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BEIRA
Manual de Direito Administrativo
UNIDADE I
1. DIREITO ADMINISTRATIVO-CONCEITO1
A juventude
É um direito bastante jovem, nasceu com a revolução francesa, foi sobretudo o produto das
reformas profundas que, a seguir a primeira fase revolucionária foram introduzidas no ano VIII
pelo então I cônsul Napoleão Bonaparte.
1
AMARAL ,Diogo Freitas do. Curso de Direito Administrativo. Vol I.PP162-177
2
Independente, diferente dos demais pelo seu objecto e pelo seu método, pelo espírito que domina as suas normas,
pelos princípios gerais que as enforma.
3
Regula a relação entre o particular e o estado. O estado assume o papel de supremacia, aqui distingue-se do direito
privado em que as partes encontram-se em pé de igualdade.
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 1
Manual de Direito Administrativo
Porque cumpre comparar com o Direito Civil, que nasce na Roma Antiga, e tem hoje atrás de Si
uma tradição milenária, nesta comparação, e é ela que verdadeiramente nos interessa, o direito
administrativo faz figura de muito jovem.
Essa juventude permite maior audácia na procura de soluções novas dentro de um sistema que
vai amadurecendo, mais que está longe de começar a envelhecer.
Desde logo, porque em França o Direito administrativo nasceu por via jurisprudencial
De facto muito dos conceitos e princípios do direito administrativos ainda hoje reflectem a sua
origem jurisprudencial, e muitos problemas que noutros ramos de Direito, nomeadamente no
Direito Civil, são analisados numa óptica legislativa, no direito administrativo aparecem
logicamente numa óptica jurisprudencial é o caso por exemplo dos “ vícios de acto
administrativo”, que ainda hoje, em franca, são apresentados pela maioria dos autores como
“condições de interposição do recurso contencioso”.
A autonomia,
O direito administrativo é um ramo autónomo do Direito, diferente dos demais pelo seu objecto e
pelo seu método, pelo espírito que domina as suas normas, pelos princípios gerais que as
enforma.
Codificação Parcial
Sabe-se que o código é um diploma que reúne de forma sintética, científica e sistemática as
normas de um ramo do direito ou, pelo menos de um sector importante de um ramo de direito.
Em Moçambique não existe uma codificação global do direito administrativo ou, se quer, da sua
parte geral. Um diploma a que se chamaria oficialmente código administrativo. O código
administrativo apenas codifica uma parcela.
EXERCÍCIOS DA UNIDADE I
Pedrito acabava de celebrar um contrato para explorar uma concessão de Jogos de Fortuna ou
azar. O respectivo casino acabou sendo afectado pelo incêndio, ficando desta feita totalmente
destruída. Quid júris?
UNIDADE II
2. ADMINISTRAÇÃO
Acto Administrativo como sendo” o acto jurídico unilateral praticado, no exercício do poder
administrativo, por um órgão da administração ou por outra entidade publica ou privada para
tal habilitada por Lei, e que traduz a decisão de um caso considerado pela Administração,
visando produzir efeitos jurídicos numa situação individual e concreta” 4.
Ao passo que, Marcello Caetano vem a definir acto administrativo como sendo “conduta
voluntária de um órgão da administração que, no exercício de um poder público e para a
4
AMARAL, Diogos Freitas do.Curso de Direito Administrativo, Vol II, Almedina, Coimbra 2011.pp.238-239
prossecução de interesses postos por lei a seu cargo, produza efeitos jurídicos num caso
concreto”. 5
E quanto a lei vigente (CRM) ela simplesmente faz menção ao controle da legalidade dos actos
administrativos pelo tribunal administrativo e não apresenta qualquer que seja o conceito de acto
administrativo.art.228 n˚2.
Mais a Lei 14/2011, de 10 de Agosto6 no seu glossário vem a estabelecer o seguinte acerca do
conceito de acto administrativo:
“É a decisão de um órgão da administração que, nos termos do direito público, visa produzir
efeitos jurídicos numa situação individual e concreta”.
2.1.CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
Conceito
Dir-se-á que há centralização, sob o ponto de vista político-administrativo, quando os órgãos das
autarquias locais sejam livremente nomeados ou demitidos pelos órgãos do Estado, quando
5
RIVERO, Jean, Direito Administrativo.1989.p-103
6
Revoga a RAU (reforma administrativa ultramarina)
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 6
Manual de Direito Administrativo
A centralização tem, teoricamente, algumas vantagens: assegura melhor que qualquer outro
sistema a unidade do Estado; garante a homogeneidade da acção política e administrativa
desenvolvida no país; e permite uma melhor coordenação do exercício da função administrativa.
