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isi CONSCIENCIA CRITICA E FILOSOFIA Filosofia, que palavra acertadal (...) todo © nosso saber sempre Permaneceré filosofia, isto é, sempre um saber apenas em progresso, Cujo grav superior ov inferior devemos apenas ao nosso amor & sabedoria, isto é, a nossa liberdade. Schelling “Aritbteles contemplando 0 busto de Homero (1653) —~ Rembrandt Uno. 1 42 © homem como (GALLERIA DELL ACADEMIA, VENICE/SUPERSTOCK O processo continuo de conscien- - tizacao faz do homem, portanto, um sis- tema aberto, fundamentalmente relacio- « nado com 0 mundo e consigo mesmo, O ser humano pode voltar-se para dentro de * si, investigando seu intimo, e projetar-se para fora, investigando o universo. ; Aberto ao ser e ao saber, a conscien- tizagao faz 0 homem dinamico, Eterno caminhante destinado a procuraeaoen- | contro da realidade. Caminhante cuja es- Frazee Frosora INSCIENCI © DESENVOLVIMENTO DA CO! A sistema aberto Homem: o ser que sabe que sabe. Estudo das proporgdes do corpo humano feito por Leonardo da Vinci em 1500. Panial sabe. Mas, certamente, ele nao sabe que sabe: de outro modo, teria '4 muito multiplicado invengGes e desenvolvido um sistema de construges internas. Conseqiientemente, permanece fechado para ele todo um dominio do Real, no qual nos movemos. Em relacao a ele, por sermos reflexivos, nao somos apenas diferentes, mas outros. Nao s6 simples mudanca de grau, mas mudanca de natureza, que resulta de uma mudanca de estado. CHARDIN, Teilhard de. O fendmeno humano, p. 187. * com o ser, o saber e o fazer, essas ditt | A DIALETICA DO EU E DO MUNDO ” * © préprio sujeito, son © dando aalteridade (do latim alter, “ Muito jé se escreveu sobre ag ¢ racterfsticas humanas. Entretanto ¢ vez nada caracterize melhor 0 sey mano do que a consciéncia, istg é desenvolvimento dessa atividage mental que nos permite estar no do com algum saber, “com-cié Por isso, a biologia classifica o homen, atual como sapiens sapiens: o ser g sabe que sabe. E que o homem é g paz de fazer sua inteligéncia debrug sobre si mesma para tomar posse seu proprio saber, avaliando sua con sisténcia, seu limite e seu valor. trada é feita da harmonia e do sdes essenciais da existéncia humana © ConsciéNcia cRiTICA? A consciéncia pode centrar-se $ sondando a inte ridade, ou sobre os objetos exterioresy Car 8 Consctncn chtnca & oven Portanto, ha duas dimensdes complemen tares no processo de cons ientizagao: a consciéncia de si e a consciéncia do outro, A consciéncia de si, isto é, a concentra- io da consciéncia nos estados interiores do sujeito, exige reflexio, Alcanga-se, por in- termédio dela, a dimensao da interioridade que se manifesta através do processo de falar, criar, afirmar, propor e inovar. A consciéncia do outro, isto 6, a concentracao da consciéncia nos objetos exteriores, exige atencdo. Alcanca-se, Por intermédio dela, a dimensao da alte- ridade que se manifesta através do pro- cesso de escutar, absorver, reformular, rever e renovar. ‘mundo, Mulher diane do espelbo (1932) — Pablo Picasso. ‘Conhecer a si mesmo e conhecer 0 mundo: reconhecer-¥¢ no O despertar da conseiéncia eritica (ou senso eritico) depende do harmo- nioso crescimento dessas duas dimen- ses da consciéncia: a reflexao sobre si € a atencao sobre o mundo. Se apenas uma delas progride, hé uma deforma- sao, um abalo no desenvolvimento da « consciéncia critica. Suponhamos, por exemplo, 0 cres- cimento s6 da consciéncia do outro. Essa atengao unilateral ao mundo, sem a re- flexao sobre si mesmo, conduziria a per- da da identidade pessoal, a exaltagao dos objetos externos, ao alheamento. Por outro lado, imaginemos o cres- cimento s6 da consciéncia de si. Essa re- flexaio em torno do eu, sem atengao so bre omundo, conduziria ao isolamen- to, ao fechamento interior, ao labirin- to narcisista. O escritor alemao Wolfgang Goethe (1749-1832) dizia queo homem 86 conhece 0 mundo dentro de si se toma consciéncia de si mesmo dentro do mundo. Assim, o