado, A questo do métedo na consttuigao da teora social de Marx | 23 entre o Estado ¢ a sociedade civil, Hegel, mais uma vez, invertia predicado © sujeito. Como vimos, para Hegel, o Estado funda a sociedade civil. Seguindo o “espirito” da critica de Feuerbach Hegel, Marx elege, entretanto, outro objeto: 0 Estado. , ‘Marx, contudo, elege como objeto a ser desmistificado nfo um produto da consciéncia, mas um ser material: 0 Estado, que sempre se faz acompanhar de uma pesada burocracia e de um truculento e ameacador aparelho repressivo. A critica da politica langou-o num territério destoante do onirismo que circunsere- via @ inflexdo feuerbachiana. A quimera da religifo, responsivel pelo exilio da esséncia humana no além, cede agora lugar a0 Estado politico, entendido como uma projegéo iluséria de um set material [FREDERICO, 1995, p. 56]. Embora inspirado em Feuerbach, Marx nao deixa de notar as limitag6es dessa fonte inspiradora. Para ele, a compreenstio feuerbachiana de Estado € muito complicada e representa até um. retrocesso se comparada & da Filosofia do aireito, Em uma carta a Ruge, datada de 13 de margo de 1843, Marx expressa sua reser- va com Feuerbach, José Paulo Netto (2004, p. 27) esclarece-nos a respeito dessa questo: ‘Mais flagrante ainda é a separaco que se verifica entre Marx e ‘sua “fonte” unanimemente mais citada, Feuerbach. Mencionei que @ leitura das Teses provisérias... provocou em Marx uma reagto muito positiva, expressa em carta a Ruge (13/3/1843). Entretanto, nessa missiva, ele escreve também: “Os aforismas de Feuerbach apenas no me persuadem [...] enquanto pouco referidos & politica”. A reserva no ¢ um detalhe ~ e adquire ‘seu peso real se voltamos os olhos para as escassas atengées que Feuerbach dediica ao Estado nas Teses provisdrias... Nelas, 0 Estado aparece como a “explicita, desenvolvida e realizada totalidade do ser humano”, com o soberano visto como 0 “re- presentante do homem universal”, ja que “deve representar in- distintamente todas as classes” que, em face dele, “slo todas ‘igualmente necessérias e possuem todas os mesmos direitos” (Feuennace, p. 67). Estas colocagdes mostram realmente, um re- ‘rocesso em comparagao com a Filosofia co diveito; no plano po- Iitico, Feuerbach continuava (como Marx haveria de esclarecer ‘posteriormente) encarcerado em concepedes que expressavam 24 | Ométodo dialético na pesquisa em educago os limites do seu materialismo, Se se diz, partanto, que a Citrica [eareferéncia, aqui, ¢ aos Menuscritos de Kreuznach] incorpora rmiito das temiéticas e ideias feuerbachianas, para que a afirma- ‘edo no redunde em equivoco & necessario dar realce, ao mesmo tempo, ao fato verificavel de que, no plano politico, ela é tam- 'bém uma polémica contra Feuerbach. ‘Apesar da critica, bé congruéncias. Marx, assim como Hegel, interpreta que a sociedade civil é o reino do privatismo, dos interesses particulares, da “miséria fisica e moral”, porém, diferentemente do que afirmava 0 velho fildsofo, é ela que fun- da o Estado. E a sociedade civil que permite a compreensiio do Estado, jé que este nada mais é que a expresso daquela. Ora, se Estado nada mais é que expresso da sociedade civil que 0 funda, nfo representa em absoluto a universalidade, o principio orgapizador do “reino da miséria fisica e moral”. ( resultado desse estudo foi a produgtio de um cader- no de anotagdes — que Marx no pretendia publicar, pois eram ‘Go somente anotagdes de estudo — 0s Manuscritos de 1843 ou Manuscritos de Kreuznach — publicados em 1927, com 0 titulo de Critica da filasofia do direito de Hegel. Contra a Filosofia do direito de Hegel, que The parecia uma armagiio légica mistificadora da vida social, Marx levantou-se com a impetuosidade de um jovem polemista recém-saido de ‘uma experincia jomalistica de luta contra o