EXERCICIOS DA UNIDADE II
1- Atente a afirmação: “define-se o acto administrativo como sendo, acto jurídico bilateral
praticado, no exercício do poder administrativo, por um órgão da administração ou por
outra entidade pública ou privada não habilitada para tal por Lei, e que traduz a decisão
de um caso considerado pela Administração, visando produzir efeitos jurídicos numa
situação individual e concreta.
2- Existe alguma relação entre a centralização e a concentração? Descentralização e a
desconcentração?
3- Enumere as vantagens e Inconveniências da centralização e descentralização.
UNIDADE III
Diferentemente, são actos secundários, aqueles que versem sobre um acto primário
anteriormente praticado‟. A existência destes actos depende da preexistência dos actos primários,
ou seja, os actos secundários regulam e tem por objecto situações criadas por actos primários.
Dentro da classe de actos primários há que distinguir entre actos impositivos e actos permissivos.
Os actos impositivos são aqueles que determinam a alguém que adopte uma certa conduta ou
que colocam o seu destinatário em situação de sujeição a um ou mais efeitos jurídicos. Ou seja,
estes actos implicam a sujeição de determinada pessoa a uma certa conduta da qual resultam
efeitos jurídicos.
A CRM impõe, à actuação da administração baseada neste tipo de actos, o pagamento de uma
indemnização pecuniária, isto é, a apresentação de uma contrapartida ao particular afectado.
Existem três grandes espécies de actos primários impositivos e são eles: os actos de comando, os
actos punitivos, os actos ablativos (Ex.: expropriação; requisição) e os juízos.
No que aos actos permissivos diz respeito estes são aqueles que possibilitam a alguém a
adopção de uma conduta ou a omissão de um comportamento que de outro modo lhe estariam
vedados‟, ou seja, são actos que dependem de uma autorização, de uma permissão para a sua
efectivação.
Por sua vez, estes actos subdividem-se em actos que conferem ou ampliam vantagens
(autorizações, licenças, concessões, delegações, admissões e subvenções) e em actos que
Os actos integrativos são aqueles que tem como função completar actos administrativos
anteriores. Fazem parte desta categoria de actos: a aprovação (sem a qual um acto já praticado
será ineficaz), o visto (reconhecimento de determinado acto sem efectivação de juízos de valor),
o acto confirmativo (reiteração de determinado acto) e a ratificação-confirmativa (confirmação
efectivada por determinado órgão competente de um acto praticado por um órgão
excepcionalmente competente).
Por sua vez, os actos desintegrativos reportam-se a actos cujo conteúdo é contrário ou oposto ao
de um acto anteriormente praticado. Difere, nesta medida, dos actos integrativos e da revogação.
Relativamente aos actos desintegrativos:
UNIDADE IV
7
Amaral, Diogos Freitas do.apud.Mcello Caetano, Curso de Direito Administrativo, v II P.649
8
Amaral, Diogos Freitas do, ob.cit, v II P.650
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 12
Manual de Direito Administrativo
3.1.A revogação
O contrato administrativo pode extinguir-se por revogação, ou seja, por acordo mediante o qual
as partes extingam o contrato (art.331). Este acordo pode ser celebrado em qualquer momento e
deve ele próprio fixar os efeitos associados à extinção do contrato. A revogação não pode
revestir forma menos solene do que aquela que a celebração do contrato revestiu.
Exercícios Unidade IV
1- Quais os elementos extintivos do Contrato Administrativo?
9
Amaral, Diogos Freitas apud. Sérvulo Correia,ob.cit.p.653
10
Amaral, Diogos Freitas apud.Paulo Otero, ob.cit.p.653
UNIDADE V
4. Procedimento Administrativo
Noção
O princípio da unidade sustenta que o procedimento é um processo único que tem um começo e
um fim (deve resolver-se independentemente da sua forma inicial).
O princípio da contradição defende que a resolução do procedimento tem por base os factos e os
fundamentos de direito, o que é feito pela observância dos factos e das provas.