desenvolvimento da conscientizagao humana depende da superacao do isolamento e do alheamento. E proceso dialético, que se move do eu ao mundo e do mundo ao eu. Do fazer ao saber. E do saber a0 refazer, e assim por diante. * Os muitos mobos DA CONSCIENCIA © Geralmente relacionamos a consciéncia apenas a capacidade cognitiva, ou seja, & capacidade de apreensao intelectual de uma dada realidade. No entanto, sendo 0 ho- mem um ser que se relaciona com a realidade através de mtiltiplos sen- aa ve! tidos © miiltiplas capacidades, pode- mos distinguir alguns modos da cons- ciéncia que estabelecem essa relacdo homem-mundo. A consciéncia mitica O termo mito tem diversos signifi- cados, Pode significar: uma idéia falsa, como quando se diz “o mito da superio- ridade racial dos germanicos difundido pelos nazistas”; uma crenga exagerada no talento de alguém, como em “Elvis Presley foi o maior mito da musica po- pular mundial”; ou ainda algo irreal e supersticioso, como o “mito do saci- pereré” Quando falamos em mito num sen- tido antropolégico, queremos nos referir as narrativase ritos tradicionais, integran- tes da cultura de um povo, principalmen- te entre as populagées primitivas e anti- gas, que utilizam elementos simbélicos para explicar a realidade e dar sentido & vida humana. Para o especialista romeno em hist6ria das religides Mircea Eliade (1907-1986): “O mito conta uma histéria sagrada: ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial (...) Omito narra como, gragas as faganhas dos en- tes sobrenaturais, uma realidade passou aexistir”, Através dos mitos, os homens con- seguiam explicara realidade e, dessa for- ma, criavam meios para, por exemplo, se proteger dos males que 0s ameaga- - vam, Por intermédio de ritos sagrados, procurayam afirmar e renovar suas alian- gas com of seres sobrenaturais e produ- zir uma sensagio de amparo diante dos — . um insight. A intuicao. conhecimento formal, reflet do tipo racional, conforme veremos adian- _ perigos da vida. Embora nao fosse um conhecimento 1. ELIADE, Mircea, Mito e realidade, p. 11. 2. PASCAL, Blaise. Pensamentos, 277, p. 107. 3 in um saber imediato, ou seja, que nao ight: ermo inglés que designa a compreensdo repentina de um problema ou si —— LULU a Fare Frosore te, a consciéncia mitica mostrava-se operativa isto 6, trazia resultados, thao os valores desejados pelas socied fades, sin. as lends relativas aos mitos de v4- ° cas em reflexdes sobre og ‘A consciéncia religiosa compartilha com a consciéncia mitica 0 elemento do so- brenatural,a crenga em um poder superior inteligente, isto é, a divindade. No entanto, 6uma consciéncia que, historicamente, con- viveuedebateu coma razao filos6ficaecien- tifica. Sua diferenca em relacdo a esses sa- eres estana renga em verdades reveladas pela fé religiosa, enquanto a filosofia ea d- éncia se apéiam sobretudo na razao para alcangar o conhecimento. Oslongos debates travados entre os defensores da fé e os da raz4o, durante a Idade Média, nao conseguiram conci- liar satisfatoriamente esses dois termos. No periodo seguinte, a discussdo pros- seguiu entre os filésofos como, por exemplo, os franceses René Descartes (1596-1650) colocando a énfase na razao e Pascal fazendo o contraponto ao afir- mar que “o coragao tem razdes que a razao desconhece”, isto é, existem ou- tras possibilidades de conhecimento das quais a razao nao participa. A intuigdo é uma forma de cons- ciéncia que pode ser apontada como 4 passa por mediacdes, que constrOl através de argumentos. Mulheres correndo na praia (1922) — Pablo Picasso, E possivel falarmos na existéncia de 10 sensivel e uma intuigao inte- referia a intuigao in- telectual como o conhecimento imediato de algo universalmente valido, que, pos- teriormente, poderia ser demonstrado atra- vés de argumentos. Jd a intuicao sensivel seria um conhecimento imediato restrito ao contexto das experiéncias individuais, subjetivas. Ou seja, sio aquelas “leituras de mundo” guiadas pelo conjunto de ex- periéncias