Você está na página 1de 321

Tradução: Brynne

Revisão: Yardeen
Formatação: Addicted’s Traduções

2020
Sinopse

Meu diabo
Ele entrou na minha vida como uma tempestade furiosa.
O homem que eu desprezava.
O assassino sem consciência.
Eu caí tão forte, quanto uma mulher como eu pode cair.
Quando ele sangra, sinto sua dor. Quando nos beijamos, provo sua
tragédia. Quando ele mata, meu coração está manchado com todas as cores
de sua vingança.

Meu anjo
No calor da noite, amamos muito e nos tornamos um.
Eu fui o captor, que se tornou o cativado.
Sua luz era uma trilha ardente, iluminando os buracos de bala, que
enchiam minha escuridão.
Traí, mas ela perdoou.
Agora, estamos no limiar do inferno e todos ao nosso redor estão
queimando.

Não confie em ninguém.


Procure a verdade.
Entregue a justiça.

Não temos escolha, a não ser terminar esta guerra Juntos.


"A coisa a saber era a que ele pertencia, quantos poderes das trevas o reivindicaram
por si mesmos..."

Joseph Conrad
Capítulo Um

Dante

Afeganistão 2002

O céu machucado se abre como uma ferida aberta. O estrondo do trovão


mascara a quietude, por alguns breves momentos selvagens. Ele
desaparece, como a promessa de um acerto de contas, antes que um
segundo relâmpago coloque essa merda para descansar. Ao mesmo tempo,
o M-ATV bate em outro buraco na estrada, sacudindo a porcaria da
suspensão e me forçando a ajustar a posição. Tomo um gole do cantil, meus
olhos fixos no horizonte chamuscado, estendendo-se até onde os olhos
podem ver. Nem uma porra de árvore à vista. A religião sangra em todos
os poros deste lugar, mas parece que Deus a abandonou há muito tempo.

O barulho constante do motor continua, à medida que percorremos o


caminho através do deserto. Minha equipe está se mudando em comboio,
há dois dias. Estamos em uma viagem de reconhecimento para o esquadrão
B. O alvo é um reduto potencial do Taliban, que o governo dos EUA
considerou propriedade quente. Fomos enviados para analisar e pesar o
custo civil, mas todo homem aqui sabe que isso é besteira. Esta missão
nada mais é do que um engodo para apaziguar a mídia americana e sua
incansável retórica antidrone. Em algum lugar em Washington, existe um
general feliz, ansioso por dar retribuições, quer ele exploda cem inocentes
ou não.

"Você terminou com isso, capitão?"

Sinto um leve toque no meu ombro. Sem palavras, passo o cantil para
um dos dois homens, sentados atrás de mim. Ao fazê-lo, chamo a atenção
do outro cara. Olhos azuis frios batem contra os meus e minhas
sobrancelhas levantam um pouco. O garoto bonito tem bolas, olhando para
mim assim. Ele é um novato. Um desconhecido. Ele só foi convocado para
o cargo, depois que Lewis foi surpreendido por um rebelde desonesto, em
um bloqueio de uma semana atrás.

"Qual é o seu nome mesmo, soldado?".

Há uma pausa. "Grayson, senhor."

"Olhe para mim assim novamente, Grayson, e teremos um problema


sério."

Os olhos azuis não piscam, mesmo quando o camarada lhe dá uma


cotovelada nas costelas.
"Sim, senhor", ele murmura, recusando-se a baixar o olhar. Há outra
pausa. "Eu ouvi sobre você."

"Você ouviu merda."

Um silêncio inquieto se instala sobre o veículo. Eu tenho uma


reputação, e é uma que continuará por muito tempo, depois que eu deixar
as forças armadas dos EUA. Vou aonde outros temem pisar, vivo minha
vida tão longe, que já estou no ar e não conheço o significado da
misericórdia. Até o presidente sabe meu nome, é um nome falso, mas ainda
assim. Os líderes apenas ouvem o que querem ouvir.

A voz do meu sargento-major vem do rádio, atrás do veículo, cortando


a atmosfera pesada como uma lâmina.

“Três milhas fora, capitão. Tempestade de poeira chegando.”

"Entendido. Acabou."

Esfrego a mão na mandíbula. É esta a parte em que me sinto


apreensivo? Foda-se essa merda. Eu tenho a mesma dormência de sempre.
A única vez que sinto, é quando mato, quando a satisfação sombria se
espalha pela minha alma, como uma fumaça espessa e negra.

Eu li um artigo sobre pessoas, com o dom para ver cor em suas


emoções. Lembro-me de pensar na época que era um truque legal. Eles
experimentam algo como tristeza e seu mundo inteiro fica em tom de azul.
Se eu tivesse essa habilidade, se pudesse durar uma vida, haveria apenas
uma cor no meu palato.

Vermelho.
A mesma cor que costumava sair da boca da minha mãe morta, depois
que os punhos do meu pai iam nela.

Olho para o meu motorista. Seu aperto no volante é firme, o rosto está
definido. Lábios pálidos. Para aqueles que ainda podem sentir uma coisa
maldita por aqui, existem duas constantes: medo e dor. Já vi homens
adultos chorarem. E já vi outras pessoas se separarem e morrerem com
dignidade. E essa cor? Vermelho. Eu nem tenho que imaginar isso. Tão rico
e vívido, tão onipresente... Manchando o campo de batalha sob seus corpos
quebrados, assombrando os olhos, poluindo o último suspiro.

Estendo a mão e inclino o espelho retrovisor, para ver como o atleta do


ensino médio está aguentando. Frio como gelo. Grayson parece que está a
caminho de um encontro com a rainha do baile. Ombros relaxados, o dedo
apoiado levemente no gatilho. Ele sacode uma mosca da mão esquerda e a
luz do sol pega no ouro de uma aliança de casamento. Que idade tem esse
cara, vinte e dois? Vinte e três? E já casou. Tsk tsk, garoto bonito. Para mim,
esse é o pior tipo de fraqueza.

Ele olha para cima, seus olhos se fixando nos meus. Pega a inclinação
sardônica dos meus lábios, e agora é sua vez de levantar as sobrancelhas.

Filho da puta.

Abro a boca para chamá-lo de imbecil, quando uma luz branca ardente,
do lado de fora, chama minha atenção. Isso não é um raio. Pego o volante
para nos afastar do caminho do foguete, mas é tarde demais. Gritos de fogo
do inferno caem sobre nós, enquanto o M-ATV lança lateralmente, com um
empurrão violento. Uma dor ofuscante atravessa minha perna esquerda, e
tenho um pensamento final, antes de tudo ficar preto.

Acontece que ainda posso sentir alguma coisa, afinal.


Capítulo Dois

Dante

"Você continuará a deixar o passado ditar, Dante?" A compostura de


Andrei Petrov está escorregando. Ele está começando a parecer petulante, e
isso não combina com ele. "Tempo é essencial. Matar ou ser morto."

Tomo um gole do meu bourbon e olho para a vista índigo, além das
paredes do meu escritório. Milhas e quilômetros do Pacífico estão se
estendendo diante de mim. É um horizonte que intimidaria um homem
menor.

Matar ou ser morto?

Cristo, a besteira que sai da boca desse russo. Fui baleado seis vezes e
ainda estou presidindo minha Ilha da Imoralidade. Estou rindo da morte
há tanto tempo, que quase o recebo como amigo.
"Você ouviu o que eu disse?" A voz de Petrov é uma tempestade
indesejada, que bate contra minhas pedras. "Fique unido comigo, ou todos
nós lamentaremos as consequências."

Já tive o suficiente de suas súplicas.

"Coloque Sanders", ordeno, sem me preocupar em dignificá-lo com uma


resposta. Ele não merece isso. Minha única fraqueza neste mundo, minha
única razão de viver, está atualmente dormindo na minha cama, com
machucados por todo o corpo. Contusões, pelas quais estou mantendo este
homem diretamente responsável.

Petrov rosna de frustração e a linha fica em silêncio por um momento.


Bebo outro bocado de bourbon, saboreando o chute do álcool, enquanto
me inclino para trás, contra a mesa. Algo mais precisa compartilhar o peso
da minha própria frustração, hoje.

“Dante.”

Rick está chateado, praticamente cospe meu nome, mas sei que não sou
o foco disso.

"Quão ruim é isso?" digo bruscamente. Eu não quero birras, quero


detalhes

"Anarquia do caralho." Rick respira fundo e procura a compostura,


antes de continuar. “O Bratva dele assumiu o controle da cidade de Nova
York, ontem à noite. Eles fizeram sua presença conhecida com todos os
revendedores e fornecedores meus. Trezentos mortos. Miami e South Beach
são uma derrota. Até minhas malditas boates estão queimando.”
Cada palavra que ele entrega, é como uma mina terrestre, que está
ansiosa para detonar. A personalidade de cara legal de Rick, esconde o
quão selvagem ele é, por trás de tudo. Haverá um inferno para pagar, por
essa violação e ele será o piloto pálido, liderando a acusação final, ao meu
lado e de Petrov. Nas últimas vinte e quatro horas, o império da cocaína de
Rick foi apreendido, em um golpe de estado, que nos pegou a todos com os
paus nas mãos.

"Sevastien." O nome sai da minha boca como uma bala mirando. Nós
prejudicamos seus negócios de tráfico e sua represália foi mais rápida do
que havíamos previsto. "Alguma novidade sobre a garota?"

“Peters tem os federais por toda parte. Eles a agrediram bastante. Há


sangue e merda por todo o apartamento de Eve."

A voz de Rick assume uma qualidade sinistra de 'foda-se'. Para ele, essa
garota é um assunto inacabado e Rick nunca deixa uma boceta insatisfeita.
"Pode ser uma bênção se ela estiver morta... As coisas não vão ser bonitas
para ela."

Como minha filha.

Como a de Petrov.

"A história não se repete, não no meu relógio."

Endireito as costas e bato o copo vazio sobre a mesa, o som áspero


ecoando por todo o escritório. "Eve já passou pelo inferno, não vou
decepcioná-la novamente. Quero atualizações a cada hora. Enviei uma
equipe para a Flórida, para ajudar na pesquisa." olho para o meu relógio de
pulso. "Eles estão programados para chegar às 08:00. E fique perto de
Petrov” acrescento, abaixando minha voz uma fração. “Quero olhos e
ouvidos nele, constantemente. Voltarei a Miami para lidar com ele em
breve.”

“E Sevastien? Essa picada não pode ficar para sempre.”

“Temos um potencial avistamento em Marrocos, Grayson está a


caminho agora.”

Joseph estava na metade do caminho, quando as informações chegaram.


Pegamos Sevastien, pegamos a garota. A intuição me diz que as
prioridades do meu segundo em comando não giram apenas ao meu redor.
Ele e Rick podem disputar o duelo, quando ela estiver na Flórida, espero
que com os quatro membros ainda presos. Eu sei como esses Bratva
operam.

"Está tudo muito bem, Dante, mas, enquanto isso, esses bastardos
lucrarão com a porra dos meus negócios."

A beligerância de Rick me traz o primeiro sorriso do dia. Nada faz o


americano perder o tesão mais rápido, do que ver seu dinheiro virar
fumaça.

"Você receberá de volta, com juros. Vou me certificar disso... Diga a


Petrov que ligo para ele mais tarde.”

Bato o fone no gancho e me afasto da janela. Há trabalho a ser feito, um


homem para destruir, uma inocente para resgatar... Meu coração está tão
pesado quanto cheio, hoje em dia.
“Dante?”

Sua voz suave me chama da porta. É uma voz pela qual eu mataria cem
mil Bratva. Passei os olhos pelo rosto dela - buscando seu amor, sua
verdade, tudo.

"Você está acordada."

"Você me deixa dormir muito tempo."

Por todo o bem que isso fez com ela. O rosto dela está pálido. Muito
pálido. Lágrimas não derramadas brilham em seus olhos. Eve é uma
mulher forte, a mulher mais forte que eu já conheci, mas essa última
mudança de eventos afetou sua fragilidade de aço. Eu escolho ignorar a
nota de acusação em sua voz.

"Eu me sinto tão culpada." Suas mãos pequenas estão trabalhando em


punhos, enquanto luta com suas emoções. Eles estão batendo contra ela,
como cavalos selvagens em um rodeio. "Eu deveria estar ajudando a
encontrá-la ..." Ela recua, enquanto olha ao redor da sala, temporariamente
desviada.

Eu sigo seu olhar e franzo a testa. Deveria ter limpado meu escritório,
esta manhã. Joseph deveria ter insistido nisso, antes de sair. Há vidro e
detritos por toda parte. Minha parede de telas é uma parede de destruição,
marcada com fios expostos e suportes torcidos. Meu bar, no canto, está
quebrado, as garrafas quebradas. Armários caem, como carcaças de metal
espalhadas por um campo de batalha deserto. Apenas minha mesa de
vidro e a cadeira ainda estão de pé.
"O que diabos aconteceu aqui?"

"Você foi embora", afirmo sem rodeios.

Observo seus olhos se arregalarem, quando minha investida chega em


casa. "Você me fez, seu imbecil!"

"Bem, não sou o idiota?"

"Suas palavras, não minhas."

"Cuidado, Eve", murmuro, empurrando de volta em uma memória


indesejada, quando meu pau começa a inchar. Meu momento de loucura,
quando a bani da minha ilha, é um lugar que nunca mais voltarei a
revisitar.

"Ainda há uma parte de você que me responsabiliza pelo que meu pai
fez?"

Ela se aventura com cautela.

Medrosamente.

"Não." Eu também quero dizer isso. “Os pecados de seu pai são só dele.
Venha aqui." Eu aceno, e ela se move lentamente, graciosamente, apesar de
seus ferimentos. Pego a careta, no seu rosto e ela ricocheteia no meu corpo,
como se fosse minha própria dor.

Faz três dias, desde os eventos de Miami. Três dias, desde que a salvei
daquele covil de iniquidade. Seus hematomas ainda precisam desaparecer,
os efeitos psicológicos ainda mais. Mas ela vem até mim sem hesitar,
porque seu coração é meu agora. Estamos unidos por algo muito maior,
que os diamantes no seu dedo.

Dobrei-a no meu braço para respirá-la, enchendo meus sentidos com


seu cheiro, até minha cabeça girar com citros e luz. Seus braços
serpenteiam em volta da minha cintura, fechando-nos juntos, o único
maldito quebra-cabeça que faz sentido para mim. Eu quero bater meu
punho em uma folha de vidro, para misturar dor com prazer, porque é
assim que ela se sente, pressionada contra mim.