O princípio da imparcialidade garante que a acção terá lugar sem margens para favoritismos ou
inimizades. Os funcionários devem abster-se caso tenham interesses pessoais no caso, algum
11
Segundo Jorge Miranda (2010-326) define o procedimento administrativo como sendo a sequência juridicamente
ordenada de actos e formalidades tendentes à preparação da pratica de um acto da administração na sua execução.
Por fim, o princípio da oficialidade defende que o procedimento deve ser desenvolvido de ofício
em todos os seus trâmites.
4.1.Espécie de procedimento
Tradicionalmente, enunciam-se duas classificações dos procedimentos administrativos. Por um
lado, e atendendo á questão de saber quem toma a iniciativa de desencadear o inicio do
procedimento (art.54 do CPA), temos:
Procedimento de iniciativa pública
Procedimento de iniciativa particular.
Procedimentos Decisórios;
Procedimentos Executivos.
Tem por objecto preparar a prática de um acto administrativo: Por exemplo, os casos dados como
exemplo na classificação anterior.
Tem por objecto executar um acto administrativo ou seja, e como transformar o direito em facto.
Ex: o procedimento pelo qual a administração promove, pelos seus próprios meios, a demolição
de um prédio que ameaça ruína quando, ordenada a demolição ao prédio, este a não tenha
efectuado.12
Aquele que é regulado pelo próprio CPA- e que deve ser seguido em todos os casos em que não
haja legislação especial aplicável.
São como o nome indica, os regulados em leis especiais (é o caso por exemplo de, do
procedimento de formação de contrato administrativo de empreitada de obras publicas).
12
AMARAL, Diogos Freitas do.Curso de Direito administrative.vol II.P289-309
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 16
Manual de Direito Administrativo
Excepção: Não existe o dever legal de decisão quando, há menos de dois anos, contados da data
de apresentação do requerimento, o órgão competente tenha praticado acto administrativo sobre
o mesmo pedido, formulado pelo particular, com os mesmos fundamentos – art. 9º, nº 2 CPA.
Pretende-se, por um lado, que a Administração se pronuncie sempre que para tanto é solicitada
pelos particulares e, por outro, facilitar a protecção destes particulares em face de omissões
administrativas ilegais, designadamente garantindo a formação do ato tácito.
Assim, O procedimento extingue-se pela tomada da decisão final ou pelas outras formas
previstas nos artigos 110º e seguintes – art. 106º CPA.
5.4.2. Decisão Expressa (art. 107º) – O órgão competente resolve todas as questões pertinentes
suscitadas durante todo o procedimento.
Para o particular a decisão produz efeitos a partir do momento em que a mesma lhe é notificada.
5.4.3. Decisão Tácita – Ocorre nos casos em que a lei atribui determinados efeitos ao silêncio
da Administração.
Por vezes a administração nada faz ou nada diz acerca dos assuntos de interesse publico que tem
entre mão, tal atitude pode provocar reacções por parte de opiniões publica, mas não tem
normalmente qualquer consequência jurídica.
Se administração nada disser, está violar a lei, está ofender um direito subjectivo de um cidadão.
Mas como a garantia do cidadão no direito administrativo se traduz no direito de recorrer
contenciosamente dos actos praticados pela administração, se esta nada disser-se portanto não
praticar nenhum acto, como é que o particular poderá recorrer, de que decisão ele irá interpor
recurso?
Aqui o silencio vale como manifestação tácita da vontade da administração num sentido
positivo, dai a designação de acto tácito positivo.
Se não fosse assim dificilmente haveria uma decisão de que o interessado pudesse recorrer para o
tribunal.
Ora, com a figura do acto tácito negativo, logo que passe o prazo legal sem haver resposta da
administração, considera-se indeferido o pedido do particular, pelo que esse poderá recorrer
contenciosamente contra o indeferimento (tácito) da sua pretensão.
Ou o indeferimento da pretensão do particular foi legal, caso em que o tribunal dará razão a
administração, ou foi ilegal, e neste caso o tribunal da razão ao particular, anulando o acto tácito.
E das anulações contenciosas resultará, nesta segunda hipótese, o dever da administração
satisfazer cabalmente a pretensão apresentada pelo particular.
A falta de decisão final expressa sobre uma pretensão dirigida a órgão competente confere ao
particular o direito de presumir indeferida a sua pretensão, a fim de poder fazer uso dos meios
legais de impugnação. O indeferimento tácito ocorre findo o prazo especialmente previsto para a
decisão ou, na falta de previsão, em 90 dias.
