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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA ALBERTO CHIPANDE

CADERNO DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Docentes: Msc. Flora Peranhe & Dr.


Grácio Muchanga
Juristas e Criminalistas

BEIRA
Manual de Direito Administrativo

UNIDADE I

1. DIREITO ADMINISTRATIVO-CONCEITO1

Direito administrativo é um ramo autónomo2 do direito público3 interno que se concentra no


estudo da Administração Pública e da actividade de seus integrantes.

Ou seja, ramo do direito público que disciplina o exercício da função pública.

1.1.Características do Direito Administrativo

Os traços específicos do nosso Direito actual são 4, a saber:

 A juventude

É um direito bastante jovem, nasceu com a revolução francesa, foi sobretudo o produto das
reformas profundas que, a seguir a primeira fase revolucionária foram introduzidas no ano VIII
pelo então I cônsul Napoleão Bonaparte.

Importado da Franca, o Direito administrativo aparece em Portugal a partir das reformas de


Mouzinho da Silveira, de 1832.

Porque isso significa Juventude?

1
AMARAL ,Diogo Freitas do. Curso de Direito Administrativo. Vol I.PP162-177

2
Independente, diferente dos demais pelo seu objecto e pelo seu método, pelo espírito que domina as suas normas,
pelos princípios gerais que as enforma.

3
Regula a relação entre o particular e o estado. O estado assume o papel de supremacia, aqui distingue-se do direito
privado em que as partes encontram-se em pé de igualdade.
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Porque cumpre comparar com o Direito Civil, que nasce na Roma Antiga, e tem hoje atrás de Si
uma tradição milenária, nesta comparação, e é ela que verdadeiramente nos interessa, o direito
administrativo faz figura de muito jovem.

Essa juventude permite maior audácia na procura de soluções novas dentro de um sistema que
vai amadurecendo, mais que está longe de começar a envelhecer.

 A forte influência Jurisprudencial

No Direito Administrativo a jurisprudência dos tribunais tem a maior influência.

Desde logo, porque em França o Direito administrativo nasceu por via jurisprudencial

: surgiram primeiro os tribunais administrativos, para subtrair a administração a possibilidade de


intromissão no poder jurídico e foram depois os tribunais administrativos, ao tomar contacto com
os casos surgidos da acção administrativa que começam a ensaiar soluções novas, regras
específicas princípios e conceitos diferentes daqueles que se aplicavam nos tribunais jurídicos a
luz do Direito Civil.

De facto muito dos conceitos e princípios do direito administrativos ainda hoje reflectem a sua
origem jurisprudencial, e muitos problemas que noutros ramos de Direito, nomeadamente no
Direito Civil, são analisados numa óptica legislativa, no direito administrativo aparecem
logicamente numa óptica jurisprudencial é o caso por exemplo dos “ vícios de acto
administrativo”, que ainda hoje, em franca, são apresentados pela maioria dos autores como
“condições de interposição do recurso contencioso”.

 A autonomia,

O direito administrativo é um ramo autónomo do Direito, diferente dos demais pelo seu objecto e
pelo seu método, pelo espírito que domina as suas normas, pelos princípios gerais que as
enforma.

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 Codificação Parcial

Sabe-se que o código é um diploma que reúne de forma sintética, científica e sistemática as
normas de um ramo do direito ou, pelo menos de um sector importante de um ramo de direito.

Há vários países em determinados sectores do direito administrativo se encontram codificados;


mais que se saiba, não há nem um País que tenha codificado todo o direito administrativo ou,
sequer, toda sua parte geral.

Em Moçambique não existe uma codificação global do direito administrativo ou, se quer, da sua
parte geral. Um diploma a que se chamaria oficialmente código administrativo. O código
administrativo apenas codifica uma parcela.

EXERCÍCIOS DA UNIDADE I

1- Em que âmbito do direito se enquadra a disciplina em questão?


2- Em Moçambique não existe uma codificação global do Direito Administrativo. Justifique
a afirmação descrita.
3- Como que a jurisprudência administrativa tem forte influência no Direito Administrativo?
5. O Direito Administrativo é um ramo autónomo do Direito Publico interno, que se
concentra no estudo da administração pública e as actividades de seus integrantes.
a) Comente a expressão acima sublinhada.
6. A Codificação parcial é uma das características do Direito administrativo. Porquê?
7. Fale dos elementos constitutivos do acto administrativo e explique uma delas a sua
escolha
8. Um incêndio de grandes proporções atingiu 20 casas, na tarde desta quarta-feira, no
distrito de Dondo. Devido ao ocorrido, a população do mercado foram evacuados e aulas
foram canceladas. De acordo com os Bombeiros, o incêndio se iniciou em um gerador de
uma substação de energia por volta das 14h.

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Pedrito acabava de celebrar um contrato para explorar uma concessão de Jogos de Fortuna ou
azar. O respectivo casino acabou sendo afectado pelo incêndio, ficando desta feita totalmente
destruída. Quid júris?

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UNIDADE II

2. ADMINISTRAÇÃO

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – CONCEITO

Quando se fala em administração publica tem se em conta todo conjunto de necessidades


colectivas cuja satisfação é assumida como tarefa fundamental pela colectividade, através de
serviços por esta organizada e mantida. (AMARAL, 2006:25).

Definição de acto administrativo

São elementos do conceito de acto administrativo:

-Um acto jurídico;

-Um acto unilateral;

-Um acto praticado no exercício do poder administrativo;

-Um acto de um órgão administrativo;

-Um acto decisório;

-Um acto que versa sobre uma situação individual e concreta.

Associando-se estes elementos, teremos a seguinte definição:

Acto Administrativo como sendo” o acto jurídico unilateral praticado, no exercício do poder
administrativo, por um órgão da administração ou por outra entidade publica ou privada para
tal habilitada por Lei, e que traduz a decisão de um caso considerado pela Administração,
visando produzir efeitos jurídicos numa situação individual e concreta” 4.

Ao passo que, Marcello Caetano vem a definir acto administrativo como sendo “conduta
voluntária de um órgão da administração que, no exercício de um poder público e para a

4
AMARAL, Diogos Freitas do.Curso de Direito Administrativo, Vol II, Almedina, Coimbra 2011.pp.238-239

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prossecução de interesses postos por lei a seu cargo, produza efeitos jurídicos num caso
concreto”. 5

As definições supra referenciadas correspondem definições doutrinais,

E quanto a lei vigente (CRM) ela simplesmente faz menção ao controle da legalidade dos actos
administrativos pelo tribunal administrativo e não apresenta qualquer que seja o conceito de acto
administrativo.art.228 n˚2.

Mais a Lei 14/2011, de 10 de Agosto6 no seu glossário vem a estabelecer o seguinte acerca do
conceito de acto administrativo:

“É a decisão de um órgão da administração que, nos termos do direito público, visa produzir
efeitos jurídicos numa situação individual e concreta”.

2.1.CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO

Conceito

A concentração e a desconcentração são figuras que se reportam à organização interna de cada


pessoa colectiva pública, ao passo que a centralização e a descentralização põem em causa várias
pessoas colectivas públicas ao mesmo tempo. (AMARAL, 2006:870)

No plano jurídico, diz-se “centralizado”, o sistema em que todas as atribuições administrativas


de um dado País são por lei conferidas ao Estado, não existindo, portanto, quaisquer outras
pessoas colectivas públicas incumbidas do exercício da função administrativa.

Chamar-se-á, pelo contrário, “descentralizado”, o sistema em que a função administrativa não


esteja apenas confiada ao Estado, mas também a outras pessoas colectivas territoriais.