"Estou com medo por ela, Dante", eu a ouço murmurar em meu peito.
"Vi o que esses bastardos fazem com as mulheres."

O que eles fizeram com ela.

Você ainda é um homem morto, Petrov.

Não vou perdoar.

Nunca esquecerei.

"Nós vamos encontrá-la, mi alma", murmuro, enchendo o ar com a


minha segurança.

"E se for tarde demais?" Ela se afasta para me olhar, seus olhos correndo
pelo meu rosto. Procuro esta mulher pela verdade. Ela me procura pela
esperança.

"Sua amiga é mais dura do que parece."

Eve balança a cabeça. "É tudo fachada, você não a conhece como eu.”
"Minha porra do queixo faz." Cutuco os restos do meu próprio
machucado. "Fiz uma visita a ela, quando voei pela primeira vez para
Miami."

"Você nunca me disse!"

Dou de ombros. "Eu sabia que você estava com Petrov e achei que ela
saberia um pouco sobre isso. O que eu não contava era o gancho certo dela,
como presente de boas-vindas."

"Ela bateu em você?" A boca de Eve cai de espanto.

"Ela disse que eu merecia, por fazer você se apaixonar por mim, do jeito
que fiz."

"Caminho a percorrer, Anna!" Ela exala em silêncio, e eu levanto as


sobrancelhas. Se eu não devesse tudo a essa mulher, se não a amasse tanto,
como se ela não desperdiçasse cada fragmento da minha escuridão, haveria
sérias consequências para essa porra de reação.

"Você não a machucou, não é?" Ela empurra suavemente o meu peito.

"Nunca." Estendo a mão e contorno sua boca com o dedo, para impedi-
la de roer o lábio inferior, desejando estar lambendo sua boceta com a
língua. Eu nunca machuquei ninguém que Eve ama, exceto seu pai do filho
da puta, mas tenho um palpite de que a gravata dos pais foi cortada,
permanentemente, em algum momento nos últimos dias. Petrov me contou
sobre as fotos. Mais evidências condenatórias do conluio de Myers com
Sevastien. Estou planejando fazê-lo engasgar com elas, antes de cortar sua
garganta.
"Prometa-me, Dante."

"Eu ganhei esse crédito, depois de tudo o que fiz no ano passado."
Rindo sombriamente, pego seu queixo entre as mãos e a aproximo,
fechando os olhos, enquanto seu hálito quente acende minha pele.

"Lembre-me de marcar cinco, na próxima vez que a vir."

Meus olhos se abrem novamente. "Lembre-me de dar uma surra em


você, por aplaudi-la."

Ela me dá um sorriso fraco, que aperta meu peito como estilhaços. Eu


assisto, encantado, enquanto minhas feridas começam a escorrer e escorrer.
Posso sentir o calor do seu amor penetrando na minha alma, espalhando-se
como uma capa vermelha, até que cada centímetro de mim esteja
manchado e carente. Ela é muito mais do que minha fraqueza, agora. Ela é
o ar que respiro e faço uma anotação mental para contratar cem novos
recrutas, sua proteção é primordial.

"Bem?" Eu a soltei para cruzar os braços e quebrar o feitiço. "Você vai se


inclinar voluntariamente sobre a mesa, ou devo colocá-la sobre o joelho?"

Para minha surpresa, ela balança a cabeça, negando-se, testando-me.

“Eu não posso, não quando Anna está... não parece certo.” Sua voz
quebra, a máscara da coragem desliza.

Cerro os dentes, irritado além da crença. Ela precisa aprender a se


desassociar do sentimentalismo, como e quando necessário. Como eu.
Como José. Minha cama é a única arena para esse tipo de besteira, agora.
Lá, sou bem-vindo. Vou colocar isso em meu proveito. Terei prazer em lhe
foder conflito, novamente.

Ela se vira para a porta.

"Onde diabos você pensa que está indo?" digo, entortando meu dedo
nela e estreitando os olhos. "Venha aqui, imediatamente."

"Estou cansada. Se não há nada a ser feito aqui, vou voltar para a cama."

"Oh, há muito o que fazer aqui, mi alma", digo com voz rouca, pegando
seu braço e puxando-a de volta para mim.

Suspirando com resignação, ela se instala no meu abraço. Meu pau


começa a latejar, e moo minha ereção contra o côncavo macio de seu
estômago.

"Dante"

"Silêncio."

Prendendo meu braço em volta de sua cintura, eu a guio para trás,


contra a minha mesa. Seu corpo está rígido e relutante e posso sentir minha
luxúria se transformando em algo ainda mais sombrio. Eve e esse maldito
desafio dela...

"Você vai vê-la novamente, meu anjo", grito, dirigindo meu joelho entre
suas pernas e espalhando-a para mim. Seu doce perfume atinge meus
sentidos e meu autocontrole começa a desaparecer, como uma ampulheta
inclinada. Deslizo minha mão por sua coxa, com clara intenção. "Você
precisa confiar em mim."
Seus dedos interrompem minha progressão e assobio em
descontentamento.

"Claro que confio em você." Seu aperto em mim aumenta e seus olhos
começam a brilhar novamente. "Eu sei que você fará o que for preciso para
encontrar Anna."

“Então chega de parar. Isso só me deixa mais duro. Sugiro que tire sua
calcinha, antes que eu encontre uma maneira mais criativa de removê-la.”

Mantemos o olhar um do outro, por um instante. É um empate pobre,


da sua parte, os ombros já estão caídos. Ainda assim, eu me sinto obrigado
a tranquilizá-la novamente, antes de continuar.

"Eu tenho meus melhores homens procurando por ela, incluindo


Joseph", digo, caindo de joelhos e arrastando sua bunda para a borda da
mesa. “Pense nisso como uma distração agradável. Você não está
corrompendo nossos esforços de pesquisa, permitindo que eu a suje por
uma hora ou quatro."

Ela olha para a janela, enquanto levanta os quadris, permitindo-me que


eu tire sua calcinha.

"Eu nunca terei uma opinião sobre isso, terei?"

Passo a renda preta por suas pernas, indo devagar, para não bater na
colcha de retalhos, que mancha seus joelhos, outro legado perturbador
daquela noite em Miami.

“Eu nunca forcei uma mulher, Eve, muito menos você. Posso ser um
monstro, mas não sou um idiota total." Faço uma pausa para bloquear
outra imagem, que mostra um russo sem rosto devastando seu corpo. Meu
corpo. Meus dedos apertam o pedaço inútil de material.

"Você não é um monstro, Dante."

Sua proclamação me leva de volta à sua luz e à essa sua crença falsa.

"Como você está se sentindo hoje?" abaixo meu olhar, para devorar o
prêmio final.

"Estou bem, estou..." De repente, ela coloca a mão na boca e gira para
longe da mesa, empurrando meu ombro com o pé e me deixando sem
equilíbrio.

"Eve!" trovoo, levantando-me rapidamente.

"Banheiro!" ela chia, tropeçando na suíte. Momentos depois, estou


ouvindo-a estremecer suas malditas entranhas, uma e outra vez.

Minha mão está enrolada no celular, antes que ela desça na segunda
rodada. "Coloque meu médico particular na linha", rosno, a meio caminho
da casa de banho. "Eu o quero na minha ilha em uma hora, ou é um
homem morto".
Capítulo Tres

Eve

Finalmente, parei de vomitar há duas horas atrás. A essa altura, minha


garganta estava crua, os músculos do estômago batiam e ardiam. Eu nunca
soube que meu corpo poderia gerar tanta violência. Já sofri doença por
vírus antes, mas isso parece diferente, foi implacável em sua intensidade. O
menor odor desencadeou outra onda.

Depois, Dante me carregou para cima e não saiu do meu lado, desde
então. Ele agora está andando de um lado para o outro, como um animal
enjaulado, ao pé da cama de dossel. Há uma brisa leve soprando do oceano
e pela janela aberta, mas há uma tempestade de neve feroz dentro desta
sala.

"Bem?" Ele olha para o homem alto, sentado em uma cadeira ao meu
lado, calmamente tomando meus sinais vitais. Com a pele bronzeada e
grossos cabelos de estanho, o médico particular de Dante, Whit Harris,
parece um cirurgião plástico de Los Angeles, alguém que deveria estar
sentado em torno de tacos de golfe, em uma aposentadoria gloriosa, sem
ficar preso no meio do Pacífico, esperando que um criminoso procurado
ligasse. Ainda assim, se Dante confia em seu julgamento, sei que estou em
boas mãos.

"E a náusea veio assim?" Whit olha para o alto do seu relógio de pulso
caro e me considera pensativo.

Eu gostaria de poder pilhar as profundezas daqueles olhos


imperturbáveis. Preciso saber o que ele está pensando, em que direção essa
cabeça fria está seguindo.

"Estou me sentindo estranha, desde que acordei", resmungo. "Tem sido


assim nos últimos dias. Pensei que era o resultado de tudo o que
aconteceu.”

Whit assente sabiamente e volta meu pulso para a cama. Ele sabe tudo
sobre os eventos em Miami, estava me esperando, assim que cheguei à ilha.
Dante não confiava nos médicos de Petrov para tratar meus ferimentos
adequadamente. Duvido que Petrov confie muito mais nele. Sou o único
elo que resta, entre esses dois homens perigosos.

De alguma forma, preciso fazer Dante ver que precisamos trabalhar


juntos para resgatar Anna e eliminar a rede de tráfico de Sevastien.

Minha cabeça afunda mais na fronha branca. O sono está me chamando


de novo, como uma recompensa gloriosa, mas tenho que ficar acordada,
Anna precisa de mim.
"Alguma dor nova?" Pergunta Whit, olhando para os hematomas na
minha clavícula.

Balanço a cabeça. É mais uma resposta fraca, do que uma definitiva.


Estou travando uma batalha perdida contra a fadiga.

"Eu vejo."

Eu o assisto mergulhar em seu estojo de couro e pegar uma seringa e


dois frascos de vidro vazios.

"Para que diabos são?" Dante muda seu olhar mortal para os
suprimentos médicos. "O único idiota que eu quero que ela tome por aqui é
o meu."

"Está tudo bem, Dante." suspiro. "Deixe-o fazer o seu trabalho."

"Eu gostaria de fazer alguns exames de sangue, com sua permissão, é


claro, Eve", diz Wilt suavemente.

"Que tipo de testes?" Dante parece que está pronto para matar o
homem. Eu gostaria que Joseph estivesse aqui, para arrastá-lo de volta à
terra dos sentidos e da razão, mas não o vejo desde ontem à noite.

"É tudo rotina, posso garantir."

“Então me diga, antes que uma única gota de seu sangue toque a
agulha. Não peço nada duas vezes, Whit, Eve testemunhará isso.”

É hora de intervir, antes que ele perca a calma.

"Posso tomar um copo de água?"


"Pode esperar?"

Whit chama minha atenção e seus lábios começam a tremer.

"Por favor, Dante", digo fracamente, dando um show, mas nós dois
podemos respirar, com sua intensidade forte.

Murmurando baixinho, Dante ruma para o banheiro.

"Com gelo."

Chamo a atenção de Whit novamente. Controlador e possessivo, não


chega nem perto de descrever como Dante age ao meu redor.

"Pelo amor de Deus!" Ele se vira e se dirige para a porta. Sabe que está
sendo demitido, mas reluta em me negar qualquer coisa agora.

"Um copo de água com gelo, chegando na porra." Ele bate porta, atrás
dele, afirmando seu descontentamento, com sua violência típica. Ele vai me
levar de volta por isso, mas vou lidar com as consequências mais tarde.

Minhas pálpebras começam a tremer, novamente. Os pesos de chumbo


estão unindo-os.

"Só mais uma pergunta", murmura Whit, envolvendo um torniquete de


borracha azul em volta do meu braço e, gentilmente, procurando por uma
veia na dobra do cotovelo. "Existe alguma chance de você estar grávida?"

Uma onda gelada se choca contra mim. "Grávida?"

Ele me oferece uma careta de simpatia, antes de mergulhar a agulha no


meu braço. Eu não sinto nada. Minha cabeça está muito ocupada se
enchendo de terror, como uma torneira que foi deixada aberta durante a
noite.

Isso não pode estar acontecendo.

"Mas estou no controle da natalidade", murmuro, tentando me sentar.

"Não tem cem por cento de eficácia, receio. Mas tenho certeza que você
sabia disso. "

"É para isso que está me testando?" O frasco já está meio cheio com o
meu sangue. O sangue do meu bebê.

Ele concorda.

"Em quanto tempo terá os resultados?"

"Dê-me um minuto." Ele remove a agulha da minha veia, pressiona um


pedaço de gaze na ferida e sela o frasco. "Vou testar os níveis de hormônio
HCG hoje à noite e lhe telefonar amanhã, com os resultados".

"Amanhã?" Mal posso esperar tanto tempo por esse veredicto, que
mudará a minha vida. Meu cérebro está prestes a explodir.

Olho nervosamente para a porta. A qualquer momento, Dante voltará


para a sala, como um touro furioso.

Ele não pode saber.

Se ele acha que estou carregando seu filho, nunca me deixará sair desta
ilha. Provavelmente, nunca mais sairei desta sala, não pelos próximos nove
meses, pelo menos. Ele vai me trancar aqui como nos primeiros dias de
cativeiro, sob o pretexto de me manter segura.
Eu serei contida, pela vida crescendo dentro de mim.

Ficarei sobrecarregada, com um passado que ele está desesperado para


remediar.

Essa criança significa uma segunda chance, mas isso acontece às custas
da minha liberdade. Não posso ter restrições indesejadas, no momento,
preciso ajudar a encontrar Anna. Eu a arrastei para essa bagunça... Oh
Deus, minha mente está girando para fora da pista, como um bêbado
divagador.

"É apenas uma teoria", diz ele suavemente, percebendo meu terror, ou
talvez já esteja assombrando meu rosto. "Não é um fato consumado. Você
passou por um trauma. Provavelmente é um choque atrasado. "

"Eu não estou pronta para ser mãe", sussurro.

“Nenhum pai está realmente pronto, Eve. Se todos ficássemos


esperando o momento perfeito, duvido que houvesse muitas crianças
nascidas neste mundo.”

Nunca haverá um momento perfeito conosco.

"Você vai falar comigo diretamente, assim que obtiver os resultados?"

Whit abre a boca para discutir. Ele sabe o que Dante fará com ele, se
guardar esse segredo. O homem que eu amo não é razoável, ou racional.