Este prazo conta-se da data de entrada do requerimento – se a lei não exigir formalidades
essenciais para a fase preparatória da decisão ou do termo do prazo para a conclusão dessas
formalidades ou ainda do conhecimento da conclusão dessas mesmas formalidades, se esta
ocorrer antes do prazo fixado.
- Outros casos expressamente previstos em lei especial, designadamente aqueles que resultam de
proposta dos serviços públicos aos órgãos competentes, nos termos do artigo 5º do decreto-lei nº
135/99.
13
Ver também as anotações da pagina 364 do manual acima citado, no que concerne as vantagens de indeferimento
tácito.
UNIDADE VI
O estado de necessidade - Tal como sucede noutros ramos de Direito, como o Civil, Penal e
Constitucional, ocorre situações nas quais a lei permite à administração uma actuação imediata e
urgente com vista a salvaguarda de bens essenciais, mesmo que para isso os agentes
administrativos tenham de ignorar o respeito de regras estabelecidas para circunstâncias normais.
Este facto pode ser feito de imediato no local, sem procedimento escrito, sem requisição mesmo
até sem audiência prévia dos interessados. Os actos administrativos praticados em estado de
necessidade, são considerados validos14, tais actos são considerados validos desde que os seus
resultados não pudessem ter sido alcançados de outro modo, mas os lesados terão de ser
indemnizados nos termos gerais de responsabilidade em termos que o levam a incluir no âmbito
do ordenamento jurídico, desta feita, o estado de necessidade é considerado como causa de
exclusão de ilicitude.
14
AMARAl. Freitas do: Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra.
A Urgência administrativa, são todas as situações da vida real em que, pela sua especial
gravidade ou perigosidade, a Administração publica tem o poder legal de efectuar uma
intervenção imediata, sob pena de, se for mais demorada, se frustrar a possibilidade de atingir os
fins de interesse público postos por lei a seu cargo.
UNIDADE VII
7.1. Noções
São as exigências que a lei faz relativamente a cada um dos elementos deste para que o acto
possa ser valido, neste caso os sujeitos, forma e formalidades, conteúdo, objecto e fim.
a) Que o acto que se inscreva no âmbito das atribuições da entidade a que pertence o órgão
seu autor;
b) Que o órgão tenha competência para a pratica do acto administrativo;
c) Que o órgão esteja concretamente legitimado para o exercício dessa competência (que o
respectivo titular não sofra de qualquer impedimento).
Forma consiste no modo pelo qual se manifesta a conduta voluntária em que o acto se traduz
(palavras, gestos, tipos de documentos); as formalidades, consiste nos trâmites que a lei manda
observar com vista a garantir a correcta formação da decisão administrativa ou o respeito pelas
posições jurídicas subjectivas dos particulares.
a) Os actos dos órgãos singulares devem ser praticados sob forma escrita, desde que outra
não seja prevista por lei ou imposta pela natureza e circunstância do acto;
b) Os órgãos colegiais são, na ausência de preceito legal em contrário, praticados oralmente.
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 24
Manual de Direito Administrativo
No concernente as formalidades, temos que entender que todas formalidades prescritas por lei
são essenciais; a sua não observância, quer por omissão quer por preterição, total ou parcial, gera
a ilegalidade do acto administrativo. Assim o acto será ilegal se não forem respeitadas todas as
formalidades prescritas por lei, quer em relação ao procedimento administrativo que preparou o
acto, quer relativamente a própria prática do acto em si mesmo.
Portanto, consideramos insupríveis aquelas formalidades cuja observância tem de ter lugar no
momento em que a lei exige que elas sejam observadas (ex.: a audiência de um arguido só faz
sentido, como garantia dos seus direitos de defesa, se ele for ouvido antes de ser punido, se a
administração aplica uma pena e só depois é que vai ouvir o arguido sobre os factos, a
ilegalidade já é insanável); e é suprível a omissão ou preterição daquelas formalidades que a lei
manda cumprir num certo momento, mas que se forem cumpridas em momento posterior ainda
vão a tempo de garantir os objectivos para que foram estabelecidas; há casos em que se pode vir
mais tarde regularizar uma situação ou cumprir uma formalidade que não foi cumprida na altura
própria.
