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SINOPSE

Eu sou uma prisioneira em um mundo de prestígio.


Uma princesa perfeita trancada em uma torre.
Meu pai nunca vai me deixar ir.
Não que eu pudesse sair. Eu nunca abandonaria minha irmãzinha. A
esperança vem na forma de um homem diabolicamente bonito com olhos
escuros e segredos mais sombrios.
A cada encontro, sou atraída mais fundo no labirinto. O perigo à espreita
sob sua superfície me chama, mesmo quando me avisa.
Exceto que há um novo lado dele toda vez que nos encontramos. Um perigo
diferente cada vez que nos tocamos. É como se três homens diferentes
quisessem me devorar.
Ele não é apenas um vilão. Ele é três.
CAPÍTULO UM
LANDRY

Minha vida é perfeita.


Tem que ser porque ele projetou assim.
Eu sou apenas uma parte brilhante no mundo Croft – brilhando como
ouro lapidado para todos verem.
E eles vão.
É por isso que eu existo.
Para ser um troféu exibido para o mundo. Linda, educada, inteligente,
equilibrada e elegante. Eu sou tudo o que ele exige que eu seja. Nunca
discuto ou resisto às suas exigências impossíveis.
Por quê?
Por causa de Della.
Ela não é perfeita.
Pelo menos, não aos seus olhos.
Para mim, minha irmãzinha é tudo. Engraçada, atrevida e um pouco
estranha às vezes. Ela é a coisa mais real da minha vida. A única coisa que
me traz verdadeira alegria.
Mas por alguma razão, ele a odeia. Com cada fibra de seu ser. Nada do
que ela faz é satisfatório aos olhos dele. Ela é um fardo — uma vergonha. E
se não fosse pela minha intervenção cuidadosa, não há como dizer o que
aconteceria com ela.
Respiro fundo e depois exalo todo o estresse de viver na cobertura
Croft no prestigiado bairro de Hudson Yards com um dos homens mais
poderosos de Nova York.
Nosso apartamento que pode ser avaliado em quase trinta milhões é
sempre perfeito, mas a escuridão espreita atrás de cada superfície de
mármore brilhante. Esta casa nada mais é do que um pesadelo chique. Uma
ilusão amarrada em um lindo laço.
Meu quarto é onde passo a maior parte do meu tempo. As janelas do
chão ao teto que compõem uma parede inteira do meu quarto são onde eu
posso escapar enquanto ainda estou presa. As vistas amplas do cintilante
Rio Hudson e do Oceano Atlântico, oitenta e oito andares acima do solo, me
lembram que a vida é bela lá fora, longe da minha dura realidade. Lady
Liberty, aquela cadela, me provoca de longe, se gabando de sua liberdade.
Afastando-me da falsa fuga com a qual minhas janelas me provocam,
entro no meu quarto. Como o resto do nosso apartamento, meu quarto é
impecável. Muito pouco revela a mim ou a minha personalidade. Móveis
brancos elegantes, roupas de cama brancas como a neve, tapetes brancos
macios sobre pisos de madeira cinza-carvão quente. Nenhuma arte ou
decorações extravagantes. Sem televisão ou aparelho de som. Nada além da
minha prisão perfeita.
Eu sou uma boneca bonita em uma casa de bonecas ainda mais bonita.
E ele gosta de brincar com suas coisas.
Esta noite, ele estará em casa, de volta de uma viagem de negócios de
duas semanas a Tóquio. Toda a tensão que eu consegui desfazer nesse
tempo encontrou seu caminho de volta para os músculos do meu pescoço,
me torcendo a cada segundo que passa, isso eventualmente me levará ao
momento em que serei forçada a vê-lo novamente.
— Senhorita Landry — Noel chama da porta, me fazendo pular de
surpresa. — Você precisa da minha ajuda?
Eu pisco várias vezes enquanto endureço minha espinha. Não posso
me dar ao luxo de baixar a guarda nem por um segundo. Não porque tenho
medo de Noel, mas porque preciso estar pronta para ele. Levantando meu
queixo, dou a Noel um sorriso educado.
— Sim por favor. — Eu aponto para o sedoso e dourado vestido
drapeado Georgio Armani colocado na minha cama, um toque requintado
no edredom branco de outra forma perfeito. — Sempre tenho problemas
com o zíper.
Ansiosa para ajudar, Noel corre para o meu quarto, um pequeno
sorriso curvando seus lábios. Eu gosto de Noel, em outra vida poderíamos
ser amigas. Mas não estamos em outra vida. Estamos nesta. Aqui, ela recebe
ajuda e não permite mais nada. Estou curiosa para saber como é a vida dela
fora da cobertura Croft. Ela tem filhos, marido ou hobbies?
— Sr. Croft gosta dessa cor em você — diz Noel, sua voz
tranquilizadora. — Tenho certeza que ele sentiu muito a sua falta.
Eu tento não estremecer com suas palavras. Ele sentiu minha falta e
vai gostar deste vestido. Eu serei tudo o que ele me preparou para ser –
perfeita.
É de Della que ele não terá sentido falta.
Della, que será a destinatária de seus olhares desdenhosos e
comentários mordazes.
Limpando a garganta, tento me preparar para sua chegada. Não há
espaço para arrepios nervosos ou um estômago trêmulo. Eu tenho que ser
forte e uma distração para que Della voe sob o radar. Claro, tivemos uma
pausa muito necessária dele, mas ele está de volta à cidade, o que significa
que os negócios estão normais.
Todas as brincadeiras desaparecerão. Nossas noites de cinema e
pipoca no quarto dela deixarão de existir. As guloseimas que Noel às vezes
traz para nós serão interrompidas sob seu olhar atento. Della estar
dormindo na minha cama não vai mais existir. Teremos que vigiar nossas
costas, o que significa estar sempre de guarda.
Até mesmo a equipe está rígida mais uma vez. Eles estiveram
circulando o dia todo, preparando o apartamento para sua chegada. A
segurança dele nos permite burlar as regras enquanto ele está fora,
contanto que não saiamos do apartamento. Mas com seu retorno eles serão
rígidos e sufocantes novamente.
— Della está vestida? — Eu pergunto enquanto deslizo minhas roupas
até minhas roupas de baixo.
— No vestido de botão de ouro que faz seus olhos verdes saltarem.
Eu aceno e expiro um leve suspiro de alívio. — Ela não lutou com você
pelo roxo?
— Ah — confidencia Noel — ela fez, mas eu sou vinte anos mais velha
que ela e a supero um pouco.
O ar entre nós está leve, mas não posso me dar ao luxo de ser
brincalhona. Não tão perto de sua chegada. Imaginar uma criança de seis
anos tentando intimidar alguém de vinte e poucos anos é bastante cômico,
mas não estou rindo.
— Os sapatos dela combinam? — Eu pergunto, ignorando sua
provocação e empurro para frente.
— Sim, senhora. — Ela me oferece meu vestido, no qual entro e me
viro para que ela me feche o zíper.
— Cabelo?
— Ela está linda, senhorita Landry. Por favor, não se preocupe.
Eu sou tão transparente?
— Lembre-se do seu lugar, Noel. — Minhas palavras saem afiadas,
picando como um chicote na carne, fazendo-a recuar violentamente.
— Sim, senhora.
O rosto sardento de Noel fica vermelho como o de seu cabelo louro-
avermelhado que está preso em um coque. Eu odeio ter sido rude com ela,
especialmente porque ela tem sido tão gentil conosco em sua ausência, mas
estou andando em uma linha tênue com minhas emoções esta noite. Se ela
me tirar do jogo, mesmo que levemente, não há como dizer como isso vai
ser para Della.
Por favor, seja uma menina obediente e doce esta noite, Della. Por
favor.
— Eu posso terminar sozinha — eu corto com uma voz legal que soa
muito como ele. — Você está dispensada. Mande Della para mim.
— Senhorita Ellis está com ela.
Quase recuo com a menção do nome de Sandra. Sandra Ellis é nossa
gerente da casa e preenche o papel de babá, quando necessário, para Della.
Nem Della nem eu podemos suportar aquela bruxa intrometida.
— Envie-a de qualquer maneira — eu resmungo. — Diga à senhorita
Ellis que ela está dispensada de seus deveres esta noite.
Ela acena com a cabeça uma vez e, em seguida, sai correndo da sala,
deixando-me com meu estômago trêmulo. Minha maquiagem é habilmente
pintada e meu cabelo sedoso e dourado está preso frouxamente para que os
cachos escapem, emoldurando meu rosto angelical.
Isso é o que ele diz.
Eu tenho cara de anjo.
Torcendo minhas feições em uma carranca, eu aprecio, por um
momento, que eu não sou a garota perfeita que ele me moldou para ser. Às
vezes, o verdadeiro eu pode escapar, mesmo que seja apenas por um breve
vislumbre no espelho.
Depois de ter cedido por alguns segundos, relaxo minhas feições e
neutralizo minha expressão. Toda a raiva latente que está sempre presente
terá que ser empurrada de volta para baixo e coberta pela tampa do
fingimento.
Um dia, não terei que fingir.
Mas, pelo menos nos próximos doze anos, serei atriz, participando
dessa peça ridícula porque, no final, levarei Della para longe daqui. Ela terá
dezoito anos e a lei não a obrigará mais a ser sua prisioneira. Viveremos uma
vida cheia de risos, liberdade e felicidade. Este inferno se tornará uma
memória distante.
Olhando para o relógio, tomo nota da hora. Della ainda não apareceu,
o que significa que Sandra a está mantendo por algum motivo. O jantar,
quando ele está em casa, sempre começa às sete, o que significa que vou
precisar terminar e localizar Della antes que ele chegue. Rapidamente,
vasculho minha caixa de joias, olhando para os anéis e colares antigos de
mamãe, antes de procurar a pulseira que ele me deu no meu aniversário de
dezoito anos em março passado.
Eu odeio essa pulseira. Eu o odeio. Ainda assim, eu a deslizo no meu
pulso e viro meu braço, observando a luz brilhar no ouro.
— Você está deslumbrante — uma voz profunda ressoa da porta. — A
cara de sua mãe.
Cada pelo do meu corpo estala para a vida e fica em pé como se
acordado pela energia escura nublada ao meu redor. Sua voz familiar por si
só é suficiente para me dizer quem está rondando meu quarto, mas quando
sinto o cheiro de seu perfume caro de colônia, solidifica a resposta.
Papai está em casa.
— Obrigado, pai — eu digo, dando-lhe um sorriso ensurdecedor. —
Nós sentimos sua falta.
Ele abre os braços, esperando que eu o receba com um abraço. Eu
ando em seu forte aperto. Seu abraço é breve antes que ele rapidamente
me solte. Um sorriso desagradavél e calculista puxa seus lábios enquanto ele
levanta a mão em punho.
Se Della estivesse aqui, aquele punho seria uma arma.
Mas, para mim, sua amada filha mais velha, é um presente.
Nem sempre foi assim. Acabei ficando muito boa em me apresentar
perfeitamente para o crítico mais cruel do mundo.
— Você me trouxe alguma coisa? — Eu salto na ponta dos pés em
uma ânsia feminina, apesar da acidez no meu estômago. — Mal posso
esperar para ver.
Ele solta uma risada estrondosa. — Você é mimada, querida.
Meu sorriso vacila e é preciso esforço para apertar os músculos,
forçando-os a permanecer no lugar. — Você me mima — eu atiro de volta.
— É sua culpa.
Satisfeito com minhas palavras, ele torce a mão e desenrola os dedos
para abrir a palma. Sentado como uma serpente dourada enrolada, um colar
brilha sob a luz do teto. Seus presentes parecem pesos, me arrastando para
o fundo do abismo - um lembrete constante de por que ele os dá.
— É tão bonito — eu respiro, alcançando o colar delicado.
— Tão impaciente — ele repreende. — Permita-me. Vire-se.
Engolindo meu desconforto, eu me viro e encaro a janela. No reflexo,
papai paira sobre mim, uma presença ameaçadora. Com movimentos suaves
e delicados, ele abre o colar e, em seguida, estende a mão ao meu redor
para pendurá-lo na frente do meu rosto.
— Como foi Tóquio? — Eu pergunto, tentando e falhando em manter
o tremor da minha voz.
— Depois de vários dias de negociações, finalmente chegamos a um
acordo sobre o preço de compra do edifício. A venda ocorreu sem
problemas e é oficialmente minha. A Croft Gaming and Entertainment agora
terá presença na Ásia. — Seus dedos roçam a parte externa do meu pescoço
enquanto ele junta os fechos atrás do meu pescoço. — É uma expansão
multibilionária que está virando a cabeça de algumas pessoas
impressionantes, especificamente nesta cidade.
— Incrível — murmuro. — Parabéns.
— Com o dinheiro que vou ganhar com essa expansão global, talvez
eu possa me aposentar. Vender a empresa e passar mais tempo com minha
filha. — Ele beija o topo da minha cabeça. — O que você me diz?
Meus joelhos tremem, mas eu os mantenho travados. Passar todas as
horas do dia com ele seria um pesadelo absoluto para mim e para Della.
— Eu vejo muitas viagens para a Grécia em nosso futuro — eu
provoco, incapaz de esconder completamente o terror em meu tom. —
Della adora viajar.
O ar fica frio com a menção de minha irmã. Imediatamente, lamento
minhas palavras. O que eu acabei de fazer? Eu estraguei tudo por causa de
algumas palavras erradas?
— Talvez — papai diz friamente. — Ou talvez encontremos uma babá.
Ela pode ser bastante... indisciplinada. As férias não devem ser estragadas
por crianças indisciplinadas.
Eu engulo a bile subindo pela minha garganta. Agora não é hora de
fraqueza. Estou aqui, e não na faculdade, por causa dela. Porque ela precisa
de mim. Eu sou a parede entre eles. Sua única linha de defesa. Eu serei
amaldiçoada se eu desmoronar agora.
— Teremos outra festa à fantasia este ano para o seu aniversário?
Você tem estado tão ocupado com o trabalho, então... — Eu paro,
esperando mudar o assunto de Della para algo que traga alegria ao meu pai.
Ele mesmo.
Previsivelmente, sua rigidez derrete e um sorriso rasteja em seu rosto.
— Sempre há tempo para uma festa Croft, meu amor. Já pensou em como
vai se vestir?
— Uma princesa.
— Você é uma princesa todos os dias. — Ele ri, seus olhos azuis
escuros brilhando. — Você vai pensar em algo inteligente. Você sempre faz.
Papai segura minha bochecha e pisca para mim antes de sair do meu
quarto. O ar que eu estava lutando para respirar entra e sai dos meus
pulmões em farrapos. Lágrimas ardem em meus olhos.
Não há tempo para ter um colapso mental.
Agora não. Nunca.
Eu tenho que protegê-la.
Sempre.
Com uma última exalação, levanto o queixo, coloco meu sorriso
experiente e parto em minha missão de jogar um jogo complicado contra
um homem cruel e odioso... meu pai.
CAPÍTULO DOIS
SULLY

Não é sempre que somos convocados pelo nosso... tio, mas quando
isso acontece, aparecemos na mansão Morelli. Sem perguntas. Pronto para
fazer o seu lance.
Bryant Morelli não é um homem com quem você fode.
Ponto final.
Sparrow geme de tédio, passando o celular rápido demais para ler
qualquer coisa. Ele, como eu, odeia essas malditas “reuniões de família”.
Nosso irmão, Scout, é o único que remotamente se interessa por elas, o que
me faz pensar onde diabos ele está.
— Você viu Scout?... — pergunto a Sparrow, sacudindo
preguiçosamente o gelo do meu copo vazio. — Tipo desde a festa de
Christopher?
— Não. — Sparrow estala o “o” e não se preocupa em olhar para cima.
— Não sou o guardião dele.
Reviro os olhos, deixando cair meu copo na mesa ao lado da minha
cadeira com um barulho alto. Sparrow corta seu olhar de olhos escuros na
minha direção. Ele é antagônico por natureza, gostando sempre que pode
encontrar uma maneira de cutucar um de seus irmãos. Isso lhe rendeu seu
quinhão de socos no rosto também.
— Tecnicamente você é — eu o lembro. — Nós fizemos uma
promessa.
Sparrow faz uma careta. — Isso ocorreu há um ano.
— Sim, bem, não tem uma data de validade.
Não com o Scout. Desde que nosso irmão nos meteu em uma grande
merda com a porra da família Constantine que arruinou nossas vidas, ele foi
posto em guarda. Ele não pode ser deixado por conta própria porque nosso
irmão é um psicopata.
— Scout está bem — Sparrow resmunga, já entediado com a
conversa, voltando seu olhar para sua última missão de conexão no Tinder.
— Além disso, ele é a cadela de Bryant agora.
Como se isso me fizesse sentir melhor.
Bryant não é exatamente um material exemplar.
Esfrego a palma da mão no rosto, tentando e falhando em afastar
minha miséria. Essa merda é uma merda. Minha vida é uma merda. A
faculdade foi roubada de nós por um Constantine, a prisão roubou nossa
mãe e nossa liberdade foi roubada pelos Morelli. Somos marionetes agora
para Bryant Morelli puxar sempre que achar necessário.
Esta é a nossa vida.
Para. Sempre. Porra.
Vou até o bar bem abastecido de Bryant e me sirvo de algumas doses
do que espero ser caro e insubstituível.
— Você alguma vez quis fazer mais do que isso? — Eu murmuro, não
exatamente me importando se Sparrow se junta à conversa ou não.
Ele zomba. — Cara. Nós moramos em uma porra de uma cobertura.
Uma cobertura que vem com muitas, muitas cordas anexadas - todas
amarradas a Bryant e a esta mansão.
— E?
— E você viu nossos carros? Cara, este é o melhor resultado que
poderíamos esperar.
Melhor resultado? Somos cães mimados. Bryant balança as guloseimas
na nossa frente antes de nos ordenar a fazer o que ele manda. É uma merda.
O olhar duro de Sparrow perfura minhas costas, me queimando como
o calor do sol. Estou me sentindo encorajado pelo álcool queimando
livremente em minhas veias. A raiva borbulha dentro de mim, ameaçando
me fazer explodir.
— Sully — diz Sparrow, suavizando. — Esta é a nossa vida, cara. É o
que é.
Todos nós três perdemos coisas que gostaríamos de ter tido. Eu sei
que não estou sozinho, mas às vezes me sinto assim.
Eu me viro para encontrá-lo sentado para frente, não mais interessado
em seu telefone, cotovelos nos joelhos e mãos cruzadas na frente dele. Seu
cabelo escuro está penteado para trás, parecendo severo e envelhecendo-o
alguns anos. Ele me lembra o resto dos Morellis. Sparrow até se veste como
eles – sempre vestindo um terno caro, a menos que ele esteja malhando na
academia comigo e Scout.
— Nossa vida deveria ter sido Harvard. — Eu cerro os dentes,
franzindo a testa com força. — Poderíamos ter tido muito mais do que isso.
Se nossas vidas não tivessem virado uma merda, teríamos ido para
Harvard e realmente estaríamos fazendo algo de nossas vidas agora. É uma
merda saber que nosso caminho fez uma curva tão acentuada, nos
aterrissando nos braços dos Morellis.
— A amargura é uma aparência feia — afirma Sparrow. — Além disso,
Scout vai comer você vivo se ele ouvir você choramingar.
— Eu não estou choramingando porra.
Sparrow dá de ombros antes de se recostar na cadeira. Às vezes, acho
que Sparrow é o maior de nós três, mas depois lembro que é apenas sua
arrogância que o faz parecer assim. Seu ego é uma maldita nuvem de
cogumelo gigante acima dele, pairando sobre todos, inclusive eu. Mas, como
ele é meu irmão, um trigêmeo idêntico, sei que fisicamente somos
exatamente iguais. Nós três somos competitivos demais para permitir que
um dos outros nos supere em massa muscular.
Vozes profundas podem ser ouvidas, sinalizando a aproximação dos
homens. Eu imediatamente fico tenso, odiando a ideia de lidar com Bryant.
Quando o negócio é normal, jantares e festas particulares são algo que
posso suportar. No entanto, quando ele nos chama para uma reunião
especial, eu quero rastejar para fora da minha própria pele.
Eu odeio ser sua putinha.
Bryant entra em uma das muitas salas de estar desta enorme mansão
que designamos como nosso espaço de reunião. Seu ar de autoridade é
sufocante. Onde Sparrow parece maior que a vida com sua arrogância,
Bryant emite essa poderosa vibração real. Como se ele fosse o rei de tudo
ou alguma merda assim. Atrás dele, Scout entra - não, espreita é a melhor
palavra - seguindo furtivamente como uma pantera de estimação apenas
esperando o comando para destruir alguém.
Seu mancar é quase imperceptível.
Quase.
Quando Scout pega meu olhar examinando seu andar, ele me lança
um olhar mordaz. Mas estou acostumado a ele ser um idiota, então isso não
me incomoda. Afinal, é culpa dele que ele está mancando em primeiro lugar.
Você fode com um Constantine e eles fodem com você. Literalmente.
Como se sintonizado em meus pensamentos de como Scout sofreu não um,
mas dois joelhos quebrados nas mãos de um dos homens de Winston
Constantine, sua mandíbula aperta e seus olhos escuros piscam com raiva.
— Rapazes — Bryant cumprimenta, oferecendo tanto a Sparrow
quanto a mim um sorriso. — Espero que não tenhamos feito vocês
esperarem.
Antes que eu possa reclamar que realmente estávamos esperando por
quarenta e cinco malditos minutos, Sparrow me interrompe com uma
expressão afiada.
— Apenas conversando coisas sem importância — Sparrow afirma,
acenando como se não fosse grande coisa. — E aí? Tem outro emprego para
nós?
Bryant, satisfeito com a complacência de Sparrow, ri. — Sempre tão
ansioso, filho. Nós ainda não tiramos nossas gentilezas do caminho.
Porra, porra.
— Eu preciso de outra bebida — murmuro, precisando
desesperadamente anestesiar cada parte do meu corpo.
Bryant inclina a cabeça para o lado, os olhos estreitados em mim. —
Eu acredito que você já teve o suficiente.
Um flash de irritação acende e viaja pela minha espinha até minha
cabeça, queimando meu pescoço e bochechas. Ser repreendido por Bryant,
como se eu fosse uma criança, me irrita além da conta. Eu cerro os dentes e
aperto meus punhos, desesperados para pousar nele, mas consigo oferecer
um aceno de cabeça curto em vez disso. Bryant sorri antes de se sentar ao
lado de Sparrow. Eu caio no meu lugar, ansioso para acabar com isso.
Qualquer que seja o trabalho de merda que Bryant quer que façamos, nós
faremos, e então podemos voltar a tentar espremer um grama de prazer de
nossa vida estúpida.
— Como vocês, rapazes, sabem, muito nos torna um dos nomes mais
poderosos da cidade — começa Bryant, seu tom autoritário vibrando de ira.
— Para permanecer uma força imóvel, os interesses comerciais de certas
pessoas precisam ser... — Ele suspira pesadamente, acenando com a mão
em um gesto de desdém. — Eliminados.
Scout se empoleira no braço da cadeira ao meu lado, lançando a
Bryant um olhar questionador. — Os Constantines? — Sua mandíbula aperta
e seus olhos escurecem com fúria. — Se fosse eu, eu teria destruído aquela
família no ano passado. Winston pode comer merda.
Bryant zomba. — Por mais que eu aprecie sua ânsia de derrubar
aquele idiota pomposo, Winston é um mal necessário.
É a vez de Scout rosnar um som irônico. — Necessário?
— Dinheiro faz o mundo girar. Você, Scout, de todas as pessoas sabe
disso. — Bryant desvia o olhar de Scout para mim e Sparrow antes de pousar
de volta em Scout. — E com a quantidade certa, você pode fazê-lo girar cada
vez mais rápido.
Eu arqueio uma sobrancelha e troco um olhar com Sparrow. Ele ainda
usa uma expressão desinteressada, mas seu corpo está tenso. Nenhum de
nós três pode suportar os Constantines. Chamá-los de um mal necessário é
quase um insulto. Como se Bryant aceitasse a crueldade de Winston e sua
família, mas não se incomodasse com isso. Os Morelli e os Constantines
estão em guerra desde sempre. Como sobrinhos bastardos secretos, nos
tornamos um dano colateral.
Mas, novamente, Bryant não teve seu joelho esmagado de tal forma
que levou algumas cirurgias e um ano de fisioterapia para recuperar alguma
aparência de normalidade como nós. Scout está pior do que eu e Sparrow
desde que ele levou um bastão para os dois joelhos em vez de apenas um.
Bryant também não teve a faculdade arrancada de suas mãos. Ele não teve
sua mãe arrastada pela lama por Winston fodido Constantine que só queria
provar um ponto – que ele estava no topo.
Não, Bryant Morelli não teve nada disso, portanto não está
aborrecido.
Eu sei que posso falar pelos meus irmãos quando digo que estamos
realmente aborrecidos.
— Vocês vão fazer o que eu pedir — continua Bryant. — Isso é o que a
família faz. E vocês, rapazes, são uma família agora. Sem mencionar, vocês
sabem que eu vou recompensá-los generosamente.
Scout range seus molares, sua raiva obviamente borbulhando a cada
segundo que passa. Bom, eu não sou o único a ficar irritado com a
indiferença de Bryant.
— Recompensa — murmuro, esperando que esse velho fodido já vá
direto ao ponto. — O que você quer que façamos? Se não é sobre os
Constantines... — Então por que diabos nos importamos?
Bryant me estuda por um longo tempo, seu olhar penetrante me
cortando como uma faca quente na manteiga. Sem esforço. Suavemente.
Efetivamente. Eu engulo, tentando como o inferno não murchar, nem um
pouco, sob seu escrutínio. Porque se ele olhar muito duro, ele vai ver o
quanto eu odeio ele e esta família, o quanto eu quero fugir e nunca olhar
para trás.
— Oh, é sobre os Constantines, — Bryant resmunga, sorrindo. — É
sempre sobre eles, mas eu prefiro esfaquear em lugares que eles não
esperam. Sangre-os de dentro para fora.
Meus músculos relaxam com essas palavras.
— A Halcyon Corporation está procurando comprar a gigante de
tecnologia Croft Gaming and Entertainment, que estará dominando a
indústria de tecnologia num futuro próximo. É uma grande corporação com
alcance global. A notícia é que o CEO da Croft, Alexander Croft, fará uma
tomada de poder em um lugar dentro da família Constantine. — Bryant olha
na minha direção. — Através do casamento.
— Ele vai se casar com a cadela psicopata que lidera essa família? —
Scout pergunta, a voz pingando de desgosto. — E, se sim, por que nos
importamos?
— Caroline nunca se casaria novamente. — Bryant balança a cabeça,
um sorriso de vilão curvando seus lábios. — Além disso, não é ele. É a filha
dele.
Faço uma rápida análise mental dos solteiros elegíveis da família
Constantine. Winston está fora porque ele se casou recentemente com
nossa meia-irmã “ex-meia-irmã” e eu pensei que os outros irmãos tinham
namoradas ou algo assim. Isso deixa outros Constantines menos
importantes.
— Então, a filha desse cara deve se casar com algum primo distante
rico dos idiotas de Constantine e nós nos importamos porque... — Sparrow
para. — Faça isso ter sentido, chefe.
— Nós nos importamos porque amamos um bom escândalo — diz
Bryant, sorrindo. — E por um bom escândalo, quero dizer uma bomba
nuclear para lançar no colo de relações públicas de Constantine. Algo que
arruinará seu investimento e destruirá seu relacionamento. Croft tem o
potencial de se tornar um império global de trilhões de dólares. Os
Constantines sabem disso e estão tentando embarcar nesse trem, indo até o
banco. — Ele junta os dedos, descansando-os no colo. — Eu quero
descarrilar.
— Um escândalo — Scout reitera com uma zombaria. — Vamos,
querido tio, sabemos que há mais do que isso. Desembuche, cara.
Bryant o olha por um momento antes de assentir. — Vamos apenas
dizer que Croft tem segredos, porque, francamente, todo homem no poder
tem. O tipo de segredo que pessoas como eu pagam um bom dinheiro para
descobrir. Quero saber tudo o que aquele homem está escondendo. Vou
descobrir tudo o que aquele homem está escondendo. Ele pode parecer
1
limpo como um apito , mas esses homens geralmente são os mais sujos.
A maioria dos trabalhos que Bryant nos envia envolve boas surras à
moda antiga. Nós três, quando nos juntamos a alguém, somos uma
combinação letal. Garantimos que nossos “trabalhos” saibam o quanto dói
fisicamente irritar o patriarca da família Morelli. Ele pode não comandar
mais o show, oficialmente, mas ainda exige o respeito de todos.
— Então, vamos espionar? — Sparrow elucida. — Obter informação?
Suas narinas se dilatam. Posso dizer que ele já está entediado com
nosso novo emprego. Eu sou o único cara por aqui que usa seu cérebro. Tirei
as melhores notas na escola, tomei as melhores decisões entre nós três e
realmente penso no futuro.
Sparrow é super inteligente, mas ele tem o suficiente da energia
imprudente de Scout para causar problemas. Ele vive para ver o que ele
pode fazer. Acho que é por isso que ele gosta de vestir o terno e jogar os
jogos dos ricos... porque ele é bom nisso.
E Scout é o psicopata louco. Ele não entende de limites.
Ele só faz o que diabos ele quer. O que geralmente é algo destrutivo.
— Infiltrar-se é uma palavra melhor — responde Bryant com uma
risada sombria. — Infiltrar. Corromper. Quero que vocês se envolvam em
todos os aspectos de suas vidas.
— Parece... fácil — eu digo, confuso sobre por que estamos sendo
solicitados a fazer isso. É tão... chato.
— Fácil — Bryant fala lentamente. — Não, localizar algum idiota e
vencê-lo a um centímetro de sua vida porque ele deve a um Morelli é fácil. O
que estou pedindo que você faça é o próximo passo.
— O próximo passo, — Sparrow repete. — Para quê?
— Harvard.
Meu sangue gela. É um lembrete duro e cruel do que perdemos.
— Isso é o que você sempre quis, não é? — Bryant oferece um sorriso
de lobo que faz todos os pelos dos meus braços se arrepiarem. — Você
provou que é bom em obedecer ordens e tem sido leal. Agora, eu quero que
você faça mais por mim. Esta é uma extensão da minha fé e confiança em
vocês três. Dê este passo, e estou disposto a dar-lhes o que vocês realmente
querem. Seu futuro de volta.
Nosso futuro?
Eu odeio que meu coração bombeia mais rápido com essa perspectiva.
Essa vida é uma merda. A chance de fazer mais — qualquer coisa — é
atraente. Bryant não é um idiota. Ele sabe como balançar as cenouras certas
em nossos rostos para nos fazer cumprir suas ordens.
Scout se levanta e vai até o bar, mancando mais perceptível dessa vez
enquanto caminha. Eu arrasto meu olhar atrás dele, imaginando quais são
seus pensamentos sobre esta nova proposta que nosso tio está oferecendo.
— Se o cara Croft tem planos de casar sua filha com um Constantine,
eu duvido seriamente que ele vai nos permitir entrar em seu mundo e
começar a agitar a merda — eu resmungo. — Parece um pouco demais.
Os ombros de Bryant endurecem e ele me lança um olhar afiado. —
Não é demais. Minha fonte fez sua parte mergulhando em Croft e
descobrindo seus próximos movimentos. Eu quero ter uma mão em cada
reviravolta que ele decide dar. Eu ainda sou o capitão dirigindo seu navio.
Novamente com a besteira metafórica narcisista.
— Qual é o nosso? — Scout pergunta depois de tomar uma dose e
bater o copo no topo do bar. — Somos notoriamente conhecidos como seus
sobrinhos. Não exatamente um material secreto.
— Não como os trigêmeos Mannford — concorda Bryant, — ou
mesmo os sobrinhos trigêmeos de Bryant Morelli.
Vá. Direto. Ao. Ponto. Velhote.
— Mas — Bryant continua, com um sorriso malicioso puxando seus
lábios — como alguém inteiramente novo, você pode entrar no mundo
deles, manipular a princesa da tecnologia e descobrir todas as malditas
coisas que puder sobre Croft e sua associação com Winston. Sua filha, de
todos os relatos, é praticamente uma prisioneira em sua casa. Sem amigos.
Sem saídas. Ela é protegida, ingênua e apta para a manipulação. Quero
vocês rastejando por toda a vida de Croft e da filha mais velha dele, nunca
diminuindo seus esforços. Juntos, vocês três trabalharão como um – um
homem.
Reviro os olhos, mas por dentro estou cauteloso. Isso parece grande. E
grande, quando Bryant Morelli e meus irmãos estão envolvidos, significa
perigoso. — Por que enviar três caras, então? Se você quiser apenas um.
— Porque eu quero vocês três investidos. Quero que vocês trabalhem
um com o outro, desenvolvendo o trabalho um do outro — até mesmo
competindo entre si. Vocês fazem mais do que um homem, ou até mesmo
três outros homens, jamais poderiam.
— É verdade — diz Sparrow, como se tudo isso fosse razoável. —
Especialmente com Harvard na linha. Ninguém pode ficar no nosso caminho
quando trabalhamos juntos.
— Uma ameaça tripla — Scout diz, se juntando a nós. — Uma lâmina,
mas três vezes mais afiada.
— Precisamente — concorda Bryant. — Agora corte esses paus e faça-
os sangrar.
CAPÍTULO TRÊS
LANDRY

Não entre em pânico.


Não entre em pânico.
Tarde demais.
Olho para o assento vazio à minha frente em nossa enorme mesa de
jantar que é capaz de acomodar oito pessoas, mas geralmente acomoda
apenas nós três. Nossa sala de jantar é uma das salas mais agradáveis
visualmente em nossa cobertura. Está aninhada em um canto, apresentando
vistas panorâmicas da cidade do chão ao teto. Para um cenário tão
deslumbrante, é a sala que eu mais odeio. Parece que não podemos nos
esconder do papai. Sob o lustre cintilante que custa mais do que os
apartamentos da maioria das pessoas, somos ampliados e expostos por seu
escrutínio cuidadoso. Mal consigo me lembrar dos bons tempos aqui
quando mamãe ainda estava viva, quando os jantares eram cheios de amor
e não de pavor.
Onde está Della?
Papai se distrai respondendo e-mails em seu telefone, mas isso não vai
durar para sempre. Eventualmente, ele perceberá que Della não está aqui.
Seu humor vai despencar em segundos e então todo o apartamento sentirá
sua ira. A equipe, eu e especialmente Della.
Lançando meu olhar para a entrada que leva à sala de estar, procuro
qualquer sinal de minha irmã espiando ao virar o corredor.
Nada.
Os aromas saborosos vindos de tudo o que nosso chef está
preparando não me fazem salivar mais, mas me fazem engasgar.
Eu poderia me desculpar e caçá-la. Mas ele veria através disso. Já
tentei antes e nunca funciona. Não, a melhor opção quando se trata de
papai e Della é distraí-lo.
Vamos, Della. Pare de brincar.
O som de um telefone sendo colocado na mesa de mogno me faz
desviar o olhar da sala de estar para meu pai. Seus olhos estreitos estão
fixados no assento vazio à minha frente. Noto o aperto de sua mandíbula e a
lenta mudança de cor em sua pele. Do bronzeado saudável ao vermelho, e
logo ao roxo furioso.
O distraía. O distraía. O distraia.
— Então, este novo…
— Della — papai chama, cortando minha triste tentativa de
conversar. — Não nos deixe esperando.
Silêncio.
Claro que há silêncio. Sempre há silêncio.
Você não chama Della e espera que ela venha correndo. Não funciona
assim. Ele sabe disso, mas faz mesmo assim. Sempre preparando-a para o
fracasso.
— Ela, uh, estava se sentindo mal mais cedo — eu digo, o medo pela
minha irmã fazendo minha voz rouca. — Talvez ela tenha adormecido. Eu
deveria ir ver como ela está.
Quando começo a empurrar minha cadeira para ficar de pé, papai bate
a mão na superfície com tanta força que me faz gritar de surpresa.
Lentamente, ele se levanta de seu assento, a familiar fúria roxa pintando sua
pele a cada segundo que passa.
Oh Deus.
— Fique quieta — ele instrui. — Vou buscar a criança.
A criança.
Eu o odeio por isso.
Ele sai da sala de jantar, seus passos estrondosos. Estou congelada,
sem saber o que fazer. Eu poderia entrar correndo e intervir, mas da última
vez que fiz isso, só piorei. Lágrimas picam meus olhos. Eu rezo como o
inferno para que ela não dê a ele nenhum problema que possa causar sua
dor.
Um estrondo faz meu coração pular na minha garganta. Eu enrolo
meus dedos ao redor da faca ao lado do meu prato, me perguntando se eu
realmente poderia usá-la se forçada.
Posso fazer isso? Posso derrubá-lo?
Ele volta para a sala de jantar.
Della, toda arrumada e vestida para uma festa, se contorce enquanto
tenta se libertar do aperto de ferro de papai em torno de seu pequeno
bíceps. Seus olhos verdes, cheios de lágrimas e confusão, batem nos meus.
A súplica neles me mata.
Salve-me, Landry.
Se fosse assim tão fácil.
Papai arrasta a cadeira dela para longe, a joga no assento e depois a
empurra para frente. Seu corpo vibra com raiva venenosa. Eu tento pegar o
olhar da minha irmãzinha, mas seu queixo cai no peito para esconder. O
cabelo louro-dourado cobre seu rosto, mechas encontram seu caminho para
a umidade em suas bochechas e grudam lá.
— Diga a sua irmã por que você a deixou esperando — papai
resmunga, sua voz crescendo e com raiva. — Agora.
Nenhuma resposta.
— Ela não pode ouvir você — eu sussurro. — Você sabe disso.
Ignorando-me, ele se repete. Mesmo resultado. Nenhuma resposta.
Finalmente, ele bate com o punho na mesa com tanta força que a água do
copo dela esguicha. Isso chama a atenção dela.
Com as mãos ela sinaliza: O quê?
Eu fecho meus olhos brevemente esperando que ele não veja sua
2
resposta como desrespeitosa. Em vez de usar ASL , seu único método de
comunicação, papai fala com ela como se tivesse esquecido o fato de ter
uma filha surda. Sua voz fica cada vez mais alta enquanto ele reclama do
atraso dela.
Abrindo meus olhos novamente, observo Della enquanto ela tenta ler
os lábios de papai. Ela é jovem e agitada, então aprender a ficar parada
tempo suficiente para ler os lábios de alguém foi algo que ela não conseguiu
dominar, para desgosto de papai.
— Então Tóquio foi um sucesso — eu digo, interrompendo-o de seu
discurso que está a segundos de se tornar nuclear. — O que vem a seguir na
sua agenda?
Uma batida de silêncio enche a sala além da fungada suave de Della.
Papai relaxa visivelmente, tira o olhar da minha irmã e me olha, um sorriso
se formando. Quando eu era criança e mamãe ainda estava viva, eu o
achava majestoso como um rei. Papai tinha todas as respostas e me trouxe
muitos presentes. Ele nem sempre foi... um monstro. Em algum momento,
ele foi bom.
Mas a gravidez da mamãe de Della foi complicada. Seu corpo estava
esgotado, ela perdeu uma quantidade incrível de peso e estava morrendo
quando deu à luz a Della. Os médicos esperavam que ela se recuperasse
assim que o bebê saísse, mas depois de algumas semanas, ela morreu de um
ataque cardíaco repentino. A tensão de carregar Della deteriorou seus
órgãos, especificamente seu coração. Um dia ela estava aqui, e no outro ela
se foi.
E nesses seis anos desde então, papai claramente culpou Della. O
tempo só fez a ferida apodrecer.
— Vou ter um aprendiz — papai diz, sorrindo. — Aparentemente, de
acordo com meu CFO, estamos muito atrasados.
A notícia é surpreendente para mim. Meu pai geralmente não tem
tempo para essas coisas. Ele é um empresário astuto que se jogou inteiro na
empresa depois que mamãe morreu. Trata-se sempre de ganhar o próximo
dólar – daí seu esforço em Tóquio – mas nunca de ensinar os outros.
— Essa não é a única coisa que Gareth tinha a dizer. — Papai faz uma
pausa enquanto Noel entra na sala de jantar com uma bandeja cheia de
pratos. — Obrigado, Noel.
As bochechas de Noel ficam vermelhas e ela assente. — É um prazer,
Sr. Croft.
Ele lhe dá um sorriso de lobo que revira meu estômago. É como se
todos ao nosso redor estivessem cegos para seu comportamento
monstruoso. Eu odeio que ninguém mais o veja do jeito que suas filhas
fazem. Enquanto ele flerta descaradamente com Noel, olho para Della. Suas
lágrimas foram enxugadas e ela está carrancuda. Se fôssemos apenas nós,
eu faria cócegas nela até que ela sorrisse. Já que eu não posso exatamente
fazer isso, eu faço uma cara de boba para ela antes de recolher rapidamente
minhas feições. O canto de seus lábios se contraem. Um quase sorriso.
Melhor que nada.
Depois que Noel deposita cada prato na nossa frente e serve nosso
vinho, ela foge silenciosamente. Assim que ela se vai, o peso da raiva de
papai turva a sala. Della não está tão silenciosamente batendo o garfo
contra a porcelana enquanto enfia vagens na boca.
— O que mais Gareth disse? — Eu insisto, chamando sua atenção para
mim mais uma vez. — Você despertou minha curiosidade.
Ele relaxa, me oferecendo um sorriso provocante. — Ele tinha muito a
dizer. Na verdade, parte disso envolve você.
Minhas sobrancelhas apertam em confusão. Eu? Eu só encontrei
Gareth algumas vezes, todas as quais ele estava preocupado em falar de
negócios com papai. Em nenhuma dessas vezes ele sequer teve tempo para
me notar, muito menos falar comigo.
— Ele quer que eu estagie para você? — Eu pergunto, adivinhando a
única coisa plausível que posso pensar.
Papai solta uma risada. — Não seja boba, querida. Você é uma Croft,
não uma estagiária de faculdade não remunerada.
— Então o que ele poderia ter a dizer sobre mim?
— Existem... pessoas influentes nesta cidade. Pessoas que ele acha
que você deveria conhecer.
Eu estudo papai, franzindo a testa. Desde quando? Ele raramente me
deixa sair do prédio. Agora ele acha que eu deveria conhecer pessoas
influentes. Uma sensação doentia e desconfortável revira meu estômago.
— Está na hora — papai diz, lançando um olhar para Della — de você
sair do ninho. Sair e conhecer novas pessoas. Socializar e representar a
família Croft como a deusa que eles, sem dúvida, vão ver em você. — Ele
sorri para mim. — Gareth diz que um dos primos Constantine é solteiro e
recentemente voltou para a cidade. Um jovem, recém-saído da faculdade e
procurando fazer algo de si mesmo, o que é admirável. Talvez pudéssemos
marcar uma reunião.
Eu pisco para ele em choque.
— Não fique tão surpresa. — Ele corta seu filé, seus lábios ainda
curvados em um sorriso. — Eu não posso mantê-la como minha garotinha
para sempre, embora eu saiba que nós dois adoraríamos isso.
O pânico passa por mim e a sala gira. Eu deveria comer para espantar
a tontura, mas não consigo me mexer, respirar ou pensar.
— Mas quem vai cuidar de Della? — Eu sussurro antes de engolir em
seco. — Ela precisa de mim.
Não é que ela precise que eu cuide dela, porque tecnicamente é para
isso que Sandra serve, mas Della precisa de mim emocionalmente. Eu sou a
única pessoa que realmente a entende. A única pessoa em quem ela confia
e ama. Eu sei como ela às vezes age quando está cansada ou
superestimulada e só precisa de um segundo para si mesma. Eu sei como ela
gosta de seus lanches dispostos em seu prato ou quais laços são seus
favoritos. São todas aquelas pequenas coisas para as quais ela precisa de
mim.
Claro, não posso dizer isso a ele. Ele já acha que eu a mimo demais.
Papai dá uma mordida em seu bife e mastiga, suas feições
escurecendo. Eu quero puxar as palavras de volta, mas eu já as lancei nas
profundezas de seu ressentimento por ela.
— Esse pequeno apego que ela tem com você não é saudável — diz
ele depois de perseguir sua carne com um gole saudável de vinho. — Você
não é a mãe dela, Landry.
Suas palavras soam como o cinto que ele usou em mim e Della no
passado. Eu visivelmente me encolho, e então odeio que ele tenha visto
minha reação.
— Além disso — papai continua — Della tem Sandra.
Sandra é um robô indiferente. Ela esvoaça, obedecendo às ordens do
papai, e não acrescenta emoção ou cuidado extra. Posso não ser a mãe de
Della, mas sou a família dela. Eu posso dar a ela o que ninguém mais pode.
Amor.
Della só tem a mim.
— Mas, pai…
— Eu sei que isso é difícil para você — ele rosna, cortando minhas
palavras da ponta da minha língua como uma lâmina afiada, — mas você vai
superar isso. Della começará a escola em breve. Eu tenho tutores alinhados
para ela a partir da próxima semana.
— Ela não vai para a escola particular que eu estudei...
— Landry, ela não pode ir à escola com todas as malditas elites desta
cidade. — Ele rosna, virando a cabeça na direção dela. — Ela é uma
vergonha do caralho.
A raiva pisca quente dentro de mim. Minha língua queima com a
necessidade de atacá-lo. Dizer que ele é a vergonha. O desperdício de um
ser humano que chamamos de pai. Nós merecemos mais do que isso.
Della bate na mesa com seu utensílio. Eu levanto minha cabeça para
vê-la olhando ferozmente para mim, seu garfo na mão como se ela pudesse
usá-lo em papai. Forçando um sorriso, eu sinalizo para ela que está tudo
bem e para comer.
— Coma — papai grita. — Agora.
Suas narinas se dilatam. Ela é tão pequena, mas cheia de muita raiva.
Felizmente ela volta a comer sem problemas. Eu enxugo minhas lágrimas,
minha mente cambaleando. Ele quer que eu namore? Para sair e conhecer
caras ricos? E então, o quê? Casar com um deles?
A ideia de deixar Della aqui sozinha pelos próximos doze anos é quase
demais para suportar. Eu gostaria de poder esperar até papai estar no
trabalho, colocá-la em um ônibus e desaparecer em algum lugar do país.
Poderíamos estar seguras e felizes. Ela seria amada.
Mas papai nos encontraria.
Eu sei que ele faria. Seus recursos são infinitos e sua riqueza é ainda
mais profunda. Seríamos arrancadas de qualquer cidade obscura em que
pousássemos e plantadas de volta neste apartamento. Mas sua ira acabaria
nos destruindo no final. Especialmente Della. Sua confiança e adoração por
mim – minha única ferramenta em meu arsenal – seriam completamente
apagadas.
Mas doze anos parecem uma eternidade. Não podemos durar tanto.
Eu tenho que descobrir outra maneira.
Minha mente luta para voltar a uma noite não muito tempo depois
que mamãe faleceu. Naquela noite, ele me bateu pela primeira vez. Eu
estava em seu escritório, tentando todas as combinações de números
possíveis em seu cofre, procurando fotos de mamãe, já que a maioria havia
desaparecido após sua morte. Demorou semanas para o hematoma no meu
rosto cicatrizar e eu não tinha permissão para sair do meu quarto até que
isso acontecesse. Todos os meus professores achavam que eu estava
gripada.
Não, eu não posso trazer isso para nós duas. Vou descobrir uma
maneira de nos tirar do fogo cruzado dele.
— Suponho que algumas noites fora a cada semana não vai doer — eu
digo com a voz trêmula, forçando um sorriso. — Você sempre sabe o
melhor, pai.
Suas feições suavizam e seus olhos azuis brilham enquanto ele me
olha. — Boa garota. Seu pai sabe o melhor. Tenho outra surpresa para você.
É o que você queria há muito tempo.
Eu franzo a testa, sem saber o que isso poderia significar. A única coisa
que quero ter, há muito tempo, é liberdade para mim e para Della. Nada
mais.
Bem, há uma coisa, mas ele não sabe sobre isso ...
Ele puxa um envelope do bolso interno e o desliza sobre a mesa em
minha direção. Olho para o emblema no envelope com Landry Croft
rabiscado com a letra elegante de alguém na frente.
Oh meu Deus.
Eu alcanço o envelope. NYU. Faculdade. Eu nem me incomodei em me
candidatar. Não porque não quisesse, mas porque não podia deixar Della.
Mamãe era uma dona de casa e papai sempre me disse que meu fundo
fiduciário faria isso para que eu nunca tivesse que trabalhar um dia na
minha vida.
— O que é isso? — Eu pergunto, já sabendo a resposta.
— Você foi aceita. — Seus olhos piscam de uma forma inteligente. —
Você sabe que eu sempre fico de olho na minha garotinha. Você é muito
preciosa para mim para eu deixar qualquer coisa acontecer com você.
Ele está me espionando – meu histórico de pesquisa no computador
para ser exata. O que mais eu poderia ter olhado que ele poderia ter visto?
Terror queima em meu intestino. Espero em Deus que eu não olhei para
nada que pudesse voltar para mim e Della.
— Não me candidatei. — Eu mordo meu lábio inferior para evitar que
ele trema.
— Puxei algumas cordas. Qualquer coisa para você, meu amor.
— Obrigada — eu forço para fora. — Eu não achava que era algo que
você me permitiria fazer.
— Você tem dezoito anos agora, querida. Você é uma mulher e vai
fazer grandes coisas.
Eu aceno como se concordasse.
Mas não.
Porque sair para “conhecer pessoas” e “fazer grandes coisas” significa
deixar a Della. Não gosto dessa necessidade repentina de nos separar.
Parece o começo de algo muito mais sinistro.
CAPÍTULO QUATRO
SPARROW