"Por favor", eu imploro, segurando seu braço. “Preciso contar a ele


pessoalmente. No meu tempo... eu assumirei total responsabilidade."
Pego a caneta e o papel na minha mesa de cabeceira. A sala fica em
silêncio, enquanto escrevo meu número de celular.

Ele o segura, sem dizer uma palavra e me entrega um pequeno frasco de


comprimidos. "Vitaminas pré-natais", ele explica rapidamente. “Na
eventualidade que possa estar esperando. Um por dia, de preferência com
comida.”

Eu tenho tempo suficiente para escondê-los debaixo do travesseiro,


antes que a porta se abra novamente.

“Quanto mais cedo Sofia voltar a esta ilha, melhor”, declara Dante,
colocando a água perto de mim e derramando a maior parte do conteúdo.

Whit se levanta da cadeira e começa a arrumar o kit médico. "Vou


executar esses testes e entrar em contato. Enquanto isso, quero que
descanse o máximo que puder.”

"Eve não vai a lugar nenhum."

Atiro a Dante um olhar suplicante. O que ele retorna, faz meu coração
afundar. Significa que estou certa em me preocupar com a reação dele a
esse bebê.

Afundando no travesseiro novamente, tento absorver os tremores


secundários desta última bomba. Minha mão vai para o meu estômago e
Dante está ao meu lado em um instante.

"O que há de errado? Sentindo doente?" Ele franze a testa, com o flash
de culpa no meu rosto.
"Apenas uma dor", eu digo, evitando o olhar firme de Whit.

Dante sabe que estou mentindo, mas ele não pode chamar de besteira e
me punir de acordo, não quando estou deitada assim.

"Te vejo lá fora", diz ele, virando-se para o médico e o conduzindo em


direção à porta.

Ouço seus passos nas escadas, enquanto minha mão começa a esfregar
em círculos suaves e sempre decrescentes. É instintivo. Reconfortante. Não
preciso do teste de Whit para confirmar o que já sei. Esse bebê, crescendo
dentro de mim, é tão voluntarioso quanto o pai dele. Com apenas algumas
semanas e já estão fazendo sua presença ser sentida.

A chegada dele ajudará a diminuir a dor do desaparecimento de sua


filha? Amolecerá suas bordas mais afiadas? Isso dissipará o pior de sua
escuridão e diminuirá o desejo de matar? Ou ele verá isso como uma
intrusão? Uma traição?

Lembro-me do que ele me disse em Miami, quando pediu perdão por


seu maior ato de maldade, por assassinar a mãe de seu primeiro filho.
Nenhum detalhe foi oferecido. NEM pedi nenhum em troca. A dor que vi
em seus olhos, naquela noite, garantiu sua absolvição. Ele vai me oferecer o
mesmo, assim que descobrir o que escondi dele?

Eu ouço uma porta distante bater e minha mão congela. Não vou
conseguir guardar isso por muito tempo. Ele conhece meu corpo melhor do
que eu, reivindicou cada mergulho e curva para si mesmo. A menor
mudança e haverá perguntas. Mas ele precisa entender que encontrar
minha melhor amiga é tão importante, quanto manter nosso bebê em
segurança. De alguma forma, preciso fazer um acordo com o homem que
amo.

Preciso encontrar Anna, antes que meu segredo seja revelado.


Capitulo Quatro

Dante

"Bem?" Minha sombra projeta, longa e escura sobre a cama, travando


guerra com a palidez de sua pele e a fronha branca. Ela está mentindo e
sabe disso. Eu sei isso. Você não pode enganar um homem, que lista o
interrogatório como sua vocação favorita. Eu a viraria e a colocaria sobre
meu joelho, se pudesse, depois enfiaria meu pau na sua bunda apertada,
até que ela estivesse gritando seus mistérios para mim.

"Estou cansada. Sofrendo, sou uma bagunça."

Ela rola de lado, dobrando os joelhos e abraçando-os perto do peito,


deixando-me de fora.

“Odeio vomitar. Isso me faz sentir uma porcaria.”

"Eu ainda vou te foder", eu falo, avaliando sua silhueta sob o lençol. Ela
é esbelta como uma lâmina, mas duas vezes mais letal. Eu a vi matar,
Assisti tirar uma vida, sem hesitar. Quanto mais eu a atraio para o meu
mundo, mais a luz dela ilumina minha escuridão, mas a que custo? Eu
nunca vou deixar isso consumi-la... não vou ver essa luz se apagar para
sempre.

"Sorte minha." Ela revira os olhos, com a minha tentativa grosseira de


humor, mas qualquer alegria percebida é errada. Ela está muito distraída.

Algo está errado. O conhecimento corre como veneno nas minhas veias.
Estou tão fodidamente duro por ela, mas nunca me senti tão impotente. Eu
não sou um homem que fica com paciência. Se as pessoas não falam, minha
faca e minha bala tendem a mudar de ideia muito rapidamente.

Não com ela.

A violência nunca é uma opção com Eve.

Eu só tenho que descobrir sua verdade de outra maneira, usando a arte


da conversa. Isso ou meu pau... eu sei qual prefiro.

"Está com fome?" Melhor começar com o básico.

"Alguma notícia sobre Anna?"

Um rosnado de diversão retumba através do meu peito. Essa é outra


coisa que amo nessa mulher. Ela vai direto para a jugular, da maneira mais
doce e inofensiva.

Minha assassina sorridente.

Minha assassina angelical.

"Faz apenas uma hora, desde a última vez que me perguntou isso, mi
alma", eu a repreendo.
"Muita coisa pode mudar em uma hora."

Por que sinto que ela não está falando da loira? "Estou lidando com isso. Eu já
te disse isso.”

"Estamos nisso juntos, pensei que já tinha lhe dito isso.”

Um toque de calor mancha suas bochechas pálidas. Safiras escurecem, para


combinar com os tons do oceano índigo lá fora e meu pau se transforma em pedra.
Meu anjo caiu e que bela visão é ver. Ela é a rainha do meu submundo do caralho,
agora.

Faz alguns dias, desde que eu a tive pela última vez, alguns dias, desde que
roubei o último de sua decência, levando o pior do meu ódio para dentro dela,
almas à mostra. Tão cru e honesto como sempre fomos, cercados por uma ruína
sangrenta, de nossa própria fabricação.

Foi o melhor sexo da minha vida, que logo será eclipsado pelo que acontecerá na
minha cama, hoje à noite. Primeiro, preciso apaziguar e depois vamos esquecer.

“Há relatos de avistamentos em Marrakesh. Sevastien, não a garota...


Ainda não” eu esclareço, pegando o telefone para mostrar as imagens.
“Joseph está a caminho de lá agora. Petrov tem gente por toda a Europa
Oriental e já se apropriou de alguns ex-patrocinadores do partido de
Sevastien, na outra noite. Quando eles começarem a conversar, saberemos
imediatamente."

Poupo-lhe os detalhes mais delicados. Dois desses homens já estão


mortos. Os outros dois, provavelmente, gostariam que estivessem. O braço
direito de Petrov, Viktor, está supervisionando pessoalmente as
maquinações. Ele costumava administrar casas de tortura, em toda a
Rússia, para a KGB. Ele é quase tão selvagem quanto eu.

Ela assente, aceitando isso. Seus óculos cor de rosa foram arrancados de
seu rosto, no momento em que ela entrou naquela mansão, em Miami.
Aquela noite mudou tudo para ela. "E Roman?"

"O filho pródigo está encabeçando uma enorme investigação do FBI, em


solo americano."

Ela franze a testa, com o desprezo na minha voz, pegando meu celular
estendido, para dar uma olhada nas informações da minha equipe. Se eu
detesto Petrov, isso não é nada, comparado ao que sinto por sua criação
ilegítima. Agentes do FBI como Roman Peters, ou o que diabos ele se
chama, têm uma relação de confiança de zero a zero comigo.

Brinco com a ideia de contar a ela sobre os negócios de Rick e depois


guardo para outro dia. Não quero que Sevastien ganhe qualquer tipo de
poder, nessa bela mente. Para ela, ele é um alvo fácil. Um homem nas
cordas... um oportunista, que não pode ficar escondido para sempre.

"Venha sentar comigo por um tempo." Ela dá um tapinha no espaço


vazio, ao seu lado, como se eu precisasse de um maldito convite.

Pego meu telefone e o jogo na mesa de cabeceira, sentindo falta da água


que ela me fez buscar, como um maldito cãozinho. Ela olha para cima e sua
mão faz uma pausa, no ar.

"Não recebo ordens de ninguém, meu anjo", digo suavemente. "Você


sabe disso."
"Espere..."

"Fique parada."

Sou perigosamente deliberado em meus movimentos, enquanto me


inclino e deslizo a palma da mão entre a nuca e o travesseiro. Giro seu
rosto em minha direção e, em seguida, enrolo minha mão em punho, os
dedos formando um nó apertado em torno de seu cabelo. Ela estremece nas
minhas garras e inspiro essa primeira centelha de desconforto. Eu posso ter
professado meu amor por ela, mas ainda sou um animal imprevisível,
ainda sou capaz de qualquer coisa.

"Faz muito tempo, Dante", ela sussurra, adivinhando as raízes da minha


frustração, imediatamente.

"Isso mesmo." Trago meu rosto para mais perto do dela. Luxúria e
irritação torceram meus lábios em um rosnado. "Eu estou no comando por
aqui, não você, esqueceu?"

Ela estende a mão na minha mandíbula, temperando minha violência


com o mais simples dos toques, surpreendendo-me com a sincronização de
nossos pensamentos.

"Faça amor comigo."

"Você está doente." Eu sou persistente na minha relutância. Rasgado


com indecisão.

“Então me distraia. É para isso que você usa o sexo, não é? Como uma
deflexão para a dor.”
"Nem sempre", resmungo.

Ela sorri novamente e eu começo a perder o foco. "Mentiroso."

"Diga-me mais." Eu me movo rápido, prendendo seus pulsos no


colchão, de cada lado da cabeça, enquanto minha sombra paira sobre ela.
"Quero ouvir exatamente o quanto você está desejando meu pau."

"Eu preciso sentir cada parte do seu amor", diz ela, acolhendo na minha
grosseria de braços abertos. Os índigos estão de volta às safiras ricas, e
estão brilhando de desejo.

Então é isso que esse desejo insaciável é... Amor. Que foda mental. Ainda
estou testando os limites dessa nova emoção. É obsessão. Agonia. Paz.

"E você vai, mi alma", eu digo, olhando para seus seios nus. O lençol
escorregou para baixo, expondo uma das minhas partes favoritas do seu
corpo. Pesado. Pecador. Sem falhas. Ela poderia trazer um homem de
joelhos, com um vislumbre deles sozinhos. "Todos os vinte e dois
centímetros do caralho."

Ela ri e eu afrouxo meu aperto. Sou seu para sempre, quando ela curva
a boca e pronuncia aquele som melódico.

"Não sujo e depravado como da última vez", ela me implora. “Faça


amor, meu diabo. Eu preciso de algo mais gentil. Mais suave... ”

Eu zombo dela. "Pareço um homem que é suave e gentil?"


Eu odeio, quando ela pede isso. Só fiz amor com uma mulher, duas
vezes na minha vida. A mesma mulher, que agora está pedindo um
terceiro... Não tenho tolerância hoje, preciso consumir, para liberar.

"Sim", ela diz simplesmente, cortando minha relutância ao meio, com


uma única palavra.

"Eu dito essa peça, lembra?" rosno, arrancando meus sapatos, pegando a
mão superior, antes que ela a incline a seu favor, a está ficando muito boa
nisso.

"Somente quando a mulher que você ama permite."

"Maldita seja, Eve." Ela está certa. Estou com tanta fome de um gosto,
que atravessaria o fogo do inferno por isso. Eu daria tudo a ela e muito
mais.

Soltando seus pulsos, dou um passo para trás, removendo a camiseta


preta e desabotoando o cinto. Ela olha para o meu torso nu e pega o lábio
inferior entre os dentes.

"Vou no seu ritmo hoje, mas apenas porque você está se recuperando",
digo a ela. "Não espere a mesma consideração amanhã."

"Eu não presumiria nada com você."

Ela se mexe em uma posição sentada e levanta as mãos acima da cabeça,


convidando-me a remover sua camisola de seda branca. Eu confirmo,
arrancando-a do seu corpo e descartando-a por cima do meu ombro.
Jogando o lençol também, ajoelho-me entre suas pernas, o colchão
rangendo em protesto sob o meu peso. Isso é tudo, porra. Estou chapado,
com o som da respiração, presa em sua garganta. Eu sei que ela já está
molhada e desesperada.

"Mais aberto", eu digo severamente, colocando minhas mãos sob os


joelhos, para afastar suas pernas. Ela faz isso sem protestar, revelando o
centro do meu universo, em toda a sua glória rosa e brilhante. "Perfeito",
murmuro, deslizando minhas mãos para cima e por baixo da sua bunda
levando seu sexo até minha boca, contando os segundos, até que seja toda
minha. Não ficarei feliz até que ela perca a consciência novamente e seu
corpo implore por perdão.

"Gentil, Dante." Eu sinto seu toque no meu antebraço, enquanto ela


suspira. "Você prometeu."

Eu olho para ela, enquanto abaixo meu peito no colchão, para aquele
primeiro gosto requintado. "Aceite o longo curso, mi alma", digo,
inspirando profundamente, enchendo meus pulmões com seu cheiro.
"Posso estar de acordo com sua solicitação hoje, mas nunca lhe dei um
prazo para minhas intenções."
Capitulo Cinco

Joseph

"Mate-me, oh doce Jesus, mate-me!"

Os gritos do homem estão fazendo minha cabeça latejar. Ao contrário


de Dante, não tenho prazer em brincar com minhas vítimas. Este cabeça de
merda é quase inútil, de qualquer maneira. Ele é o garoto de recados de
Sevastien, não é como seu associado, aquele com a cabeça decepada, na
sala ao lado.

"Reece, arranje uma linha e ponha Santiago no telefone", digo ao


homem moreno ao meu lado, embainhando a faca ensanguentada e
puxando a arma. "Ele vai querer ouvir isso."

"Claro, chefe."

"Por favoooor me mate!"

Volto para o homem encolhido aos meus pés. Nacionalidade: carmesim.


Eu nem posso dizer qual a cor da porra da sua pele.
"A morte é uma misericórdia demais para imundície como você",
murmuro, mas dou a ele o que quer, minha bala saindo da parte de trás de
seu crânio, junto com o resto de sua merda de cérebro. Um spray de sangue
vermelho decora a parede suja, atrás dele e seu corpo sem vida cai no chão.

