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AERA DE CONAN (Ogura ore a ei x aca ‘antedea Bde Conan No ie le. Spresersnos shirts de Beli + Raina Costs Nope, uaa das als arenes CAPITULO EA LNA DA GUERRA CAPTULO 40 SENHOR corns DASHES ge rine nee ce Sredeaiite Pdi i loge deer ic Fas ocsesan Neeson qe ence pct nat hin caviran2: A uERRERA E do Gimsts Now ede: merpalbaremor DaAQUOMA caeirut 5: coma vcatvo eee eaten Serge Sennen ‘alsa da rman Verma. Se ae See eee for Ret E- Howard oor de Copan avila 3: RNTSHA DO PASSADD—ADERROCADK DE THOTH-AMON 1 chan do Condado Sis Seiten onveroehn Jt er fostamameste cate jlo © ostabeo de Siocon wigetcomnees 5 IB ne pnts Wed fs sets emia Shas ews 0 Ieee aes erecta ‘Sta or Hod Ng oa fl vn a een sca cows raornins Pome eed peste apa ee SANGO Pipe epee cere preckamenceoysus 2 lca de obs Se -REDRIK MALADERG C195 pa mtorr Ray “Thomon Bary Wand Soh sgpy ox Joys es este eee ee ‘len es overtop oa suaracnssso s1sv4 woot ‘Sn Bp ole Cont ar See Saeco 1B, Heals doce a des caesutisna sunk: ssconse “Bla rs nb ce fre mei ee ae slings [Se cope rfl wi fe en eet aes som ‘pet [o) Eee ta Ti inpte die il Boar ale ves su119 Nose ee ee ins Sete yee ae Tanto sco SSRN Eau occas els ole | ed ‘re res guar nee wna apd de ‘kame: Do uw ng a sf imagem ima ter dapat a sqariahs sda de 1970, ge Spe ee ‘Rentarase gue agraca cage de Meredih Finch e Anka sr esas Valea Ete es gece sate inh at ed eae ‘Gipson aor sda de Ee ‘edie pat tpt goer thom eee enna ‘Sr ankecer nas Imandade Vrms Speers SSeS Boslewnt og Prado ‘dle ds unde Shise CAPITULO 1: A FILHA DA GUERRA 7 NAO! POR FAVOR! poonrecenan __ CAPITULO 2: A GUERREIRA DA AQUILONIA ‘onan: Valeria-2 Capa de JAY ANACLETO & ROMULO FAJARDO JR. NOS NATAR EU TNE GUE AG EU YM PARA VER Voce. PORQUE. $0.2 due VOoE NAO BR APENAS Cit veoree retete, uae ‘Nesthe es N ein, mks OM "aNeeM yas e002 oot Sis SaBhb0 € vatoace, se qualquer GALES ok a age ENCoNTEALS. Ne AOA, MeASDER EN Kieera-to. CAPITULO 3: FANTASMA DO PASSADO Age of Conan: Valeria 3 eae Capa de JAY ANACLETO & ROMULO FAJARDO JR. ea eee VID Cr ee OT doe , PA En a TL ee ee As io pecans PARA MRA CTL eae CAPITULO 4: 0 SENHOR DAS MENTIRAS if Conan: Valeria. Age Capa de JAY ANACLETO & ROMULO FAJARDO JR. eRe Tae rense.cu LOD voce TaNtas vez enuaa aga Nos cline Ans Cm a ered Rene ate bax ei co ous aa ee oe ee ToRNOU ae eae ee a det aed ee on Oe eA ea Ce ae Pon CN Are a Zit cra 0 homem responsive! Cae Ed er aaa Cae emanate cancel Voce oe eRoUr eu roeein TER DOA SiMe VOL 7D NO Tao aoe eck pevoncu AGA Val secu scusete CUEceTANA ME EEPeEANDD, TEA vNOO \ Mais ceo. Neo GUE SE Eeniebee AGU PARA ME MAR ok o font reno, ssusaRot e660 ue ox conTaaTaR Negcanseos me 9) 7, ) Fle sabe parton g compoctira P. caschnciese Alga noe ave oe A Peearieky Gocoaw Ae aay Seu irpuecnon oct vee ters Pecioss suk Pom Guu ELE Longe siasiua) Teves ‘Ow innaeo? AL TENHO peareiTa caNcin 0 NoseD INTRUED, GEL BEC! EL, 25h Bek AQUI NA HRSA FRENTE. AGORA Sad E NOS DERE EM PASE = MASEAENO, Suateana SuANco Buss ronaM ATRAS AE PevA PRNERA Vez, CROEIAN ACOU BMPOLGADO. NAS NO. AINA 1ai00u pita UU mostaacse Lew) Sa Vezonctra NATURSIAY NALMENTE TN PARA LBERTAR A AGULSNA Om CCAVALEIROS OF Mia PARA SEMPRE” Reale OL ae ee CAPITULO 5: CORACAO VINGATIVO : Valeria-S Age of Co Capa de JAY ANACLETO & ROMULO FAJARDO JR. rr et ee Oe ee ee ee ee, S Lr ee eon rrr tr eet ead eer Leda origin oe ire ee Pi = \ Vie Sudisudraua ap chet em ail Let ors ete eye Pa ere mas, 20 yer ele afi ; Z yy / Wa i A derrocaba de Chort-Amon POR MATT FORBECK TRADUZIDO POR DIOGO PRADO “Saiba, 6 principe, que nos anos pregressos a Conan, o Cimério—ladrio, batbaro e andarilho. — baralhar com suor, sangue ¢ matanga para se tornar 0 justo e poderoso rei da Aquilénia, ascenden ao poder na distante Stygia um feiticeiro de comando tao inefiivel sobre a magia e cobiea tao implacdvel pela supremacia que poucos ‘ousavam opor-sea ele, e dentre os que o fizeram nenhum sobr Este mago terrivel, cuja influéncia corruptiva era temida para além das fronteitas de seus dominios, devia tamanho poder a0 deus serpente Set que condenou os corpos ¢ as almas de seus compatriotas Stygios & causa da antiga divindade. Seu nome, sussurrado pelos poucos corajosos o suficiente para proferi-lo sob © pavor de uma morte misteriosa e agonizante, era Thoth-Amon.” —As Cronicas da Nemédia ‘omo ousa roubar de mim, 0 sumo-sacerdote de Set?!” Thoth-Amon trovejou ao sentar-se empoleirado sobre seu trono incrustado de esmeraldas ¢ esculpido na forma de uma naja gigante, cujo capclo se estendia sobre cle, projetando uma sombra ‘como se Fosse uum dossel escamoso. Sua vor reverberou pelo hemiciclo abobadado, ecoando pelo piso de pedra polida e pelas paredes que se inclinavam para um ponto muito acima dele. Enquanto falava, projetou um esquelérico dedo para fora das mangas de seu ‘manto cerimonial e apontou para baixo, em diregio ao patife surrado que se encolhia na base do tablado intrinsicamente entalhado a sua frente. “Nao, Vossa Santidade!” disse o homem por entre dentes quebrados ¢ labios ensanguentados, sua voz tremia mais do que suas pernas, que acabaram cedendo. Ele caiu de joclho cntre os dois guardas que o haviam trazido até Ii, cujas armaduras