O objecto do acto (pessoa, coisa, acto anterior) sobre o qual incidem os seus efeitos, tem de ser
possível (possibilidade física e jurídica), e determinado (identificado ou identificável), idóneo e
A vontade em que o acto administrativo se traduz deve ser esclarecida e livre, pelo que, mesmo
verificados que sejam os outros requisitos de validade, o acto não será valido se a vontade da
administração tiver sido determinada por qualquer influencia indevida (erro, dolo ou coacção).
Os actos administrativos podem ser sujeitos a condição, termo ou modo, desde que estes não
sejam contrários à lei ou ao fim a que o acto se destina16.
O fim do acto administrativo é aquele interesse público cuja realização, o legislador pretende
quando confere à administração um determinado poder de agir.
A lei exige que o fim efectivamente prosseguido pelo órgão administrativo coincida com o fim
legal, isto é, com o fim que a lei teve em vista ao conferir os poderes para a prática do acto.
Esta por sua vez só é relevante no caso dos actos praticados no exercício de poderes
discricionários, uma vez que esta não tem autonomia, no domínio dos actos vinculados; desta
feita, não é relevante.
15
Vieira de Andrade, Validade (do acto administrativo)
16
Vide art. 121 do CPA
17
É a prerrogativa legal conferida à Administração Pública para a prática de determinados actos administrativos
com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. há actos da Administração Pública que
são legais, ou seja, baseados em lei, mas estão imbuídos de uma certa liberdade do agente.
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 26
Manual de Direito Administrativo
Os requisitos de eficácia, são aquelas exigências que a lei faz para que um acto administrativo,
uma vez praticado, possa produzir os seus efeitos jurídicos18.
O acto administrativo produz os seus efeitos desde a data em que for praticado, salvo nos casos
em que a lei ou o próprio acto lhe atribuam eficácia retroactiva ou diferida19, assim como é
ilustrada no art. 128 e 129 do CPA). Desta feita, o acto considera-se praticado logo que estejam
preenchidos os seus elementos essenciais cuja falta ou viciação determina por força do art. 133
do CPA a nulidade do acto administrativo, não obstando à perfeição do acto, para esse fim,
qualquer motivo determinante de anulabilidade (vide art. 127 CPA).
Para apurar o significado jurídico de um acto jurídico, o intérprete deve seguir os seguintes
elementos a saber:
O texto da decisão;
Os respectivos fundamentos;
Os elementos constantes do procedimento administrativo;
O comportamento posterior da administração ou do particular;
O tipo legal do acto;
As normas aplicáveis;
O interesse publica a prosseguir, bem como os direitos subjectivos e interesses legítimos
dos particulares que hajam de ser respeitados;
18
AMARAl. Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 403
19
Quando o acto administrativo produz efeitos a partir de um momento anterior ao da sua pratica, estamos
perante a eficacia retroactiva; a diferida da – se quando o acto administrativo produz efeitos apenas em momento
posterior ao da sua pratica (art. 128 e 129 CPA).
20
AMARAl.DiogoFreitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 415
As praxes administrativas21;
Os princípios gerais do Direito Administrativo.
Cabe aos tribunais administrativos a última palavra sobre a interpretação dos actos
administrativos; mas a própria administração e em especial o autor de cada acto, podem também
interpretar os seus actos, através de actos secundários chamados actos interpretativos ou
aclarações.
21
São os procedimentos ou praticas, as normas rotineiras adoptadas nas repartições públicas no o dia a dia, no
quotidiano.
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 28
Manual de Direito Administrativo
UNIDADE VIII
Entendemos a invalidade do acto administrativo, como sendo o valor jurídico negativo que afecta
o acto administrativo em virtude da sua inaptidão intrínseca para a produção dos efeitos jurídicos
que devia produzir.
A ilegalidade foi durante muito tempo considerada como sendo a única fonte da invalidade, mas
hoje encontramos a ilicitude, os vícios de vontade, etc. Um acto ilícito ou um acto praticado sob
coacção são actos inválidos, mas podem não ser actos ilegais.