Cães na coleira.
É assim que Sully nos chama, mas foda-se, somos vadias mimadas.
Ando pelo estacionamento da NYU em meu Audi R8 Coupe novinho
em folha, como uma pantera perseguindo sua presa.
A princesa Croft.
Procurar. Corromper. Destruir.
Fácil. Se tarefas simples, como brincar com uma garota, me dão
presentes como meu carro novo e excitante, então que seja. Serei a putinha
do Bryant Morelli. O orgulho pode ficar para trás. Eu não sou como Sully. Eu
posso sorrir e suportar isso porque as recompensas que Bryant muitas vezes
joga em nosso caminho são boas demais para deixar passar.
Íamos tirar os palitos de como dividiríamos e conquistaríamos, mas
Bryant tinha tarefas específicas para cada um de nós. Vou estar em algumas
de suas aulas três dias por semana. Sully, por outro lado, ficou com a tarefa
chata de fazer algum trabalho na casa dos Croft. Scout, naturalmente, vai ser
a cobra que rasteja no mundo de Croft e morde quando eles menos
esperam.
Não tenho certeza de como Bryant nos colocou nessas posições ou
que cordas ele teve que puxar para que isso acontecesse, mas estou bem
com minha tarefa.
Faculdade.
É a única coisa que eu realmente queria... antes. Antes de Scout ficar
estranhamente obcecado com nossa meia-irmã, nos arrastar para sua merda
e nos fazer ganhar a surra de nossas vidas. Naquela época, quando éramos
idiotas mimados, eu estava no caminho do sucesso. Nossa mãe era uma
renomada cirurgiã plástica da elite e tinha ótimas conexões, mas eu era
inteligente e atlético. Eu não precisava que ela comprasse meu caminho em
qualquer lugar. Eu tinha planejado fazer tudo sozinho.
Agora, Bryant está oferecendo Harvard de volta para nós. Mais uma
vez, Harvard é algo que eu queria alcançar por conta própria e me ressentia
do fato de Bryant querer nos entregar em uma bandeja de prata. Mas,
quando eu vi o olhar desanimado nos olhos de Sully, eu sabia que tínhamos
que fazer isso. Ele está ressentido há um ano, perdido sem seus sonhos de
Harvard. Pelo menos, com este trabalho, posso ajudar a devolvê-lo a ele.
Mesmo que eu tenha que aceitar Bryant no comando. E Scout não dá a
mínima para Harvard, mas dá a mínima para nós, o que significa que ele vai
jogar junto também.
Meu humor de repente azedou, eu parei em uma vaga de
estacionamento, mas não desligo meu carro. Ainda tem o cheiro de couro
de carro novo, que é surpreendentemente calmante. Eu inalo uma
respiração profunda e exalo minha irritação. Scout é um idiota de
proporções épicas às vezes, mas ele é meu irmão. Não é culpa dele que ele
esteja um pouco fodido da cabeça. Eu provavelmente roubei toda a merda
boa no útero. Ele pode ter enganado eu e Sully para aterrorizar nossa meia-
irmã, o que acabou levando o namorado dela a nos entregar da pior maneira
possível, mas fizemos isso juntos. Sempre. Isso é o que fazemos. Somos
trigêmeos.
Como agora…
Estamos nessa coisa com Bryant Morelli juntos. Continuaremos sendo
seus “cães” até que ele decida soltar a coleira. Ou até Scout o morder.
Sorrindo com esse pensamento, eu desligo o veículo, pego minha
bolsa e saio. Os alunos estão correndo de um lado para o outro, já que são
quase oito da manhã. Não estou muito preocupado com o atraso. Não é
como se esse show falso da faculdade fosse durar para sempre.
Harvard está no horizonte. Mamãe ficaria tão orgulhosa.
Pensar em mamãe me faz ranger os dentes. Por causa dos
Constantines, ela está cumprindo pena. Imperícia. Não é culpa dela que as
pessoas feias ficaram mais feias depois da cirurgia. Ela era uma cirurgiã
plástica, não uma porra de um milagreiro. Winston Constantine, porém, em
seu esforço maldoso para arruinar nossas vidas, fez questão de reunir um
grande número de pessoas que poderiam testemunhar contra minha mãe.
Seu poder, influência e dinheiro selaram seu destino.
É por isso que estou muito feliz em ajudar a foder o mundo dele
novamente. Mesmo que seja por meios menos diretos. Agitando merda para
sua família de forma indireta vai parecer que estamos recebendo alguma
retribuição.
Como se fosse uma deixa, meu joelho se contrai de dor. Eu fui um
pouco duro demais na esteira esta manhã. Provavelmente vou lidar com os
efeitos posteriores daquele dia predestinado até morrer.
Malditos Constantines.
Ignorando a dor no meu joelho, eu atravesso o campus para onde
minha aula de inglês está localizada. Várias gostosas olham na minha
direção, sorrisos tímidos em seus lindos lábios. Cumprimento cada uma com
um sorriso malicioso e uma elevação do queixo. Talvez eu tenha mais sorte
em encontrar um pedaço de bunda na faculdade. Tinder é perda de tempo.
Eu não estou aqui para curtir, no entanto. Estou aqui para interferir na
vida da garota Croft. Landry é o nome dela. Que diabos de nome é Landry?
Quando chego à porta da sala de aula, espio, procurando a garota que
deveria estar seguindo. Bryant tinha me dado uma descrição física, mas só
tinha uma foto mais velha dela quando ela tinha uns dez ou onze anos –
toda dentes grandes e cabelos loiros crespos. Aparentemente, essa garota
não tem mídia social. Então, acho que estou procurando uma nerd total,
porque, sério, quem não tem mídia social hoje em dia?
As pessoas conversam, a sala de aula em estilo auditório ecoando com
o rugido maçante, enquanto esperam o instrutor começar, mas meus olhos
estão varrendo o local em busca do meu alvo. Muitas nerds e muitas loiras,
mas eu não estou recebendo vibrações de garota rica e mimada de
nenhuma delas.
Até ela.
Uma jovem na parte de trás, se destaca em particular. Ela se senta de
maneira régia - costas retas, queixo erguido, dedos entrelaçados em cima da
mesa. A garota não é exatamente uma nerd, mas também não diria gostosa.
Seu cabelo louro-dourado e lustroso atinge a altura dos ombros,
roçando sua delicada clavícula enquanto se enrola para dentro. Peitos
bonitos estão escondidos atrás de roupas demais para esta época do ano,
para meu aborrecimento. Pelo menos se eu tiver que me incomodar com
ela, ter belos seios para olhar seria uma vantagem. É evidente que ela tem
um pedaço de pau enfiado na bunda dela, eu nunca vou ter a chance de
retirá-lo. Meu sorriso arrogante e ótimo físico geralmente são suficientes
para fazer uma mulher se curvar à minha vontade, mas algo me diz que
Landry Croft será diferente.
Um cara ao lado dela com um arbusto encaracolado brotando do topo
de sua cabeça está cantando coisas para ela que só lhe rendem sorrisos
forçados e educados. Ele é sem noção. Ela nem vai olhar para ele. A garota
do outro lado me olha com interesse e então se inclina para sussurrar para
uma amiga do outro lado dela. Eu tento fazer contato visual com a minha
marca, mas ela congela a mim e a todos ao seu redor, apenas olhando para
frente em direção ao palanque do professor.
Eu largo minha bolsa na mesa do garoto arbusto com um baque alto,
meu laptop dentro responsável pelo som. Ele salta de surpresa e
rapidamente me avalia. O estremecimento que encontro me diz que ele
sabe que não é páreo.
— Você está no meu lugar, cara. — Eu casualmente empurrei um
polegar atrás de mim. — Saia.
Sua boca se abre. — Nós não temos assentos atribuídos…
— Cara, eu não gaguejei.
Gelo pinica sobre minha pele. Leva dois segundos para perceber que o
frio não vem do ar condicionado, mas sim do brilho da garota Croft. Bom.
Ela precisa entender que eu sou uma parte de seu mundo agora.
O idiota ao seu lado resmunga baixinho, mas atende minha demanda.
Depois que ele sai furioso, bufando insultos baixinho quando ele passa por
mim, eu deslizo ao redor da mesa e caio no assento ao lado de quem estou
supondo ser Landry.
— E aí? — Eu elevo meu queixo, uma de minhas assinaturas e dou um
sorriso que deixa as mulheres fracas.
Seu lábio se curva em desgosto. — Você é um idiota.
Então ela tem opinião. Um sorriso ameaça se libertar, mas eu o
sufoco. — E, depois de três segundos de estar aqui, eu deduzi que você é
uma vadia. Acho que isso nos torna parceiros.
Ela me ignora enquanto abre seu caderno e escreve com cuidado a
data de hoje no topo do papel. Observo cada movimento preciso com
interesse. Assim que ela termina, ela me lança um olhar de lado.
— Você vai ficar me encarando o tempo todo?
Eu dou de ombros e me inclino para trás no meu assento, esticando
minhas longas pernas cobertas de jeans na minha frente. Infelizmente, para
me encaixar na vibe da faculdade, tive que trocar meus ternos por essa
merda. — Provavelmente. Eu odeio inglês, então é provável que eu fique
entediado pra caralho em dez minutos. Parece que vou ter que me
contentar em olhar para você em vez disso.
— Eu não perderia seu tempo — ela murmura, de alguma forma
sentada ainda mais reta do que antes.
Fiel à minha palavra, deixei meu olhar varrer seu nariz pequeno e
arrebitado e descer até seus lábios rosados e carnudos. Para uma princesa
arrogante, sua boca é tentadora. Nenhuma porra de mentira. Aposto que, se
persuadida da maneira certa, ela poderia chupar pau como uma campeã.
Meu pau se contorce no meu jeans com o pensamento desta princesa
gelada de joelhos entre minhas pernas.
— Ford — minto, oferecendo-lhe minha mão. — Ford Mann — Uma
brincadeira com meu sobrenome, Mannford. Foi minha sugestão para
Bryant quando ele estava lidando com a porcaria dos bastidores, como criar
uma identidade falsa. Processe-me por falta de originalidade. — E você é…
Ela corta sua atenção para a minha mão e nega meu toque
completamente antes de virar seus olhos azuis brilhantes para os meus. —
Landry Croft.
Eu tinha razão.
Claro que eu tinha.
— Mmm. — Eu sorrio para ela. — Laundry. Um nome incomum.
— Landry — ela corrige em um tom mordaz. Suas narinas se dilatam e
o rosa corre em suas bochechas cremosas. — Encontre outra pessoa para
chatear. Não interessada. — Ela se vira para a frente e começa a copiar em
seu caderno as coisas que foram escritas no quadro.
Eu a vejo tentar fugir de mim por dez segundos antes que eu não
aguente. A vontade de cutucá-la é intensa. Girando na minha cadeira, eu
olho para a lateral dela e me inclino tão perto que posso sentir o perfume
doce que gruda em sua camisa. Seu corpo inteiro congela e ela não se
afasta.
— Você — murmuro roucamente perto de sua orelha — não tem
escolha. É inevitável. Não aja como se eu não fosse o cara mais gostoso que
você já viu.
Ela zomba, mas é uma tentativa tão idiota de encobrir o fato de que
ela me acha atraente. Eu sorrio, me inclinando mais perto – tão perto que
eu poderia beliscar o lóbulo de sua orelha se eu quisesse. Estou pensando
nisso quando sua mão se move rapidamente. Algo pontudo cutuca meu pau.
Essa garota louca está realmente prestes a esfaquear meu pau com a
porra da caneta?
Lentamente, ela se vira para mim e usa a outra mão para empurrar
meu peito. Considerando que ela tem uma arma apontada para o meu pau,
eu obedeço, recuando alguns centímetros. Seus olhos estão piscando como
luzes elétricas azuis brilhantes. Ela está claramente tendo prazer em sua
vantagem.
— Você não vai me esfaquear lá.
Ela pressiona mais forte contra meu jeans. Um deslize e ela vai espetar
uma das minhas malditas bolas. Eu fico tenso e cerro os dentes, olhando
para ela.
— Não vou? — ela provoca, uma sobrancelha dourada arqueando em
diversão óbvia.
Nossos olhares travam, nenhum de nós recua. Quanto mais eu olho
para ela, mais eu decido que ela é completamente fodível. Uma vez eu
derreto um pouco o gelo primeiro.
— Trégua, Laundry?
Apesar de sua irritação, seus lábios se curvam de um lado. — Isso
significa que você vai parar de falar comigo durante a aula?
— Sim. Eu gosto das minhas bolas.
— Você vai desistir assim?
— Não é desistir. É uma trégua.
— Então, o que você está recebendo em troca dessa trégua?
Eu lentamente abaixo e enrolo minha mão grande em torno de seu
pulso fino, dando-lhe um aperto de advertência. Ela corajosamente aperta a
caneta com mais força até que eu assobio com a sensação da coisa
ameaçando rasgar meu jeans e causar danos reais.
— Eu disse que teremos uma trégua, mulher. Porra.
— E eu perguntei o que você vai receber em troca.
— Café depois.
Ela me lança um olhar perplexo. — Seriamente? Você acha que eu
realmente tomaria um café com você ou iria com você a qualquer lugar de
bom grado? — Uma risada sombria escapa dela. — Eu não tenho um desejo
de morte, garoto idiota.
Garoto.
Que porra. Nunca.
— Você vai ceder. — Eu pego o olhar de uma garota olhando para
mim e pisco para ela. Ela cora e se afasta. — Elas sempre fazem.
— Talvez uma de suas groupies — Landry sibila. — Mas eu não sou
uma de suas groupies.
O professor entra na sala e, rápido como um relâmpago, Landry se
solta do meu aperto, levando sua caneta malvada com ela.
— Ainda, Laundry. Você ainda não é minha groupie. — Eu sorrio
diabolicamente para ela. — Mas não se preocupe. Temos todo o semestre.
Vamos virar seu mundo do avesso, princesinha do gelo, e vai levar
muito menos tempo do que um semestre.
CAPÍTULO CINCO
LANDRY

Outra aula no mesmo dia com esse idiota?


Ford Mann.
Uau, ótimo.
Se minha vida fosse normal e ele não fosse um babaca tão épico, ele
seria o tipo de cara que eu estaria interessada. Ele é assertivo e comanda
uma sala, mas não da mesma forma que estou acostumada com meu pai.
Algo sobre Ford me garante que, mesmo sendo um babaca, ele
provavelmente poderia me fazer rir e me mostrar um momento épico
incrível. Acho que, se permitido, ele pode ser o tipo de cara que cresce em
mim.
Sua arrogância à parte, Ford é extremamente agradável aos olhos. O
cabelo castanho-escuro – quase preto – no alto da cabeça está com gel para
trás e as laterais são aparadas curtas. A curva ao longo de sua mandíbula é
severa, obrigando seus olhos a percorrer sua linha sensual. Pêlos faciais
escuros salpicam suas bochechas como se ele estivesse com preguiça de
passar uma navalha sobre ele esta manhã, mas de alguma forma parece
estupidamente quente e dá a ele uma vantagem de bad boy.
Tudo em Ford parece fácil. Como se ele não precisasse se esforçar
muito para parecer um deus que acidentalmente tropeçou em um campus
universitário. É natural para ele.
Quando seus olhos – a cor de xarope de bordo escuro – encontram os
meus, eles piscam com prazer travesso. Eu quero ignorá-lo, mas ele torna
isso impossível. Eu consigo tirar meu olhar de seu rosto e deixá-lo vagar por
seu corpo enquanto ele se aproxima. Com mais de um metro e oitenta, e
músculos mal escondidos atrás de uma camiseta preta, ele é um belo
espécime de homem.
Ele vai arruinar isso abrindo a boca, porém, em três... dois... um...
— Você está me perseguindo, Laundry? — Uma de suas sobrancelhas
escuras se arqueia em diversão. — Eu sabia que seria apenas uma questão
de tempo.
Eu mordo o canto interno do meu lábio inferior com força suficiente
para enfiar algum sentido em mim. A dor aguda da mordida me faz desviar a
atenção dele e voltar para o meu caderno - o mesmo caderno em que fiz
anotações na minha aula de inglês enquanto Ford apenas olhava para mim.
— E será apenas uma questão de tempo antes que você falhe — eu
resmungo, tentando não ficar tensa quando ele cai no assento ao meu lado.
3
— Hora de voltar para Jersey Shore , babaca.
Ele bufa o que soa como uma risada surpresa. — Cadela.
Eu dou de ombros, fazendo o meu melhor para ignorá-lo. Mas, isso é
quase impossível quando eu não consigo respirar sem inalá-lo. Seja qual for
a colônia cara que ele está usando me dá água na boca – como o cheiro do
mar com um toque de especiarias.
— Vá embora — eu resmungo. — Você é irritante.
— Já fui chamado de muitas coisas por garotas, mas nunca irritante.
— Bem, se você está usando palavras como 'garotas' para descrever as
mulheres que você encontra, eu realmente não entendo como você não foi
chamado de pior do que irritante.
— Eu gosto de uma mulher que pode lutar verbalmente comigo.
— Encantador. Tchau.
O calor de seu olhar queimando na lateral da minha cabeça me deixa
inquieta. Eu tento não me contorcer ou mesmo olhar em sua direção.
Minutos se passam enquanto esperamos a aula começar. Eu sou quase
capaz de fingir que ele não existe até que ele estende a mão e agarra a parte
de trás da minha cadeira. Um grito de surpresa explode de mim quando ele
começa a me arrastar para mais perto.
— O que você está fazendo? — Eu atiro nele. — Você é louco?
— Não, esse é meu irmão. — Ele me dá um sorriso de lobo, mas
rapidamente desaparece quando um vislumbre de alguma emoção não
identificável passa por suas feições. — Eu te disse. Eu não vou desistir até
que você me dê o que eu quero.
A ousadia desse cara.
Se papai soubesse que eu tenho um perseguidor, ele surtaria. Caras
como Ford Mann não são páreo para meu pai. Os recursos financeiros
ilimitados de papai lhe dão uma posição épica de poder. Isso o torna um
oponente formidável.
Mas, por mais irritante que Ford seja, eu nunca desejaria a ira do meu
pai sobre ele. Minha irmã é submetida a isso diariamente e é um pesadelo.
— Café? — eu murmuro. — Você ainda está nisso?
— Sim.
— Eu já disse não.
— Estou esperando um sim, Laundry.
Bastardo insistente.
4
— Não vai acontecer, Chevy .
Uma risada explode dele, provocando um dos meus próprios lábios.
Eca. Ele é incômodo. Eu não gosto da risada dele, então por que estou rindo
baixinho também?
— Eu estou crescendo em você — diz ele em um tom presunçoso e
satisfeito.
— Sim, como um tumor — eu jogo de volta.
— Olha como estamos nos divertindo. — Ele espera até eu espiar seu
caminho para me dar um sorriso torto que aquece meu sangue. — Viu?
Você não é como elas.
Eu sigo o gesto entediado de sua mão para algumas garotas olhando
abertamente para ele. Elas são todas sexys, atraentes e jovens. Vestidas
confortavelmente e casualmente. Obviamente curtindo sua vida
universitária. Essas garotas são tudo que eu não sou.
E embora provavelmente tenham a mesma idade, sinto que vivi
décadas – uma alma velha e cansada presa no corpo de uma jovem adulta.
— Você me faz trabalhar por isso. — Ele se inclina para frente, seu
sorriso se tornando juvenil. — Eu gosto da perseguição.
Uma emoção dispara pela minha espinha. A ideia desse homem
grande e lindo me perseguindo em qualquer lugar é quase demais para se
pensar. É um ponto discutível de qualquer maneira. Eu não posso fantasiar
sobre um aspirante a fraternidade quente e desagradável de Jersey Shore
quando tenho coisas muito mais importantes com que me preocupar.
Como manter o papai feliz para que ele fique longe de Della.
E tentando socializar com seus colegas chiques.
Apesar dos meus medos originais de ir para a faculdade e deixar Della
para fazer isso, na verdade é uma coisa boa. Eu poderia ser capaz de
conhecer algumas pessoas que poderiam me ajudar se eu precisasse.
Também terei acesso ao centro de mídia da universidade. Posso fazer toda a
pesquisa e planejamento que quiser para mim e para o futuro de Della sem
medo de papai me espionar.
A última coisa que ele precisa descobrir é minha necessidade
moribunda de escapar dele para sempre.
Mas, na faculdade, posso fazê-lo com segurança.
Onde eu a levaria? Ela adoraria ir à praia. Ou, melhor ainda, algum
lugar com animais que ela pudesse visitar. Teria que ser uma cidade
pequena onde pudéssemos desaparecer. Eu precisaria de uma identidade
falsa. Eu nem tenho certeza de como eu conseguiria algo assim. Planejar
uma fuga – quando você tem que esconder seus rastros de seu pai malvado
e enquanto não tem acesso a dinheiro – é um pouco esmagador.
Toda vez que penso em fugir, acabo andando em círculos na minha
cabeça, nunca chegando a algo sólido e acionável.
Aposto que Ford é um homem de ação. Aposto que ele saberia
exatamente o que fazer na minha situação. Meu coração aperta quando me
pergunto se eu poderia eventualmente me aproximar o suficiente de
alguém – como Ford ou alguém menos idiota – aqui na faculdade em quem
eu pudesse confiar.
— Isso tudo não é um esforço para atrair você para minha cama —
digo a ele exasperada. — É para afastá-lo definitivamente. Eu não sou um
obstáculo para pular.
— E ainda assim eu quero pular em você…
Outra risada estúpida me escapa e ele se junta.
— Ford…
— Está tudo bem gostar de mim secretamente — diz ele enquanto
estende a mão para brincar com uma mecha do meu cabelo. — Acho que
podemos ser grandes amigos.
Amigos.
A palavra quase parece estrangeira.
De acordo com papai, amigos são pessoas que querem usar você para
ganhar algo em seu benefício. Eles usam pessoas como ele por seu dinheiro,
meios e acesso à informação. E por padrão, por causa de quem eu sou, eles
vão me usar também.
Ford sabe que sou a herdeira de uma fortuna tecnológica?
— O que? Você está desapontada que eu não estou tentando
ativamente entrar em suas calças? Admito, Laundry, você é um osso duro de
roer.
— Eu não estou desapontada — eu cuspo. Ok, então talvez um pouco
de uma forma profunda e oculta de fantasia secreta. — Eu só... — Um
suspiro sai dos meus lábios. — Não tenho muitos amigos. Seria um esforço
desperdiçado da sua parte.
— Com essa atitude lamentável, não é de se admirar o porquê — ele
diz impassível.
Dou uma cotovelada em seu peito, precisando desesperadamente que
ele se afaste de mim. A besta gigante do homem apenas ri e joga o braço
nas costas da minha cadeira. Um cara do meu outro lado lança seu olhar
para mim, depois para Ford, que rapidamente o afasta.
— Você está olhando para aquele cara? — Eu me viro para olhar para
Ford. — Você está!
Seus olhos estreitos deixam o cara e caem de volta no meu rosto. Eu
não posso deixar de ver como seus lábios se curvam em um sorriso sedutor
que torce meu estômago. — Apenas marcando meu território.
— Seu território? — Eu balanço minha cabeça em desgosto. — Você é
nojento.
— Eu sou muito carente de uma... amiga... para compartilhar. — Ele
sorri para mim, largo e brilhante como o sol. — Você é toda minha.
Estremeço com a maneira como suas palavras percorrem minhas
veias. Eu não deveria gostar tanto dessas últimas três palavras, mas gosto.
— O que vai fazer você me deixar em paz? — Eu pronuncio em
derrota.
— Eu já te disse. Café. Depois da aula.
Por uma fração de segundo, imagino nós dois aconchegados em um
sofá na cafeteria mais próxima, tomando café e trocando farpas. Na
verdade, soa meio divertido. Pena que eu não tenho permissão para nada
disso. Mesmo que eu baixasse a guarda por um minuto, papai certamente
não permitiria.
— Eu não posso — eu admito. — Meu motorista estará aqui logo
depois da aula, e eu vou precisar voltar para casa para minha irmãzinha.
— Você não pode, mas você gostaria?
A verdade não vai doer nada.
— Não seria um encontro. — Eu estreito meus olhos para ele. — Não
que isso importe. Mas, se eu pudesse, seria apenas um café com um amigo.
Nada mais.
Seus olhos xaroposos me atraem e me hipnotizam. — Então você
admite que é minha.
Minha mandíbula se desequilibra. — O que? Não.
— Minha amiga — esclarece. — E é tarde demais para voltar atrás.
Felizmente, o professor entra, encerrando nossa conversa. Algo me
diz, porém, que ele não vai desistir depois da aula. Talvez eu só precise
aceitar que fiz um amigo de faculdade. Um amigo de faculdade
estupidamente gostoso e super chato, mas ainda assim um amigo. Della
estará interessada em ouvir sobre esse cara. Eu mordo meu lábio para não
deixar um sorriso escapar.
Ele escapa de qualquer maneira.

— Sabe — diz Ford, sorrindo maliciosamente enquanto se aproxima de


mim no corredor depois da nossa segunda aula do dia — eu poderia te dar
uma carona.
— Você é um pervertido.
Ele ri, o som aquecendo partes de mim que eu nunca soube que
existiam. — Tecnicamente, você é a pervertida. Eu quis dizer um passeio
real. No meu carro. Não no meu pau.
A menção do pau de Ford tem uma enxurrada de calor correndo por
mim. Eu lhe dou uma cotovelada forte na lateral do corpo e corro à frente
dele. Com base em sua risada estúpida, eu diria que ele está gostando de
me atormentar.
Você também gosta…
Eu não me deixo me debruçar sobre esse pensamento por muito
tempo.
Um braço pesado e musculoso envolve meus ombros enquanto Ford o
alcança. Ele é tão piegas. Eu odeio que eu mal conheço o cara e meu corpo
responde como se ele fosse familiar para mim.
Eu reviro os olhos, mas não o afasto. Por um segundo, posso fingir que
sou uma mulher normal em idade universitária com um cara bonito que está
interessado nela. Não há pais controladores e abusivos ou irmãzinhas que
precisam de cuidados. Não há pressão, estresse ou drama.
Várias pessoas olham para nós enquanto passamos. Não tenho certeza
do que está chamando a atenção deles. Meu dinheiro ou a besta sexy do
homem que parece estar reivindicando algo sobre mim. Uma vibração no
meu peito indica o quanto eu gosto dessa ideia.
O que é completamente estúpido.
Posso me permitir um amigo, mas nada mais. Não quando há tanto em
jogo. Ir descaradamente contra os desejos expressos de papai de me fazer
sair com alguém em seu círculo de poder seria a pior coisa possível que eu
poderia fazer. Ele não só poderia voltar atrás e me impedir de ir à faculdade,
como poderia de alguma forma punir Della com sua raiva.
Estou me sentindo bastante sombria e consternada por levar um
segundo para perceber que paramos e Ford está falando comigo.
— Esta é a parte em que você deveria ficar impressionada — ele
resmunga, acenando com a mão em direção a um veículo elegante. —
Seriamente. Não podemos ser amigos se você nem reconhece meu bebê.
Ele está fazendo beicinho.
Sobre um carro estúpido.
Por alguma razão, isso me diverte. É, de fato, um carro lindo, mas o
fato de eu não ter elogiado sua beleza e ele estar fazendo beicinho sobre
isso, faz uma bolha de riso escapar. Uma tentativa de abafar minha risada
leva a um bufo nada feminino, o que me faz explodir em mais risadas.
Ford me solta, resmungando baixinho, e aperta o chaveiro. Eu mordo
meu lábio inferior para conter minha gargalhada. Ele abre a porta e gesticula
com ênfase, como se quisesse provar que o interior é igualmente bonito. É o
olhar de pura exasperação em seu rosto que me faz perder o controle
novamente.
— Você é uma verdadeira vadia, Laundry — ele grita, embora não haja
nenhum veneno real em seu tom. — Ninguém nunca riu do meu carro antes.
— Você disse que eu era diferente e você estava certo. Aposto que
você está repensando em me tornar sua amiga. — Eu arqueio uma
sobrancelha para ele agora que o riso desapareceu. — Vejo você por aí,
Chevy.
Seus olhos de xarope de bordo percorrem lentamente meu corpo,
preguiçosamente absorvendo cada detalhe de mim. Eu tento não me
contorcer, mas quando alguém como Ford Mann está praticamente
devorando você, é difícil não.
— Deixe-me levá-la para casa — ele pede, sua voz caindo vários
oitavos e conseguindo reverberar através de mim. — Vou devagar.
O fogo em seus olhos diz que ele está falando mais do que apenas um
passeio em seu carro. Ele está falando sobre o passeio da minha vida. Tudo
o que eu teria que fazer é ceder.
O cascalho estala atrás de mim e um Mercedes SUV preto e elegante
para. Reconheço Trey, um dos motoristas de papai, sentado ao volante.
Hora de ir.
— Minha carona está aqui. — Faço um movimento em direção ao
Mercedes. — Talvez outra hora.
Como nunca.
Infelizmente.
Ford tira seu olhar de mim para dar uma olhada em Trey. Quando seus
olhos encontram os meus, eles estão mais duros do que antes e brilham
com algo quase calculista. O calor entre nós é apagado e um calafrio
percorre minha espinha.
— Adeus, Ford.
— Vejo você em breve. — Ele pisca para mim, mas a ação é quase
provocante. — Isso é uma promessa.
CAPÍTULO SEIS
SULLY

Eu poderia sair de Nova York.


Pegar meu Ford Bronco amarelo-mostarda – um carro que comprei
com meu próprio dinheiro que ganhei aqui e ali – e deixar esta porra de
cidade estúpida.
Deixar mamãe e meus irmãos.
O filho da puta Morellis.
Constantines e suas besteiras de superioridade.
Eu faria as malas e iria para o oeste. Dirija pela rota cênica por todo o
caminho, parando para cheirar as rosas em todas as oportunidades. Eu
sempre quis ir para Cali. Talvez eu pudesse aprender a surfar. Eu seria bom
nessa merda, aposto. Eu não sou de ternos como Sparrow, então eu poderia
me contentar trabalhando em cima de uma loja de souvenirs, gastando todo
o meu dinheiro suado em roupas de surfista ou seja lá o que os caras da
Califórnia gastam seu dinheiro. Ainda seria mil vezes mais legal do que
minha vida consiste agora. Eu seria muito mais feliz, isso é certo.
Não há nenhum sonho da Califórnia para esse garoto da cidade
grande, no entanto.
A verdade é que meu sonho de viver minha própria vida é apenas isso.
Um sonho. Eu sei, no fundo, nunca deixarei meus irmãos. Não somos apenas
irmãos normais. Somos trigêmeos. Um terço de algo inteiro. Partir
significaria cortar dois dos meus membros. Eu simplesmente não consigo.
Então, eu vou viver em constante turbulência mental.
Ou pelo menos até que eu possa convencer Scout e Sparrow que há
mais em nossas vidas do que ser o trio de vadias de Bryant.
É por isso que estou levando meu Bronco durão para o Hudson Yards.
Minha fera amarela se destaca como um polegar dolorido ao lado de todos
os Maseratis, Bentleys, Bugattis e outros carros esportivos brilhantes que
Sparrow adoraria.
Meus sonhos de surfista terão que esperar.
Não demoro muito para chegar ao impressionante prédio de oitenta e
oito andares onde vou assumir meu "turno" com os Crofts. Este lugar é
muito melhor do que qualquer coisa a que estou acostumado, e isso diz
muito, considerando minha criação. Estou um pouco ansioso para verificar o
interior para ver se é nem metade tão bom quanto o exterior.
Porra, porra.
Ansioso?
Eu quero me dar um soco no saco por estar mesmo remotamente
ansioso por um prédio chique. Se controla, cara.
Deus, é tão chato que estou preso a este trabalho. Naturalmente,
Sparrow e Scout ficaram com as boas tarefas enquanto eu fiquei com a
estúpida. Meu trabalho é ensinar leitura de fala para a garota Croft mais
nova. Aparentemente, após uma rápida pesquisa na internet, está
basicamente ensinando uma pessoa surda a ler os lábios. Parece fácil o
suficiente e ela é uma criança, então acho que posso fazer isso, mas ainda
soa chato pra caralho. Aposto que nem Sparrow nem Scout passaram a
noite inteira tentando aprender o básico de outro idioma como eu tive que
fazer. Eu posso assinar o alfabeto, mas é aí que minhas habilidades
terminam. Esse ardil pode acabar antes de começar se eu não conseguir
convencer essas pessoas de que sou um especialista.
Sinceramente, não tenho certeza do que esperar quando chegar lá.
Claro que meu irmão é inútil na comunicação. De acordo com nossa
conversa quando Sparrow voltou da aula, ele teve um dia interessante e
divertido com Landry.
Essa foi toda a informação que ele deu.
Interessante e divertido.
Ele nem me disse se ela era gostosa, mas com base no jeito que ele
sorriu, eu diria que ele achava isso. Inferno, conhecendo Sparrow, ele
provavelmente já transou com ela. Esse trabalho que Bryant nos mandou
fazer é ridículo, especialmente se Sparrow planeja ficar de boca fechada
sobre seu encontro com ela. Apesar de sermos trigêmeos, somos muito
diferentes. A primeira vez que ela enfrentar Scout, isso será gritantemente
óbvio.
De qualquer forma.
Se ela descobrir, então essa farsa terá acabado. Bryant pode encontrar
outra maneira de foder com Croft e os Constantines. Talvez ele encontre
outra coisa para ficar obcecado e nos deixe em paz. Pode ser mais fácil
convencer meus irmãos a deixar esta cidade infernal se não estivermos em
uma das pequenas missões de Bryant.
Eu tento imaginar Scout como um surfista. Ele provavelmente tentaria
dar Sparrow aos tubarões. Isso me faz sorrir, apesar da minha situação
irritante.
Viro na entrada em forma de C em frente ao prédio em que os Crofts
moram e aperto o botão da janela. Um manobrista vestido com um
uniforme azul-marinho engomado corre em minha direção, seu rosto se
contraindo com desgosto quando seu olhar varre meu Bronco.
Foda-se ele.
Amarelo parece legal pra caralho.
— Senhor, como posso lhe ajudar? — ele pergunta, ficando a uma
distância segura do meu veículo.
Pego minha carteira e abro, revelando a carteira de motorista falsa
que Bryant deu a cada um de nós. Mesmo nome em todos os três: Ford
Mann. — Estou aqui para um encontro com, uh, Sandra, eu acho.
Ele arranca minha carteira do meu alcance, estudando o cartão de
identificação. Finalmente, ele me dá um breve aceno de cabeça enquanto o
devolve. — É claro. Ela está esperando por você, Sr. Mann. Quando você
estiver pronto para pegar o seu carro, basta ligar para este número e eu vou
buscá-lo para você. — Ele passa um bilhete para mim e depois sai do
caminho.
Saio do Bronco e entro. Eu tentei imitar o que Sparrow estava vestindo
– jeans e uma camiseta preta – mas não consegui fazer meu cabelo fazer o
que o dele faz, já que nem todo mundo passa três quartos do dia na frente
do espelho e se acomoda. Optei por um boné de beisebol em vez disso.
Próximo o suficiente.
O prédio é chique. Estou recebendo alguns olhares desagradáveis, pois
aparentemente há um código de vestimenta aqui. Todo mundo está
vestindo ternos e vestidos como se fosse um maldito baile, não um prédio
residencial. Eu não sou um pobre perdedor, no entanto. Eu cresci rico, então
olho para cada idiota que tenta me olhar de cima até desviar o olhar.
Um homem de uniforme de segurança se aproxima de mim para
verificar minha identidade. Eu sou forçado a ficar lá por vários minutos
enquanto ele examina. Eu sei que o cara da identidade de Bryant é bom,
porque ele trabalha para os Morellis, mas porra, isso ainda me faz sentir
como se esse oficial de segurança estivesse me vendo pela fraude que eu
sou. Depois de muito tempo, ele finalmente me devolve minha identidade e
aponta para uma fileira de elevadores.
Espero as portas se abrirem junto com uma mulher idosa segurando
um mini poodle. Ele inclina a cabeça para mim como se também estivesse
ciente de que não pertenço aqui. Se Scout estivesse aqui, ele provavelmente
rosnaria para isso. Já que eu não sou um idiota total, eu estendo a mão e o
coço no topo de sua cabeça. A velha me lança um olhar de reprovação.
Quando as portas se abrem, ela franze os lábios e entra no elevador,
certificando-se de ir até o canto mais distante.
— Senhorita Franks — um homem no elevador diz em saudação. —
Sexagéssimo segundo?
Ela lhe dá um aceno cortante, nem mesmo se preocupando em
reconhecê-lo. Ele olha para mim depois de esmagar os sessenta e dois.
— Você, garoto?
— Oitenta e oito.
O cachorro lati para mim e a mulher faz uma careta. — Essa é a
cobertura, senhor.
— Você tem que ter um código — diz o homem, franzindo a testa.
Desde que Bryant configurou tudo isso, eu tenho, de fato, um código.
Com um sorriso presunçoso para a mulher vadia, digito os números no
teclado e depois aperto o "P" de cobertura. O homem sorri para mim.
Pego meu telefone, precisando fazer algo para a longa viagem até o
topo. Quando o homem, a mulher e o filhote de julgamento finalmente se
vão, respiro um pouco mais fácil. Este lugar é tão abafado 'pra' caralho.
Eu finalmente chego ao andar designado e as portas se abrem com um
ding em uma grande área de lobby com tetos altos, pisos de mármore e uma
fonte tilintante no centro. Do outro lado dos elevadores, além da fonte, há
uma porta enorme para a cobertura, que por acaso está entreaberta.
Algo preto sai pela porta e passa correndo por mim.
Rato?
A ideia é tão absurda para um prédio tão bonito que quase ri. Mas,
uma criatura maior com cabelos dourados a persegue, momentaneamente
me assustando.
De dentro da residência, uma mulher está gritando o nome Della
repetidamente, cada vez mais agitada. Em vez de ir em direção ao som da
voz da mulher, viro à esquerda e sigo o que deve ser Della, se eu tivesse que
adivinhar. Eu a encontro em um canto do saguão, agachada ao lado de uma
planta, estendendo o braço atrás dela.
O flash preto que eu tinha visto parece muito com um gato baseado
no silvo furioso que está fazendo. Apesar dos gritos raivosos de advertência,
a garotinha continua tentando agarrar o gato.
— Ei, garota.
Nenhuma resposta.
Um suspiro pesado me escapa.
Eu bato na garota no topo de sua cabeça, já que ela não será capaz de
me ouvir. Ela se vira, fogo brilhando em seus olhos verdes. Sua mão passa
pelo meu antebraço, marcando a carne com força suficiente para doer, mas
não tirar sangue. Olhando para ela, eu balanço minha cabeça. Pelas
informações que Bryant me deu, descobri que ela é surda. Não significa não
em todas as línguas, no entanto.
Ela levanta o dedo médio, o que seria cômico se não fosse pelo fato de
ela ter seis anos ou algo assim. Que merda de verdade. E, sim, também
significa a mesma coisa em todas as línguas.
— De volta para você — eu rosno, oferecendo meu dedo médio de
volta.
Seus olhos se arregalam e sua boca se abre como se ela estivesse
chocada. Ela vai aprender bem rápido, eu não vou deixar uma pequena
terrorista me intimidar.
— Sua mãe está chamando por você — eu digo, gesticulando em
direção ao som de uma voz ao virar da esquina.
Della rosna, mostrando os dentes. Merda selvagem. Suas mãos se
movem rapidamente, sem dúvida assinando algo que eu deveria interpretar.
Mas, ao contrário do meu currículo falso brilhante, eu não conheço a
linguagem de sinais americana. Algo, apesar do meu desejo de não fazer,
terei que me tornar mais proficiente se pretendo manter essa farsa.
Lentamente, sinalizo para ela uma das únicas coisas que aprendi além
do alfabeto. Olá, eu sou a Ford.
Seus olhos se estreitam, observando meus movimentos. Então,
lentamente, ela soletra Della, pontuando cada sinal com gestos irritados.
— Della — eu digo, pronunciando o nome dela, o que me rende um
aceno de cabeça.
Ela aponta para a planta e então faz mais sinais – que eu tenho certeza
que ela está zombando de mim com base no sorriso de escárnio em seu
rosto – as letras G-A-T-O.
— Se eu pegar seu gato, você vai voltar para dentro?
Ela acena com a cabeça novamente, me lançando um sorriso diabólico
que eu não acredito por um segundo. Ninguém me avisou que eu seria babá
da princesinha de Satanás.
Eu agarro seus ombros delicados e a afasto do caminho. Então, eu me
ajoelho para pegar o pobre gato que não quer nada com a pirralha malvada.
O gato mia daquele jeito assustador, me deixa em paz, mas eu já cheguei até
aqui. Eu amaldiçoo quando garras cravam na minha mão.
— Filho da puta — eu rosno baixinho. — Nós dois sabemos que essa
criança não vai desistir até que ela tenha você em suas mãos. Que venha de
bom grado, selvagem.
O gato continua com seus sons estrondosos de advertência, mas ele
avança lentamente na minha direção. Quando está perto o suficiente, eu
acaricio a palma da mão sobre seu pelo emaranhado. Meio estranho para
um gato estar em um estado tão triste quando ele parece ser o animal de
estimação de uma das crianças mais ricas da cidade. Depois de alguma
persuasão, o gato finalmente me permite puxá-lo em meus braços.
— Ai está. Esse é um bom garoto — eu cantarolo enquanto me coloco
de pé.
A garota diabo me chuta forte na canela. Então ela faz aquele sinal
lento e soletra G-A-R-O-T-A. Reviro os olhos e abraço o gato mais perto. —
Você é uma merdinha malvada. Você sabe disso?
Della inclina a cabeça para o lado, piscando furiosamente. Eu estava
murmurando quando disse as palavras, então ela provavelmente perdeu o
que eu disse. Provavelmente foi o melhor.
— Entre — eu digo severamente e apontando para sua porta,
certificando-me de que ela não tem problema em entender essa palavra.
Ela cruza os braços sobre o peito e levanta o queixo. O desafio
ondulando dela é poderoso. Della pode ter vindo a este mundo em
desvantagem por causa de sua deficiência auditiva, mas ela compensa isso
sendo um bebê tirano.
Mas, eu sei tudo sobre ser um pirralho. Eu e meus irmãos éramos os
piores do mundo na idade dela. Definitivamente necessário um para
conhecer outro. É preciso um para ser capaz de lidar com outro. Com minha
mão livre, eu gentilmente agarro sua nuca e a guio ao meu lado. A princípio
ela resiste, mas depois cede, caminhando de boa vontade. Quase nos
deparamos com uma mulher quando ela sai pela porta.
— Della — exclama a mulher, certificando-se de também sinalizar as
palavras. — Você está em apuros, senhorita.
Eu tomo nota que a semente do diabo não mostra o dedo médio para
sua mãe. Embora, ao observar a aparência dessa mulher, não ache que ela
seja sua mãe. A mulher provavelmente está na casa dos cinquenta, com
cabelos escuros com mechas grisalhas presas em um coque prático. Sua
maquiagem é impecável. Se não fossem as rugas entre as sobrancelhas,
aparentemente uma vida inteira de carranca excessiva e cabelo de velha, ela
poderia passar por mais jovem.
— Obrigado jovem, por encontrá-la. Esta é precoce. Na maioria dos
dias, ela me deixa louca. — Ela me estuda por uma batida. — Sou Sandra
Ellis. O Sr. Croft me contratou para administrar a casa. Você é o tutor de
leitura de fala?
— Este sou eu. Ford Mann. — Eu olho para baixo para o jeito que eu
ainda estou segurando Della como se ela pudesse fugir se eu a soltasse. —
Eu apertaria sua mão, mas...
— Eu entendo. — Seu nariz torce. — Por favor, me diga que é seu gato
e não dela. Eu tive que pegar os últimos três cães abandonados que ela
encontrou. Seu pai não permite que ela tenha um animal de estimação e ela
sabe disso. Não tenho certeza por que ela continua tentando.
Della endurece, os músculos sob meu toque se contraem. Eu decido
jogar com a garota porque a babá sem alma aqui parece muito ansiosa para
outro assassinato de gato.
— Heathen é minha. — Eu coço a gata atrás das orelhas. Ela rosna em
advertência, como a pequena psicopata que sua verdadeira dona é. — É
uma boa terapia para as crianças. — Qualquer que seja. Parece legítimo.
Sandra franze os lábios e acena lentamente como se não acreditasse
em mim. — Se o Sr. Croft tiver um problema com o animal, você precisará
levá-la para outro lugar. Entendido?
— Sim.
— Excelente. Agora, vamos entrar. Della pode comer seu lanche
enquanto eu te mostro o lugar.
Sandra gira nos calcanhares com precisão robótica e desliza para
dentro da cobertura. Assustador como o inferno se você me perguntar. Olho
para Della, que olha carrancuda para a mulher. Quando ela me pega
olhando para ela, Della olha para cima e sorri. Então, ela vira de costa para
Sandra.
Sufocando uma risada, guio Della pela porta. O apartamento é luxuoso
e caro, melhor do que qualquer outra casa em que já estive. Tem pelo
menos seis metros de teto na sala de estar e paredes de vidro ao longo do
outro lado. A vista é bastante espetacular, tenho que admitir. Sandra fecha a
porta atrás de nós e depois enxota Della. A gata – Heathen, acho que é o
nome dela agora – não tenta escapar, mas permanece tensa em minhas
mãos.
— Sr. Croft acredita que é imperativo que Della melhore suas
habilidades de leitura labial. Nem todo mundo no mundo conhece ASL e ele
quer que ela seja capaz de entender efetivamente as pessoas ao seu redor
— explica Sandra enquanto me mostra um espaço configurado como uma
sala de aula. — É aqui que Della faz suas aulas. Seu principal ponto de
contato será eu mesma, mas no caso de Della se comportar mal ou ignorá-lo
completamente, você também pode procurar a ajuda de sua irmã mais
velha. Landry é uma das poucas pessoas que ela ouve.
Anotado.
Uma maneira fácil de acessar Landry. Talvez este trabalho não seja tão
chato, afinal. Com base na maneira como Della agiu até agora, é óbvio que
estarei chamando Landry a cada passo.
— Alguma pergunta? Se não, vou pegar Della assim que ela terminar o
lanche e devolvê-la a você. Sinta-se à vontade para olhar ao redor e sentir-se
em casa.
Com essas palavras, ela gira em um movimento fluido como antes e
parece flutuar para longe como um maldito fantasma.
— Se eu te colocar no chão, é melhor você se comportar — digo a
Heathen. — Não dê a essa mulher uma desculpa para colocar você para
fora.
Heathen rosna no que soa como um desafio, mas eu a coloco no chão
de qualquer maneira. Ela corre para longe e desliza entre uma mesa e a
parede. Bem na hora também, a porta se abre com um rangido. Eu me viro,
esperando ver Della exigindo saber onde sua gata está.
Em vez disso, eu a vejo.
Landry Croft.
Cabelo loiro sedoso. Lábios cor-de-rosa carnudos. Olhos azuis largos e
brilhantes.
O choque em seu rosto é divertido. Uma emoção dispara através de
mim. Embora eu odeie a maioria dos trabalhos que Bryant nos envia, sinto
como se pudesse encontrar um pouco de satisfação com este. Sparrow
subestimou o quão bonita Landry era. Ele usou a palavra fodível, e enquanto
as curvas de seu corpo são tentadoras de se olhar, há algo nela que é
cativante.
— Ford? — ela deixa escapar, um rubor de rosa corando suas
bochechas e garganta. — O que você está fazendo aqui?
Eu lhe dou um sorriso largo. — É o meu trabalho.
— Seu emprego?
— Sou o tutor de leitura de fala de Della.
Sua expressão perplexa só a torna mais fofa.
Este trabalho ficou muito melhor.
CAPÍTULO SETE
LANDRY

Como?
Como Ford Mann está na minha casa?
Ele me observa, uma sobrancelha ligeiramente arqueada. A maneira
como ele me estuda de alguma forma parece mais investigativa do que
antes. Não da maneira provocante. Desta vez é mais... íntima.
É porque estamos sozinhos?
Na minha casa?
— Você é mesmo qualificado? — Eu exijo, engolindo minha surpresa
ao vê-lo e permitindo que a preocupação com minha irmã aumente. — Você
tem que levar isso a sério. Minha irmãzinha não é uma piada.
Claramente ofendido pelas minhas palavras, ele franze a testa,
formando uma ruga entre as sobrancelhas. Eu não posso impedir de deixar
cair meu olhar para sua boca. Mais cedo, tinha sido torcida em um sorriso
juvenil e provocante. Agora, seus lábios estão praticamente franzidos em
agitação. Incomoda-me que nossas brincadeiras fáceis de antes tenham
desaparecido. O ar entre nós gargalha com incerteza.
— Eu posso lidar com isso — ele rebate.
— Você está agindo... diferente.
Além do pequeno tique-taque de sua mandíbula, ele não reage às
minhas palavras. Apenas me encara como um idiota. Com o boné de
beisebol idiota, ele parece ainda mais idiota do que antes. Isso me faz
querer arrancá-lo da cabeça dele.
— Eu tive um dia ruim — diz ele finalmente.
Eu estremeço com suas palavras que parecem um golpe. Em nossas
aulas, ele parecia estar tendo um ótimo dia. Isso foi porque eu rejeitei uma
carona dele para casa?
— O meu também não foi tão bom — eu cuspo de volta, esperando
machucá-lo com minhas palavras venenosas.
Suas feições suavizam e seus lábios se curvam de um lado. —
Mentirosa.
O estrondo de sua voz quando ele diz aquela palavra provocante me
faz esquecer por que estou irritada com ele em primeiro lugar. Ele dá um
passo em minha direção, mas é hesitante. Como se ele estivesse pisando em
ovos comigo. Eu não me mexo. Não vou me afastar dele e fazê-lo pensar que
tem a vantagem aqui. O desafio em minha postura deve atraí-lo porque ele
continua sua abordagem – não, sua caça – em minha direção até que ele
esteja tão perto que eu acho que posso sentir o calor de seu peito contra o
meu.
— Você tem um problema com espaço pessoal, Chevy.
Ele lança os olhos para frente e para trás. Mais cedo, eles eram da cor
de xarope de bordo, mas com o sol da tarde brilhando através das janelas e
banhando suas feições impecáveis, eles são mais claros. Como caramelo
derretido. Estou em apuros se continuar associando alimentos doces a esse
cara.
— Chevy? — ele pergunta. — Uma brincadeira com meu nome?
Oh Deus. Ele é um atleta idiota que provavelmente levou muitos
golpes na cabeça no campo de futebol ou algo assim.
— Esqueça — murmuro. — Estou falando sério sobre o que eu disse. É
melhor você não estar usando Della para chegar até mim. Porque se você
for, isso é realmente assustador, Ford. Primeiro me perseguindo nas minhas
aulas e agora isso?
— Perseguindo você? — Seus lábios se contraem. — Eu literalmente
acabei de conhecer você. Cuidado, se sua cabeça ficar maior, querida, você
terá problemas para voltar por aquela porta.
Eu zombo de suas palavras, ignorando completamente o uso de
querida. Ele passou de Laundry para querida? Jesus, esse cara se move
rápido.
— Talvez eu deva observar — eu ameaço. — Para ter certeza de que
você não está tramando nada estranho.
— Agora quem é o perseguidor?
Eu cutuco seu peito sólido bem no centro. — Seja qual for o jogo que
você está jogando, eu vou descobrir. Não sou uma herdeira estúpida com a
qual você pode brincar.
Sua mão levanta e ele a enrola em volta do meu pulso. O aperto nele
aperta, mas não ao ponto de dor. Possessivo, talvez.
— Se eu estivesse jogando um jogo, você seria impotente para pará-lo.
— Seu sorriso presunçoso é nauseante. — Você perderia, querida.
Novamente com querida.
— Lembre-se — eu rebato de volta, empurrando de seu aperto. —
Estou em uma relação de primeiro nome com suas bolas.
— Você conheceu minhas bolas?
Meu Deus, ele é um idiota. Eu pego um lápis da mesa mais próxima de
mim e balanço minha mão para cima. No momento em que a ponta
pressiona contra ele através de seu jeans, ele para, seu rosto empalidece.
— Que porra é essa, mulher?
— Claramente você precisava ser lembrado.
Ele me estuda por um longo tempo antes de assentir com a cabeça. —
Prometo ser um bom menino. Feliz?
Apesar de ter um lápis apontado para suas bolas, ele sorri. O tipo de
sorriso que começa pequeno, mas aumenta com força à medida que cresce.
Como o sol nascendo no horizonte. Um pequeno raio de luz e então se torna
quente, cobrindo cada centímetro de sua pele e penetrando em seus ossos.
Certamente um sorriso que ele nunca me mostrou até agora.
Eu odeio que eu gosto. Muito.
O calor que irradia dele queima minha pele, especialmente nas minhas
bochechas. É irritante que ele seja capaz de ver como ele me afeta. Com
base no brilho crescente de seu sorriso, ele sabe.
— Feliz? — Eu resmungo, dando um passo para trás e não mais
mirando em suas bolas. — Não tenho certeza se eu sei o que isso significa.
A verdade que acabei de dizer tem um gosto amargo na minha língua.
Este lindo e sorridente babaca consegue um lugar na primeira fila para a
minha verdade feia. Encantador.
Ele levanta a mão e eu congelo, me perguntando o que ele planeja
fazer comigo. O choque passa por mim quando seu dedo engancha sob meu
queixo e levanta suavemente até que seus olhos estejam perfurando os
meus. Meu coração dispara e depois para completamente quando ele se
inclina.
Ele vai me beijar?
Eu vou deixar?
— Você pode confiar em mim — ele murmura, sua respiração fazendo
cócegas no meu rosto. — Prometo.
Eu nunca quis tanto acreditar em uma mentira em toda a minha vida.
Suas palavras sussurradas e ternas me provocam em uma falsa sensação de
segurança, mas por baixo, algo se esconde. Eu posso sentir isso com a Ford.
Sob o que ele me permite ver, a escuridão se esconde.
Sei disso porque vivo no abismo.
Que tipo de monstros você está escondendo, Ford Mann?
— Meio que cedo neste relacionamento para eu acreditar em suas
palavras pelo valor nominal — eu digo, dando outro passo para longe dele.
Sua mão cai e seu sorriso se transforma em um sorriso malicioso.
— Relacionamento?
— Não seja uma máquina. Amizade. Nós somos amigos. Eu acho.
Uma risada profunda e retumbante irrompe dele. — Você acha? Você
torna difícil para todos conhecerem você?
Sim.
Não tenho tempo para pessoas ou distrações.
Sua suavidade é diferente do que antes na faculdade. Inesperada, mas
não odiada. É quente e convidativa. Eu tenho esse desejo irresistível de me
aproximar para que ele me envolva em um abraço como um cobertor em
forma de humano.
Eca. Ele não ficou de repente doce comigo e ele não é um namorado
em potencial. Ele ainda é o babaca de primeira classe que conheci na
faculdade.
Ford Mann tem camadas e é perigoso para alguém como eu, porque
ele tem esse jeito louco de me desarmar com seus sorrisos encantadores e
palavras imprevisíveis.
— Eu tenho dever de casa. Estou indo agora — eu declaro no tom mais
gelado que posso reunir, apesar do calor inundando através de mim. — Seja
bom, senão...
Com essas palavras, dou meia-volta e fujo da sala antes de divulgar
mais partes internas de mim que não precisam ser expostas.
Há apenas algo sobre ele que me faz querer contar tudo a ele. Ele me
atrai para ele. Até seus segredos me chamam.
Eu quero conhecê-lo.
E isso assusta o inferno fora de mim.