eram de um verde escuro tio brilhante que pareciam quase pretas. “Jamais sonharia em fazcr isso!” Serpentes rastejavam para dentro ¢ para fora dos buracos que perfuravam 0 trono oco de Thoth-Amon, fazendo-o parecer estar vivo, De certo modo, estava, pois servia como ninho para intimeras cobras letais — viboras, najas ¢ coisa pior — que habitavam as partes mais frias c escuras do glorioso Templo de Set. Sc o sacetdote se sentasse plenamente imével, poderia sentir as vibragoes dos milhares de repteis esguios que por ali tamborilavam. “E mesmo assim a Coroa de Set desapareceul” zombou Thoth-Amon. “E com elao cajado de tranga tripla do meu gabinete. E quem estava encarregado de proteger esses tesouros inestimaveis?” “Anok, Vossa Santidade! O nome dele € Anok!” A voz do homem trémulo falhava em meio ao desespero. “Bonde esti Anok?” Thoth-Amon afigou sua barba cilindrica enquanco ditigia esta pergunta a0 conselhciro que estava atris dele & dircita. Malach deu um passo a frente, sua fronte rugosa estava liigubre. “Sumiu, Vossa Santidade,” disse ele. “Sumiu durante a noite.” “Junto dos meus tesouros!” Yociferou Thoth-Amon enquanto erguia seu punho no ar, exibindo o Anel Serpentino de Set, a marca do favor deseu deus, que envolvia seu dedo por trés veres. A falta de um cajado adequado em suas mos o deixava furioso. “Nio tive nada a ver com isso!” disse o homem em meio aos tremores. “Eu 0 treinei por apenas uma semana, e —” “E o deixou sozinho com acesso ao meu cofre?” A voz de Thoth-Amon era intensa a ponto de fazer um homem estremecer, “Achei que estaria seguro!” Lgrimas pendiam dos olhos do homem enquanto ele tentava se explicar, “Ninguém nunca conscguiu cntrar no cofre antes! Nao sem Vossa Santidade presente! Nao imaginei ser possivel!” (s olhos felinos de Thoth-Amon brilhavam de raiva. “Entao, sua imaginagao falhou com. vocé. E, por conseguinte, vocé falhou comigs © homem pressionou uma mao contra a outra. “Faria oS coisa para mudar isso, ‘Vossa Santidade, Se Anok estivesse aqui na minha frente, eu... Thoth-Amon deu um passo a frente e olhou para o homem aos seus pés. “Faria o qué?” indagou cle numa voz suave, cmbora extrcmamente ameasadora. “O faria sofrer, Vossa Santidade.” Um vislumbre de esperanga se fez presente na voz do hhomem. “Pel tempo que pudesse. Ofaria gitar de agonia até quco proprio Seto concedesse uma morte misericordios ‘Thoth-Amon ergueu uma de suas finas sobrancelhas, enrugando a pele fina de sua testa. “Vocé acha que essa ¢ uma punigao justa para ladrécs? E isso que cstd imaginando agora?” ‘A forma como o sacerdote enunciou palavra pegou o homem desprevenido, «ele escolheu suas préximas palavras com muita cautela. “Talvez eu nao tenha uma boa imaginago, Vossa Santidade, ‘mas faco 0 melhor com o que tenho. Nao hs nada horrivel demais para um traste como aquele.” Thoth-Amon, ostentando um olhar de pura crueldade, acenou firmemente com a cabeca, “Devo concordar com tamanha sabedoria.” Ble ergueu a mao para bater no chao com seu cajado, ¢ perceber novamente que cle néo estava Ido fez rosnat. Ele deu um passo 3 frente ¢ usou o caleanhar para apertar um botso secreto escondido no chix O homem condenado gritava enquanto o chao se abria A sua frente. Ele despencou cerca de trés metros e aterrissou em um fosso cheio de cobras, esmagando algumas delas com o seu peso. As criaturas sobreviventes 0 atacaram varias e virias vezes, dos mais diversos Angulos, fincando suas presas vis cm sua pele, bombcando scu vencno cm suas yeias. © homem ainda gritava em agonia quando a porta do alcapio se fechou sobre cle, dando tum fim aos seus suplicios pela piedade que apenas Set poderia conceder — a morte. “Encontrem esse Anok,” disparou Thoth-Amon para Malach. “Se é que esse é mesmo seu nome.” O homem deu um passo a frente e aceitou a ordem do sumo-sacerdote com uma pronunciada reveréncia. “Revirarei cada pedra em Luxur e esmagarei cada inseto que estiver embaixo delas, Vossa Santidade.” “E se ele tiver fugido de Luxus?” Malach olhou para o sumo-sacerdote. “Entao continuarei procurando por toda a Stygia.” ‘Thoth-Amon grunhiu em enfadonha satisfagio. Era o melhor que se poderia fazer — por enquanto, Malach hesitou, escolhendo suas préximas palavras com cautela. “Devo relatar isto para © rei, Vossa Santidade?” Thoth-Amon estremeceu internamente, mas disfargou seu desconforto perante a sugestio com mascarada serenidade. “Nio ha razio para perturbar Vossa Alteza com questées tio triviais, tenho certeza.” Malach tossiu, confuso. “Mas tais tesouros nio sio emblemas do seu oficio? Nio € possivel se aproveitar deles? Thoth-Amon balangou levemence a cabesa. “Sio apenas quinquilharias cujo poder é meramente simbdlico ¢ nada além disso. Sinto-me ofendido com sua perda nao por causa de seu valor, mas pelo que isso diz da lealdade daqueles que me servem. Nao gostaria que 0 rei questionassc isso perante tamanha ninharia.” O rosto de Malach se iluminou em compreensio. Ele graciosamente reverenciou 0 sacerdote, admitindo silenciosamente que seria mesmo melhor deixar o rei de fora da questéo pois talvez isso atraia uma atengio deveras indesejada. (Com um satisfatdrio balangar de scu manto, Thoth-Amon se recolhcu para scus aposcntos