Guardo a arma e volto para Reece, esperando pacientemente que ele


disque. A ligação é conectada e ele me entrega o dispositivo.

"Dante".

"Joseph."

Ele parece distraído, a voz abafada. Verifico meu relógio de pulso, são
três horas da manhã na ilha... No fundo, ouço lençóis farfalhando e uma
voz suave sussurrando algo.

Eve.

Minha expressão suaviza imediatamente. Caminho pelo fogo do inferno


para proteger aquela mulher e o vínculo complicado que compartilham.

"Fale", exige Dante. "Estou indo para o meu escritório agora."

"Aguarde um minuto." Eu me viro para Reece e o resto dos meus


homens. "Livrem-se deles", digo, indicando os corpos, antes de sair na
varanda adjacente para transmitir os últimos desenvolvimentos. O ar
quente da noite envolve minha pele como uma luva, enquanto os odores
desconhecidos de Marrakesh se revezam em perfurar meus sentidos.
Especiarias. Fumaça. Esgoto. Qualquer coisa é melhor que o fedor metálico
da morte. Olho para o caos berrante da Praça Jemaa el-Fnaa e ouço o som
distante de uma porta batendo, em algum lugar abaixo da linha.
"Bem?" solicita Dante.

“Nós o perdemos, voou para fora há cinco horas. Ele tem um campo de
treinamento secreto em algum lugar do Saara. Nós rastreamos seus
movimentos até uma pequena vila, mas as coordenadas exatas do campo
ainda são desconhecidas.”

“Para que diabos ele precisa de um campo de treinamento? É um


cafetão, não um terrorista."

Dante está tão nervoso com esse novo desenvolvimento, quanto eu.
Após nosso tempo no Afeganistão, sabemos tudo sobre os chamados
campos de treinamento e o mal criado lá.

"Petrov ainda tem conexões na CIA?" Pergunto-lhe.

Um assobio baixo confirma o que já suspeitava. Dante prefere arrancar a


própria garganta, a pedir ajuda a Petrov, mas não sou avesso a fazer essa
ligação. Essa situação é de cinquenta tons de merda, mas estou disposto a
transmitir cinquenta tons de deferência, pelo progresso.

"E a garota?"

"Transportada para fora dos EUA já." posso ouvir minha voz espessa,
enquanto falo. Que diabos é essa mulher, que se arrasta tão profundamente
na minha pele? Eu me orgulho de esconder emoções, é minha maior arma.
Nem mesmo Dante pode me ler.

"Está confirmado?"
“Dançamos com alguns idiotas hoje à noite. Com a ajuda deles,
rastreamos uma remessa para Amsterdã. Tudo indica que ela está no
manifesto deles.”

"Por que diabos ele a mandaria para Amsterdã?"

"É a nova base europeia dele, estabelecido há uma semana, depois de


eviscerarmos Bucareste. Há uma casa de detenção lá e a rede já está
ganhando força. Ele fez um acordo com os romenos, que administram a
maior parte do distrito da luz vermelha, sem dúvida adocicado pelo
influxo de dólares, do recém-apropriado negócio americano de Bratva.
Como Sanders está lidando com isso, a propósito?" Como se eu desse uma
merda. Não há amor perdido entre esse idiota e eu, mas ele é leal a Dante,
então, mantenho uma distância respeitosa e minha boca fechada.

"PORRA!"

Meu telefone vibra, com a força da reação de Dante. Eu posso sentir as


lambidas ardentes de sua raiva, mesmo a três mil quilômetros de distância.

Um passo à frente. Dois passos para trás.

"Como está Eve?" pergunto rapidamente. Ela tem seus próprios


métodos para conter sua escuridão e eu tenho a minha.

“Mais forte. Impaciente." Há o som de um vidro quebrando, quando seu


punho bate na mesa. "Quero que ela seja encontrada, Joseph."

Todos nós.
“E eu quero você e sua equipe de volta aqui, o mais rápido possível.
Partimos para Amsterdã amanhã.”

"E Sevastien?"

"Vou transmitir essas informações para Petrov. Ele pode pegar o manto
e continuar a busca, apenas até que essa situação seja resolvida. Nossa
primeira prioridade é a garota.”
Capitulo Seis

Eve

Não estou tão enjoada esta manhã. Eu até administro alguns biscoitos
secos. Encorajada, tento morder uma maçã s, mas rapidamente, tenho que
jogá-la fora. O sabor está todo errado, é mais acre do que agradável. O
pensamento de algo remotamente doce passando pelos meus lábios,
novamente intensifica as ondas viciosas.

Meu estômago pode ter parado de agir, como se estivesse navegando no


olho da tempestade. Agora está mais balançando na periferia, mas o resto
de mim não concorda. A sensação de deslocamento, que tenho sentido nos
últimos dias, é pior do que nunca. Minha voz soa estridente e remota.
Meus membros parecem pesados e desconhecidos, como se estivessem se
movendo por vontade própria. Eu sou um zumbi, preso dentro do corpo
de uma mulher que conheço.

Puxando um dos bancos da ilha, tomo meu lugar e mordisco outro


biscoito. Quanto mais eu como, mais calmo é o mar.
Eu acho que sempre houve uma parte de mim que se sentiu assim,
especialmente depois que Dante comandou minha vida. Mas desde que
voltamos de Miami, está ficando mais feroz e mais profundo, da mesma
forma que o bebê dele está ficando mais forte dentro de mim. Talvez sejam
os hormônios da gravidez. Talvez tenha sido um choque atrasado, como
Whit disse. Talvez, quando criança, fosse um sexto sentido que meu pai
nem sempre foi o cara bom e honesto que professava ser.

Perversamente, tenho um senso maior de mim mesma, hoje em dia. É


como se eu tivesse atingido uma linha invisível, na minha vida antiga.
Minha alma está completa. Eu sei quem sou e onde devo estar, mesmo que
meu corpo físico tenha outras ideias.

Está cimentado na minha psique; solidificado pelo meu amor e obsessão


por ele. Em breve serei sua esposa, mãe de seu filho... A última parte me
aterroriza, mas tive um pouco de tempo para lidar com isso agora. À luz
fria de hoje, meu bebê, nosso bebê, parece estranhamente certo. O tempo é
péssimo, mas eu sempre quis filhos. Se Dante compartilhar minhas
opiniões, será o próximo capítulo da história de nossas vidas juntos.

Eu olho para o glorioso sol, batendo nas janelas francesas e lembro da


noite em que me vi sozinha no banheiro, em seu avião particular. Olhando
para um estranho no espelho e listando algumas das minhas características
e realizações na minha cabeça, tanto as boas, quanto as absolutamente
assustadoras.

Eve Miller.

Repórter premiada.
Filha falhada.

Amante de um mestre criminoso.

A verdade é que eu não conseguia me identificar com muita coisa,


naquela época e agora sei o porquê. Meu sobrenome era Santiago, desde o
primeiro momento em que ele olhou para mim, por mais que lutei; Eu
nunca falhei com meu pai, ele falhou comigo; e Dante tem mais, do que seu
passado e escuridão.

A única coisa que parecia vagamente certa era minha profissão. Eu


estava indo a lugares. Acabei de ganhar um prêmio...

Largo o biscoito e tomo um gole de água, mas o líquido fica preso na


garganta e começo a engasgar. Não posso deixar de sentir que estou me
decepcionando, que estou deixando a memória de meu irmão e virando as costas
para ela. Foi ele quem incentivou a minha escrita, que me levou para a
faculdade a cada semestre, que comemorou minha primeira manchete
comigo, com cervejas baratas, no nosso bar favorito.

O toque do celular perfura meus pensamentos. Posso sentir


descomprimir, a cada repique e então, outra coisa me atinge. Os resultados
dos meus testes já voltaram?

Pego o celular, mas ele silencia, quando respondo.

Isso é estranho.

Sento-me novamente, pensando rápido. Apenas quatro pessoas têm


esse número, Dante, Joseph, Anna e depois de ontem, Whit.
Dou uma olhada em cada pessoa: Dante desapareceu da nossa cama no
meio da noite e não o vi desde então, Joseph deixou a ilha para o Marrocos
há dois dias, Anna... lágrimas brotam nos meus olhos. Ela estava tentando
fazer contato?

Lançando-me do banquinho da cozinha, vou para a porta aberta, com


meu celular perto do peito, caso toque novamente.

Esta casa é tão grande, que parece um mausoléu. Sinto falta de Sofia e
seu carinho e bondade, que pareciam preencher os espaços vazios e tornar
tudo menos... imoral. Dante a assustou, depois que ele me mandou
embora? O estado de seu escritório é apenas um pequeno vislumbre de
como deve ter sido seu estado de espírito. É por isso que ela não voltou?

O som dos meus passos me segue pelo corredor. Estou alcançando a


porta do escritório dele, quando dois braços fortes travam em volta da
minha cintura por trás, levantando-me alto no ar.

"Dante!" Eu grito, minhas mãos voando para a barriga. "Coloque-me no


chão!"

Uma risada sombria e familiar e uma nuvem de hálito quente espalham


pela minha têmpora. "Você não quer saber o que fiz com meu último
intruso, meu anjo. O que está fazendo à espreita no meu corredor?”

"Eu não estava à espreita em lugar nenhum", digo irritadamente,


enquanto ele me abaixa de volta ao chão. Empurrando seus braços para
longe, giro para encará-lo. "Eu estava procurando por você."
“Bem, agora me encontrou. Como vamos celebrar?” Seu olhar desce
para os meus seios ainda pesados e ele, rapidamente, apoia-me contra a
parede, um punho atingindo o espaço acima da minha cabeça, como um
ponto final para suas intenções.

"Onde você esteve?" pergunto, engolindo rapidamente. Dante é um


homem grande, uma montanha musculosa de mais de um metro e oitenta.
É sua aura, que é tão intimidadora, juntamente com seu olhar penetrante e
feroz, cabelos pretos e grossos, uma mandíbula firme, permanentemente
lançada na sombra, a tinta tribal, que se curva em torno de seu braço
esquerdo e a boca desdenhosamente sensual... Escura e perigosa, e sexy
como o inferno. Eu já posso sentir a batida entre as minhas pernas.

"Por aí." Ele se abaixa um pouco, para moer sua ereção brotando, contra
a minha pélvis. Sem meus calcanhares, ele é uns dez centímetros mais alto
que eu. Tudo o que posso sentir é sua luxúria e aquele perfume rico e
inebriante, que faz meus sentidos revirarem.

"Eu não te vi a manhã toda, ou a maior parte da noite passada. Onde


esteve?" A reclamação está saindo da minha boca e borrando as bordas da
nossa tensão.

"Você conseguiu os destaques, mi alma." Ele encolhe os ombros. "Vamos


retomar de onde paramos?"

"Aconteceu algo que eu deveria saber?"

"Não na minha cama, nem depois das três da manhã. Esse é o problema,
porra".
"Estou falando sério, Dante."

Ele amaldiçoa em espanhol e ajusta sua ereção, com um puxão violento.


Espero, não com tanta paciência, que me esclareça, mas ele, claramente,
não está no clima de compartilhar. Eu assisto seu olhar mergulhar para
baixo, novamente.

“Por que você continua tocando seu estômago? Ainda está doente?"

"Não está mais doente, mas ainda dói." Minha mão volta para o meu
lado. Eu nem sabia que estava fazendo isso. Quanto tempo tenho, até ele
adivinhar a verdade, uma semana? Um mês?

“Você já ouviu falar de Joseph? Sua equipe descobriu algo mais sobre
Anna?”

Ele se afasta para bater um código no teclado de metal. Há um clique e


ele abre a porta para mim. "Acreditamos que ela está em Amsterdã."

"Amsterdã?" paro e olho para ele. "Por que Amsterdã?"

Ele não responde. Eu posso dizer que ele está censurando os piores
detalhes, para me poupar da preocupação.

"Não", digo a ele bruscamente. “Você prometeu, Dante, quero saber


tudo e quero saber agora.”

"Então entre", ele diz secamente, sacudindo a cabeça. “E pare de me dar


ordens de novo. Eu disse que não seria gentil com você hoje. Agora, não
ficará sentada por uma semana.”
Isso me cala. Sem brincadeira. Eu não posso arriscar. Tudo o que eu li
na internet, nas últimas duas horas, garantiu-me que o sexo não pode
prejudicar o bebê, em circunstâncias normais... É isso mesmo. Não há nada
sobre o ato sexual de Dante, que atenda a esse critério. Ele é tão brutal
quanto apaixonado, e sua resistência é insana.

"Eu sinto muito, só estou preocupada com tudo." passo por ele e nos
confins luxuosos de seu escritório. “Alguém ligou para o meu celular mais
cedo, mas assim que atendi, eles desligaram. Eu pensei que poderia ser ela,
tentando fazer contato.

Dante estende a mão, enquanto avançamos para dentro da sala. "Me


passa seu telefone, vou arranjar alguém para invadir os dados. Vamos ver
se há algo lá.”

E se Whit ligar?

"Eu farei isso", diz uma voz, quando Joseph aparece atrás de nós,
parecendo legal e composto, de uniforme preto do exército.

O mercenário letal.

O segundo em comando.

Tão alto quanto Dante, tão claro, quanto ele é moreno, estão na vida um
do outro há dezoito anos, mas a história deles é uma página em branco.
Posso ser uma ex-repórter investigativa, mas nunca cheguei perto de
aprender o que une esses dois homens.

O olhar vazio de Joseph voa na minha direção e acena uma saudação.


"A que horas chegou a ligação?"
"Literalmente, cinco minutos atrás."

"OK. Verei o que posso fazer." Ele diminui a distância entre nós, para
pegar meu telefone, mas eu o aperto mais forte no peito.

"Podemos tentar depois?"

"Por quê? Esperando uma ligação do seu namorado?” Chama Dante,


escorrendo desprezo, como um sinal de aviso. Ele está encostado na lateral
da mesa, com os braços cruzados, parecendo a estátua mais quente, mais
perigosa e mais irritante que já vi.

“E se fosse Anna? E se ela tentar ligar de novo?”

"Então Joseph pode lidar com isso."

Joseph me estuda por um momento. Ele sabe que estou escondendo


alguma coisa. Estou obstruindo uma possível liderança de propósito.
"Acho que podemos esperar um pouco e ver como as coisas acontecem",
diz ele eventualmente.