Dir-se-á que há centralização, sob o ponto de vista político-administrativo, quando os órgãos das
autarquias locais sejam livremente nomeados ou demitidos pelos órgãos do Estado, quando

5
RIVERO, Jean, Direito Administrativo.1989.p-103
6
Revoga a RAU (reforma administrativa ultramarina)
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devam obediência ao Governo ou ao partido único, ou quando se encontrem sujeitos a formas


particularmente intensas de tutela administrativa, designadamente a uma ampla tutela de mérito.

Pelo contrário, diz-se que há descentralização em sentido político-administrativo quando os


órgãos das autarquias locais são livremente eleitos pelas respectivas populações, quando a lei os
considera independentes na órbita das suas atribuições e competências, e quando estiverem
sujeitos a formas atenuadas de tutela administrativa, em regra restritas ao controle da legalidade.

2.1.1. Vantagens e Inconvenientes

A centralização tem, teoricamente, algumas vantagens: assegura melhor que qualquer outro
sistema a unidade do Estado; garante a homogeneidade da acção política e administrativa
desenvolvida no país; e permite uma melhor coordenação do exercício da função administrativa.

Pelo contrário, a centralização tem numerosos inconvenientes. Gera a hipertrofia do Estado,


provocando o gigantismo do poder central; é fonte de ineficácia da acção administrativa, porque
quer confiar tudo ao Estado; é causa de elevados custos financeiros relativamente ao exercício da
acção administrativa; abafa a vida local autónoma, eliminando ou reduzindo a muito pouco a
actividade própria das comunidades tradicionais; não respeita as liberdades locais; e faz depender
todo o sistema administrativo da insensibilidade do poder central, ou dos seus delegados, à
maioria dos problemas locais.

As vantagens da descentralização: primeiro, a descentralização garante as liberdades locais,


servindo de base a um sistema pluralista de Administração Pública, que é por sua vez uma forma
de limitação ao poder político; segundo, a descentralização proporciona a participação dos
cidadãos na tomada das decisões públicas em matérias que concernem aos interesses, e a
participação é um dos grandes objectivos do Estado moderno (art. 2º CRP); depois, a
descentralização permite aproveitar para a realização do bem comum a sensibilidade das
populações locais relativamente aos seus problemas, e facilita a mobilização das iniciativas e das
energias locais para as tarefas de administração pública; a descentralização tem a vantagem de

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proporcionar, em princípio, soluções mais vantajosas do que a centralização, em termos de custo-


eficácia.

Mas a descentralização também oferece alguns inconvenientes: o primeiro é o de gerar alguma


descoordenação no exercício da função administrativa; e o segundo é o de abrir a porta ao mau
uso dos poderes discricionários da Administração por parte de pessoas nem sempre bem
preparadas para os exercer.

Em Moçambique, o art. 9º CRM, estabelece que o “A república de Moçambique é um estado


unitário, que respeita na sua organização os princípios da autonomia das autarquias locais”. E
no mesmo sentido vai o art. 267º/2 CRM. Por consequência, constitucionalmente, o sistema
administrativo Moçambicano tem de ser um sistema descentralizado: toda a questão está em
saber qual o grau, maior ou menor, da descentralização que se pode ou deve adoptar.

EXERCICIOS DA UNIDADE II

1- Atente a afirmação: “define-se o acto administrativo como sendo, acto jurídico bilateral
praticado, no exercício do poder administrativo, por um órgão da administração ou por
outra entidade pública ou privada não habilitada para tal por Lei, e que traduz a decisão
de um caso considerado pela Administração, visando produzir efeitos jurídicos numa
situação individual e concreta.
2- Existe alguma relação entre a centralização e a concentração? Descentralização e a
desconcentração?
3- Enumere as vantagens e Inconveniências da centralização e descentralização.

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UNIDADE III

Tipologia dos actos administrativos – actos primários e actos secundários

Segundo o Professor Freitas do Amaral, os actos administrativos subdividem-se em actos


primários e actos secundários.
São actos primários, aqueles que versam pela primeira vez sobre uma determinada situação da
vida‟, como por exemplo: a nomeação de funcionários, a concessão a um particular de uma
licença para construir uma casa e a expropriação de terrenos privados.

Diferentemente, são actos secundários, aqueles que versem sobre um acto primário
anteriormente praticado‟. A existência destes actos depende da preexistência dos actos primários,
ou seja, os actos secundários regulam e tem por objecto situações criadas por actos primários.

Dentro da classe de actos primários há que distinguir entre actos impositivos e actos permissivos.
Os actos impositivos são aqueles que determinam a alguém que adopte uma certa conduta ou
que colocam o seu destinatário em situação de sujeição a um ou mais efeitos jurídicos. Ou seja,
estes actos implicam a sujeição de determinada pessoa a uma certa conduta da qual resultam
efeitos jurídicos.
A CRM impõe, à actuação da administração baseada neste tipo de actos, o pagamento de uma
indemnização pecuniária, isto é, a apresentação de uma contrapartida ao particular afectado.
Existem três grandes espécies de actos primários impositivos e são eles: os actos de comando, os
actos punitivos, os actos ablativos (Ex.: expropriação; requisição) e os juízos.

No que aos actos permissivos diz respeito estes são aqueles que possibilitam a alguém a
adopção de uma conduta ou a omissão de um comportamento que de outro modo lhe estariam
vedados‟, ou seja, são actos que dependem de uma autorização, de uma permissão para a sua
efectivação.
Por sua vez, estes actos subdividem-se em actos que conferem ou ampliam vantagens
(autorizações, licenças, concessões, delegações, admissões e subvenções) e em actos que

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eliminam ou reduzem encargos (dispensas e renúncias).·


Relativamente à classe de actos secundários, estes apresentam uma tripartição entre actos
integrativos, actos saneadores e actos desintegrativos.

Os actos integrativos são aqueles que tem como função completar actos administrativos
anteriores. Fazem parte desta categoria de actos: a aprovação (sem a qual um acto já praticado
será ineficaz), o visto (reconhecimento de determinado acto sem efectivação de juízos de valor),
o acto confirmativo (reiteração de determinado acto) e a ratificação-confirmativa (confirmação
efectivada por determinado órgão competente de um acto praticado por um órgão
excepcionalmente competente).

Consideram-se saneadores os actos transformadores de um determinado acto anulável em acto


válido e/ou insusceptível de impugnação contenciosa. Estes actos encontram-se regidos no artigo
137º do CPA.
Apenas os actos anuláveis podem ser sanados, ou seja, apenas estes actos podem transformar-se
em actos válidos e vigorar no ordenamento dando a certeza e a segurança necessárias à ordem
jurídica. O que não acontece com os actos nulos.
Ex. ratificação – sanação; -reforma – conversão.

Por sua vez, os actos desintegrativos reportam-se a actos cujo conteúdo é contrário ou oposto ao
de um acto anteriormente praticado. Difere, nesta medida, dos actos integrativos e da revogação.
Relativamente aos actos desintegrativos:

 Revogação: destrói os efeitos de um acto anterior;


 Declaração de nulidade: tem como finalidade afirmar que determinado acto é
insusceptível de produzir efeitos jurídicos;
 Declaração de caducidade: expira os efeitos de actos jurídicos posteriores;
 Suspensão: paralisa temporariamente os efeitos do acto;
 Rescisão: permite que a Administração extinga contratos unilateralmente.

