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Práticas de Gestão em Saúde Da Pessoa Idosa
Práticas de Gestão em Saúde Da Pessoa Idosa
NOSSA HISTÓRIA
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Faculdade de Minas
Sumário
PRÁTICAS DE GESTÃO EM SAÚDE DA PESSOA IDOSA ........................... 1
1 – INTRODUÇÃO........................................................................................... 4
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 28
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1 – INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população é um dos maiores triunfos da humanidade e
também um dos nossos grandes desafios. Em todo o mundo, a proporção de pessoas
com 60 anos ou mais está crescendo rapidamente em comparação com outras faixas
etárias. Em 2025, a previsão é que existirão aproximadamente 1,2 bilhões de pessoas
com mais de 60 anos no mundo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 a
população de idosos era de 20.590.599, correspondente a 10,8% da população
brasileira. Estima se que em 2025 o Brasil representará cerca de 32 milhões de
pessoas com 60 anos ou mais. Em 2050 a população idosa alcançará 22,71% da
população total. Um país já é considerado “velho” quando 7% da população é
constituída por idosos.
Dados mostram que são necessários investimentos na promoção da
autonomia e da vida saudável dos idosos, assim como prover planejamento, logística
para uma atenção adequada às suas necessidades.
Envelhecer não significa estar ou ser doente. Mas significa que cuidados
diferenciados devem ser oferecidos a essa população. Pois chegar à velhice remete
às mudanças, que podem ser isoladas ou não. Sabe-se que o envelhecimento
saudável e com qualidade, depende de inúmeros fatores, como por exemplo, sexo,
genética, estilo de vida, alimentação, prática de atividade física.
Esse é um ponto primordial, pois muitos profissionais da saúde acreditam que
envelhecer, sempre deve estar atrelado às doenças e ou limitações e como
consequência esses profissionais não conseguem ampliar o olhar pensando na
prevenção e promoção à saúde para essa população. Para a Saúde Pública, o
envelhecimento tem se apresentado como um grande desafio. As mudanças na
pirâmide populacional, que vai alargando seu ápice numa média de 2,5% de
crescimento anual, geram preocupações para o sistema de saúde, porque mesmo
sem ter solucionado os problemas sanitários relativos à infância, à adolescência e
aos trabalhadores, terão de se equipar para dar respostas eficientes relativas à
prevenção de enfermidades e à atenção aos idosos.
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vida, à liberdade, à igualdade e, também ao pleno desenvolvimento da personalidade
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são alguns exemplos desses direitos. Todas as pessoas devem ter
asseguradas desde o seu nascimento e durante toda a sua vida, as mínimas
condições necessárias para viver com dignidade. Pessoas idosas e seus cuidadores
estão também protegidos pelos direitos humanos. As necessidades básicas das
pessoas idosas e dos seus cuidadores devem ser atendidas para que o direito à vida
possa ser respeitado. A vida é um direito humano fundamental, assim como
envelhecer com dignidade é um direito humano fundamental.
Na Constituição brasileira de 88 estão reafirmados os direitos humanos. A
Constituição Federal dá uma forte ênfase aos direitos humanos. Ela é a mais
avançada em matéria de direitos individuais e sociais na história do Brasil. Por isso,
foi denominada e Constituição Cidadã. O Estatuto do Idoso promulgado em 2003,
bem depois da Constituição Federal, também reafirma os direitos humanos (Ver
capítulo OS DIREITOS DA PESSOA IDOSA NA LEGISLAÇÃO).
Destacamos estes artigos do estatuto: Art. 2º. “O idoso goza de todos os
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana...” Art. 10. “É obrigação do Estado
e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como
pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos
na Constituição e nas leis.”
Vivemos num estado democrático. Isso quer dizer que o Brasil é um país onde
a democracia é a forma de organização social e política. Portanto, todas as pessoas
devem ser tratadas em situação de igualdade. É isso que nos diz a Constituição
Federal “todos são iguais perante a lei”.