Já faz quase uma hora e Della ainda não assustou Ford, então eles
devem ter se conectado de alguma forma. De vez em quando, ouço sua voz
baixa falando com ela, mas nunca se eleva ou parece agitada. Estou sentada
em uma poltrona com um livro na sala sob o pretexto de ler, mas na
verdade estou apenas mantendo um olho - ou um ouvido, neste caso - nas
coisas. Por mais que eu queira confiar na Ford, não confio.
Não posso.
O bater dos saltos de Sandra no piso de madeira chama minha
atenção. Todos os pelos dos meus braços se arrepiam. Eu finjo estar absorta
no meu livro, fazendo um show óbvio de virar a página, mesmo depois que o
som de seus saltos para. Se ela souber que estou microgerenciando o novo
tutor, ela vai contar ao papai. Se ela contar para o papai, ele vai querer
saber mais sobre esse tutor. Vai colocar um microscópio em Della e eu não
posso ter isso.
Além disso, se papai perceber que o tutor é incrivelmente gostoso, ele
pode demiti-lo na hora.
Não, é melhor fingir desinteresse.
— Senhorita Landry?
— Hum? — Eu não olho para cima do meu livro.
— Seu pai queria que eu avisasse que amanhã à noite você vai receber
um convidado no jantar.
Meus olhos voam para os dela, sobrancelhas franzidas em confusão.
— Eu?
— Sim. Ele disse que fará Lucy trazer algumas opções de vestidos
apropriados.
Boa e velha Lucy. Minha personal shopper. Porque Deus me livre fazer
compras por conta própria. Isso exigiria que eu me soltasse da coleira e
papai tem um forte controle sobre isso. Se ele me soltasse, mesmo que por
um dia, para fazer compras, eu provavelmente poderia comprar e devolver
coisas suficientes para guardar uma boa quantia de dinheiro para uma fuga.
Mas como isso não é uma opção, ainda estou sem um tostão e sem
um plano.
— Quem é o convidado? — Um sentimento espinhoso e
desconfortável se espalha pela minha carne. — Eu os conheço?
Sandra me dá um sorriso brilhante e experiente. — É seu novo
protegido, querida. Ty Constantine.
Constantine.
Como os deuses influentes e seriamente ricos da cidade de Nova York.
— Espere. O protegido do papai também é o cara com quem ele quer
que eu jante? — Eu elucido, irritação agitando meu intestino.
— Você sabe como seu pai gosta de controlar todas as partes móveis e
garantir que o resultado final seja satisfatório para ele. — Ela acena com a
mão manicurada em despedida. — Vai ser melhor assim. Permitir que
qualquer pessoa acesse o império Croft é arriscado e perigoso. Você sabe
disso.
Eu quero confrontá-la para obter mais respostas sobre este tópico,
mas todos os pensamentos param quando Ford entra na sala com um gato
em seus braços e minha irmã ao seu lado.
Eu fico boquiaberta para ele.
Um gato?
Ele me dá um meio encolher de ombros, nem um pouco incomodado
com a forma como o felino imundo está arranhando longos pedacinhos em
sua camisa. Papai teria um surto por muitas razões agora - menino bonito,
gato sarnento e minha irmã surda. A ideia de papai entrando nisso me dá
tanta ansiedade, a sala se inclina e a bile sobe na minha garganta.
Estou vagamente ciente de Sandra enxotando Della para seu quarto e
dizendo adeus a Ford antes que ela desapareça de volta ao seu escritório
dentro de nossa casa.
Então, silêncio.
Eu saio do meu torpor e me levanto. Depois de calçar meus sapatos,
saio da cobertura, na esperança de alcançar Ford.
Por quê?
Porque eu quero falar com ele — aprender tudo o que há para saber
sobre ele. Como por que ele está fazendo esse trabalho e por que ele está
tão interessado em mim. Quero saber o que ele está escondendo.
Principalmente, eu quero saber se ele quis dizer isso... que eu poderia
confiar nele.
Por mais que eu saiba que é uma má ideia, eu quero. Não tenho
amigos ou pessoas em quem posso confiar. Somos só eu e Della neste
mundo grande e horrível. Ter uma pessoa com quem contar parece bom
demais para ser verdade.
No momento em que pego o elevador para o saguão do prédio, tenho
certeza de que ele já se foi. Passo com o ombro por alguns homens de terno
parados perto da entrada, tentando dar uma olhada. Quando saio, não vejo
o Audi brilhante de Ford que ele tanto ama.
O que vejo me confunde.
Um Bronco obscenamente amarelo ronca preguiçosamente enquanto
Ford entrega a um dos manobristas um maço de dinheiro. Ford não me nota
quando entra no veículo. Ele liga o motor, guinchando enquanto parte. Olho
para o veículo imaginando quantos carros Ford Mann tem.
Mais perguntas.
Sem respostas.
A vontade de procurá-lo na internet é uma tentação da qual quase sou
vítima. Mas procurá-lo significa levar papai direto até ele, já que ele observa
minha atividade digital como um falcão. Agora, não importa o quanto ele me
aborreça, Ford é algo na minha vida que é meu.
Meu "amigo".
Meu segredo.
Meu.
CAPÍTULO OITO
SPARROW

Está muito quieto.


Eu odeio quando está quieto.
Quando estamos os três em casa, nosso apartamento de 2.300 pés
quadrados no coração de Tribeca não parece grande o suficiente, e é
barulhento. Há sempre um jogo ou filme na televisão da sala. Alguém está
sempre falando ou reclamando.
Eu balanço na minha poltrona apenas para ouvir o guincho uma e
outra vez. Nossas duas poltronas marrons são feias pra caralho, mas super
confortáveis. Este apartamento, um presente de quase cinco milhões de
dólares do nosso tio, Bryant, já teve algumas poltronas pretensiosas. Assim
que nos mudamos, há um ano, nós os levamos para a lixeira e as
compramos.
Esta pode ser a propriedade Morelli, mas para nós, é a nossa casa.
Assim como todo cara, eu me perguntei como seria estar sozinho. Eu
não teria que limpar a bagunça que Scout deixa na cozinha toda maldita
noite ou aturar Sully durante a temporada de futebol. Mas então seria
sempre muito quieto e realmente solitário. É reconfortante tê-los perto de
mim. Sinto que sempre será assim.
Crescendo, eu sempre tive meus irmãos ao meu lado a cada passo do
caminho. Jogamos lacrosse juntos desde que tínhamos idade suficiente para
segurar um taco e fomos colocados em todas as mesmas classes porque o
dinheiro fala. Naquela época, por causa da mamãe, tínhamos muito disso.
Nós três governamos todos os cenários em que estávamos porque
governamos como um.
Depois de toda a merda que aconteceu quando éramos idiotas burros
de dezoito anos, estamos fraturados. O vínculo estreito que tínhamos uma
vez foi rompido e parece que não encontramos uma maneira de colá-lo
novamente. Às vezes, me pergunto se foi mamãe o tempo todo que nos
abraçou forte, e agora que ela está apodrecendo na prisão, estamos nos
afastando em direção aos nossos próprios cantos do universo. Ainda assim,
apesar de toda a porcaria que passamos, não consigo imaginar minha vida
sem eles.
Precisando tirar minha mente de coisas deprimentes como estar
sozinho e sentir falta da mamãe, eu mexo no meu telefone. Não há nada a
ser descoberto sobre Landry, mas estou bem em arrancar esses fios de
informação dela cada vez que a vejo. É sobre o pai dela que quero saber
mais. Ele é a chave que abrirá o acesso ao mundo Constantine. Nós três
estávamos desesperados em nossos próprios caminhos para buscar
retribuição pelo que Winston nos fez.
Ele nos fodeu em tantos níveis. Tantos níveis malditos.
Este trabalho que Bryant jogou em nosso caminho é a merda mais
divertida que nos permitiram fazer. Ele preenche um vazio que eu estava
lutando para segurar. Eu tenho propósito.
Talvez Sully estivesse certo...
Nós existimos, mas não vivemos.
Marionetes no espetáculo Morelli.
Percorro todos os artigos de notícias que posso encontrar sobre
Alexander Croft. Tudo que eu leio, todos eles beijam sua bunda e o elogiam
por ser o próximo Steve Jobs. Um brilhante gênio da tecnologia com um
talento especial para transformar códigos de jogos em bilhões de dólares.
Ele está rico e sua riqueza continua a crescer exponencialmente a cada ano.
Demora um pouco, mas descubro que sua esposa, Evie, faleceu pouco
depois do nascimento de sua segunda filha. Os repórteres encobrem a perda
devastadora em uma rara demonstração de respeito pela privacidade da
família e, em vez disso, concentram-se no próprio mentor.
E Landry?
É como se ela e sua irmãzinha fossem fantasmas que não existem. Há
fotos de Alexander, Evie e Landry quando ela era mais jovem, mas elas
deixaram de existir nos últimos seis anos.
Ela definitivamente está sendo protegida por aquele pai dela.
Por quê?
Meu pau se mexe com a lembrança de nossos encontros hoje. Porra,
eu sei por quê. A imprensa iria comê-la. Atrevida, inteligente e sexy pra
caralho. Os meios de comunicação amam suas herdeiras bilionárias. Eles
ficam mais do que felizes em segui-las, documentando cada segundo de suas
vidas.
De certa forma, eu meio que respeito o cara por protegê-la contra as
dores do mundo. Infelizmente para os dois, os piores idiotas encontram seu
caminho de qualquer maneira.
Como eu e meus irmãos.
Somos uma infecção, espalhando-se lentamente pelo mundo Croft.
Alexander e sua preciosa filha são simplesmente uma porta para nós.
Uma abertura para causar dano ao nosso verdadeiro oponente. Winston
Constantine e toda a maldita família. Nossa ex-irmã, Ash, incluída.
Eu não sou obcecado como Scout é, então eu não dou uma olhada em
Winston e Ash, mas eu o ouvi falar o suficiente para saber o status atual.
Eles estão felizes no amor e vivendo o sonho bilionário.
Scout não quer nada mais do que destruir aquele homem.
Winston é intocável, no entanto. Aprendemos isso da maneira mais
difícil. Sua família, no entanto, não.
Retreinando meus pensamentos, eu mergulho de volta em minha
busca por mais merda de Croft que possa ser suculenta ou útil. Até agora,
está tudo limpinho. Teremos que obter o âmago da questão da própria
Landry.
Meu pau se contrai novamente.
Estou disposto a fazer o que for necessário. Deixar aquela garota
tagarela nua e embaixo de mim soa menos como uma dificuldade e mais
como uma vantagem no trabalho – uma em que eu seria muito, muito bom.
Perdido em minha fantasia, mal noto quando Sully entra pela porta. É o som
estranho e desumano que emana dele que me faz lançar meu olhar em sua
direção.
— Heathen, conheça o Sparrow. Sparrow, este é Heathen. — Sully está
carrancudo e há um gato grudado em seu peito, pendurado pelas garras e
chicoteando furiosamente o rabo. Sangue pontilha sua carne para cima e
para baixo em seus antebraços.
— Você tem um gato? — Eu arqueio uma sobrancelha, incapaz de
conter uma risada. — Que porra é essa?
— Temos uma gata. — A mandíbula de Sully aperta e ele gesticula
para a criatura rosnando. — E nós vamos dar um banho nela.
— Não. — Eu dou a ele um aceno brusco de minha cabeça. — De jeito
nenhum.
— Eu não estava perguntando, idiota. Eu não posso fazer isso sozinho.
Essa gata é uma idiota.
— Então por que você a trouxe?
Ignorando-me, ele sai correndo pelo corredor. Eu me levanto, incapaz
de ficar longe apesar das minhas palavras, e o sigo até seu quarto. É mais
divertido ver seu irmão sofrer do que imaginar. Eu espio minha cabeça em
seu banheiro para encontrá-lo lutando para tirar a gata de sua camisa
enquanto a água da banheira enche.
— Sério, cara. Por que você trouxe para casa um gato? — Agarro a
parte superior do batente da porta e me inclino. — Desde quando você
gosta de gatos?
— Desde nunca — ele resmunga. — A garota gosta de gatos.
A garota?
— Landry?
Ele zomba. — Não. Sua irmãzinha. É meu trabalho entrar bem nessa
frente. Espião e tudo mais. Lembra?
— Ela é gostosa pra caralho, não é?
— Uma cadela, se você me perguntar. — Ele consegue libertar a gata
de sua camisa, mas ele arranca a pele de seu braço no processo. — Jesus,
Heathen, acalme seus peitos. Estou tentando lavar essa sujeira da sua bunda
magricela.
Sentindo pena do meu irmão, sim tenho pena dele, me aproximo. Essa
gata vai virar a merda no segundo que suas patas baterem na água. Com
certeza vai levar nós dois.
— Landry é uma cadela total — eu digo, sorrindo. — Mas é meio que a
melhor qualidade dela.
— Os lábios dela são a melhor qualidade dela — Sully argumenta, sem
perder o ritmo. — Eu vou segurar Heathen. Você a lava. Cuidado com os
dedos. Ela provavelmente vai mordê-los como vingança.
Eu pego o frasco de xampu, me preparando enquanto ele abaixa a
gata na água morna. Ela solta um uivo direto de um maldito pesadelo. Gata
assustadora. — Lábios, hein? Você é um coração mole, cara.
— Lábios chupando pau — Sully joga de volta. — Você sabe o que eu
quero dizer.
— Você age como se eu não o conhecesse, Sull. Está bem. Você acha
que ela é bonita.
— Importa o que eu penso? — Ele enterra a gata, ganhando mais
marcas de garras em seus antebraços e sua maldição subsequente. —
Xampu.
Eu esguicho muito no animal nojento. Ele precisa de dez banhos, não
apenas um. — Landry suspeitou que algo estava acontecendo?
— Ela era cética e cautelosa. — Ele luta com Heathen quando ela tenta
escapar e consegue prendê-la. — Seriamente. Um pouco de atenção da
próxima vez sobre essa garota seria bom, então eu não nos fodo com um
encontro.
— Ela odeia ser chamada de garota — eu forneço com uma risada.
— Realmente útil, Sparrow. Super útil 'pra' caralho.
Ele perguntou. Não é minha culpa que ele não goste das minhas
respostas.
— Ela tentou me esfaquear nas bolas — ele murmura. — Como eu
disse. Cadela.
— A garota foi atrás das minhas também. — Um sorriso rouba meu
rosto. — Achei que ia perder uma das minhas bolas. Talvez ambas. A
situação foi crítica e arriscada.
Sully faz uma careta para mim. — Essa merda não vai funcionar. Eu
não gosto.
Às vezes Sully pode ser um bebê. Ele não gosta quando Bryant nos
mantém amarrados a ele. Ele não gosta quando Bryant nos manda
trabalhar. Ele não quer esta vida. No entanto, ele ainda está aqui.
Reclamando sobre isso todos os dias para me deixar louco.
Heathen faz uma pausa, escorregando das mãos de Sully. Consigo
agarrar a fera suja antes que ele escape da banheira, mas não antes de
ganhar a ponta afiada de suas garras em meus antebraços.
Muitos xingamentos e lutas acontecem, mas finalmente conseguimos
lavar e secar o animal em uma toalha. Da próxima vez que ela escapa, nós a
deixamos ir. Ela sai correndo do banheiro e desaparece, miando alto e de
um jeito que soa como uma versão gatinho de um – foda-se os dois
Ficamos alguns minutos em silêncio para limpar nossos arranhões
antes de voltar para a sala. Estou um pouco surpreso ao ver que Scout
chegou em casa. O que é mais surpreendente é que ele está esparramado
no sofá de lado com uma gata úmida e ronronando enrolada em seu peito,
olhando para a lareira de quartzo personalizada de dupla face que está
acesa e piscando, apesar do fato de estar setenta graus lá fora.
— Essa gata está ronronando? — Sully exige, leve indignação em seu
tom. — Depois que salvei sua maldita vida?
Scout coloca a palma da mão nas costas da gata má e acaricia os dedos
pelo pelo molhado. O ronronar fica mais alto. — A gata está ronronando pra
caralho — Scout diz em um tom zombeteiro. — Não fique bravo,
irmãozinho.
Sully não é pequeno e tem a mesma idade de Scout, mas suas palavras
sempre atingem o ponto pretendido, irritando-o com sucesso. Ele empurra
Scout antes de se jogar em uma poltrona reclinável. Sua carranca é cômica
para mim, me lembrando de quando éramos pequenos e ele não conseguia
o que queria.
Porra de um bebê.
— Vocês dois parecem gêmeos — Scout aponta inutilmente, lançando
seu olhar entre mim e as roupas combinando de Sully.
— Nós somos trigêmeos, babaca — eu resmungo. — Apenas espere
até que seja sua vez de se vestir como nós. É o jardim de infância de novo.
As feições de Scout escurecem e meu estômago aperta. Mencionar o
jeito que mamãe adorava nos vestir igual provavelmente foi uma má jogada.
Acionando com certeza. Sully endurece desconfortavelmente. Nenhum de
nós está com vontade de parar um colapso psicótico Scout.
— Falando em nosso trabalho — Scout diz, falando friamente
enquanto ele ignora meu comentário, direcionando a conversa para essa
besteira que Bryant nos inscreveu. — Fui ao meu hoje. Sou um associado
que faz xixi um andar abaixo dos executivos.
Eu me sento na ponta do sofá, empurrando os pés de Scout para fora
do caminho e atiro a ele um olhar de expectativa. — E? Aprendeu alguma
coisa útil?
— Até agora nada. — Ele distraidamente acaricia a gata. — Mas, não
se preocupe, eu chego lá.
Seus olhos escuros brilham de uma forma maligna que nunca deixa de
me perturbar. Com base no silêncio de Sully, eu diria que ele sente o
mesmo. Estou secretamente agradecido por Scout não estar lidando com
Landry. Por um lado, ela saberia que algo estava acontecendo
imediatamente. Pelo menos eu e Sully podemos passar um pelo outro, mas
Scout?
Foda-se não.
Nenhum de nós é tão louco e frio.
Além disso, se ele tivesse que interagir com Landry, ele provavelmente
iria explodir na primeira vez que ela o beijasse. Enquanto eu acho quente
como o inferno, Scout vai perder a cabeça. Então…
Seria como Ash novamente. Nossa meia-irmã deveria ser um jogo.
Devíamos brincar com ela. A obsessão do Scout mudou tudo. Levou-nos a
níveis em um jogo que não deveríamos jogar.
Se ele se concentrar em Landry do jeito que fez com Ash, isso poderá
foder tudo. A última vez quase nos custou a vida.
Eu pego o olhar de Sully. Ele deve ler o que está em minha mente
porque ele me oferece um leve aceno de cabeça. Precisamos manter esse
show do jeito que está - Scout longe de Landry para não nos encontrarmos
repetindo o passado.
— Eu pedi alguma merda para Heathen — Sully diz, jogando seu
telefone de lado. — Talvez ela se lembre de quem a salvou e reavalie sua
lealdade.
Heathen assobia para ele.
Que puta.
Um estrondo alto no corredor do lado de fora do nosso apartamento
faz Heathen pular do sofá e ficar embaixo de uma estante. No segundo
seguinte, Scout voa do sofá em direção ao som. Levo um segundo para
perceber que Scout tem uma Glock preta na mão para atender a porta.
Puta merda.
— O que? — Scout rosna depois de abrir a porta e apontar a arma
para o peito do cara. — Quem diabos é você e por que está tentando entrar
no meu apartamento?
O cara no corredor está bêbado e obviamente confuso. Não alguém
tentando invadir ou o que quer que Scout acredite. Lentamente, eu me
levanto e passo em direção ao nosso irmão desequilibrado.
— Esta não é a minha casa — o cara fala, uma expressão confusa
contorcendo suas feições enquanto ele olha além de Scout para mim. —
Opa. — Ele racha de rir. — Não atire, cara. — Mais risadas.
Pelo amor de Deus, Scout poderia atirar nele só para calar a boca dele.
Scout não abaixa a arma. Seu dedo está enrolado em torno do gatilho.
Um espirro repentino e o cérebro do bêbado pintaria a parede atrás dele.
— Vou acompanhá-lo até o elevador — digo a Scout com a voz mais
calma que posso reunir. — O idiota se perdeu.
Scout não resiste quando eu gentilmente empurro seu braço para
baixo. Quando a arma não está apontada para a cabeça do cara, dou um
pequeno suspiro de alívio. Não pelo bem do bêbado, mas pelo nosso. Eu não
vou deixar nossas vidas serem fodidas por esse pedaço de merda.
— Volto já — garanto a Scout. — Peça tailandês. Estou morrendo de
fome.
O transe em que Scout estava parece desaparecer e ele pisca antes de
assentir. Olho de volta para Sully. O alívio em seu rosto é palpável. Nos
esquivamos de uma bala. Literalmente.
Eu arrasto o cara para os elevadores, tendo que impedi-lo de quebrar
o rosto várias vezes ao longo do caminho. Saber que Scout não terá que
encontrar Landry acalma meu coração errático. Porque se eu não sabia que
meu irmão tinha uma arma – que ele claramente não tem medo de usar –
não há como dizer o que mais eu não sei sobre ele.
Esse trabalho de foder com Landry é divertido.
Não preciso do meu irmão maluco estragando minha diversão.
CAPÍTULO NOVE
LANDRY

Esta noite vai ser um desastre real.


Jantar com um cara com quem meu maldito pai está me arrumando.
Ele pode ser um nerd total ou um babaca gigante. Pior, ele poderia ser
alguém como meu pai.
Controlador. Cruel. Frio.
Cada nervo do meu corpo está elétrico e vivo em antecipação ansiosa.
Respire, Landry.
Eu redireciono minha atenção para o espelho. Meu cabelo loiro brilha
na luz, as pontas saltando na minha clavícula nua com cada movimento que
faço. O vestido de estampa floral Paco Rabanne que Lucy me trouxe
recentemente abraça minhas curvas, mas ainda é de bom gosto com um
comprimento abaixo do joelho. Combinei com meu par favorito de sapatos
Louboutin de couro envernizado. Posso me sentir mal do estômago de
preocupação, mas pelo menos pareço bem.
Um longo suspiro passa pelos meus lábios, exalando o que resta do
meu desconforto. É hora de colocar minha poker face e fazer o papel de
filha perfeita. Pelo menos esta noite não terei que me preocupar com Della.
Eu a ajudei a se arrumar para dormir e então li para ela uma de suas
histórias favoritas. Ela adormeceu sem fazer barulho.
Eu posso fazer isso.
— Alguma coisa te incomodando?
O timbre profundo da voz familiar de papai vibra e pode ser sentida
em cada osso do meu corpo. Como uma réplica de um terremoto, meus
dentes batem ruidosamente e contra minha vontade. Juntando-os, eu me
viro e encaro meu pai, um sorriso forçado no rosto.
Espero ver sua expressão de adoração.
Mas não é isso que está olhando para mim. É o mesmo olhar cruel que
ele usa com Della. Eu congelo no meio do passo em direção a ele, sem
palavras.
— Landry querida — papai diz, palavras afiadas e mordazes — eu vou
te dizer o que está me incomodando em vez disso.
Engolindo em seco, mal consigo acenar com a cabeça. Ele entra
lentamente no meu quarto e então caminha – não, persegue – na minha
direção. Eu fecho minhas mãos nas minhas laterais para manter o tremor
sob controle.
— O-O que está incomodando você? — Eu sussurro, incapaz de
levantar minha cabeça e encontrar seu olhar agora que ele está a apenas
alguns centímetros de mim.
Por favor, não diga Della...
— Isto. — Ele aponta para o meu vestido. — É para um jantar que você
vai, não um hotel para sexo pago.
Eu estremeço com suas palavras, empurrando minha cabeça para cima
para ficar boquiaberta para ele. — Mas, pai, esta foi uma das escolhas de
Lucy. Você me comprou este vestido…
Sua mão agarra meu queixo, e a saliva atinge meu rosto enquanto ele
rosna: — Comprei para você todos os malditos vestidos do seu armário. Este
está todo... errado. Vou ter uma porra de uma conversa séria com Lucy
sobre o que ela acha que é aceitável.
Lutando para manter as lágrimas sob controle, pisco furiosamente.
Cada dia é um campo minado nesta casa. Você nunca sabe qual passo em
falso irá destruí-la. Claramente, eu coloquei meu pé na mina e no segundo
que eu tentar escapar, ela vai explodir.
— Sinto muito — eu resmungo. — Qual vestido devo usar em vez
disso?
— O vestido preto de manga bufante Shoshanna serve. — Ele estreita
os olhos que estão ligeiramente vermelhos. Com base no cheiro de licor que
emana dele, também sei o porquê.
Ele está bêbado.
Ou pelo menos, rapidamente chegando lá.
E ele sempre promete que nunca vai deixar isso acontecer novamente.
Apenas vinho. O vinho é seguro. Qualquer bebida forte em que ele tentou se
afogar é tudo menos seguro.
— Eu amo esse vestido — eu concordo, minha voz um mero sussurro.
— Vou me trocar.
— Boa menina. — Ele não solta seu aperto na minha mandíbula. —
Você precisa entender algo sobre esta noite. Este jantar nada mais é do que
um movimento de poder. É uma chance de nos alinharmos com uma das
famílias mais ricas do mundo.
— Eu entendo.
Ele balança a cabeça lentamente. — Não, você não entende. Você não
vai tornar isso fácil para ele. Eu não vou deixar minha filha se prostituir no
primeiro encontro. — Seus olhos se estreitam. — Você vai levar o seu tempo
e arrastar isso pelo tempo que eu disser. Quero garantir que esse acordo
seja benéfico para nós em todos os sentidos. Você acabar grávida ou acabar
na capa de todos os tablóides em fotos comprometedoras não vai
acontecer.
— Pai…
— Mude seu vestido e limpe esse maldito batom. Eu não posso olhar
para você agora.
Sem outra palavra, ele me libera e sai do meu quarto. Lágrimas
enchem meus olhos, borrando o quarto à minha frente, enquanto tento
desesperadamente fazer com que o ar entre em meus pulmões. É como se
uma prensa estivesse presa em minha garganta, me impedindo de respirar.
Eu permaneço congelada por só Deus sabe quanto tempo e só sou
sacudida ao som da campainha. O som de homens falando uns com os
outros pode ser ouvido, o que significa que meu encontro de jantar está
aqui. Rapidamente, corro para o meu grande armário e tiro meu vestido. Eu
troco pelo vestido que papai quer que eu use. Depois de colocar o tecido no
lugar, saio do armário para ir até minha penteadeira.
A garota olhando para mim não se sente como eu. Essa garota é
assombrada. Aterrorizada. Tão cansada.
Eu uso um bloco de maquiagem para remover o batom e troco por um
brilho rosa suave. Como meus olhos continuam ameaçando transbordar de
lágrimas, levo um minuto para retocar a maquiagem dos olhos. Finalmente,
sinto que poderia ser apresentável e aceitável aos olhos do meu pai.
Ontem, deixei Ford me distrair na faculdade, mas amanhã, vou tentar
sair da aula mais cedo para fazer uma pesquisa no centro de mídia, já que
não terei segurança respirando no meu pescoço como em casa. Talvez eu
possa descobrir uma maneira de acessar meu fundo fiduciário sem que ele
saiba. Do jeito que está, no segundo que eu tentar sacar qualquer coisa do
banco, eles vão notificá-lo para ter certeza de que é permitido. O que não é.
Os vinte dólares que ele me deu esta semana para café e lanches na
faculdade não vão me levar muito longe. Eu sei que ele provavelmente
mantém um estoque de dinheiro e joias em seu cofre, mas esse é um risco
que não posso correr novamente. O que há lá que é tão valioso de qualquer
maneira?
Nesse ritmo, eu nunca vou a lugar nenhum. Ele é mais esperto do que
eu e sempre dez passos à frente. Toda vez que penso que tenho uma grande
ideia, a realidade a esmaga.
Quanto mais rápido eu descobrir um plano para tirar eu e Della daqui,
melhor. Achei que tivesse mais tempo, mas depois da maneira como papai
agiu há pouco, percebo que fui tola em pensar que algo estava a meu favor,
especialmente o tempo.
Sua crueldade não é frequentemente apontada para mim, mas quando
é, sempre acaba mal.
Chamar a polícia não vai ajudar, já que estão todos no fundo de seus
bolsos. Entrar em contato com pessoas como Noel ou Sandra ou até mesmo
um dos motoristas, como Trey, não funcionará porque todos estão
completamente intimidados por ele e estão sempre fazendo o possível para
impressioná-lo.
Dinheiro fala mais alto.
Papai tem pilhas infinitas disso.
Estou em total desvantagem aqui.
Levantando meu queixo, saio do meu quarto, esperando um ar de
autoconfiança. Todos os pensamentos deprimentes do meu futuro são
empurrados para os cantos da minha mente quando estou mentalmente
preparada para lidar com eles. Serei a herdeira educada e recatada que
papai quer que eu seja, e passarei por este jantar sem mais danos.
Eu posso fazer isso.
Seguindo o som das vozes, entro na sala de jantar onde meu pai e um
homem de terno justo conversam amigavelmente. Engraçado como apenas
alguns momentos atrás, papai estava no meu quarto, sua raiva me lavando
como um tsunami. Agora, ele está aparentemente normal, fazendo seu
show agradável para nosso convidado.
Limpando a garganta, alerto meu pai sobre minha presença. Ambos os
homens se voltam para me olhar. As feições do papai são tensas, mas ele
está usando seu sorriso de negócios reservado para salas de reuniões. O
homem ao lado dele, apesar de eu não querer olhar para ele, chama minha
atenção de qualquer maneira.
Uau.
Definitivamente não estava esperando alguém tão... bonito.
Ao contrário de Ford, com sua beleza diabolicamente sexy, esse
homem parece ter caído do céu – toda pele dourada e cabelos loiros escuros
perfeitamente penteados. Seus olhos azuis brilham quando ele passa o olhar
sobre a minha forma. Um sorriso curva seus lábios e revela uma fileira
perfeita de dentes brancos perolados. Ele dá um passo à frente e oferece
uma mão.
— Tyler Constantine, er, Ty. — Seu sorriso cresce mais. — Você deve
ser a adorável Landry Croft. Eu ouvi muito sobre você.
A irritação de papai nubla o ar ao meu redor. Eu não tenho que olhar
para ele para saber que ele está furioso com isso.
— Prazer em conhecê-lo — eu digo, enquanto pego sua mão. — Eu
também ouvi muito sobre você.
Mentiras.
A mão de Ty está um pouco úmida na minha enquanto ele a aperta e
dá uma sacudida. Algo sobre o fato de que ele pode estar nervoso também
me acalma consideravelmente. Há uma bondade em sua expressão que é
desarmante.
E eu absolutamente não posso me dar ao luxo de ser desarmada na
presença de meu pai.
Tirando minha mão da dele, forço um largo sorriso. — Obrigado por se
juntar a nós para o jantar. — Papai fica entre nós e sua palma encontra a
parte inferior das minhas costas. Ele me guia até uma das cadeiras da sala de
jantar. Parece uma demonstração flagrante de posse. Como se ele quisesse
lembrar a todos na sala que eu sou dele e ele está permitindo que esse
outro homem esteja presente. Papai puxa a cadeira e eu sento nela. Ele se
senta na ponta e Ty se senta no lugar de sempre de Della na minha frente.
— Então — eu digo muito alegremente — você está trabalhando com
meu pai? Você está gostando disso?
Noel entra na sala de jantar com uma garrafa de vinho. Todos nós
fingimos que ela não está aqui enquanto ela serve nossas bebidas e Ty
tagarela sobre como ele está animado para trabalhar com meu pai.
— Sr. Constantine está fazendo um trabalho maravilhoso até agora. —
Papai esvazia sua taça de vinho e aponta para Ty. — Ele tem um talento
nato.
As bochechas de Ty ficam rosadas e ele me oferece um sorriso tímido.
— Obrigado, Sr. Croft.
— É Alexander na minha casa — papai diz, sorrindo. — Amanhã de
manhã, porém, serão negócios como de costume.
Enquanto o jantar é servido e os dois discutem algumas coisas em que
trabalharam hoje, continuo lançando olhares furtivos para Ty. Ele é muito
fofo, mas o fato de ele parecer legal também é um grande alívio. Encontro-
me relaxando e participando da conversa com muito mais facilidade do que
antes. O jantar parece passar rapidamente enquanto Ty nos agracia com
histórias engraçadas da vida universitária e de seu lugar na família
Constantine.
O telefone do papai toca e ele se desculpa a mesa e atravessa a sala de
estar para seu escritório. Ty sorri para mim, seus olhos azuis brilhando com
interesse. Eu coro com a atenção dele, reprimindo um sorriso meu.
— Eu gostaria de sair com você, Landry. Apenas nós dois. Eu acho... —
Ele olha para a porta. — Acho que nós dois nos sentiríamos muito mais
confortáveis sem ele respirando em nossos pescoços.
Um suor frio escorre pela minha espinha.
— Eu não sei se isso é uma boa ideia — murmuro, o corpo tenso. —
Papai é... superprotetor.
— Você acha?
Ty é definitivamente muito mais brincalhão quando não está na
presença do papai, mas isso só me deixa no limite. Com papai, você sempre
tem que estar em guarda. Você não pode ser brincalhona. Você
simplesmente não pode.
— Ei, — ele diz quando eu não respondo. — Você está bem? Você está
branca como um fantasma.
Engolindo a bola de estresse na minha garganta, eu aceno
vigorosamente. — Estou bem. É apenas…
Minhas palavras são cortadas quando papai volta para a sala. Eu lanço
meu olhar para minha comida esperando como o inferno que eu não pareço
culpada. Mas, ele fareja a culpa como um cachorro com um osso. O ar
engrossa com uma tensão furiosa.
— Sr. Constantine — papai corta. — Eu odeio encurtar a noite, mas
parece que minha filha não está se sentindo bem. Você vai nos perdoar por
não estender nossa noite para uma bebida depois do jantar, certo?
Ty olha para mim, mas então balança a cabeça lentamente. — Ah com
certeza. Sim, sem problemas, Alexander. — Ele se levanta. — Acho que vou
indo. O jantar foi ótimo, mas a companhia foi melhor.
Embora ambos estejam de pé, eu sabiamente permaneço sentada. Eu
torço meus dedos para Ty em despedida, mas não ouso tentar apertar sua
mão novamente. Os dois saem da sala de jantar, deixando-me com meus
pensamentos girando. Quando tenho certeza de que posso ficar de pé sem
meus joelhos dobrarem, eu saio apressada, indo direto para o meu quarto.
Eu odeio este lugar.
Eu odeio ele.
Mal cheguei ao meu quarto quando passos estrondosos podem ser
ouvidos atrás de mim. Eu me viro para encarar o olhar furioso do meu pai.
Mas isso é mais do que um olhar zangado.
Ele está chateado e ataca antes que eu possa me preparar para isso. O
golpe de sua mão na minha bochecha é surpreendente e poderoso. Isso me
envia cambaleando para a parede. Um grito de surpresa explode de mim.
Meu tornozelo grita em protesto quando tenta torcer errado e eu caio com
força sobre minhas mãos e joelhos.
Owww.
Eu alcanço e toco minha bochecha que está queimando com o tapa. As
lágrimas que eu estava segurando a noite toda escapam de seus limites e
correm pelo meu rosto. Não posso deixar de levantar a cabeça, lançando-lhe
um olhar horrorizado e acusador.
Qualquer que seja a fúria odiosa induzida pelo álcool que o possui se
derrete e suas feições se apertam de uma maneira dolorosa, como se de
repente ele percebesse o que acabou de fazer. Ele dá um passo em minha
direção e eu me encolho em resposta.
— P-pai — eu resmungo. — V-você me bateu.
Ele agarra meus ombros, me levantando. Eu grito quando sou
arrastada para seu abraço forte.
— Sinto muito, querida. Droga, me desculpe. — Ele acaricia meu
cabelo e beija o topo da minha cabeça. — Eu bebi demais e você sabe o que
isso faz comigo.
Um soluço que não vai ser silenciado escapa. Eu estremeço em seu
aperto. Ele acaricia minhas costas, claramente tentando me acalmar.
Por que essa é minha vida?
Pelo menos foi eu e não ela desta vez.
Mas quando ele me machuca, é diferente. É pior.
— Por favor, me perdoe — ele implora. — Por favor.
Nunca. Eu nunca vou perdoá-lo.
— Eu te perdôo — minto.
— Essa é minha boa menina. Minha doce, doce menina.
CAPÍTULO DEZ
SCOUT

Quarta-feira
Tic tac. Tic tac. Tic tac.
O ponteiro dos segundos do meu relógio skeleton preto BLVGARI Octo
Finissimo — um dos últimos presentes de minha mãe antes de ela ir para a
prisão — se move silenciosamente, apenas com um leve puxão ao passar de
segundo para segundo.
Tic tac. Tic tac. Tic tac.
Eu forneço o som de tique-taque dentro da minha cabeça. Assim como
quando eu era criança. Tínhamos um relógio de pêndulo antigo que eu
costumava sentar e assistir por uma hora inteira só para ouvi-lo tocar
quando atingia o topo da hora. Era ainda mais espetacular sempre que
virava meio-dia ou meia-noite, os sons continuavam pelo que parecia uma
eternidade. Aqueles tiques audíveis e constantes foram calmantes para
mim. Quente e reconfortante.
Tic tac. Tic tac. Tic tac.
Hoje em dia, não muito me acalma ou me aquece. A escuridão fria que
eu temia que me consumisse quando eu era criança lentamente se infiltrou
dentro de mim com o passar do tempo. Eu mal consigo mais mantê-la fora.
Se não fosse pela proximidade constante de meus irmãos, provavelmente
me engoliria inteiro.
Suprimo um estremecimento com esse pensamento. Estar separado
dos meus irmãos seria minha morte final.
Eles provavelmente pensam que eu os odeio. Pior ainda, não sinto
nada por eles. Não poderia estar mais longe da verdade. Meus irmãos
sempre estiveram no centro do meu mundo, não importa o quão sombrio e
demente ele fique.
Sombrio e demente é um eufemismo. Às vezes, perco o controle.
Completamente. Minha raiva é como uma chama em um palito de fósforo,
aparentemente inofensiva e nada brilhante. Mas sempre explode. Atinge a
gasolina e se espalha até consumir... tudo. Não pretendo ativamente
destruir tudo em nossas vidas.
Isto. Apenas. Acontece.
A arma de ontem à noite foi um exemplo. Eu vi Sully e Sparrow terem
suas conversas silenciosas de "ele é louco pra caralho" sobre mim. Eles
esquecem que eu posso ouvir. Estou a par de toda a comunicação mental
dos trigêmeos.
Eu honestamente pensei que era algum idiota que eu dei uma surra
por Bryant. O idiota disse que descobriria onde eu morava e colocaria uma
bala em mim quando eu menos esperasse. Já que estamos escondidos de
qualquer um procurando ativamente de nós, eu não estava muito
preocupado. No entanto, quando ouvi as batidas, tive esse medo terrível de
que o idiota covarde fosse atirar na cara de um dos meus irmãos.
Eu me descontrolei.
Acabou não sendo nada e agora meus irmãos acham que eu sou ainda
mais lunático do que já sou.
A escuridão que prospera dentro de mim pode se foder se pensar que
vai assustar meus irmãos. Vou mantê-la à distância para mantê-los. Eu tenho
que fazer isso.
Meu telefone vibra, puxando a corda que consegue manter meu
domínio da realidade, e me arrasta para o presente. A escuridão turva
desaparece e o interior do meu carro se torna visível. Eu inalo uma
respiração profunda, deixando o cheiro de couro novo me aterrar antes de
pegar meu telefone do porta-copos e verificar minhas mensagens. É o texto
em grupo com meus irmãos.
Sparrow: Sua gata é uma cadela, Sull.
Sully: Eu sei, mas você também, então acho que vocês dois estão quites.

Sorrindo, eu acrescento minha própria opinião.


Eu: Ele é minha gata agora.
Sparrow: Gatos são permitidos no inferno?
Estou prestes a dizer a ele para ir se foder quando vejo movimento da
minha visão periférica. Eu me contento com um emoji rápido de dedo médio
antes de enfiar meu telefone no bolso e deslizar para fora do meu veículo.
Esta manhã me sinto como o Sparrow – vestindo um terno Tom Ford
sob medida e parecendo um milionário. Prefiro quando posso me vestir
como quero, mas esse novo trabalho que Bryant nos colocou exige um
pouco mais do que o habitual de cada um de nós. Não somos mais punhos,
músculos e terror. Somos astutos, sorrateiros e manipuladores. Não é o que
eu prefiro fazer, mas mantém as coisas interessantes.
Sem falar que isso me deixa mais perto dele.
Winston filho da puta Constantine.
A cada passo manco que dou, a fúria cresce cada vez mais alto como
um tsunami de lava ardente nascido das profundezas do inferno. Quero
fazer aquele homem pagar pelo que fez à minha família.
Mas não posso.
Já olhei de todos os ângulos. Ele é muito poderoso. Muito rico 'pra'
caralho. Nós tivemos nosso jogo de mijo e ele provou que ele tem o pau
maior literalmente. Então, já que não posso cortar a cabeça da cobra-real,
vou acertar onde puder.
Neste caso, Ty Constantine.
Bryant diz que Winston quer comprar a Croft Gaming and
Entertainment, ou pelo menos fazer parceria. Isso significa dar a Alexander
Croft algo de valor considerável em troca - o nome Constantine por meio do
casamento de seu primo com a filha de Alexander. Ty, apenas um ninguém
naquela família, é dispensável para Winston.
Ty, para mim, é importante.
Ele é uma lâmina, embora aparentemente insignificante, eu posso usar
para cutucar Winston.
— Ei — eu chamo Ty quando ele entra no elevador da garagem. —
Você pode segurar o elevador?
Ele me vê me aproximando, mancando e tudo, e estende um braço
para impedir que as portas se fechem. Eu cerro os dentes, forçando uma
carranca em um sorriso. Ty tem a aparência da assinatura de Constantine -
cabelos dourados, olhos azuis afiados, aura poderosa. É difícil não deixar de
dar um soco na cara dele.
Estou jogando um longo jogo aqui, no entanto.
Um soco no rosto é algo que eu teria feito um ano atrás, mas não
agora. Eu sou mais esperto do que aquele adolescente que foi derrotado por
Winston fodido Constantine. Eu sou uma maldita cobra agora também.
— Obrigado, cara — eu digo enquanto entro no elevador.
Ele me dá um sorriso megawatt, muito mais amigável do que qualquer
Constantine que eu já conheci. Pobre seiva. Vamos foder com a vida dele e
ele não faz ideia.
— Você trabalha aqui? — ele pergunta, balançando a cabeça para
cima enquanto aperta o botão do andar de cima.
Eu apertei o botão para o andar abaixo dele. — Sim. Comecei esta
semana.
— Não brinca? Eu também.
— Trabalhando para o grande homem?
Suas bochechas ficam rosadas como se ele estivesse envergonhado de
admitir isso. A arrogância é uma característica de Constantine, então isso é
novo.
— Eu sou basicamente um estagiário. — Ele enfia as mãos nos bolsos
da calça. — Provavelmente não é tão legal quanto o que você faz.
Eu zombo. — Prefiro ser a vadia do café de um cara rico no topo do
que empurrar um lápis no meu cubículo das oito às cinco.
— É meio estranho seguir o Sr. Croft..
— Sr. Croft? Como no CEO? — Soltei um assobio baixo. — Bastardo
sortudo.
Ele balança a cabeça. — Não, cara. Não é tão sortudo. Ele é apenas...
ele me deixa nervoso. Ontem à noite, ele me convidou para jantar em sua
casa...
— Você fodeu o CEO?
Seu rosto muda de rosa levemente envergonhado para carmesim
mortificado. — O-o quê? De jeito nenhum. Cara, eu sou hetero. Ele me
apresentou a sua filha.
O elevador toca e então as portas se abrem para o meu andar. Eu
passo na frente das portas para impedi-las de fechar. — Ela era gostosa?
Ele sorri. — Sexy. Tímida, mas seriamente sexy. Mas o jantar em si
com o Sr. Croft foi tenso. — Um suspiro passa por seus lábios. — Eu
honestamente estava ansioso para sair com alguém que não é da família. Eu
não cresci aqui ou fiz faculdade aqui. Eu não conheço ninguém. É chato pra
caralho quando você não conhece ninguém além de seus malditos primos.
Esse cara facilita demais.
— Eu poderia te dar meu número — eu ofereço com um sorriso. —
Nós poderíamos ir a um bar ou alguma merda. Você poderia me contar tudo
sobre esse jantar tenso e a gostosa. Inferno, talvez pudéssemos convidá-la
para vir sem o pai.
Seus olhos azuis brilham e ele acena enfaticamente. — Sim. Gostaria
disso. — Ele empurra o telefone para mim. — Anote-o. Desculpe, eu não
peguei seu nome...
— Ford. Ford Mann. — Eu digito meu nome e número antes de
devolvê-lo a ele.
— Ty Constantine.
— É melhor eu voltar para o cúbico chato. Vá se divertir com o papai
CEO.
Seu rosto não fica vermelho desta vez agora que ele sabe que estou
apenas dando merda. — Vou mandar uma mensagem para você mais tarde.
Muito prazer em conhecê-lo.
— Igualmente. — Eu inclino minha cabeça para ele antes de sair do
caminho. As portas se fecham e ele vai para o próximo andar.
Depois de esperar uns bons cinco minutos, apertei o botão para voltar
à garagem. Bryant me colocou isso na empresa para que eu pudesse me
aproximar de Alexander e Ty. Como Alexander está no último andar e
escondido das pessoas que trabalham em cubículos, minha única pessoa
alcançável é Ty. Consegui entrar em contato com ele em cinco minutos,
então diria que meu trabalho do dia acabou aqui.
Quando chego ao meu carro, pego meu telefone e vejo que perdi uma
foto real de Sully me chutando e, em seguida, um vídeo de Sparrow em seu
carro cantando "foda-se" ao som de "Twinkle, Twinkle, Little Star". Idiotas.
Isso é o que está em risco se eu permitir que minha escuridão me
consuma.
Perdê-los.
Estamos juntos desde a concepção, e ser separados, por causa da
merda louca que se passa dentro da minha cabeça, me mataria.
Eu: Conheci Ty Constantine.
Sparrow: Diga…
Eu: Desesperado por um amigo. E eis que eu estava disponível.
Sully: Você? Um amigo?
Eu: Descobri que o nosso rapaz jantou ontem à noite na casa de Alexander.
Conheceu Landry. Disse que ela era gostosa.
Sully: Ela não é gostosa.
Sparrow: Ela não é nada mal.

Malditos mentirosos. Se for algo como Ivy Anderson – uma garota que
todos nós queríamos e tivemos no ensino médio – então eu sei que eles
estão minimizando as coisas. Como se eu não pudesse sentir o interesse
deles. Às vezes eles são tão óbvios que chega a ser ridículo.
Eu: Eu o convidei para ir a bares.
Sparrow: Ele realmente aceitou???
Sully tenta me ligar, mas eu bati em recusar porque se eu quisesse
falar com ele, eu ligaria para ele.
Eu: Sim. Trocamos os números.
Sully: Você não pode bater na bunda dele, Scout. Este trabalho é diferente do nosso
habitual.