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EXERCICIOS DA UNIDADE III

1. Actos que possibilitam a alguém a adopção de uma conduta ou omissão de um


comportamento que de outro lhe estariam vedados ou ainda que dependem de uma
autorização para a sua efectivação.
A. Actos Impositivos
B. Actos integrativos
C. Actos Permissivos
D. Nenhuma das alternativas
2. Os actos que impõem extinção ou modificação do conteúdo de um Direito chamam –
se…
A. Actos de Comando
B. Visto
C. Acto Confirmativo
D. Actos Ablativos

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UNIDADE IV

3. Extinção do contrato Administrativo

Estudaremos 3 causas de extinção do contrato administrativo, já que o cumprimento e as demais


causas de extinção das obrigações reconhecidas pelo direito civil não apresentam neste domínio
qualquer especialidade em relação as causas de extinção dos contratos em geral.
Eis as causas abaixo discriminadas:

 O contrato administrativo extingue-se por impossibilidade não imputável as partes – o


caso de força maior,
 Extinção por acordo das partes (revogação 330, al.b),
 e a extinção por iniciativa de uma das partes (resolução art.330, al.c).

 O caso de força maior,


Consiste no facto imprevisível e estranho à vontade dos contraentes que impossibilita
absolutamente o cumprimento das obrigações contratuais. À semelhança do que sucede no
direito civil, a impossibilidade em causa pode ser temporária ou definitiva, e total ou parcial.
Os casos de força maior levam, não à alteração do contrato, mas antes à suspensão da sua
eficácia (nos casos de impossibilidade temporária) ou à extinção total do contrato (se a
impossibilidade for definitiva ou levar ao desinteresse completo do credo)7,Os casos de forca
maior parcial podem ainda dar origem a modificações objectivas do contrato.
A verificação de um caso de forca maior carece, pois, de ser devidamente comprovada.
Exemplo de um caso de forca maior: um terramoto que destrua a barragem que, por contrato de
empreitada de obras publicas, um empreiteiro particular tenha em curso de execução.
Exemplo 2: cessa o dever contratual de explorar uma concessão de fogos de fortuna ou azar se o
respectivo casino tiver ficado totalmente destruído por incêndio ou terramoto.
Normalmente os contratos administrativos integram uma “cláusula de forca maior” destinada a
definir com precisão a repartição dos riscos relativamente a este tipo de situações.8

7
Amaral, Diogos Freitas do.apud.Mcello Caetano, Curso de Direito Administrativo, v II P.649
8
Amaral, Diogos Freitas do, ob.cit, v II P.650
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3.1.A revogação
O contrato administrativo pode extinguir-se por revogação, ou seja, por acordo mediante o qual
as partes extingam o contrato (art.331). Este acordo pode ser celebrado em qualquer momento e
deve ele próprio fixar os efeitos associados à extinção do contrato. A revogação não pode
revestir forma menos solene do que aquela que a celebração do contrato revestiu.

3.2.A resolução por iniciativa do co-contraente


O contraente administrativo pode extinguir-se por “resolução”, isto e, pela decisão de uma das
partes de por termo ao contrato (art.330,al.c).Antigamente chamava-se-lhe”rescisão”, mas o C.C
preferiu (mal) o termo “resolução”.
Que o co-contratante podia pedir rescisão jurisdicional do contrato administrativo, quer por falta
grave e flagrante da administração9, quer quando as modificações que esta pretendia impor-lhe
excedessem os limites do objecto do contrato10. Se a administração concordasse em por termo ao
contrato, não haveria que ir a tribunal e a extinção do contrato ocorria por acordo (revogação).
Com efeito, o co-contratante privado tem o direito de resolver o contrato, independentemente do
direito a uma indemnização (de que também pode gozar), nos seguintes casos (art.332.˚):
1˚Situacoes de grave violação das obrigações assumidas pelo contraente público especialmente
previstas no contrato;
2˚Alteração anormal e imprevisível das circunstâncias.
3˚Incumprimento definitivo do contrato por facto imputável ao contraente público, por período
superior a seis meses ou quando o montante em divida exceda 25% do preço contratual,
excluindo juros;
4˚Exercicio ilícito dos poderes
5˚Incumprimento pelo contraente público de decisões judiciais ou arbitrais respeitantes ao
contrato.

Exercícios Unidade IV
1- Quais os elementos extintivos do Contrato Administrativo?
9
Amaral, Diogos Freitas apud. Sérvulo Correia,ob.cit.p.653
10
Amaral, Diogos Freitas apud.Paulo Otero, ob.cit.p.653

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UNIDADE V

4. Procedimento Administrativo
 Noção

 O procedimento administrativo é a via formal dos actos em que se realiza a acção


administrativa para a realização de um fim. A finalidade consiste na emissão de um acto
administrativo.
 A obrigação de obedecer a trâmites legais estritos que supõem a garantia dos cidadãos
distingue a acção por parte das autoridades (acção pública) da actividade privada. Esta
garantia consegue-se através da ordem jurídica e pela segurança de que a informação
possa ser conhecida e fiscalizada por todas as pessoas.11

Deste modo, o procedimento administrativo configura-se como uma garantia da acção


administrativa, que não pode ser arbitrária e discricional, uma vez que está sujeita às regras do
procedimento.

Os princípios gerais do procedimento administrativo são quatro: o princípio da unidade, o


princípio da contradição, o princípio da imparcialidade e o princípio da oficialidade.

O princípio da unidade sustenta que o procedimento é um processo único que tem um começo e
um fim (deve resolver-se independentemente da sua forma inicial).

O princípio da contradição defende que a resolução do procedimento tem por base os factos e os
fundamentos de direito, o que é feito pela observância dos factos e das provas.

O princípio da imparcialidade garante que a acção terá lugar sem margens para favoritismos ou
inimizades. Os funcionários devem abster-se caso tenham interesses pessoais no caso, algum

11
Segundo Jorge Miranda (2010-326) define o procedimento administrativo como sendo a sequência juridicamente
ordenada de actos e formalidades tendentes à preparação da pratica de um acto da administração na sua execução.

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grau de parentesco ou amizade/inimizade manifesta, ou ainda se forem testemunhas do


procedimento.

Por fim, o princípio da oficialidade defende que o procedimento deve ser desenvolvido de ofício
em todos os seus trâmites.

4.1.Espécie de procedimento
Tradicionalmente, enunciam-se duas classificações dos procedimentos administrativos. Por um
lado, e atendendo á questão de saber quem toma a iniciativa de desencadear o inicio do
procedimento (art.54 do CPA), temos:
 Procedimento de iniciativa pública
 Procedimento de iniciativa particular.

5.1.2. Procedimento de iniciativa pública


A administração toma iniciativa de desencadear.
Por exemplo, o procedimento destinado a realização de uma obra publica,

5.1.3. Procedimento de iniciativa particular

São os procedimentos desencadeados por iniciativa dos particulares.

Por exemplo: os procedimentos instaurados mediante requerimento de um particular para obter


uma autorização, uma licença, uma pensão, um subsídio, um empréstimo, etc.

5.2. Quanto ao critério do objecto do procedimento, teremos:

Procedimentos Decisórios;

Procedimentos Executivos.

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5.2.1. Procedimentos Decisórios.

Tem por objecto preparar a prática de um acto administrativo: Por exemplo, os casos dados como
exemplo na classificação anterior.

5.2.2. Procedimentos Executivos.

Tem por objecto executar um acto administrativo ou seja, e como transformar o direito em facto.