de cada individuo e que, dessa forma, s6 podem ser “decifradas” a partir de suas vivéncias isoladas. Em um e outro caso, a intuigao tem um carater sincrético, isto é, representa uma aglutinacao de elementos indistin- tos que, posteriormente, podem ser des- dobrados em uma andlise. Quando isso se der, estaremos entrando no conheci- mento racional. A consciéncia racional Hegel considera que ha trés gran- des formas de compreensao do mundo, que seriam a religido, a arte e a filoso- Conschici cHinen € mOsm fia. A diferenga entre elas esta- ria no seu modo de consciéncia: enquanto a religido apreende o mundo pela fé, a arte o faz pre- dominantemente pela intuigéo ea filosofia, pelo conhecimento racional. A consciéncia racional bus- ca a compreensao da realidade por meio de certos princfpios estabelecidos pela razao, como, por exemplo, 0 de causa e efei- to (todo efeito deve ter a sua causa). Essa busca se caracteri- za por pretender alcangar uma adequacdo entre pensamento e realida- de, isto é, entre explicacdo e aquilo que se procura explicar. O conhecimento racional desen- volve um trabalho de abstragao e and- lise, Abstrair significa separar, isolar as partes essenciais. Analisar significa de- compor 0 todo em suas partes. Com isso, busca-se compreender 0 que defi- ne e caracteriza fundamentalmente o objeto em estudo. Esse procedimento racional, no qual se procura alcangar a “esséncia” de deter- minado fenémeno, é comum a ciéncia e & filosofia, que, de fato, se mantiveram liga~ das por muitos séculos. No entanto, a par tir da revolugao cientifica, no século XVI, esses dois campos do saber foram separa- dos e hoje guardam caracteristicas proprias. A ciéncia desenvolveu métodos cien- tificos, baseados em, in que permitem a observagdo dos dados empiricos ¢ a sua organizagao em teorias, ae aleangar © que é universal em. Devido ao actimulo de conhecimento ja : { | : A A Blowin se clintingue da clénela SOF TvAKS tedttio®, Prnis NO coNiciONA o ‘oto stan anvitise 4 tun laboratdrio cle expert> Mentagdes. Da meana fora, a filosofia nio Jrretenete an saber especializadto, ¢ sim um canhootinento que reagate a vinto de conjure: Ww. Parise octialogoentre filosofia eciénela + : rae | pessoas surge uma série de opinides @fandamental, pois wm lado complementa ooutr, Nessie clidlogo, a filosofia pode var Jerse dos rewuttacios aleangados pela ciéncla equestionddos de uma forma global, nquanto a cidnela procura, prinel- patnente, compreender o que so as col- ‘sas, OU Soja, fornecer a chave de compreen- ‘sho da reatidade, a filosofia, através da rawdo critica, é capaz de “estranhar” essa realidade cotidianamente e, assim, pro- coder & andlise em busca de seus funda- mentos, percebendo o que ela é ¢ pro- pondo o que ela deveria ser, Em outras palavras, a filosofia no busca somente ‘a descrigho objetiva da realidade, mas avalia e questiona essa realidade. * © aque t 0 SENSO COMUM © & SE TUDO ESTIVER ERRADO,..? wo. 1 faa frosone » comum. \ Perelman (1912-1984), 0 senso comum » tilhadas por todos os homens. ‘ De maneira geral, 08 varios modog da consciéncia coexistem, em maior oy menor gra, quando emitimos algum juizo sobre a realidade. Vejamos como ta no chamado senso — 3 inso se manifes Em nossa conversa didria com < 4 bre os mais variados assuntos. Muitas dessas opinides freqiientemente conse- guem um consenso, isto é, obtém a cordancia da maioria das pessoas de um grupo. Essas opinides podem 2 tornar concepcées aceitas por segmentos de uma sociedade. Esse vasto conjunto de concepg6es geralmente aceitas como verdadeirasem determinado meio social recebe 0 nome 4 de senso comum. Para o filésofo belga Chaim 3 consiste em uma série de crencas admit tidas por um determinado grupo social, cujos membros acreditam serem compar Muitas das concepcdes dosen- so comum de um povo ou de um grupo social transformam-se em frases feitas ou em ditados popu- lares, como, por exemplo: Can. 3 © Conan cafnca & RIOSORA Repetidas irrefletidamente no