Porra, porra. Como se eu já não soubesse disso. Eles realmente


pensam que eu sou um lunático. Isso me irrita.
Eu: Estou realmente cansado de você sempre me tratando com tanto cuidado, Sull.
Sully: E eu fico muito doente e cansado de você explodir nossas vidas!
Sparrow: Pessoal... relaxem.
Sully: Posso encontrar Ty para beber.
Eu: Já está cansado do dever de babá? Tem certeza de que estou apto para dar
aulas particulares a uma garotinha?
Sparrow: Ele está sendo um idiota, Scout. Sabemos que você não vai chutar o
traseiro de Ty.
Eu: Sully sabe disso?
Não tenho certeza do que está acontecendo na bunda de Sully
ultimamente, mas está começando a me irritar.
Sully: Foda-se.
Eu: Muito bem. Já que sua calcinha está em um chumaço, você vai beber com Ty e
eu dou aulas para a nanica. Embora, devo dizer que é mais provável que seja
descoberto, considerando que não tenho passado horas aprendendo linguagem de
sinais como você…
Eu sei que ele vai ceder. Por alguma razão, ele está realmente em seu
papel nesta operação. Um maldito livro de ASL chegou pelo correio hoje
para ele. E, como ele não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, ele
terá que escolher. Ty ou a garota.
Sully: Qualquer que seja. Divirta-se ficando bêbado com um Constantine. Não me
ligue quando acidentalmente o matar e for levado para a cadeia.
Sparrow: Sim, não me ligue também. Tenho coisas mais importantes para fazer do
que lidar com policiais.
Eles continuam lançando insultos, mas não estou mais interessado em
nossa conversa porque Bryant está ligando.
— Ei — eu grunhi, respondendo no segundo toque. — E aí?
— Eu tenho algumas informações para você. Da sua... obsessão.
Meus pêlos se erguem e eu reprimo um rosnado. — Que tipo de
informação?
Ele ri, profundo e um pouco mal. — O tipo bom. Data, local, hora.
— legítimo?
— Confirmado e legítimo.
— Vá em frente... — Eu cerro os dentes, odiando o quão ansioso estou
por essa informação. A "informação" de Bryant tem um preço alto. Ele me
fez fazer alguma merda que meus irmãos nem sabem. O tipo de coisa que
realmente me mandaria para a prisão perpétua.
— Vou precisar de um favor, é claro — ele canta. — Você entende. A
família cuida uns dos outros.
Família.
Esse cara de merda.
Ele pode estar correndo pelo meu sangue, mas ele não é minha
família. A única família que tenho é minha mãe, que nos foi tirada
injustamente, e meus irmãos. Todos os outros são irrelevantes para mim.
— Claro — eu murmuro. — O que você precisa?
— Uma propriedade precisa ser tratada. Os Morellis têm muitos
inimigos e eu garanto que eles sejam cortados antes que se tornem um
problema.
— Lidar com... como? — eu imploro. — Amansar? Vandalismo?
— O último.
— Elabore.
— Eu quero que você queime o prédio deles até a porra do chão.
Isso é um pouco mais do que vandalismo…
— Se eu for pego... — eu paro. — É melhor que sua informação seja
boa.
— Não seja pego. Olhe, mas não toque ou Winston não será o único
homem que vai te rasgar em pedaços — ele corta. — E minha informação
vale bem o risco.
Olhe, mas não toque.
Claro, tio. Estarei no meu melhor comportamento...
— Estou ouvindo.
— A pequena esposa de Winston. Ela estará em um chá de bebê neste
fim de semana para um amigo da família Constantine.
Ash.
Minha ex-irmã.
Já está na hora de nos acertarmos…
— Eu farei seu trabalho sujo. Agora me conte tudo.
— Assim que se fala, filho.
Não sou filho dele, mas vou deixá-lo me chamar da porra que ele
quiser, desde que ele me dê a informação que eu preciso.
CAPÍTULO ONZE
SPARROW

Eu bato meus dedos na minha mesa, meu olhar fixo na porta da sala
de aula. Energia zumbe sob minha pele e não sei por quê. Talvez eu tenha
tomado muito café esta manhã.
Ou talvez você esteja apenas animado para ver Landry…
Um bufo zombeteiro me escapa e o cara ao meu lado vira a cabeça na
minha direção. Ignorando-o, continuo esperando meu alvo chegar.
Não é emoção por vê-la... é emoção por voltar a fazer meu trabalho.
Foda-se ela.
Farei com que ela se apaixone por mim, por nós.
Scout soube que Ty Constantine foi à casa dela ontem à noite.
Alexander Croft não está perdendo tempo. Suponho que tentar casar sua
filha com uma das famílias mais ricas não apenas do país, mas do mundo,
estaria no topo de sua lista de prioridades.
Minha mente vagueia para fantasias de contaminá-la no banco de trás
do meu carro. Eu manteria sua boca malcriada quieta com meu pau. Se Ty já
está em movimento, indo a jantares e tal, então preciso melhorar meu jogo.
Eu normalmente não tenho que trabalhar tanto para levar uma garota para
a cama comigo.
Aborrecimento ondula através de mim.
Landry é difícil.
Atrevida, certinha e meio rude 'pra' caralho.
Um flash de loira na porta rouba minha atenção. É ela. Pequena
Landry. Esta manhã, porém, sua irritação de antes se foi. Sob seu rosto
fortemente maquiado há uma expressão tensa e torturada. Seus olhos estão
injetados como se ela estivesse chorando.
A irritação queima em meu intestino, desta vez, não mais em direção a
ela. Alguém a fez chorar. Eu não sei por que isso me incomoda - uma garota
que eu literalmente acabei de conhecer - mas incomoda.
Sento-me em linha reta, apertando minha mandíbula enquanto a vejo
fazer seu caminho de boa vontade em minha direção. Ela coloca a bolsa na
mesa e se senta. Depois de uma bufada que parece ser um esforço para
evitar mais lágrimas, ela começa a morder o lábio inferior, olhos azuis
procurando os meus como se eu tivesse respostas.
Apenas faça as perguntas certas, baby.
— Laundry. — Eu sorrio para ela. — Parece bem.
— Chevy. E você parece bem também.
Tudo bem.
A ousadia dessa garota.
— Vejo que alguém acordou e tomou sua pílula maldita esta manhã.
Você nunca esquece isso?
— Nunca. — Ela faz uma cara azeda, mas não esconde o leve tremor
de seu queixo. — Você saiu da nossa casa com pressa ontem.
Eu pisco para ela em confusão por um momento até lembrar que ela
está se referindo a Sully, não a mim. Esse show de atuação é difícil às vezes.
— Dever de casa — minto. — Por que você está triste?
— Triste? — Sua cabeça balança e seu lábio superior se curva
levemente. — Não estou triste.
Eu levanto uma sobrancelha, esperando que ela explique. Ela não faz.
Eu juro pra caralho que ela gosta de ser difícil.
— Você vai me fazer implorar por detalhes, Laundry?
— Alguém pode realmente fazer você fazer alguma coisa? Não achava
que você fosse do tipo. — Ela me estuda por um instante, algo parecido com
respeito brilhando em seus olhos.
Ela realmente vai me fazer arrastar essa merda para fora dela.
— Vamos. Vamos — eu digo enquanto empurro minha cadeira para
trás.
Suas sobrancelhas se juntam. — O que? A aula está prestes a começar.
— Como se qualquer um de nós estivesse com vontade de se
concentrar na aula de hoje. Algo está acontecendo e você precisa desabafar.
Estamos indo embora.
Pego sua mão, mas ela a puxa de volta, balançando a cabeça quase
violentamente. — Não posso sair do campus com você.
Au.
— Eu não vou sequestrar você — eu grito. — Eu só quero te pagar um
pouco de café, porra. — Ela não se move, então eu jogo minhas mãos no ar
em exasperação. — No campus.
Seus lábios pressionam juntos. Ela pensa sobre tudo isso por três
segundos e então ela se levanta. Desta vez, quando eu pego sua mão, ela
me deixa pegá-la. Acho que surpreende a nós dois porque seus olhos
disparam para os meus, arregalando.
Eu não dou a ela a chance de recuar e a puxo junto comigo. Uma
garota com uma belos seios sorri para mim quando passo, mas não devolvo.
Se vou atrapalhar os esforços de Ty Constantine, preciso ter certeza de que
Landry tem alguém com quem ela preferiria estar.
Eu.
Checar os peitos de todas as garotas gostosas que encontro não vai
me ajudar na minha causa.
Passamos pelo nosso professor na saída. Ele me lança uma carranca
irritada, mas eu não dou a mínima. Na verdade, não estou tentando obter
um maldito diploma aqui. Dou um aperto reconfortante na mão de Landry.
Ela fica quieta enquanto caminhamos, nunca tentando puxar sua mão da
minha.
— Nos pegue um lugar ali — eu digo quando chegamos ao café do
campus.
Ela surpreendentemente obedece sem problemas. Enquanto ela
comanda o sofá de dois lugares aninhado longe de todas as outras mesas e
cadeiras, peço nossos cafés e alguns muffins.
— O que é isso? — ela pergunta quando me aproximo com nossa
bandeja.
— Macchiato com caramelo. — Lanço-lhe um sorriso provocante. — Já
que você é salgada o tempo todo, eu acho que você pode gostar de algo
doce.
Ela revira os olhos, mas não consegue esconder o sorriso fofo puxando
seus lábios. Anotado. Essa garota gosta de guloseimas e um pouco de
provocação paqueradora.
— Pode falar, mulher. — Eu me acomodo na almofada ao lado dela. —
Estou ouvindo.
Tomando seu tempo doce, ela pega sua caneca, inala o cheiro vindo
do vapor, e cautelosamente toma um gole. Acompanho a forma como sua
língua rosa sai e persegue um rastro ao longo de seu lábio superior,
limpando o leite vaporizado deixado para trás. Minha boca saliva pelo meu
próprio gosto – algo que eu realmente não gosto de admitir para mim
mesma.
— Qual foi o seu negócio na segunda-feira? — ela exige, em vez de sair
com o que realmente a está incomodando. — Você estava... diferente.
Eu só posso imaginar o que a bunda do Sully fez ou disse. Ele está tão
ressentido com Bryant que provavelmente gemeu como uma cadela para
ela.
— Nem todo mundo é sol e rosas o tempo todo como você, Laundry —
eu inexpressivo. — Você é objetiva pra caralho, no entanto.
— Você é tão idiota. — Ela faz uma careta para mim. — Por que eu
pensei que vir aqui com você seria uma boa ideia?
Tanto para cortejar a garota.
— Tudo bem — eu concedo, deixando escapar um suspiro agudo de
resignação. — Eu estava cansado. Fico irritado quando estou estressado e
cansado.
É a verdade... sobre Sully. Quando éramos crianças, ele exigia uma
soneca ou era o pior. Tenho certeza de que passamos por dezesseis babás
durante nossos primeiros anos de vida por causa dele.
— Você tem um Bronco também — diz ela. — Por que você tem dois
carros?
— Esse pedaço de merda... — Eu mordo minhas palavras e esfrego a
palma da mão no meu rosto. — Meu carro estava sendo detalhado, então
peguei emprestado o carro do meu vizinho. Alguma outra pergunta,
detetive?
Ela se vira de mim e pega sua bolsa. Que porra. Ela vai sair. Porque eu
não posso ser um cara frio por três segundos. Meus modos idiotas vão
arruinar isso muito antes dos modos chorões de Sully.
— Ei — eu grito, agarrando seu pulso para impedi-la de ficar de pé. —
Olhe para mim.
Claro que a garota salgada e mimada não faz. Eu seguro sua bochecha
e guio sua cabeça até que ela esteja de frente para mim. Suas feições
apertam e ela estremece. Como eu a machuquei. Franzindo a testa, eu corro
meu polegar ao longo de sua bochecha. Ela faz isso de novo. Se encolhe
como se fosse doloroso.
— É por isso que você está toda arrumada hoje? — Eu exijo. —
Cobrindo uma contusão?
Seus olhos azuis brilham com uma variedade de emoções, nenhuma
das quais eu posso definir e descobrir. — Arrumada? Isso soa tão sexista.
Como se maquiar fosse...
— Seu discurso feminista pode esperar. Diga-me como você conseguiu
esse hematoma.
— Não posso.
— Alguém fez isso com você?
— Não foi nada.
— Obviamente foi alguma coisa — eu cuspo de volta para ela. —
Deixe-me adivinhar. Você bateu em uma porta.
— Foda-se, Ford!
Seus esforços para sair são inúteis. Não com meu aperto forte em seu
braço, prendendo-a no lugar ao meu lado. Ela é minha prisioneira
temporária até eu decidir libertá-la. Meu pau sacode.
Não é a hora, idiota.
Eu gentilmente acaricio sua bochecha enquanto observo seu azul
ardente. Muita coisa se passa na cabeça de Landry. Eu gostaria de ter acesso
à mente dela, para que eu pudesse separar tudo e descobrir o que a faz
funcionar. O que a incomoda. O que a excita.
Para que eu possa explorá-lo, é claro.
— É melhor ter sido uma parede, Laundry. — Eu esfrego meus lábios
ao longo do hematoma. — Porque se eu descobrir que foi uma pessoa, as
coisas vão ser muito, muito ruins para ela.
Sua respiração falha e ela para. — Você não é meu namorado, Chevy.
— Ainda. — Eu me afasto e pisco para ela. — Ainda não é seu
namorado.
Cílios fortemente pintados tremulam na minha frente enquanto ela
revira os olhos. Eu não sinto falta do sorriso que ela está tentando
desesperadamente esconder. A menina salgada é doce no meio.
O que me faz pensar por que diabos alguém iria machucá-la. Sua não-
resposta é a única resposta que eu preciso. Alguém lhe deu este hematoma
e ela está com muito medo de dizer qualquer coisa. Isso é surpreendente,
considerando seu sobrenome e situação financeira.
Ela tem dezoito anos.
Se fosse seu pai, ela poderia simplesmente ir embora. Então quem
então? Amigo ou namorado? Um membro da família diferente? Ty?
Eu tenho dificuldade em acreditar que Ty Constantine acertaria seu
encontro em seu primeiro jantar juntos. Meu instinto aponta para o pai, mas
estou perdendo algumas peças nesta história - uma história que ela está
claramente decidida a evitar.
— Podemos, por favor, falar sobre outra coisa? — ela resmunga. —
Qualquer mais. Por favor.
Deslizando minha mão de seu pulso, deslizo para sua mão, ligando
nossos dedos. Seu corpo inteiro relaxa, a tensão da nossa conversa
desaparecendo.
E como o bom aspirante a namorado que sou, deixo passar. Passamos
todo o período de aula mantendo as coisas leves e discutindo ótimos
restaurantes, filmes e um monte de outras merdas. Nem uma vez voltamos
para o hematoma em seu rosto. Mas, não me esqueci disso. No segundo em
que ela pede licença para ir ao banheiro, pego meu telefone e mando uma
mensagem para meus irmãos.
Eu: Descubra quem diabos atingiu Landry.
Provavelmente não é a melhor ideia envolver Scout nessa merda, mas
eu quero respostas — respostas que Landry parece estar evitando a todo
custo.
Meu trabalho é enfiar meu nariz em cada canto do negócio dela. Para
fazer uma bagunça de sua vida também, mas parece que ela está fazendo
um ótimo trabalho sozinha.
CAPÍTULO DOZE
SULLY

Della faz o sinal novamente — aquele que eu claramente não conheço.


Seus olhos brilham com malícia e um sorriso antagonizante transforma sua
expressão fofa e feminina em algo muito mais sinistro.
Eu juro, essa garota é o diabo.
Ignorando sua provocação, pego meu telefone e saio em busca de
insultos em ASL. Não é tão surpreendente - porque é assim que nosso
mundo é - eu encontro um monte de links com informações e um vídeo do
YouTube. Demora cerca de cinco minutos até que eu saiba que ela me
chamou de bobão.
— Bobão? — Eu digo, imitando o sinal de volta para ela.
Seu sorriso é vitorioso, e ela assente. Então ela sinaliza, Você.
Eu aprendo a sinalizar a palavra pirralha e me certifico de dizer
também, enunciando para que ela não entenda mal. Mais uma vez, juro que
consegui o trabalho mais difícil de nós três. Sparrow consegue fingir ser um
estudante universitário e Scout faz o que quer que Scout faça.
Enquanto isso, estou aqui tendo que aprender uma maldita nova
língua.
E tomar conta de um monstro.
Disse que o monstro sorri para mim e aponta para algo piscando.
Então ela sinaliza, gata.
Se Della é o diabo, então Heathen é sua mascote. Ambas estão podres
até o âmago. E minha bunda de alguma forma foi forçada a trazer essa
maldita gata comigo todas as vezes porque gato é bom para as crianças.
Porra, porra.
— Foco garota — eu resmungo. — Você deveria estar aprendendo.
Ela ri e balança a cabeça antes de me dar aquele sinal novamente.
Desta vez eu sei o que significa. Bobão.
— Você é uma idiota, você sabe disso, certo? — Eu murmuro sob a
minha respiração.
O nariz de Della franze, confusão dançando sobre suas feições. É um
lembrete do por que estou aqui. Para tentar melhorar suas habilidades de
leitura labial. Eu realmente sou péssimo nesse trabalho. É apenas uma
questão de tempo até que essa criança conte para o pai dela que eu não sei
o que diabos estou fazendo.
E isso é apenas uma parte desse trabalho idiota. Eu ainda devo de
alguma forma rastejar e encontrar informações para Bryant. Não sei o que
ele espera que eu faça. Entrar sorrateiramente no escritório do cara e espiar
os arquivos? Boa sorte com essa merda. Ninguém vai entrar lá a menos que
ele permita. Espionar suas conversas? Escolha portas trancadas para ver
quais esqueletos estão escondidos? Estou convenientemente evitando todo
esse aspecto de super-detetive. Não é como se Bryant realmente soubesse
com certeza.
— Fala sério — eu digo em um tom severo, certificando-me de fazer
movimentos claros com minha boca. — Foco.
Ela apunhala um dedo no meu antebraço, me acertando bem em um
dos lugares que Heathen rasgou esta tarde quando tentei levá-la para seu
transporte de viagem. Eu olho para a menina malvada. A alegria em seu
rosto me lembra Scout sempre que ele atormentava alguém quando éramos
mais jovens.
Psicopatas perversos.
— Está tudo bem aqui? — uma voz pergunta da porta.
Eu giro minha cabeça para encontrar Landry lentamente entrando na
sala. Há uma expressão suave em seu rosto que eu não tinha visto antes.
Com o sol entrando pelas janelas e cobrindo suas feições cremosas, ela é
quase angelical. Seu cabelo brilha, captando cada raio de luz e refletindo-o
de volta na minha direção.
Descubra quem diabos atingiu Landry.
O texto de Sparrow de mais cedo queima em minha mente. Que tipo
de idiota machuca alguém que se parece com Landry? Impecável e inocente.
Mas eles fizeram e os leves hematomas azulados escondidos sob camadas
de maquiagem provam isso.
Mas quem faria isso?
Pesquisei e li tudo sobre o pai dela. Ele é o típico cara rico arrogante,
mas não recebo vibrações de abuso infantil dele.
Criança?
Landry é tudo menos uma criança.
Talvez este seja o segredo sujo que Bryant queria que eu revelasse.
Posso tentar obter informações das meninas. Vou ter que ter cuidado. Eu
não sei se esse cara tem os quartos grampeados ou não. Eu provavelmente
estou sendo paranóico pra caralho, mas de repente eu tenho arrepios.
Landry sinaliza algo para Della. Sinto falta de toda a conversa, não
consigo acompanhar a conversa rápida. Finalmente, Landry ri, o som quase
surpreso.
— O que? — Eu resmungo.
— Nada. — A pele de Landry fica vermelha. — Eu simplesmente não
esperava isso.
Eu franzo a testa para ela. — Esperava o quê?
— Della, hum, gosta de você.
— Uau. Obrigado querida. Pela maneira de acariciar meu ego.
Ela inclina a cabeça para o lado, os fios dourados de seu cabelo
deslizando sobre seu pescoço ainda rosa. Eu tenho o desejo de afastar seu
cabelo e deslizar meu polegar sobre a veia pulsante lá.
— Desculpe por mais cedo — diz ela, parando para mordiscar o canto
interno do lábio. — Eu estava sendo uma cadela.
Sparrow não disse nada sobre ela ser uma vadia. Na verdade, ele não
disse nada além do fato de que queria que descobríssemos quem a atingiu.
Parece que cabe a mim chegar ao fundo disso, já que não posso confiar em
suas informações de merda. Pelo menos meu trabalho tem um pouco mais
de propósito do que antes. Isso é algo que eu posso apoiar, porque,
caramba, eu não quero aquele filho da puta batendo nela. Vou fazer com
que ela confie em mim por todos os meios necessários.
Meu pau pula com o pensamento dela sussurrando todos os seus
segredos para mim. Tudo que eu preciso fazer é colocar minha boca em sua
boceta. Posso garantir que conseguiria qualquer coisa dela naquele
momento. Minha língua é meu melhor trunfo.
— Ford?
— Está bem. — Olho para Della. — Hora do lanche?
Ela acena com a cabeça e sai correndo da sala, claramente ansiosa
para deixar nossa aula. Quando volto o olhar para Landry, seus olhos estão
sondando e curiosos.
— O que?
— Ela realmente gosta de você. — Seus lábios se curvam em um
sorriso. — Estou surpresa, só isso.
— Ela só me usa para ter minha gata.
O sorriso de Landry cresce e me vejo fixada nele. Sua boca é a coisa
mais interessante na sala. Rosa, gostosa e com lábios feitos para beijar.
— Talvez — ela diz enquanto caminha até a janela com vista para a
cidade — mas pelo menos ela está aprendendo.
Aprendendo?
Como ser uma pirralha, com certeza. Mas aprender alguma coisa
comigo? Dificilmente. Eu sufoco uma zombaria com suas palavras.
— Ela estava te observando e tentando. — Landry olha por cima do
ombro para mim. — Isso é novo para ela. Ela é tão teimosa na maioria das
vezes.
— Eu me pergunto de onde ela tirou isso — eu inexpressivo.
— Traço de família. Vem por ele honestamente. — O humor em sua
voz desaparece quando seus ombros ficam tensos. — Eu não deveria estar
aqui sozinha com você.
Eu ando em direção a ela, incapaz de me ajudar. Landry Croft é nosso
alvo — a garota com quem devemos mexer para deixar nosso tio feliz. Isso
deveria parecer um dos nossos trabalhos habituais. Frio. Tedioso. Repetitivo.
Não é.
Como o sol entrando, cobrindo sua forma angelical, estou aquecido. O
calor penetra na minha pele e nos meus ossos, descongelando partes frias
de mim que estiveram geladas no ano passado. Sou grato por nosso
trabalho ser cortejá-la e tirá-la do rumo com seu "casamento arranjado em
formação" porque posso ceder ao meu desejo egoísta. Eu posso fazer isso…
Sua respiração falha no segundo em que minhas mãos encontram seus
quadris. Um tremor percorre seu corpo, mas então ela aperta cada músculo
e fica imóvel.
— O que você está fazendo? — ela exige, sua voz ofegante e confusa.
— Tocando você.
— Você não deveria. — Outro arrepio. — De verdade.
Suas mãos se movem para cobrir as minhas, mas em vez de arrancá-las
de seus quadris, ela as coloca em cima das minhas. Tomando isso como
permissão, eu mergulho, enterrando meu nariz em seu cabelo na lateral de
seu pescoço. Ela crava as unhas na carne das minhas mãos. Ainda assim, ela
não escapa do meu aperto.
— O destino diz o contrário. — Murmuro as palavras perto de seu
ouvido. — Nós estamos nas mesmas classes e eu fui contratado para ser
tutor de sua irmã. Podemos realmente ignorar o destino?
— Ford…
O nome em seus lábios – o falso – esfria meu sangue. É meio fodido
que a estamos enganando. E enquanto Sparrow e Scout podem ignorar a
culpa, eu tenho mais dificuldade.
— Quanto tempo dura a hora do lanche? — Eu pergunto, deixando
meus polegares brincarem sob a bainha de sua camisa, encontrando uma
pele sedosa que precisa ser tocada.
— Para sempre se você deixar. Ela procura qualquer desculpa para
deixar esta sala de aula.
— Então temos tempo...
— Tempo para quê?
Eu deslizo minha mão por baixo de sua camisa, gentilmente
acariciando sua barriga. — Isto.
— Ford, não podemos.
A maneira torturada com que ela diz essas palavras me faz querer
trancar a porta da sala de aula e provar a ela que podemos.
— Por que não, querida? — murmuro, acariciando seu cabelo.
Ela derrete contra mim, inclinando a cabeça contra o ombro e
expondo o pescoço para mim. Eu uso minha mão livre para afastar o cabelo
e, em seguida, pressiono meus lábios em sua pele aquecida pelo sol. Sua
respiração vem em ofegos rápidos e rasos enquanto eu deslizo a mão sob
sua camisa, cada vez mais alto e mais alto. Eu acho que sua respiração para
completamente quando meus dedos provocam ao longo da parte de baixo
de um de seus seios.
Ela é tão responsiva e carente pra caralho.
As coisas que eu poderia fazer com essa garota. Tantas coisas.
— Eu quero você — eu admito. Eu beijo seu pescoço, desta vez mais
do que um beijo, saboreando a doçura de sua carne. — Eu sei que você me
quer também.
Ela não discute. Não tão inocentemente, ela esfrega sua bunda contra
o meu pau que está esticando no meu jeans. Landry deseja que eu a faça se
sentir bem. E eu vou. Quando surgir a oportunidade, eu vou despi-la, abrir
suas coxas e me banquetear com sua boceta até que ela esteja em uma
altura da qual ela nunca mais descerá.
— Eu gosto de você, querida — murmuro, minha respiração quente
em seu pescoço. — E você gosta de mim também. Essa coisa entre nós é
inevitável. Foi no segundo em que coloquei os olhos em você na aula.
Com essas palavras fora de mim, eu coloco seu seio sobre o sutiã e
chupo seu pescoço. Um gemido sexy pra caralho escapa dela. Isso acende
um fogo dentro de mim com a necessidade de consumir essa mulher – para
prendê-la, lamber seus pontos doces, e enfiar meu pau nela uma e outra vez
até que nós dois estejamos saciados.
Eu chupo mais forte em seu pescoço, o desejo de marcá-la como uma
necessidade estúpida que não posso ignorar. Ela choraminga e soa como um
protesto.
Uma porta se fecha nas proximidades, fazendo Landry congelar em
minhas mãos. Ela amaldiçoa baixinho e então sai dos meus braços, girando
para me encarar. Eu corro minha língua ao longo do meu lábio inferior,
ansioso para provar mais dela. Seus olhos azuis acompanham o momento,
queimando com a luxúria que é definitivamente espelhada em meus
próprios olhos.
— Meu pai está em casa — ela resmunga, quase tropeçando enquanto
coloca distância entre nós. — Ele está em casa e você não pode estar aqui.
Eu levanto uma sobrancelha, divertida com suas palavras. — Estou
sendo pago para estar aqui. — Ajustando meu pau no meu jeans, não posso
deixar de sorrir com o quão rosa ela fica. — Estou te envergonhando?
Suas feições endurecem e sua voz é estridente. — Isso não é uma
piada, idiota. Ele é... Você simplesmente não entende. — O pânico ondula
sobre ela fazendo seus olhos dispararem em direção à porta e seu corpo
tremer.
Eu sigo seu olhar para a porta. Assim que um homem entra no espaço,
o calor da sala é sugado. Um calafrio profundo rasteja dentro de mim.
Baseado na forma como Landry estremece, eu diria que ela sente isso
também.
Ele é o típico idiota rico em um terno caro. Sua arrogância é sufocante.
Como se eu devesse dar uma olhada nele e me curvar a seus pés. Não
suporto idiotas assim. Eles agem como se fossem deuses.
Me lembra Winston Constantine.
O frio dentro de mim é rapidamente encharcado de gasolina. Acendo
o fósforo, sentindo a queimadura do ódio até os dedos dos pés, e encaro o
homem, mostrando-lhe que não tenho medo dele. Espero que minha
expressão implique que prefiro chutar a bunda dele.
— Landry, querida. Quem é? — Ele está olhando para mim, mas
falando com sua filha em um tom frio e cortante. — Eu disse…
— Ford Mann. Ele é o tutor de Della. — Landry fecha os olhos por um
momento e então eu a vejo se transformar em outra pessoa – alguém real e
segura de si. Alguém corajosa e nada tímida. — Ela já aprendeu muito, pai.
Eu estava apenas discutindo o progresso dela com o Sr. Mann.
Tenho vontade de rir, porque meus lábios não estavam discutindo
nada. Eu estava provando e explorando. Meus dedos ainda formigam com a
forma como seu sutiã de renda se sente contra a minha pele.
— Seu tutor — Alexander papagaia, seu olhar duro me avaliando da
cabeça aos pés. — Hum.
Landry dá risadinhas — femininas e doces. Que porra é essa?
— Della aprende rápido — eu digo, ligando o feitiço que eu vi Sparrow
usar nas pessoas inúmeras vezes. — Surpreendeu o inferno fora de mim.
— Onde está a criança estudiosa? — Alexander pergunta, cortando os
olhos para sua filha.
Landry, para seu crédito, não vacila em seu tom de raiva. Seu sorriso
se alarga e ela considera seu pai como se ele estivesse pendurado na porra
da lua. Novamente... que porra é essa? Antes que ela possa responder, a
criança em questão entra na sala, carrancuda com Sandra puxando a
traseira.
— Sr. Croft — diz Sandra, com um sorriso educado no rosto. —
Adorável vê-lo tão cedo do escritório. Posso pegar uma bebida para você?
Esse show que essas mulheres estão fazendo para esse homem é
nauseante.
— Eu posso pegar para você — Landry diz, segurando o cotovelo de
seu pai. — Além disso, eu queria apresentar algumas ideias de festa para
você. Vamos. Vamos deixá-los terminar a lição.
Alexander me encara por mais um tempo antes de permitir que sua
filha o leve para fora da sala. Sandra corre atrás, claramente ansiosa para
jogar a garota de volta em mim. Della olha carrancuda atrás deles.
Eu toco em seu ombro e espero que ela olhe para mim antes de dizer:
— Bobão.
Seus lábios se curvam em um pequeno sorriso e então ela sinaliza de
volta, bobão. Pelo menos Della e eu temos um inimigo em comum. Eu sei
porque eu não gosto do cara, mas ela? Eu vou ao fundo disso. Pegando meu
telefone, eu mando uma mensagem rápida para meus irmãos.
Eu: Tem alguma coisa com o pai. Um verdadeiro idiota. A garota não gosta dele.
Sparrow: Acha que ele bateu no Landry?
Scout: Parece-me óbvio.
Eu: Não sei. Precisamos descobrir. Ela não disse a ele que me conhecia da
faculdade.
Sparrow: Porque ela não conhece VOCÊ da faculdade.
Eu: Foda-se. Você sabe o que eu quero dizer. Ford. Ela não mencionou conhecer
Ford da classe.
Scout: A menina do papai tem segredos.

Sim, ela tem. E vamos descobrir cada um deles. Porque é o nosso


trabalho – se intrometer na vida das pessoas e foder com tudo. Também
somos muito bons nisso.
CAPÍTULO TREZE
LANDRY

Distância. Distância. Distância.


Isso era tudo o que passava pela minha mente enquanto eu conduzia
meu pai para fora da sala de aula de Della e para o bar da sala de estar. Por
hábito, olho para fora das janelas panorâmicas, minha fuga, mas seu reflexo
sinistro me faz voltar minha atenção para o bar. Eu não quero que ele veja o
desespero em meus olhos. Minha conversa sem sentido parece falsa e um
pouco estridente de nervos, mas papai não parece notar. Ele me observa
atentamente enquanto eu lhe sirvo uma taça de vinho. Não consigo parar o
tremor das minhas mãos, quase derramando vinho por todo o lugar.
Respirando fundo, tento desacelerar meu coração acelerado e relaxar.
Ele reagiu horrivelmente à amizade de Ty. Eu só posso imaginar o que
ele faria se soubesse que o tutor de Della estava com a mão na minha
camiseta.
Calor corre sobre minha pele, queimando um caminho carmesim.
Rapidamente, entrego seu copo ao papai e tento mudar de assunto para
qualquer coisa, menos para o homem na outra sala.
Eu não posso acreditar que eu deixei ele me tocar. Beijar meu
pescoço. Jogar um jogo perigoso na minha própria casa. Tão imprudente e
estúpido. Ford Mann derruba minhas defesas com tanta facilidade. É
emocionante e aterrorizante ao mesmo tempo.
— O que você acha que vai ser? — Papai pergunta, desviando minha
atenção dos pensamentos de Ford para ele. — Você decidiu?
— Della quer que eu seja Chapeuzinho Vermelho e ela quer ser o Lobo
Mau.
— Você fica linda de vermelho, querida. E Della pode ser bastante
selvagem.
Eu rio da piada dele. Embora seja verdade e provavelmente dito como
um insulto, ele diz quase com amor. Eu vou superar sua crueldade com ela
qualquer dia.
— Você está convidando a cidade inteira de novo? — Eu provoco,
ganhando um sorriso genuíno dele. — Da última vez, tenho certeza que você
deixou qualquer um entrar.
Papai ri. — Aprendi com esse erro. Não consegui me divertir porque
tinha que fazer muitas rodadas. Desta vez, pedi ao meu assistente para
enviar convites para minha festa de aniversário para uma lista exclusiva e
íntima de nomes. Todas as pessoas influentes, é claro. Alguns Constantines.
A tensão estala cada um dos meus músculos tensos. Não posso deixar
de pensar na maneira como ele me atingiu. Tudo porque eu estava
conversando com Ty. Isso vai acontecer de novo? Eu sinto que ele quer que
eu seja duas pessoas diferentes.
Duas pessoas diferentes.
Tipo Ford. Eu me pergunto como ele liga e desliga porque ele era uma
pessoa completamente diferente esta tarde do que na faculdade.
Talvez os segredos dele sejam como os meus. Dolorosos. Difíceis de
engolir. Francamente, humilhantes.
Isso me faz querer fugir com ele, me aconchegar perto e implorar para
ele me contar tudo sobre o que são as sombras escuras em seu mundo.
Então, eu não me sentiria tão sozinha.
Há definitivamente mais em Ford do que ele aparenta.
— Ei — papai murmura, colocando sua taça em cima do balcão. —
Caminhe comigo.
Sua mão desliza para a parte inferior das minhas costas e ele me guia
pela sala até a porta de vidro deslizante que leva à varanda. Saímos e o ar
opressivo que sempre me sufocava se dissipa, momentaneamente sendo
levado pela brisa. Está ventando bastante hoje, mas pelo menos está
quente. Aqueço-me à luz do sol por um momento, fechando os olhos e
deixando-a tomar conta de mim para afastar o frio.
— Sou um pai terrível. — Sua voz falha, mostrando rara
vulnerabilidade. — Ontem à noite... eu estava bêbado.
Bêbado.
Eu me agarro no corrimão para me equilibrar. Meus olhos se abrem e
eu cerro os dentes. As coisas que ele faz quando está bêbado são
imperdoáveis.
— Landry, me desculpe. Eu não queria bater em você. — Ele solta um
som doloroso que me corta como uma faca. — Se sua mãe soubesse que
bastardo eu posso ser quando bebo demais, ela me assombraria e me
empurraria para fora desta varanda.
— Está tudo bem — eu minto.
— Não. Não está bem. — Ele agarra meus ombros e me vira para
encará-lo. — Você é minha filha. Minha linda, brilhante e perfeita filha.
Estava errado. Eu machuquei você e estou doente por isso.
— Eu não queria te deixar bravo.
A culpa brilha em seus olhos, mas ele não desvia o olhar. Estou feliz
que ele está enfrentando o que ele fez. Ele inspeciona minha bochecha, os
hematomas bem cobertos por camadas de maquiagem.
— Você não me deixou bravo — ele murmura, franzindo as
sobrancelhas. — É só que... é difícil ver minha garotinha crescer e se tornar
uma mulher. Ver você com Ty Constantine - tão feliz e despreocupada -
parecia que você estava sendo tirada de mim. Você sempre foi minha. E
agora…
— Eu não vou a lugar nenhum — digo a ele com veemência. Eu nunca
vou deixar Della sozinha.
Sua expressão suaviza. Ele me beija na testa. — Você vai um dia. Ty
não é um cara mau. Eu realmente gosto dele. Com seu nome de família,
futuro brilhante pela frente e o jeito que ele estava tão apaixonado por
você, acho que ele seria digno de namorar você.
— Mas, pai…
— Ele é um bom homem, querida. Você merece alguém bom.
Eu aceno e sorrio para ele.
— Estou perdoado?
— É claro. — Eu deixo cair meu olhar para o nó apertado de sua
gravata. — Fiquei chateada, mas vou ficar bem.
— Essa é minha boa menina.
Seu telefone toca, felizmente me salvando dessa conversa. Ele me dá
um sorriso de desculpas antes de atender a ligação, me deixando na varanda
sozinha. Meus pensamentos rapidamente escapam dos de meu pai e voltam
furtivamente para o homem que ensina minha irmã.
Ford.
Seus lábios estavam tão quentes no meu pescoço. Eu quase derreti
nele quando ele chupou minha pele. Uma emoção dispara através de mim
me perguntando se haverá um chupão no meu pescoço. Apenas mais uma
contusão para esconder com maquiagem. Mas este, pelo menos, é um que
eu gostei de receber.
Deus, isso é um problema.
Ford é um problema.
Quando ele estava sendo um idiota arrogante, era fácil mantê-lo à
distância. Mas, hoje na faculdade, e agora mesmo quando estávamos
sozinhos, eu não queria largar seus braços. Eu queria me jogar neles e me
consolar com sua força.
Este não é um dos livros de histórias de Della, no entanto.
Isto é minha vida. Não há um príncipe heroico para me salvar da
minha torre de prisão. Eu sou o herói, e tenho que descobrir uma maneira
de salvar a princesinha antes que o rei vilão pegue nossas cabeças.
Volto para dentro e sigo o som da voz de papai. Ele está trancado em
uma conversa em seu escritório. Sandra está na cozinha, tendo uma reunião
com o pessoal da cozinha. Sabendo que posso roubar mais um minuto com
Ford, aproveito a oportunidade.
Della sai correndo da sala de aula, quase batendo em mim. Ela sorri –
bastante perversa, devo acrescentar – e então salta pelo corredor até seu
quarto. Eu espio na sala de aula para encontrar Ford em um joelho,
contendo sua gata, Della contou-me tudo sobre de transporte para animais
de estimação. Ele amaldiçoa a criatura algumas vezes antes de conseguir
trancá-lo.
— Heathen é uma cadela viciosa — diz Ford, sorrindo para mim. —
Você pode ficar com ela se quiser.
— Boa maneira de vendê-la — eu provoco.
Ele se levanta, deixando a transportadora no chão. Antes que eu perca
a coragem, corro até ele. Ficando na ponta dos pés, eu inclino minha cabeça
para cima e pressiono um beijo suave em sua bochecha. Eu começo a me
afastar, mas seu braço forte serpenteia ao meu redor, me puxando para seu
peito sólido.
— Pelo que foi isso? — ele resmunga, olhos encapuzados queimando
em mim.
— Para te agradecer. Por ser tão bom para Della.
— O que eu preciso fazer para colocar seus lábios nos meus?
É assim que a sensação de gostar de um cara e ser gostada de volta?
Eu sou tão inexperiente no departamento de namoro que nem é engraçado.
A maneira como ele olha para mim e me toca, como se eu já fosse dele, é
uma distração. Isso me faz querer esquecer todos os meus problemas e
estresse.
— Não é assim — eu minto, minha voz um sussurro carente.
— Não é? — Ele sorri, claramente divertido com minhas mentiras. —
Então essa coisa entre nós é o quê? Apenas Amigos?
Não só estou seriamente em falta quando se trata de namorados, mas
também não sou melhor no departamento de amigos. É claro que eu me
apaixonei pelo primeiro cara a passar por minhas defesas e forçar sua
entrada.
— Sim, apenas amigos. Já estabelecemos isso na segunda-feira. — Eu
engulo e dou de ombros. — Você sabe mesmo como ser apenas amigo de
uma mulher?
— Não.
Ele persegue a palavra de sua boca em minha direção e então seus
lábios estão nos meus. Suave e gentis no início. Eu suspiro com a doçura e
surpresa disso. Um gemido ressoa através dele e ele aproveita a
oportunidade para colocar sua língua na minha boca. Ele tem gosto de
caramelo, o que é apropriado, já que seus olhos são daquele rico tom
marrom claro neste momento. Eu quero devorá-lo. Agarrando sua camisera,
eu o puxo para mais perto, precisando beijá-lo mais, mais profundo, mais
forte.
Seus dentes encontram meu lábio inferior quando nos afastamos
apenas o suficiente para recuperar o fôlego. Eu chupo uma respiração
chocada e ele a segue com uma risada gutural. Então, sua boca está de volta
na minha, possuindo meus lábios e minha língua com a dele.
Isso é bom.
Muito bom.
Para ser degustado e explorado.
Seus beijos são mais do que possessivos. Eles estão cheios de tanta
paixão. Como se eu pudesse ouvir seus pensamentos e sentir seu desejo
com cada toque de sua língua experiente sobre a minha.
A voz do papai, chamando por Sandra no corredor, acaba com o clima.
Eu pulo do aperto de Ford e me afasto dele. Alisando meu cabelo e
lambendo meus lábios, eu tento me endireitar depois de um beijo tão
roubador de almas.
É quase impossível.
Longe vão os sorrisos brincalhões e os sorrisos provocantes.
Ford me observa, uma carranca transformando suas feições. Como se
ele não pudesse me entender. A fome em seus olhos de caramelo torna
muito fácil saber o que está acontecendo em sua cabeça. Ele quer tomar
minha boca com a dele mais uma vez. O sentimento é mútuo.
Mas não posso.
Não com papai à espreita.
— Nós não deveríamos ter feito isso — eu sussurro, incapaz de olhar
para ele quando digo isso. — O meu pai…
— Nós fizemos isso, no entanto. Está feito, querida. — Ele pisca para
mim. — E vai acontecer de novo também. Em breve.
— Ford.
— Landry. — Ele abre um sorriso travesso. — Não me arrependo disso.
Nem eu.
A vibração no meu peito e o sorriso bobo puxando meus lábios são
todas as provas que eu preciso. Eu não sinto muito e isso é um problema.
Talvez ele possa nos ajudar.
A esperança percorre meu coração e lhe dá um aperto. Talvez ele
pudesse.
CAPÍTULO QUATORZE
SPARROW

Eu não consigo ficar parado, fazendo um buraco no tapete da nossa


sala de estar enquanto ando de um lado para o outro na frente da parede da
janela. Inferno, eu até esfreguei todos os três banheiros mais cedo porque
eu precisava expelir um pouco de energia. Eu estive assim o dia todo. Desde
que vi Landry. Andando e Limpando. Faz meu sangue ferver que ela tenha
um hematoma enorme no rosto. Além disso, me irrita que ela esteja
protegendo alguém.
Todos os dedos apontam para o pai.
Ela tem dezoito anos, no entanto. Por que diabos ela aguenta isso? A
fortuna da família realmente vale a pena para ela?
Se eu pudesse ter minha mãe de volta conosco, eu desistiria dos
ternos e carros, não importa o quanto isso me machucasse. É apenas
dinheiro e outras coisas para mim – algo para me entreter enquanto o
tempo passa lentamente.
Landry obviamente tem seus motivos, mas quais são eles?
Estou perdendo parte da coisa e isso está me deixando louco. Se Sully
não conseguir mais informações dela esta tarde, serei obrigado a aceitar o
trabalho dele também. Seu coração não está nisso.
Não é porque eu quero vê-la mais. Não.
— Eu posso ouvir seus pensamentos — Scout diz de onde ele está
esparramado no sofá, o controle remoto da televisão descansando em seu
peito nu. — Barulhento pra caralho, irmãozinho.
Irmãozinho minha bunda.
Nós dois sabemos que posso derrotá-lo em uma briga. Tem sido
provado muitas vezes ao longo dos anos. Ele é louco pra caralho, mas eu sou
implacável e imparável.
— Só pensando — eu rosno. — Desde quando você se importa?
Ele ri, frio e distante. — Desde que começamos a dividir o mesmo
imóvel no ventre da mamãe.
Mentiroso.
Scout não se importa com o que eu estou chateado. Ele só gosta de
fingir que sim.
— Você tem mais tatuagens. — Eu aponto para seu peito que está
cheio de cicatrizes e muito mais tinta do que eu me lembro.
— Sim.
O sol está se pondo no horizonte e alguns raios de luz dispersos
destacam um faixa de poeira em nosso piso de madeira cinza escuro. Estou
ansioso para caçar uma vassoura e esfregão, mas isso só vai entreter Scout e
não estou com disposição para sua merda.
— Caro pra caralho — diz ele, chamando minha atenção de volta para
ele. — Mas vale a pena.
Uma gigantesca serpente cinza-azulada está escondida atrás de lindas
flores laranjas e vermelhas de aparência exótica de todos os tipos.
Interessante.
— Sabe, se você está entediado de andar de um lado para o outro,
você sempre pode limpar meu quarto — Scout oferece, nada prestativo. —
Tenho certeza de que há roupa que você poderia lavar.
Laundry.
A única Laundry que eu não me importaria de fazer não está aqui.
Scout volta a passar pelos canais enquanto eu tento ao máximo não
continuar andando pela sala de estar. Sully não está respondendo minhas
mensagens. Só quero saber como foi esta tarde para ele e se conseguiu
arrancar mais alguma coisa de Laundry.
Volto a meditar, mas apenas por mais alguns minutos antes que a
porta da frente se abra. Heathen está fazendo alguns sons demoníacos meio
miados e meio rosnados de sua transportadora enquanto Sully reclama dela
por ser má e inútil. Ele a solta de sua jaula e ela dispara pela sala, um
lampejo de pelo preto. Ela se joga no sofá e então salta sobre o peito de
Scout, enrolando-se na tatuagem de cobra.
Apropriado ‘pra’ caramba se você me perguntar.
Par feito no inferno, esses dois.
Scout acaricia o pelo de Heathen, nem mesmo se preocupando em se
gabar para Sully que a gata gosta mais dele. Sully entra na sala de estar e cai
em uma de nossas amadas poltronas reclináveis.
Eu o estudo atentamente, procurando por quaisquer respostas que ele
possa ter sobre Landry.
Ele está sorrindo. De um jeito prazeroso pra caralho. Isso me irrita. Eu
estalo meus dedos de uma mão, um por um, o som alto de estalo ecoando
na grande sala.
— Por que você está tão feliz? — Eu exijo, incapaz de manter o veneno
fora do meu tom.
Sully sorri para mim, largo e vitorioso. — Eu beijei Landry.
O sangue que corre em minhas veias engrossa como lava derretida,
me queimando de dentro para fora. Ambas as minhas mãos se fecham em
punhos.
Por que estou tão chateado?
É o maldito trabalho.
Porque é Ivy Anderson tudo de novo. Na nona série, pensamos que
seria ótimo para um de nós sair com Ivy e depois ver se ela poderia nos
diferenciar. Nós nos revezávamos fingindo ser Sully. Não foi até que todos
nós tivemos nossa vez com ela na cama - e um susto de gravidez - que não
queríamos mais fingir. Eu não queria ser Sully. Eu queria ser Sparrow e
queria sair com ela em encontros de verdade – encontros em que ela diria
meu nome, não o dele.
Mas Ivy não aceitou muito bem ser enganada.
Ela não só terminou com Sully, mas também disse ao pai advogado
que a enganamos. Nossa brincadeira de adolescente se transformou em
ordens de restrição e envolvimento da polícia. Precisou de muito dinheiro da
mamãe e uma abdominoplastia grátis para a mãe de Ivy para finalmente ir
embora. Eles retiraram as acusações depois de nos fazer suar por alguns
meses e então Ivy foi morar com sua tia na Califórnia.
Eu ainda penso naquela garota até hoje.
Ela foi uma das poucas pessoas que realmente tinha a capacidade de
se colocar entre mim e meus irmãos. Houve muitas brigas entre nós quando
começamos a dormir com ela. Somos territoriais e possessivos. Ivy era
minha, mas também era de Sully e Scout. Ela era nosso brinquedo e nenhum
de nós gosta de compartilhar.
Agora temos Landry.
Um trabalho. Um trabalho de merda.
Exceto, eu realmente gosto dela. Ela é sexy de um jeito meio vadio e
muito mais interessante do que as garotas insípidas com quem eu pulo na
cama regularmente. Eu não percebi o quão monótona minha vida tinha
ficado até que começamos a nos injetar na vida de Landry.
— Sparrow — Sully rosna. — Me ouviu?
Eu cortei meus olhos para ele, rangendo meus dentes em uma
tentativa de conter a raiva fervendo sob minha superfície. — Eu te ouvi.
Scout se senta e tira sua perna ruim do sofá. Ele o estica na frente dele
enquanto reposiciona Heathen em seu colo. O ronronar da gata está
praticamente fazendo vibrar todo o maldito apartamento. Eu levanto meu
olhar para os olhos escuros de Scout para encontrá-lo me observando.
— Isso vai ser mais fácil do que eu pensava — Sully continua. — Nós
apenas temos que trabalhar para deixá-la mais sozinha.
— Vocês se lembram de Ivy Anderson? — Scout pergunta.
Eu e Sully o ignoramos.
— O que? — Scout exige, sorrindo. — Vocês dois estavam obcecados.
Nos colocou em todos os tipos de problemas por causa disso também.
— Intenso vindo de você — Sully cospe de volta. — Sua obsessão com
nossa meia-irmã quase nos matou.
A natureza brincalhona de Scout desaparece e sua expressão fica em
branco. — Cuidado, irmãozinho. Você está cutucando uma ferida que ainda
não está completamente curada.
— Talvez você mereça sangrar um pouco por essa merda que você
nos fez passar. — Sully fica de pé e corre em direção ao seu quarto. — Eu
tenho merda para fazer.
A porta de seu quarto bate atrás dele com força suficiente para fazer
as janelas do apartamento chacoalharem. Heathen assobia em direção ao
som. Scout coça sob o queixo até que ela se aconchega nele, se acalmando.
— Você vai fodê-la agora, não é? — Scout pergunta, uma sobrancelha
levantada em questão. — Porque te deixa louco que ele a beijou. Tão
competitivo.
— Vá se foder. — Eu o afasto novamente. — Eu não vou fodê-la. Ela é
um trabalho.
Scout ri e dá de ombros, vendo através das minhas palavras. Eu
absolutamente vou fodê-la. Espero que em breve também, para que eu
possa tirar essa necessidade ardente do meu sistema.
Vou tirá-la do meu sistema.
Eu tenho que tira-la porra.

Depois de me livrar do estresse na academia do nosso prédio, volto


para o apartamento. Scout está cozinhando algo na cozinha e Sully está
franzindo a testa para seu laptop na mesa da sala de jantar. Os livros de ASL
estão espalhados ao redor dele como se ele fosse o maldito estudante
universitário.
No começo, eu pensei que ele não estava, mas ele está realmente
levando essa merda a sério.
Toda a irritação que consegui colocar no saco de pancadas cresce
dentro de mim mais uma vez. É tão irritante como Sully sempre fica com a
garota. Elas sempre querem namorar com ele porque ele é um “boyfriend
material”. Mal sabem elas que ele é o idiota do Scout e eu. Ele apenas
esconde melhor por trás de sua personalidade melancólica que as garotas
parecem babar.
Landry acha que ele é “boyfriend material”?
Isso me faz querer dar uma surra nele agora. Dizer a ela que estamos
todos apenas brincando com ela porque nos mandaram. Porque é a nossa
posição nesta nova “família” em que nos encontramos quando Winston
Constantine separou a nossa.
Mas, se eu contar toda a nossa farsa, não só Landry vai se recusar a
falar comigo ou me ver, como também Bryant vai enlouquecer. O cara é
uma doninha, mas também tem presas. Você não suja alguém como ele, a
menos que queira ser picado em troca. Dispenso. Não vou perder tudo só
porque estou chateado com meu irmão.
Eu preciso transar.
Existem várias conexões anteriores que pulariam na possibilidade de
me chupar.
Ignorando meus dois irmãos, entro no meu quarto e fecho a porta.
Tomo um banho rápido e enrolo uma toalha na cintura, sem me preocupar
em me vestir. Eu me esparramo na minha cama e pego meu telefone,
pronto para caçar um pedaço de bunda para aliviar a tensão. O que está
esperando por mim é uma mensagem de Bryant.
Bryant: Preciso de um cara que possa usar terno e comandar uma sala neste fim de
semana. E isso é você. Seu irmão o substituirá.
Me substituir?
Leva dois segundos para eu perceber que ele quer dizer na faculdade.
Eu: Sully pode ser seu cara de terno.
Bryant: Tem que ser você. Saia na sexta-feira de manhã. Faça uma mala e alguns
dos seus ternos mais bonitos. Já mandei uma mensagem para o Scout. Ele vai
tomar o seu lugar.

Porra.
Porra. Porra. Porra.
Eu: Scout? Sério?

Os pontos se movem e param algumas vezes. Eu sei que o irritei. É


hora de recuar, embora minha mente esteja gritando para eu discutir até
conseguir o que quero.
Eu: Estarei pronto.
Bryant: Isso foi o que eu pensei. Você será recompensado por sua obediência.

Idiota.
Eu considero jogar meu telefone do outro lado da sala, mas opto por
tirar a lâmpada da minha mesa de cabeceira. Ele cai no chão de madeira,
fazendo um barulho alto. Respirando fundo, eu expiro e então respondo de
volta para ele.
Eu: Preciso do número de Landry Croft.