particulares, os soldados de sua guarda pessoal o acompanharam na dianteira e na retaguarda. Ao chegar li, deixou os guardas 8 porta para poder ter um momento para lidar sozinho. com a raiva que ainda 0 assolava. Como o ladrao entrou no cofre? Ponderou Thoth-Amon ao reclinar em um longo e rebaixado diva cstofado com as peles das gigantescas pitons quc viviam bem abaixo das pulvurentas ruas da cidade, Ninguém deveria ser capaz de entrar naquele lugar sem a expressa béngaio de Set. Este enigma o perturbava. Sera que Set estaria descontente dele? Ele se lembra de ter feito todos os sacrificios, mas talvez tenha surrupiado um pouco demais para si. Sacerdotcs sempre accitaram uma porgao de tais tributos, apenas para manter as contas da igreja cm dia, mas Thoth-Amon pode ter exagerado em sua cobica ultimamente. Prova disso eraa mulher que se reclinava em sua cama quando ele entrou, ainda zonza, supds cle, do veneno que clea injctara na noite anterior. Kimshalla foi tirada de sua terra natal, Kush, por um grupo de assalto Stygio, que a oferecen a Set como tributo em agradecimento por seu sucesso. Ela se mostrou uma companheira relutante para Thoth-Amon, mal-agradecida por ele té-la poupado dos bracos de Set, pondo-a nos seus. Enquanto ele lutava com o mistério do cofie, Kimshalla caminhou suavemente até cle. Recentemente, ela havia se tornado mais gentil — ou, pelo menos, mais submissa. Ela se ajoelhou ao seu lado e 0 ofereceu uma cumbuca de uvas descascadas. “Parece estar perturbado, ‘Vossa Santidade,” disse ela em uma voz sensual. “Acho que sim,” disse cle esfregando a sobrancelha. “Alguém roubou algo precioso para mim, algo que achava ser impossivel até este instante, “E como poderia alguém lograr tal feito?” disse ela em choque. Thoth-Amon nfo conseguiu precisarse ela estava zombando dele. Ele ergueu seu punho sua frente olhou para o Anel Serpentino de Set. Elenao era nada além de um simples acdito antes de sua pesquisa o levar a0 anel. Seu poder o pds em uma estrada triunfal, tornando-o © mais poderoso sacerdote de Set em toda a Stygia. Sem ele, ele nao teria sido nada. ‘Nao faco ideia,” disse ele olhando para o anel. Era parecido com uma cobra, sua cabega devorando a cauda, (Qu deveria parecer. ‘Thoth-Amon arfou em puro horror e pés-se de pé, jogando a cumbuca no chao. As uvas rolaram como cabecas recém decapitadas pelos grossos tapetes que cobriam o chao de pedra. “O, Sed” gritou ele a0 perceber que o anel que estava usando nio era nada além de uma falsificagio. Uma cdpia barata elaborada para nio levancar suspeitas, pois 0 ladrio que 0 roubou o usou para abrir seu cofre e, assim, usurpar todo seu conteiido. ‘Thoth-Amon se virou para a imagem de Set que enquadrava a porta de seus aposentos, uma boca enorme ¢ escancarada cheia de presas que agora parecia ameaci-lo, ao invés de seus inimigos. “Por que me abandonaste?” “O que foi, Vossa Santidade?” perguntou Kimshalla, assustada pela repentina mudanga de humor. “Meu anell” disse cle em absoluto terror. “O Anel Serpentino de Set... sumiu!” Parte Il omo assim?” Kimshalla, confusa, fitava Thoth-Amon, que olhava para o anel cintilante em seu dedo. “Quero dizer que isto aqui é falso!” disse Thoth-Amon tirando o anel de sua mao mostrando-o para ela. "Este néo é 0 Anel Serpentino de Set. Nao é nada além, de uma cépia barata feita para me enganar, para eu néo perceber que tinha sido roubado!” “E um problema tao grave assim?” Ela se aconchegou no mago, em uma clara tentativa de conter seu resplandecente desalento. “E que, Vossa Santidade é um mago tio poderoso. O que pode significar um simples anel para o senhor?” “Tolat” Ele a estapeou para longe, fazendo-a tombar com a mio em seu rosto arroxeado. “© que vocé acha que € preciso para sc tornar alguém capaz de esmagar todo ¢ qualquer outro mago da Stygia? Mesmo que todos se juntassem contra mim, ainda poderia destrut- los, e eles sabem disso — contanto que eu possua o Anel Serpentino de Set.” “Vossa Santidade esti longe de ser impotente,” disse Kimshalla, com dificuldades para csconder 0 amargor deixado pela crucldade com que cle a tratava. “Ainda tem sua magia. Ainda ¢ 0 governante de Luxur. Ainda ¢ 0 poder por tras do trono do Rei Cstephon.” ‘Thoth-Amon ladrou uma risada falsa. “Essas pessoas ndo me seguem por amor, mas por medo. Medo do que posso fazcr a clas com um simples pensamento. Quanto tempo acha que isso vai durar?” Kimshalla se pés de pé c sc arrastou para uma copa na qual repousava uma garrafa de vinho Shemiano e um cilice de cristal. “Nao hé ninguém leal ao senhor?” Thoth-Amon ridicularizou sua inocéncia. “Serei tratado como um velho leio que foi cexpulso de sua alcatcia. Logo os chacais se rcunirdo ao meu redor — sozinho ¢ vulnerivel — e-em pouco tempo fincardo suas presas e me desfiarao em pedacos.” “E Malach?” Kimshalla encheu 0 calice ¢ 0 levou ao sumo-sacerdote. “Ou o Rei Cstephon? Acha mesmo que 0 abandonariam tao depressa?” “Eu o pus no trono. Pode pensar que ele possui algum senso de obrigagio para comigo, mas cle nio passa de um covarde fraco ¢ medroso que sc deixa manipular com extrema facilidade.” Kimshalla se surpreendeu com a ousadia do homem ¢ 0 entregou o eilice. “O senhor pensa to pouco do seu re “Sao essas as exatas caracterfsticas que mais aprecio nele. Acha mesmo que eu ajudaria um governante com poder suficicnte para questionar minhas vontades?” Thoth-Amon cheirou o vinho e entio o devolveu para a mulher. “Nao esta com vontade?” perguntou ela surpresa. “Prove.” “Nao confia nos seus préprios servos?” “Como acha que fiquei tanto tempo no poder?” Ele desferiu um olhar pesado para cla. “Prove.” Kimshalla deu de ombros ¢ levou 0 cilice aos labios. Fla j4 provara muitas bebidas € comidas para Thoth-Amon antes, e sua relutancia para tomar esta bebida em particular © preocupou. Isso o levou a pensar outta coisa, Como alguém conseguiu roubar o Anel Serpentino de Set dele? Teria um dos magos menores do Circulo Negro que governava a Stygia roubado o artefato fazendo uso de uma magia vil? Isso ja hat jo tentando, ¢ quem o fez. pagou por isso com a prépria vi Nenhum deles nem chegou perto de ter sucesso, O préprio Anel Serpentino possibilitaa isso. Alguém deve té-lo subtraido pessoalmente. Mas como ele nunca 0 removia de sua mio, isso parccia ser impossivel. ‘A no ser que estivesse dormindo. s olhos de Thoth-Amon se abriram. “Vocé!” grunhiu ele para Kimshalla, ‘As duas silabas eram tudo que a mulher precisava para saber que o sumo-sacerdote tinha descoberto quem estava por trés de sua desgraga. Ela desferiu um xingamento acalorado € jogou 0 vinho que nio havia provado no rosto de Thoth-Amon. Enquanto o homem se recompunha, Kimshalla quebrou o cabo do cilice de cristal ¢ inyestiu contra ele, Thoth-Amon abriu os olhos bem a tempo de ver a traidora mirando seu pescogo, ¢ virou 0 ombro para tentar desviar. O fragmento cristalino entrou fundo na carne de seu braco, ¢ele urrou de dor. Assustado ¢ enfurecido, Thoth-Amon socou a mulher, que teve © nariz quebrado pelo desprezivel ancl com um alto ¢ prazeroso estalar. Ela cambalcou para tris, levando 0 cabo do cilice consigo, arrancando-o do brago do sacerdote. Ela bateu forte nos tapetes, agarrando 0 rosto, sanguc correndo por entre scus dedos. Thoth-Amon pressionou seu brago ferido amaldigoou a mulher. Da tiltima ver que uma escrava o atacou, cle usou o Ancl Scrpentino para clamar que Sct cnviasse uma nuvem negra € que um turbilhao de cobras-navalha descesse do céu noturno para arrancar a pele de sua carne. Quando 0 céu se abriu, cla nao era mais do que um amontoado de ossos escarlates. Em seguida, para deixar claro scu desprazer, Thoth cnviou uma praga de cobras cm diregio a Luxur para rastrear € matar todos os primos da mulher. Na manba seguinte, diversos corpos foram descobertos em suas camas com suas faces inchadas e arroxeadas por um veneno letal. Infelizmente, sem 0 Ancl Serpentino, os poderes de Thoth-Amon sc esvairam, restando quase nada. Por causa disso, ele teve que optar por uma abordagem mais direta, por mais que © consternasse ter que sc rcbaixar a isso. Ele avangou ¢ chutou a barriga de Kimshalla com sua sandilia, Ela se encolheu ¢ abragou 0 estémago, respirou fundo ¢ gritou com toda a forca de scus pulmécs. O sacerdote chutou sua cabeca para aquietécla. Ele teve que chuti-la mais trés vezes antes que a mulher desmaiasse. O grito fez os guardas entrarem assustados pela porta. De espada em punho, estavam prontos para proteger Thoth-Amon de quaisquer ameagas que poderiam ter incitado tal alvoroco. Quando o viram de pé frente & mulher inconsciente, rapidamente embainharam suas espadas. Aquela nao era a primeira vez.que os guardas viram Thoth-Amon sobre uma eserava ferida ou até mesmo morta, Eles sabiam que perpuntar o que havia acontecido $6 incitaria sua fiiria, Em vez disso, silenciosamente ergueram Kimshalla entre cles ¢ foram em direcio A porta, “Executem-na,” orelenou Thoth-Amon. “Imediatamente, E depois mandem alguém vir limpar csta bagunga.” “Sim, Vossa Santidade,” disseram em sincronia. Antes que pudessem sair, Malach invadiu o recinto. “Ouvi gritos,” disse ele tentando se explicar, “O que ela fez, para desagradé-lo, Vossa Santidade? ‘Thoth-Amon fechou a cara. Nao queria contar a verdade, jé que isso exporia sua fraqueza Antes de conseguir elaborar uma historia vidvel, Malach ficou boquiaberto ao ver como 0 sacerdote agarrava scu ombro ¢ 0 sangue que escapava por entre scus dedos. “Esti ferido?" disse o homem em absoluta descrenga Um dos guardas soltou Kimshalla e sua cabeca bateu com forca no chao. Ela nio protestou. “Isso — isso é impossivel.” “Um mero arranhio,” disse Thoth-Amon. Era possivel ver a realidade da situagio alvorecer no olhar de Malach. Ninguém havia visto o sumo-sacerdote ferido antes. Ele sempre tomara muito cuidado para estar seguro e protegido. Uma mulher —uma escrava do templo — conseguir feri-lo s6 podia significar uma coisa, Ele estava vulnerivel. Nao demorou nem um instante para Malach se aproveitar disso. “Guardas! Pela autoridade do Rei Cstephon a mim concedida, ordeno que prendam Thoth-Amon!” Ante por Garry Brown Parte Ill usas me prender?” disse Thoth-Amon para Malach. “Sou 0 Sumo-sacerdote de Set e soberano de Luxur. Minha autoridade aqui é absoluta!” ‘A ordem dada por Malach aos guardas surpreendeu Thoth-Amon mais do que ele gostaria de admitir, até para si mesmo. Se seu conselheiro mais préximo cstava preparado para sc