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Amor é um fogo que arde sem se ver

Amor é um fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade;

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de
Camões
Síntese:
O tema deste poema é o Amor que é definido como um
sentimento contraditório, mas, mesmo assim, consegue unir dois
corações humanos.
Neste poema, o sujeito poético tenta, através de metáforas,
paradoxos e anáforas, definir o que é o Amor, palavra com que o
sujeito poético abre e fecha o poema – poema circular – para
chegar à conclusão que é impossível definir o amor devido ás
contradições que encerra.
A metáfora é um recurso expressivo no qual uma palavra ou uma
expressão substitui outra porque entre as duas existem relações
de semelhança; é uma espécie de comparação abreviada. No
soneto em questão encontramos as seguintes metáforas:
Amor: - “é um fogo…”
- “é ferida…”
- “é um contentamento…”
- “é dor…”
- “é um não querer mais…”
- “é um andar solitário…”
- “é nunca contentar-se…”
- “é um cuidar que ganha…”
- “é querer estar preso…”
- “é servir a quem vence…”
Estas metáforas são aqui usadas para que o sujeito poético
defina expressivamente o Amor.
Existem também inúmeros paradoxos, recurso estilístico que
consiste na aproximação de termos que mutuamente se
excluem, numa intensificação do processo da antítese.
Neste soneto encontramos os seguintes paradoxos:
Amor é: - “fogo que arde sem se ver”
- “ferida que dói, e não se sente”
- “contentamento descontente”
- “dor que desatina sem doer”
- “não querer mais que bem querer”
- “andar solitário entre a gente”
- “nunca contentar-se de contente”
- “cuidar que ganha em se perder”
- “querer estar preso por vontade”
- “servir a quem vence, o vencedor”
- “ter com quem nos mata, lealdade”
O paradoxo é o recurso expressivo dominante no poema, sendo
usado para mostrar as contradições que o Amor provoca.
A anáfora é também um recurso expressivo frequente neste
poema e que consiste na repetição da mesma palavra ou
expressão no início de versos ou frases seguidas. Neste soneto
encontramos a anáfora “É” usada nos versos 2 a 11.
Neste soneto, a repetição da forma verbal “é”, no início de cada
verso, permite identificar facilmente a série de definições com
que o sujeito poético procura exprimir o caracter contraditório
do Amor.
Na primeira parte – duas quadras e primeiro terceto – o sujeito
poético faz onze tentativas para definir o Amor.
Na segunda parte – segundo terceto – a adversativa “mas”
aponta para uma estrutura diferente das estrofes anteriores,
pois o sujeito poético interrompe as tentativas de definição do
Amor, não entendendo, através da interrogação retórica, como
pode ser um sentimento tão bom, sendo tão contraditório.
O sujeito poético fala, na 3ª pessoa do singular, sobre as
contradições do Amor.
Através do modo lírico, o sujeito poético, usa versos, rima e
recursos estilísticos para exprimir o que sente por o Amor ser
algo tão contraditório.

Margarida Madeira 8ºE

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