Estado prussiano. Os Manuscritos de Krewenach formam um momento ‘inico na hhst6ria da flosofia, momento em que um pensador ainda imata- ro enftentou, num combate decisivo, a obra de um flésofo con- sagrado, no seu momento de mais extremado conservedorismo [FReoenico, 1995, p. 52] Dessa atividade de estudos, dois ensinamentos foram tira- dos: 0 primeiro é 0 de que para entender o Estado faz-se ne- cessério entender a sociedade civil; o segundo diz respeito a0 esclarecimento, por Marx obtido, dos limites de uma aborda- gem filoséfica, ou de uma abordagem juridico-politica, para se entender 0 Estado. Eis os pontos revolucionérios dessa critica a Hegel. Eles apontam para uma refiexto historico-sistemética. Marx, ao empreender a critica & politica levando-a além das fron- teiras juridico-politicas, inicia uma critica & sociedade. Sinaliza i A questo do método na consttuigzo da teoria social de Marz | 25 uum transito da critica politica a critica da sociedade, embora este Ultimo néo seja, ainda, levado as tiltimas consequéncias. A visibilidade deste emengente processo tebrico-metodolégico & indiscutivel se nos ativermos ao principal niicleo problematico que Marx enfienta: a relagio Estado/sociedade civil. A Critica ni s6 “inverte” a explicagto genética proposta por Hegel, de- monstrando os artificios légicos que sustentam a construgio mistificada/mistificadora da Filosofia do direito. A “inversio” vai necessariamente acompanhada de uma nova compreensio daquela relacgo, que se apreende como nfo orgéinica e sim dia- ltica, com 0 Estado posto nao mais como mediacio universal dos interesses privados e gerais ¢ sim como instincia alienada da representagdo (também alienada) da contraposicfo privedo/pi- Dlico ~a autonomia que a Filasofia do direito confere ao Estado, a “esfera publica” como tal, é dissolvida pela remissio & vida social. E néo s6 no eixo tematico Estado/sociedade civil o men- cionado proceso € verifcavel: também o 6, decorrentemente, na critica & teoria hegeliana da representago, na funcionalidade da constituipdo, na concepgto de soberania e, marcantemente, na detecgdo das relagbes entre propriedade, trabalho e cidadania, Em todos esses passos, como na concepedo de democracia que toda a Critiea exsuda, 0 politico remete ao social {Pauto Nerro, 2004, p. 29-30} Temos, como se vé, jé na Critica de 1843 o primeiro passo de Marx rumo a teoria social. Nela j4 est manifesta sua preocu- pagdo fundamental: a compreensio das relagbes sociais consti- tutivas do Estado, Sobre isso, conclui Paulo Netto (2004, p. 30): A originalidade do manuscrito de 1843, nessa linha interpretati- ‘va, reside no giro que ele documenta: Marx transcende 0 limites da critica anti-hegeliana ao encaminhar a sua resolusio para fora do politico, ao impeli-la para o dominio do social. A critica do Estado~e da sua representagdo filoséfica abstrata—€ hipotecada A critica da sociedade civil (burguesa). Marx est encontrando, ‘aqui, @ ponta daquele “fio condutor” a que permanecerd aferrado até seus tltimos dias. Desdobra-se dal, para Marx, um problema investigativo: se é a sociedade civil que funda o' Estado, o conhecimento deste 26 | Ométodo dialético na pesquisa em educagdo liltimo demanda o conhecimento da primeira. Mas como conhe- cer a sociedade civil? Como compreender o “reino da miséria fi- sica e moral”? Sobre isso, Mart ainda nfo possuia pistas s6lidas. Ele sé as encontrard, em 1844, no autoexilio em Paris. Acvolugao parisiense — da emancipagao politica & emancipacdo humana como tarefa do proletariado No final de novembro de 1843, Marx chega a Paris, e, de- pois de instalado, dedica-se & publicagio da revista a qual/havia sido convidado a editar com Ruge: 08 Anais Franco-dleméies. ‘Na edigo da revista, toma contato com um artigo de um jovem alemdo que residia em