Ex.: A criação de um imposto por acto administrativo. Sabe-se que a criação de impostos
só pode ser feita pelo poder legislativo (art. 165 no 1, al.i)), portanto, se o governo, ou um
órgão do poder local, através de um acto administrativo – despacho ministerial ou
deliberação camarária, criar um imposto, ai temos uma usurpação do poder legislativo.
b)A usurpação do poder moderador: o órgão da administração pratica um acto que
pertence as atribuições do poder moderador (presidencial);
Ex.: um despacho do Primeiro-ministro a demitir um funcionário da presidência da
República, ou a preencher uma vaga no Conselho de Estado.
c)A usurpação do poder judicial: o órgão administrativo pratica um acto que pertence
as atribuições do poder judicial.
Ex.: uma câmara municipal que declare a nulidade de um contrato civil, ou que determine
a rescisão unilateral de um contrato não administrativo, ou ainda que ordene a demolição
de obras feitas num terreno que seja propriedade privada e relativamente ao qual só os
tribunais pudessem ordenar tal demolição.
A incompetência
lei distribui a competência em razão do tipo de questões a tratar, se essa distribuição não
é respeitada, estaríamos perante a incompetência em razão da matéria).
d) Incompetência em razão da hierarquia, quando se invadem os poderes conferidos a
outro órgão em função do grau hierárquico (quando o subalterno invade a competência
do superior ou quando o superior invade a competência própria do subalterno.
e) Incompetência em razão do lugar, quando um órgão administrativo invade os poderes
conferidos a outro órgão em função do território (ex.: se o Conselho Municipal de
Maputo tomar decisões da competência do Conselho Municipal da Beira).
f) Incompetência em razão do tempo, quando um órgão administrativo exerce os seus
poderes legais em relação ao passado ou ao futuro (salvo se a lei excepcionalmente o
permitir).
Ex.: um órgão administrativo não pode nomear hoje um funcionário para um cargo que
só vagará daqui a três meses ou mesmo 1 ano.
Portanto, a competência tem de ser exercida, por via de regra, em relação ao
presente. A competência exercida em relação ao passado originaria retroactividade e, em
princípio o acto administrativo não pode ter efeito retroactivo (art. 127 e 128 do CPA),
mesmo em relação ao futuro também não é permitida por lei.
UNIDADE IX
9. Extinção e Modificação
9.1. Revogação
Portanto, o conteúdo da revogação é a extinção total ou parcial, já o seu objecto é sempre o acto
revogado (no todo ou em parte), uma vez que a revogação e um acto secundário, um dos mais
importantes actos sobre actos.
22
AMARAl. Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 464
dirigida a prática de actos pertencentes a um tipo legal diferente. Portanto, não revogam o
acto primário; extinguem a situação jurídica por ele criada;
Há distinguir da revogação a suspensão de um acto administrativo anterior, visto que a
suspensão é a mera paralisação temporária da eficácia do acto administrativo anterior,
pelo contrário, o conteúdo da revogação é, como foi antes referido, a extinção dos efeitos
do acto revogado.
Enquanto a revogação extingue, a suspensão apenas produz uma ineficácia temporária.
A rectificação de erros materiais ou a aclaração de um acto administrativo anterior
também não constituem casos de revogação.
Temos o caso das figuras de alteração e da substituição de actos administrativos; onde na
revogação, o órgão administrativo extingue o acto administrativo anterior, prescindindo d
estabelecer uma nova disciplina para a situação jurídica antes regulada pelo acto
revogado; já na alteração ena substituição não o fazem, apenas fá-lo através de um acto
cujos efeitos de direito são parcialmente (alteração) ou totalmente (substituição) distinto
dos actos alterado ou substituído; qualquer uma delas determina a cessação (parcial ou
total) dos efeitos produzidos por um acto administrativo anterior23.
23
Vide art. 147 do CPA
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 33
Manual de Direito Administrativo
c) O delegante
Por virtude da delegação, o delegado deixa de actuar como subordinado, para proceder
em lugar do delegante, no exercício da mesma competência e portanto, no mesmo plano
dele24. O fundamento da competência do superior deve – se buscar antes na razão das
posições relativas do delegante e delegado.
O delegado não pode, no exercício dos poderes que são objecto da delegação, revogar
actos praticados pelo delegante na mesma matéria em momento posterior a delegação
pois isto poria, com efeito, a sua posição de inferioridade face ao delegante.
d) O órgão tutelar
Esta só acontece a título excepcional, seja expressamente incluída essa competência no
elenco dos poderes tutelares, falando – se a esse propósito de tutela revogatória.