coti- iano, algumas dessas nogdes escondem jdéias falsas, parciais ou preconceituosas. ° Outras podem revelar profunda reflexdo sobre a vida — 0 que chamamos “sabe- doria popular”. Mas o que caracteriza basicamente as nogées pertencentes ao senso comum nao a sua verdade ou falsidade. Ea fal- ta de fundamentagio sistematica. Isto 6, as pessoas nao sabem o porqué dessas nogoes. Trata-se, portanto, de um. conhe- cimento adquirido sem uma base criti- ca, precisa, coerente e sistematica. No senso comum, ou seja, no enten- dimento médio, comum, proprio a maio- - ria das pessoas, os modos de consciéncia se encontram geralmente emaranhados de tal forma que suas nogGes se caracteri- zam por uma aglutinacao acritica de juizos, provenientes tanto da intuiga0 como do campo racional ou religioso. Acritica quer dizer que falta o reconheci- mento exato da origem dos elementos que compéem essas nogdes ou conhecimen- tos. Como resultado, temos a consagra~ co de um dado conjunto de formulagdes te6ricas que servirdo como base de orien taco para a vida pratica da pessoa como» se fossem definitivas. Nesse procedimen- - to comum e cotidiano, elevamos a cate” goria de “verdades definitivas e absolu- . tas” conhecimentos c provisoriose parciais. Em virtude da auséncia da razdo ~ critica, o senso comum se torna terreno favoravel ao desenvolvimento do fend- ‘meno da ideologia. t Por influéncia do » Karl Marx, a palavra ideologia tornou- : se largamente utilizada na filosofia e * nas ciéncias sociais, car i como tema polémico. E que Marx utili- © zou o termo em contextos diversos & * com significagdes diferentes, permitin- * do leituras diferenciadas dos estudio- : sos do assunto. ‘ Deacordo coma interpretagao mais conhecida e difundida, ideologia nao seria apenas um. conjunto de idéias que * elaboram uma compreensao da reali- dade, mas um conjunto de idéi » dissimulam essa realidade, » mostram as coisas de forma apenas: parcial ou distorcida em relagao ao que realmente so. O que se buscaria ocul- » tar ou dissimular na realidade seria, » por exemplo, o dominio de uma classe : social sobre outra. ‘ Nesse sentido, a ideologia tem fun- ‘dominagio ———— Cw, 3 Conscitcs cA E RIOSOMA a9 i A critica de uma ideologia pode ser tio. compreendidos como construgées f feita pelo exercicio de “estranhamento” —_ hist6rico-sociais. fa realidade em questio. Nesse exerci ‘Aesse respeito, 0 poeta e dramatur- go alemao Bertold Brecht (1898-1956) se cio, os elementos que compdem determi- nada realidade devem deixar de ser vis- expressa dizendo: tos como dados naturais, para serem en- 8 sles pedimos com insstencla 1A ¢/ Nao digam nunca: isso 6 natural! Diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusso. Em que corre sangue, Em que se ordena a desordem, Em que o arbitrério tem forca de lei, Em que a humanidade se desumaniza. Nao digam nunca: isso é natural! [Apud PEIXOTO, F Brecht Vida e abr, p. 126. ALIENAGAO, IDEOLOGIA E RAZAO INSTRUMENTAL Nas sociedades marcadas pela alienacao e por ideologias desenvolve-se 2 chamada raz4o instrumental, ou seja, uma razao que se torna simples ins- trumento para se atingir algum fim. € um tipo de razdo calculadora, que mede utilidades e resultados, Esta voltada para ser um instrumento de po- der e dominacao. ae 3 sociedade se caracterizaria por uma “colonizacdo" da vida humana por essa De acordo com Jurgen Habermas, fildsofo alemao contemporaneo, a nossa Jégica da razao instrumental, que rege o proceso de ia neta aaa 4. Rexée Instrumente: axressbo coda por fibeofo da Esclo de Front notodemanie Corie permiredr ser fart idarabe lt po ToeodieAitta _FILOSOFIA Do senso comum ao senso critico pe algum tempo eu me apercebi de AN. + /Gue, desde meus primeiros anos, re cebera muitas falsas opinides como verdadeiras, e de que aquilo que de- pois eu fundei em principios tao mal assegurados nao podia ser sendo du- vidoso e incerto, de modo que me era necessario tentar seriamente, uma vez em minha vida, me desfazer de todas as