Manchester, na Inglaterra, Trata-se de Engels que, desde 1842, estava na Inglaterra para cuidar da in- dastrja do pai e, j& na sua chegada a Manchester, havia se ligado 20 movimento operdrio inglés. ‘Ao ler o artigo* por ele enviado, Marx ficou impactado com o texto, Na verdade, tratou-se de uma influéncia decisiva em sua trajet6ria. Tratava-se de um artigo no qual Engels percebia que a economia politica inglesa representava a racionalizagao de classe a burguesia acerca da dinmica da ordem capitalista. Vinte anos depois da primeira leitura, Marx (1977, p. 25) referiu-se a esse artigo como um “genial esbogo”. fF Em Paris, portanto, Marx rapidamente recebe influéncias decisivas: a primeira delas foi a de Engels¢, que Ihe “abriu a por- 5 ates dono "Esbogo de uma crc da coin?” he cone tran volume 1 a Coleto Grades Cetin Sols da editor Aca, {B8L Tal youme sore Engl fl organi por les Palo Neto, 6 Ainfutnla de Engels sobre o ensamento de Mane ua propia mporta- Staines nm tl even pt bse ‘Appa modisa de Bagel, qua sewer como o Seg Go vilino, aver tena jad fvoreer a beatimapo de sa rod fo intletua, ate cuts fos qu poeiam x lemimados, qumos Som ois gue ize seapetodtanente a Mae opine cotta com t eeonomia police devas einra do "esbogo pena a leiranga Ge que fi Bngls quam edit osvolunes 1 em 1885) em 1895) de capt Also ez nos de iferenga ete x edo 0 capt pare © capla devense ao estado em que ve ecortava © materia ge Pagl treaer, A questtio do método na consttuigdo da teavia social de Mars | 27 ta” para a economia politica, mas, no exilio parisiense, também tomaré contato com o pensamento socialista francés em razio de sua aproximagdo com as associagées de trabalhadores (movi- ‘mento operério). Nesse contato, Marx teve acesso a classicos da tradicéo so- cialista’, especialmente, aos escritos de Blanqui. Alem disso, nas associagSes operdrias, conheceu um mundo em que a fraternida- de era uma possibilidade real. Com isso, em Paris, Marx se toma comunista, Nesse proceso, jé ¢ um pensador muito diferente daquele de 1841/1842. Trata-se, agora, de um intelectual que fez escolhia or uma determinada perspectiva politica e, ao mesmo tempo, ‘vineulou essa perspectiva a um problema teérico: a compreenstio da sociedade civil burguesa. Porém, pela infiuencia de Engels, jé esté em posse de uma chave heuristica: a economia politica. Cerca de seis meses apés a redagdo dos Mamuscritos de Kreuznach, en- contramos um Marx com alguns avangos em relacio a resolugdo do problema que havia se posto em 1843, Paraa edigo dos Anais Franco-Alemdes, preparou dois arti- 0s que sinalizam esses “ganhos”intelectuais. Sao eles:““A questo Judaica” e “Critica da filosofia do direito de Hegel - introdugo”. No primeiro texto ~ “A questo judaica” ~ Marx polemiza com Bruno Bauer acerca da questio dos judeus na Alemanha, os quais, nessa quadra histérica, por no aceitarem a religio de Estado, nfo desfrutavam de direitos politicos. Bauer, ao tema- tizar 0 assunto, aborda a questo de modo idealista, religioso ¢ teolégico. Para ele, ninguém na Alemanha era emancipado poli- ticaiente e isso decorria do caréter religioso do Estado. Segundo ‘Bauer, os judeus no percebiam que a condigo de sua emanci- aco estava debitada & condigfo de emancipagio do Estado em relagdo & religido, Nao haveria, nessa l6gice, possibilidade de romper o preconceito religioso com o judeu, pois ele mesmo —o judeu — para se emancipar, deveria abrir mao de sua religitio. Em sintese, a emancipagio politica seria a emancipagio do Estado em relago a qualquer religigo. 7 Ressalte-se, aqui, a inspirapdo socialist, pois é sabido que o movimento sosislista nfo coincide imediatamente com o mavimento operéto, Este timo, indiscutivelmente, & mais amplo da que a tradigdo socialist,

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