Ex: o procedimento pelo qual a administração promove, pelos seus próprios meios, a demolição
de um prédio que ameaça ruína quando, ordenada a demolição ao prédio, este a não tenha
efectuado.12

5.3. Procedimentos Comuns e Procedimentos Especiais

5.3.1. Procedimentos Comuns

Aquele que é regulado pelo próprio CPA- e que deve ser seguido em todos os casos em que não
haja legislação especial aplicável.

5.3.2. Procedimentos Especiais

São como o nome indica, os regulados em leis especiais (é o caso por exemplo de, do
procedimento de formação de contrato administrativo de empreitada de obras publicas).

5.4. Fase da extinção do procedimento

5.4.1. Decisão Administrativa

Os órgãos administrativos têm o dever genérico de se pronunciarem sobre todos os assuntos de


sua competência que lhes sejam apresentados pelos particulares – art. 9º nº 1 do CPA.

12
AMARAL, Diogos Freitas do.Curso de Direito administrative.vol II.P289-309
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 16
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Excepção: Não existe o dever legal de decisão quando, há menos de dois anos, contados da data
de apresentação do requerimento, o órgão competente tenha praticado acto administrativo sobre
o mesmo pedido, formulado pelo particular, com os mesmos fundamentos – art. 9º, nº 2 CPA.

Pretende-se, por um lado, que a Administração se pronuncie sempre que para tanto é solicitada
pelos particulares e, por outro, facilitar a protecção destes particulares em face de omissões
administrativas ilegais, designadamente garantindo a formação do ato tácito.

Assim, O procedimento extingue-se pela tomada da decisão final ou pelas outras formas
previstas nos artigos 110º e seguintes – art. 106º CPA.

A Decisão pode ser Expressa ou Tácita.

5.4.2. Decisão Expressa (art. 107º) – O órgão competente resolve todas as questões pertinentes
suscitadas durante todo o procedimento.

Para o particular a decisão produz efeitos a partir do momento em que a mesma lhe é notificada.

5.4.3. Decisão Tácita – Ocorre nos casos em que a lei atribui determinados efeitos ao silêncio
da Administração.

Esses efeitos podem ser o Deferimento ou o Indeferimento da pretensão do particular.

Por vezes a administração nada faz ou nada diz acerca dos assuntos de interesse publico que tem
entre mão, tal atitude pode provocar reacções por parte de opiniões publica, mas não tem
normalmente qualquer consequência jurídica.

Existem algumas situações em que a lei atribui ao silêncio da administração um determinado


significado, dai decorrendo efeitos jurídicos.

Suponhamos que um particular apresenta a um órgão da administração um requerimento em que


solicita que lhe seja atribuído uma licença ou uma pensão a que por lei tem direito.
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Se administração nada disser, está violar a lei, está ofender um direito subjectivo de um cidadão.
Mas como a garantia do cidadão no direito administrativo se traduz no direito de recorrer
contenciosamente dos actos praticados pela administração, se esta nada disser-se portanto não
praticar nenhum acto, como é que o particular poderá recorrer, de que decisão ele irá interpor
recurso?

Essas situações de silêncio da administração perante pretensões concretas apresentadas por


interessados aos órgãos competentes infelizmente são muito frequentes. E constituem uma das
formas de desrespeito pelas regras estabelecidas e pelo princípio da legalidade, tal como deve ser
atendido e aplicado num estado de direito.

Como reagir contra a política de braços cruzados, por parte da administração?

Há varias maneiras de resolver o problema;

1- A lei deve atribuir ao silêncio da administração o significado tácito positivo: perante um


pedido de um particular, e decorrido um certo prazo sem que o órgão administrativo
competente se pronuncie, tendo o dever jurídico de o fazer, a lei considera que o pedido
foi satisfeito.

Aqui o silencio vale como manifestação tácita da vontade da administração num sentido
positivo, dai a designação de acto tácito positivo.

2- A lei deve atribuir ao silêncio da administração o significado de acto tácito negativo:


decorrido o prazo legal sem que o pedido formulado pelo particular ao órgão competente
e obrigado a decidir tenha resposta, entende-se que tal pedido foi “indeferido”. Presume-
se, que há uma vontade tácita da administração num sentido negativo para o interessado,
pois a sua pretensão considera-se indeferida: dai, o acto tácito negativo ou indeferimento
tácito.

Qual a vantagem do particular dessa figura do acto tácito negativo?

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Como se pode explicar que, valendo o silencio da administração como indeferimento da


pretensão apresentada, esta seja uma solução favorável para os particulares?

Se não fosse assim dificilmente haveria uma decisão de que o interessado pudesse recorrer para o
tribunal.

Ora, com a figura do acto tácito negativo, logo que passe o prazo legal sem haver resposta da
administração, considera-se indeferido o pedido do particular, pelo que esse poderá recorrer
contenciosamente contra o indeferimento (tácito) da sua pretensão.

Neste caso, o tribunal terá a considerar duas hipóteses:

Ou o indeferimento da pretensão do particular foi legal, caso em que o tribunal dará razão a
administração, ou foi ilegal, e neste caso o tribunal da razão ao particular, anulando o acto tácito.
E das anulações contenciosas resultará, nesta segunda hipótese, o dever da administração
satisfazer cabalmente a pretensão apresentada pelo particular.

5.5.A regra é o Indeferimento Tácito (art.109º)

A falta de decisão final expressa sobre uma pretensão dirigida a órgão competente confere ao
particular o direito de presumir indeferida a sua pretensão, a fim de poder fazer uso dos meios
legais de impugnação. O indeferimento tácito ocorre findo o prazo especialmente previsto para a
decisão ou, na falta de previsão, em 90 dias.

Este prazo conta-se da data de entrada do requerimento – se a lei não exigir formalidades
essenciais para a fase preparatória da decisão ou do termo do prazo para a conclusão dessas
formalidades ou ainda do conhecimento da conclusão dessas mesmas formalidades, se esta
ocorrer antes do prazo fixado.

5.5.1. Deferimento tácito (art. 108º CPA)

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Manual de Direito Administrativo

Em certos casos, o silêncio da Administração converte-se no deferimento tácito da pretensão do


particular – artigo 108º.

Quando a prática de um Ato Administrativo ou o exercício de um direito por um particular


dependam da autorização ou aprovação de um órgão administrativo, considera-se a pretensão
concedida, em caso de ausência de decisão final expressa, salvo disposição legal em contrário.

Consideram-se dependentes de aprovação ou autorização, isto é, verifica-se o deferimento tácito


nos seguintes casos:

- Situações expressamente previstas no nº3 do artigo 108º;

- Outros casos expressamente previstos em lei especial, designadamente aqueles que resultam de
proposta dos serviços públicos aos órgãos competentes, nos termos do artigo 5º do decreto-lei nº
135/99.

O deferimento tácito ocorre em 90 dias a contar da formulação do pedido ou no termo do prazo


fixado para a decisão para a decisão. Os prazos suspendem-se sempre que o procedimento estiver
parado por motivo imputável ao particular.13

13
Ver também as anotações da pagina 364 do manual acima citado, no que concerne as vantagens de indeferimento
tácito.

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Manual de Direito Administrativo

UNIDADE VI

6. Actuação da Administração Pública sem Respeito das formas legais do procedimento:


Estado de Urgência e de necessidade.

O estado de necessidade - Tal como sucede noutros ramos de Direito, como o Civil, Penal e
Constitucional, ocorre situações nas quais a lei permite à administração uma actuação imediata e
urgente com vista a salvaguarda de bens essenciais, mesmo que para isso os agentes
administrativos tenham de ignorar o respeito de regras estabelecidas para circunstâncias normais.