opinides a que até entao dera crédito, e comecar tudo nova- mente desde os fundamentos. Descartes O Pensador (1904) — Auguste Rodin. Aexigéncia de clarezae de livre cri- tica é propria do percurso filos6fico. A\ tes de Descartes, essa recusa da opiniao (da doxa, em grego) e a busca da explica- cao e da verdade (a teoria) jé eram en- contradas nos didlogos socraticos, escri- tos pelo grego Platao no século Vac. Exercitando o senso critico do interlo- cutor, esses didlogos tinham importante papel educativo. Eles mostravam a pre- cariedade das opinides do senso comum grego de sua época Primeiro foi o espanto’, depois 0 despertar critico e a decepgao. O ser hu- mano queria uma explicagdo para 0 mundo, uma ordem para 0 caos, Ele que- dade tornou-o cada vez mais exigente com o conhecimento que adquiria e Fare Frosora transmitia. Ambicioso, o homem sentia uma necessidade crescente de entender @ explicar de maneira clara, coerente € precisa. Essa busca de saber fez nascer a filosofia. A palavra filosofia é formada por dois termos gregos: filos, que traduz a idéia de amor, e sofia, que significa sabe- doria. Assim, a filosofia tem o sentido etimolégico de “amor a sabedoria”. Conforme a tradig&o histérica, a cria~ cdo da palavra filosofia é atribuida ao grego Pitégoras, que viveu no século VI a.C. Certa vez, perguntado pelo princi pe Leonte sobre qual era a natureza da \ sua sabedoria, Pita; Py ria, enfim, a verdade, Essa busca da ver- ° igoras disse: sou ape nas um fildsofo, Com essa resposta, de- sejava esclarecer que ndo detinha a pos- se da sabedoria. Assumia a posigao de Espantos usamos 0 ui esse termo com o sentido de admiragdo e i . 5 rarer vitude do fibl, dizia Pai, @ 0 espana ferme pesyanen plese pacidade de odniror eproblemalizar os cols cw. “amante do saber”, alguém que procura a sabedoria, que busca a verdade, Com o decorrer do tempo, entre- tanto, a palavra filosofia foi perdendo 0 significado original. Na prdpria Grécia Antiga passou a designar nao apenas o amor ou a procura da sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria: aquela que nasce do uso metédico da razio, da investigagao racional, na busca do co- nhecimento. ° A EXTENSAO Eo PAPEL DO CONHECIMENTO FILOSOFICO © O saber filos6fico designava, des- : de a Grécia Antiga, a totalidade do co- nhecimento racional desenvolvido pelo homem. Abrangia, portanto, os mais diversos tipos de conhecimento, que hoje entendemos como pertencentes a matematica, astronomia, fisica, biolo- gia, légica, ética etc. Enfim, todo 0 con- junto dos conhecimentos racionais in- tegrava o universo do saber filos6fico. A filosofia interessava conhecer toda a realidade sem dividi-la em objetos es- pecificos de estudo. Na hist6ria do pensamento ociden- tal, esse significado amplo e universa- lista do saber filos6fico manteve-se, de modo geral, até a Idade Média. Poucas 4reas separaram-se da filosofia, como 0 fez a teologia, por exemplo, que se de- senvolveu em estudo especifico a respei- to de Deus, Durante a Idade Moderna, entretan- to, 0 vasto campo filos6fico entrou num Processo de reducao. A realidade a serco- Conscticn crt € mOHOm nhecida passou a ser dividida, recortada, despertando estudos especializados. Era a separacao entre ciéncia e Filosofia. Gradativamente, foram conquis- tando autonomia muitas ciéncias par- ticulares, que se desprenderam do tronco comum da 4rvore do saber fi- los6fico. Ao se constitufrem por um proceso de especializacao, essas cién- cias passaram a direcionar suas inves- tigagdes a certos campos delimitados da realidade, e o fazem ainda hoje de forma cada vez mais “localizada”. Exemplos dessas ciéncias sao a mate- matica, a fisica, a quimica, a biologia, a antropologia, a psicologia, a socio- logia etc. Os dias atuais caracterizam-se como a “era dos especialistas”. O pro- blema da especializacao do mundo cien- tifico é que ela conduz a uma pulve: zagao do saber, a perda de uma visao mais ampla do conhecimento, a uma restrico mental sistematica. Nesse