Lanço-lhe um pequeno sorriso de gratidão. Dante a pega e passa a


triturá-la no tapete, sob o calcanhar de sua bota.

“Você não tem um relatório para trabalhar, Grayson? A menina está


desaparecida há quase três dias. Eu te disse ontem à noite, que queria
respostas. Temos cinquenta novos recrutas chegando na ilha, amanhã de
manhã. Marcus fez as verificações de antecedentes, mas quero que você
supervisione. Chega de foder. Chega de Tomas, está me ouvindo?”
"Espero que eles estejam trazendo protetor solar", diz Joseph
suavemente. "Você falou com Petrov?"

“Ele pegou a trilha das suas coordenadas e está compilando imagens de


satélite de todos os campos não registrados, na zona de interesse. "

"Os contatos da CIA foram úteis, não é?"

"Ah, vá se foder."

"Que campos?" digo, intrometendo-me. "É por isso que você foi ao
Marrocos, Joseph?"

"Sevastien está se ramificando", diz Dante, virando-se para um bar, que


foi milagrosamente reabastecido durante a noite.

Olho em volta, surpresa. Todo o seu escritório foi limpo. Todo o vidro
quebrado e os detritos de ontem foram removidos, e há novos monitores
nas paredes e um novo sofá de couro preto, no centro da sala. É nisso que
ele trabalhou há dez horas?

"...Mas em que direção eles estão crescendo, é uma incógnita." Dante


abre uma garrafa de Stillhouse Black Bourbon e joga uma carga em um
copo. "Ele está treinando um exército para fins ainda desconhecidos".

"Você quer dizer terroristas?" sussurro. O horror do 11 de setembro


ainda está estampado nas mentes de todos os americanos, com tinta
indelével.

Seu silêncio é sinistro, u posso sentir meus dedos coçando para tocar a
barriga novamente. Proteger, confortar...
"Não confirmado", ele murmura eventualmente. "Você quer uma
bebida?"

"Não, obrigada."

"Estou servindo uma de qualquer maneira. Gim ou vodka?”

"Não estou com sede."

“Gin será. Joseph?" Mas Joseph está muito ocupado, avaliando-me


novamente. "Grayson", diz ele bruscamente. “Tire os olhos da minha noiva,
a menos que queira que eu os arranque por você. Bebe ou não?”

“Bourbon.”

"Certo."

Eu posso sentir a irritação dele daqui. Espero que ele beba sua bebida e
sirva outra, antes de falar novamente.

"Por que Anna está em Amsterdã, Dante?"

"A rede de Sevastien criou um hub europeu. Temos uma teoria de que
ele a colocará para trabalhar lá primeiro."

Eu soltei um lamento. “Com que rapidez o seu jato pode ser


reabastecido? Por que já não estamos lá?” Não acredito que ele está parado
ali, bebendo seu maldito bourbon, quando minha melhor amiga é traficada
para algum país estrangeiro, a milhões de quilômetros de distância de casa.

"Ela ainda está em trânsito, mi alma", explica ele, sua expressão feroz
suavizando, enquanto pressiona um copo na minha mão congelada. "Se
nossas informações estiverem corretas, deverá ser contrabandeada para a
Europa, nas próximas doze horas. Petrov tem olhos em todas as docas.
Assim que ela chegar a Amsterdã, saberemos disso. Estabeleceremos uma
estratégia e um plano, quando soubermos com quantos idiotas estamos
lidando. Você tem minha palavra."

"Ela está bem? Eles a machucaram?”

Olho para os dois homens, que fazem meu estômago revirar.

"Eu quero sair o mais rápido possível", digo a ele. "Qual é o tempo de
viagem para Amsterdã?"

Ele toma outro gole longo, antes de responder. "Você não vai, de
qualquer maneira. Joseph e eu vamos lidar com isso.”

"Não comece essa porcaria comigo!" grito, jogando minha bebida


intocada em sua direção. Ele se abaixa, com uma maldição e o vidro se
quebra contra a parede, cobrindo-o com fragmentos e gim caro. "Estamos
falando da minha melhor amiga. Não estou sentada em alguma ilha,
enquanto ela é espancada, estuprada ou pior. Nada disso estaria
acontecendo, se não fosse por você invadir minha vida, no ano passado! ”

O silêncio que se segue é como o silêncio do amanhecer, antes de uma


batalha.

"Deixe-nos", ordena Dante, nunca tirando os olhos de mim.

Joseph exala alto e se dirige para a porta. Ele sabe o que está por vir e
sabe que não será bonito.

Merda. Merda. Merda.


"Eu não sou o alvo aqui, mi alma", ele diz suavemente, quando estamos
sozinhos. "Não me lembro da última vez que uma mulher se atreveu a
jogar um copo em mim."

"E a última vez que alguém apontou uma arma para sua cabeça",
contra-ataco, recuando.

Ele sorri, mas não atinge seus olhos. A noite em seu bunker, foi um
momento decisivo para nós dois.

"Tire suas calças."

"Sem chance", zombo. "Você terá que encontrar outra maneira de me


punir."

"É tarde demais para trocar por clemência, meu anjo."

“Estou falando sério, Dante. Se você me tomar assim, será contra a


minha vontade. Você disse que nunca forçou uma mulher e eu apreciaria,
se não manchar esse recorde ininterrupto.”

Suas pupilas estreitam para pontos pretos. "O que diabos aconteceu com
você?"

“Eu jogo de acordo com suas regras, na maior parte, mas não com isso.
Vou com você para Amsterdã, e isso é final."

"Não, se souber o que é bom para você."

"Eu sei o que é bom para Anna. Ela precisa de mim.”


“Você estaria morta em um dia, não pode nem seguir instruções
simples. Seu lugar é na minha casa e na minha cama, não portando
espingarda, em um dos meus malditos tanques.”

“Não quero ser um soldado, posso ajudar de outras maneiras.”

“Ah? E como isso funcionou para você em Miami?”

Há uma aspereza em sua voz, enquanto ele diz. Está se lembrando da


carnificina que sofri, na semana passada. Meu corpo ainda é um mapa
púrpura, de cada pontapé e cada soco que recebi.

"Isso foi diferente." Como você argumenta com um homem, que apenas
conseguiu seu próprio caminho? "Desta vez terei você me protegendo. O que
mais devo fazer para me provar?”

Ele faz uma pausa e depois balança a cabeça. "Você não tem instinto",
afirma ele, voltando-se para a garrafa de Stillhouse. Eu ouço o som do
líquido espirrando contra as laterais do copo, enquanto ele se serve de
outra bebida. “Você não pode ensinar essa merda. Somente aqueles que
conhecem a verdadeira dor, desenvolvem esse tipo de fome. ”

Eu tenho que me esforçar para ouvir suas últimas palavras.

"Conheço muita dor, Dante." coloco o telefone em sua mesa, antes de


enrolar meus braços em volta de sua cintura. "Perdi meu irmão, meu pai e,
possivelmente, minha mãe também." Pressiono meu rosto no material de
flanela cinza e macio de sua camisa. "Eu não posso perder Anna também."

“Esses homens são animais, vão rasgar você e rir, enquanto o fazem.
"Gosto de voce."

"Como eu."

Suas costas são tão sólidas quanto o carvalho, suficientemente largas


para suportar invernos rigorosos de traição, e Deus sabe quantas balas, ao
longo dos anos. Ele é toda a família que me resta e, como tal, sinto a
primeira pontada de arrependimento. Eu preciso contar a ele sobre o nosso
bebê.

"Desculpe-me, eu disse o que fiz. Não me arrependo de nada sobre nós.


Eu te amo, você sabe disso."

Sua mão convulsiona em torno da minha. "Eu ainda vou te foder cru."

Estamos de volta a um terreno emocional mais firme, novamente e seu


alfa está saindo para jogar.

"Bem aqui. Agora mesmo. Neste andar, se for preciso. Nem mesmo um
ato de Deus vai parar...”

Meu telefone começa a tocar. Olho para a mesa dele e largo os braços da
cintura. Eu o alcanço no terceiro toque.

"Número retido."

"Responda."

Apertei o botão verde no meu iPhone. "Olá?"

Uma voz suave filtra a linha. É uma que eu tenho esperado ouvir a
manhã inteira.
"Eve? Whit Harris, tenho seus resultados.”

"Quem é esse?" exige Dante, mas ele não faz nenhum movimento para
se aproximar.

"E?" prendo a respiração, desviando meu olhar para longe dele. Meu
coração está batendo tão rápido, que juro que vou desmaiar.

"Grávida." Ele entrega rapidamente, sem besteira. Posso imaginá-lo


fazendo um diagnóstico terminal, da mesma maneira.

"Pelos meus cálculos, você já tem dois meses. Devo contar as boas
notícias a Dante?”

Posso ouvir o ultimato em sua voz, estalando como um chicote, na parte


de trás da minha falta de inclinação.

"Não, eu faço", murmuro.

“Logo Eve. Você só piorará as coisas, se não o fizer. "

"Dê-me quarenta e oito horas."

"Muito bem."

Ele desliga e me viro para encarar a música.

Uma olhada na expressão de Dante e já consigo ouvir as notas da


Marcha Fúnebre de Chopin, girando em volta da minha cabeça.
Capitulo Sete

Eve

No final, não contei a ele sobre o bebê. Eu não conseguia fazer isso, não
com a vida de Anna pendurada na balança, do jeito que está. Eu não
consigo explicar. Só sei que, no fundo, serei mais útil na Europa, do que
presa aqui.

Após a ligação de Whit, eu me esquivei das perguntas de Dante, como


um campeão de boxe, fornecendo a ele resultados de exames de sangue
fantasma, que testavam todas as facetas da minha imaginação, sem
mencionar meu conhecimento sobre o jargão médico do drama aleatório na
TV. Eventualmente, ele ficou tão bravo, que meu copo não foi o único a
explodir contra a parede cinza de seu escritório, antes de sair pela garagem
em sua Ferrari preta.

Eu me tornei pequena, voltando para o seu quarto e me mantendo fora


do caminho dele pelo resto do dia. Empoleirada na beira da cama, olho
novamente para o estômago. Preciso mudar meus comprimidos pré-natais
para um novo esconderijo, talvez para a parte de trás da minha gaveta de
maquiagem, no banheiro.

Primeiro, abro a tampa e coloco uma pequena cápsula branca na palma


da mão. Eu engulo rapidamente, sentindo-me uma viciada, enquanto
empurro o resto das pílulas para longe. Mentiras são minha solução; a
verdade é um antídoto inacessível.

Desde que subi, recebi mais duas ligações. Agora que Whit lançou o
míssil que procura calor em mim, preciso entregar meu celular a Joseph,
para que ele possa executar todas as coisas técnicas nele. Não sou corajosa
o suficiente para me aventurar lá fora, com Dante à espreita, então, em vez
disso, envio uma mensagem para ele.

O telefone é todo seu. Podemos nos encontrar lá embaixo? E

Ando de um lado para o outro, no chão de azulejos de terracota,


enquanto espero pela resposta de Joseph. Não estou andando por muito
tempo.

Dê-me trinta.

Mordo o lábio. Agora, para o meu próximo problema...


Dante está por perto?

Conto 26 voltas do quarto, antes de, finalmente, receber uma resposta.

Ele está comigo, de volta à base. Vou dar uma desculpa.

Solto um suspiro de alívio. Depois que fomos exilados do Planeta


Santiago, nosso tempo juntos em Miami plantou uma semente de confiança
entre Joseph e eu. Chegaria ao ponto de chamá-lo de amigo, mas homens
como ele e Dante, não rotulam relacionamentos com esse sentimento
obsceno. É mais preto e branco que isso, você entrou ou saiu.

Ainda me surpreendo com a maneira como consegui entrar nas defesas


de Dante. Bem, talvez não hoje. Sou suscetível de ser enforcada, puxada e
esquartejada, estilo medieval, se me afastar a cinquenta metros dele.

Ando um pouco mais, verificando o relógio de pulso a cada trinta


segundos e xingando anomalias horológicas. Por que o tempo sempre se
arrasta, quando você está em uma corrida por respostas?

Quando a hora chega em quatro da tarde, desço as escadas. Os


corredores estão frios e vazios. O único som é o sinal marcante do relógio
antigo, na porta da frente. O ritmo constante desencadeia uma onda de
apreensão e logo tenho aquela maldita Marcha Fúnebre tocando na minha
cabeça, novamente.
Joseph está me esperando, do lado de dentro da cozinha, com as costas
contra a ilha e os tornozelos cruzados, lendo algo no iPad. Ele olha para
cima, quando entro e juro que seu olhar desliza para o meu estômago,
antes de fixar seus azuis acinzentados no meu rosto.

"Aqui." Vou direto até ele e entrego o telefone. "Tocou duas vezes mais,
desde a última vez que nos falamos. Mesma coisa. Eles desligam, assim que
respondo.”

Ele aceita, com um aceno de cabeça. "Vou rastrear o número e ver o que
aparece".

"Você acha que poderia ser Anna?"

Ele zomba, como se fosse a coisa mais estúpida que já ouviu. "Sem
chance."

Esqueci a capacidade desse homem de jogar óleo queimado em suas


mãos, quando você está se agarrando como o inferno à esperança.

"Como pode ter tanta certeza?"

"Se ela tivesse se libertado de suas restrições, já estaria morta. Esses


homens não brincam.”

"São os homens de Sevastien?"

"Não, os romenos com quem ele entrou nos negócios por lá." Ele franze
a testa para mim. "Eu presumi que Dante havia lhe contado."

"Não sobre os romenos", digo fracamente.


Joseph encolhe os ombros. "Tenho certeza que ele tem suas razões."
endireita-se e coloca meu telefone no bolso. "Eu preciso voltar, antes que
Dante bata mais em meus recrutas."

"Ele ainda está bravo comigo, hein?" Meus ombros caem, quando o
estômago dá um rosnado inquieto. Não tenho muito apetite desde ontem
de manhã e de repente, estou morrendo de fome.

"Diga a ele", ele murmura.

"Dizer a ele o que?" falo, muito quieta.

Ele suspira e olha para a porta. “Eu entendo por que v está fazendo isso,
Eve. Você quer estar por perto, quando extrairmos Anna e ê sabe que
Dante não a deixará em qualquer lugar perto de Amsterdã, quando você
está grávida do filho dele. Inferno, talvez você queira disparar algumas
balas nesses idiotas, para se equilibrar, depois de Miami. Mas eu estava lá,
quando ele descobriu sobre sua filha ... eu vi o que isso fez com ele. Todos
nós, nesta ilha de merda, conhecemos mágoa e dor, querida, mas alguns de
nós sofrem mais do que outros. A dor de Dante é incomensurável. Ele é
melhor em esconder isso do que a maioria. Ele precisa disso. Você, ele, um
futuro... Não negue essa certeza, nem por um dia.”