Um dos papeis que o estado democrático deve desenvolver é o planejamento
e execução das políticas públicas. Elas nada mais são do que as ações que o governo
realiza com a finalidade de atender aos interesses e necessidades dos cidadãos. Ou
em outras palavras: As políticas públicas são as decisões de governo em diversas
áreas (saúde, habitação, assistência social, educação, transporte etc) que
influenciam a vida de um conjunto de cidadãos.
Para que as políticas públicas sejam efetivas e possam alcançar os resultados
esperados, elas devem contar com a participação dos cidadãos, inclusive fiscalizando
a sua realização. A participação das pessoas nos negócios do Estado é uma forma
de exercer a cidadania. Isso é muito importante e é um mecanismo reconhecido nos
estados democráticos.
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As políticas públicas surgem muitas vezes provocadas pelos cidadãos que
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sentem a necessidade de algum serviço especifico ou da falta de solução para
problemas que estão passando. A sociedade civil, por meio das suas mais diversas
organizações, pressiona o estado para ofertar uma política pública. Um exemplo disso
foi o “movimento das mães trabalhadoras” que pressionaram os governos para a
instalação das creches. Hoje, as creches são equipamentos de educação para as
crianças e espaços seguros onde as mães que trabalham foram podem deixar seus
filhos. As creches fazem parte das políticas públicas de educação e também atendem
as necessidades sociais de mães trabalhadoras.
O envelhecimento populacional é um fato real em nossa sociedade. Lembro
que envelhecer não é problema. O envelhecimento deve ser entendido como triunfo
e uma grande conquista da humanidade. Já acrescentamos mais anos à nossa
existência. Está faltando dar dignidade a esses anos que foram ganhos. Precisamos
juntar esforços coletivos para que as pessoas que alcançaram mais anos nas suas
vidas possam viver em condições de dignidade, respeito e solidariedade.
Muitas pessoas idosas necessitam de cuidados para continuar a viver em suas
casas e na comunidade onde estão inseridos. A família mudou muito nas últimas
décadas. Um fator importante e decisivo para a mudança da estrutura familiar foi o
fato da mulher, tradicional cuidadora, sair de casa para trabalhar. Outro fato também
a ser considerado, é a redução do número de filhos das famílias brasileiras. Hoje em
dia, a média de filhos por família é apenas dois. Esses e outros fatores estão exigindo
da sociedade vários rearranjos na responsabilidade de quem cuida da pessoa idosa
que precisa ser ajudada. Hoje, o cuidador ou cuidadora de idosos já é uma pessoa
ou profissional bem conhecida das nossas famílias e da sociedade moderna. No
passado, esta pessoa ou profissional era inexistente ou desconhecida. Com o
aumento do número de pessoas idosas dependentes (fisicamente), esta função está
sendo cada vez mais requisitada pelas pessoas idosas e pelas famílias.
Chegou o momento do Poder Público também se responsabilizar pelos
cuidados da pessoa idosa que necessita deles por períodos prolongados ou curtos.
A mobilização do segmento idoso por meio dos conselhos, fóruns, associações e
outras formas de organização estão pressionando os governos para a oferta de uma
política pública que proporcione os serviços de cuidador de idosos. Esta é uma
necessidade urgentíssima!
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O Estatuto do Idoso no artigo 3º diz que é obrigação da família, da comunidade,
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da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a
efetivação dos seus direitos. É preciso estruturar serviços públicos no campo da
saúde, da assistência social e dos direitos humanos para suprir a necessidade desse
grupo de idosos, chamados de vulneráveis, dependentes, frágeis ou em situação de
fragilidade.
É preciso criar novas formas de articulação em rede, oferecendo o cuidador
formal para as famílias que dele necessitarem. Pode ser até mesmo para dar um
“respiro” às famílias nos finais de semana, noites e etc. Para que isso ocorra é
necessário conceber e organizar, do ponto de vista das políticas públicas, ações
eficientes e eficazes.
Na cidade de São Paulo, a Prefeitura Municipal, desde o ano de 2004
desenvolve o Projeto Acompanhante de Idosos/Anjos Urbanos. Trata-se de uma
política pública que oferece uma profissional (mulher) para exercer as atividades de
acompanhante e cuidadora na casa de pessoas idosas que moram sozinhas ou não
têm a presença constante dos seus familiares. É um projeto inovador, pois demonstra
a responsabilidade do Poder Público na provisão dos cuidados aos seus cidadãos. A
supervisão do trabalho é feita pela equipe de saúde da unidade básica, da Estratégia
Saúde da Família ou pela Unidade de Referência de Saúde do Idoso.