virar contra cle téo rapidamente, entao as coisas j4 cstavam piores do que imaginava. Sc 0 quc Malach disse cra verdade ~ quc cle falou cm nome do rei — entio aquele pobre e fraco Cstephon tinha aparentemente ganhado coragem. Nio s6 isso, tinha sido esperto o suficiente para perceber que nao poderia desafiar ‘Thoth-Amon em plena posse de seus poderes, mas planejou com antecedéncia para se aproveitar de qualquer fraqueza que o sumo-sacerdote demonstrasse. Ou talvez o rei estivesse por trés dos seus recentes revezes. Teria ele realmente fomentado uma conspiracio? Teria ele ordenado que um escravo surrupiasse o anel enquanto Thoth- Amon dormia ¢ 0 trocasse por um falso? Se fosse verdade, por que nao haviam feito isso antes? Por que Malach esperou tanto tempo? Thoth-Amon tinha muitas perguntas € pouquissimo tempo para arrancar as respostas de quem talvez as tivesse. Ele precisava agira agora, “Peguem 0 traidor!” gritou para os guardas enquanto apontava para Malach. © guarda que ainda scgurava as pernas de Kimshalla as soltou, entao os dois homens sacaram suas espadas e se viraram para 0 conselheiro, sumo-sacerdote se deu ao luxo de esbogar um sorriso nos cantos de sua boca, Se estes homens podiam ser intimidados a obedecé-lo ~ como 0 fizeram por tantos anos = entio talvez. ainda houvesse uma maneira de por um fim a este golpe. Ele poderia executar Malach por traiga0, c torturar Kimshalla ele mesmo até que revelasse detalhes da conspiragio. Com sorte, ela talvez pudesse leva-lo ao Anel Serpentino. Entio, Malach deu aos guardas um sorriso nervoso e bateu-lhes uma firme continéncia. Eles responderam 4 altura, ¢ Thoth-Amon soube imediatamente que aquele cra seu fim. Ele fez, entio, a nica coisa sensata que poderia fazer quando confrontado com tamanha trai¢io. Ele se virou ¢ fugiu. O sumo-sacerdote langou-se em diresio a porta, correndo o mais ripido que suas sandélias aguentavam. Os guardas exclamaram uma represélia e puseram-se a correr atris dele. “Vocé nio tem para onde fugit!” disse Malach. “Vocé governava Luxur pela crueldade ¢ pelo medo! Acha mesmo que alguém te demonstraria compaixao?” ‘Thoth-Amon tentou persuadir asi mesmo de que o homem estava enganado, mas ele sabia que era verdade. Ele era um adulador habilidoso quando se tratava de convencer aqueles acima dele a dar-lhe poder. Sua labia ajudou a por o Rei Cstephon no trono, afinal. Mas cle jd havia perccbido que tais esforcos cram incdmodos demais quando cra preciso lidar com aqueles abaixo dele. Ao lidar com almas tio miserdveis, ele preferia estalar 0 chicote ao invés de servir 0 vinho ~ e, por tempo demais, todos, com excesio do rei, estiveram abaixo dele. A cobranga de tributos as arcas de Set, os sactificios ritualisticos daqueles que se recusaram a pagar, a praga quc ele langou sobre scu préprio pov quando cles 0 desagradaram. Thoth-Amon era um governante brutalmente eficiente € nunca parou para pensar nas represélias que poderia receber das maos de qualquer um abaixo dele. Até mesmo o Rei Cstephon temia se opor a ele, por mais felizes que publ aparentassem estar. © que agora significava que ninguém — nem uma tinica alma — ofereceria a ele um isis onde poderia se recuperar de um deserto de amizades que fracassou em cultivar. A verdade das palavras de Malach ecoou na cabega de'Thoth-Amon por um tempo mais longo do que foi possivel ouvi-las, mas 0 sacerdote poupou seu folego para a fuga, nao para retrucar, Ele sabia que, se corresse para os portoes, Malach alertaria os guardas antes que pudesse alcanga-los. Se mesmo por um milagre cle chegasse I4 primeiro, qualquer um que visse 0 sumo-sacerdote correndo com um par de guardas jovens e saudaveis atris dele saberia imediatamente que algo estava errado, E, agora, Thoth-Amon nao tinha a ilusio de que alguém que visse aquela situagdo ficaria do seu lado. Em ver disso, 0 sumo-sacerdote rumou para a sala do trono. Malach eo Rei Cstephon no era 0s tinicos elaborando planos scerctos, ¢ era chegada a hora de cle colocar os seus em movimento, Thoth-Amon jé sabia hd muito tempo que seu governo sobre Luxur culminaria em um pice de violencia, e que, um dia, até mesmo sua sorte se esgoraria. Ele sé esperava que isso fosse acontecer muitos anos mais tarde. Infelizmente, cle nao se preocupou em incluirem nenhum de seus planos a possibilidade de ele estar, de algum modo, desprovido de seus poderes. Ele achava que seu fim chegaria com ele deixando metade de Luxur morta ao ser forcado a fugir da cidade. Agora, cle teria que se esgueirar como um ladino na noite. A ironia naquilo nao passou despercebida por ele. Se os dois guardas nao estivessem de armadura, sendo mais jovens e mais fortes, j4 0 teriam aleancando. Seu peito jé arfava em busca de ar, e uma pungéncia jé o perturbava na lateral do seu dorso. Nao demoraria até suas pernas cederem e o sangue do ferimento no ombro escorrendo em seu braco nao ajudava. Ele precisava fazer alguma coisa para fugir dos guardas, e logo. “Detenham-no!” gritaram os guardas. "O sumo-sacerdote esti preso!” Ainda nao. Thoth-Amon acelerou 0 passo rumo a sala do trono, passando direto pelos dois guardas ante & porta, que o olharam surpresos. “Vossa Santidade!” um deles exclamou. “Thoth-Amon chegou