"Como você adivinhou?" sussurro.

Joseph desvia o olhar novamente. “Minha esposa fazia o mesmo,


quando estava grávida. Ela continuou tocando seu estômago como você,
como se não pudesse acreditar no que estava acontecendo. Como se a
felicidade não fosse apenas uma ilusão, afinal. Levamos dois anos para
conceber. Nós o chamamos de um milagre.”

Leva-me um segundo para processar isso e depois outro, para passar


meu choque, como uma curiosidade leve. "Eu nunca soube que você tinha
esposa e filho, Joseph."

Ele força seus lábios em um sorriso sombrio. "Não mais."

"O que aconteceu com eles?"

"Mortos."

Ele se vira para sair e fico tremendo, nos tremores secundários de nossa
breve conversa. Sofrimento, ódio, solidão, estava tudo lá, poluindo todas as
letras.

Ele sugeriu um relacionamento no passado, mas uma esposa? Uma


criança?

Dois funerais.

Mais duas razões para odiar este mundo.

Eu o vejo sair da sala e só há um pensamento em minha mente:

Este homem está tão danificado quanto Dante.


Capitulo Oito

Eve

Incapaz de tirar a revelação de Joseph da cabeça, eu me vejo vagando de


um quarto para o outro, na grande mansão branca de Dante. Sem objetivo.
Sem peso. Incomodada.

Não sei o que estou procurando. Coragem? Distração? Certamente não


é culpa, já estou sentindo muito disso.

Sento-me no lustroso Steiner, na sala de estar, mexendo nas notas de


marfim, até que não consigo mais ignorar o vazio no estômago. O navio
começou a agitar e a levantar novamente. Preciso comer alguma coisa,
antes que a doença tome conta de mim.

Quando começo, acho que não consigo parar. Sanduíches, frutas,


biscoitos... A coisa anti-açúcar parece ter desaparecido e estou
compensando isso com uma vingança. A comida é fresca na geladeira, a
escolha é abundante. Dante deve ter recebido uma entrega do continente
esta manhã.
Com o bacon frito e a saladeira meio vazia, estou mastigando meu
segundo sanduíche com maionese extra, quando Dante entra pela porta.
Seu olhar sombrio varre o caos da cozinha e sei que está absorvendo tudo,
a bagunça de talheres, as panelas usadas...

"Com fome?" ele observa secamente, chutando a porta da geladeira. Se


está surpreso com o meu repentino apetite, não demonstra.

Coloquei o sanduíche de lado. "Estou compensando as refeições


perdidas."

Ele está exteriormente mais calmo, mas ainda fervendo de


ressentimento, por baixo. O humor de Dante é uma variação diferente
sobre o tema em preto. O presente está contornando o território das nuvens
de tempestade. O banho iminente será curto e nítido, mas há todas as
indicações de que está passando.

"Seu amado iPhone." Ele joga meu celular no balcão, com mais força do
que o necessário e ele bate no lado do meu prato. Aí vem a tempestade.

“Identificador de chamadas não rastreável. Quem fica te incomodando,


sabe como jogar com o sistema.”

"Eu deveria estar preocupada?"

"Não, se ficar parada e parar de fingir que é a fodida Rambo."

Agora o granizo.

"Joseph não acha que Anna está tentando entrar em contato comigo."

"Nem eu."
Ele se move para o outro lado da ilha e fica bem na minha frente.
“Deixe-me saber se isso acontecer novamente. Ele adicionou um bug, que
poderá rastrear a localização do chamador. Você vai comer aquilo?" ele
acrescenta, apontando para o meu sanduíche.

Empurro o prato para ele. "Seja meu convidado."

Perdi o apetite, odeio perseguidores. Bem, na maioria das vezes eu… O


meu último me sequestrou, fez-me apaixonar por ele e atualmente, está
comendo minha comida.

Ele se inclina sobre o balcão e dá uma mordida.

"Eu tenho uma proposta para você", diz ele, mastigando lentamente.

"É tarde demais para isso", sorrio, mostrando o diamante em seu rosto.

O fantasma de um sorriso solta a linha dura da boca e ele dá outra


mordida. "Você faz um bom sanduíche, esposa."

“Você não pode me chamar assim ainda, não é oficial. Sem papelada,
sem título...’’

“Isso é uma ameaça ou chantagem? Dois podem jogar esse jogo, mi


alma, e você saberá que vencerei."

Eu não gosto do som disso. Ele está agindo como se nunca tivéssemos
brigado antes. Um Dante tranquilo é uma coisa perigosa.

Eu o assisto demolir o resto do sanduíche em silêncio. Eu o vi destruir


homens, com a mesma deliberação e atenção aos detalhes.
"Vou deixar você vir para Amsterdã com duas condições", declara,
limpando a boca com as costas da mão, enquanto prendo a respiração.
"Um." ele levanta o dedo indicador. “Você faz o que eu digo o tempo todo.
Sem besteira. Sem desafio. Você senta onde eu digo para sentar, você chupa
meu pau, quando eu digo...”

"Eu não sou seu animal de estimação, Dante!" interrompo com raiva,
levantando-me.

Sua boca linda e cruel agora é um sorriso. "Mas você é uma visão tão
bonita, quando está de quatro por mim."

Jogo o prato vazio sobre o balcão, em sua direção e ele o pega logo,
antes de bater em seu braço. "Você continua assim, meu anjo e não terei
mais copos ou talheres."

"Por que você tem que tornar tudo tão difícil?"

“Talvez eu veja isso como preliminares verbais. Não gosto de mortes


fáceis ou mulheres fáceis."

"Bem, são todas as preliminares que está recebendo hoje, então,


aproveite enquanto durar."

Ele inclina a cabeça para trás e ri e tento não derreter em uma poça no
chão da cozinha. Ele mostra essa emoção tão raramente... Eu quero
saborear, colocar em uma caixa. Marcá-lo como "o melhor som de todos os
tempos" e abri-lo com a maior frequência possível.
"Estou fazendo isso para mantê-la segura." Sua risada morre, tão
abruptamente quanto chegou. "Eu nunca mais quero entrar em um quarto
e te ver sendo fodida por algum filho da puta russo novamente."

Sento-me rapidamente. "Eu também."

"Pelo menos estamos de acordo em algo."

"Ok, irei me comportar. Qual é a segunda condição? "

"Case comigo."

"Você é louco?" murmuro. “Novidades, Santiago, eu já disse que sim."

"Você está certa. Não é oficial... Ainda não, então faremos isso hoje à
noite, aqui, na minha ilha. Está tudo organizado. O padre chegou dez
minutos atrás. Seu vestido está esperando por você lá em cima.”

Oh meu Deus, ele está falando sério.

Balanço a cabeça, olhos arregalados, coração batendo forte.

“De jeito nenhum, Dante. De jeito nenhum! Você não precisa me


apressar nisso, para me encaixar em uma agenda bagunçada sua. Eu não
estou preparada. Preciso de tempo. Precisamos trazer Anna de volta em
segurança, primeiro. Por favor, não faça isso." Estou tremendo. Eu estou
um naufrágio e muito além do ponto da raiva.

"Essas são as minhas condições", diz ele suavemente, indiferente à


minha reação. Eu o vejo pegar o prato e jogá-lo sem cuidado na pia.

“O serviço começa às 19h. Joseph irá buscá-la vinte minutos antes. Há


uma pequena capela, no lado norte da ilha. Sei que é sua prerrogativa,
nesta ocasião, mas é do seu interesse e da sua amiga, se cumprir esse prazo
e pular o atraso. ”

"Você está dizendo que não vai ajudar Anna, se eu não me casar com
você?"

Não acredito que ele está forçando minha mão assim. Ele não se
importa com os meus desejos? Pergunta estúpida... Claro que não. Ele
acabou de me lembrar de como pode ser um imbecil impenitente.

"Sete da noite, Eve."

Ele não me tranquiliza sobre Anna.

Ele não tem intenção disso.

Eu ouço a porta do carro bater, seguida pelo barulho de um motor. Nos


últimos cinco minutos, a nuvem de tempestade se transformou em um
ciclone, e ele está cheio agora.
Capitulo Nove

Eve

Eu odeio o vestido que ele escolheu para mim... não, eu não, amo isso. O
que odeio é tudo o que ele representa: conluio forçado, chantagem,
traição...

Passo um dedo pelo delicado corpete de seda branca, resistindo ao


desejo de arrancá-lo do cabide e jogá-lo pelo quarto. Sei que estou sendo
dramática, talvez sejam os hormônios da gravidez novamente, mas parece
que a crueldade dele transformou algo especial em feiura e ressentimento.

Como ele ousa balançar a vida da minha melhor amiga, na minha


cabeça e depois esperar que eu case com ele de bom grado? Quem diabos
ele pensa que é?

Minha mente está em espiral. Inclino-me contra a parede e esfrego


círculos suaves nas minhas têmporas. A sensação de deslocamento está
pior do que nunca, mas acho que, finalmente, estou vendo o que é. Desde
que nos conhecemos, Dante tem conduzido nosso relacionamento com
tanta força, que estou lutando para manter o equilíbrio. Amor? Casamento?
Bebês? O que vem a seguir, um plano de aposentadoria?

Não era assim que eu esperava o dia do meu casamento. Nada sobre
isso é o que eu queria. É tudo sobre Dante. Desisti da ideia de meu pai me
levar pelo corredor, mas achei que minha mãe teria um pequeno papel a
desempenhar. E Anna... eu nunca tive a chance de dizer a ela que estava
noiva.

Há muitas outras coisas nos obscurecendo. Estamos no meio de uma


guerra e o mundo inteiro é um campo de batalha.

Eu tenho menos de uma hora, até a hora do show, então, eu me arrasto


para o banheiro e começo a trabalhar meu rosto. Enquanto coloco blush nas
bochechas, considero o que Joseph me disse antes, sobre o quanto Dante
precisava disso. Estou fazendo um grande negócio? É realmente traição?
Nosso casamento era uma inevitabilidade, afinal.

Ouço as rodas na calçada, enquanto fecho o vestido. Decote alto,


elegante como o inferno... Meus saltos são estiletos de dez centímetros,
feitos de seda branca combinando. Eu não poderia parecer mais virginal, se
tentasse, mas essas quatro paredes contam uma história diferente.

Há passos pesados no corredor, do lado de fora, seguidos por uma


breve batida na porta.

"Está pronta?"

"Não."
Joseph empurra a porta de qualquer maneira e se inclina contra a
moldura para me observar. Ele está vestindo calças cor de carvão e camisa
branca, mas não se incomodou em tirar os óculos escuros, para que eu não
possa ler sua reação. Não que eu pudesse, se quisesse... o rosto descansado
de Joseph é tão neutro quanto a Suíça.

"Bonita", ele afirma, eventualmente.

"Lívida, define melhor."

"Inteligente", acrescenta, deslizando os óculos pelo nariz uma fração,


para me fixar com seu olhar firme.

"Intimidada", eu respondo, virando-me.

"Eu sugiro que você vá com ele... Você pode achar que gosta."

"Case-se com ele, então."

As sobrancelhas dele se erguem. "Loiras são mais uma coisa minha."

"E eles são meu incentivo."

“Um bom incentivo. Um dos melhores."

Eu pego seu olho no espelho. Ele estava apenas implicando...?

"Você terminou?" ele se encaixa, olhando para o relógio de pulso.

"Por pouco." passo uma pitada final de batom e faço beicinho para
aprovação. "Eu queria que ela estivesse aqui", digo, jogando uma pedra
metafórica no ar.
"Ela estará, em breve." Uau, um golpe direto. “Ela chegou em Amsterdã
há uma hora. Foi vista e identificada. Quando você se casar, saberemos
exatamente onde ela está presa. Petrov e sua equipe já estão no local.
Supondo que você defenda seu lado da barganha de Dante, estaremos a
caminho ao anoitecer.”

"Ele instruiu você a me contar tudo isso?"

A peculiaridade de sua boca confirma minhas suspeitas. “Foi um


adoçante levá-lo para o carro, um presente de casamento antecipado, se
você quiser. Não é tarde para dar a ele um desses. "

"Hoje não", digo com firmeza. "Não vou contar a ele sobre o bebê, até
estar naquele avião".

Ele rejeita sua desaprovação. "O que eu te disse antes, sobre jogar com
Dante Santiago?"

"Ele criou essas regras sangrentas."

“Pare de tentar enganá-lo, você nunca vencerá. " Ele confere o relógio
novamente.

"Você se lembra do seu próprio casamento?" Eu pergunto, colocando


meus sapatos.

Ele endurece, mas não responde.

Hoje não haverá mais revelações dele.


Joseph sai da propriedade e vira à esquerda, em uma estrada que nunca
havia percorrido antes. Isso é um sinal? Há tanta ilha, que ainda é um
mistério para mim, assim como seu dono.

Aliso o vestido sobre o colo e olho pela janela. Minhas mãos estão
tremendo de novo, então eu as aperto em punhos. Está me dando uma
sensação de controle, quando claramente não tenho. Um ano atrás, nunca
faria nada selvagem e imprudente. Agora, estou a cinco minutos de me
casar com um mestre criminoso, um assassino. Um homem, cuja bússola
moral está tão estragada, que nem consegue mais entender os pontos.

Tudo em Dante grita pecado, mas quando nos tocamos, faíscas


acontecem. É o tipo de magia negra que você lê. Eu o desejo, morreria por
ele. Por duas vezes fomos forçados a nos separar e cada vez me levou à
beira da minha sanidade.

Ele está sentado sozinho, nos degraus da capela, esperando por mim.
Calça e sapatos pretos. Camisa preta. Sem gravata. Cabelo escuro penteado
para trás. Os querubins de pedra, esculpidos no pórtico ornamentado,
acima de sua cabeça, parecem estar chorando de desaprovação, diante de
sua presença perto de uma casa de Deus.

A capela em si me pega de surpresa. É singular e de aparência inglesa,


com algum tipo de videira verde aparecendo na frente do prédio, acima da
porta. Eu posso ver o contorno de seu quartel do exército, os helicópteros e
os tanques, suas armas da morte, alinhados como soldados de metal, ao
fundo.
Este lugar é um intruso, uma falha. Não deveria estar aqui nesta ilha. É
um pequeno bastião de luz, entre as trevas, mas acho que é isso que sou
para ele, uma anomalia, que ele gravita, quando o resto do mundo está lhe
falhando.