O Projeto é muito bem avaliado pelas pessoas idosas que dele se utilizam e
pela comunidade onde as acompanhantes de idosos estão inseridas. Várias
instituições já avaliaram o projeto como sendo uma experiência exitosa na temática
do envelhecimento. Vários desafios se apresentam ao Projeto Acompanhante de
Idosos/Anjos Urbanos. Talvez, o maior deles seja a sua universalização na cidade de
São Paulo, chegando a todos as pessoas idosas que dele necessitarem. Entretanto,
ele já aponta para várias possibilidades. Uma delas refere-se ao fato de que em outros
municípios a experiência pode ser repetida. Precisa para tanto da vontade política e
da mobilização da comunidade local para que famílias e pessoas idosas possam ser
atendidas na sua integralidade.
Os Direitos Humanos e o respeito não envelhecem! Viver mais vem
acompanhado de muitos desafios. Ao se viver mais, espera-se que a dignidade, o
respeito e condições favoráveis sejam também incorporados à vida cotidiana das
pessoas idosas. A integralidade do cuidado requer do poder público, a organização
de serviços e, sobretudo, a oferta de políticas públicas eficientes para consolidar a
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prática de proteção e respeito aos direitos humanos dos cidadãos idosos. Cuidador
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de idoso e direitos humanos estão na mesma relação de fazer cuidado para pessoas
idosas.
Por fim, queremos ressaltar o fato de que em 2008 estamos comemorando 60
anos da Declaração dos Direitos Humanos. Isso é um fato para ser celebrado por
toda a sociedade. As pessoas idosas têm direito a ter direitos. Quem precisa de
cuidados deve ter garantido esse direito.
Sugestão para leituras:
• Estatuto do Idoso. Lei nº 10.741 de 1º de Outubro de 2003.
• Constituição da República Federativa do Brasil. 01 de Outubro de 1988.
• Declaração Universal dos Direitos do Homem. ONU. 10 de Dezembro de 1948.
• Cartilha de Direitos Humanos para a Educação Básica – Acesso em: http://
www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/a_pdf/cartilha_ma_direitos_humanos.pdf
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saúde e cidadania. São eixos temáticos: a dimensão positiva da saúde, a prevenção
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e o controle de doenças e agravos comuns, os direitos sociais dos idosos. A pretensão
é que tais eixos possam ser estratégicos na capacitação e na promoção da autonomia
dos idosos para neles potencializar a condição de sujeito político na luta pela
dignidade do envelhecer.
Considerando que a dimensão educativa é transversal às relações
assistenciais na saúde, a referência de atuação assumida pela Educação Popular
volta-se não apenas para ações propriamente educativas ou coletivas, mas sugere
uma redefinição da postura dos profissionais na relação com a população usuária.
Seja na rotina de atendimentos ou de grupos com idosos, o sentido educativo
sugerido como consonante ao ideário da promoção da saúde requer que as práticas
possam lidar de forma problematizadora e cuidadosa com as informações e o
autocuidado em saúde, buscando articulá-los ao coletivo e à participação. Em certa
medida, isto pode ser o diferencial para que as práticas não se encerrem no que
Carvalho (2004) apontou como empowerment psicológico, ou senso de controle sobre
a própria vida encerrado na autoestima e em estratégias de solidariedade, mas que,
incorporando esta experiência, avancem ao empowerment comunitário, ou
qualificação da ação política dos indivíduos e coletivos para intervenção sobre a
realidade, também em nível macroestrutural. Nessa vertente, cabem algumas
reflexões sobre autocuidado e participação.
a) Autocuidado em saúde: o sujeito além do risco no marco da promoção da saúde,
autocuidado tem sido compreendido como dimensão individual não dissociada do
contexto social e como medida de autonomia e menor dependência do sistema
médico e de cuidados (DOWNIE et al., 1997).