24
CAETANO, Marcelo; Manual I, pp 525
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 34
Manual de Direito Administrativo
UNIDADE X
A suspensão ao contrário da revogação, não extingue os efeitos apenas o paralisa por certo
período; o acto suspenso não é eliminado da ordem jurídica, mantém – se nela, contínua
existente e por ventura valido, este somente orna – se eficaz, fica provisoriamente congelado.
Suspensão por forca da lei ou suspensão legal, quando ocorrem certos factos que, nos
termos da lei, produzem automaticamente o efeito suspensivo (art. 163 e 170 do CPA).
Suspensão administrativa, ocorre sempre que um órgão para o efeito competente
decida, por acto administrativo, suspender um acto administrativo anterior. Isto em caso
de dúvidas sobre a legalidade ou conveniência do acto primário, desejo de reapreciar o
seu conteúdo ou as suas consequências, etc. Compete aos órgãos a quem a lei conferir
expressamente o poder de suspender, aos órgãos competentes par revogar e aos órgãos
tutelares a quem a lei conceda, excepcionalmente esse poder (art. 150 no 2 do CPA).
Suspensão Jurisdicional, é a que pode ser decidida pelo tribunal administrativo
competente, na fase inicial da acção impugnatória de actos administrativos.
É praticado um acto que contem um dever, encargo ou sujeição para com um particular e
que, em caso de incumprimento, pode de imediato começar a ser executado, mesmo
contra a vontade do seu destinatário (privilegio de execução previa); mas se o
interessado decidir impugnar esse acto no tribunal administrativo competente, a lei
permite – lhe que além do pedido principal, que é, no mínimo, o pedido de anulação
contenciosa do acto recorrido. Esta só pode ser concedida pelo tribunal administrativo se
se verificarem determinados requisitos que a lei exige.
25
AMARAl. Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 509
Este tem como função correctiva, destina – se a corrigir erros diferentes da revogação
(destrutiva) e da suspensão (paralisadora).
Os erros de cálculo, são erros ocorridos na realização de operações matemáticas (ex.: 3+1=31);
já os erros materiais são erros ocorridos na redacção de um acto administrativo (escrever Feliz
em vez de Félix). Neste caso o órgão quis dizer uma coisa e disse outra26.
Contudo, a Administração, uma vez detectado um erro de cálculo ou um erro material, tem o
dever jurídico de o rectificar, pois, não teria sentido permitir – lhe contemporizar com o erro, o
que faria presumir qualquer forma de convivência ilícita com o particular destinatário do acto.
A ratificação, é o acto pelo qual o órgão competente decide sanar um acto inválido anteriormente
praticado, suprindo a ilegalidade que o vicia27.
26
Vide art. 148 no 1 do CPA)
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 36
Manual de Direito Administrativo
A reforma, é o acto administrativo pelo qual se conserva de um acto anterior a parte não afectada
de ilegalidade (ex.: a redução de uma licença ilegalmente concedida por três anos a uma licença
por um ano).
Regime jurídico comum à ratificação, reforma e conversão (vide art. 137 do CPA)28.
27
AMARAl. Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 514
28
– Não são susceptíveis de ratificação, reforma e conversão os actos nulos ou inexistentes.
– São aplicáveis à ratificação, reforma e conversão dos actos administrativos anuláveis as normas que regulam a
competência para a revogação dos actos inválidos e a sua tempestividade.
– Em caso de incompetência, o poder de ratificar o acto cabe ao órgão competente para a sua prática.
– Desde que não tenha havido alteração ao regime legal, a ratificação, reforma e conversão retroagem os seus efeitos
à data dos actos a que respeitam.
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 37
Manual de Direito Administrativo
11. Bibliografia
Doutrina
AMARAl, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 3ª edição, Vol. I. Almedina
Coimbra;
AMARAl, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 2° edição, Vol. II. Almedina
Coimbra;
Legislação
Índice
UNIDADE I ................................................................................................................................ 1
UNIDADE II ............................................................................................................................... 5
UNIDADE III.............................................................................................................................. 9
UNIDADE IV ........................................................................................................................... 12
3.1. A revogação.................................................................................................................... 13
UNIDADE V ............................................................................................................................. 14
UNIDADE VI ........................................................................................................................... 21
UNIDADE IX ........................................................................................................................... 32
UNIDADE X ............................................................................................................................. 35
11. Bibliografia..................................................................................................................... 38
Doutrina ............................................................................................................................. 38