O carro para e ele se levanta para me cumprimentar. Minha língua está


pesada e inútil na boca e quando ele abre a porta, bloqueando a luz do sol e
minha última rota de fuga, sinto que estou prestes a engasgar.

Ele coloca um braço sobre a dobra da porta aberta e me oferece a mão.

"Você me odeia?"

"Sim."

"Bom." Ele me guia para fora do jipe e me puxa para seus braços. "Acho
que a animosidade é uma base sólida para qualquer relacionamento
duradouro."

Seu batimento cardíaco constante é um passo pacífico para o meu. Eu o


bebo por alguns segundos e depois rio tanto, que não consigo recuperar o
fôlego. Minha reação dispersa as últimas moléculas de tensão entre nós.

"Eu não posso acreditar que estamos fazendo isso", suspiro, apertando o
estômago.

"Não acredito que você esteja surpresa", diz ele, estreitando os olhos.
"Venha. O padre está esperando.’’

Ele me conduz pelas escadas, uma mão firmemente plantada na parte


inferior das costas, como se eu pudesse fugir a qualquer momento.
"Você está lhe pagando por hora?"

"Não, mas quero que isso seja feito, para que eu possa chegar em casa e
foder minha esposa."

"Você não pode dizer palavras como foda, em lugares como este",
assobio, quando cruzamos o limiar. Mofado e úmido, a capela cheira a
promessas há muito esquecidas e negligência.

"Eu irei para o inferno?" ele zomba. "Sinto que meu bilhete já foi
carimbado para esse destino".

Odeio como ele acha que não há redenção, que não merece e sempre
será assim.

"Não brinque com isso."

Afasto sua mão das minhas costas, quando chegamos ao corredor.


Cerca de uma dúzia de bancos de madeira estão dispostos de cada lado,
espalhando-se como os farpas de uma flecha.

“Pare por um minuto. Preciso saber uma coisa, antes de continuarmos


com isso.”

“A combinação para o meu cofre? Onde escondi todos os corpos?"

Ele está nervoso? Seu sarcasmo implacável me diz que, pela primeira vez,
ele não é tão legal quanto parece, exteriormente.

"Por que você a matou?" pergunto baixinho.

Seu rosto se fecha imediatamente.


"Não é a hora nem o lugar."

Ele balança a cabeça para um cavalheiro agachado e grisalho, segurando


uma Bíblia de couro vermelho, que espera, pacientemente, por nós, perto
do altar. "Falaremos sobre isso mais tarde."

"Eu posso aceitar os assassinatos dos assassinos e dos agressores... mas


os inocentes?" Meus olhos procuram em seu rosto por respostas, que sei
que vão me assombrar.

"Faça-me entender, já tem meu perdão... vou me casar com você hoje,
independentemente. Mas quero saber o pior, para que possamos sair desta
capela, depois e começar de novo.”

"Eu prometi a você a expiação, não um confessionário", diz ele


friamente.

"Está comendo você, lá dentro."

"Você não sabe nada sobre o que está dentro de mim, Eve."

Ele pega meu braço e me arrasta para um canto escuro, depois me


empurra contra uma parede fria e aperta meu queixo entre o polegar e o
dedo. Este é Dante, em seu modo assustador, mas não tenho mais medo
dele.

"Esta é outra base ruim para um relacionamento, você não concorda?"


suspiro.
"Caixa de Pandora, mi alma", diz ele suavemente, usando seu carinho
por mim como arma. “Amor é a versão que você conhece, não é quem se
esconde invisível.”

"Eu amo tudo em você. Cada pedaço quebrado e fragmento. Nada do


que você diz vai mudar isso.”

Há uma pausa.

"Eu parei de sentir." Ele solta meu queixo e dá um passo para trás, com
os olhos brilhando, febrilmente.

"Mas você é como uma onda de energia, meu anjo. Entrou na minha
vida e tudo voltou a ligar. Agora, deixei de lidar com a queda de trinta e
oito anos de má vida e imoralidade.”

“Dante”

“Não me arrependo de matá-la, tanto quanto deveria. Por mais que


você goste que eu sinta. Por quê? Porque toda vida que tirei, levou-me um
passo mais perto de você."

"Isso não é uma justificativa", sussurro.

"É o único que estou oferecendo."

"E sua filha?"

“Ela tem toda a minha culpa, o que quer que ela possa encontrar. Tentei
tirá-la desta vida e falhei. Eu estava matando, em nome da guerra de outra
pessoa, quando deveria estar lutando contra a dela. Depois disso, não
havia sentido em combater o inevitável.”
Aí está. O esboço de sua vulnerabilidade, através de seus muros de
desapego. Quero chegar e arrastá-lo, chutando e gritando, para a luz.

“Eu não acredito em você, Dante. Não acredito que não se arrependa do
que fez com a mãe dela.’’

"Acredite no que quiser." Ele encolhe os ombros e enfia as mãos nos


bolsos. "Eu terminei com esta conversa."

Estou tentada a contar sobre o nosso bebê, para oferecer outra onda de
energia que possa derrubá-lo e banir sua escuridão para sempre.

"Pare de me encarar assim", ele rosna, quebrando o fio frágil dos meus
pensamentos. "Eu te descobri minha alma e agora o padre está ficando
nervoso. Vamos fazer isso?’’

"Então, agora está pedindo minha permissão?"

Ele sorri.

Eu sorrio.

"Mova-se."

"Eu te amo."

"Eu fiz você."

"Diga-me que me ama de volta", eu imploro.

Ele se inclina e pressiona os lábios no meu ouvido. “Você está tão linda
nesse vestido branco, meu anjo. Quero dobrar você sobre esse altar e dar ao
padre um milhão de dólares, apenas para assistir.’’
Meu grito de choque se transforma em um gemido, quando ele captura
minha boca com a dele e passa a língua entre os dentes.

"Você não deveria se casar, antes de transar com a boca de Eve?" chama
uma voz atrás de nós.

"Eu não faço conformidade, Grayson", murmura Dante, rompendo. "Eu


ficaria por aqui, se fosse você... as coisas estão prestes a ficar interessantes."
Capitulo Dez

Dante

Deixamos a capela em silêncio. Não há sinos, nem garotas gritando, ou


parentes distantes jogando confetes em nossos rostos. Apenas o som de
seus saltos altos nos degraus de pedra e meu rugido interior de satisfação.

Eu a roubei.

Eu a reivindiquei.

Eu casei com ela.

"Duas horas", digo a Joseph, enquanto subo no banco de trás, depois de


Eve, jogando uma luva para mim mesmo. Quantas vezes posso fazer minha
nova esposa ficar de vez em quando? Quantas vezes posso derramar meu coração e
alma em seu corpo?

Ela parece impecável, em seu vestido. Perfeita. Angélica. Tão bonita,


que faz minha cabeça doer. Não contei isso a ela, antes da cerimônia, mas
compensarei mais tarde.
Eu escolhi usar preto hoje, por um motivo. Não escondo o fato de que
gosto de nossas contradições e essa foi minha última chance de lhe mostrar
que diabo eu realmente sou. Se não as roupas, o que falei dentro da capela
era prova suficiente. Mas ela não se encolheu, aceitou e perdoou.
Novamente. Quanto mais posso jogar nessa mulher, antes que ela vacile?

Ela parece pensativa agora. Pensativa. Está olhando pela janela, com a
mão enterrada na minha.

Ela já está engasgada, com sua decepção? Tenho certeza de que o


justificarei, em algum momento deste casamento. A fidelidade é um dado,
nunca vou querer outra mulher e a certeza disso está queimada na minha
pele. Mas transparência? Obediência? Essas qualidades não são tão claras.
Foda-se... Temos o resto de nossas vidas para corrigir as torções.

Joseph liga o motor. Ela se vira e sorri para mim, colocando-me de


joelhos, com sua força e dignidade, mais uma vez. Foi preciso coragem
para perguntar o que ela fez lá. Demorou ainda mais, para colocar três
disparos contra o meu irmão, quando mais importava.

Já tive o suficiente de distância, preciso dela perto. Preciso sentir o calor


do corpo dela derretendo no meu, então, aperto-a mais e a puxo em minha
direção, com um empurrão violento.

"Ei!" ela chora, deslizando pelo assento de couro, uma conquista fácil
em seda. Ela bate na minha coxa e a puxo para cima de mim. Logo, sua
boceta está descansando contra o meu pau e meus braços estão cheios dela
novamente.
"Cinco", murmuro, puxando-a para dentro. Ficando alta de sua
fragilidade e graça.

"Cinco o que?" Ela cutuca meu pescoço e suspira contente.

"Você descobrirá em breve."

"Sua ereção está me afetando, Dante." Ela sorri novamente, safiras


faiscando. Chamas azuis incendiando minha alma. "Acho que tenho uma
boa ideia."

Eu rio em seus cabelos. Aquele maldito aroma cítrico. Eu começaria a


contagem regressiva aqui e agora, se Joseph não estivesse sentado a um
metro e meio de distância. "É a sua noite de núpcias, mi alma. Você decide
qual parte de você eu fodo primeiro.’’

Ela respira fundo, quando o celular de Joseph toca no painel frontal.


Beijando sua bochecha, estou vagamente consciente da voz dele, quando
atende sua ligação.

"Sim. Indisposto... FODA!’’ Ele encosta e pisa no freio.

Minha cabeça se levanta. "O que é isso?"

"Você precisa atender." Joseph me passa o telefone, enquanto eu,


gentilmente, inclino Eve de volta no assento. Seus olhos continuam
disparando entre nós, tentando decodificar os olhares que estamos
lançando um para o outro.

"Santiago", estalo.

"Petrov", rosna a resposta.


Fantástico. "É o dia do meu casamento, Petrov", digo, rangendo os
dentes. "É melhor que seja bom."

"Oh?" Isso cala o velho. "Dê meus, ah, parabéns para sua noiva." Ele está
ansioso para mudar isso para "comiserações", mas não tem coragem.

"Bem?"

"A trilha ficou fria."

Deixei isso afundar, por um momento. "Não é tão frio quanto a porra
dos seus homens, depois que eu colocar minhas mãos neles", digo-lhe
calmamente.

"Nossa casa segura, em Amsterdã, foi emboscada três horas atrás."

"Não é muito seguro, não é?" Minha voz não sobe um único decibel,
mas a atmosfera, dentro do veículo, despencou. Estou com tanta raiva, que
não consigo pensar direito. Tudo o que vejo é vermelho.

“Mantenha as provocações e ameaças para si mesmo, Santiago. Eles


mataram toda a minha equipe de terra. Vinte mortos. Acabei de receber a
notícia de que minha equipe de satélites, no Marrocos, também está fora de
contato. Eles deviam fazer o check-in há vinte minutos.

"Então, deixe isso ser uma lição para você... nunca envie um monte de
russos incompetentes, para fazer o trabalho de um colombiano".

Cinzas e fumaça. O celular fica em silêncio e tudo o que resta da nossa


parceria, é perdido pela brisa. Há um toque suave na minha perna, mas
estou longe demais para senti-la leve.
"Falaremos mais, quando você estiver preparado para ser razoável."

Petrov está me repreendendo como uma criança agora. Ele é um homem


morto.

"Você sabe como me alcançar."

“Tem certeza que quer que eu faça isso? Miami já era ruim o suficiente,
mas isso? Aconselho que você desocupe Amsterdã, antes de...”

Mas ele já desligou.

Com um rugido de raiva, voo do veículo, batendo a porta no rosto


chocado de Eve. "Filho da puta!"

Joseph sai calmamente, atrás de mim. Ele se inclina contra o capô


dianteiro, braços cruzados, aguardando ordens. Estamos estacionados
dentro dos portões da minha propriedade, bem ao lado do caminho que
leva à minha praia particular. Eu deveria estar fodendo minha esposa lá
embaixo, hoje à noite, sem lidar com essa merda.

"Tirei os olhos da situação por vinte e quatro horas e isso acontece."


arrasto minha mão pelo cabelo e faço sinal para ele me seguir.
Caminhamos em silêncio até a balaustrada de metal preto, com vista para a
beira do penhasco. "Como diabos Sevastien está conseguindo suas
informações?" Enfio os braços sobre a grade superior e abaixo a cabeça,
para pensar. "Há um vazamento. Tem que haver."

"Não do nosso lado", diz Joseph. "Não nos arriscamos hoje em dia."
"Então deve estar no Petrov's." Nós olhamos um para o outro, nossos
pensamentos sincronizados como de costume. "Roman", rosno, voltando
para o oceano. “Faça com que Sanders coloque uma equipe nele.
Deveríamos ter feito isso antes. É hora de lutar com eles. "

"Quem é o primeiro alvo? Sevastien? Petrov?’’

"Muitas facções do caralho", eu digo, balançando a cabeça. "É um


turbilhão de merda."

"Amsterdã?"

“Ligue para o meu piloto. Quero estar no ar nos próximos trinta


minutos.”

"Quantos homens?"

“Vinte conosco, incluindo Reece. Mais vinte, no segundo plano. Já


existem quinze nos esperando na Europa. "

"E Eve?"

"Uma maldita complicação, como sempre", digo sombriamente. Ela


manteve o lado da barganha. Eu preciso manter o meu. "Ela está vindo também",
acrescento, afastando-me dele. “Mas fica fora de vista, em uma casa segura,
equipada com segurança e uma equipe de cinco homens como sua sombra
constante. A única vez que eles saem do lado dela é no meu quarto. Ela é
minha prerrogativa, então. "

"Você tem certeza disso?"

Não.
"Sim. Resolva isso.”

Preocupação pesa na base da minha coluna, quando me aproximo do


carro. Intuição é meu deus, dúvida, minha religião... não posso deixar de
sentir que estou excomungando as duas coisas, ao permitir isso.
Capitulo Onze

Eve

Chegamos, na calada da noite, como ladrões. Como soldados.

A pequena pista é delimitada de ambos os lados, por uma espessa linha


de árvores. Seu contorno difuso é feito por uma série de luzes brancas,
correndo paralelas nas bordas da faixa. Há algo estranhamente familiar
neles e não posso deixar de sentir que já os vi antes.

Chegamos com força e rapidez, os motores gritando. O ruído áspero


entra em mim, destruindo meus nervos já triturados e fazendo o estômago
revirar. Assisto as mesmas luzes se transformarem em amarelo e depois em
vermelho, quando a aeronave desacelera.