Ele imediatamente responde de volta com ele. Me incomoda pra


caralho que ele o tenha e tão pronto para usá-lo. Quase como se ele
soubesse que um de nós acabaria pedindo por isso.
Assim que me acalmo, disco o número, sem me preocupar em
agradecer a Bryant pelo número. Uma voz doce e feminina atende no
segundo toque.
— Dirty Laundry.
Uma batida de silêncio. — Chevy?
Meu peito aperta e por um segundo, não estou mais agitado. Sua voz
familiar é mais ofegante ao telefone e fala direto para o meu pau.
— E aí?
— Você realmente tem a audácia de perguntar o que está
acontecendo agora? Como você conseguiu meu número?
— Não é difícil encontrar quando você está procurando.
— Você bisbilhotou enquanto estava aqui?
— Meio difícil bisbilhotar quando você decidiu colocar sua língua na
minha garganta. Eu estava um pouco distraído.
Ela fica em silêncio novamente. — Não podemos fazer isso, Ford.
— Então é isso agora?
— Eu não posso... — Ela para e então bufa. — Tenho que manter o
foco, especialmente em casa.
— Por causa dele?
Mais silêncio.
— Laundry. Por causa do seu pai?
— Você não entende.
— Não, eu não. Ele bateu em você?
— Não vou responder a essa pergunta.
— Responda e eu desligo.
— Acho que vamos ficar no telefone a noite toda, então.
Um sorriso puxa meus lábios. Eu quase posso imaginá-la sentada em
cima de uma cama de princesa de pijama de seda e fazendo beicinho. Bonito
‘pra’ caralho.
— O que você está vestindo? — Eu pergunto, rindo quando ela zomba
da pergunta.
— Nós não estamos fazendo isso.
— O que?
— Sexo por telefone! Sua mão na minha camisa foi o suficiente para
um dia.
O humor desaparece e um rosnado ressoa de mim. — Eu toquei seus
seios?
— O que há de errado com você, Ford? Por que você age como duas
pessoas diferentes? Não entendo você.
Porra.
— Eu sinto muito. Ok? Eu só... a merda está fodida ultimamente e
você é a única parte do meu dia que não está.
— Veja, quando você não está sendo um idiota total, eu realmente
gosto de você. — Ela suspira como se isso a frustrasse, mas posso sentir suas
paredes baixando um pouco. — Você tem sorte que meu pai foi chamado de
volta para o escritório hoje à noite. Caso contrário, não haveria como eu te
contar qualquer coisa. Mas já que ele não está aqui, acho que você pode
saber que estou vestindo uma camisola.
— Uma camisola? Onde você está? Anos oitenta?
— Oh meu Deus. Idiota!
Eu desamarro o nó da minha toalha e acaricio meu pau. — Você
chamou meu pau e agora ele está bem acordado. Isso significa que você vai
brincar com ele?
— Seu pênis não é um ele. Isso é realmente o que as pessoas fazem
quando fazem sexo por telefone? É brega.
Uma risada sai de mim. — Brega? Querida, nunca me disseram que
sou brega quando se trata de sexo.
— Agora sim. E não me chame de querida.
— Tudo bem, Laundry. Tire sua calcinha e brinque comigo.
Sua respiração acelera e eu preguiçosamente esfrego meu pau em
conjunto.
— Quer FaceTime?
— Você está louco? — ela grita.
Talvez eu seja mais parecido com meu irmão do que gostaria de
admitir.
— Só um pouco. Eu quero ver seus lábios se separarem quando você
gozar.
— Porque você é um pervertido.
— Assustada?
— Com você? Não.
— Então qual é o problema?
— Eu não sou esse tipo de garota.
— Ainda. Ainda não é esse tipo de garota.
Ela suspira pesadamente, aparentemente irritada. — Por que você
está assim?
— Persistente?
— Eu ia dizer desagradável.
— Estou acostumado a conseguir o que quero. — Eu sorrio,
imaginando-a revirando os olhos. — Quando quero algo, sou implacável.
Como gozar. Eu realmente quero gozar. Com ela. Nela.
— Não diga... — ela murmura.
— Espertinha.
— Ford…
— Hum?
Ela geme. — Eu só... eu não faço esse tipo de coisa, ok? Com qualquer
um. Não é você, sou eu.
Eu quase rio com suas palavras, mas percebo que ela está falando
sério. Ela está nervosa, insegura ou alguma merda assim.
— Você não fazer isso com ninguém é o que torna tudo mais especial.
— Faço uma pausa, deixando essas palavras penetrarem. — Você é uma
virgem de sexo por telefone, Laundry?
Com base em quão distante ela está sendo, eu diria que ela é mais do
que apenas uma virgem de sexo por telefone. Meu pau praticamente chora
com o pensamento de ser o primeiro homem a entrar nela.
— Deus. Você tem que fazer tudo soar tão dramático. — Sua irritação
só serve para deixar meu pau mais duro. — Talvez eu só não queira que
você me observe quando isso acontecer.
— Quando você gozar para mim?
— Ford.
— Laundry. — Eu abandono meu pau para alcançar a gaveta do
criado-mudo. Depois de pegar um pote de lubrificante, eu coloco no meu
pau e continuo acariciando. — Já que você não quer que eu assista, você vai
me deixar ouvir?
Ela fica quieta por um momento enquanto reflete sobre isso. — E
então você vai me deixar ir para a cama?
Os nervos estão de volta em sua voz, mal escondido sob seu
aborrecimento fingido. Isso é especial. Será especial porque ela é especial.
— Isso aí, amor. Vou deixar você ir para a cama depois que você gozar
em seus dedos. Eu prometo que você vai se divertir. E com o quão tensa
você sempre está, você poderia desabafar um pouco.
— Muito bem.
— Muito bem?
— Você precisa de uma definição da palavra muito bem?
— Sua vadia gostosa.
— Eu odeio você — ela resmunga, embora eu não acredite em nada.
— Não, você me ama. Hora de brincar.
Eu fecho meus olhos, tentando imaginá-la em cima de sua cama com
sua pequena mão esfregando sua boceta. É uma fantasia tentadora – uma
que vou tornar realidade em breve.
— Aposto que seu clitóris está latejando — eu ronrono. — Pulsando
porque precisa ser chupado e mordido.
Ela zomba. — Você morderia meu clitóris?
— Foda-se sim, querida. Eu sou um mordedor. Agora aperte-o. Agora
mesmo.
— Isso é estranho — ela reclama, sem fôlego.
— Não, é sexy. Aperte. Agora.
Ela choraminga, o que significa que ela está obedecendo como uma
boa menina, e eu tenho que estrangular a base do meu pau para não gozar
naquele momento.
— Seria exatamente assim. Mas mais afiada. Use as unhas.
— Isso vai doer.
— No bom sentido, Laundry. Eu preciso ouvir esse som sexy de novo.
Sou recompensado com um gemido de dor que é misturado com
prazer. Maldito inferno. Sua inocência é inebriante. Eu quero me afogar
nela.
— Ford — ela lamenta.
O que eu não daria agora para tê-la dizendo meu nome verdadeiro
agora. Sparrow. Todos choramingos, murmúrios e gemidos fazendo amor
com meu nome. Porra, eu quero isso.
— Continue, menina bonita. Eu quero gozar em toda a minha mão
imaginando que são meus dedos tocando você ao invés dos seus próprios.
Não é preciso muita persuasão antes que ela esteja chorando de
prazer. Eu sigo no encalço de seu orgasmo, atirando sêmen quente por todo
o meu peito nu. Porra, isso foi bom, mas era apenas um gosto. Eu quero
mais dessa garota. Muito mais.
— Você está bem? — Eu pergunto, meu próprio peito arfando com
respirações irregulares.
— Mmmm.
Eu sorrio com o pensamento de deixá-la sem palavras. — Teria sido
muito mais divertido assistir você.
— Acho que já fui seu entretenimento o suficiente por um dia.
— E, pensar, temos o resto de nossas vidas — eu provoco. — Só eu e
você até o fim, querida.
— Você tem sorte que eu me sinto... — Ela suspira. — Sonolenta.
— Sonolenta? Laundry, você me feriu. Tirei sua virgindade sexual por
telefone e você está com sono? Meu ego não aguenta mais contusões.
— Seu ego é carente.
— Ele gosta de ser acariciado…
— Hora de desligar agora, Chevy — ela murmura, incapaz de conter
uma risada que me faz rir em resposta.
Nosso riso desaparece em silêncio, além de sua respiração suave. Pela
primeira vez, mantenho minha boca fechada e apenas escuto.
— E, sim — ela sussurra, tão baixinho que eu quase não ouço — foi
meu pai que me bateu. Tenho minhas razões para ficar, mas se posso
permitir que você me conduza até um orgasmo, acho que posso confiar em
você com a verdade. Posso confiar em você?
— Você pode. — Minhas palavras são geladas e todas uma mentira. —
Vejo você na sexta-feira.
Termino a ligação antes de fazer ou dizer algo estúpido. Só consigo
pensar em um homem adulto batendo em Laundry. Claro, ela é uma cadela
gelada na maior parte do tempo, mas ela também é delicada e doce. Para
seu próprio pai bater nela... é imperdoável.
Eu limpo o gozo com minha toalha e, em seguida, rapidamente visto
uma calça jeans preta e um moletom combinando. Abrindo a porta do meu
quarto, encontro Scout parado do outro lado, suas mãos segurando o
batente da porta acima de sua cabeça. O mal brilha em seu olhar escuro
enquanto ele me estuda. O filho da puta doente estava ouvindo... inferno,
provavelmente tudo.
— Cheira a sexo e vingança — Scout diz, me dando um sorriso
selvagem. — Quem vamos machucar?
— Você sabe, porra. Pegue Sully. Estamos partindo em cinco.
É hora de fazer uma visita a um certo pedaço de merda rico.
CAPÍTULO QUINZE
SCOUT

Alguém deveria tirar a licença de Sparrow.


— Jesus, Sparrow — Sully rosna do banco de trás. — Eu gostaria de
chegar inteiro.
Sparrow o ignora, optando por aumentar o volume, nos
bombardeando com “Kamikazee” de Missio. Ele está de mau humor. Desde
que Sully chegou em casa se gabando de chupar a cara dessa garota.
Meu telefone vibra com um texto.
Ty: Tenho um evento burguês que tenho de ir este fim de semana. Me mate agora.

Não posso, Constantine. Big Morelli não me deixa.


Eu: Você é um Constantine. Você não sai do útero com um charuto em uma mão e
um conhaque na outra, garoto burguês?
Ele me envia um monte de emojis de dedo médio aos quais eu
respondo com emojis chorando de rir. Sully não achava que eu pudesse
fazer essa merda, mas é fácil. O cara é tão carente de ter um amigo que ele
come cada pedaço que eu jogo nele.
Eu: Você já viu aquela garota? Qual é mesmo o nome dela? Lori?
Ty: Landry. E não. Não consegui o número dela e não tive coragem de pedir ao pai
dela.
Eu: Eu provavelmente poderia encontrá-lo para você.
Ty: Você conhece as pessoas?
Eu: Cara. Eu não sou a máfia. Mas eu fodi uma das assistentes de Croft. Eu poderia
conseguir para você.
Eu realmente espero que os assistentes de Croft sejam mulheres, caso
contrário essa mentira vai ficar estranha rapidamente.
Ty: A ruiva gostosa ou a senhora mais velha? A senhora pegou totalmente no pau,
não foi?
Eu: Um cavalheiro nunca beija e conta.

Ty: Você não é um cavalheiro. Você é um idiota.

Estou distraído do meu telefone quando passamos pelo prédio que


Bryant me encarregou de incendiar. Demorou algum esforço, mas o
resultado final foi uma tonelada de caminhões de bombeiros e uma perda
total. Eles ainda não podem dizer que foi incêndio criminoso, de acordo com
as informações de Bryant, e com certeza não ligaram a mim ou a ele.
Incêndio geralmente não é meu trabalho, mas ele me deu as informações
que eu precisava.
Ash.
Winston a mantém em segurança no Complexo Constantine a maior
parte do tempo. Eles participam de eventos para os quais Morellis não são
convidados. Eu e meus irmãos não somos convidados para nada onde Ash
possa aparecer.
Meu telefone vibra novamente.
Ty: Você é um idiota por me fazer implorar. Por favor, me dê o número de Landry.

Olho para Sparrow, que está muito chateado com o fato de Sully a ter
beijado. E eu poderia apostar dinheiro que Sully ficaria mais do que
chateado se soubesse o que Sparrow conseguiu pelo telefone. Eu me
pergunto o quão bravos eles vão ficar quando descobrirem que eu dei o
número dela para Ty só para foder com eles.
Eles estão obcecados com essa garota, assim como ambos estavam
com Ivy Anderson. Eu não gostava muito de Ivy, mas quando você tem
quatorze anos, você não recusa a chance de transar com uma líder de
torcida. Eu com certeza não.
Mas Ash?
Ela era diferente para mim.
Eu a odiava e seu pai por se juntarem à nossa família. Eles foram uma
infecção que atingiu minha mãe e, finalmente, a separou de nós.
Eu queria que Ash pagasse.
Eu queria machucá-la. Eu a machuquei.
Eventualmente, eu a teria quebrado completamente.
Winston Constantine estragou tudo.
Tudo que eu quero é a oportunidade de ter Ash em minhas mãos mais
uma vez. Olhar para ela, vê-la murchar e secar como uma flor morrendo.
Não serão jogos infantis como da última vez.
Eu mando o número para Ty. Quando percebi que Sparrow estava
falando com ela mais cedo, mandei uma mensagem para Bryant para
também pegar o número dela. Eu senti que era útil ter. Você nunca sabe
quando precisa de informações como essa.
Ty: Você me surpreende, cara. Sério. Obrigado!
Eu: Boa sorte para passar por papai Croft…
Ty: Certo?!

Ele me envia alguns emojis idiotas de um bíceps flexionado. Idiota.


Sparrow aperta o botão em seu aparelho de som, silenciando o
veículo. O clink, clink, clink de seu pisca-pisca é quase cômico. Desde quando
ele usa uma porra de um pisca-pisca? Sem mencionar que ele está passando
pela maioria dos sinais vermelhos e ultrapassando o limite de velocidade
sempre que há áreas menos congestionadas.
Paramos em uma garagem – uma que eu conheço bem agora. É o
prédio de escritórios do Croft. Sparrow puxa o boné para baixo sobre a testa
e se arrasta para a garagem. Como há outros negócios no prédio – alguns
restaurantes, algumas lojas e até algumas unidades residenciais – é difícil
encontrar uma vaga para estacionar. Eventualmente, temos sorte e
encontramos um local em que alguém está saindo.
— E agora? — Sully pergunta, inclinando-se entre os bancos da frente.
— Esperamos. — Sparrow volta a ligar a música, mas Sully dá um tapa
na mão dele. — Que porra é essa?
Sully rosna de volta. — Qual é o plano? Quanto tempo temos que
esperar aqui?
— Nós não vamos esperar aqui — digo a eles. Meus irmãos não são o
cérebro. Suas intenções são boas, mas sem mim, eles estariam esperando
para sempre. — Nós vamos encontrar o carro dele e nos esconder nas
proximidades.
— E depois? — Sully exige.
Eu alcanço embaixo do assento e puxo minha Glock. — Então nós
ensinamos a ele uma lição.
— Uau. Cara, não. Nós não vamos matá-lo, porra — Sparrow exclama.
— Foder ele, sim, mas não atire em sua bunda. Largue a arma, psicopata.
— Tudo bem — eu digo com um sorriso, empurrando-o de volta para
baixo do assento. — Acho que essas armas terão que servir. — Sparrow
resmunga quando toco seu bíceps. — Vamos lá.
Saímos da máquina da morte de Sparrow e mantemo-nos nas
sombras. Nossos bonés e moletons, todos em preto, tornarão impossível
para as câmeras identificarem quem somos. Vários lances de escada depois,
chegamos ao andar que Alexander estaciona. Seu Bugatti azul meia-noite
está estacionado em um ângulo, ocupando duas vagas.
— Eu odeio esse cara — Sparrow cospe.
— Você e eu. — Sully se agacha em uma área sombreada perto do
carro.
Eu e Sparrow encontramos nossos próprios esconderijos. Isso me
lembra quando éramos crianças. Nós nos escondíamos e mamãe nos
procurava. Eu sinto falta dela.
Mamãe não virá desta vez.
Esperamos por mais de duas horas para esse idiota workaholic sair de
seu escritório. Não sei o que Sparrow e Sully fazem para passar o tempo,
mas troco mensagens com Ty porque o cara simplesmente não para.
— Psst — um dos meus irmãos sussurra.
Enfio meu telefone no bolso e me preparo, esperando que esse cara se
aproxime de seu veículo. Estou prestes a rastejar das sombras para atacá-lo,
mas Sparrow explode em toda a raiva ardente e um rugido gutural de fúria.
Sully também ataca, no entanto, com muito menos barulho. Eu ando atrás
deles, divertido com o quão furiosos meus irmãos estão.
Isso é pessoal.
Isso fica evidente quando Sparrow coloca as mãos na garganta e
começa a apertar.
Isso ficou mais interessante.
Alexander está sufocando gritos assustados e o que soa como súplicas
para que peguemos seu dinheiro. Ele tem muito disso, aparentemente.
Sully chuta Alexander com força na lateral. O homem se contorce,
tentando lutar contra os dois, mas meus irmãos são muito fortes.
Achei que iríamos apenas dar um golpe duro na cabeça do idiota, mas
Sparrow está a segundos de esmagar a traqueia desse cara. Sully deve
perceber isso ao mesmo tempo que eu, porque ele empurra nosso irmão de
cima de Alexander. Sparrow cambaleia para longe, xingando baixinho. Sully
balança a perna, acertando Alexander na lateral novamente. Se ele não
quebrou nenhuma costela, vou ficar chocado. Pacientemente, espero minha
vez. Sparrow grunhe e rosna como um maldito touro, mas deixa Sully se
satisfazer. Alexander mal se move quando termina com ele.
— Vamos — Sully retruca, voltando para a escada.
Eu começo com Alexander, andando devagar porque meus joelhos
estão doendo por estar agachado por tanto tempo. Enfio a mão no bolso e
enfio os dedos pelos buracos do soco-inglês. Ele resmunga quando eu o
alcanço e monto em seu peito. Sua garganta é roxa e azul, mas fora isso, ele
parece bem.
Eu bato meu punho em sua bochecha.
Pop!
Uma risada explode de mim quando o sangue corre por sua bochecha.
Não é tão bom levar um soco na cara, não é, velho filho da puta?
Desta vez eu bato meu soco inglês em seu nariz. O crack doentio e a
subsequente inundação de sangue são satisfatórias. Eu nem conheço
pessoalmente essa vagabunda da Landry, mas se ela tem meus irmãos
agitados o suficiente para querer chutar a bunda desse cara, então estou
aqui para dar apoio moral.
Somos uma ameaça tripla. Sempre.
Eu vou para a porra dos dentes desta vez. Alguém me agarra com uma
chave de braço, me arrastando para longe antes que eu possa causar
impacto. Rosnando, eu tento lutar contra ele. Percebo que é Sparrow, então
sei que não vou ganhar. Ficando mole, eu o deixo arrastar minha bunda para
longe. Uma vez que ele tem certeza de que eu não vou terminar o que
começamos e dar um golpe mortal, ele sai em direção à escada, já que
estacionamos seu carro em um nível diferente. Não é até que estamos
dentro do veículo e saindo da garagem que falamos.
Naturalmente, sou eu a quebrar o silêncio.
— Foi divertido. — Eu sorrio para Sparrow. — Pena que saímos na
parte boa.
— Jesus, Scout? Você sempre leva as coisas longe demais. — Sparrow
me lança um olhar desagradável. — Não estrague tudo na sexta-feira.
— Sexta-feira? — Sully pergunta.
— Bryant precisa de mim em alguma reunião ou algo assim — Sparrow
xinga. — Ele quer o psicopata ali para me substituir. Sério, Scout, não
estrague tudo. Ela já está desconfiada. Você tem que jogar com calma.
Ela? Ahhh. Sua. Landry. Aparentemente, tenho um encontro com a
namoradinha dele na sexta-feira.
— Eu vou me comportar — eu prometo, minha voz angelical e
bastante convincente, embora todos neste carro saibam que é mentira. Eu
não me comporto. Nunca.
— Foda-se — Sparrow cospe. — Qualquer que seja. Só não
transforme isso em outra situação de Ash.
Isso desperta meu interesse. Essa Landry deve ser muito intrigante pra
caralho se eles acham que eu vou enfiar minha cueca em cima dela como os
dois aparentemente fizeram.
Mal posso esperar para ver do que se trata o grande alvoroço.
CAPÍTULO DEZESSEIS
LANDRY

Papai foi atacado depois do trabalho na quarta-feira à noite. Não


assaltado, roubado ou o que for. Não, vários caras vieram até ele e bateram
nele. Ele fez uma viagem para o pronto-socorro através de uma ambulância
quando finalmente o encontraram e ligaram para o 911. Eu nem sabia o que
aconteceu com ele até que ele entrou no meu quarto ontem de manhã,
depois de ser liberado do pronto-socorro parecendo que um trem o atingiu.
Embora eu estivesse secretamente feliz em vê-lo no lado receptor dos
punhos de alguém, eu não conseguia afastar a sensação desconfortável de
que tinha algo a ver comigo. O timing foi perfeito demais.
Esta manhã, meu motorista foi escoltado ao campus por dois carros de
polícia. Papai acha que ele foi alvejado de propósito e não está se arriscando
com a minha segurança, então, naturalmente, ele tem seus amigos policiais
para me seguir.
Tenho medo do que vão encontrar, especialmente se virem Ford.
Isto é ruim.
Tão ruim.
O que há em Ford Mann que me faz perder a cabeça e esquecer meu
propósito? Ele é uma distração que eu absolutamente não posso me dar ao
luxo.
Papai vai ligar esses pontos. Ele vai. Assim que ele estiver curado e não
deitado na cama com dor.
Meu estômago revira e minha visão escurece. Vou desmaiar. Ou ficar
doente.
Ford fez isso. Eu sei que ele fez.
A caminhada para a aula é difícil porque meus joelhos continuam
cedendo. Por que ele machucaria meu pai? Ele não o conhece. Ele mal me
conhece. No entanto, eu não sou uma idiota. Eu disse a ele na quarta-feira
que meu pai me bateu e, coincidentemente, papai foi atacado mais tarde
naquela noite.
Eu poderia ter ligado para Ford e confrontado por telefone. Mas toda
vez que eu pegava meu telefone, eu não conseguia ligar para ele. Não faz
sentido. Essa coisa com ele está muito rápida. Para ele, bater no meu pai
tanto quanto ele fez parece exagerado – uma reação extrema a um
comentário feito por alguém que ele mal conhece.
Você fez sexo por telefone com ele. Ele te conhece o suficiente.
Isso não está certo. Sua paixão – beirando a obsessão – é demais, cedo
demais. Eu pensei que ele poderia me ajudar, mas estou pensando que vou
pular de um monstro possessivo para os braços de outro.
Eu deveria estar salvando a mim e a Della, não causando mais
problemas para nós.
Deus, eu confiei nele. Eu realmente confiei nele. E veja onde isso me
levou. Eu não posso permitir nenhum deslize e Ford está se tornando meu
maior deslize.
Meus ouvidos zumbem quando me aproximo da porta da sala de aula.
O que eu vou dizer para ele? Devo apenas ignorá-lo e esperar que ele vá
embora? Essa coisa está em espiral e no momento em que meu pai sair de
sua neblina induzida por analgésicos, ele vai querer vingança. Ele vai esgotar
todos os seus recursos para descobrir quem fez isso com ele. E quando ele
descobrir que o tutor de Della, meu colega de classe, fez isso, ele vai me
culpar de alguma forma. O momento é muito suspeito para não.
E depois?
Eu não posso nem começar a imaginar.
Quando entro na sala, meu olhar automaticamente se volta para o
nosso lugar. Alívio me inunda quando não o vejo. Talvez ele tenha vergonha
do que fez. Talvez ele não queira me enfrentar. Minha frequência cardíaca
diminui e a agitação no meu estômago se acalma. Ainda terei que vê-lo mais
tarde, quando ele for visitar Della, mas pelo menos, por enquanto, terei um
adiamento. Isso me dá mais tempo para planejar o que vou dizer a ele.
Todos os pensamentos param quando minha pele parece estar
rastejando. Aquela sensação assustadora que você tem quando alguém está
te observando, te desfazendo camada por camada. Eu viro minha cabeça
para a direita, meu olhar pousando em um cara musculoso vestido todo de
preto que está esparramado em uma mesa que parece pequena demais
para ele.
Ford?
Eu congelo no meio do passo, incapaz de desviar o olhar. Seus olhos
não estão xarope de bordo ou caramelo suave hoje. Não, eles estão
insondáveis como chocolate amargo derretido, quentes e rodopiando com
alguma emoção desconhecida. Com apenas um olhar ardente, ele me
arrasta para profundezas desconhecidas, onde não consigo respirar, me
mover ou falar.
Terror.
É a única emoção que posso descrever que está deixando meus nervos
à flor da pele e meus cabelos em pé. A vontade de fugir é esmagadora, mas
o medo me paralisa, enraizada no lugar.
Ele tem um transtorno de personalidade.
Eu sei isso. Eu posso ver agora.
É a única explicação. Li uma vez sobre transtorno dissociativo de
identidade. Os diferentes alter egos que vivem dentro de uma pessoa e
traços de personalidade variados, mas também condições médicas. Era um
assunto fascinante de ler, mas não é tão fascinante quando o alter ego vilão
está te observando como se você fosse um lanche que ele está prestes a
comer.
E não de uma forma sexy.
Como se ele fosse arrancar a carne dos meus ossos e cuspir as sobras
em um monte depois.
Ford precisa de ajuda. Estou absolutamente certa de que esta versão
dele é quem machucou meu pai. A morte vazia em seus olhos escuros é
aterrorizante.
Mova-se, garota.
Apenas mova suas pernas e sente-se bem longe dele.
Eu não posso me mover, no entanto.
Eu sou um coelhinho com o pé preso em uma armadilha. O predador
está salivando em cima de mim, brincando comigo.
De jeito nenhum eu vou confrontá-lo. Agora não. Não com ele vestido
como se estivesse pronto para um funeral – meu funeral. Não com o jeito
que ele me abre e me disseca com os olhos.
Ele se senta em sua cadeira, lentamente passando seu olhar sobre
minha forma. Me sinto exposta e nua. Calor queima sobre minha carne. Seu
olhar sozinho é quase doloroso. Um tremor me percorre.
E ainda assim, não consigo me mexer.
— Você está bem? — um cara pergunta, parando ao meu lado. —
Parece que você viu um fantasma.
Sim, meu.
Eu sinto que essa versão sombria e monstruosa do homem com quem
eu fiz sexo por telefone e beijei será a única a acabar com a minha vida.
Não meu pai.
Ele.
— Eu... — Eu paro, limpando minha garganta. — Eu estou, hum, bem.
O cara permanece ao meu lado, sua preocupação me perfurando. Eu
não posso olhar para ele. Eu tenho que manter meus olhos na ameaça na
minha frente.
— Você tem medo daquele cara? — ele pergunta, sua voz baixa. —
Você precisa de ajuda?
Ajuda?
Eu preciso de ajuda, mas esse cara não vai ser capaz de me ajudar.
Ninguém pode. Eu preciso descobrir uma maneira de sair da minha bagunça
de uma forma que não resulte em Ford ou meu pai destruindo a pouca vida
que eu tenho.
Ford se levanta, suas feições escurecendo. Ele olha carrancudo para o
cara ao meu lado e endireita os ombros. Uma veia salta no pescoço de Ford.
Seu maxilar aperta e suas mãos se fecham em punhos.
Oh droga.
Corre!
Eu quero gritar com esse cara que está apenas tentando ser legal, mas
não consigo encontrar minha voz. Ele me diz algo. É abafado pelo rugido em
meus ouvidos.
Uma tempestade se aproxima.
Está rolando na minha direção.
Estamos prestes a ser dizimados.
O cara gentilmente agarra meu braço, tentando chamar minha
atenção. Eu grito de surpresa, me afastando dele.
— Estou bem. Estou bem. Eu prometo. Apenas me deixe em paz — eu
sussurro, meu medo soando mais como veneno para a única pessoa nesta
sala cheia de pessoas dispostas a me ajudar.
— Okaaaaay.
O cara vai embora, honrando meu desejo – meu desejo de morte.
Ford manca um pouco, mas isso não diminui a força bruta que ondula
dele. Ele é perigoso neste momento. Faminto por mim. Conforme ele se
aproxima, eu tento não me acovardar. Apenas outro monstro como meu
pai.
Eu posso lidar com ele.
Levantando meu queixo, encontro seus olhos escuros que piscam com
intensidade. Ele não para até que esteja se elevando sobre mim. Seu cheiro
é diferente hoje. Não é doce amanteigado ou como o mar com um toque de
especiarias.
Ele cheira a decadência. Inebriante. Como um mocha latte caro
polvilhado com canela. Seu cheiro é tudo menos perigoso. É inebriante.
— Landry. — Ele diz isso como uma pergunta. Como se ele estivesse
confirmando. — Hum.
O estrondo de sua voz vibra através de mim me fazendo estremecer.
Muitos olhos estão em nós. A aula ainda não começou, mas estamos na
frente de todos e dando um show. Eu não posso fazer isso com uma
audiência. A ideia de ficar sozinha com esse homem é aterrorizante, no
entanto. Estou sem opções.
— Ford.
Ele inclina a cabeça para o lado, diversão fazendo sua expressão dura
se transformar em algo mais familiar. É uma armadilha em que caio
facilmente. Meus músculos relaxam levemente.
— Você está com medo de mim. — Suas palavras apáticas são quase
ditas com um bocejo.
Eu sou tão transparente?
Endireitando minha coluna, eu o encaro com um olhar duro. — Eu
preciso que você me deixe em paz. — Porque eu sei que você bateu no meu
pai e se isso chegar nele, ele vai enlouquecer completamente.
— Deixar você em paz? — Seus olhos se estreitam. — Sim, isso não vai
acontecer.
— O que você fez com meu pai…. — eu começo e fecho minha boca
quando vários alunos olham para nós.
— Vá em frente — pede Ford, sua voz baixa e soando letal. — Estou
ouvindo.
Sua provocação é ao mesmo tempo confusa e enlouquecedora. Minha
mente se espalha em mil direções diferentes. Eu não o entendo,
especialmente agora, mas essa curiosidade incômoda diz que eu quero.
Nem que seja para saber melhor como lidar com meu mais novo oponente.
— Podemos falar? — Eu murmuro, incapaz de encontrar minha voz.
— A sós?
Uma sobrancelha escura se arqueia e ele sorri. — A sós?
— Eu não vou fazer isso na frente de toda a maldita classe — eu
retruco, meu medo rapidamente se transformando em raiva.
Como ele ousa se injetar na minha vida e agitar as coisas.
Minha vida já está uma bagunça. Eu não preciso dele adicionando a
isso.
— Atrevida. — Ele ri, escuro e desonesto. — Vamos para algum lugar
privado então, princesa espinhosa.
Princesa espinhosa.
Prefiro Laundry ou querida a esse nome estúpido.
Quando não mexo os pés, ele se abaixa e pega minha mão. Parece
pegajosa dentro de seu grande e poderoso corpo. Ele me puxa, me guiando
até a porta.
Isso parece uma marcha para morte.
Suicídio.
E, no entanto, eu não corro.
Eu o deixo me afastar da segurança de outras pessoas.
Um calafrio me entorpece até os ossos no segundo em que saímos da
sala de aula. Ele manca lentamente, me levando por uma série de
corredores até que eu não sei para onde estamos indo. A quantidade de
pessoas fica cada vez mais escassa.
— Você se machucou quando bateu no meu pai?
Ele para no meio do passo, cortando os olhos na minha direção. — Eu
fiz o que agora?
— Bateu no meu pai.
— Sozinho?
Eu franzo a testa para ele, confusa com suas palavras. Papai acabou de
dizer que foi atacado. Não houve menção a mais de um atacante.
Meu pai não é exatamente um cara pequeno, mas Ford é jovem e
forte. Ele poderia facilmente enfrentar meu pai em uma briga. Sozinhos.
Mas tudo em sua expressão me diz que havia mais do que apenas ele.
Não tenho mais tempo para pensar nisso porque ele me puxa para um
banheiro para deficientes. Assim que a porta se fecha, ele tranca a
fechadura.
Oh Deus.
Estou sozinha com ele.
Sua mão empurra em direção ao meu rosto e eu estremeço por
hábito. Mas, em vez de me bater, ele agarra meu queixo, inclinando meu
rosto em diferentes direções como se estivesse estudando cada detalhe.
Tudo o que posso fazer é olhar de volta, odiando o quão atraente eu o acho,
mesmo quando ele está sendo assim.
— Você não é nada como ela. — Suas palavras são cuspidas em mim
quase cruelmente. — Nada.
— Q-Quem?
Ele esfrega o polegar sobre meu lábio inferior, arrastando a carne
quase dolorosamente para o lado. Então, ele desliza o polegar entre meus
lábios. Eu mordo seu polegar porque eu não quero isso na minha boca. Eu
não quero que ele me toque em tudo. Ele sibila de dor e seu lábio se curva.
Oh Deus.
Eu o enfureci.
Sem volta agora. Eu já estou aqui, presa em suas mãos. E como não
haverá fuga, só resta lutar.
Eu mordo mais forte, sentindo meus dentes perfurarem sua carne. Um
gosto metálico lava minha língua. Eu tirei sangue. Bom.
— Coisinha mal-humorada — ele rosna. — Então você quer jogar,
hein? Vamos jogar.
CAPÍTULO DEZESSETE
SCOUT

Ah, eu gosto dela.


Eu posso ver por que meus irmãos estão tão apaixonados.
Ela é uma tentação ardente e diabólica toda arrumada para parecer
um anjo. O problema com os anjos, porém, é que eles são fáceis de arrastar
para o lado negro. Você apenas dá a eles um gosto do pecado ou um
presente de prazer. Quebrar as asas é um deleite. Esmagar sua auréola é
como um gosto do próprio céu.
Bem-vinda ao lado negro, princesa.
Meu polegar dói como um filho da puta, mas não é como se ela
pudesse arrancá-lo. Ela teria que passar pelo osso e ela não é uma porra de
um cachorro. Eventualmente, ela vai deixar ir. Vou fazê-la soltar.
Com minha mão livre, eu agarro seu seio sobre sua camisa. Ela grita
surpresa. Seu aperto de morte no meu polegar não cede. Teimosa pra
caralho.
Eu agarro seu seio grosseiramente antes de soltá-lo. Ela suga uma
respiração afiada em volta do meu polegar enquanto minha outra mão
encontra o botão de sua calça jeans. Sem muito esforço, eu desfaço seu
botão e abaixo o zíper.
— Solte — eu aviso, minha voz como cacos de vidro esfaqueando-a.
A resposta dela é morder mais forte.
Porra.
Enfio minha mão na frente de sua calça jeans, a seda de sua calcinha é
a única barreira que impede meus dedos de empurrar dentro dela. Não
estou interessado em fodê-la com os dedos, mas tenho uma ideia de fazê-la
soltar meu polegar que ainda está refém entre seus dentes cruéis.
— Quarta-feira à noite, você gozou como uma boa menina pelo
telefone. Eu sei que você tem fantasiado desde então. Por esse momento.
— Eu sorrio loucamente para ela. — Diga-me que estou errado.
Porra. Talvez ela arranque meu maldito polegar.
Eu esfrego meu dedo médio sobre sua calcinha, trabalhando entre os
lábios de sua boceta. No segundo que empurro contra seu clitóris, ela
choraminga. Minha sobrancelha levanta enquanto vejo seu lindo rosto ficar
com um lindo tom de vermelho.
— Quando você gemer e finalmente me soltar, vou enfiar meus dedos
em outro lugar. Em algum lugar onde você não possa me machucar.
Seus olhos azuis brilham com uma mistura de medo e desejo.
Garotinha suja. Ela está lutando entre odiar este momento e querer mais.
— Você, não pode me parar também — eu provoco. — Seus apelos
cairão em ouvidos surdos.
Cada respiração que ela dá é irregular. Quase carente. Eu esfrego em
seu clitóris, apreciando a forma como seus cílios vibram e o aperto que ela
tem no meu polegar afrouxa.
— Na verdade, eu vou gozar com você implorando — eu continuo
com um sorriso de escárnio. — Vou gozar em seu rosto enquanto você
chora.
Seus olhos se fecham e suas narinas se dilatam. Com cada esfregada
contra seu ponto sensível, seus quadris se estremecem. Ela gosta do meu
toque. Anjo caído imundo.
Desça mais um pouco para que eu possa quebrar suas asas, linda.
Os lábios se fecham ao redor do meu polegar e quase posso imaginar
como eles ficariam ao redor do meu pau. Seus dentes não devastam mais
minha pele porque sua língua assumiu o controle, lambendo com
necessidade minha carne.
Não deveria ter soltado, anjo.
Eu puxo minha mão de sua boca e a outra de suas calças antes que ela
possa gozar. O grito de surpresa e decepção faz meu pau engrossar. Muito
facilmente, eu poderia fodê-la. Ela poderia gritar não o quanto quisesse, mas
sua boceta molhada estaria discutindo com ela o tempo todo.
Ela quer, não necessita, que eu a deixe gozar.
Quebre-a porque você pode.
Agarrando seu cabelo, eu a giro para que ela fique de frente para o
espelho. Eu empurro sua testa contra ele para que ela possa ver a
necessidade queimando em seus olhos. Ela nem sequer luta comigo
enquanto eu puxo seu jeans e calcinha para baixo de sua bunda.
— F-Ford — ela sussurra. — Sinto muito por te machucar.
— Não, você não sente.
— Não podemos fazer isso. Aqui não. Assim não.
— Uma princesa tão romântica e espinhosa. Mas não se preocupe. Eu
não vou te foder.
Ela franze a testa, confusão escrita em suas feições suaves. Não é
porque eu não quero fodê-la. Eu quero. Surpreendentemente, eu
absolutamente quero. Só não vou fazer isso agora. Ela secretamente quer
isso. Até eu descobrir todos os seus desejos secretos, vou gostar de fazê-la
esperar.
— Molhe-os — eu ordeno, curvando seu corpo com a força do meu
próprio enquanto me inclino contra ela. — E não morda desta vez. Você não
vai gostar de onde eu mordo de volta.
O medo brilha em seus olhos no espelho. Com meu aperto ainda em
seu cabelo, eu ignoro o latejar no meu polegar e uma vez trago meus dedos
a uma distância considerável. Não gentilmente, eu empurro meus dedos em
sua boca profundamente o suficiente para ela engasgar. Meu pau pula com
o pensamento de fazê-la fazer isso enquanto empurra todo o caminho em
sua garganta. Eu uso meus dedos para foder sua boca – quatro deles, todos
menos meu polegar dolorido. A baba escorre pelo seu queixo e as lágrimas
escorrem pelo seu rosto.
— Boa garota. Sua boca é treinável.
Fúria brilha em seu olhar, mas eu arranco meus dedos de sua boca
antes que ela possa causar algum dano. Eu torço meus dedos mais
apertados em seu cabelo e, em seguida, deslizo os molhados sobre sua
bunda. Ela geme — o som temeroso e horrorizado — e fica completamente
imóvel. Eu encontro a abertura lisa de sua boceta e a provoco com meu
dedo mais longo.
— Você quer isso, hum?
Ela tenta balançar a cabeça negativamente, mas meu aperto em seu
cabelo é muito forte. Eu a forço a assentir. Mais lágrimas. Um soluço.
Súplicas.
— Se você quer tanto — eu rosno — então implore por isso.
— V-você é um monstro.
— Você não tem ideia.
Nossos olhares se travam. Ela vê através de mim. Direto para a besta
que vive na raiz da minha alma. Olha para ela, sem medo das consequências
de sua bravura.
— Implore.
— Foda-se, Ford.
Eu empurro um dedo para dentro, amando o gemido que sai dela.
Antes que ela possa apreciá-lo demais, eu o puxo de volta. Sua respiração
ofegante embaça o espelho na frente de seu rosto. Isso não vai funcionar.
Eu preciso ver cada expressão em seu rosto bonito.
Eu a puxo para cima e trago meus dentes para o lado de seu pescoço,
procurando carne através da bagunça de cabelo loiro dourado. Ela
choraminga quando meus dentes pressionam em seu pescoço, mas não
mordem. Respiro pesadamente sobre sua carne, deixando o fogo dentro de
mim queimá-la, avisando-a do inferno que está por vir.
— Você está com medo? — Murmuro, deixando meu dedo mergulhar
dentro de sua boceta novamente. — Hum?
— Sempre.
Sua palavra cuspida com raiva me fez parar. Ela está sempre com
medo e isso a irrita. A pobre princesa é fraca e se odeia por isso.
— Você não precisa ter medo — eu provoco. — É uma escolha. Você
escolhe. Isso é com você.
— Você faz parecer fácil. Como se eu devesse estar bem com o fato de
você me tem à sua mercê, livre para fazer o que quiser.
— Eu posso fazer o que eu quiser. Você também não pode me impedir.
Você está presa.
— Eu não sou fraca — ela retruca. — Você é fraco. Caçando uma
garotinha. Um maldito monstro!
Seus olhos azuis são selvagens, enfurecidos além da crença. Ela não
está falando com esse demônio. Ela está falando com aqueles que vivem
dentro de sua cabeça, aqueles que sempre a atormentam. Os responsáveis
por seu medo contínuo.
— Se você não é fraca, então, por todos os meios, assuma o controle.
Ela pisca várias vezes, afugentando os pensamentos assombrosos que
a possuem. Suas bochechas manchadas de lágrimas estão vermelhas e meu
sangue está manchado sobre seu lábio e queixo. Destruída e em um estado
tão selvagem, ela é hipnotizante ‘pra’ caralho.
— Me faça gozar. — Suas narinas se dilatam. — Eu quero que você me
faça gozar e então eu quero que você me deixe em paz.
Eu enfio meu dedo dentro dela, puxo para fora e depois enfio dois
dentro. Ela grita, mas não recua. Sua ousadia a endureceu em pedra. Belo
granito.
— Mais forte — ela exige. — Faça com que eu me sinta bem. Se você
puder.
Meu pau está esticando contra o zíper do meu jeans. Eu quero foder
essa pirralha tagarela até que ela esteja mole e não consiga lembrar seu
próprio nome.
— Se — eu papagaio, sorrindo para seu reflexo. — Você não faz ideia
de quem você está provocando.
— A cobra. — Ela empurra sua bunda contra a minha mão. — Você é
uma cobra, mas eu não tenho medo de você.
Seu tremor poderia argumentar esse fato, mas eu a deixei vencer esta
rodada que ela lutou tão bravamente. Eu aperto outro dedo em sua boceta
apertada, fodendo-a como eu faria se fosse meu pau. Duro e implacável. Tão
forte que ela chora. Um som tão bonito.
Eu finalmente solto seu cabelo porque preciso da minha mão livre.
Deslizando-a para sua frente, eu aperto seu seio, extraindo um gemido
delicioso, antes de mergulhar para baixo. Meus dedos empurram entre os
lábios de sua boceta, procurando seu clitóris sensível. Ela solta um grito de
surpresa e agarra meu pulso como se quisesse me impedir de fazê-la gozar.
Nada pode me parar agora.
Eu não vou parar até que sua boceta esteja vazando de prazer,
escorrendo por suas coxas e encharcando suas roupas.
— Isso mesmo — eu resmungo, minha boca encontrando seu ouvido.
— Me dê isto.
Sua boceta aperta em torno dos meus dedos, seu desejo é evidente na
forma como ela desliza pela minha mão. Eu a fodo com força com meus
dedos, certificando-me de roçar seu ponto G a cada vez. Ela agarra meu
pulso, mas não porque ela quer que eu pare.
Ela quer isso.
Precisa disso.
Eu belisco seu clitóris e puxo enquanto toco o ponto dentro dela que é
o botão para o êxtase direto. Seu corpo responde, como eu sabia que faria,
e ela explode. Como uma bomba nuclear, destruindo tudo ao nosso redor.
Ela grita.
Tão alto que sou forçado a abandonar seu clitóris para cobrir sua boca.
Ela treme incontrolavelmente em meu aperto, lágrimas frescas escorrendo
por suas bochechas e encharcando minha mão. Eu espero que ela corra no
segundo em que ela desce de seu ápice, mas ela me surpreende relaxando
em meus braços.
Segura com um monstro.
É um pensamento risível.
Meu humor é silenciado, no entanto. Estou muito paralisado na forma
como sua boceta continua a ter espasmos em torno de meus dedos que
ainda estão presos dentro dela. Como seu hálito quente faz cócegas na
minha mão com cada onda estrangulada de ar que ela tenta sugar em seus
pulmões.
Ela geme contra minha mão que cobre sua boca enquanto meus
outros dedos deslizam para fora dela. Dou um passo para trás, deixando sua
forma trêmula, destruída, usada e saciada na pia. Seus olhos azuis queimam
nos meus no reflexo. Trazendo meus dedos molhados para o meu nariz, eu
inalo seu perfume de lavanda e mandevilla. Tão delicada e doce.
Eu coloco minha língua para fora e a corro ao longo dos resquícios
brilhantes de seu orgasmo em meus dedos. Ela suga uma respiração afiada,
observando cada movimento meu como se eu fosse a criatura mais
fascinante que ela já encontrou.
Seu gosto é estranho para mim.
Açúcar misturado com algo viciante, como heroína.
Uma doce dose de obsessão.
— Agora eu entendo o jogo de quarta-feira à noite — eu digo,
piscando para ela um sorriso conhecedor. — Eu entendo muito bem.
Ela grita quando eu a agarro. Eu facilmente torço seu corpo e empurro
sua bunda nua contra a borda da pia. Eu mergulho minha boca na dela,
tentando memorizar seu cheiro para mais tarde quando eu me masturbar
com essa memória no chuveiro. Um gemido quase inaudível dela me faz
querer persegui-la, prová-la e sugá-la de seus lábios.
Minha boca bate contra a dela. Eu posso sentir o gosto do meu sangue
ainda manchado em seus lábios. Eu me pergunto se ela pode saborear a
felicidade de si mesma. O beijo termina mais cedo do que eu gostaria, mas
se eu não escapar dos limites deste banheiro, não há como dizer o que farei.
Eu não posso me deixar levar por ela.
Ela é apenas uma substituição para o que eu realmente quero.
Aquela que eu vou ter um dia.
— Vejo você mais tarde, princesa espinhosa.
Com uma piscadela, deixo a garota trêmula sozinha. Eu me pergunto
quanto tempo até ela perceber que suas asas se foram. Ela vai se lembrar
deste momento - o momento em que eu as comi enquanto ela cavalgava
meus dedos no esquecimento.
Desculpe, linda, mas você não é mais um anjo.
CAPÍTULO DEZOITO
LANDRY

Eu preciso de ajuda.
Não ajuda para escapar deste inferno, mas ajuda psicológica real.
Depois do que permiti — do que realmente gostei — hoje na faculdade,
tenho certeza de que estou enlouquecendo.
Isso não é normal.
Certamente não é saudável.
Oh Deus.
Lágrimas ardem em meus olhos, mas eu me recuso a deixá-las cair.
Não aqui em seu quarto. Agora não. Não enquanto meu pai está deitado em
sua cama a poucos metros de distância, roncando baixinho, enquanto eu
assisto. Se ele acordasse e me visse tão arrasada, eu não seria capaz de
culpar a preocupação com ele. Não, ele veria através disso.
E ele não pode ver isso.
Nunca.
Por mais que eu não queira estar em seu quarto, preciso observá-lo
quando ele acordar de seu cochilo. Para ver o que ele sabe e se alguma coisa
leva de volta a mim ou a Ford. Estou ficando muito boa em lê-lo, então, se
ele souber alguma coisa, tenho certeza de que seria capaz de dizer.
De algum lugar dentro do apartamento, Sandra grita com alguém.
Provavelmente Noel. Ela mantém sua posição de poder sobre todos eles,
rebaixando-os constantemente quando eles não estão à altura de seus
padrões.
Só espero que não seja Della. É a coisa mais frustrante quando alguém
grita com uma pessoa completamente surda. Ela não é afetada por isso. Isso
só pune todos ao seu redor.
Pensar em Della faz minha mente voltar para Ford. Eu aperto minhas
coxas, apertando meu sexo. Está dolorido. Dores do abuso.
Eu quase rio.
Abuso?
Então por que meu corpo cantou com seu toque cruel?
A verdade é que houve muitas partes sobre esta manhã, enquanto
estava trancada naquele banheiro, que eu secretamente gostei. Um
pequeno segredo sujo que compartilho com o malvado alter ego de Ford.
Ele estará aqui em breve.
Eu não posso enfrentá-lo. Agora não. Nunca.
Olhando para o meu pai, eu me certifico de que ele ainda está
dormindo antes de pegar meu telefone e mandar uma mensagem para Ford.
Eu: Eu agradeceria se você não falasse comigo nunca mais.
Sua resposta é imediata.
Ford: O que??? Por quê?

Ele é mesmo de verdade?


Ele está doente. Sofrendo de uma doença mental. E meu eu idiota foi
varrido na escuridão que é Ford Mann. Porque aparentemente sou um imã
para monstros.
Ford: Laundry, o que aconteceu?
Eu: VOCÊ. Você aconteceu, Ford. Fui uma idiota por confiar em você.

Ele começa a ligar no meu telefone. Felizmente, está no modo


silencioso. Ele zumbe, zumbe e zumbe. Psicopata. Ele é um perseguidor.
Sem um momento de hesitação, eu bloqueio seu número. Isso vai me dar
algum tempo. Pelo menos até que ele apareça para ensinar minha irmã
maldição.
Eu não posso escapar dele.
Não dele ou meu do pai.
Esta vida é uma prisão. Vou ter que pegar Della e desaparecer. Mesmo
que isso signifique viver uma vida fugindo, sempre tentando superar os
recursos ilimitados do meu pai. É melhor do que esperar por um plano.
Meus planos continuam descarrilando.
Meu telefone vibra novamente e uma explosão de raiva passa por
mim. Ele não vai me deixar em paz. Estou pronta para chamá-lo de todos os
nomes no meu livro, mas não é ele.
Número desconhecido: Ei você. Sou eu. Ty.

Eu pisco para o telefone, incapaz de formar pensamentos. Ty


Constantine está me mandando mensagem. Como? Por quê? O que diabos
está acontecendo agora?
Número desconhecido: Ok, então isso é provavelmente assustador. Eu sinto muito.
É que eu tive que sair com tanta pressa no outro dia quando seu pai ficou bravo. E
então ouvi que ele foi atacado. Apenas preocupado, é tudo. Você está bem?
Nomeio o contato para Ty Constantine antes de responder.
Eu: Estou bem. Como você conseguiu meu número?
Ty: Vamos apenas dizer que deu trabalho para obtê-lo. Como está o Alexander?
Eu: Dormindo. Muitos remédios para dor. Nariz quebrado e costela quebrada. A
bochecha foi costurada. Parece que ele sofreu um acidente de carro. Mas, ele vai
ficar bem.

Infelizmente.
Eu conheço meu pai. Ele vai sair dessa, caçar o homem que fez isso
com ele e arruinar sua vida. Ele vai arruinar a vida de Ford.
Ty: Aí. Diga a ele que vou segurar o forte enquanto ele estiver fora. ;)

Um sorriso puxa meus lábios. Eu quase posso imaginar seu rosto


bonito na minha frente, piscando de maneira provocante. Ty tentando
ocupar o lugar do papai em sua empresa é risível.
— Quem está fazendo você sorrir assim? — uma voz rouca.
Empurrando meu olhar do meu telefone para o meu pai, eu tento
reprimir a crescente onda de pânico. Mesmo em seu estado maltratado e
sonolento, ele é poderoso e ainda é a pessoa que tem o controle em mim.
— Uh... — Eu mastigo meu lábio e então dou de ombros. — Ty. Não
sei como ele conseguiu meu número.
Papai pisca para mim lentamente, suas pálpebras pesadas graças às
drogas. — Hum. Interessante.
— Ele quer saber como você está. Como está?
— Estou melhor.
Meu telefone vibra novamente, mas eu não olho para ele. Estou presa
no olhar penetrante do meu pai. Eu aperto meu telefone com tanta força
que me pergunto se ele vai quebrar. Engolindo em seco, eu movimento em
direção à mesa no canto.
— Quer um pouco de água?
— Estou bem. Você não vai responder isso?
Eu aceno e olho para o meu telefone. É uma foto de Ty vestido de
terno. Ele está em uma limusine, parecendo bastante relaxado e feliz. Deve
ser bom não ficar tão tenso o tempo todo.
Eu: O que você quer?
Ty: Obrigado. Você parece legal também.
Eu: Desculpe. Eu estou estressada. Você está bonito. E você não tem ideia de como
eu pareço agora.
Eu pareço que fui fodida com o dedo por um monstro na faculdade e
sendo encarada por um enquanto falamos. Nada sexy.
Ty: Não consigo imaginar um cenário em que você nunca parecesse menos que
bonita.
Eu: Obrigada. Isso é tudo? Eu preciso ir.
Ty: Não. Eu queria ver se eu poderia te levar para um encontro de verdade. Apenas
nós dois.

Meu coração gagueja no meu peito. É por isso que ele está tão bem
vestido? Ele está vindo aqui? Isso não pode acontecer. Papai não me
deixaria ir a lugar nenhum sozinha com ele. De jeito nenhum. E se ele
aparecer enquanto Ford estiver aqui... não consigo nem imaginar em que
tipo de situação isso se transformaria.
— Bem — papai resmunga. — O que a criança quer?
Descascando meu olhar do meu telefone, encontro o olhar duro do
meu pai. — Ele, uh, quer ir a um encontro. Apenas nós dois.
Papai me estuda por um longo tempo. O suor umedece a parte de trás
do meu pescoço. Tento manter a calma e a firmeza. Então, ele acena. Pouco
perceptível.
— O que? — Eu sussurro, franzindo a testa para ele.
— Está bem. Você pode sair com o Sr. Constantine.
— Pai, eu não entendo.
— O que há para entender? A resposta é sim. — Ele geme de dor
quando tenta se sentar. — Claro, vou enviar um segurança porque não
posso descartar que o que aconteceu não foi um ataque calculado por
pessoas que queriam me machucar pessoalmente.
— Você acha que foi alguém que você conhece?
— Ou enviado por alguém que conheço.
— Você não deu uma olhada no cara?
— Foram três deles, eu acho. Talvez mais. É um borrão.
Meu telefone vibra novamente.
Ty: Vou levar isso como um não. É assustador se eu tentar novamente amanhã?