A titulo de exemplo, pode – se dar em caso de incêndio, as autoridades policiais e os


comandantes dos corpos de bombeiros podem „‟ ordenar as destruições, demolições, remoções e
cortes nos prédios contíguos ao sinistrado quando sejam necessários ao desenvolvimento das
manobras da extinção ou para impedir o alastramento do fogo‟‟.

Este facto pode ser feito de imediato no local, sem procedimento escrito, sem requisição mesmo
até sem audiência prévia dos interessados. Os actos administrativos praticados em estado de
necessidade, são considerados validos14, tais actos são considerados validos desde que os seus
resultados não pudessem ter sido alcançados de outro modo, mas os lesados terão de ser
indemnizados nos termos gerais de responsabilidade em termos que o levam a incluir no âmbito
do ordenamento jurídico, desta feita, o estado de necessidade é considerado como causa de
exclusão de ilicitude.

6.1. Pressupostos do estado de necessidade administrativo

 A situação de autentica necessidade a resolver;


 A natureza imperiosa do interesse publico a defender;
 A excepcionalidade da situação;
 A ausência de alternativas menos gravosas (Principio da Proporcionalidade).

14
AMARAl. Freitas do: Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra.

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Manual de Direito Administrativo

A Urgência administrativa, são todas as situações da vida real em que, pela sua especial
gravidade ou perigosidade, a Administração publica tem o poder legal de efectuar uma
intervenção imediata, sob pena de, se for mais demorada, se frustrar a possibilidade de atingir os
fins de interesse público postos por lei a seu cargo.

6.2. Características da Urgência

 É uma realidade ordinária, ainda que eventual, da acção da administração. Diz – se


Ordinária porque está prevista na lei para situações em que ocorra um perigo actual e
iminente que ameace a satisfação de um interesse público legalmente protegido e
imponha à administração uma actuação imediata e inadiável. Eventual, porque apenas
tem lugar quando se verifiquem situações de perigo que não são certas nem frequentes;
 Os procedimentos administrativos de urgência traduzem formas simplificadas de agir. O
art. 103 no 1, alínea a) do CPA, diz que é dispensada a formalidade de audiência dos
interessados por urgência na decisão. Pode se dar nos casos de tremor da terra ou
situações calamitosas, também acontece muitas vezes, em certas decisões da competência
de órgãos colocados no topo da hierarquia, ou perto deles, possam ser tomadas de
imediato por órgãos subalternos, ficando depois sujeitas a ratificação superior;
 A actuação administrativa urgente está, em qualquer caso, prevista na lei.

Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 22


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UNIDADE VII

7. Validade, Eficácia e Interpretação

7.1. Noções

 A validade, é a aptidão intrínseca do acto administrativo para produzir os efeitos


jurídicos correspondentes ao tipo legal a que pertence, em consequência da sua
conformidade com a ordem jurídica.
 A eficácia, é a efectiva produção de efeitos jurídicos pelo acto, a projecção na realidade
da vida dos efeitos jurídicos que integram o conteúdo de um acto administrativo.
 A invalidade será a inaptidão intrínseca para a produção de efeitos, decorrente de uma
ofensa a ordem jurídica.
 A ineficácia, é o fenómeno da não – produção de efeitos num dado momento, qualquer
que seja a sua causa.

Um acto administrativo pode ser:

 Valido e eficaz. Um caso em concreto é a nomeação de um agente administrativo para


um determinado cargo feita em conformidade com a lei e aceite por aquele.
 Valido mas ineficaz. A referida nomeação será, no entanto, uma cato valido mas ineficaz
enquanto não for aceite pelo destinatário.
 Inválido mas eficaz. Tendo embora sido aceite pelo agente nomeado, o acto for ilegal e
essa ilegalidade gerar apenas mera anulabilidade (se o órgão que efectuou a nomeação for
relativamente incompetente).
 Inválido e ineficaz. A nomeação de um agente administrativo para um determinado
cargo pode ser inválido e ineficaz se a ilegalidade de que padece for por lei sancionada
com a nulidade (carecer em absoluto da forma prescrita por lei para essa categoria de
actos administrativos).

Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 23


Manual de Direito Administrativo

7.1.2. Requisitos de validade do acto administrativo

São as exigências que a lei faz relativamente a cada um dos elementos deste para que o acto
possa ser valido, neste caso os sujeitos, forma e formalidades, conteúdo, objecto e fim.

 Requisitos quanto ao sujeito

Os sujeitos do acto administrativo são o autor (autores) e o destinatário (destinatários). O autor


de um acto administrativo é o órgão da administração que pratica o acto. A autoria real é do
órgão ou dos seus titulares, já a autoria jurídica é imputada por lei a pessoa colectiva. Para a
validade dos actos administrativos é necessário que se verifique os seguintes requisitos
concernentes ao autor:

a) Que o acto que se inscreva no âmbito das atribuições da entidade a que pertence o órgão
seu autor;
b) Que o órgão tenha competência para a pratica do acto administrativo;
c) Que o órgão esteja concretamente legitimado para o exercício dessa competência (que o
respectivo titular não sofra de qualquer impedimento).

No concernente ao destinatário do acto administrativo, com base na alínea b) do art. 123 do


CPA, a lei exige que ele ou eles sejam identificados de forma adequada ( nome, morada).

 Requisito de validade quanto a forma e as formalidades

Forma consiste no modo pelo qual se manifesta a conduta voluntária em que o acto se traduz
(palavras, gestos, tipos de documentos); as formalidades, consiste nos trâmites que a lei manda
observar com vista a garantir a correcta formação da decisão administrativa ou o respeito pelas
posições jurídicas subjectivas dos particulares.

As principais regras do CPA em matéria de forma do acto administrativo podemos encontrar


tipificadas no art. 122 no 1 e 2 do CPA;

a) Os actos dos órgãos singulares devem ser praticados sob forma escrita, desde que outra
não seja prevista por lei ou imposta pela natureza e circunstância do acto;
b) Os órgãos colegiais são, na ausência de preceito legal em contrário, praticados oralmente.
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 24
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No concernente as formalidades, temos que entender que todas formalidades prescritas por lei
são essenciais; a sua não observância, quer por omissão quer por preterição, total ou parcial, gera
a ilegalidade do acto administrativo. Assim o acto será ilegal se não forem respeitadas todas as
formalidades prescritas por lei, quer em relação ao procedimento administrativo que preparou o
acto, quer relativamente a própria prática do acto em si mesmo.

Como sabemos onde há regras há excepção:

a) Não são essenciais as formalidades que a lei declarar dispensáveis;


b) Não são essenciais aquelas formalidades cuja omissão ou preterição não tenha impedido a
consecução do objectivo visado pela lei ao exigi-las (degradação de formalidades
essenciais em não essenciais);
c) Não são essenciais as formalidades meramente burocráticas, de carácter interno,
tendentes a assegurar apenas a boa marcha dos serviços (ex.: mandar arquivar os
documentos relativos a um dado caso complexo num único dossiê ou em vários,
conforme os anos ou aspectos parcelares do tema).

Portanto, consideramos insupríveis aquelas formalidades cuja observância tem de ter lugar no
momento em que a lei exige que elas sejam observadas (ex.: a audiência de um arguido só faz
sentido, como garantia dos seus direitos de defesa, se ele for ouvido antes de ser punido, se a
administração aplica uma pena e só depois é que vai ouvir o arguido sobre os factos, a
ilegalidade já é insanável); e é suprível a omissão ou preterição daquelas formalidades que a lei
manda cumprir num certo momento, mas que se forem cumpridas em momento posterior ainda
vão a tempo de garantir os objectivos para que foram estabelecidas; há casos em que se pode vir
mais tarde regularizar uma situação ou cumprir uma formalidade que não foi cumprida na altura
própria.