ao trono no instante em que seus guardas invadiram 0 salio. “Parado, Vossa Santidade! Nao ha mais para onde fugis!” © sumo-sacerdote conseguia entender por que cles pensavam assim. Sé havia uma porta para entrar ou sair do salio, e havia quatro guardas em frente a ela. Thoth-Amon nao era pequeno, mas era mais feiticeiro que guerreiro, Era impossivel enfrentar aqueles quatro jomens, muito menos o restante dos guardas que incvitavelmente viriam ajudé-los, h t cante dos guard tavelment dak “Eu voltarei,” prometeu a eles em voz baixa, carregadas de um tom ameagador. “ terei minha vinganga.” Com isso, deu um passo a frente e pisou no botao que abria o algapao que ficava em frente ao trono. Antes dos guardas conseguirem alcanca-lo, mergulhou nele. Thoth-Amon caiu sobre o corpo do homem que havia jogado ali mais cedo. O corpo ainda estava quente, mas, agora, repousava embaixo de uma camada de cobras que se aninharam sobre ele As cobras atacaram Thoth-Amon, ¢ ele nao as culpava. Suas presas fincaram fundo em sua carne, mas, felizmente, j4 tinham gasto todo seu veneno com a presa anterior Embora as mordidas doessem, nao queimavam com seu fatal veneno, Os guardas acima nao pareciam dispostos a arrisear suas peles. Eles se aglomeraram ¢ gritaram para o sumo-sacerdote. Um deles se deitou no chao € enfiou o brago no alcapio, esticando-o 0 mais fundo que conseguia em uma va tentativa de alcancar 0 sacerdote. “Me dé sua mao!” ‘Thoth-Amon apenas riu e fugiu, adentrando ainda mais o fosso de cobras, oferecendo um silencioso clamor a Set na esperanca de que o deus serpente nao 0 tivesse abandonado por completo, Ante por Garry Brown Parte IV hoth-Amon se esgueirou por entre as passagens secretas que forravam as paredes, do Templo de Sct, tomando muito cuidado para perturbar o minimo possivel as filhas rastejantes do deus serpente. Nao havia sinal de perseguigao atrés dele, mas ele constantemente ouvia vozes soando alarmes ¢ seu nome sendo proferido em tons incrédulos. Thoth-Amon sabia que sair do templo nao seria dificil para cle. Havia intimcras saidas que ele poderia usat, ¢ nio teria como os guardas patrulharem todas. Ele s6 precisava ganhar tempo até ter certcza de que nao seria importunado ¢, com isso, deixaria 0 templo para tris. O problema seria sair de Luxur. O centro da cidade era cereado por uma muralha patrulhada dia ¢ noite, ¢ nio teria como Thoth-Amon simplesmente escali-la como um ladeio. Ble teria que usar um dos portdes principais, mas Malach botara todos os guardas procurando por ele como viboras atentas e prontas para dar o bote. Se quisesse sair da cidade, precisaria de ajuda, ¢ ninguém que morava em Lusur provavelmente o ajudaria, Ele teria que fazer uma coisa completamente contriria & sua natureza: depender da gentileza de estranhos. Atormentado s6 de pensar nisso e a que ele havia sido reduzido, Thoth-Amon enfaixou 6 ferimento que Kimshalla fez a0 atacé-lo c esperou dentro das paredes do templo até que a escuridéo tomasse conta da cidade, Sabendo que suas vestimentas sacerdotais entregariam sua identidade, decidiu ficar apenas em suas roupas de baixo, nas quais ele esperava passar por um pedinte, apesar de serem de tecidos finas e estarem muito limpas. Em uma tentativa de remediar tal constatagSo, esfregou a pocira acumulada na passagem sccreta no tecido, Pocira essa provavelmente formada pelas peles esfaceladas das milhares de cobras que por ali vagavam. Quando a noite finalmente chegou, 0 sumo-sacerdote abriu uma porta secteta e saiu do templo para a cidade. Ble se sentiu ainda mais nu nas ruas do que de fato estava, sem um Unico guarda ao seu lado, mas, pelo menos, ainda era um homem livre. Ele saiu do templo correndo como um rato sendo perseguido por um gato, ¢ em instantes, perdeu-se por entre as vielas tortuosas de Luxur, pelas quais ndo vagava desde que entregou sua vida a Sct como um dos novos acélitos do deus serpente. Se movia rapidamente, sem rumo definido, para impedir que © reconhccessem ¢ para evitar que assassinos nas vielas tivessem a oportunidade de bolar quaisquer planos para scu destino, Conforme avangava, langava um olhar atento para todos os lados, em busca de alguém que pudesse ajudi-lo. Preciso de um estrangeiro. Alguém que ndo me reconheca ¢ se volte contra mim. Alguém que néo tenha razéo para me odiar ainda Ele foi em diregio a0 portio mais préximo. Seria um dos mais bem protegidos, mas no queria arriscar ficar exposto nas ruas por muito mais tempo. No caminho, avaliava suas chances com qualquer pessoa cm quc scus olhos repousassem. Muitos cram moradores, que de nada serviriam. Os poucos estrangeiros que avistou caminhav: em grupo, provavelmente para sua propria seguranga, ¢ 0 sumo-sacerdote preferiu no abordé-los diretamente. Ele preferia lidar com alguém sozinho. Assim, se decidissem trai-lo, ele talver pudesse ser capaz de matélos antes de terem essa chance. E claro, ele nio tinha arma algum: entdo teria que cstrangulé-los com as proprias maos. Ele amaldicoou o fato de nao ter dinheiro com ele. Como sacerdote de Set, ele raramente precisava de dinheiro. Suas necessidades eram atendidas pela igreja, e se ele quisesse alguma coisa, bastava enviar um jovem sacerdote para compré-la