Ainda estou tonta com as palavras de papai. Ford trouxe um monte de


amigos? Seu irmão? Ele mencionou um irmão antes. A verdade é que não sei
muito sobre a Ford. Eu não sei com que tipo de pessoas ele anda ou seus
motivos para fazer amizade comigo.
Esta manhã foi mais do que amigos fazem.
Os dedos dele estavam dentro de você, garota.
Ele fez você gozar.
— Você vai responder ao pobre rapaz? — Papai pergunta, apontando
para o meu telefone. — Não o deixe esperando.
Concordo com a cabeça lentamente e, em seguida, bato uma resposta.
Eu: Tudo bem.
Ty: Tudo bem... o quê? Tentar novamente amanhã?
Eu: Tudo bem. Como em, marcamos um encontro.

Ele me envia um monte de emojis sorridentes, claramente feliz com a


resposta. Eu sorrio de volta, exceto que não consigo me livrar do jeito que
papai olha para mim. Como se ele estivesse me preparando para falhar. Se
ele soubesse. Eu falhei espetacularmente esta manhã. A qualquer minuto,
essa falha vai aparecer na minha casa e quem sabe que tipo de catástrofe
vai acontecer.
Ty: Estou a caminho de um evento que minha família está me obrigando a
participar, mas quando voltar à cidade, enviarei uma mensagem sobre nosso
encontro. Diga ao seu pai que espero que ele se sinta melhor em breve.
Eu: Ok tchau.

Eu levanto meu queixo e encontro o olhar sondador de papai. — Ele


está animado e espera que você se sinta melhor em breve.
O silêncio toma conta do quarto. Sandra não está mais gritando por
socorro. Está quieto além do estrondo do meu coração que parece ecoar em
meus ouvidos. Eu me remexo no meu lugar, odiando como me sinto exposta
agora.
Ele pode ver isso escrito em todo o meu rosto?
O que eu fiz hoje com a Ford?
A campainha toca e eu pulo. A ansiedade sobe pelo meu peito,
agarrando minha garganta e me deixando incapaz de respirar. Meu rosto
aquece, me entregando. É tão óbvio. Papai, que nunca perde nada, me
observa com os olhos semicerrados.
— É apenas um encontro com um garoto de uma família poderosa,
querida. Não é um pedido de casamento. Você sempre será minha
garotinha. De mais ninguém. Só minha.
O tom possessivo e ameaçador me faz murchar.
Não há escapatória.
Eu fui estúpida para ter esperança.
CAPÍTULO DEZENOVE
SULLY

Alguém está chamando insistente em meu telefone e isso está me


irritando. Como se lidar com Heathen, que está agindo como uma fera do
inferno em seu transportador, não fosse suficiente, eu tenho alguém ligando
para o meu telefone repetidamente.
Porra, porra.
Saindo do elevador, coloco a gata sibilante em sua caixa de transporte
e pego meu telefone do bolso. É Sparrow. Ele pode ser uma mulher tão
maldita às vezes.
— O que? — Eu exijo, irritação escorrendo da palavra. — Estou meio
ocupado.
— Sim — ele fala. — Eu posso dizer. Eu só liguei para você quinze
vezes.
— O que há de errado? Mamãe está bem?
Ele suspira. — Tenho certeza que sim. Ela está na prisão, não morta.
Não, isso é pior. É Scout.
Meu sangue gela. Scout foi para a faculdade no lugar de Sparrow hoje.
Desde que Scout não está atendendo o telefone, eu estive no limite
imaginando como foi. Quero dizer, ele estava em um campus universitário,
então certamente ele não poderia ter se metido em muitos problemas.
— Ele fez alguma coisa. Não sei o que, mas é ruim. — Sparrow
pragueja e respira pesadamente ao telefone. — Ela me disse para nunca
mais falar com ela.
— Foda-se — eu resmungo. — Ela disse por quê?
— Perguntei a ela o que aconteceu e ela disse: “Você aconteceu”.
— Você falou com Scout?
— Não atende o telefone dele.
— Tenho certeza que ele estava apenas sendo um idiota. Está bem.
— Cara, ela me bloqueou.
— Ela poderia ter descoberto que éramos nós na quarta-feira à noite?
Ele teria contado a ela?
— Conhecendo Scout, tudo é possível. Você acha que ele poderia tê-la
machucado?
Flashes do passado queimam através dos meus olhos em rápida
sucessão. Eu não vou deixá-lo ir por esse caminho novamente. Da última
vez, fomos danos colaterais. Este é um padrão para ele – ficar obcecado por
alguém que ele não pode ter, ir longe demais, e então ser destruído por
aqueles que a amam. Neste caso, Alexander Croft tem a capacidade de nos
esmagar como Winston Constantine fez.
— Eu vou descobrir — eu asseguro a ele — e eu vou fazer isso direito.
Ele solta um suspiro longo e revivido. — Obrigado.
— Mas eu tenho uma pergunta.
Uma batida de silêncio e depois um pouco de hesitação em sua voz. —
Ok.
— Por que você estava falando com Landry?
— O que você quer dizer? É o nosso trabalho.
— Enviar mensagens de texto ou falar ao telefone. Seu trabalho era
lidar com ela na faculdade. Nada mais. Você não me disse que estava
falando com ela ao telefone também.
— Não é grande coisa, cara.
— É porque eu tenho que ter certeza de que minha parte da história
se soma. É muito embaraçoso quando digo merda ou faço merda que
contradiz o que você fez. Por que você está mantendo suas interações com
ela para si mesmo? Eu te contei o que aconteceu quando eu estava na casa
dela. Eu só não entendo por que você não está compartilhando o que
acontece quando você está com ela.
— Eu tenho que ir.
— Não. Porra. Apenas responda à pergunta, Sparrow.
— Nada — ele rosna, um pouco na defensiva, eu poderia acrescentar.
— Nada de importante.
— Você transou com ela?
— Sério? Quando? Na faculdade? Foda-se, Sully.
— Pare de ser um maricas e me diga o que diabos está acontecendo.
— O que? Você quer saber que eu fiz sexo por telefone com ela? Huh?
Na noite depois que você a beijou, porra?
Ele está com ciúmes.
Esta é Ivy Anderson de novo.
Ou, pior, Ash Elliott.
Pelo menos com Ivy, tivemos alguns problemas. Com Ash, nossas vidas
explodiram em nossos rostos. Mal sobrevivemos a essa merda.
E Landry?
Seu pai é mau e conectado com os Constantines. O potencial disso se
tornar nuclear é uma possibilidade real.
Scout está agindo como um louco.
Sparrow está ficando possessivo pra caralho.
E eu?
Eu quero estrangular Sparrow por manter um encontro secreto de
sexo por telefone nas minhas costas e dar um soco em Scout por machucá-la
ou fazer o que diabos ele fez.
Isso significa que estou tão fundo quanto eles.
— Eu acho que você precisa dar um passo para trás — eu declaro, a
voz fria. — Acho que todos nós precisamos.
— Nós não podemos — ele rebate de volta. — É nosso trabalho. Ela é
nosso trabalho.
— Nós vamos desistir. Bryant pode superar isso.
Sparrow ri, frio e cruel. — Nós somos Morellis agora, Sull. Não
podemos simplesmente desistir. Você sabe disso. É por isso que você tem
sido uma cadela irritada ultimamente. Estamos presos e não há para onde ir.
— Eu não sou um maldito Morelli. Eu sou um Mannford.
— Apenas descubra o que ele fez e conserte. Farei o controle de danos
na segunda-feira na faculdade.
Heathen rosna de seu transportador, me lembrando que ela é uma
cadela infeliz naquela jaula.
— Muito bem. Te mando uma mensagem mais tarde.
Sem me preocupar em esperar que ele responda, vou até a porta de
Croft. Eu toco a campainha, ignorando os sons horríveis que minha gata está
fazendo.
Não minha gata.
A gata de Scout já que ela gosta mais dele.
Estou apenas pegando emprestado neste momento para manter a
farsa.
Alguns minutos depois, a porta se abre. Não é Sandra ou um dos
outros funcionários ou mesmo Della. Não, é ela.
Landry.
A raiz deste problema crescente entre mim e meus irmãos. Eu também
sei por quê. Quando estou na presença dela, meio que esqueço que ela é
um trabalho. Eu fico fixado em como seu lábio inferior rosa está
ligeiramente inchado e como o sabor que tinha quando eu a beijei. Estou
encantado com a forma como o cabelo loiro-dourado dança com seu
movimento, emoldurando seu lindo rosto e chamando sua atenção para lá
sempre. Mesmo vestida apenas com jeans e uma camiseta, ela é elegante,
adorável e tentadora.
Eu sei como seu seio parece sob minha palma. Cheio, mas não muito
cheio. O suficiente para agarrar e reivindicar.
Seus olhos azuis estão duros enquanto ela me avalia. Acusação brilha
em seu olhar. Talvez até um pouco de mágoa, também. Um vislumbre de
medo.
O que você fez com ela, Scout?
— Oi querida.
Ela visivelmente relaxa com minhas palavras. A postura feroz em que
ela estava desaparece e ela se agarra ao batente da porta como se quisesse
se equilibrar. Seu nariz fica rosa e lágrimas nos olhos.
Porra.
Scout a machucou.
Como eu explico isso? Ela pensa que eu sou ele. Eu tenho que
consertar o que ele fez com ela. De alguma forma. De alguma maneira.
— Posso entrar? — Eu pergunto, mantendo minha voz suave. — Por
favor?
— Eu não deveria deixar você a quinze metros de mim.
Uma lágrima fica pesada demais para sua pálpebra e desce por sua
bochecha. Apesar de suas palavras, ela quer que eu faça tudo melhor. Eu
posso ver isso nos olhos dela. Estendendo a mão para diminuir a distância
entre nós, eu seguro sua bochecha e afasto a mecha molhada com o
polegar.
— Sinto muito — murmuro.
É a verdade. Eu sinto. Lamento que meu irmão psicopata tenha de
alguma forma colocado suas garras nela. Ele é rude, brutal e assustador pra
caralho quando quer ser.
Ela dá um passo para trás, mas não é para me escapar. É um convite.
Della espia ao virar no corredor e mostra a língua para mim. Eu mostro a
minha para ela e depois ofereço a gaiola.
— Tome Heathen — eu digo, certificando-me de que ela veja os
movimentos dos meus lábios. — Estarei na sala de aula em um minuto.
Della pega a transportadora de Heathen de mim e desaparece. Uma
vez que fecho a porta atrás de mim, agarro a mão de Landry, puxando-a
para o banheiro ao lado da entrada.
— Eu não posso ficar sozinha aqui com você — ela sussurra, mas ela
não luta comigo. — Se o papai ver…
Nós chicoteamos sua bunda muito bem. Duvido que ele esteja
rondando a casa agora procurando por sua filha. Aposto que ele ficará
indisposto por alguns dias, pelo menos.
Eu tranco a porta do banheiro atrás de mim e a prendo contra a
bancada com meus quadris. Ela suga uma respiração e seus olhos azuis
procuram os meus.
— Ouça — eu começo, mas ela me corta.
— Seus olhos são da cor do caramelo.
— E os seus são azuis como o céu em um dia quente de verão.
Ela sorri. — Não foi isso que eu quis dizer, amante. Eu quis dizer que
quando seus olhos estão assim, você é diferente. — Suas sobrancelhas
franziram. — Muito diferente desta manhã.
— Sinto muito — eu digo novamente. — Há coisas sobre mim que
você não entende. Coisas que não posso dizer exatamente.
— Você é doente. — Ela bate na minha cabeça. — Aqui.
Você não faz a menor ideia, querida.
— Sim. Um pouco, eu acho. O que posso fazer para melhorar? — Eu
acaricio meus dedos pelo cabelo dela, certificando-me de ser gentil e
carinhoso. — Deixe-me te beijar.
— Não é como se eu tivesse escolha.
— Você tem agora. Comigo. Neste momento. Posso beijar você?
Suas sobrancelhas franzem enquanto ela me estuda com intensidade.
— Você perdeu a cabeça.
— Olhe para mim, querida. Hoje... isso não vai acontecer de novo.
Você pode confiar em mim.
— Confiar em você? — Ela solta uma risada de nojo. — Não, Ford, não
posso confiar em você. Você está escondendo tanto de mim.
Eu descanso minha testa contra a dela por um momento, fechando
meus olhos. — Sei que sou um homem complicado, Landry. Eu realmente
espero que um dia você entenda completamente... minhas camadas. Até lá,
confie que eu me importo muito com você e nunca faria nada para
machucá-la intencionalmente. Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu
com você. — Eu reabro meus olhos e me afasto para que ela possa ver a
sinceridade em meu olhar. — Agora, por favor, posso te beijar?
Ela me faz esperar uma eternidade, mas eventualmente ela concorda.
Eu enrosco meus dedos em seu cabelo, puxo até que sua boca se abra e
esteja pronta para um beijo, e então pressiono meus lábios nos dela. No
começo, ela está tensa, mas quando minha língua brinca com a dela, ela se
transforma em massa mole em meus braços.
Eu a beijo profundamente, mas me certifico de colocar minhas
desculpas nele. Golpes suaves. Carícias suaves. Docemente murmuro coisas
para ela sempre que nos separamos o suficiente para respirar. Eu poderia
continuar a beijá-la a tarde toda. Eu me pergunto quanto seria necessário
para consertar o que Scout fez com ela.
— Você me machucou — ela sussurra, as pontas dos dedos
encontrando o centro do meu peito e empurrando. — Eu estava assustada.
— Onde eu te machuquei?
Ela faz uma careta e vira a cabeça da minha. — Você sabe onde.
Tomando uma chance, eu deslizo minha mão entre nós, encontrando
o calor entre suas pernas sobre seu jeans. — Aqui?
— S-Sim.
— Eu posso melhorar. — Eu puxo o botão e, em seguida, abaixo o
zíper. — Vou beijar tudo melhor.
— Ford — ela murmura. — Nós... eu... você...
Eu a deixo com sua gagueira irracional enquanto me ajoelho. Com o
máximo de ternura que posso reunir, deslizo seu jeans e calcinha pelas
coxas. Sua boceta - lisa por cera - me deixa com água na boca para provar.
Eu corro meu polegar sobre sua fenda e, em seguida, puxo um lábio para o
lado, expondo seu botão rosa. Com um sorriso, eu lambo a pequena
protuberância, amando o jeito que ela choraminga de volta.
Seus dedos se emaranham no meu cabelo e ela engasga quando eu
chupo seu clitóris em minha boca. Eu quero arrancar seu jeans
completamente para que eu possa abrir suas coxas. Estou faminto e quero
me deleitar com sua boceta de sabor doce. Para deixar meu rosto todo em
sua maciez, sugando todos os sucos de seu prazer que posso encontrar. Eu
sofro para lamber seu buraco apertado, lambendo a ardência da dor que
Scout infligiu.
Um rosnado ressoa de mim, alto e necessitado. Estou prestes a
começar a rasgar suas roupas completamente quando ela me para com um
tapa na cabeça.
— Oh Deus. Não. Pare. Não podemos fazer isso aqui — Sua voz sobe
um oitavo, pânico misturado em seu tom. — O meu pai.
Embora eu amaria nada mais do que continuar, eu sei que ela está
certa. Ele é um bastardo que bate na própria filha por nada. Não consigo
imaginar o que ele faria se descobrisse que estávamos fazendo isso.
— Eu realmente, realmente quero me desculpar com sua boceta
perfeita — eu resmungo, correndo meu nariz ao longo de sua fenda. — Mas,
você está certa. As coisas que quero fazer com você levarão horas. —
Olhando para cima, eu pisco para ela. — Um orgasmo não é suficiente. Tem
que ser tudo ou nada, querida.
Seu sorriso, embora ela tente escondê-lo, espreita. Talvez eu tenha
sido perdoado pelos pecados do meu irmão. Eu vou fazer as pazes com ela
uma e outra vez quando tivermos tempo e privacidade, com certeza.
— Eu tenho que ver meu pai — ela diz com um suspiro um pouco
desapontado. — Vejo você na segunda-feira.
Ela coloca suas roupas de volta e sai do banheiro, deixando-me
insatisfeito e com uma ereção furiosa. Eu me levanto, lavo o cheiro de sua
boceta e consigo esfriar o sangue que estava deixando meu pau duro.
Talvez eu tenha consertado a merda com ela.
Encontro Della na sala de aula tentando enganar Heathen para sair de
debaixo de uma mesa. Heathen assobia para ela, mas ela não ouve.
Andando até Della, eu de brincadeira bato na cabeça dela.
Ela sinaliza algo cruel para mim, mas eu não sei o que diabos isso
significa. Levantando uma sobrancelha, aponto para o nosso local habitual
onde trabalhamos.
— Acabou a brincadeira.
Ela inclina a cabeça, franzindo a testa. Digo de novo e gesticulo para a
gata. Com um bufo de compreensão, ela abandona seus esforços e caminha
até a mesa. Uma vez que ela está sentada, ela sinaliza lentamente para mim.
Nós não discutimos o fato de que eu não sei ASL, mas ela não é estúpida.
Por alguma razão, ela joga junto. Provavelmente me usando para ter a
maldita gata.
Levo um minuto para decifrar o que ela está dizendo.
Papai foi espancado.
Jogando inocentemente, eu digo de volta para ela — Ele foi? Que
terrível.
Ela sorri e dá de ombros antes de sinalizar algo que eu não sei. Então,
ela toma o tempo para soletrar para mim, K-a-r-m-a.
— Karma?
Sim. Ela cruza as mãos no colo e espera pacientemente que nossa aula
comece como se ela fosse um pequeno querubim doce e não o próprio
diabinho.
Eu gosto dessa garota.
E Alexander definitivamente mereceu essa merda vindo.
Uma percepção repentina me atinge bem no estômago. O sorriso que
devolvi a Della desaparece. Se Alexander acerta Landry, eu me pergunto se
ele faz o mesmo com Della.
Karma.
Eu vi o jeito que ela olha para ele – com ódio mal escondido. Está na
ponta da minha língua perguntar se ele bate nela também. No final, eu
mantenho minha boca fechada. No fundo, eu sei a resposta. Ele faz.
Isso me faz querer bater na bunda dele de novo.
CAPÍTULO VINTE
SPARROW

Normalmente, eu ficaria completamente bem em participar de um


evento onde eu fosse obrigado a usar um terno bonito e mostrar meu
sorriso encantador. Eu sou bom nisso. Eu realmente gosto, ao contrário dos
meus irmãos.
Não essa noite.
Hoje à noite, estou zumbindo com raiva e frustração. Estou preso na
porra de Boston, de todos os lugares. Bryant quer que eu vá a um jantar
imobiliário e dê lances em algumas propriedades. Basicamente, ele quer que
eu me acotovele com as pessoas do ramo, aprenda uma coisa ou duas e, de
alguma forma, use isso contra seus inimigos.
Talvez Sully estivesse certo. Isso é besteira. Nossas vidas. Como
estamos acorrentados aos Morellis, especificamente Bryant, e não temos
esperança de fazer mais nada.
Em vez de ficar de mau humor como meu irmão faria sobre o que não
posso fazer agora, concentro-me na minha tarefa em mãos.
Socializar.
Sully vai ajeitar as coisas com Landry, espero, e o que ele não
consertar, eu mesmo resolvo.
Depois de deixar meu carro com um motorista de manobrista, entro
no prédio que está cheio de pessoas bem vestidas. Este é o meu elemento.
Nasci para festejar com a elite. Eu gostaria de pensar que recebi isso da
mamãe. Eu estou impecável, o melhor de nós três e posso fingir um sorriso
que me deixa perto do que eu quiser. Não faz mal que eu esteja vestindo um
dos meus ternos carvão Tom Ford sob medida mais caros. Sully diz que essas
calças me dão uma bunda de David Beckham. Eu acho que ele está apenas
sendo um idiota quando diz isso, mas eu tomo isso como um elogio. A única
coisa que me falta é algo adorável pendurado no meu braço. Algumas
mulheres tentam capturar meu olhar, como se estivessem em sintonia com
meus pensamentos, mas não estou interessado. Estou muito distraído para
flertar. Além disso, o único doce braço que eu quero é ela. Eu tento não
imaginar Landry em um vestido sexy e justo porque essas calças de David
Beckham não têm espaço para uma ereção de dez polegadas.
— Ford?
Um cara alto e largo com cabelo loiro fodido e um sorriso bobo passeia
na minha direção. Eu olho para ele sem expressão porque eu não conheço
esse idiota. Ele certamente não é alguém com quem eu me associaria de
bom grado. Mas ele conhece nosso apelido, no entanto.
— Sim?
— Você não me disse que viria para essa merda. — Ele ri e dá um tapa
na lateral do meu braço. — Cara, você estava certo sobre Landry.
Eu rapidamente ligo os pontos.
Landry?
Este tem que ser a porra do Ty Constantine.
— Eu estou sempre certo — eu grunho, jogando junto. — O que
aconteceu?
— Eu mandei uma mensagem para ela. Nós vamos sair em um
encontro na próxima semana. Sem o pai dela.
— O pai dela é um verdadeiro idiota, sim?
— Merda, sim. — Ele se inclina e sussurra conspiratoriamente. — Ele
ainda não veio ao escritório hoje. Ele foi atacado, eles realmente devem tê-
lo fodido.
— Huum.
Ele bate no meu braço novamente e eu juro que vou bater nele de
volta se ele fizer isso de novo. — O que se arrastou na sua bunda e morreu
hoje? Normalmente você não é tão mal-humorado.
Eu pisco para ele em confusão. Que tipo de ato o Scout tem feito?
— É a garota de quem você estava me falando? — ele pergunta,
franzindo a testa. — Ela ainda está evitando você?
Ele realmente contou a ele sobre Ash?
— Sempre — eu resmungo.
— Você vai ter que pegá-la sozinha. Faça-a ouvir você.
— Eu não acho que vai ser tão fácil. Ela é casada.
Seus olhos saltam da cabeça. — Não brinca? Cara, você não me disse
que ela era casada. Você realmente se dá mal se estiver ansiando por uma
mulher casada.
— Temos história — Eu dou de ombros e lancei meu olhar para a
multidão, minha mente em outras pessoas que não são Ash. — É meio difícil
esquecer o que tivemos.
— Você vai recuperá-la se for para ser. — Ele aperta meu ombro. — Eu
posso ajudar. Apenas me diga o que fazer.
Pergunte ao seu primo se meu irmão pode ficar com a esposa dele
para que ele possa torturá-la um pouco mais. Você pode fazer isso, garoto
Ty?
— Obrigado, cara — eu digo em vez disso. — Eu preciso de uma
bebida.
Ty pisca para mim. — Me siga. Eu já vasculhei o bar.
Ele se afasta, ziguezagueando pela multidão. Eu o sigo, ficando cada
vez mais irritado à medida que os segundos passam. Quando ele alcança a
fila, ele se vira para me olhar, me estudando atentamente.
— Você não está mancando. Os joelhos estão melhores hoje?
Droga.
— Vem e vão — minto. — Posso esconder se tiver oxy suficiente.
— Oxy? — Seus olhos se arregalam. — Seriamente? Essa merda vai te
foder.
Como Scout aguenta esse cara? Ele é tagarela e muito amigável. Tudo
o que eu digo ele tem que inspecionar sob um microscópio.
— Então — murmuro, mudando de assunto — Onde você vai levar a
filha de Croft para o seu encontro?
Ele franze a testa como se não gostasse que eu desviasse a conversa
do meu inexistente problema com drogas, mas me satisfaz de qualquer
maneira porque, aparentemente, ele é um menino de ouro que precisa de
um amigo.
Inferno, você tem que estar quase desesperado para fazer amizade
com Scout.
— No começo — ele diz, inclinando-se — eu estava pensando em
algum lugar romântico. Restaurante cinco estrelas ou qualquer outra coisa.
Passeio de carruagem. Não sei. Algo chique.
— Você decidiu contra isso? — Eu levanto uma sobrancelha em
questão.
— Eu não sei... eu pensei que talvez eu a levasse para algum lugar
discreto. Um filme. Talvez um fliperama. Nos encher de porcarias. A garota
parece que poderia relaxar um pouco.
Não brinca.
Landry está travada com um pedaço de pau congelado na bunda. Ela
provavelmente iria gostar muito dos filmes. Mas com alguém como eu. Não
esse filho da puta. Eu poderia fazê-la relaxar.
— Acho que o filme é uma boa ideia — admito, embora me doa fazer
isso.
Eu tenho que jogar bem com esse cara. Parte do show. É apenas
melhor quando Scout está lidando com essa parte e eu estou lidando com
Landry.
Ele continua a divagar sobre todas as suas ideias para encontros. Um
monte de merda para fazê-la desmaiar. Quando chega a nossa vez na fila,
estou pronto para tapar sua boca com minha mão para que ele cale a boca.
Ty pede nossas bebidas e paga. Eu pego o líquido escuro, tomando-o
de volta ansiosamente. A queimação escalda minha garganta, mas é bom.
— Você bebeu direto daquele uísque, cara. — Ele balança a cabeça. —
Você tem certeza que é uma boa ideia com o oxy?
Estou prestes a responder quando noto um rosto familiar na multidão.
Outro maldito Constantine. Felizmente, não é Winston, mas é um de seus
mini irmãos. Perry. Se ele me ver conversando com seu primo, nosso
disfarce será descoberto. Eu tenho que dar o fora daqui. Bryant pode beijar
minha bunda.
— Você está certo — murmuro, virando as costas para Perry para não
ser visto e explodir meu disfarce com Ty. — Eu não estou me sentindo tão
bem. Vou para o meu hotel.
— Você estará aqui amanhã à noite também, certo? Este evento é de
dois dias. Por favor, diga que não vou fazer essa merda sozinho. — Ele me dá
os olhos de cachorrinho. — Cara, por favor.
— Sim, tanto faz. Vejo você amanhã.
— Te mando uma mensagem mais tarde!
Ignorando-o, eu saio do prédio. Eu fiz uma aparição. É hora de dar o
fora daqui.

Estou tonto.
Não do único drinque que tomei no evento, mas dos três, quatro ou
sete mais que tomei desde que cheguei ao hotel. O bar é escuro e chique. Eu
fui capaz de beber minhas frustrações em relativa paz.
A caminhada de volta ao meu quarto é um borrão. Demora algumas
vezes para colocar o cartão-chave no slot. Eventualmente, eu faço isso e
entro. Eu tiro meu terno e subo na cama apenas de cueca.
Eu quero falar com ela.
Não é justo que Scout tenha fodido isso para mim.
Há uma mensagem perdida no meu telefone de Sully que diz que ele
acha que consertou as coisas. Não estou convencido. Preciso ouvir com
meus próprios ouvidos. Mas ela me bloqueou.
É preciso um foco intenso, mas encontro o número dela no meu
celular e então uso o telefone do hotel para discar para ela. Eu nem tenho
certeza se ela está acordada tão tarde, bem depois da meia-noite agora.
— Olá?
O sopro de sua voz fala direto ao meu pau. Eu fecho meus olhos,
imaginando sua boquinha sexy.
— Olá? — ela diz novamente. — Quem é?
— Sparrow.
— O que? Eu não posso te ouvir. Você está murmurando. Quem é?
— Laundry, sou eu.
Ela solta um suspiro pesado. — Chevy?
Eu sorrio, imaginando seu choque. — Sim.
— Eu bloqueei você de me ligar.
— E eu estou ligando para você para dizer para você me desbloquear.
— Você está bêbado?
— Um pouquinho. — Eu esfrego minha palma sobre o meu rosto. —
Eu sinto sua falta.
— Sente minha falta? Ford, acabei de ver você. Você literalmente
roubou um beijo antes de sair.
Maldito Sully.
— Isso não era eu — eu insulto. — Esse era meu alter ego perdedor.
— Você está com ciúmes... de si mesmo?
— Sim. Eu também odeio partes de mim mesmo.
— Você tem problemas, Chevy.
— E você tem respostas para meus problemas, Laundry.
— Você me confunde. Você nunca é a mesma pessoa.
— Você pode me desbloquear?
— Tudo bem.
— FaceTime comigo.
— Ok.
Não quero desligar, mas preciso. Ela me faz esperar longos cinco
minutos antes de me ligar de volta. Eu atendo no primeiro toque. Seu lindo
rosto está iluminado por uma lâmpada de cabeceira. A única luz que tenho
entrando no quarto é do banheiro.
— Ei.
Ela sorri. — Ei.
— Eu gostaria que você estivesse nesta cama comigo agora.
— Ford…
— Não me chame assim. — Eu fecho meus olhos. — Me chame de
Chevy ou... — Sparrow.
— Ou o que?
— Se você não estivesse tão estressada com a vida ou o que quer que
tenha acabado o tempo todo, o que você faria? Você está tão interessada na
faculdade quanto eu. Não vai demorar muito para eles descobrirem que
somos péssimos e nunca fazemos nossas tarefas.
Ela zomba. — Eu faço minhas tarefas.
— Mentirosa.
— Eu preciso fazer minhas tarefas. Tenho estado distraída. Eu vou
recuperar.
— Talvez devêssemos ter um encontro de estudo. — Eu sorrio para
ela. — Encontro de estudo nu.
— Você é um pirralho.
— Sério, querida. O que você faria?
Ela morde o lábio inferior com tanta força que é de se admirar que ela
não tire sangue. — Eu tento não pensar sobre isso.
Que tipo de resposta é essa?
— Por que não?
— Porque eu não tenho futuro. — A amargura em seu tom não pode
ser escondida. — Vou acabar me casando com um cara rico e bem-sucedido
e dando à luz um monte de bebês. Fim.
— Soa como muito sexo, no entanto.
Ela sorri, embora eu possa dizer que ela não quer. — Eu faria alguma
coisa com as mãos.
— Punhetas?
— Oh meu Deus. Vou desligar.
Eu rio e depois rio mais forte quando ela mostra a língua. É tão fofo. Se
eu estivesse lá, eu chuparia na minha boca e a faria esquecer que ela estava
brava.
— Quando minha mãe era viva, ela fazia todos os arranjos florais para
as festas do papai. Eu adorava ajudá-la. Passávamos horas trabalhando com
flores exóticas. É quando tínhamos nossas melhores conversas. — Ela sorri
melancolicamente. — Eu sinto falta dela.
— Sinto falta da minha mãe também.
— Ela se foi?
— Sim. — Eu fecho meus olhos e então suspiro. — Então, uma florista,
hein? Eu podia ver você em uma lojinha bonitinha cortando flores.
— Não é exatamente sonhar grande — ela murmura. — E você?
Eu dou de ombros. — Eu também não tenho escolhas. Eu sou a vadia
do meu tio.
— Sua vadia?
— Eu resolvo assuntos e merda para ele.
— Ele está na máfia?
Nós dois rimos.
— Eu gostaria. Essa merda seria divertida. Mas, não. Só vou a festas e
faço alguns trabalhos. É chato e inútil. Meu irmão o odeia por isso.
— Você e seu irmão são próximos? Qual o nome dele?
— Sullivan. E estamos próximos como irmãos podem ser. Ainda assim,
ele é um idiota na maior parte do tempo.
— Minha irmãzinha pode ser um monstro, mas eu nunca admitiria isso
para ninguém além de você.
Deus, eu gostaria de poder beijá-la agora.
— Então? — ela diz. — O que você faria se não tivesse esse seu tio?
— Honestamente, eu não sei. Não me permiti pensar tão à frente.
Houve um tempo em que pensei em seguir os passos da minha mãe. Me
torna um médico. Mas... merdas aconteceram. Só não penso nisso agora.
— Talvez você descubra.
— Pode ser.
— Eu deveria ir para a cama agora — ela sussurra. — Está tarde e seus
olhos continuam caindo.
— Me mande uma foto e eu desligo o telefone.
Ela revira os olhos, mas assente. — Tudo bem. Vou enviá-la depois que
você desligar.
— Eu te ligo amanhã, Laundry.
— Tchau, Chevy.
Ela desliga. Eu fico olhando para a tela até que uma imagem vem
através do texto. Na foto, ela está sorrindo para mim. É doce e adorável.
Rolando para o meu lado, tiro uma selfie e a envio de volta para ela. Ela me
manda alguns emojis dormindo e eu entendo a dica.
Adormeço olhando para o rosto dela e então sonho com sua boca
atrevida.
CAPÍTULO VINTE E UM
LANDRY

Ford é legal para você?


Della faz uma cara azeda antes de sinaliza, Ele é um bobão.
Eu seguro uma risada e, em seguida, sigo um pouco mais. Ele não é um
bom professor?
Ele é um bom professor, ela sinaliza, e então dá de ombros. Apenas um
bobão. Até Heathen sabem disso.
— Você é uma pirralha — eu provoco, sinalizando e dizendo as
palavras. — Você sabe disso?
Ela balança a cabeça alegremente, sorrindo. Então, ela faz uma cara de
mau para mim antes de sinaliza, Ele é seu namorado?
Meu sangue gela. É tão óbvio que eu e a Ford temos algo
acontecendo? Se é evidente para minha irmã que não presta muita atenção
a todos ao seu redor, posso apenas imaginar o que meu pai pensa, já que ele
observa cada movimento meu.
— Não — eu digo em um tom áspero, certificando-me de enunciar
para que não haja dúvidas sobre o que estou dizendo a ela.
Ela sinaliza, Mentirosa.
— O suficiente. — Ela é tão descarada às vezes e se ela ficar muito
confortável, pode ser ruim para ela. — Desculpe-se.
Desculpe. Ela estala as mãos de um jeito espasmódico, não parecendo
nem um pouco arrependida, mas é melhor do que nada.
Eu preciso que ela fique na dela porque os fins de semana são sempre
os piores para nós. Dois dias inteiros presas em casa com papai. Nossas
chances de irritá-lo são maiores, o que significa que ela não pode se
comportar dessa maneira. Nem comigo.
— Vou checar papai. — Eu também sinalizo as palavras.
Sua brincadeira desaparece e ela faz uma careta. Por quê?
— Della — eu admoesto. — Não seja rude.
Não fique brava comigo. Ela engole em seco e então sinaliza, eu só não
quero mais viver com papai. Quero que nos mudemos para longe. Podemos,
Landry? Por favor? Ela sinaliza a palavra por favor mais cinco vezes seguidas,
seus olhos brilhando com lágrimas.
Meu coração racha bem no centro. Eu sei que ela o odeia tanto quanto
eu. Às vezes, quando nos aconchegamos juntas na cama sempre que papai
está fora da cidade, ela expressa esses tipos de desejos. Todos eles parecem
fantasias distantes. Este apelo, porém, não é uma fantasia. É desespero —
um desespero que sinto ecoando em minha alma.
Um dia em breve, eu sinalizo para ela, mas não fale mais sobre isso
agora. Não é seguro.
Seus ombros caem, baixando o olhar para seu colo. A derrota escrita
nela me mata. Eu gostaria de poder dar a ela o que ela quer agora, mas não
posso. E falar sobre essas coisas é imprudente e perigoso. Nenhuma de nós
pode se dar ao luxo de escorregar. Especialmente quando ele está em casa,
forçado a descansar. Isso lhe dará muito tempo para pensar — muito tempo
para perceber o que sua filha está fazendo.
Ele notará Ford.
Começará a fazer perguntas.
Então, as acusações vão voar.
Eu não posso permitir isso.
Já que minha irmã terminou de falar comigo, eu me levanto e saio do
quarto dela. Sandra está de folga no fim de semana. Uma das cozinheiras,
Glória, chega cedo aos sábados de manhã para preparar as refeições dos fins
de semana, mas geralmente sai ao meio-dia. Então, somos apenas nós três.
Suprimindo um estremecimento, vou até o quarto do papai. Ao
mesmo tempo, eu adorava correr lá nas manhãs de sábado. Eu me contorcia
entre mamãe e papai, implorando para que ligassem os desenhos animados.
Eles me satisfaziam e papai mandava Gloria trazer o café da manhã para
todos nós na cama. Panquecas de chocolate com cobertura extra batida
para mim.
Eu não toquei em um desde que mamãe morreu.
Não fiz muitas coisas desde que ela morreu.
Aquela garota inocente morreu junto com ela. Aquela criança foi
forçada a se tornar uma adulta que tem que proteger sua irmãzinha. Eu
ficarei amargurada por ter perdido as partes fáceis da minha vida, mas não
me arrependo do relacionamento que tenho com Della. Eu a amo e sei que
mamãe ficaria orgulhosa por eu cuidar dela, garantindo que sua vida seja a
mais normal possível.
Deus, eu sinto falta da mamãe, no entanto. Tanto.
Papai está sentado na cama em seu lado habitual, um laptop
empoleirado em suas coxas sobre o lençol. Seu cabelo está bagunçado e
uma mecha loira escura está crescendo em suas bochechas. O hematoma
em seu rosto está pior hoje, inchado e roxo escuro.
— Oi, pai — eu cumprimento, minha voz alegre. — Está bem hoje?
Ele olha para cima de seu laptop, cortando seus olhos azuis gelados na
minha direção. — Parece como o inferno, mas eu vou me curar. O trabalho
nunca para. Perder dois dias no meio deste acordo de Tóquio foi realmente
um inconveniente.
— Eu sinto muito.
Ele franze a testa. — Não é sua culpa.
Isso é discutível.
— Se você precisar de alguma coisa, é só…
— Venha sentar — diz ele, seu tom severo. — Como nos velhos
tempos. Você adorava me ver trabalhar.
Costumava.
Quando eu era ingênua e pensava que meu pai pendurou a lua. Antes
que eu visse, ele era um homem de sombras escondido atrás de um sorriso
de raio de sol.
— Eu não quero incomodá-lo — digo, remexendo na porta.
— Nunca. — Ele dá um tapinha na cama ao lado dele. — Venha me
abraçar, querida.
Minhas mãos tremem, mas fechá-las ajuda a manter o tremor sob
controle. Eu faço o meu caminho até a cama e subo. Ele levanta o lençol, me
convidando para ficar embaixo deles com ele.
Della estava certa.
Eu não deveria ter checado ele.
Mas eu preciso observá-lo. Para ver o que ele sabe, se é que sabe
alguma coisa. Se ele suspeitar que eu tive alguma coisa a ver com isso, vou
precisar de uma estratégia para me livrar disso.
Seu sorriso é caloroso, mas ele é cauteloso. Isso me coloca no limite
também. Talvez ele possa sentir o turbilhão de emoções dentro de mim.
Normalmente, sou muito melhor em esconder o medo e o ódio que tenho
por ele. Ford, porém, me distrai e torna as coisas difíceis para mim.
Ontem à noite, antes de dormir, apaguei qualquer vestígio de
conversas entre mim e Ford. Cheguei até a mudar o contato para "Parceira
de Estudo Cujo Nome Não Lembro" caso ele pergunte sobre o número.
Espero que ele esteja muito ocupado com o ataque para ir tão longe no que
estou fazendo. Ainda assim, tenho que ser muito cuidadosa.
Eu me acomodo na cama ao lado de papai. Seu computador está
aberto em uma planilha e ele tem uma janela de bate-papo onde está
conversando com Gareth sobre uma de suas aquisições de jogos. Eu sou
grata que não é nada sobre mim ou Ford ou Della.
— Você dormiu bem noite passada? — Papai pergunta, pegando
minha mão. Ele passa o polegar sobre o meu ponto de pulsação.
Conhecendo-o, ele provavelmente pode dizer se estou mentindo
apenas vendo se meu sangue bombeia mais rápido. Eu mantenho minha
respiração uniforme e aceno. Ele aperta minha mão.
— Bom. — Ele levanta minha mão e beija as costas dela. — Eu sei que
a faculdade tem sido muito para você.
— É divertido — eu asseguro a ele. — Obrigada por me colocar dentro.
Eu não sabia o quanto eu queria ir para a faculdade até chegar lá.
— Conheço você melhor do que você mesma. Você sabe disso.
O quarto se enche de silêncio. Eu não gosto de sua insinuação, mas eu
poderia estar lendo isso também. Estou no limite, então tudo o que sai de
sua boca parece um prenúncio do que está por vir.
Ele não solta minha mão, mantendo-a firme em seu aperto. Finjo
cansaço e encosto a cabeça em seu ombro. O silêncio pode muito bem ser
uma bateria inteira batendo em meus ouvidos. É ensurdecedor e
enlouquecedor. Cada palavra na ponta da minha língua parece uma
armadilha. O silêncio, porém, parece que estou sendo exposta.
Um som da porta chama minha atenção. Lá, de pé como um pequeno
deus raivoso e poderoso, minha irmã olha carrancuda para meu pai.
Agora não, Della.
Leia-me uma história, Landry. Seus movimentos sinalizados são
afiados e exigentes.
Eu travo os olhos com minha irmã e dou a ela um leve aceno de
cabeça. O que ela está fazendo? Nós duas sabemos que é melhor ela evitar
papai a todo custo.
— Della, venha aqui — papai grita para ela, me fazendo pular em
resposta.
Della se encolhe, não porque ela pode ouvir as palavras dele, mas mais
como se ela pudesse sentir o impacto delas. O golpe antes do golpe
doloroso.
Começo a me levantar, com o coração na garganta, mas papai aperta
minha mão até que os ossos parecem que vão quebrar. Um grito de dor
salta da minha garganta. Della não consegue ouvir, mas deve ver a agonia
em meu rosto porque obedece imediatamente ao nosso pai, correndo para
o lado dele.
— Pai — eu imploro, minha voz mais um soluço do que qualquer coisa.
Ele agarra Della pela frente de sua camisa no segundo em que ela se
aproxima e a puxa para frente. Seus olhos verdes estão arregalados de
terror.
Eu tenho que parar com isso.
— Papai, por favor — eu resmungo. — Ela só precisa de uma soneca.
Ele me ignora para se inclinar para o rosto de Della. Seu laptop fica em
suas pernas sem ser perturbado, como se agarrar suas duas filhas mal fosse
uma interrupção de seu precioso trabalho.
— Você não vai ser uma merda desrespeitosa na minha casa — papai
rosna para ela. — Você me ouve?
Seus olhos deixaram os dele e estão presos nos meus, cheios de
lágrimas e medo. Claro que ela não o ouve, já que ela nem está olhando
para ele. Ele solta minha mão para agarrar seu queixo, forçando-a a olhar
para ele e não para mim.
— Estou cansado do seu problema de atitude — ele retruca. —
Desrespeito flagrante e me ignorando quando a situação lhe convém.
Ela se contorce em seu aperto, claramente magoada com a forma
como ele está segurando seu rosto. Eu puxo seu braço, murmurando
palavras suplicantes, mas sem sucesso.
— Pai, pare...
Ele balança o cotovelo para trás. Isso me atinge bem na boca. A dor
aguda e repentina me faz cair de volta na cama. Papai amaldiçoa e então
pequenos passos se afastam.
Ela se foi.
Ela escapou.
Eu trago minha mão latejante para tocar meu lábio inferior que arde.
Vermelho brilhante mancha minhas pontas dos dedos. Eu estou sangrando.
Papai geme de dor e então se posiciona de lado. Eu posso dizer que
dói suas costelas, mas a preocupação em seu olhar vence a batalha. Ele se
fixa na minha boca sangrenta e sua expressão se transforma em horror.
— Meu Deus, querida. O que aconteceu?
Você. Você aconteceu, pai. Você sempre acontece.
Ele se afasta brevemente e depois retorna com um lenço de papel.
Gentilmente e com o cuidado de um pai amoroso, ele enxuga meu lábio,
tentando limpar o sangue. Eu aperto meus olhos fechados, recusando-me a
deixar as lágrimas virem. Ele já roubou o suficiente delas.
Eu não posso olhar para ele.
Neste momento, só consigo pensar em ouvir a voz de Ford. Se ele
soubesse que papai me bateu, embora acidentalmente, ele ficaria chateado.
Este é o problema com amigos ou gostar de um cara... você começa a
confiar neles quando os tempos estão difíceis. Alguém para se apoiar ou
confiar. Uma fuga.
— Eu sinto muito, — papai engasga. — Eu continuo fodendo com
você. Desde sua mãe…
A morte de minha mãe foi o catalisador para minha vida virar de
cabeça para baixo e se transformar em... isso. Inferno. Literalmente um
inferno.
Posso sentir os dedos de papai no meu rosto, afagando e acariciando,
enquanto ele murmura palavras doces e de desculpas. Eu odeio isso. Eu o
odeio. Ele beija minha bochecha machucada.
Sim, pai, você também fez isso.
Todas as mágoas, tanto por dentro quanto por fora, são de você.
Sempre você.
Ele está muito perto - muito pesado - demais. Seus beijos suaves são
tão abusivos quanto seus tapas cruéis com as costas da mão. Eu não os
quero. Não gosto da respiração deles nem do volume. Sempre que chegar a
este ponto, quero rastejar para um buraco e morrer. Flashes horríveis de
outros tempos, piores do que este, roubam minha respiração e têm bile
subindo pela minha garganta.
Nunca fica mais fácil.
Eu não posso fazer isso.
Tudo parece pior agora. Talvez porque eu tive uma amostra de
normalidade recentemente com Ford, cada lembrança dura da minha
realidade é uma facada brutal no peito.
Eu não consigo respirar.
Eu não consigo respirar.
Vá embora. Vá vê-la.
Pensar na mamãe é sempre uma fuga. Minhas memórias dela são tão
felizes e fáceis de pegar quando eu não posso levar essa vida estúpida um
segundo a mais. Como estou muito sobrecarregada com este momento,
deslizo para um momento mais feliz. Eu e minha mãe bebendo chocolate
quente enquanto preparamos poinsétias para decorar a casa para uma festa
de Natal em família. Cheira a canela e maçã, as tortas no forno têm um
aroma delicioso que me dá água na boca. Ah, está nevando lá fora. Que
bonito…
Um toque estridente rasga minha memória feliz, me empurrando para
o agora. O presente frio e duro que cheira a colônia do meu pai. Sua boca
deixa meu pescoço e ele se afasta para pegar o telefone. Com base nas
palavras afiadas e raivosas, algo aconteceu com o trabalho. Ele começa a
gritar com Gareth.
Estou acordada.
Aqui.
Tremendo tanto que meus dentes estão batendo. Eu endireito minha
camiseta e corro para fora da cama. Tropeçando em meus próprios pés, eu
quase me mato. Papai me ignora, muito ocupado gritando ordens para
Gareth, o que é bom para mim.
Eu posso escapar.
A corrida para o meu quarto é um borrão de desgosto. Tranco a porta
do meu quarto atrás de mim e depois tiro minhas roupas. A água escaldante
queimando minha carne não faz nada para apagar os lábios e toques que
não pertencem ao meu corpo. Eu esfrego, esfrego e esfrego até minha pele
parecer que está pegando fogo.
Lembro-me de uma época, anos atrás, em que me enrolei no chão
desse mesmo chuveiro com uma dor tão forte que pensei que ia morrer. Eu
vi o sangue colorir a água e escorrer pelo ralo me perguntando se eu poderia
desaparecer tão facilmente. Eu não me lembro muito sobre aquele dia além
de Sandra me repreender por quase morrer de frio por ficar sob o jato
gelado por tanto tempo.
Quando a água esfria, eu a desligo, me enrolo em uma toalha quente.
Não consigo me livrar da sensação oleosa e continuo a tremer quase
violentamente. Outra vez, faço o meu melhor para bloqueá-la e pensar em
outra coisa, mas meus esforços não estão funcionando desta vez.
O que aconteceu?
Estou quebrada?
Eu pensei que era forte para suportar tais horrores, mas aqui estou
perdendo minha merda.
Porque eu mereço mais do que isso. Estando com Ford, comecei a me
sentir não apenas desejada e querida, mas verdadeiramente cuidada. Ele é
diferente.
Deus, eu preciso de Ford.
Saindo do banheiro, localizo meu telefone e vou para o meu armário
escuro. Eu rastejo até o fundo, sentando em alguns sapatos e pressionando
minhas costas contra a parede. Eu disco o número dele e tento evitar que
meus dentes batam.
— Ei — Ford cumprimenta, sua voz calorosa e feliz.
A força que eu estava aproveitando se derrete e eu me agarro à sua
voz. Eu preciso dele para me segurar. Estou tão cansada de me segurar. Eu
não posso mais fazer isso.
Lágrimas estouraram de mim, um som feio de desespero arranhando
minha garganta. Nenhuma palavra sai. Tudo o que posso ouvir são suas
palavras tranquilizadoras repetidas vezes. Eu sei que ele está me fazendo
perguntas, mas não posso respondê-las. Sua voz é suficiente. Eu só preciso
da voz dele.
Até…
— Estou chegando. Dê-me quinze minutos mais ou menos.
Eu fungo e abro meus olhos. — V-você está vindo?
— Você está chateada — ele rosna. — Eu preciso ter certeza de que
você está bem.
Egoísta e provavelmente estupida, eu engasgo: — Depressa.
Alívio me inunda, embora essa provavelmente não seja a melhor ideia.
Eu não me importo. Neste momento, eu me importo com uma coisa. Ford.
Eu preciso que ele me abrace e me faça sentir como se tivesse alguém além
de uma criança do meu lado.
Alguém forte.
Alguém que se importa.
Alguém como Ford.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
SCOUT

Ele está tão feliz.


Sorridente e despreocupado.
Eu sorriria também se enganasse o homem mais rico de Nova York
para colocar um anel no meu dedo e colocar bebês em mim.
Com o que Ash tem que se preocupar hoje em dia?
Certamente não eu.
Eu não sou mais uma ameaça em seu mundo. Winston se certificou
disso. Meus joelhos fodidos me lembram diariamente.
Ela está segura.
Exceto agora. Não agora. Ela está deixando seu apartamento na
cidade, sozinha, indo para o chá de bebê que Bryant me falou.
Meu carro está estacionado na rua a menos de quinze metros da
entrada do prédio, me dando uma visão privilegiada de quando ela sai. Isso
quase parece fácil demais.
Já pesquisei a localização do restaurante. Eles não têm serviço de
manobrista, mas têm um beco que é usado para deixar clientes abastados. É
privado e tranquilo, no entanto, não é seguro. Eu vou me certificar de ir até
lá para que eu possa vencê-la lá.
Então, quando ela não está esperando por isso.
Surpresa, irmã.
Voltei.
Venho reivindicar o que é meu... você.
Ela para, conversando com o porteiro. Meu telefone vibra no meu
bolso. Eu puxo e descubro mensagens de Sparrow e Sully em nosso texto de
grupo.
Sparrow: Ela está chorando aos gritos!
Sully: O que aconteceu?
Sparrow: Não sei. Tentando descobrir isso agora.
Sparrow: Ela quer me ver. Porra.
Sully: Estou indo para lá.
Eu olho para a troca deles, chateado por não ter sido incluído nesta
missão de resgate. É porque eles estão obcecados por ela. Eles não querem
compartilhar, porra.
Olhando para cima, dou uma longa olhada em Ash, tentando decidir o
que vou fazer. Esta é a melhor oportunidade que tive desde ano passado. Eu
realmente vou desistir para ver o que está acontecendo com Landry? Para
ter certeza de que não estou sendo excluído?
— Foda-se — eu rosno, colocando o veículo em movimento.
Eu me afasto do meio-fio e passo lentamente por onde Ash está
parada. Ela se vira quando estou passando e me vê olhando para ela. A cor
some de seu rosto. Seu corpo inteiro fica tenso.
Com dois dedos na testa, dou-lhe uma saudação e continuo dirigindo.
Meu coração está batendo como um tambor no meu peito. Tudo grita em
mim para fazer uma retorno no meio da estrada para voltar para ela. Para
arrastá-la para o meu carro e prendê-la no assento ao meu lado.
Minha.
Minha.
Minha.
Mas Landry também é minha. Ela deixou isso bem claro quando gozou
em meus dedos. Quando ela gostou da brutalidade do meu toque e gemeu
tão lindamente. Saber que Sparrow e Sully estão tentando mantê-la só para
eles é enfurecedor. Idiotas mesquinhos.
Durante todo o trajeto até o edifício residencial Croft, revejo o aperto
da boceta de Landry, o sabor de seus sucos, o som de seus gemidos. Quando
chego, meu pau está obscenamente duro no meu jeans preto. Esfrego
minha ereção sobre o jeans, tentando aliviar a necessidade de gozar.
Fora de hora.
Eu posso esfregar uma com o manobrista assistindo, ou posso ver o
que Sully está aprontando com nossa garota. O manobrista olha duas vezes,
franzindo a testa em confusão para mim. Puxando um maço de dinheiro, eu
o empurro em sua mão.
— Você não está vendo em dobro. Você está apenas cansado.
Mantenha-o por perto para mim.
Ele acena com a cabeça, olhos arregalados para o dinheiro. — Claro,
cara.
Eu o deixo com isso e vago dentro do prédio. Mantendo minha cabeça
baixa, evito qualquer pessoa no caminho para o elevador. Meu telefone
vibra novamente.
Sully: Ela está um desastre, cara. Seu lábio está partido. Ela foi pegar os sapatos e
depois vamos para a academia aqui no prédio para eu falar com ela sobre o que
aconteceu. Vou mantê-lo informado.