 Requisitos de validade quanto ao conteúdo e ao objecto

O objecto do acto (pessoa, coisa, acto anterior) sobre o qual incidem os seus efeitos, tem de ser
possível (possibilidade física e jurídica), e determinado (identificado ou identificável), idóneo e

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legitimado para suportar os efeitos do acto. A validade do acto é prejudicada pela


incompreensibilidade, impossibilidade, ilicitude ou inveracidade do respectivo conteúdo.15

A vontade em que o acto administrativo se traduz deve ser esclarecida e livre, pelo que, mesmo
verificados que sejam os outros requisitos de validade, o acto não será valido se a vontade da
administração tiver sido determinada por qualquer influencia indevida (erro, dolo ou coacção).

Os actos administrativos podem ser sujeitos a condição, termo ou modo, desde que estes não
sejam contrários à lei ou ao fim a que o acto se destina16.

 Requisitos da validade quanto ao fim

O fim do acto administrativo é aquele interesse público cuja realização, o legislador pretende
quando confere à administração um determinado poder de agir.

A lei exige que o fim efectivamente prosseguido pelo órgão administrativo coincida com o fim
legal, isto é, com o fim que a lei teve em vista ao conferir os poderes para a prática do acto.

Esta por sua vez só é relevante no caso dos actos praticados no exercício de poderes
discricionários, uma vez que esta não tem autonomia, no domínio dos actos vinculados; desta
feita, não é relevante.

O critério pratico para a determinação do fim do acto administrativo é o motivo principalmente


determinante, uma vez que é mais fácil apurar os motivos do que os fins. Nesta ordem de ideias,
exige-se que o motivo principalmente determinante da prática de um acto administrativo
coincida com o fim tido em vista pela lei ao conferir o poder discricionário17; caso contrário, o
acto será ilegal e inválido.

15
Vieira de Andrade, Validade (do acto administrativo)
16
Vide art. 121 do CPA
17
É a prerrogativa legal conferida à Administração Pública para a prática de determinados actos administrativos
com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. há actos da Administração Pública que
são legais, ou seja, baseados em lei, mas estão imbuídos de uma certa liberdade do agente.
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 Requisitos de eficácia do acto administrativo

Os requisitos de eficácia, são aquelas exigências que a lei faz para que um acto administrativo,
uma vez praticado, possa produzir os seus efeitos jurídicos18.

O acto administrativo produz os seus efeitos desde a data em que for praticado, salvo nos casos
em que a lei ou o próprio acto lhe atribuam eficácia retroactiva ou diferida19, assim como é
ilustrada no art. 128 e 129 do CPA). Desta feita, o acto considera-se praticado logo que estejam
preenchidos os seus elementos essenciais cuja falta ou viciação determina por força do art. 133
do CPA a nulidade do acto administrativo, não obstando à perfeição do acto, para esse fim,
qualquer motivo determinante de anulabilidade (vide art. 127 CPA).

7.2. Interpretação e integração do acto administrativo

A interpretação do acto administrativo, é o conjunto de operações jurídicas que se traduzem na


determinação do sentido e do alcance juridicamente relevante de um acto administrativo20.

Para apurar o significado jurídico de um acto jurídico, o intérprete deve seguir os seguintes
elementos a saber:

 O texto da decisão;
 Os respectivos fundamentos;
 Os elementos constantes do procedimento administrativo;
 O comportamento posterior da administração ou do particular;
 O tipo legal do acto;
 As normas aplicáveis;
 O interesse publica a prosseguir, bem como os direitos subjectivos e interesses legítimos
dos particulares que hajam de ser respeitados;

18
AMARAl. Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 403
19
Quando o acto administrativo produz efeitos a partir de um momento anterior ao da sua pratica, estamos
perante a eficacia retroactiva; a diferida da – se quando o acto administrativo produz efeitos apenas em momento
posterior ao da sua pratica (art. 128 e 129 CPA).
20
AMARAl.DiogoFreitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 415

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 As praxes administrativas21;
 Os princípios gerais do Direito Administrativo.

Cabe aos tribunais administrativos a última palavra sobre a interpretação dos actos
administrativos; mas a própria administração e em especial o autor de cada acto, podem também
interpretar os seus actos, através de actos secundários chamados actos interpretativos ou
aclarações.

21
São os procedimentos ou praticas, as normas rotineiras adoptadas nas repartições públicas no o dia a dia, no
quotidiano.
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 28
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UNIDADE VIII

8. Invalidade dos actos administrativos

Entendemos a invalidade do acto administrativo, como sendo o valor jurídico negativo que afecta
o acto administrativo em virtude da sua inaptidão intrínseca para a produção dos efeitos jurídicos
que devia produzir.

A ilegalidade foi durante muito tempo considerada como sendo a única fonte da invalidade, mas
hoje encontramos a ilicitude, os vícios de vontade, etc. Um acto ilícito ou um acto praticado sob
coacção são actos inválidos, mas podem não ser actos ilegais.

 A ilegalidade dos actos administrativos

A legalidade, inclui a constituição, a lei ordinária, os regulamentos, os contratos administrativos,


nas suas cláusulas de carácter normativo, os actos administrativos constitutivos de direitos com
forca de caso decidido; com isso podemos entender que o acto administrativo por ser contrario a
lei.

 Os vícios do acto administrativo

Os vícios do acto administrativo, são as formas específicas que a ilegalidade do acto


administrativo pode revestir.

Em relação a tipologia dos vícios do acto administrativo, encontramos a usurpação de poder e


incompetência (ilegalidade Orgânica), vício de forma (ilegalidade formal), violação de lei e
desvio de poder (ilegalidade material).

 A usurpação de poder; é o vício que consiste na prática por um órgão administrativo,


do poder moderador ou do poder judicial, e portanto excluído das atribuições do poder
executivo; este traduz uma violação do princípio da separação e poderes. Esta ainda,
comporta 3 modalidades a saber:
a) A usurpação do poder legislativo: o órgão administrativo pratica um acto que
pertence as atribuições do poder legislativo;

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Ex.: A criação de um imposto por acto administrativo. Sabe-se que a criação de impostos
só pode ser feita pelo poder legislativo (art. 165 no 1, al.i)), portanto, se o governo, ou um
órgão do poder local, através de um acto administrativo – despacho ministerial ou
deliberação camarária, criar um imposto, ai temos uma usurpação do poder legislativo.
b)A usurpação do poder moderador: o órgão da administração pratica um acto que
pertence as atribuições do poder moderador (presidencial);
Ex.: um despacho do Primeiro-ministro a demitir um funcionário da presidência da
República, ou a preencher uma vaga no Conselho de Estado.

c)A usurpação do poder judicial: o órgão administrativo pratica um acto que pertence
as atribuições do poder judicial.
Ex.: uma câmara municipal que declare a nulidade de um contrato civil, ou que determine
a rescisão unilateral de um contrato não administrativo, ou ainda que ordene a demolição
de obras feitas num terreno que seja propriedade privada e relativamente ao qual só os
tribunais pudessem ordenar tal demolição.