contexto, a filosofia passou a ter o papel, entre outros, de recuperar a unidade do saber, de questionar a vali- | dade dos métodos e critérios adotados pelas ciéncias. Isto é, passou a desenvol- * ver o trabalho de reflexao sobre os co- " nhecimentos alcangados por todas as ciéncias, além da procura de respostas & » finalidade, ao sentido e ao valor da vida ~ edo mundo. Assim, podemos dizer que perten- : ce filosofia o estudo geral dos seres, do + Nosso conhecimento e do valor das coi- ~ sas, Em termos mais especificos, « mavse situar dentro do campo filos6fico costu- aqueles estudos que se referem a temas como teoria do conhecimento, funda- Uo, 1 Fart frosona Mentos do saber cientifico, ldgica, politi: — tudados em detalhe nas proximas uni- ©A, etioa, estitica ote, Hsses temas silo es: — dades deste livro. sofia, entre outras coisas, busca compreender o ser humano, em sua rotina, em seus desconfortos, em seus dilemas LS —__ Lee O desenvolvimento da consciéncia 1..A biologia classifica 0 homem alual como sapiens sapiens, Dé o significado e o alcance dessa denominagao, © despertar da consciéncia critica depende do crescimento harménico da consciéncia de sie da consciéncia do outro. Comente essa afirmacao, O que significa pensar? Discorra sobre o assunto, oN Senso comum, ideologia e filosofia 4. O que podemos entender por senso comum? Dé algumas caracteristicas freqiientemente encon- tradas no senso comum de um determinado grupo social, O que vocé entendeu sobre ideologia® Comente o assunto, Qual o sentido original do termo filosofia® Explique. A partir da Idade Modeina, a extensdo do campo flosélico tendev a reduzirse ov a amplior se? Comente. NOG 1. Consciéncia critica $ Na wo opin ‘© que favorece o desenvolvimento da , * “A conscientizagdo & um Processo dialético que se ev." Interprete e discuta essa afitmaco. 2. O despertar da filosofia : '* Para que serve a filosofia? Discuta e debata esse tema. ** Pesquise uma definigdo de filosofia. Exponha 0 seu significado. |. A era dos especialistas '* No mundo cientifico existem, atualmente, indmeros especiali ccimento. Debata o seguinte tema: Vantagens scence Filme que apresenta a ascensdo do nazismo e a id alem&. Um grupo de jovens amigos se encontra, d ideologia nazista que, entre outras coisas, reprim Eecpaniions uma: semen pegs gin ae EW Un, 1 Fats Fosorm AYocoee No texto a seguir, o pensador brasileiro Roland Corbisier ce eae cia do ato de perguntar. Esse ato, tao “banal e cotidiano iis oo a essencialmente, de todos os demais seres viventes. Por isso, atividade filos6fica. Homem: o ser que pergunta Normalmente perguntamos sem refletir sobre o proprio perguntar, sem indagar pelo significado dessa operacao da inteligéncia que se acha na raiz de todo co- nhecimento e de toda ciéncia. E ao perguntar pelo perguntar, convertemos essa ‘operaco, que nos parece téo banal, tao quotidiana, em tema filos6fico, a partir do ‘momento em que passamos a consideré-la do ponto de vista da critica radical. Se compararmos, nesse aspecto, 0 comportamento humano com o do animal, verificaremos que o animal ndo pergunta, ndo indaga, limitando-se a responder. Mas, por que o animal nao pergunta? Nao pergunta porque nao precisa pergun- tar-E por que ndo precisa perguntar? Porque, para vivere reproduzir-se, dispoe do instinto que o torna capaz de fazer, embora inconsciente e sonambulicamente, tudo o que énecessio para sobrevivereassegurar a sobrevivéncia de Sua espé- cie.O animal ndo pergunta, limita-sea responder aos estimulos e provocacdes do contexto em que se enconra a responder imeditamente, fugindo do pergo, quando ¢ ameagado, atacando a presa quando esta com fomee Entre o animal eo contexto em que vive nao hé ruptura, nig solu i nuidade, Porque o animal éna hussein aE et ue (.) tuseza dentro da naturezainetinto,espontaneida- Em contraste, o homem pergunta, E, "Mas, por que precisa perguntar?Precsa saber 0 que é0 mundo em

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