Eu rapidamente pesquiso este prédio para saber em que andar fica a


academia. Assim que o localizo, saio por aquele andar e sigo para a
academia. Há algumas pessoas nas máquinas elípticas e bicicletas
ergométricas, mas a área de peso, em uma sala separada, está vazia. Passo
pelas pessoas que trabalham e entro na área de pesos para encontrar um
canto escuro atrás de uma bola laranja gigante.
Agora, tudo que eu preciso fazer é esperar.
Segundos depois, Sully vira o corredor, Landry ao seu lado, as mãos
unidas. Vê-los juntos assim acende uma chama dentro de mim. Ele queima
quente e rápido, incendiando todos os pensamentos, menos um.
Minha.
Ele se senta em um banco, montando nele, e pede que ela se sente na
frente dele, espelhando sua posição. Uma vez que ela se acomodou, ele
pega as duas mãos dela.
— Fale, querida. Diga-me o que aconteceu.
Sua cabeça está abaixada, seu cabelo escondido sob o capuz de seu
moletom. Eu gostaria que ele empurrasse de volta para que eu pudesse ver
seu rosto. Estou tentado a me revelar só para ver o choque em seus lindos
olhos azuis refletidos de volta para mim.
— Eu só estou tendo um dia ruim. — Seu lábio inferior treme. — Um
dia muito ruim.
— Eu posso ver isso. — Sua voz é suave. Tão macia. Acho que nunca
ouvi Sully falar com alguém desse jeito. Interessante. — Fale comigo.
— Eu não posso — ela sussurra, sua voz tremendo.
— Querida — Sully diz, levantando o queixo dela para que ela olhe
para ele, — você pode. Você está ferida. Você pode confiar em mim,
lembra?
Em vez de explicar a ele o que a deixou tão chateada, ela segura suas
bochechas, puxando-o para ela. Seus lábios são gentis enquanto ele beija
sua boca macia. É como se ele tivesse que lidar com ela com cuidado ou ela
quebraria. Eu sei de fato que ela pode ter um manuseio bruto e mal rachar.
Ela é muito mais forte do que deixa transparecer.
Sua fome por ela vence. Agarrando sua bunda, ele a puxa para cima
em seu colo para que as pernas dela envolvam sua cintura. Um gemido
carente escapa dela, cantando direto para o meu pau. O mais
silenciosamente que posso, abaixo o zíper e desabotoo a calça jeans. Eu
puxo meu pau latejante em minha mão, ansioso por algum tipo de liberação.
As mãos enormes de Sully apertam sua bunda enquanto ele a move
contra seu colo. Eles estão transando como se não houvesse pessoas ao
virar do corredor. Tão perigoso, mas tão sexy.
— Temos que falar sobre isso — murmura Sully. — Por melhor que
pareça, está apenas colocando um curativo no problema.
Porra, porra.
Não seja um marica, cara.
Ela o ignora, beijando-o com toda a paixão ardente que possui. Sully
enfia uma mão na parte de trás de suas calças de ioga, a palma da mão
estendida sobre a bunda dela. Isso deve ser bom porque ela começa a
ofegar mais forte. Eu acaricio meu pau em conjunto com os sons que ela
está fazendo. Eu mataria por um pouco de lubrificante agora, mas como não
tenho nenhum, me contento lambendo minha mão algumas vezes para
deixá-la agradável e escorregadia.
— Ford — ela sussurra, interrompendo o beijo para que ela possa
olhar para ele.
Com a mão livre, ele puxa o capuz dela, revelando seu cabelo
bagunçado e úmido. Ele a encara como se ela fosse a coisa mais linda que
ele já viu.
Esses filhos da puta estão obcecados.
Conheço a obsessão quando a vejo.
— Eu vou gozar. — Suas palavras sussurradas soam surpresas. — Ford,
oh meu... — Ela inclina a cabeça para trás, expondo seu lindo pescoço.
Eu quero mordê-lo e chupá-lo e envolver minha mão em torno dele.
Minha.
Minha.
Minha respiração sai rápida e dura. Se eles não estivessem tão
consumidos um no outro, eles me ouviriam. Eu sei no segundo que ela goza
porque seu corpo fica tenso antes de tremer. Ela engole o grito de seu
orgasmo para não alertar ninguém.
Ele começa a levantar o moletom dela, me dando um flash de seus
pequenos seios sem sutiã, mas ela o impede, puxando-o de volta para baixo.
— Ford — diz ela, respirando pesadamente. — Não podemos fazer
isso agora.
Nem agora. Nem nunca.
Imagens dela amarrada e cativa na minha cama são demais. Eu gozo
silenciosamente, meu sêmen batendo na bola laranja com um tamborilar
quase inaudível. Enquanto eu coloco meu pau pingando de volta no meu
jeans, mantenho meu olhar fixo neles do meu esconderijo.
Eles estão tão apaixonados um pelo outro.
O que significa que ela está tão apaixonada por mim.
Minha vez. Minha maldita vez.
Estou prestes a me levantar e exigir minha vez quando algum idiota
entra na área de peso. Assim que ele nota os dois, seu rosto empalideceu e
ele tropeçou para trás.
— Oh, eu sinto muito, eu, uh, eu vou embora.
O idiota se apressa em deixá-los com sua foda seca, mas o momento
está perdido. Landry já está puxando meu irmão e se levantando. Ele vibra
com a necessidade, seu pau tentando rasgar seu jeans enquanto ele a
alcança.
— Eu não deveria estar aqui — ela murmura para si mesma. — Isso foi
um erro. Fiquei chateada, mas se ele me procurar — Pânico pisca sobre suas
feições transformando sua pele de avermelhada pálida para um branco
medonho. — Tenho que voltar para casa.
— Querida — Sully rosna. — Deixe-me ir com você. Para ter certeza de
que é seguro.
— Não, garanhão. — Ela dá um tapa na mão dele que ainda está
tentando alcançá-la. — Eu aprecio…
Aprecia o que, princesa espinhosa? Fazendo você gozar de calcinha e
dando bolas azuis ao seu amante no processo?
Ele se levanta, capturando sua cintura e puxando-a para seu peito. —
Ele bateu em você de novo?
— Isso foi um acidente, eu acho. — Ela franze a testa. — São outras
coisas. Eu só... não importa. Você me acalmou, mas eu realmente preciso
voltar. Eu te ligo mais tarde.
Eles compartilham outro beijo longo e apaixonado até que ela se
desprende dele. Ela foge, deixando Sully sozinho com seu tesão de nove
polegadas. Eu me levanto, ignorando a queimação no meu joelho ruim.
Lentamente, eu manco em direção a ele. Ele ouve o som dos meus pés nos
tapetes e se vira para me encarar.
O choque se transforma em medo breve e, finalmente, em fúria.
— Que porra é essa, Scout? — ele rosna, empurrando meu peito. —
Você estava me espionando?
Eu me abaixo, esfregando meu joelho, e faço uma careta para ele. —
Ela é meu trabalho também.
Seus olhos castanhos piscam com uma infinidade de emoções, mas a
que mais prevalece é a possessividade. Ele não acredita que ela é um
trabalho como ele deveria, e ele certamente não acredita que ela seja minha
também.
— O que você fez ontem? — Seu tom frio corta direto ao osso. — Para
Landry?
— Fui muito mais longe do que quase a segunda base. — Eu sorrio
para ele. — Eu sei como é a boceta dela.
Sua mandíbula aperta. — Você a estuprou porra?
— Foda-se — eu rosno. — Eu não sou o único cara mau aqui. Você
está mentindo para ela enquanto tenta entrar nas calças dela!
Ele me empurra com tanta força que minha cabeça bate na parede do
espelho atrás de mim. O vidro se estilhaça com o impacto e minha cabeça
lateja com a força dele.
— Eu deveria te matar.
Com isso, eu rio. — Me matar por acariciá-la no banheiro quando ela
implorou por isso? Vamos. Olhe para você. Você está obcecado. Ela é a nova
Ash.
Sully agarra a frente da minha camisa, seu nariz a centímetros do meu.
Obrigado porra , sua ereção se foi, ou isso seria desconfortável. — Ash era
sua. Landry é nossa.
Errado.
Tão errado 'pra' caralho.
Ash era minha. Landry é minha.
— Ela não é sua — eu corto. — Assim como Ivy nunca foi sua.
— Então me ajude — Sully morde. — Se você foder nossas vidas de
novo…
Eu o empurro para longe de mim. — Pare de agir sem culpa, seu
fodido. Estamos todos conectados da mesma maneira, e é por isso que
sempre queremos a mesma garota.
— Eu não estou conectado como você.
Antes que possamos desempacotar isso e eu possa lembrá-lo de que
somos trigêmeos, um cara diferente espreita a cabeça ao virar no corredor.
Ao contrário do idiota de antes, esse cara é bombado e provavelmente
poderia levar a mim e ao Sully de uma só vez.
— Eu acho que vocês dois deveriam ir — diz o cara, lançando sua
atenção para frente e para trás entre nós. — Não vi vocês ao redor do
prédio antes. Se você não sair, vou chamar a segurança.
— Nós estamos saindo — Sully repreende o cara. Então, para mim, ele
sussurra: — Fique longe dela. Lide com o seu trabalho e nós lidaremos com
o nosso.
Eu mostro o dedo médio para ele. — Ok, irmãozinho. Qualquer coisa
que você diga.
Ele sai furioso, xingando baixinho. Sully sabe melhor do que ninguém
que não pode me dizer o que fazer.
Eu faço o que eu quero.
Eu sempre faço o que eu quero.
E agora... eu a quero.
Landry Croft.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
LANDRY

Eu estraguei tudo.
Ligar para Ford e envolvê-lo mais foi um erro. Ele tinha visto através
das minhas mentiras. Deduziu que meu pai era a causa da minha dor.
Novamente.
Mas, em minha desesperada necessidade de conforto e fuga, deixei
Della sozinha com ele. Bile sobe pela minha garganta enquanto eu me
esgueiro de volta para o nosso apartamento. Está quase em silencioso, o
que significa que ele não está mais em seu telefonema. Às vezes suas
ligações duram horas, mas não esta.
Oh Deus.
Correndo para o quarto de Della, rezo para que ela esteja bem. Que
ele não a machucou de forma alguma. Quando eu espio, ela está assistindo
desenhos animados. Ela pode ler alguns, tendo aprendido mais cedo do que
a maioria por causa de seu conhecimento de ASL, mas principalmente, ela
assiste a seus programas quando quer se distrair.
Começo a entrar, mas a voz de papai me chama.
Do meu quarto.
Lentamente, eu me viro e caminho em direção ao som. Ele está
sentado na minha cama quando entro no meu quarto. Seu rosto não parece
melhor, e provavelmente não ficará por semanas, mas ele tomou banho e se
barbeou o que podia.
A vergonha faz seus olhos azuis brilharem de dor.
Eu não entendo sua mágoa, já que é ele quem sempre a inflige.
— Querida — ele começa, franzindo a testa para mim. — Eu estou…
Arrependido?
Você está sempre arrependido, pai. Sempre.
O pai mais arrependido do planeta.
Eu quero gritar com ele. Para acusá-lo de ser um monstro nojento,
mas eu não posso. Não consigo fazer as palavras saírem da prisão da minha
boca. Elas estão presas, assim como eu e Della estamos neste apartamento.
— Você sabe que eu sinto muito — ele diz correndo. — Você sabe que
não sou eu. Esse não sou eu.
Elabore sobre isso, pai. O que exatamente é isso?
Posso não ser capaz de dizer as palavras, mas sei que minha dor e ódio
por ele não podem ser mascarados. Não agora, quando meus nervos estão
tão à flor da pele e ainda posso sentir sua boca no meu pescoço. Nenhuma
quantidade de beijos de Sully poderia apagá-la.
— Eu sei que você está decepcionada comigo. — Ele engole em seco,
baixando o olhar. — Deixe-me fazer isso direito. Você pode ter o que quiser.
Apenas diga.
Liberdade.
Está na ponta da língua.
— Eu não quero nada — eu gritei.
Eu não sou uma transação. Ele acha que pode apagar seus erros com
presentes. Que as contusões e cortes na minha carne desaparecerão
magicamente durante a troca. Que o tormento emocional e o abuso que
sofri desaparecerão com o aparecimento de uma pulseira nova e brilhante.
— Dinheiro? Uma viagem? Dia de spa com sua irmã?
Ele está alcançando agora se está tentando usar Della para entrar em
minhas boas graças.
Ele se levanta, estremecendo levemente com a dor nas costelas.
Lentamente, ele espreita em minha direção. Meu corpo inteiro vibra com o
desejo de fugir. Bravamente, ou estupidamente, eu mantenho meus pés
enraizados e olho para ele com um raro lampejo de desafio.
— Você tem exatamente trinta segundos para descobrir enquanto eu
estou de bom humor — ele rebate, narinas dilatadas. — Se você não
conseguir pensar em algo, terei que levar Della às compras comigo. Talvez
eu consiga arrancar dela o que você quer.
Eu suspiro, como se ele tivesse me dado um soco no estômago, e fico
boquiaberta para ele. Ele não vai a lugar nenhum sozinho com minha irmã.
Não confio nele para não arruiná-la irrevogavelmente. Pelo menos estou
mais velha e mais forte. Eu posso me recuperar melhor do que ela. Ela é
pequena, frágil e minha para proteger.
Uma ideia se forma na minha cabeça tão de repente, e absolutamente
perfeita, que quase choro de alívio.
— Um carro — eu digo, encontrando seu olhar. — Um carro muito,
muito caro.
Sua sobrancelha levanta, claramente se divertindo com a minha
demonstração de maldade. Acho que é melhor do que ficar com raiva. —
Um carro, hein?
— Um carro clássico. Algo restaurado à perfeição original — continuo,
deixando a ideia realmente se transformar em minha mente. — Não
entendo muito de carros, mas sei que os anos sessenta foram uma época
boa. Eu quero preto também.
Velho. Não rastreável. Uma cor despretensiosa. E rápido.
Em um veículo como esse, eu não precisaria de muito planejamento.
Apenas uma vantagem. Ele não seria capaz de me rastrear como faria com
um novo Tesla ou Range Rover. Podemos sair da mira dele. De repente,
estou dominada pela excitação.
— Claro, querida — papai diz, descendo para beijar minha testa. —
Qualquer coisa para te fazer feliz. — Ele dá um passo para trás, me
estudando com os olhos apertados. — Agora, se você me dá licença, eu
tenho que ligar de volta para Gareth. Eu te amo.
Eu não posso dizer as palavras de volta. O sorriso que dou a ele é
vacilante e forçado, mas ele aceita. Assim que ele sai, eu tranco a porta atrás
dele e entro no meu armário para procurar meu telefone. Ele ainda está
enfiado debaixo de uma pilha de roupas onde eu o deixei.
Ford deixou algumas mensagens, mas preciso ouvir a voz dele
novamente. Para se desculpar por fugir dele quando ele estava apenas
tentando ajudar. Ele responde imediatamente. Há vozes ao fundo – pessoas
conversando e rindo – e isso me faz pensar se ele está no saguão do nosso
prédio, embora geralmente não esteja tão ocupado.
— Laundry.
Meu coração faz uma torção dentro do meu peito. Fecho os olhos,
imaginando seus olhos escuros de xarope de bordo e seu cheiro que me
lembra especiarias e mar salgado.
— Ei, Chevy.
— Tudo certo? — Ele deve ir para algum lugar um pouco mais
silencioso porque o ruído de fundo é abafado. Talvez ele esteja em seu carro
agora.
— Sinto muito por fazer isso com você — eu deixo escapar. — Você só
estava tentando ajudar. Foi bom, mas…
— Foi bom — ele repete, sua voz com um leve tom de raiva.
— Excelente. Foi ótimo. — asseguro-lhe para que seu precioso ego não
sofra. — Eu gostaria de ter feito você se sentir bem também. Curti isso. É só
que... minha vida está uma bagunça. Você entrou na minha vida exatamente
na hora errada.
— O que todo cara quer ouvir — ele diz sem expressão.
Eu sorrio, imaginando-o fazer beicinho. — Foi bom ter alguém a quem
recorrer, no entanto. Mesmo quando você está sendo todo louco ou me
confundindo, você me traz conforto e me faz sentir segura.
— Você está me colocando numa zona de amizade, Laundry?
— Há. Como se você permitisse isso.
— Você está começando a aprender com que tipo de homem está
lidando.
Estou contudo? Ele ainda é um mistério.
Ele solta um suspiro profundo. — Sinto sua falta, querida.
— Você literalmente acabou de colocar a mão nas minhas calças.
— Você sabe o que quero dizer — ele rosna, parecendo chateado. —
Eu não tive tempo suficiente com você.
— Eu acho que você é tóxico para mim — eu admito em um sussurro.
— Vejo você segunda-feira.
Desligamos e vou até minhas fotos para procurar a que salvei em uma
pasta chamada "Arquivos para aula de inglês". Escondido em outra pasta
chamada "Citações" está uma foto de Ford.
Sorriso preguiçoso e arrogante.
Cabelo escuro bagunçado.
Olhos encapuzados.
Eu também sinto sua falta, Chevy.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
SPARROW

A mercedes preta para no meio-fio, deposita Landry como se ela fosse


lixo, e então se afasta. Ela olha para ele, uma carranca estragando seu rosto
bonito. Porra, eu gosto de olhar para ela.
Eu assobio de dentro do meu carro. Minha janela está abaixada, então
eu tenho uma visão desobstruída dessa garota. — Entre, Laundry.
Seu sorriso é brilhante e largo para mim. Deslumbrante como o sol. Eu
quase tenho vontade de arrancar meus óculos de sol para ver cada detalhe,
mesmo que isso me cegue no processo.
Ela abre a porta e joga sua bolsa no banco de trás. Então, ela desliza
para o banco do passageiro, fechando-se comigo. Eu subo a janela para nos
dar privacidade antes de me inclinar sobre o console para agarrá-la. Minha
mão desliza em suas mechas douradas e sedosas e eu aperto meu abraço
sobre ela, puxando-a para mim.
— Beije-me, querida.
Ela sorri mais amplamente e então seus lábios estão nos meus –
ansiosos e desesperados. Eu gemo contra sua boca. Porra, ela tem um gosto
tão bom. Como baunilha e é minha. Para esconder esse último pensamento,
mordo seu lábio inferior. Ela geme, embora soe um pouco de dor. Puxando
para trás, noto a pequena crosta em seu lábio.
Meu sangue ferve.
Este é um trabalho. Este é um trabalho. Este é um trabalho.
Tente dizer isso ao meu coração furioso.
— Eu quero matá-lo — digo a ela, minhas palavras gotejando com
pura honestidade. — Porra, matá-lo.
— Não podemos fazer isso aqui. — Ela franze a testa, não mais
sorrindo. — Eu senti sua falta, mas isso é muito aberto.
Eu pego sua mão, enroscando meus dedos com os dela e beijo os nós
dos dedos antes de soltá-la. — Aperte o cinto, Laundry.
Ela grita quando eu saio do estacionamento. Eu faço a curva para fora
do estacionamento praticamente em duas rodas antes de descer a reta. Eu
sorrio para ela, o que me rende uma carranca. Tão fofa.
Há um prédio próximo que está em construção. Vou me esconder lá
fora com ela um pouco. Paramos e não somos parados por ninguém. Eu tiro
meus óculos escuros e os jogo no painel. Há vários caminhões de trabalho
estacionados no primeiro nível, então eu chego ao segundo nível antes de
encontrar um local escuro para guardar meu carro longe de olhares
indiscretos.
Uma vez que desligo o carro e nós estamos banhados no silêncio,
desafivelo e inclino meu corpo em direção a ela. Se eu não soubesse melhor,
eu pensaria que ela estava sendo uma vadia. Ela está emitindo vibrações
geladas e está tensa pra caralho.
Mas eu a conheço.
É o mecanismo de defesa dela.
Ela está se protegendo.
— Você sabe como excluir o histórico de pesquisa? — ela pergunta,
franzindo as sobrancelhas.
Pergunta estranha.
— Tenho certeza de que conseguiria descobrir. — Eu inclino minha
cabeça para o lado e corro meu dedo ao longo de seu queixo. — Por que?
Ela engole em seco, mas se inclina para o meu toque. — E os textos?
Como faço para apagar a existência deles? Excluí-los não será bom o
suficiente.
— Você tem medo de que seu pai descubra que você tem namorado?
Seu lábio se curva. — Você não é meu namorado.
Piscando para ela, eu lhe dou um sorriso presunçoso. — Continue
dizendo isso a si mesma. Eu reivindiquei você primeiro. Não se esqueça
disso.
Suas feições escurecem como se ela estivesse dentro do segredo – o
que ela absolutamente não está. Então, ela apenas deixa o comentário
passar. Às vezes eu gostaria de saber o que ela estava pensando. Como
agora.
— Ele não pode saber sobre o que estamos fazendo — diz ela com um
suspiro irregular. — Ele não pode saber dos meus planos.
— Planos?
— Coloque desta forma — ela bufa. — Uma vez, meses atrás,
pesquisei um pouco sobre a NYU. Ele me surpreendeu ao me matricular na
faculdade. Quem faz isso?
Ok, então sim, isso é assustador e controlador.
— Vou ligar para meu tio. Se alguém pode obter informações sobre
como limpar um telefone ou esconder rastros, é ele. Você confia em mim?
— Sim, eu confio em você — diz ela com um sorriso. — Além disso, eu
sei que seu tio é o pai da máfia ou algo assim. Suas conexões são sólidas.
— Pirralha linguaruda.
— Você gosta disso. — Seus lábios se curvam em algo sedutor e
delicioso. Eu quero provar o sorriso pecaminoso. — Posso usar seu telefone?
Suas palavras esfriam todo o calor que corre por mim.
— O que? Por que?
Ela olha para o meu telefone no meu porta-copos. — A Internet. Eu
preciso procurar alguma coisa.
E a chance de Sully ou Scout mandarem mensagens sobre ela naquele
momento?
De jeito nenhum.
Sua mão o alcança e eu agarro seu pulso.
— Venha aqui — eu exijo, puxando-a para mim. — Eu preciso te
abraçar.
Eu posso dizer que ela está chateada com base no brilho em seus
olhos, mas ela me permite puxá-la sobre o console e no meu colo. Ela monta
em mim, se acomodando confortavelmente entre meu corpo e o volante.
Agarrando-a pelo pescoço, eu a puxo para mim, ansioso para provar
sua boca pela segunda vez hoje e distraí-la de usar meu telefone. Ela geme,
o som carente e cru. Eu me pergunto que outros sons posso extrair dela.
— Eu preciso ver você — murmuro contra sua boca enquanto esfrego
minhas mãos sob sua camiseta, acariciando suas costas.
Ela assente, levantando os braços. Eu tiro sua camiseta e admiro seus
peitinhos sensuais em seu sutiã rosa. Inclinando-me para frente, mordo um
deles sobre a renda. Tão sexy 'pra' caralho. Ela geme, seus dedos
bagunçando meu cabelo enquanto ela se agarra.
Eu prendo meus dedos nas alças do sutiã, puxando-os para baixo de
seus braços. Ela esfrega contra o meu pau, buscando a fricção que nós dois
precisamos.
— Quando eu te colocar na minha cama, querida, eu vou tomar meu
tempo chupando cada sarda do seu corpo. — Eu agarro os bojos de seu
sutiã, puxando-os para baixo com força. — No momento, não tenho muito
tempo.
Ela grita no segundo em que eu coloco meus dentes em um de seus
mamilos. Eu puxo para trás até que eu saiba que dói e então a libero para
que eu possa mergulhar de volta. Tocando o mamilo avermelhado, eu chupo
e provoco a dor.
Ela não está mais sentada no meu colo, mas de joelhos, ansiosamente
me alimentando com seu seio, claramente doendo pelo abuso seguido pela
doçura. Aproveito para desabotoar sua calça jeans. Esses espaços são muito
apertados. Não tenho certeza de como diabos vamos fazer isso, mas estou
disposto a tentar.
— Foda-se — eu gemo enquanto beijo entre seus seios. — Por que
você é tão doce?
Ela ri. — Achei que era salgada.
— Mudei de ideia, Dirty Laundry. Você é um doce e vai me dar uma
maldita cárie. — Eu puxo em seu jeans, puxando-os para o meio das coxas
antes que eles encontrem resistência de serem separados. — Muitas roupas,
mulher. Eu preciso de você nua.
Sua respiração trava quando meus dedos provocam sua boceta. Tão
molhada e pingando com doce necessidade. Estou morrendo de sede que só
ela pode saciar.
— Deixe-me ver seus olhos — ela respira.
Eu inclino minha cabeça para olhar para ela enquanto meu dedo entra
em seu corpo. Ela engasga e um tremor a percorre.
— Você gosta quando eu te fodo com meus dedos? — Eu pergunto,
levantando uma sobrancelha. — Precisa de mais?
— S-Sim.
Outro dedo desliza facilmente dentro dela. E depois um terceiro. Se
ela vai tomar meu pau, sua boceta precisa ser capaz de levar mais de três
dedos. Lentamente, eu gentilmente fodo seu buraco apertado como o
pecado, esticando-a para que ela acomode meu pau. Eu sou dotado e sua
boceta provavelmente virgem precisa trabalhar para isso.
Eu chupo seu seio, meus olhos ainda nos dela. Ela morde o lábio
inferior dividido, o olhar vedado me penetrando. Minha boca não é gentil
enquanto machuco seus seios, mas tomo cuidado com sua boceta. Eu quero
que isso seja bom para ela. Eu quero fazê-la gozar antes mesmo de colocar a
camisinha no meu pau.
— Essa é a minha garota — eu canto contra seu mamilo molhado. —
Goze por todos os meus dedos.
Com cada mergulho profundo dos meus dedos, eu esfrego meu
polegar sobre seu clitóris. Sua respiração sai afiada e rápida até que eu acho
que ela não está respirando.
— Ford!
Sparrow. Eu sou o Sparrow. Não fodido Ford.
Seus sucos escorregadios escorrem sobre meus dedos enquanto seu
corpo sofre espasmos. Ela é tão gostosa gozando em meus dedos. Eu não
posso nem começar a imaginar como ela ficará esticada ao redor do meu
pau. Ela monta seu orgasmo até que ela esteja exausta e flácida. Eu deslizo
meus dedos de seu corpo. Agarrando em seus quadris, eu a giro e pressiono
seu peito contra o volante.
Ela está quieta, além de sua respiração pesada, esperando por mim
para nos colocar em posição. Eu me atrapalho com meu jeans até que eu
puxo meu pau para fora.
Preservativo.
Eu preciso de um preservativo.
Mas eu só quero sentir sua boceta lisa contra minha carne antes de
colocar uma borracha.
Enganchando meu braço ao redor de sua barriga, eu a puxo de volta
para o meu colo. Meu pau desliza entre suas coxas, esfregando sua
umidade. Nós dois gememos com a sensação de como é. Seus quadris
balançam para frente e para trás. Foda-se, é incrível.
Seu corpo se inclina para frente, como se ela estivesse implorando
para eu penetrá-la. Eu agarro meu pau e a obedeço. Ela grita quando meu
pau grosso pressiona em seu corpo incrivelmente apertado.
— Oh meu Deus — ela sussurra.
Nós dois estamos encharcados de suor. Esse sexo no carro é irritante
pra caralho, mas eu a quero muito para descobrir arranjos melhores.
Pressionando minha palma na parte inferior de sua barriga, levanto meus
quadris. Eu posso sentir meu pau dentro dela, empurrando contra a minha
mão.
Eu a encho até a borda.
Esticando-a ao máximo.
Eu consigo um impulso forte que a faz gritar quando ouvimos.
Um toque. De novo e de novo.
Seu corpo inteiro congela, ficando gelado.
É o telefone dela.
— Não responda — murmuro, mordendo seu ombro e depois pescoço.
— Estamos ocupados.
Ela geme quando ela chega para agarrá-lo do assento e eu persigo sua
bunda com um impulso duro. Eu estou implacável, pegando meu ritmo,
tentando me lembrar de sair desde que eu pulei a camisinha como uma
idiota.
— Ford, pare — ela sibila. — Oh meu Deus.
— O que?
— É meu pai!
O toque pára e, em seguida, um texto aparece.
Pai: Atenda seu telefone. Eu sei que você não está na faculdade.

Começa a tocar novamente. Ela desliga completamente. Olha para o


telefone em estado de choque, não está mais presente na nossa foda. Jesus
Cristo.
Deslizando-a para fora do meu pau latejante, eu a viro para mim para
que eu possa segurá-la. Sua pele, que estava apenas quente e suada, parece
fria ao toque.
— Eu tenho que responder. Eu tenho que responder. Eu tenho que
responder.
Seus cantos soam quase robóticos.
— Não responda — digo a ela com firmeza. — Você pode ligar depois
de volta.
Mas, a cada mensagem furiosa e ligação incessante, ela começa a
perder a cabeça. Ela se afasta de mim, correndo para vestir suas roupas o
mais rápido que pode. Pareço um babaca excitado com meu pau molhado
praticamente chorando para voltar a foder.
Isso não está acontecendo.
Ignorando as bolas azuis dolorosas, eu consigo colocar meu pau de
volta no meu jeans enquanto ela faz a única coisa que eu disse a ela para
não fazer.
Ela atende o maldito telefone.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
LANDRY

— Ah, ei, pai.


Fique calma. Fique calma. Fique tranquila.
Seu silêncio pode muito bem ser um grito. Eu posso sentir a ira
silenciosa batendo contra mim como a força de um furacão. O pior é que
Ford está me observando, seu rosto contorcido de preocupação. Estou entre
dois lados da minha vida, sem saber o que fazer ou como me comportar. O
medo do meu pai vence e eu tento acalmar as coisas com ele.
— Este café no campus não tem um bom sinal. Eu acho que você está
cortando.
— Você não está no campus — papai diz, a voz cheia de fúria. — Você
está?
— Eu estou — eu resmungo. — Eu juro.
Mentiras. E ele sabe. Não sei como, mas ele sabe. Provavelmente é
meu telefone. Ele é um gênio da tecnologia, então aposto que ele tem um
localizador no meu telefone.
Eu sou tão estúpida.
— Veremos. Se você não estiver esperando do lado de fora da
faculdade quando o motorista chegar, então me ajude Landry, vai ser um
inferno para pagar.
Ele desliga na minha cara. Eu olho para o meu telefone com horror,
choque me deixando imóvel por alguns longos segundos. Meus ouvidos
soam alto e meu coração bate fora de controle. Só quando Ford aperta
minha coxa é que percebo que ele está falando comigo.
— O que estamos fazendo, Laundry?
— Faculdade — eu digo. — Eu tenho que voltar para a faculdade ou...
Ele não espera que eu explique e liga o motor. A viagem até aqui foi
terrível porque ele dirige como um maníaco, mas agora estou agradecida
porque significa que posso cumprir o prazo assustador do papai.
— Cinto — Ford late. — E me diga por que diabos eu não fico e bato
na bunda dele quando voltarmos.
Estremecendo, eu afivelo meu cinto e atiro-lhe um olhar. — Nem
brinque com isso. Ele te enterraria, Ford. É o que ele faz.
— Quem está na família da máfia agora? — ele brinca, mas não dá
certo porque nenhum de nós está se sentindo muito brincalhão.
Eu fecho meus olhos e mordo meu lábio inferior que ainda está
dolorido deste fim de semana. Estou toda fora de ordem. Meus nervos estão
me comendo viva de dentro para fora. Partes do meu corpo, no entanto,
ainda latejam com o toque experiente de Ford.
Fizemos sexo.
Bem, começamos. Teria sido melhor se tivéssemos terminado. Por
aqueles poucos minutos, parecia tão cru, real e ridiculamente quente. Eu era
outra pessoa. Não Landry Croft. Se eu pudesse ter congelado o momento,
com certeza o teria feito.
Essa não é a minha realidade, no entanto.
Isto é. Minha realidade é meu pai controlando todos os meus
movimentos e me punindo no segundo em que saio da linha. Quanto mais
velha fico, mais difícil é jogar pelas regras dele. Não quero estar aqui com
aquele monstro. Quero estar longe, muito longe com Della.
Como seria uma vida sem dor e medo?
— Eu não quero levar você de volta para ele — Ford resmunga. — Eu
quero te levar de volta para minha casa. Te manter segura.
Eu quase explodo em lágrimas com o jeito sincero e doce que ele diz
isso. Eu adoraria. Então eu poderia continuar fingindo que estávamos em
nosso próprio mundinho.
Mas onde isso deixa Della?
Sozinha com o monstro.
— Você não pode me ligar mais, Chevy. Não me mande mensagem
nem nada. — Meu lábio inferior treme. — Vejo você na faculdade na quarta-
feira e mais tarde nesse dia quando você for tutor de Della. Não posso
arriscar que ele saiba que tenho um... você. Eu não quero que ele saiba.
— Sério?
— Sério. Estou excluindo seu número. Por favor, não me faça bloquear
você.
Sua mandíbula aperta e ele olha para a rua. Eu me sinto uma vadia,
mas não sei o que papai vai fazer. Eu me diverti e vivi um pouco. Olha onde
isso me levou. Estou arrasada por perder esta coisa com a Ford. Eu não
tenho escolha, no entanto.
— Pare na parte de trás — eu instruo quando voltamos para o
campus. — Vou passar pelo prédio. Ele não pode me ver parar com você.
— Seu pequeno segredo sujo.
Ele está ferido e eu entendo. Não muda nada. Meu pequeno segredo
sujo tem que ir para o túmulo agora. Eu tenho que descobrir como
convencer meu pai de que não estou me escondendo fazendo coisas ruins.
Se não puder, temo pensar no que ele fará.
Para mim. Para Della. Para Ford.
Ford encosta no meio-fio e estaciona. Antes que eu possa escapar, ele
enrola a palma da mão na parte de trás da minha cabeça e me puxa para
ele. Seus lábios colidem com os meus, possessivos e reconfortantes. Eu
quero afundar em seu beijo e esquecer minha vida. Apenas viver aqui neste
momento feliz.
— Nós vamos conversar na quarta-feira — ele me assegura contra a
minha boca. — Conte-me tudo.
Não posso fazer promessas a ele, então não faço. Não que ele permita
que isso o detenha. Ele rouba outro beijo que aquece a alma antes de eu me
arrancar fisicamente dele. Eu corro para fora do carro e quando me viro, ele
está com minha mochila na mão. Eu vou pegar, mas ele não solta.
— Nós vamos terminar o que começamos, querida. — Ele pisca para
mim. — Da próxima vez, vou tomar meu tempo com você. Desfrutar de
estar profundamente dentro de você.
Calor inunda minhas bochechas, mas um sorriso bobo encontra seu
caminho no meu rosto, o que é uma façanha, considerando a quantidade de
estresse que estou atualmente. — Tchau, Chevy.
— Até mais tarde, Laundry.
Ele sai no segundo que eu fecho a porta. Não perco tempo e corro
para dentro do prédio. Passando pela cafeteria no campus, pego uma xícara
de café vazia com a tampa da lata de lixo. A caminhada pelo prédio em
direção à frente me dá cãibras no estômago. A ansiedade corrói minhas
entranhas. Estou prestes a vomitar quando saio do prédio.
Uma reluzente Mercedes preta estaciona no estacionamento e eu sigo
em direção a ela. Espero que seja apenas um dos nossos motoristas e não o
papai. Quando o carro para, a porta traseira se abre e papai desce. Ele está
vestido como de costume e usando óculos escuros. De longe, você nunca
seria capaz de dizer que ele levou uma surra na semana passada.
Jogo o copo vazio na lata de lixo perto do meio-fio e forço um sorriso.
— Oi pai.
— Entre, mocinha. Você não vai se convencer disso. — Ele levanta o
telefone e noto um aplicativo de rastreamento piscando minha localização.
— Você deve pensar que eu sou incrivelmente estúpido.
Garras de pavor em minha garganta. O sorriso vacila em meus lábios.
Eu tento e não consigo sugar o ar adequado enquanto subo no carro
sufocante que cheira a sua colônia.
Respire, Landry.
Ele não sabe onde você estava, só que você se foi. Negue, negue,
negue.
Papai volta para o carro, fecha a porta e assobia para o motorista.
Sento-me ao lado dele, tentando como o inferno não tremer visivelmente.
A viagem de volta para casa parece muito longa.
Uma sentença de prisão executada silenciosamente.
Cada segundo tranquilo que passa parece como outro peso de
chumbo empurrado pela minha garganta e se acomodando no meu
estômago.
— Obrigado, Eric, — papai diz ao motorista quando chegamos ao
nosso prédio. — Vamos, Landry.
Papai carrega minha mochila, segurando-a ao lado dele como se ela
contivesse todas as provas que ele precisa para provar crimes contra mim.
Eu sigo atrás dele, meus olhos baixos.
O que vai acontecer?
Talvez ele apenas me acuse de desobedecê-lo e me castigue.
Esse pensamento é quase risível. Ele está furioso demais para isso. Eu
escorreguei de sua rede cuidadosamente lançada. Nadando no abismo
escuro sem ele. Ele vai querer saber exatamente a que ou a quem eu fui
exposta.
Entramos no elevador e o ar está sufocante. Estou sufocando com o
cheiro enjoativo de sua colônia. Engolindo a bile, tento controlar minha
respiração para não desmaiar. O elevador gira, o que me diz que não estou
fazendo um bom trabalho.
— Estou faltando ao trabalho por sua causa — ele cospe, palavras me
queimando como ácido quando saímos do elevador para o nosso andar. —
Não posso deixar isso impune.
Oh Deus.
— Pai — eu sussurro, seguindo atrás dele. — Não é o que você pensa.
Eu estava trabalhando em um projeto com uma garota chamada Melody...
Ele se vira, apontando um dedo a apenas alguns centímetros do meu
nariz. — Porra, não minta para mim, criança.
Criança.
Isto é ruim.
Realmente ruim.
Lágrimas estouraram livres, escorrendo pelas minhas bochechas. Ele
gira nos calcanhares, ignorando minhas emoções, e vai até a nossa porta.
Uma vez que ele a destrancou, ele o mantém aberta para mim.
— Vá para o seu quarto — ele rosna. — Agora.
Eu corro para longe dele, correndo para o meu quarto. Ele me segue
para dentro e fecha a porta. Seus lábios franzem enquanto ele coloca minha
bolsa na cama. Eu fico sem jeito observando-o enquanto ele abre cada zíper,
puxando item após item. Livros. Computador portátil. Cadernos. Nada de
interesse.
O que significa que ele sabe o que está no meu computador,
exatamente como eu temia. Ainda bem que só usei para a faculdade. Depois
de esvaziar a bolsa, ele estende a mão.
— Telefone — ele rosna. — Sente sua bunda.
Evito a cama porque não quero ficar perto dela com ele, preferindo
sentar na minha espreguiçadeira. Ele fica quieto enquanto desbloqueia meu
telefone e começa sua caçada. O pânico crescendo dentro de mim é demais.
A sala escurece e gira.
Eu vou desmaiar.
Ele coloca o telefone no bolso e cruza os braços sobre o peito.
Lentamente, ele faz o seu caminho até mim, olhando para mim. Eu odeio
que ele está a uma curta distância.
— Você está fora de controle ultimamente — ele cospe, furioso. — Eu
sabia que a faculdade era uma má ideia. Muitas incógnitas.
Suas palavras são um soco no estômago.
— Isso termina hoje. — Ele descruza os braços, fechando as mãos ao
lado do corpo. — Você sabe que um carro está absolutamente fora de
questão agora. E seu telefone? Meu. Aparentemente, você não é
responsável o suficiente para sair da cobertura ou ter... amigos.
Cada palavra que sai de sua boca parece outra algema, me prendendo
neste pesadelo.
Meu telefone vibra com uma mensagem de texto, fazendo todo o
sangue escorrer do meu rosto. Ele faz uma pausa no meio do discurso e o
tira do bolso. A expressão ilegível em seu rosto é mais aterrorizante do que
uma de raiva.
— Seu namorado disse oi. — Seu tom é frio. — Tão doce da parte dele
para checar você.
Namorado.
Oh Deus.
Eu disse a Ford para não me mandar mensagem. Por que ele me
mandaria uma mensagem?
— Pai — eu choramingo. — Eu sinto muito.
Ele me cala quando começa a responder a mensagem. Eu não tenho
ideia do que ele está dizendo ou o que vai acontecer agora. Minha vida
parece ter acabado. Desmoronando na minha cabeça. Eu quero morrer.
— Sr. Constantine estará aqui por volta das seis amanhã para buscá-la
para o seu encontro.
Eu olho para ele em uma mistura de alívio e confusão. — O que?
— Essa façanha que você fez hoje nunca mais vai acontecer. Não vou
colocar a reputação da minha filha em jogo porque ela gosta de se esgueirar,
mas esse acordo com a família Constantine precisa acontecer. Você vai ver o
jovem e encantá-lo como eu sei que você é perfeitamente capaz de fazer.
Esse será seu único foco. Chega de distrações.
— Sim senhor.
Ele coloca o telefone no bolso novamente antes de segurar minha
bochecha. Eu espero por um golpe, mas nada vem. De alguma forma, isso
parece pior.
— Eu vou descobrir o que você estava fazendo. Suas mentiras são
transparentes, querida. Quando eu descobrir o que você está escondendo,
determinaremos sua punição a partir daí. Até lá, você deve ficar neste
quarto até seu encontro com o Sr. Constantine.
Não totalmente presa.
Eu tenho Ty.
Minha última esperança.
Se eu conseguir que ele me ajude, poderei deixar este inferno de uma
vez por todas. Pelo menos agora, sendo banida para o meu quarto, dá-me
tempo para bolar um plano sólido.
Eu preciso.
A alternativa é assustadora demais.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
SULLY

A porta da frente do nosso apartamento bate com tanta força que


uma foto desliza da minha parede. Há apenas um idiota que fecha as portas
como se estivesse tentando quebrá-las. Mas isso não faz sentido porque
Sparrow deveria estar na faculdade. Com um gemido de irritação, eu saio da
minha cama, visto uma calça de moletom e vou até a sala para ver o que o
está irritando.
Scout e a gata do diabo estão sentados juntos em uma das poltronas
reclináveis como um rei e seu animal de estimação favorito planejando
dominar o mundo. Sparrow está parado na porta da frente parecendo um
homem com o pau em uma prensa.
— Qual diabos é o seu problema? — Eu pergunto a Sparrow enquanto
ele joga sua mochila no chão.
Seu cabelo está bagunçado como se alguém estivesse passando os
dedos por ele. Se ele não estivesse tão infeliz, eu ficaria chateado pensando
em como ele conseguiu seu cabelo assim.
Sparrow corre para a outra poltrona e cai nela. Suas feições estão
torcidas em uma carranca que me lembra quando éramos mais jovens e ele
não conseguiu o que queria. Ele está fazendo beicinho.
— Cara — eu resmungo. — Você vai nos dizer o que está acontecendo
ou nos fazer adivinhar?
Ele esfrega a palma da mão no rosto, cheira, e então me dá um sorriso
presunçoso. Eu aperto minha mandíbula, olhando para Scout. Scout está
observando Sparrow com uma expressão ilegível. Algo se forma em seus
olhos escuros – raiva, violência, ciúme.
Eu sinto todos os três como um soco no estômago.
— Então eu estava com Landry, — Sparrow diz, seu sorriso
desaparecendo. — Eu a levei para um passeio e estacionei em algum lugar
privado. As coisas ficaram quentes e pesadas. Eu estava tentando
compensar o que você fez. — Ele olha feio para Scout. — Uma coisa levou a
outra e então estávamos fodendo.
A sala fica completamente silenciosa. Até mesmo Heathen para de
ronronar.
Ele a fodeu? Ele fodeu Landry? Sério?
— Você transou com ela? — Eu assobio, fechando minhas mãos ao
meu lado. — Por que?
Sparrow zomba de mim. — Ela é nosso trabalho.
Scout faz uma bufada irônica. Embora ele seja apático sobre muitas
coisas, sua tentativa de tédio não funciona. Não com isso. Eu posso dizer
que ele está tão louco quanto eu.
Sparrow então entra em detalhes de tudo o que aconteceu esta
manhã, desde ele buscá-la até deixá-la no campus. Os sorrisos, os
momentos que compartilharam, o sexo quente. No final, quero enfiar meu
punho no nariz dele.
— Agora, eu não sei o que vai acontecer com o pai dela — Sparrow
reclama. — Não sei quando a verei novamente.
— Vou vê-la hoje à noite. — Eu sorrio quando ele me lança um olhar
desagradável. — Talvez se você tivesse mantido seu pau nas calças e ficado
na faculdade como o trabalho exigia, você não estaria nesta situação. —
Cruzando os braços, olho para ele, observando a veia em seu pescoço pulsar
de fúria. — Eu vou me certificar de que ela goze desta vez.
— Ela gozou porra — Sparrow rosna. — E se você tocá-la…
— Você vai o quê? — Eu grito, jogando meus braços no ar. — Dizer a
ela que você está mentindo para ela? Que você é apenas um terço da
pessoa que ela gosta? Acho que não.
Sparrow levanta num salto, trazendo seu nariz para o meu. — Se você
tocá-la ou falar dessa merda, eu vou te dar uma surra, Sull. Você sabe que
eu posso.
Provavelmente.
Eu me importo?
Não.
Eu balanço para ele, conseguindo socá-lo na mandíbula e pegando-o
desprevenido por três segundos. Assim que ele se recupera do golpe, ele
está em cima de mim, me derrubando com força no chão. Seu punho bate
em minhas costelas assim que eu trago meu joelho entre suas pernas. Nós
dois uivamos de dor, seguidos por uma série de xingamentos.
Em algum lugar na névoa de nossa briga, ouço vozes. Estou muito
agitado para me importar com quem possa ser. Sparrow de alguma forma
coloca a mão em volta da minha garganta, seu aperto é um torno
esmagador que me faz lutar para sugar o ar.
— Rapazes!
A voz do homem mais velho, afiada e furiosa, corta a nossa besteira.
Tanto eu quanto Sparrow congelamos, ofegantes e suando. Eu ainda quero
matá-lo, mas não com a porra do Bryant Morelli em cima de nós.
Sério?
Scout o deixou entrar?
Por que diabos ele está aqui?
— O que está acontecendo? — Bryant exige.
Sparrow se afasta de mim e se levanta. Ele não me oferece uma mão,
não que eu espere que ele faça. Esfrego meu pescoço dolorido e atiro
punhais nele com os olhos.
— Sentem-se, rapazes — instrui Bryant. — Agora.
Eu caio em uma ponta do sofá enquanto Sparrow se senta em uma das
poltronas reclináveis. Scout lança seus olhos para frente e para trás entre
nós dois, claramente divertido pra caralho com base na forma como seus
olhos escuros piscam.
Bryant, imaculadamente vestido com um terno preto, ajeita a gravata
preta e se senta no braço do sofá mais distante de mim. Ele pode estar
chegando lá em anos, mas agora, ele é o poderoso patriarca desta família.
Imagino que se tivéssemos conhecido nosso pai biológico enquanto
crescíamos – seu irmão – teríamos sido criados para respeitar o processo e
toda a vibe de chefe. Mas não fomos criados por um Morelli. Mamãe nos
criou para sermos autoconfiantes, para pegar o que queremos e nunca
aceitar um não como resposta.
— Sobre o que vocês dois estavam brigando? — Bryant pergunta, seus
olhos correndo entre nós.
— Uma garota — Scout tagarela. — A cada ano ficamos mais sábios e
mais velhos, mas algumas coisas permanecem as mesmas.
Porra, porra.
Eu discretamente mostro o dedo para Scout. Ele dá de ombros,
abraçando Heathen contra seu peito. Sparrow não vai olhar para mim,
obviamente ainda super chateado. Bem, foda-se ele. Pelo menos ele
transou.
— Qual garota? — Bryant pergunta, seu tom cortante. — Não seria a
garota Croft, seria?
Minha vez de fofocar. — Ele transou com ela. Arruinou tudo.
— Você é um idiota — Sparrow rosna. — Não é à toa que ela não
foderia você, Criança ressentida. Pelo menos eu posso ser doce de vez em
quando.
— Não é sobre você transar com ela — eu mordo de volta, — é sobre
você foder com o trabalho!
— Basta — rosna Bryant. — Scout, o que aconteceu?
Scout ri, o som sombrio e demoníaco. — Landry.
As narinas de Bryant se dilatam. Ele está perdendo a paciência
conosco. Eu não o culpo. Poucas pessoas conseguiram um lugar na primeira
fila para uma de nossas lutas. É três vezes mais desagradável do que a briga
normal, porque nenhum de nós vai recuar e mamãe não está mais por perto
para difundir a situação.
— Qual é o status dos trabalhos que eu pedi a todos vocês para fazer?
— Bryant pergunta, sua voz gelada. — Ou todos vocês esqueceram que
Landry Croft é um trabalho?
— Sparrow colocou Landry em apuros com o pai dela — Scout diz,
inutilmente. — Eles estavam mandando mensagens antes, mas ela disse a
ele para não mandar mais mensagens para ela.
— Vou tentar acalmar as coisas quando for lá esta tarde — explico
com um suspiro pesado. — Vai ficar tudo bem.
— E você? — Bryant pergunta a Scout. — Seus esforços com Ty
Constantine?
— Ele é meu melhor amigo agora — Scout impassível.
A mandíbula de Bryant aperta e ele aperta a ponte do nariz. O silêncio
se estende. Finalmente, ele olha para Sparrow, sobrancelhas franzidas e
lábios cerrados.
— Vocês três tiveram alguma coisa a ver com Alexander Croft sendo
atacado na semana passada? — O olhar de Bryant aborrece Sparrow,
embora ele esteja perguntando a nós três.
— Ele bateu nela — Sparrow cospe. — Isso não poderia ficar impune.
Bryant se levanta e seu rosto fica com um tom grotesco de roxo. Ok,
então ele está chateado. Realmente chateado. — Vocês terminaram.
Sparrow estala os dedos e balança a cabeça. — É um retrocesso. Nós
não terminamos.
— Vocês. Terminaram. — Ele aponta um dedo para cada um de nós
em rápida sucessão. — Todos vocês. Estou tirando vocês deste trabalho.
— Por que? — Eu exijo, a raiva crescente queimando meu esôfago. —
Além de hoje, as coisas estão indo bem. Ela confia em nós e não está
interessada em Constantine.
— Indo bem? — Bryant zomba. — Você atacou um homem muito
importante em Nova York que por acaso está em uma aliança com nosso
inimigo.
— Ele não viu nossos rostos — Sparrow oferece.
— Não importa — Bryant rosna de volta para ele. — Não vai demorar
muito até que ele descubra quem fez isso com ele. Vai voltar para mim.
Meus filhos vão... — Ele balança a cabeça. — Isso acaba agora. Não há mais
Ford Mann. A partir de agora, vocês voltam a morder quando eu digo para
vocês gostarem dos bons cachorrinhos que vocês são.
Cães?
Foda-se. Ele.
— Eu tenho outro local — diz Bryant a Scout. — Acenda este também,
e pelo amor de Deus, não estrague isso.
— Incêndio culposo? — Sparrow zomba. — Sério? Isso é um pouco
mais complicado do que uma simples surra, Bryant.
Bryant se aproxima de Sparrow. — Caso você tenha esquecido, é o
meu dinheiro que coloca um teto sobre sua cabeça e comida na sua boca.
Este apartamento é meu. Os carros que vocês dirigem são meus. Eu tenho a
capacidade de tirar tudo. Eu não sou a porra da sua mãe.
Sparrow olha carrancudo para ele, flexionando o músculo da
mandíbula enquanto ele tenta conter sua ira. — Lembrem-me novamente
por que nós simplesmente não levantamos e deixamos essa maldita família?
Começamos de novo?
Bryant dá um tapinha na cabeça dele. — Porque eu tenho algo que
você quer.
— Nós não damos a mínima para Ash — Scout grita, chocando o
inferno fora de mim e Sparrow. — Tente novamente.
— Ahhh. — Bryant volta seu olhar para Scout, para mim, e então
pousa em Sparrow. — Mas você se importa com sua mãe, não é?
— O que diabos isso significa? — Sparrow exige.
— Um telefonema — afirma Bryant, uma expressão presunçosa em
seu rosto severo. — Eu posso fazer tudo ir embora com um telefonema.
— Fazer o que ir embora? — Eu começo a estalar meus dedos
enquanto meus nervos tomam o melhor de mim. — O que você acha que
tem algo que nós queremos tanto? E o que isso tem a ver com a mamãe?
— Eu sei que vocês três não esqueceram que sua preciosa mãe está na
prisão. — Bryant sorri, frio e calculista. — Eu posso fazer tudo ir embora.
Vocês teriam sua mãe de volta.
Que porra é essa?
— Você teve a capacidade de tirá-la daquele inferno e ainda não o fez?
— Eu rosno, pulando para os meus pés. — Você estava esperando o quê? A
oportunidade perfeita para nós fazermos algo por você? Isso é uma merda
doentia, cara. Muito doente.
— Vou mandar uma mensagem para Scout com a localização. Ele
saberá o que fazer. — Ele me ignora completamente, sua atenção em
Sparrow. — Perder este prédio, além do último, vai prejudicar o controle do
nosso adversário sobre o distrito que ele está tentando reformar e
modernizar. Eles vão entender que não podem invadir o território Morelli no
final. Estou simplesmente dando a eles um lembrete.
— Um lembrete de que você é um pedaço de merda? — Eu cuspo,
incapaz de morder minha língua.
Bryant zomba. — Um lembrete de que minha família está no
comando. Morellis não seguem as regras... nós as fazemos.
Eu e meus irmãos o vemos sair do nosso apartamento em silêncio. Eu
sempre odiei Bryant, mas agora eu realmente quero dar uma surra nele.
Como ele ousa ter um jeito de tirar nossa mãe da prisão e esconder isso de
nós? Ele esperou a oportunidade perfeita quando precisasse usar aquele
cartão e jogou na nossa cara sem remorso.
— Vou checar Landry — digo aos meus irmãos. — Não tente me
impedir também.
Sparrow me encara, mas não diz merda nenhuma. Scout senta-se
ereto e acena com a cabeça.
— Eu e Sparrow vamos lidar com a propriedade — diz Scout. — Veja
qual foi o resultado desta manhã.
— Nós vamos continuar a vê-la? — Sparrow pergunta, franzindo a
testa. — Isso vai nos comprometer a tirar mamãe da prisão.
— O que Bryant não sabe não vai machucá-lo — Scout responde com
um encolher de ombros. — Além disso, se ele pode tirar nossa mãe da
prisão com um telefonema, quem pode dizer que outra pessoa não pode
fazer o mesmo? Há duas outras famílias mais poderosas que a dele. Os
Constantines e os Crofts. Para nossa sorte, temos uma conexão com ambos.
— Ty? — Eu levanto uma sobrancelha para Scout. — Você acha que
ele realmente nos ajudaria a tirar mamãe de lá?
— Acho que rolar e deixar Bryant ditar todos os nossos movimentos dá
a ele todo o poder — diz Scout. — Eu cansei dele puxando nossas cordas.