No trabalho de Kickbusch (1996b, p.238), autocuidado é entendido como “o
conjunto de medidas que tomam as pessoas para melhorar sua própria saúde e bem-
estar no seio de suas atividades cotidianas.” Para a autora, autocuidado deve ser
visto como comportamento social ativo dentro de uma nova perspectiva de saúde
pública. Refere-se à adição de competência e habilidade do ser humano, como parte
de um “projeto social” que tem como marco a investigação sobre estilos de vida
baseada no contexto e no significado e não na responsabilização individual.
Segundo Derntl (1996), o autocuidado é uma estratégia fundamental da
promoção da saúde e deve ser visto como uma das formas de expressão da
autonomia. A autora retoma o sentido ético de autonomia como capacidade de
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autogoverno do indivíduo e alerta para sua apropriação restrita na área gerontológica,
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como equivalente à manutenção da capacidade funcional. Na concepção da
promoção da saúde, “[...] o idoso deve decidir livremente seu estilo de vida e este
padrão não é, necessariamente, aquele concebido pelos profissionais de saúde”
(DERNTL, 1996, p.198). O papel da equipe é informar, orientar, apresentar
alternativas e assistir.
No que tange à informação, cabe pontuar seu valor como princípio ético
habitualmente negligenciado na cultura hegemônica dos serviços de saúde. Bem
cuidada, a informação facilita o estabelecimento de vínculo de confiança a partir do
qual as pessoas possam ampliar seus recursos para compreender e atuar nas
questões de saúde. Isso é especialmente importante na velhice pelo maior
requerimento do autocuidado na monitoração de doenças crônicas, tão necessária
quanto comum nessa fase.
Por outro lado, o trato da informação deve se pautar numa visão
contextualizada do conhecimento científico, consciente de seus limites e
historicidade. A acentuada polaridade na saúde entre saber técnico e saber popular,
como se a verdade estivesse sempre no primeiro pólo e os erros, mitos e tabus no
segundo, deve ser relativizada na busca de uma interação dialógica entre os
diferentes saberes, em seus méritos e limitações.
A experiência e os conhecimentos que informam a vida prática das pessoas
são base para a abordagem educativa, cujo eixo metodológico deve ser criar
contextos de intercomunicação favoráveis à expressão e à reflexão sobre como as
pessoas lidam com a saúde/doença, as dificuldades que enfrentam e as estratégias
correspondentes diante das adversidades do contexto social. Este reconhecimento
do outro é ingrediente no processo de reforço da autoestima das pessoas, dimensão
desejada tanto para repercussões no nível individual (autocuidado em saúde), como
coletivo (participação social e política). O cuidado de si depende, em alguma medida,
da auto valorização de cada pessoa como ser singular e como
cidadão. Aqui, igualmente, em se tratando de população idosa sobre a qual recaem
estigmas e preconceitos socioculturais bem enraizados, o reforço da autoestima
configura-se como estratégia essencial do trabalho, potencialmente capaz de reagir
a estes mesmos preconceitos e contribuir para alterar progressivamente o imaginário
social de velhice.
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Cabe destacar que o controle de patologias como um componente na
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promoção do envelhecimento ativo pode significar também, mas não se reduz, à
adesão a tratamentos médicos e remédios. Autocuidado deve ser visto
primordialmente em seu potencial de desmedicalização, de recriação das
necessidades de saúde e de expansão das possibilidades de resposta a elas remetida
à vida e não apenas aos serviços. Por essa razão, as temáticas abordadas nas ações
educativas devem ir além das doenças e fatores de risco. Envelhecimento,
sexualidade, lazer, relações familiares, direitos sociais dos idosos, assim como
inúmeras outras que expressem necessidades e interesses da população com a qual
se trabalha, são dimensões do viver que devem ser trazidas ao debate.