ou tom: deixava qualquer tentativa de suborno mais dificil. Conforme se aproximava da muralha da cidade, Thoth-Amon ficava mais Se nao encontrasse ninguém logo, teria que esperar em uma viela até que alguém passasse, algo que ele nao gostaria de ter que fazer. Quando estava a poucos metros da muralha, finalmente avistou alguém que talvez pudesse servir. Era um homem de Korh, vestindo roupas de viajante, um mercador a0 que parecia, Melhor ainda, ele estava sozinho e se movendo de uma maneira que denunciava sua inebriedade — e que talver.estivesse suscetivel a novas amizades gragas ao vinho. “Com licenga,” disse Thoth-Amon surgindo detras do homem. “Acredito que o senhor talver possa me ajudar.” O sacerdote se revirava por dentro por precisar adotar um discurso tao formal para implorar a um estranho por ajuda. Mas se isso fosse manté-lo longe das mios de Malach, entao scria preciso engolir cada pedago do seu orgulho e suportar o vexame. O estrangeiro se balangou para ver quem se aproximara dele, ¢ Thoth-Amon ficou aliviado ao ver que © homem estava longe de ser capaz de identifics-lo. “Do que precisa?” perguntou o estrangeiro um tanto deseonfiado. “Como pode ver, fui atacado e roubado.” Thoth-Amon apontou na diregio da ferida em scu ombro. “Levaram tudo que cu tinha.” © homem acenou com descrenga a cabeca. Claramente j4 havia ouvido histérias mirabolantes de pedinces, mas, pelo menos, nao dispensara Thoth-Amon de imediato. “E voce quer dinhciro para comprar roupas?” perguntou o homem com uma risada presungosa enquanto acenava para o estado de nudez do sumo-sacerdore. “Nio. Bem, sim, preciso de roupas, mas também de muito mais, Preciso sair desta cidade amaldicoada.” © homem indicou o portio mais préximo para Thoth-Amon, a apenas duas quadras dali. “Apresente-se i guarda da cidade, Tenho certeza que terio prazer em pé-lo para fora.” sumo-sacerdote enrugou a testa ¢ balangou a cabeca. “Foi um guarda que fez isto comigo,” disse. “Ces corruptos se aproveitam de tudo em seu caminho.” Ealio olhar do homem indicou que ele havia captado a mensagem. “Vocé precisa que cu atravesse vocé pelo portio.” “O mais répido ¢ silenciosamente possivel.” Um sorriso largo preencheu a face do homem, dividindo sua barba volumosa em dois. Ele trouxe o sumo-sacerdote para perto dele ¢ 0 guiou até um dtrio escurccido nas cercanias. “Vocé est com sorte, meu amigo, pois estou para sair da cidade com uma leva de camelos, rumo ao norte, em directo a Koth, me cairia bem ter mais mercadoria para vender.” “Mercadoria?” Thoth-Amon olhava 0 homem, confuso, porém grato. “Assim que estivermos fora da cidade, terei prazer em pagar por seus servicos.” “Nio serd necessirio,” disse 0 homem. “Seu servigo sera pagamento suficiente.” Foi ali que Thoth-Amon percebeu que havia outros homens no atrio ¢ que o haviam cercado. Antes de poder expelir uma tinica palavra em protesto, eles 0 espancaram até que quase perdesse a consciéncia. Conforme cla se esvaia, ouviu o homem ordenar, “Ponham-no na traseira da carroga, ¢ andem logo. Vocés sabem do que Koth precisa mais do que camelos? Escravos.” ‘A risada selvagem do homem foi a iltima coisa que Thoth-Amon ouviu por muito tempo. Ante por Garry Brown ‘océ devia demonstrar mais gratidio pelo homem que salvou sua vidal” disse Zaldin a Thoth-Amon enquanto o feiticciro servia vinho de forma descuidada € com muito desprezo a0 cameleiro. Apés sairem 0 mais répido que podiam da Stygia através de Shem, Zaldin c scus homens finalmente atravessaram a fonteira para sua terra natal, Koth. Eles decidiram comemorar com um banquete improvisado aos pés das Montanhas do Fogo antes de enfrentarem 0 Deserto Kothiano com sua caravana no dia seguinte. Mas Thoth-Amon parecia determinado a arruiné-lo, O ex-sumo-sacerdote de Sct sobreolhou os trapos que reccbeu para vestir como servo do cameleiro ¢ zombou. “E. dificil expressar gratidéo por um homem que planeja me vender, eu que ja fui o maior feiticeiro da Stygia, como escravo.” Zaldin riu para cle. “Para o ‘maior feiticciro da Stygia’, vocé di um péssimo servo. Duvido que consiga um bom prego por voce”. “Qualquer coisa ¢ melhor do que nadal” declarou um dos homens de Zaldin. Thoth- Amon nao se deu ao trabalho de saber seus nomes. Eram todos uniformemente barbaros, © o tinico pensamento que gastava com eles era o quanto mais ele teria que esperar até poder matar todos. “Que tal deixarmos ele se juntar a nés?” disse Zaldin. “Os camelos parecem gostar do fedor dele”. Os homens gargalharam 0 ouvir isso, Thoth-Amon se virou e saiu da tenda, com medo de acabar falando algo que o faria merecer uma surra. Ele ficou ali, sozinho, naquele vale raso em que Zaldin decidiu montar acampamento. Os camelos estavam ali perto, agitados, poucos deitados para dormir, apesar da escuridio que os envolvia. Conforme os olhos do feiticeiro se ajustavam, percebeu o que agitara tanto os animais. Em meio 3 escuridio, um bando de invasores tinha adentrado 0 acampamento. Estavam fazendo tanto barulho que Thoth-Amon se perguntou se Zaldin ¢ seus homens ainda nao 08 tinham ouvido. O vinho horroroso que estavam bebendo deve ter deixado seus sentidos dormentes. Tudo que Thoth-Amon precisava fazer para salvar a vida dos