Sandra atende a porta, seus lábios franzidos em desgosto. Eu sei que


ela não gosta de mim, mas eu não dou a mínima. Não vou embora até ter
certeza de que Landry está bem. Eu tenho que falar com ela.
— E aí.
Seu lábio se curva. — Talvez devêssemos cancelar a aula desta tarde.
Della está sendo bastante infantil.
— Eu posso lidar com ela — asseguro a velha bruxa. — Além disso,
você sabe o quanto ela ama essa gata.
Sandra olha para a transportadora e fecha os olhos brevemente. —
Tudo bem. Assim que vocês dois se estabelecerem, farei uma pausa. Eu
poderia usufruir de uma hoje.
Ela é sempre meio fria e bruxa, mas hoje ela parece estar no limite.
Como se ela estivesse esperando que algo ruim acontecesse. Eu não gosto
disso. Especialmente depois de tudo que Sparrow me disse esta manhã.
Sandra me leva pelo apartamento tranquilo até a sala de aula. Della
está esperando lá dentro, colorindo toda a mesa. Sandra me dá um aceno de
cabeça e um sorriso que diz: — Eu avisei. — Eu aceno para ela antes de
largar a transportadora.
Della me nota primeiro, faz uma careta, e então vê Heathen, e sorri.
Pirralha. Eu me ajoelho para deixar Heathen sair. A gata diabo silva para
mim e depois foge. Della abandona sua arte e o persegue. Bom. Isso vai me
dar algum tempo. Enquanto Della tenta convencer o animal a sair do
esconderijo, eu saio da sala de aula e ando na ponta dos pés pela casa. Passo
por algumas portas abertas, mas há uma perto do fim que permanece
fechada. Meu palpite é que Landry está lá. Rapidamente, eu giro a maçaneta
e espio dentro.
Não sei o que estou esperando do quarto dela, mas não é isso. Landry
é tão interessante. Existem camadas e camadas quando se trata dessa
garota. Eu meio que esperava que seu quarto estivesse cheio de fotos ou
decoração que refletisse sua personalidade. Mas não. É elegante e chique
pra caralho para combinar com a estética do resto da cobertura, mas está
faltando seu... charme. Isso me deixa triste porque ela não pertence aqui.
Deitada encolhida na cama, enrolada em um cobertor de chenile
macio com apenas a cabeça loira aparecendo, está Landry. Ela parece tão
pequena e quebrada. Suas bochechas estão manchadas de lágrimas e seus
lábios estão inchados. Eu me pergunto se ela chorou até dormir. O mais
silenciosamente possível, fecho a porta atrás de mim e me aproximo da
cama.
— Oi querida.
Seus olhos se abrem. Eles estão injetados de chorar e desfocados do
sono. Eu pego sua mão na minha, levando-a aos meus lábios para um beijo.
— Ford — ela sussurra, seu lábio inferior balançando. — Você não
pode estar aqui.
— Venha aqui — eu instruo enquanto a puxo e puxo para mais perto.
— Não vamos nos preocupar com isso agora. Quero saber como você está.
Ela me permite arrastá-la para o meu colo. Seu rosto se aninha no meu
pescoço. O hálito quente faz cócegas na minha carne. Por um momento,
nenhum de nós diz nada. Eu a seguro perto e acaricio suas costas.
— Fale comigo — murmuro. — Diga-me o que ele disse.
Seu corpo treme. — Eu terminei com a faculdade. Ele, uh, tirou meu
telefone também.
Desgraçado.
— Ele sabe que algo está acontecendo comigo — ela continua. — Ele
não vai parar até descobrir o que é. — Ela inclina a cabeça para cima,
franzindo a testa para mim. — Você não está seguro. Nós fazendo isso não é
seguro. Ele vai descobrir que estou saindo com você e... — Lágrimas brotam
em seus olhos. — Ele vai arruinar você por minha causa.
— Ele pode tentar — meu rosno. — Não se preocupe comigo.
— Essa é a coisa, no entanto — ela sussurra. — Eu me preocupo com
você. Eu gosto de você, Ford. E depois desta manhã... — Ela morde o lábio
inferior. — Foi tão bom estar com você.
Uma ponta de ciúmes me apunhala no estômago.
— Da próxima vez será melhor — eu juro. — Você nem chegou a
gozar.
Suas sobrancelhas apertam. — Você me fez gozar nos seus dedos
primeiro. Eu gozei, amante.
Imaginar o Sparrow fodendo ela em cima de tudo o que ele fez com
ela é como a cereja em um bolo de merda. Isso me irrita. Eu não quero
pensar sobre isso.
— Venha aqui — eu rosno, segurando a parte de trás de sua cabeça e
puxando-a para mais perto. — Eu preciso beijar você.
Ela geme, suave e doce, enquanto meus lábios pressionam contra os
dela. Eu a beijo profundamente e a cada carícia, faço promessas a ela.
Promessas que nunca fiz a ninguém.
Vou te fazer feliz.
Você vai ver.
— Você tem que ir antes que ele descubra você aqui — ela murmura
sem fôlego contra meus lábios. — Por favor vá. Vejo você novamente na
quarta-feira.
Eu a beijo mais uma vez antes de descansar minha testa na dela. —
Quarta-feira. Mal posso esperar.
Embora eu esteja chateado por Sparrow por tê-la nessa situação, não
estou nem um pouco incomodado pelo fato de ser o único com acesso a ela
agora. Ele pode voltar a encontrar boceta no Tinder e Scout pode continuar
perseguindo Ash por tudo que me importa.
Quanto a mim, serei o único a ver Landry.
Finalmente, posso tê-la só para mim.
— Ford?
— Hum?
— O que você está escondendo?
Eu continuo com a pergunta dela. — Nada. Por que?
— Você não me deixou usar seu telefone esta manhã. Foi sombrio. Eu
não me importo com o que é, apenas me diga.
Ela não se importa?
Não acredito nisso nem por um segundo.
Se ela souber que eu e meus irmãos a enganamos, eu sinto que ela vai
se importar muito.
— Eu não estou escondendo nada, querida. Eu só... — Eu paro antes
de continuar com minha declaração original. — Não estou escondendo
nada.
— Você está escondendo alguma coisa — diz ela, me estudando. —
Sinto que já descobri, mas está fora do alcance. Seja o que for, está tudo
bem. Eu não estou indo a lugar nenhum.
Mentirosa. Mentirosa. Mentirosa.
— Mas — ela murmura.
— Mas.
— Mas, se for ruim, ele vai descobrir. Pelo menos me dê algum tipo de
aviso.
Eu desvio o olhar, me perguntando se eu poderia dizer a verdade a ela.
Não, não posso. Porque uma vez que ela descobre que eu sou um trigêmeo
– um dos três com quem ela tem intimidade – ela vai enlouquecer. Essa
coisa entre nós terminará tão abruptamente quanto começou. Eu sou muito
ganancioso para deixar isso acontecer.
— Ford…
Sully. Meu nome é Sully. Só uma vez eu gostaria de ouvir em seus
lábios, querida.
— O que?
— Você tem múltiplas personalidades?
Ela está falando sério pra caralho. Eu quase ri. Quase.
— O que? Não.
— Então por que você está tão diferente toda vez que eu te vejo? —
Ela tenta fugir do meu colo, mas meu abraço aperta ao redor dela,
prendendo-a em meus braços. — Ford, diga-me. O que está acontecendo
com você? Eu preciso estar preparada para o que quer que seja. É apenas
uma questão de tempo até que meu pai perceba que você é meu segredo.
Não me deixe no escuro.
Eu poderia contar tudo a ela.
Bem aqui. Agora mesmo.
Mas isso com certeza significa que não vou vê-la novamente. Ela vai se
sentir traída. Pode até contar ao pai dela sobre como nos encaixamos em
suas vidas. Agora, ela está preocupada que ele descubra.
O que ele não vai.
Mas se eu lhe contar a verdade, ele certamente descobrirá. As
repercussões dessa verdade são muito piores do que continuar essa farsa
com ela.
Nós chutamos a bunda de um cara rico. Contaminamos sua filha.
Cometemos fraude mentindo sobre nossa identidade. E a lista continua. Ele
está ligado aos Constantines, nosso inimigo mortal. Basta que Alexander
descubra nossos nomes verdadeiros e diga quem somos para os
Constantines. O inferno com certeza vai se soltar.
Scout explodiu nossas vidas da última vez. Eu serei amaldiçoado se eu
for responsável por isso desta vez.
— Eu te disse — eu me esquivo. — Eu tenho camadas.
Minha resposta me rende um olhar e seu tom é cheio de advertência.
— Ford…
— Saiba que farei tudo o que puder para ajudá-la — eu saio correndo,
esperando que minhas palavras sinceras a tranquilizem. — Apenas me
permita.
— Eu não posso nem confiar em você. — Ela recua, desgosto escrito
por todo o rosto. — Eu acho que você deveria ir.
— Querida…
— Vai! — Ela sussurra, apontando para a porta.
Agarrando seu queixo, eu a puxo para mim para mais um beijo que
nos deixa ofegantes. — Você pode confiar em mim.
— Eu realmente quero — ela sussurra, derrotada, — mas até que você
pare de esconder partes de si mesmo de mim, nunca chegaremos lá.
Eu quero prometer a ela que chegaremos lá eventualmente. No
entanto, se ela conseguisse a verdade sobre quem eu sou – quem somos –
ela perderia toda a confiança em mim, até mesmo o pouco que ganhei.
CAPÍTULO VINTE E SETE
LANDRY

Posso ir com você?


A pergunta sinalizada de Della me machuca fisicamente,
especialmente junto com a expressão suplicante que ela me dá.
— Não — papai responde por mim. — Ela está fazendo sua parte por
esta família. Você, criança, vai se comportar e fazer sua parte.
Della nem está olhando para ele, então ela não entende uma palavra.
A ansiedade dá um nó no meu estômago. Desde ontem, quando papai me
pegou na faculdade e me pôs de castigo em todos os aspectos da minha
vida, ele tem sido distante e frio. Não que eu me importe com a distância,
mas significa apenas que ele está tramando alguma coisa.
Isso me deixa doente e desconfortável.
Deixar Della com ele por algumas horas me preocupa, mas por sorte
Sandra vai ficar até tarde esta noite, tendo decidido inventariar a prata e
poli-la. Ela vai passar o tempo todo puxando o saco dele e elogiando seu
gosto requintado em talheres. Posso não gostar da bruxa, mas é menos
provável que papai faça algo horrível, como bater nela, se Sandra estiver por
perto alimentando seu narcisismo com seus elogios intermináveis.
Vou trazer-lhe alguns doces, eu sinalizo e sorrio para ela. Prometo.
A campainha toca fazendo meus nervos vibrarem em resposta. Este
"encontro" com Ty é um meio para um fim. Ele é a minha chave para esta
porta atrás da qual estou trancada. Onde Ford me distrai e complica todas
as situações em que estamos, Ty não tem esse poder sobre mim. Ele é legal
em suas mensagens, antes de papai pegar meu telefone, eram engraçadas.
Ele vai me ajudar. Ele tem que ajudar.
— Della. Quarto — papai late. — Sandra, atenda a porta.
Della não vê a boca de papai, então eu rapidamente sinalizo para ela ir
para o quarto dela. Ela não está feliz, mas obedece. Papai está muito volátil
ultimamente. Nem ela, nem eu, vamos fazer nada para detoná-lo.
Ty entra na sala um momento depois com Sandra em seus
calcanhares. Ele está bonito em um par de jeans escuros, botas pretas e uma
camiseta vermelha justa que se estende sobre seus músculos bem definidos.
Seu cabelo loiro está penteado em um topete. Fica bem nele. Com sua
mandíbula afiada, olhos azuis penetrantes e altura, ele parece bom o
suficiente para ser modelo. Ele sorri quando me vê, levando um segundo
para apreciar minha forma também.
Embora eu não esteja tão casual quanto ele, não estou de forma
alguma vestida demais. Estou usando um vestido-camisa de algodão elástico
Samantha Sung com barcos de Bali estampados no tecido e meu par favorito
de sandálias alpargatas de couro cor de café com leite Jimmy Choo que me
dão quatro polegadas e meia a mais de altura. Deixei ondas naturais no meu
cabelo hoje em vez de alisá-lo para que fique mais solto do que o normal.
— Uau — diz Ty, seu sorriso crescendo mais. — Você está ótima.
Seu elogio me deixa desconfortável, especialmente com meu pai
presente. Eu forço um sorriso e sou excessivamente educada de volta para
ele. — Você também está bonito.
Ele pisca para mim e então vai até papai. Eles apertam as mãos. Papai
lhe dá um sermão severo sobre como manter sua filha segura. Ty promete
não deixar nada acontecer comigo. Com a equipe de segurança do papai
participando desse encontro conosco esta noite, acho que nem papai nem
Ty precisam se preocupar. Estarei vigiada.
Mas eu tenho um plano.
— Aproveite sua noite, querida — papai diz, seu tom frio. — Vejo você
antes da meia-noite. — Ele caminha até mim, serpenteia o braço em volta
da minha cintura e beija minha testa.
Eu tento não me encolher ou me contorcer fora de seu domínio. É
preciso tudo em mim para ficar quieta e suportá-lo. Finalmente, ele me
solta. Um arrepio percorre minha espinha, mas eu o ignoro.
Nos despedimos do papai e a mão de Ty encontra a parte inferior das
minhas costas. Ele me guia para fora do apartamento onde quatro homens
estão de sentinela do lado de fora da nossa porta. Eles estão todos vestidos
de preto e usando os mesmos fones de ouvido. Se eu tivesse que adivinhar,
eles são ex-militares ou algo assim. Apenas o melhor para a filhinha do
papai.
Não vou escapar com esses cães de guarda respirando no meu
pescoço.
A fuga não vai acontecer esta noite, no entanto. Em breve, mas não
esta noite. Eu só tenho que trabalhar os detalhes primeiro. Isso significa ter
uma conversa particular com Ty.
Agora, ele é minha única opção. Por mais que eu deseje a ajuda de
Ford, até que ele me dê mais sobre si mesmo, não posso confiar nele. Não
com algo tão importante quanto eu e a liberdade de Della. É um soco no
peito, mas não posso arriscar. Não posso arriscar os segredos de Ford
explodindo na minha cara.
Pelo menos com Ty, o que você vê é o que você obtém. Ele é
transparente e real. Eu não sinto que ele tem alguma verdade horrível que
ele está escondendo de mim. Ty é minha única esperança.
Ty fala sobre o filme e a última vez que ele foi ver um. Ele se move
facilmente de um tópico para outro, deixando-me meditar em silêncio.
Subimos em um dos SUVs Mercedes do papai para caber todos. Deixo Ty
pegar minha mão, embora um dos seguranças estreite o olhar para a ação.
— Então isso não é assustador nem nada — Ty diz baixinho. — Sinto
como se estivéssemos em um reality show ou algo assim.
— Duas de cinco estrelas — eu resmungo.
— Só duas? — Ele me lança um sorriso bobo. — A tatuagem no
pescoço desse cara só ganha uma estrela. Sério, cara, essa merda doeu ou o
quê?
O cara de tatuagem no pescoço o ignora.
Rude.
— De qualquer forma, então como você tem passado? — Ty pergunta,
baixando a voz novamente. — A faculdade está indo bem?
Eu mordo meu lábio inferior, tentando não explodir em lágrimas. — A
faculdade está bem.
Ele franze a testa, olha para nossa comitiva, e então aperta os lábios.
Há muito mais nessa afirmação. Nós dois sabemos disso. Felizmente, ele é
esperto o suficiente para perceber isso e não investiga. Eu relaxo quando ele
começa a balbuciar sobre esse carro novo que ele quer. Sou capaz de sorrir
e acenar sem medo de chorar.
Eventualmente, chegamos ao cinema. Nosso grupo de sentinelas nos
cerca — um na frente verificando se só Deus sabe o quê e os outros três
andando atrás. Se Ty está estranho com os olhares que estamos recebendo,
ele não deixa transparecer. Ele tagarela o tempo todo em que esperamos na
fila para pagar, depois novamente no caminho para as sessões, parando
apenas o tempo suficiente para que eu lhe diga o que quero. Encomendo
um saco de Skittles para Della.
Uma vez no cinema real onde nosso filme será exibido, encontramos
um lugar no topo. Um cara se senta em cada lado de nós, deixando apenas
uma cadeira no meio. Os outros dois caras sentam-se mais perto das saídas.
Parece uma eternidade até o filme começar. Sento pacientemente
durante as prévias no início e também durante o início lento do filme.
Quando a ação começa a explodir pelos alto-falantes, eu cutuco Ty com o
cotovelo e me inclino. Ele percebe meu movimento e segura o saco de
pipoca na minha direção enquanto aproxima sua orelha da minha boca.
Aponto para a tela, fingindo perguntar a ele sobre o filme.
— Ajude-me.
Seus olhos cortam meu caminho, arregalados e preocupados. — Ok.
Bem desse jeito. OK. Eu quero chorar, mas não posso me dar ao luxo
de desmoronar agora. Meu tempo é limitado. Esta oportunidade de fuga é
tênue.
— Eu preciso de dinheiro. Alguns milhares. O mais breve possível.
— Seu pai?
— Estou nos afastando dele — sussurro. — Ele é um homem mau. Ele
nos machuca, Ty.
Sua carranca se aprofunda. — Eu posso conseguir dinheiro para você,
mas terei que acessar meu fundo fiduciário. Isso significa passar pelos meus
pais. Vou demorar pelo menos até amanhã. Talvez até no dia seguinte. É
seguro esperar tanto tempo?
Não.
Mas eu não tenho escolha.
— Você quer que eu te mande uma mensagem quando eu receber? —
ele pergunta.
— Papai está com meu telefone. — Eu engulo em seco. — Você tem
enviado mensagens de texto com ele nos últimos dois dias.
Ele pisca para mim em choque. — Ainda bem que não mandei uma
foto de pau pra ele.
Um sorriso puxa meus lábios, embora eu esteja com muito medo
agora. — Provavelmente melhor se você guardar essas fotos para si mesmo.
— Estou ferido — ele brinca. — E pensar, eu realmente pensei que
você gostava de mim.
Eu gosto dele. Como um amigo.
Talvez, em outra vida, eu até gostasse dele como ele gosta de mim.
Como mais que um amigo.
Esta é muito complicada. Além disso, meu coração está uma bagunça
para outra pessoa agora.
— Você é um dos únicos amigos que eu tenho — eu admito. — Preciso
da sua ajuda. Vou descobrir uma maneira de recompensá-lo.
— Eu não quero que você me pague de volta. Eu só quero ter certeza
de que você está bem. — Ele olha para um dos homens nos observando
atentamente e depois baixa a voz. — Vou deixar um bilhete discreto quando
tiver o dinheiro. Podemos nos encontrar e partir daí.
Agora tudo o que tenho a fazer é encontrar uma maneira de sair
novamente.
— Se eu não aparecer no local da reunião é porque ele me prendeu,
então vou precisar que você crie uma distração para que possamos sair de lá
despercebidos.
— Quer que eu espere vinte e quatro horas e depois faça minha
jogada?
— Sim. Obrigada.
Ele se aproxima e beija minha bochecha. — Tudo vai ficar bem.
Eu não posso nem me permitir ter esperança.

— Vamos levá-la para dentro, senhorita — o cara tatuado no pescoço


grunhe. — Você está dispensado.
Ty ignora a grosseria e dá um beijo de despedida na minha bochecha.
Eu posso dizer que ele quer falar e perguntar um monte de coisas, mas
sabiamente não com o nosso público. Apesar do estresse que estou
passando, gostei da companhia de Ty. Ele é leve, engraçado e carinhoso. O
pavor me enche até a borda e transborda no segundo em que entro em
minha casa silenciosa.
— Vou falar com o Sr. Croft — um dos caras diz enquanto os outros
três esperam do lado de fora do condomínio.
Eu passo por ele e vou para o quarto de Della. A porta está trancada.
Baixinho, bato na madeira, não que ela vá me ouvir de qualquer maneira. O
pânico aperta minha garganta enquanto mil e se jogam em minha mente.
E se ele estiver lá com ela?
E se ele bateu nela enquanto eu estava fora?
E se ele fez muito pior?
Começo a bater na porta e a colocar meu peso contra ela, tentando
fazer com que ela a destranque ou quebre a porta.
— Senhorita Croft — Sandra sussurra, correndo pelo corredor em
minha direção. — Você perdeu sua mente sempre amorosa?
Eu contorço a maçaneta. — Eu preciso ter certeza de que ela está
bem.
— Fazer birra não é a maneira de fazer isso. — Ela faz uma careta para
mim e, em seguida, tira uma chave do bolso. — Vá ver sua irmã. E fique
quieta antes de chatear seu pai.
Ela destranca a porta. Eu não espero ser dito duas vezes. Correndo
para o quarto de Della, eu a encontro sentada no canto cercada por todos os
seus bichos de pelúcia. Sua cabeça está abaixada enquanto ela acaricia o
pelo do gato rosa. Quando me ajoelho na frente dela, ela pula. Olhos
selvagens e em pânico encontram os meus e então o alívio a faz pular em
mim. Eu a abraço, incapaz de conter as lágrimas. Suas pequenas mãos
agarram o tecido do meu vestido como se eu pudesse deixá-la novamente.
Nunca mais.
Da próxima vez que partirmos, será para sempre.
Ela se afasta de mim e começa a Sinalizar rapidamente. Ele me
espancou com o cinto. Eu não estava ouvindo. Mas eu não o ouvi, Landry. Eu
não. Ele não usa linguagem de sinais. Lágrimas gordas rolam por suas
bochechas e ela treme. Espero que ele morra.
Eu também.
Deus, eu sinto o mesmo.
Eu simplesmente odeio que uma criança da idade dela tenha que se
sentir assim. É errado. A maneira como ele nos trata é errada. Não somos
suas filhas. Nós somos seus troféus para exibir como ele quiser e se ele está
cansado de olhar para nós, ele nos bane para nossos quartos.
Olhe para mim, eu sinalizo de costas para Sandra que ainda está na
porta. Você pode ler meus lábios?
Ela acena com a cabeça, concentrando-se com força na minha boca.
Vou nos tirar daqui. Eu murmuro as palavras, mas não deixo nenhum
som sair por medo de Sandra ouvir.
Mais uma vez, a cabeça de Della acena. As lágrimas continuam a cair
por suas bochechas rosadas. Ela sinaliza, Para sempre?
Para sempre, eu sinalizo de volta.
Podemos ter um gato de verdade? Ela sorri esperançosa para mim.
Podemos fazer o que quisermos, Della.
Tudo o que temos a fazer é esperar que Ty cumpra sua promessa.
Estamos quase saindo daqui. Quase. Mal posso esperar.
CAPÍTULO VINTE E OITO
SCOUT

Eu olho para o texto que recebi esta manhã e balanço a cabeça. Não é
exatamente o que eu tinha planejado para o dia, mas também não estou
pronto para desistir disso. Bryant nos disse para parar com esse "trabalho",
mas ele logo descobrirá que não me controla. Eu só ouço quando me
convém.
Ty: Encontre-me naquela lanchonete perto do trabalho para almoçar. Eu preciso
falar com alguém.

Enquanto espero Ty chegar ao restaurante, leio o texto novamente.


Estou curioso para ver o que o deixou todo perturbado. Eu sei que ele está
nervoso porque geralmente quando ele me manda uma mensagem, ele joga
emojis estúpidos e um monte de LOLs. Este texto é curto e direto ao ponto.
Meu telefone vibra. Desta vez, é no texto do grupo com meus irmãos.
Sparrow: Eu poderia esperar até o pai dela sair para ir ao escritório e depois
aparecer para visitá-la. Me certificar de que ela está bem.
Sully: Vou vê-la amanhã à tarde. Vou verificar então.

Sparrow envia um monte de emojis irritados e ainda mais emojis de


dedo médio. Eu deveria dar o número de Ty a Sparrow e então eles podem
falar em emojis até o fim dos tempos. Idiotas.
A campainha toca na porta e Ty entra. Desaparecendo seu sorriso
habitual. Algo sobre a seriedade em sua expressão me deixa no limite. Sem
o olhar brega em seu rosto, ele me lembra muito Winston. Eu aumento meu
aperto ao redor do meu telefone até que ele faça um som de estalo. Só
então eu me acalmo.
— E aí? — Eu aceno com a cabeça em saudação. — Você está com
problemas ou algo assim?
Ele sorri. — Foda-se. Não, eu estou um pouco enlouquecendo.
— Sobre?
— Meu encontro ontem à noite. Se você quiser chamar assim.
— Com a garota Croft?
— Sim, idiota. Landry. Eu não estou exatamente ansiando por
nenhuma outra mulher no momento.
— Rolou algo?
— Quem me dera.
Eu me irrito com suas palavras, mas depois encontro alívio nelas. —
Me conte, cara.
Ele se lança em toda a recapitulação de seu encontro. Aparentemente,
segundo ele, Landry está tentando escapar. Finjo estar chocado com a
notícia, mas não estou. O pai dela é um idiota. Um abusivo nisso. Ele tem
sorte que meus irmãos não me deixaram esmagar seu crânio inteiro quando
batemos em sua bunda na semana passada.
— Então, ele bate nela?
Ty se inclina, baixando a voz. — Ou pior. Ela está muito aterrorizada.
Tão aterrorizada que ela vai fugir.
— E você vai ajudá-la?
— Eu tenho que arranjar o dinheiro primeiro. — Ele faz uma careta. —
Meu pai está sendo um idiota sobre isso. Quer saber por que preciso de
cinco mil. Sou mimado. Blá blá blá. Então, assim que eu tiver o dinheiro, vou
de alguma forma enviar uma mensagem para ela e levá-la ao meu
apartamento.
O pensamento de Landry em seu apartamento me irrita, mas eu não
ataco. Em vez disso, mantenho uma coleira apertada nessa merda. Estou
mais inteligente agora. Especialmente ao lidar com Constantines.
— Você precisa de um empréstimo?
Ele geme. — Não, quero dizer, não é por isso que eu queria me
encontrar. Mas, sim, cara, se você está oferecendo. Quanto mais cedo eu
puder tirá-la de lá, melhor.
— Eu posso conseguir o dinheiro — eu asseguro a ele. — Por que você
queria se encontrar então?
— Desabafar. Conversar. Pedir conselhos. Eu não sei porra. — Ele
esfrega a nuca, franzindo a testa. — Eu realmente gosto dela. Mas,
basicamente, estou ajudando-a a sair. Meio estúpido da minha parte
esperar que ela namore comigo assim que estiver livre de seu pai, certo?
— Completamente estúpido — eu concordo.
— Obrigado. — Ele suspira pesadamente. — Não, você está certo. O
melhor é ajudá-la. Se algo vier disso, então isso é ótimo.
Não vai.
Caras como Ty Constantine não ficam com garotas como Landry Croft.
Ele é um príncipe dourado e ela é uma princesa espinhosa. Ele nunca
vai apelar para ela porque sua vida está muito fodida. Ela é mais uma garota
vilã. Estou certo disso.
— Ela parecia tão gostosa ontem à noite — ele murmura. — Droga, eu
tenho uma queda por essa garota.
Junte-se ao clube, idiota.
Ele encontra meu olhar e inclina a cabeça para o lado. — Chega de
mim e do meu drama. O que há com você e sua garota? Você falou com ela?
— Na verdade — eu digo, me inclinando para frente — eu tive uma
revelação.
— Uma revelação? Vamos ouvir isso.
— Gosto da ideia da minha garota, mas quando a chance veio, eu não
a escolhi.
Ty aperta os olhos como se tentasse entender minhas palavras. —
Ok... quem você escolheu?
— Alguém novo. Eu não percebi meus sentimentos por ela até precisar
estar em dois lugares ao mesmo tempo. — Eu fecho meus olhos lembrando
do medo no rosto de Ash e como eu escolhi deixá-la ali para que eu pudesse
chegar até Landry. — Eu escolhi deixá-la. A garota pela qual estou obcecado
por essa nova garota.
Ele fica boquiaberto comigo. — Não brinca? Para registrar, eu não
acho que isso seja uma coisa ruim. Sua antiga é casada. Uma situação difícil.
E a nova garota?
— Solteira.
Um sorriso transforma seu rosto. — Fale-me sobre ela.
Ela me deixou tocá-la no banheiro e gozou como uma boa princesinha.
— Bonita. Inocente. Doce. — Eu sorrio com o pensamento de saboreá-
la. — Tão doce.
— Bom para você, cara. Fico feliz que pelo menos alguém esteja tendo
sorte no departamento feminino. Talvez se eu conseguir que Landry confie
um pouco em mim, ela me deixe levá-la para um encontro de verdade.
Então, quem sabe, talvez até lá você esteja com essa nova garota. Podemos
ter um encontro duplo.
Isso não vai acontecer.
— O que acontece quando o pai dela descobre que foi você quem a
ajudou a escapar? — Eu pergunto, sentando e estalando meus dedos. —
Você acha que ele vai deixar você continuar sendo seu estagiário?
O sorriso estúpido em seu rosto é apagado.
— Ele não pode descobrir — Ty resmunga. — O que, você me
emprestando o dinheiro, na verdade funciona melhor. Menos chance de ele
rastrear algo de volta para mim.
Ty finalmente para de falar por tempo suficiente para nos pegar alguns
sanduíches. Enquanto ele está fora, penso em Landry.
Seus gemidos ofegantes.
A maneira como seu corpo se apertou em torno dos meus dedos.
Como sua boca era bonita e saborosa.
Meus irmãos estão tão cativados por ela. Há algo diferente em Landry.
Algo viciante e tentador. Ela vive com um monstro, então é natural que mais
monstros gravitem para ela.
Obviamente não é a primeira vez que nos fixamos na mesma mulher. É
um hábito que parece que não conseguimos nos livrar. Mas, ao contrário do
passado, onde acabamos brigando pela mulher, desta vez eu tenho um
plano.
Ty volta e me passa meu sanduíche. É uma pena que ele seja um
Constantine. Eu não odeio completamente o cara. Por causa de seu
sobrenome, porém, eu sempre não gostarei dele.
— Quer ir à balada neste fim de semana? — Ty pergunta com a boca
cheia de pão. — Enquanto espero por Landry, posso me divertir um pouco.
— Sim cara. Está marcado.
Ty diz um monte de nada. Não requer muito envolvimento além da
risada ocasional, aceno de cabeça ou exclamação. Principalmente, acho que
ele fala para se ouvir falar.
Tenho pena do cara.
Eu realmente tenho.
Ele acha que vai salvar a garota de seu monstro. Pessoas como ele não
são heróis. Eles não são implacáveis o suficiente. Os que chegam à frente
são aqueles que não têm medo de cortar a concorrência na altura dos
joelhos.
Seu primo Winston é desse tipo.
Como eu.
Disposto a fazer o que for preciso para conseguir o que quer. Ty não
passa de um sonhador. Um observador, não um executor.
Eu observo até a hora certa.
E então eu faço absolutamente tudo ao meu alcance para conseguir
exatamente o que eu quero.
Ivy e Ash e inúmeros outras escorregaram por entre meus dedos.
Quando eu colocar minhas mãos de volta em Landry, ela não irá a lugar
nenhum.
— Desculpe pela sua sorte, cara — eu digo, sorrindo para Ty, embora
eu não tenha ideia do que diabos eu o interrompi dizendo.
Ele me dá um olhar estranho e depois ri. — Você é tão estranho, cara.
— E você estava desesperado pra caralho se você me escolheu, de
todas as pessoas, como seu amigo.
Nós dois rimos, mas um de nós não está brincando.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
LANDRY

Isso está acontecendo.


Está realmente acontecendo.
Pego a revista de entretenimento de Sandra e tento jogar com calma.
A nota adesiva na frente faz um bom trabalho em mascarar o verdadeiro
motivo disso.
Landry,
Ver um filme com você foi divertido.
Eu quero te ver de novo.
Avise-me se algo lhe interessar e marcaremos um encontro.
— Ty
— Ele quer ir a outro encontro — eu digo, sorrindo para ela. — Eu me
pergunto se papai vai me deixar.
Ela me encara por um longo e penetrante minuto, mas finalmente dá
um aceno de cabeça. — Isso será entre você e ele. Preciso ter certeza de que
estarei disponível em qualquer dia, porque sei que ele prefere que eu fique
para cuidar de Della na sua ausência.
Eu não deixo a culpa dela me fazer vacilar. Ela se inscreveu para este
trabalho. De jeito nenhum eu trabalharia de bom grado para aquele homem.
— Estou voltando para o meu quarto agora — digo a ela, fingindo
decepção.
— Para o melhor. Seu pai não vai gostar de vê-la por aí quando
expressou seus desejos de que você ficasse no seu quarto.
— De castigo para sempre. — Eu estremeço. Se ela soubesse que isso
era muito mais do que um simples castigo. Ele arrancou minha vida
completamente das minhas mãos e eu não acho que ele esteja planejando
devolvê-la.
Eu tento não correr para o meu quarto para não chamar atenção
desnecessária. Uma vez que a porta está fechada e estou sentada na minha
cama, abro a revista, procurando minha verdadeira mensagem oculta.
Encontrei-a em um anúncio da Starbucks escrito ao longo da borda interna
da página em uma escrita limpa e precisa que quase poderia passar por uma
fonte datilografada.
É um endereço e outra nota que diz, junto com 5k e um carro de fuga.
Ele até desenha um rosto piscando que me faz sorrir. Mesmo que eu
provavelmente tenha o endereço memorizado até o final da noite, eu ainda
guardo a revista inteira na minha mochila da faculdade. Como papai nunca
encontrou nada de interessante na minha bolsa e acabou confiscando meu
computador mais tarde, ele não vai vasculhar minha bolsa. Eu também
preencho com algumas mudas de roupa, uma foto emoldurada da mamãe e
alguns produtos de higiene pessoal.
Minha bolsa, identidade e qualquer outra coisa que me ligue a esta
vida fica aqui quando chegar a hora.
Preciso ter certeza de fazer uma mala para Della que possamos pegar
e ir também. Ela ama seus bichos de pelúcia, então fazê-la escolher apenas
um vai ser difícil. Eu sei que, no começo, ela ficará confusa, mas assim que
sairmos do controle do papai, ela ficará muito mais feliz. Vou encontrar uma
maneira de comprar muito mais bichos de pelúcia para ela.
Estaremos seguras.
A liberdade está tão perto que quase posso prová-la.
Eu gostaria que houvesse uma maneira de agradecer a Ty por fazer
isso por mim. Tem que haver um jeito. Talvez, quando eu e Della estivermos
em algum lugar, eu possa encontrar uma maneira de retribuir. É o mínimo
que posso fazer por nos dar esta oportunidade.
Estou tão pronta para deixar esta vida para trás.
Para começar de novo, feliz e sem medo.
Você não verá Ford novamente.
Pensamentos de Ford entram em meu cérebro contra minha vontade.
Não quero pensar nele agora. Por mais que nos sintamos atraídos um pelo
outro e tenhamos essa conexão inegável – mesmo quando ele está sendo o
Sr. Crazy Pants – eu não posso ir lá com ele. Ele é uma distração longe do
meu propósito.
Salve Della.
Salve nós duas.
Porque se ficarmos aqui por muito mais tempo, eu me pergunto
quantas linhas mais papai vai cruzar. Como isso pode nos mudar
irrevogavelmente de alguma forma.
Tudo o que importa agora é que temos uma saída.
No segundo que pudermos fazer uma pausa para isso, com certeza o
faremos.

Estou assustada com o livro que estou lendo quando ouço gritos. Os
gritos do papai especificamente. Eu abandono meu livro para me arrastar
até a porta do meu quarto. Como ele ainda está gritando, eu saio do meu
quarto despercebida, mesmo quando minha porta range.
No corredor, o gato de pelúcia rosa de Della está no meio do chão,
descartado e esquecido. Eu dou a volta e espio em seu quarto. Vazio. Meu
coração salta na minha garganta porque eu poderia apostar dinheiro que ele
está gritando com ela.
Aguenta aí, irmãzinha.
Vou nos tirar daqui em breve.
Sigo o som de sua voz até a sala de estar. Papai está de pé sobre Della,
elevando-se sobre ela como um gigante furioso. Ela desafiadoramente olha
para ele como se pudesse aguentá-lo.
Ela não pode.
Ele é muito grande, cruel e implacável.
— Você estragou tudo, sua idiota de merda! — ele berra, gesticulando
para seu computador na mesa de centro.
A sala cheira a sua bebida cara. Uma garrafa inteira foi derrubada e
derramada no laptop. Ela pinga no chão fazendo um som de tamborilar que
pode ser ouvido entre os ecos dos gritos de papai.
— Você deveria morrer, não ela — ele rosna. — Você levou minha
esposa porque você é uma maldita parasita. Agora você está tentando sugar
a vida de mim também!
Eu sou grata que ela não pode ouvir uma palavra do que ele está
dizendo a ela.
Ela não está mais olhando para ele também, mas percebe que eu me
aproximo. O alívio de me ver é um soco na garganta. Toda a sua bravura se
foi e ela olha para mim para ajudá-la a sair dessa bagunça.
— Olhe para mim quando estou falando com você! — Papai grita,
agarrando seu rosto.
Com um empurrão bruto, ele a derruba no chão. Ela bate a cabeça na
mesinha.
— Pai! Pare! — Eu grito, correndo para me colocar entre os dois.
Sua mão balança para longe, atingindo-me na lateral do rosto. Eu
tropeço para trás na mesa de café e caio entre a mesa e o sofá. A dor
dispara do meu cóccix até minha espinha com o impacto.
Della está de pé novamente, lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto
seus olhos procuram os meus, procurando ter certeza de que estou bem.
Eu começo a me levantar, ignorando a dor latejante na minha bunda,
quando papai está à espreita novamente atrás dela. Ela corre para trás até
ficar presa contra uma parede.
— Eu poderia quebrar seu pescoço e ninguém iria notar ou se importar
— ele ameaça. — Você não passa de um maldito incômodo!
Ele alcança seu pescoço, sua grande mão se fechando em sua garganta
pequena e delicada. Se ele pegar ela, ele vai matá-la. Eu sinto isso nos meus
ossos.
Eu nunca vou deixar isso acontecer.
Agarrando a garrafa vazia, vou fazê-lo pagar. Balançando o mais forte
que posso, eu o prego na parte de trás da cabeça. Ele cai com força, com um
gemido de dor, derrubando Della com ele.
Eu olho para baixo em choque enquanto o sangue escorre da parte de
trás de sua cabeça.
O que eu fiz?
Eu o matei?
Ele faz outro som de dor.
Não está morto, o que significa que temos que ir. Agora é a nossa
oportunidade.
— Della! — Eu agarro seu braço e a arrasto para fora da forma imóvel
de papai.
Embora ela esteja ficando maior, ainda posso carregá-la. Já que ela
está tremendo tanto que seus dentes estão batendo, eu nem tento fazê-la
andar. Eu a carrego pelo corredor até o meu quarto para pegar minha bolsa.
Mais cedo, quando pude, entrei no quarto dela para pegar algumas de suas
roupas para colocar na minha bolsa. Decidi que uma mala era mais fácil de
lidar com pressa do que duas.
Estou feliz por ter planejado isso porque não pensei em como eu
poderia ter que carregar Della.
No caminho de volta, eu pego seu gato de pelúcia rosa, correndo para
a porta. Papai ainda está no chão da sala. Eu não vou ficar por aqui para ver
se ele está bem ou não.
Eu tenho que sair daqui.
É agora ou nunca.
Milagrosamente, chegamos ao saguão do prédio sem incidentes. Uma
vez do lado de fora, começo a andar pela rua em direção a um cruzamento
movimentado. Está escuro, mas a cidade está cheia de gente indo jantar.
Muito facilmente, eu me misturo com a multidão.
Meu coração está acelerado, mas tento manter a calma. Eu não vou
relaxar até que estejamos longe, muito longe do aperto monstruoso de
papai.
Tudo isso seria muito mais fácil se eu pudesse usar meus cartões. Mas,
como deixei tudo isso em casa e não tenho dinheiro, tenho que fugir à moda
antiga.
A pé.
Ty mora a vários quarteirões de distância. É uma caminhada longa e
árdua, especialmente carregando uma criança agora adormecida, mas sigo
em frente. Mesmo quando meus pés latejam tanto que eu quero chorar.
Mesmo quando me perco. Mesmo quando alguns caras dizem coisas
assustadoras para mim que me fazem correr. Quando finalmente chego ao
endereço do prédio onde ele mora, quase caio de joelhos de alegria.
Tão perto da verdadeira liberdade.
Durante a última hora de minha jornada, constantemente tive que
olhar por cima do ombro. A cada segundo que passa, o medo sobe cada vez
mais alto como uma maré crescente ameaçando me afogar. Se ele me
pegasse agora, quando eu estou tão perto de escapar, eu provavelmente
morreria da derrota.
Eu estaria decepcionando Della e eu.
O prédio em que Ty mora é legal. Quase tão bom quanto o nosso. Faz
sentido considerando que ele é um Constantine. Eu me certifico de manter
minha cabeça baixa e não parecer muito desconfiada.
Uma eternidade de espera no elevador para seu andar termina com
um ding agudo.
Eu exalo o estresse da noite e respiro de alívio. Nós conseguimos. Nós
realmente conseguimos. Continuo esperando papai pular em uma esquina e
nos arrastar de volta para casa.
A porta do apartamento de Ty parece meu último obstáculo final da
noite. Vou descansar e reagrupar. Então, amanhã, estarei na próxima etapa
da minha jornada.
Desaparecer com Della.
Bato na porta e reposiciono a forma adormecida de Della. Ela está
mais pesada do que o normal agora que está completamente desmaiada e
não está se segurando como antes. Estou exausta e meus músculos estão
em chamas. Eu poderia dormir por dias, embora eu não tenha dias.
Passos batem em minha direção do outro lado e então a trava se solta.
Ty abre a porta e dá uma longa olhada em mim.
Mas não é Ty.
Não, olhos azuis preocupados não me encaram. Não há sorriso ou
cabelo loiro escuro brilhante. Sem bondade ou preocupação ou mesmo
alívio.
Estou olhando para a escuridão.
Vazio.
Profundo e sem alma.
Está me sugando embora eu esteja mentalmente implorando para
meus pés desgastados correrem.
Camisa preta. Calça preta. Botas pretas. Alma negra.
— F-Ford? — Eu sufoco em confusão. — O que você está fazendo na
casa de Ty?
Eles são amigos?
Olhos escuros, como chocolate derretido, piscam para mim. Há algo
sinistro na maneira como ele sorri. Triunfo. Eu posso ver isso escrito em
todo o seu rosto bonito. Ele conseguiu algo. Eu tinha visto o mesmo olhar
em seu rosto quando ele me tocou no banheiro da faculdade, brutal e
cruelmente, e ainda assim eu implorei por isso. Gozando por todos os seus
dedos descaradamente.
— Eu não entendo — murmuro.
Mova seus pés, garota. Corra!
— Você irá em breve. — O timbre profundo de sua voz reverbera
através de mim. — Entre.
Eu tento dar um passo para trás, mas meus músculos doloridos não
me permitem me mover. Então ele dá o passo para mim, agarra uma mão
possessiva na minha nuca e me guia para dentro. Meu coração salta dentro
do meu peito. Quero me sentir aliviada por estar na presença de Ford, mas
algo está errado. Algo está realmente errado.
Ele tem segredos.
Sombrios.
Doentios.
Eu sei isso. Eu sempre soube disso. Eu simplesmente nunca os entendi.
Nunca poderia fazer sentido do que eles eram.
A porta se fecha atrás de mim com um clique definitivo. Isso envia um
arrepio na minha espinha. Talvez, se eu o mantiver calmo por tempo
suficiente, eu consiga fazer o Chevy vir à tona. Eu quase choro com o
pensamento dele me segurando agora mesmo através da ansiedade e do
estresse avassalador. Eu preciso disso. Eu preciso dele.
— Quem estava na porta?
A voz é de Ford, mas ele não está falando. Ele simplesmente me
observa com expectativa. Como se estivesse esperando uma bomba cair e
ver minha reação. Meu olhar encontra o homem entrando no espaço atrás
dele.
Ty?
Garota estúpida, estúpida. Você sabe mais.
Ford fica boquiaberto comigo. Confuso. Horrorizado.
Ele tem um gêmeo. Ele tem um irmão gêmeo. Faz sentido agora.
Todas aquelas vezes em que ele mencionava seu irmão...
Mas isso significa que ele está brincando comigo.
Mentindo na minha cara.
Trocando com o irmão.
Eu vou passar mal. Um gemido baixo rasteja pela minha garganta.
Estou paralisada. Não consigo me mexer e não sei o que dizer. A traição é
uma facada no meu peito – esfaqueando uma e outra vez, perfurando meus
pulmões e meu coração.
Eu não consigo respirar.
Eu estou tonta.
— Sully! — um dos Fords grita.
A princípio, acho que ele está falando com quem está na minha frente,
mas depois o impensável acontece. Outro Ford aparece. Isso é uma piada.
Estou sonhando. Estou presa em algum pesadelo horrível.
São trigêmeos.
Terríveis e aterrorizantes trigêmeos.
— Que porra você fez, Scout? — aquele que acabou de entrar, e que
eu acho que é Sully, rosna. — Que porra você fez?
Sully se aproxima de mim e começo a balançar a cabeça. Lágrimas
escorrem pelo meu rosto, mas não consigo detê-las.
— Ei, querida — diz Sully. — Deixe-me pegar Della. Parece que você
está prestes a cair.
Ele estende a mão para ela, mas meu aperto fica mais forte.
— Não toque nela — eu grito. — Não me toque também. Onde está
Ty?
— Ty. — Scout, o maligno, sorri. — Ele está em casa, eu acho.
Ele está brincando comigo. Eu não sou nada além de um jogo. Um
brinquedo maluco.
— Sparrow — Sully rosna para o outro irmão. — Saia dessa. Temos
que lidar com isso.
Sparrow, com olhos como xarope de bordo escuro, me encara com um
misto de vergonha e decepção. Como se ele tivesse desistido de algo. Eu
quero sacudi-lo e bater nele.
Sully está mais perto agora. Quando ele agarra Della, não tenho forças
para mantê-la em meus braços. Eu assisto, impotente, enquanto ele a puxa
para longe de mim e desaparece com ela.
Não.
Isso não pode estar acontecendo.
Scout agarra minha mochila e a arrasta para fora do meu corpo antes
de jogá-la no chão.
— Chevy — eu sussurro, implorando a Sparrow. — O que está
acontecendo? Por que você está fazendo isso?
Ele fecha os olhos e abaixa a cabeça.
— Não se preocupe, princesa espinhosa, nós vamos cuidar muito bem
de você — Scout diz, sua voz retumbante atrás de mim. — Seja uma boa
menina e não grite.
Eu grito.
Mas no segundo em que o faço, sua mão se fecha sobre minha boca
enquanto a outra se prende em volta de mim, prendendo-me a ele. Eu chuto
e luto, lutando contra esse homem que está me mantendo cativa, que me
atraiu aqui usando Ty de alguma forma.
Meu pé se conecta com algo, ou alguém neste caso. Os olhos de
Sparrow voam para os meus. Espero que ele ataque seu irmão e me resgate
porque dormimos juntos. Nós tínhamos uma conexão. Ele se importa
comigo.
Mas ele não faz nada.
Me observa enquanto seu irmão me arrasta para longe chutando e
lutando com tudo em mim. O mancar de Scout é pronunciado, mas não faz
nada para deter sua força. A última coisa que vejo é Sparrow virar as costas
para mim. Então, com uma batida sinistra, Scout fecha uma porta entre nós.
Estou presa com um monstro.
Novamente.
Notas
[←1]
Quando você limpa a bunda depois de cagar e o papel higiênico sai sem manchas.
[←2]
A Língua de Sinais Americana (ASL) é uma língua completa e natural que possui as mesmas
propriedades linguísticas das línguas faladas, com gramática diferente do inglês. ASL é expressa
por movimentos das mãos e da face.
[←3]
Um programa de TV com um elenco cheio de perdedores com QI baixo.
[←4]
É a abreviação de Chevrolet, seria um trocadilho com o nome Ford

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