A concepção mais ampla da saúde impõe também a consideração sobre
valores que influenciam a forma como os idosos encaram a vida, a morte e o
envelhecimento, crucial na maneira como podem e desejam se relacionar com
prevenção e autocuidado. Nas reflexões de Ayres (2000, p.5), depreende-se que a
abordagem da prevenção deve se ampliar na direção do cuidado e do exercício
dialógico sobre “o que sonhamos para a vida, para o bem viver”. De forma similar se
encaminha a contundente crítica que Buchanan (2000, p.135) faz da forte marca
positivista que orienta a promoção da saúde e as práticas educativas no contexto dos
Estados Unidos. Para ele, resumidamente, ações e pesquisa nessas áreas devem
abarcar mais amplamente a noção de bem-estar, o qual não é resultante direto da
eliminação de fatores de risco, mas de viver uma vida de integridade, definida como
“processo de atualizar um modo integrado de perceber e agir”. Nessa direção, o autor
defende a utilização de estratégias metodológicas alternativas que promovam o
exercício da razão prática na sociedade civil, ou seja, que incorporem a reflexão sobre
o bem e os propósitos das ações e não somente a busca da verdade,
central na razão científica. Dúvidas do tipo “Por que viver mais se não há alguma
coisa valorosa para viver? Por que deveria eu desistir dos meus pequenos prazeres
agora?” (BUCHANAN, 2000, p.108) são exemplos de disposições pessoais em que
podem esbarrar uma abordagem restrita à informação sobre riscos.
Do exposto ressalta-se a oportunidade de se estabelecer bases mais fecundas
à comunicação nas práticas de saúde e de se reconhecer nelas os sujeitos. Isto
importa não apenas pela importância de valores e disposições internas no
autocuidado em saúde, mas também para trazer ao debate questões sociais, políticas
e econômicas que interpõem-se como barreiras ou dificuldades nesse processo. Este
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pode ser também um campo fértil para se chamar atenção para as necessidades
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sociais de saúde e a questão da participação.
b) Participação política: exercício e desafio
A participação popular como estratégia para interferência sobre determinantes
da saúde que escapam ao comportamento individual tem centralidade no discurso da
promoção da saúde e é apontada como caminho na construção de políticas públicas
e ambientes favoráveis à saúde.
Tal como outros conceitos ambíguos em promoção da saúde, a participação
popular pode ser apreendida sob diferentes perspectivas e significar somente
aderência a programas institucionais e governamentais, sem assumir caráter
transformador (VALLA, 1998). Na linha de uma ação política qualificada capaz de
interferência concreta na realidade, constitui núcleo do conceito de “empowerment
comunitário”, relacionado ao desenvolvimento crítico de indivíduos e grupos para
maior controle sobre a vida em termos pessoais e coletivos (CARVALHO, 2004).
Como apontam vários autores, o aumento da proporção de idosos no mundo
suscita a questão de sua inserção em processos coletivos de defesa dos direitos de
cidadania (QUEIRÓZ, 1999; DONATO; CANOAS, 1997; SPOZATI, 1999). Os idosos
representam uma força proeminente na sociedade e devem ser vistos como cidadãos
de pleno direito e não, sobretudo, como vulneráveis.
Avanços nesta direção podem ser vislumbrados no nível do associativismo
promovido nos espaços de sociabilidade destinados aos idosos. Na avaliação do
projeto de promoção da saúde do NAI/UnATI, foi sugerido que ganhos em
informação, autocuidado e apoio social, embora não tenham alcance imediato para
interferir nas macro-estruturas, podem contribuir no fomento da participação popular
e do controle social sobre as políticas públicas (ASSIS, 2004). O envolvimento dos
idosos em grupos que estimulem a autoconfiança, os vínculos sociais e o
investimento construtivo na vida é um passo necessário, ainda que não decisivo, na
contramão do individualismo e descrença que marca o cenário político brasileiro.
Argumentação similar é sustentada por ROCHA et al. (2002) ao analisarem a
participação crescente de mulheres idosas em grupos de convivência. Os autores
constatam que essa experiência ainda não se traduz como “caixa de ressonância para
a criação de questões públicas”, capaz de produzir efeitos sobre a política, mas
sustentam que: “[...] a ocupação crescente de espaços públicos por mulheres, na
chamada terceira idade, é uma forma de ampliar a sua subjetividade e que a
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dimensão política emancipatória desse processo tem início exatamente a partir dessa
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premissa”.