 A incompetência

A incompetência, é o vício que consiste na prática, por um órgão administrativo, de um acto


incluindo nas atribuições ou na competência de outro órgão administrativo. Esta pode revestir
varias modalidades, podendo classificar – se em absoluta e relativa.

a) Incompetência absoluta, é aquela que se verifica quando um órgão administrativo


pratica um acto fora das atribuições da pessoa colectiva ou do ministério a que pertence.
(art. 133 n.2al. b)).
b) Incompetência relativa, é a que se verifica quando um órgão administrativo pratica um
acto que está fora da sua competência, mas que pertence a competência de outro órgão da
mesma pessoa colectiva. Nesta ordem de ideias podemos distinguir as seguintes
modalidades:
c) A incompetência em razão da matéria, quando um órgão administrativo invade os
poderes conferidos a outro órgão administrativo em função da natureza dos assuntos (a

Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 30


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lei distribui a competência em razão do tipo de questões a tratar, se essa distribuição não
é respeitada, estaríamos perante a incompetência em razão da matéria).
d) Incompetência em razão da hierarquia, quando se invadem os poderes conferidos a
outro órgão em função do grau hierárquico (quando o subalterno invade a competência
do superior ou quando o superior invade a competência própria do subalterno.
e) Incompetência em razão do lugar, quando um órgão administrativo invade os poderes
conferidos a outro órgão em função do território (ex.: se o Conselho Municipal de
Maputo tomar decisões da competência do Conselho Municipal da Beira).
f) Incompetência em razão do tempo, quando um órgão administrativo exerce os seus
poderes legais em relação ao passado ou ao futuro (salvo se a lei excepcionalmente o
permitir).
Ex.: um órgão administrativo não pode nomear hoje um funcionário para um cargo que
só vagará daqui a três meses ou mesmo 1 ano.
Portanto, a competência tem de ser exercida, por via de regra, em relação ao
presente. A competência exercida em relação ao passado originaria retroactividade e, em
princípio o acto administrativo não pode ter efeito retroactivo (art. 127 e 128 do CPA),
mesmo em relação ao futuro também não é permitida por lei.

Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 31


Manual de Direito Administrativo

UNIDADE IX

9. Extinção e Modificação

9.1. Revogação

A revogação é o acto administrativo que se destina a extinguir, no todo (revogação total) ou em


parte (revogação parcial), os efeitos de um acto administrativo anterior22. Entretanto, este
pertence a categoria dos actos secundários ou actos sobre actos, sendo assim os seus efeitos
jurídicos recaem sobre um acto anteriormente praticado, não se concebendo a sua existência
desligada desse acto preexistente.

Portanto, o conteúdo da revogação é a extinção total ou parcial, já o seu objecto é sempre o acto
revogado (no todo ou em parte), uma vez que a revogação e um acto secundário, um dos mais
importantes actos sobre actos.

9.1.1. Figuras afins

Vamos de certo modo distinguir a revogação de certas figuras afins:

 Devem distinguir – se da revogação os actos administrativos de conteúdo contrario ou


oposto ao de um acto anteriormente praticado.
Quando a administração prática um novo acto, cujo conteúdo é contrário ao de um acto
administrativo anterior, está fora do domínio da revogação, fundamentalmente porque se
trata do exercício de uma competência diferente. Quando se nomeia, esta – se a exercer a
competência para prover uma determinada pessoa num determinado cargo; quando se
ordena o embargo ou a demolição, esta – se a sancionar o desrespeito dos parâmetros
constantes de uma licença.
Contudo, é de notar que os poderes exercidos não se destinam imediatamente a actuar
sobre um acto administrativo anterior, antes representam o exercício de uma competência

22
AMARAl. Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 464

Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 32


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dirigida a prática de actos pertencentes a um tipo legal diferente. Portanto, não revogam o
acto primário; extinguem a situação jurídica por ele criada;
 Há distinguir da revogação a suspensão de um acto administrativo anterior, visto que a
suspensão é a mera paralisação temporária da eficácia do acto administrativo anterior,
pelo contrário, o conteúdo da revogação é, como foi antes referido, a extinção dos efeitos
do acto revogado.
Enquanto a revogação extingue, a suspensão apenas produz uma ineficácia temporária.
 A rectificação de erros materiais ou a aclaração de um acto administrativo anterior
também não constituem casos de revogação.
 Temos o caso das figuras de alteração e da substituição de actos administrativos; onde na
revogação, o órgão administrativo extingue o acto administrativo anterior, prescindindo d
estabelecer uma nova disciplina para a situação jurídica antes regulada pelo acto
revogado; já na alteração ena substituição não o fazem, apenas fá-lo através de um acto
cujos efeitos de direito são parcialmente (alteração) ou totalmente (substituição) distinto
dos actos alterado ou substituído; qualquer uma delas determina a cessação (parcial ou
total) dos efeitos produzidos por um acto administrativo anterior23.

9.1.2. Competência para a revogação

a) O autor do acto (art. 142 no 1 CPA)


b) O superior hierárquico
O superior hierárquico do autor do acto, é competente para revogar salvo se tratar de acto
de competência exclusiva do subalterno (art. 142 do CPA). O superior não tem
competência revogatória sobre os actos do subalterno se este tiver competência exclusiva,
neste caso, a competência revogatória do superior só existe nos casos de competência
comum e de competência própria.

23
Vide art. 147 do CPA
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 33
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c) O delegante
Por virtude da delegação, o delegado deixa de actuar como subordinado, para proceder
em lugar do delegante, no exercício da mesma competência e portanto, no mesmo plano
dele24. O fundamento da competência do superior deve – se buscar antes na razão das
posições relativas do delegante e delegado.
O delegado não pode, no exercício dos poderes que são objecto da delegação, revogar
actos praticados pelo delegante na mesma matéria em momento posterior a delegação
pois isto poria, com efeito, a sua posição de inferioridade face ao delegante.

d) O órgão tutelar
Esta só acontece a título excepcional, seja expressamente incluída essa competência no
elenco dos poderes tutelares, falando – se a esse propósito de tutela revogatória.

24
CAETANO, Marcelo; Manual I, pp 525
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 34
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UNIDADE X

10. SUSPENSÃO, RECTIFICAÇÃO E SANAÇÃO

10.1. A suspensão do acto administrativo

A suspensão ao contrário da revogação, não extingue os efeitos apenas o paralisa por certo
período; o acto suspenso não é eliminado da ordem jurídica, mantém – se nela, contínua
existente e por ventura valido, este somente orna – se eficaz, fica provisoriamente congelado.

Contudo, a Suspensão é a paralisação temporária dos efeitos jurídicos de um acto25.

O acto administrativo pode ser suspenso por três modos distintos:

 Suspensão por forca da lei ou suspensão legal, quando ocorrem certos factos que, nos
termos da lei, produzem automaticamente o efeito suspensivo (art. 163 e 170 do CPA).
 Suspensão administrativa, ocorre sempre que um órgão para o efeito competente
decida, por acto administrativo, suspender um acto administrativo anterior. Isto em caso
de dúvidas sobre a legalidade ou conveniência do acto primário, desejo de reapreciar o
seu conteúdo ou as suas consequências, etc. Compete aos órgãos a quem a lei conferir
expressamente o poder de suspender, aos órgãos competentes par revogar e aos órgãos
tutelares a quem a lei conceda, excepcionalmente esse poder (art. 150 no 2 do CPA).
 Suspensão Jurisdicional, é a que pode ser decidida pelo tribunal administrativo
competente, na fase inicial da acção impugnatória de actos administrativos.
É praticado um acto que contem um dever, encargo ou sujeição para com um particular e
que, em caso de incumprimento, pode de imediato começar a ser executado, mesmo
contra a vontade do seu destinatário (privilegio de execução previa); mas se o
interessado decidir impugnar esse acto no tribunal administrativo competente, a lei
permite – lhe que além do pedido principal, que é, no mínimo, o pedido de anulação
contenciosa do acto recorrido. Esta só pode ser concedida pelo tribunal administrativo se
se verificarem determinados requisitos que a lei exige.