camelciros era soar um alarme. Esse simples ato permitira que Zaldin ¢ os outros tivessem alguma chance de se defender contra os saqueadores que invadiram 0 acampamento. ‘Um dos homens se virou para o feiticeiro, com sua espada em mios. Ele era um homem alto c magro cm trajes desgastados de veludo, parccia scr da Aquilénia. Ele arqucou a sobrancelha para Thoth-Amon, indicando uma pergunta vital. O feiticeiro levou um dedo aos labios e saiu do caminho, gesticulando para os invasores prosseguirem em direedo 4 tenda. © homem brandiu sua espada para indicar o ataque, ¢ cles avancaram. (Os gritos profanos que se seguiram nada puderam fazer para salvar Zaldin ¢ os outros Kothianos. Instantes depois, estavam todos mortos, seu sangue empogado no solo de sua terra natal O homem da Aquilénia — que havia se juntado aos demais na chacina ~ Amon e pds sua espada na garganta do feiticeiro. O Stygio reagiu com espanco. “J fiz o suficiente para merecer a sua piedade?” perguntou. “Vocé fez por merecer uma chance de me convencer a nao te matar,” disse o homem. “Sob qualquer outta circunstancia, jé 0 teria matado.” “Nio sou ninguém,” disse 0 sacerdote destronado desferindo um olhar atento para homem. “Nao valho o seu esforgo”. “Entao, que morra.” O homem ergueu sua espada, pronto para fatiar Thoth-Amon. “Espere!” disse 0 Stygio. “Meu nome é Thoth-Amon, eu era o sumo-sacerdore de Set. Esses homens me sequestraram em Luxur e me forcaram a serviclos”. O homem cogou o queixo. “Vocé parece mesmo um Stygio, devo confessar. Mas sinto que lido melhor com um feiticcito morto do que com um que pode acabar se voltando contra mim.” “Libertar-me nio atigaria minha ira. Muito pelo contririo.” © homem riu. “Sinto que essa op¢io nao esta disponivel.” Sentindo a morte se aproximar, Thoth-Amon ergueu as mios. “Valho muito mais vivo para vocé do que morto. Estou disposto a me oferecer como seu servo em troca de minha vida.” “Um feiticeiro de estimacao para Ascalante?” disse um dos saqueadores saindo da tenda dos Kothianos, “Isso eu preciso ver!” Ascalante, no entanto, nao parecia ver graca naqucla situacio. “Nunca poderia confiar em voce. Vocé me mataria na primeira oportunidade que tivesse,” disse ele a seu prisioneiro. “Mas talvez cu tenha como remediar isso.” Ele pegou Thoth-Amon pelo brago ¢ 0 guiou até a tenda onde o corpo dos cameleiros estavam esfriando, “Traga-me uma pena e um pergaminho”, ordenou ele ao sacerdote. Thoth-Amon fez.0 que foi pedido, sem demonstrar um pingo de relutincia. Ele néo tinha desejo de estragar qualquer plano insano que o homem tivesse bolado para prendé-lo a seu servigo. Se isso fosse o necessirio para sobreviver iquela noite, entio era o que Faria, Ascalante escreveu alguma coisa no pergaminho com mio firme, selou com cera e pressionou com scu anel. Entao, 0 entregou a um de seus homens. “Entregue isto a0 velho ermitio,” disse ele, “Ele sabersi o que fazer.” O homem concordou com a cabega e parti em meio & escuridio. “O que era aquilo?” perguntou Thoth-Amon apés a saida do homem. “Se eu morrer de causas nio naturais, o ermitio para quem enviei aquele pergaminho saberd, devido a um feitigo que me lancaram hd muito tempo. Quando isso acontecer, ele violaré 0 selo daqucle pergaminho c seguira as ordens que escrevi nele.” ‘Thoth-Amon sentiu calafrios percorrerem seu corpo. “E essas ordens seriam?” “Revelar o seu segredo ¢ a sua localizagio para o Rei Cstephon. Quanto tempo voce acha que sobreviveria depois que isso acontecesse?” ‘Thoth-Amon quis gritar, se jogar contra cle ¢ esmagar seu pescoco com as préprias mios. Mas ele sabia que havia sido vencido. Ele nao viveria por tanto tempo brincando com 0 destino, de te salvar de uma vida longa e chata como servo de cameleiros. Tenho planos para tomar o trono da Aquilénia daqucle Cimério cstépido que sobre cle se senta. E vocé pode me ajudar nisso.” “Nao me interesso nos assuntos de terras estrangeiras.” nte riu dele, “Pois vai se interessar.” Ele se inclinou na diregio do sacerdote, sua voz dorada de um tom ameagador. “Nao vai?” Apés uma breve hesitagio, Thoth-Amon sussurrou uma tinica palavra. “Vou.” Seo veneno no olhar de Thoth-Amon conseguisse ser capaz de envenenar 0 Aquiloniano, ele teria morrido ali mesmo. Em vez disso, o feiticeiro exclamou em uma voz evidentemente irritada, "Vou sim, mestre” Fj Ante por Garry Brown Age of Conan: Valeria eae Capa alternativa de EMA LUPACCHINO- ELA ESTA ATRAS DA VERDADE E DE VINGANCA! ‘Aventure-se pela Era Hiboriana com Valéria, a heroina “Transbordando do clissico conto ‘A Cidadela dos Condenados’, em uma __yinganga, determinacao historia que aconteceti muito antes de ela se tornar pirata —_@ mfstério, tudo marcado mercenaria e antes também de cruzar o caminho de Conan ¢ da Irmandade Vermelha. Ela € uma jovem da porcenas explosivas aaniehis chy tases de jana pas a eae misturadascom enfrentar as duras paragens da Era Hiboriana para flashbacks comedidos.” provar suas habilidades frente aos que duvidam dela. Sua -COMICBOOK.COM confianca ser4 abalada ¢ ela encontrar muito mais do que imaginaya em sua sede de vinganga ‘CONTEM: AGE OF CONAN: VALERIA 15 EM 128 PAGINAS. ana MARVEL ‘whee cm

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