A inserção de idosos em atividades sociais tem sido reconhecida como valiosa
para a qualidade de vida deste segmento, com repercussões positivas na saúde. Mas
como os idosos percebem a necessidade de se organizarem politicamente? Além do
movimento dos aposentados que alcançou repercussão no país, e da mobilização na
revisão constitucional de 1988, que outras questões os mobilizam a participar de
processos coletivos pela efetivação dos direitos sociais? Quais suas disponibilidades,
possibilidades e limites quanto à participação? Se, por um lado, a avaliação da
experiência citada sugere que os idosos expressam um particular desencanto com a
política e a vida pública, de outro mostra igualmente a indignação deles por tudo
aquilo que deveria, mas não se viabiliza como direito para o conjunto da população
(ASSIS, 2004). Mesmo admitindo dificuldades neste campo, é possível ponderar que
podem ser facilitadores na inserção dos idosos em processos organizativos não só o
tempo, em geral mais livre, como os ganhos em termos de transcendência que o
exercício da solidariedade e da luta por um bem comum pode representar na história
de vida de cada um, resignificando positivamente a vivência da velhice.
Os desdobramentos nesta direção podem ser melhor conhecidos na medida
em que experiências forem avaliadas. Independente dos resultados, vale destacar de
antemão a relevância das ações educativas em saúde serem orientadas para
promover o exercício da participação democrática, abrindo as instituições e o espaço
assistencial ao debate público sobre saúde e qualidade de vida na ótica de uma visão
problematizadora da realidade, comprometida com equidade e justiça social.
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No entanto, como indica a pesquisa realizada por Cohn et al., a falta de
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familiaridade dos gestores municipais com os sistemas de informação em saúde e a
falta de conhecimento para manipular e analisar os dados disponíveis impedem que
a análise periódica da situação de saúde sirva de insumo para a elaboração e o
acompanhamento de planos e programas de saúde. Desta forma, a aproximação
entre os gestores de saúde e os sistemas de informações configura-se fator
importante para que indicadores de saúde sejam incorporados no processo de
decisão.
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utilização apropriada dos recursos públicos, desestimular o uso inadequado de
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procedimentos, serviços e tecnologias e promover a prestação de serviços de saúde
com maior eficiência, eficácia e equidade.
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decisão na formulação de novas políticas públicas. O uso de indicadores adequados
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agiliza o processo de tomada de decisões, torná-lo mais transparente e eficaz e
reduzir o esforço na obtenção de informações. Por fim, a existência de indicadores
selecionados para o acompanhamento de programas de saúde permite que as
instituições da sociedade civil supervisionem a ação do Estado na promoção da saúde
do idoso.
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3. os sistemas de apoio, que prestam serviços aos pontos da rede no que se refere
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ao diagnóstico e apoio terapêutico;
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agravos, e atenção domiciliar; enquanto Barcelona possui na atenção primária em
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saúde ações clínicas, em detrimento daquelas ligadas a um olhar mais coletivo.
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6) cuidados hospitalares, incluindo a prevenção e o gerenciamento do delirium,
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estado confusional agudo agenciado por drogas e enfermidades, e o cuidado
hospitalar amplo, incluindo uma equipe interdisciplinar e sob a supervisão do
profissional clínico geriatra.
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impacto das intervenções medicamentosas e psicossociais para a saúde física e
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mental dos idosos, maximizando o potencial de desenvolvimento associado a velhice;
5) a valorização do idoso como protagonista de seu processo de saúde e doença,
propiciando com que formas singulares de gerir, agir e atuar na sociedade possam
trazer respostas para diferentes setores da vida (Alkema & Alley, 2006; Canineu et al.
2009; Lodovici & Mercadante, 2010).
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Conforme Castiel e Alvarez-Dardet (2007), os países cuja distribuição de renda
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se caracteriza por forte desigualdade, como é o caso do Brasil, apresentam graves
"patologias sociais" que produzem corpos frágeis, enfermos e vulneráveis. Adotar
especificamente a prática de exercícios físicos como principal estratégia para a
promoção de um envelhecimento saudável, é buscar instituir um paradigma por
demais reducionista e de exacerbada responsabilização pessoal para a questão da
saúde da população idosa brasileira.
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REFERÊNCIAS
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