25
AMARAl. Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 509

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10.2. Rectificação do acto administrativo

A rectificação é o acto administrativo secundário que visa emendar os erros de cálculo ou os


erros materiais contidos num acto administrativo primário anterior.

Este tem como função correctiva, destina – se a corrigir erros diferentes da revogação
(destrutiva) e da suspensão (paralisadora).

Os erros de cálculo, são erros ocorridos na realização de operações matemáticas (ex.: 3+1=31);
já os erros materiais são erros ocorridos na redacção de um acto administrativo (escrever Feliz
em vez de Félix). Neste caso o órgão quis dizer uma coisa e disse outra26.

Se os erros de calculo ou materiais forem manifestos (óbvios, evidentes, ostensivos), aplica – se


um regime especial previsto no art. 148 do CPA; casos não forem manifestos (encobertos,
duvidosos, difíceis de detectar, a rectificação segue o regime geral da revogação, mais moroso e
apertado.

Contudo, a Administração, uma vez detectado um erro de cálculo ou um erro material, tem o
dever jurídico de o rectificar, pois, não teria sentido permitir – lhe contemporizar com o erro, o
que faria presumir qualquer forma de convivência ilícita com o particular destinatário do acto.

10.3. Rectificação, reforma e conversão do acto administrativo

O órgão administrativo, ao aperceber – se de uma ilegalidade que haja cometido, em vez de


revogar o acto anterior ilegal, pretenda recuperar esse acto, expurgando o vício que o afectava,
em obediência ao princípio do aproveitamento dos actos jurídicos. A ratificação, a reforma e a
conversão configuram uma modificação do acto anterior e portanto uma forma de o manter vivo
na ordem jurídica e não como forma de o extinguir.

A ratificação, é o acto pelo qual o órgão competente decide sanar um acto inválido anteriormente
praticado, suprindo a ilegalidade que o vicia27.

26
Vide art. 148 no 1 do CPA)
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Manual de Direito Administrativo

A reforma, é o acto administrativo pelo qual se conserva de um acto anterior a parte não afectada
de ilegalidade (ex.: a redução de uma licença ilegalmente concedida por três anos a uma licença
por um ano).

Conversão, é o acto administrativo pelo qual se aproveitam os elementos validos de um acto


ilegal para com eles se compor um acto que seja legal.

Regime jurídico comum à ratificação, reforma e conversão (vide art. 137 do CPA)28.

27
AMARAl. Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 1° edição, Vol. II. Almedina Coimbra; pp 514
28
– Não são susceptíveis de ratificação, reforma e conversão os actos nulos ou inexistentes.
– São aplicáveis à ratificação, reforma e conversão dos actos administrativos anuláveis as normas que regulam a
competência para a revogação dos actos inválidos e a sua tempestividade.
– Em caso de incompetência, o poder de ratificar o acto cabe ao órgão competente para a sua prática.
– Desde que não tenha havido alteração ao regime legal, a ratificação, reforma e conversão retroagem os seus efeitos
à data dos actos a que respeitam.
Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 37
Manual de Direito Administrativo

11. Bibliografia
 Doutrina

AMARAl, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 3ª edição, Vol. I. Almedina
Coimbra;

AMARAl, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo, 2° edição, Vol. II. Almedina
Coimbra;

CAETANO, Marcelo; Manual de Direito Administrativo, vol II;

VIEIRA DE ANDRADE, Validade do acto administrativo;

 Legislação

Decreto-Lei N.º 6/96, de 31 de Janeiro (Código do Procedimento Administrativo)

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Manual de Direito Administrativo

Índice
UNIDADE I ................................................................................................................................ 1

1. DIREITO ADMINISTRATIVO-CONCEITO .................................................................... 1

1.1. Características do Direito Administrativo ........................................................................ 1

UNIDADE II ............................................................................................................................... 5

2. ADMINISTRAÇÃO – CONCEITO .................................................................................... 5

Definição de acto administrativo................................................................................................. 5

2.1. CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO ........................................................... 6

2.1.1. Vantagens e Inconvenientes ......................................................................................... 7

UNIDADE III.............................................................................................................................. 9

Tipologia dos actos administrativos – actos primários e actos secundários ............................... 9

UNIDADE IV ........................................................................................................................... 12

3. Extinção do contrato Administrativo ................................................................................. 12

3.1. A revogação.................................................................................................................... 13

3.2. A resolução por iniciativa do co-contraente ................................................................... 13

UNIDADE V ............................................................................................................................. 14

4. Procedimento Administrativo ............................................................................................ 14

4.1. Espécie de procedimento ................................................................................................ 15

5.1.2. Procedimento de iniciativa pública............................................................................. 15

5.1.3. Procedimento de iniciativa particular ......................................................................... 15

5.2. Quanto ao critério do objecto do procedimento, teremos: ............................................. 15

5.2.1. Procedimentos Decisórios. .............................................................................................. 16

5.2.2. Procedimentos Executivos. ......................................................................................... 16

5.3. Procedimentos Comuns e Procedimentos Especiais ...................................................... 16

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Manual de Direito Administrativo

5.3.1. Procedimentos Comuns ................................................................................................... 16

5.3.2. Procedimentos Especiais ............................................................................................ 16

5.4. Fase da extinção do procedimento ..................................................................................... 16

5.4.1. Decisão Administrativa .................................................................................................. 16

5.4.2. Decisão Expressa (art. 107º) . ......................................................................................... 17

5.4.3. Decisão Tácita. ................................................................................................................ 17

5.5. A regra é o Indeferimento Tácito (art.109º) ................................................................... 19

5.5.1. Deferimento tácito (art. 108º CPA) ............................................................................ 19

UNIDADE VI ........................................................................................................................... 21

6. Actuação da Administração Pública sem Respeito das formas legais do procedimento:


Estado de Urgência e de necessidade. ....................................................................................... 21

6.1. Pressupostos do estado de necessidade administrativo ...................................................... 21

6.2. Características da Urgência ................................................................................................ 22

UNIDADE VII .......................................................................................................................... 23

7. Validade, Eficácia e Interpretação ..................................................................................... 23

7.1. Noções ................................................................................................................................ 23

7.1.2. Requisitos de validade do acto administrativo ................................................................ 24

7.2. Interpretação e integração do acto administrativo.............................................................. 27

UNIDADE VIII ......................................................................................................................... 29

8. Invalidade dos actos administrativo ................................................................................... 29

UNIDADE IX ........................................................................................................................... 32

9. Extinção e Modificação ..................................................................................................... 32

9.1. Revogação .......................................................................................................................... 32

9.1.1. Figuras afins .................................................................................................................... 32

Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 40


Manual de Direito Administrativo

9.1.2. Competência para a revogação ........................................................................................ 33

UNIDADE X ............................................................................................................................. 35

10. SUSPENSÃO, RECTIFICAÇÃO E SANAÇÃO .......................................................... 35

10.1. A suspensão do acto administrativo ................................................................................. 35

10.2. Rectificação do acto administrativo ................................................................................. 36

10.3. Rectificação, reforma e conversão do acto administrativo .............................................. 36

11. Bibliografia..................................................................................................................... 38

Doutrina ............................................................................................................................. 38

Msc. Flora Peranhe e Grácio Muchanga Página 41

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