Dante é um homem que gosta de fazer entrada, mas ele mudou para o
modo mercenário, hoje à noite. Cinco utilitários esportivos pretos nos
cumprimentam, com os faróis desligados. Apenas as luzes da cabine de
emergência da aeronave estão em uso. Saímos da aeronave à luz de tochas
e sou levada em direção ao primeiro veículo.
"Entre", ordena Dante.

De bom grado. Amsterdã está congelando. Eu vim direto do sol do


Pacífico, para um inverno europeu amargo.

Sento e me enrolo como um gatinho, no banco aquecido, pois estou


tremendo, vestida em jeans e blusa branca, sonhando com um par de Uggs
e uma jaqueta de esqui, com uma imitação de pele gigante, quando minha
respiração se transforma em fumaça de dragão.

Dante e Joseph estão conversando em voz baixa, do lado de fora do


carro. Corro para fechar a fenda da porta e conservar a quantidade escassa
de calor. Os dois homens viram o meu movimento e parecem irritados com
a interrupção.

"Desculpe", murmuro.

"Vá pegar um suéter para ela", ordena Dante, com pena de mim. "Há
um no armário, na parte de trás do avião".

Começo a agradecer, mas ele já está caminhando para o SUV, que está
estacionado atrás. A última vez que conversamos, trocamos nossos votos
de casamento. Ele não fez nenhum movimento para me tocar, durante o
voo. A ligação de Petrov desencadeou uma reação em cadeia, no meu novo
marido, que trouxe à tona todos os seus instintos básicos.

Ele está de mau humor desde então, por isso mantenho distância
novamente. Sentei-me na frente, durante toda a jornada, enquanto ele e
seus homens conspiraram e planejaram atrás. Tentei ler um livro, mas
meus olhos continuavam escorregando das páginas. Devo ter girado meu
novo anel de casamento ao redor do dedo mil vezes, enquanto tentava
entender tudo.

Eu sou casada.

Estou grávida.

Um psicopata, que todos subestimamos, ainda mantém minha melhor amiga


como refém.

Dante decidiu entrar em guerra com um chefe bilionário russo Bratva.

O anel é simples, de platina, totalmente cravejado de diamantes, que


combinam com os que brilham no meu anel de noivado. O confronto com
Petrov foi desnecessário. Eu sei que o russo não quer uma guerra com
Dante, ele mesmo me disse isso. Não seria benéfico para ninguém, mas
como posso fazer Dante ver isso?

Há fendas semelhantes, nas armaduras dele e de Petrov, esculpidas por


uma tristeza mútua, nas mãos de um mal muito maior. Ou talvez eu esteja
apenas predisposta a encontrar o bem, em todos os homens maus.
Independentemente disso, sei que preciso ser a voz da razão de Dante,
mais uma vez. Nosso objetivo é importante demais, para deixar seu ego e
sua arrogância nos desviar do rumo.

Há uma rajada de ar frio, quando Joseph abre a porta. "Aqui", diz ele,
jogando-me um suéter preto. "E você esqueceu isso." Ele me coloca a
garrafa branca de comprimidos pré-natais, que contrabandeei para bordo,
olhos cinzas azuis disparando bolinhas de gelo no meu rosto, enquanto
pego a garrafa e a enterro profundamente na bolsa.
"Deve ter caído, quando usei o banheiro", murmuro, amaldiçoando meu
descuido.

"O relógio está passando, Eve."

"Você parece o Whit."

"Como está se sentindo hoje?"

"Não estou tão doente."

É verdade. Se eu continuar comendo, minha doença da manhã é


reduzida a ondulações agitadas, na melhor das hipóteses. Uma
desvantagem: terei o tamanho da mansão de Dante, quando o primeiro
trimestre terminar.

"Ele vai se importar com isso", alerta. "Se acha que ele agiu mal,
algumas semanas atrás... "

"Feche a porta. Você está deixando todo o ar quente sair.”

"Eve..."

"Você não pode dar uma olhada positiva nas coisas, para variar?" digo
com raiva. "Por que tem que ser tão desolador o tempo todo?"

"Que diabo é isso?"

“Um pessimista, meu tipo menos favorito de cínico. Tudo é sempre o


pior cenário, para você."

"Atire em mim, por viver no mundo real", ele diz, enquanto Dante
reaparece atrás dele. Joseph fica de lado, para deixar seu chefe passar e, em
seguida, sobe no banco do passageiro, quando uma lasca de culpa invade
minha consciência. Ele enterrou sua esposa e filho... Eu não tinha o direito
de acusá-lo disso.

"Vamos lá", diz Dante, batendo com o punho no teto do veículo,


enquanto ele se senta ao meu lado, seu tamanho me esmagando, atraindo
toda a minha atenção de volta para ele.

Ele é tão gostoso, quando está assim: o diretor do ringue, o assassino


focado... De repente, quero que o mesmo controle brutal seja exercido sobre
o meu corpo, até implorar por sua misericórdia...

Bebê.

Droga.

"A que distância está nossa casa segura?" pergunto, puxando seu suéter
por cima da cabeça, para me distrair da luxúria. Não consigo parar de me
contorcer no lugar. A costura do meu jeans continua pegando o clitóris e
piorando.

“Cinquenta milhas a oeste. Durma um pouco."

"O que acontece quando chegamos a..."

“Eu disse que você poderia vir junto, u nunca disse que estaria
envolvida.” Ele se inclina para frente e dá um tapinha no ombro de Joseph.
"Qual é o status no Marrocos?"

"Duas equipes entraram no país via Merzouga", ele responde, digitando


algo em seu laptop. "Eles vão viajar para o sudeste até a fronteira com a
Argélia, à primeira luz. Interceptamos a transcrição da transmissão final
entre Petrov e seus homens. A partir disso, conseguimos triangular o
último local conhecido."

"Isso corrobora as imagens de satélite da CIA?"

“Afirmativo. Existem três campos, dentro de um raio de trinta milhas


dessa comunicação. Aposto que um deles é o de Sevastien. " Há uma
pausa. "Cristo, é como foder o Afeganistão novamente", ele murmura e
Dante resmunga de acordo.

Perguntas caem em minha mente, mas, pela primeira vez, mantenho a


boca fechada. Eu terminei de ser abatida, como um de seus alvos, mas vou
levar uma noite de ombros frios, se isso significar ver Anna novamente.
Capitulo Doze

Eve

A casa segura é uma mansão de pedra branca, situada um pouco atrás


da estrada e cercada por uma densa floresta verde de pinheiros. O
amanhecer está começando a avançar em torno das árvores em forma de
bala, enquanto Dante me leva até os degraus e para dentro do prédio. Uma
dúzia de homens patrulha o perímetro, mas há muito mais por dentro. Ele
está repleto de militares de rosto duro, que se afastam para nos deixar
passar, murmurando 'senhor' e 'jefe' para Dante, enquanto ele passa, com
uma expressão sombria e imponente como o inferno.

Se eles ficam surpresos ao me ver aqui, uma mulher solitária, entre três
andares de testosterona concentrada, ninguém diz uma palavra sobre isso.
Eu não existo. Todos os olhos estão fixos em outro lugar, enquanto os meus
continuam ricocheteando nas pilhas de armas de alta tecnologia, como
granizo no para-brisa de um carro. Estou vendo tudo, mas não estou
absorvendo. Não estou realmente querendo. Preciso que Anna seja resgatada,
mas não quero pensar muito nos métodos.
Fios vermelhos e cinza tricotam nas paredes e nos tetos, expondo a
quantidade de segurança que esta casa está guardando. Do lado de fora,
uma frota de veículos à prova de balas está alinhada, como cargas negras
de cavalaria. Eu nunca acompanhei Dante em uma de suas missões antes.
Nunca vi sua equipe no modo de ataque completo, como este. Eu já o vi
matar mais vezes do que gostaria de lembrar, mas foram incidentes
isolados, como o momento em que seu irmão me sequestrou e a noite em
que fiquei presa em Miami.

Seu lado militar é uma parte dele que permanece desconhecida. Este é
Dante, o herói da guerra, o homem com as mais altas condecorações por
coragem, uma elite que tenta embaçar as linhas entre o bem e o mal, não
importa o quanto proteste pelo contrário; um homem, que apenas se
envolve com o melhor.

Sofia, uma vez, contou-me histórias sobre a bravura de seus homens, na


noite em que Emilio veio me buscar na África. Como eles foram numerados
e apesar de serem capturados e torturados, recusaram-se a contar onde era
meu esconderijo.

Chorei por esses homens, ainda choro, da mesma forma que ainda
choro pelo meu antigo guarda-costas, Manuel.

O exército de Dante é muito mais esperto que o de Petrov. Até uma


amadora como eu pode ver isso. Está lá, na compostura deles, enquanto se
preparam para a guerra. Petrov é um dos empresários mais ricos do
mundo, mas não é general. Seu Bratva é comandado por um russo de olhos
mortos, chamado Viktor, que me dá arrepios. Seus homens não são, nem de
longe, tão qualificados ou organizados.

"Primeira à esquerda", diz Dante bruscamente, quando nos


aproximamos de uma escada de madeira.

"Você vem também?"

Ele balança e depois a fecha com uma careta. "Algo mais exige minha
atenção primeiro."

Nós olhamos um para o outro, ambos sobrecarregados, com palavras


que não conseguimos dizer. Deus, não foi assim que imaginei minha noite
de núpcias.

"Vejo você mais tarde, então."

Subo as escadas devagar. Há um cheiro de terra úmido sobre este lugar,


que está me fazendo sentir enjoada novamente. Posso sentir seus olhos
escuros em mim, despindo-me, caindo em mim, fodendo-me...

"Droga." Eu o ouço xingar, e então, seu passo pesado está correndo atrás
de mim. Sinto a mão dele no meu braço. A próxima coisa que sei, é que ele
está me girando com tanta força, esmagando sua boca na minha, para parar
a força da trajetória, forçando sua língua entre meus dentes e me batendo
contra uma parede próxima.

Eu queria brutal, e garoto, estou conseguindo esta noite.

Bebê.

Bebê.
Bebê.

"Dante, espere!" tento afastá-lo, mas ele geme com desaprovação,


quando suas mãos deslizam para a minha bunda, forçando-me a
arremessar minhas pernas em volta da sua cintura, antes de perder o
equilíbrio.

"Dante, por favor!" estremeço, quando seus dentes mordem minha


bochecha, sua barba por fazer detonando minha pele.

"Cala a boca ou vou te amordaçar."

O que há de errado com ele? É como uma lente que está fora de foco. Suas
mãos estão sobre mim, beliscando, torcendo, e estou sufocando com as
memórias. Há um quarto em Bal Harbour. Machucando. Gritando. Estou
lutando para me libertar.

Há algo mais lá embaixo, também. Algo tão profundo, dentro de mim,


que quase esqueci...

Estamos acima do limiar de um quarto, antes que ele arranque uma


mesa da parede, deixando-me cair no chão e me jogando sobre ela,
pressionando o calcanhar da mão na minha omoplata, para me manter
imóvel, enquanto ele luta para desfazer os botões do meu jeans.

"Por favor!" soluço novamente. "Assim não! Dante, pare!”

Aquela lembrança. O que é isso? O que é isso?

Ele.
Algo vira dentro de mim. Por uma fração de segundo minha mente se
esvazia, antes de cair de volta à terra e de encontro a uma parede de tijolos
de imagens, que foram torcidas em arame farpado e vidro quebrado. É
uma colcha de retalhos dos meus piores pesadelos, rabiscados em grafites
obscenos, de uma época em que não me lembro.

Quarto branco.

Luz vermelha.

Ele.

A parede se desintegra. Estou suspensa no vazio. Há uma voz gritando,


em algum lugar distante.

“Jesus, Eve. Porra!"

A dor explode na minha bochecha e o vazio assume uma cor nebulosa.


Agora há mais brancos e cinzas, não é mais tão preto.

Alguém está me sacudindo com força. Com um grito suave, abro os


olhos. Eu estou no chão. Como eu cheguei aqui? Dante está agachado na
minha frente, com uma expressão que nunca vi antes. Isso é medo?

Não sei se é isso, ou se a memória indesejada ainda está arranhando a


porta dos fundos da minha mente, mas não consigo parar de tremer e
chorar, encharcando seu suéter preto com uma dor, que não consigo me
lembrar.
Dante se senta no chão ao meu lado e me puxa para perto. Ele não diz
uma palavra, enquanto trabalho para recuperar o fôlego, ofegando no ar
que queima meu interior e sentindo cãibras no estômago.

Ele fica assim por mais tempo, não acariciando ou confortando, apenas
me segurando e deixando seu corpo suportar o peso de qualquer coisa que
esteja errado comigo.

Gasta e exausta, caio de cabeça em um espaço vazio, novamente.


Capitulo Treze

Eve

A primeira coisa que vejo, quando abro os olhos, é a silhueta dele. Ele
está de pé junto à janela, meio de perfil para mim. Um par de feias cortinas
marrons foram puxadas juntas, mas a luz do dia está rastejando pelas
bordas, como a promessa de coisas melhores por vir.

Em seguida, há o cheiro de fumaça de cigarro. Demoro um minuto para


localizar a fonte, rastrear as espirais de prata até os dedos, em sua mão
direita. Enquanto assisto, ele dá uma tragada, sugando consolo e exalando
uma emoção que não consigo ler. Ele fuma sem esforço, sacudindo as
cinzas como uma mosca e rolando o cigarro entre o dedo indicador e o
polegar, como uma estrela de cinema. Eu nunca o vi fumar antes, mas
parece estar fazendo isso a vida toda.

Há uma batida na minha cabeça e uma dor ardente na bochecha. Um


cobertor vermelho foi dobrado em volta de mim e há um colchão duro
como pedra, embaixo.

"Dante". Meu leve sussurro atravessa a escuridão.


Ele não responde, não se vira. Em vez disso, mói o cigarro aceso na
palma da mão sem vacilar e depois joga fora. Eventualmente, sua cabeça
sacode na minha direção, mas o resto do seu corpo permanece imóvel. Sua
expressão está de volta ao frio desapego, os olhos são um quebra-cabeça
indecifrável.

"Quanto tempo estive fora?"

"Três horas." Ele parece tão irregular quanto eu. Encosta-se na parede e
apoia um calcanhar para cima, as mãos deslizando nos bolsos da calça
preta.

"Eu sinto muito."

"Nada a desculpar", diz ele rispidamente. "Sou eu quem deveria me


desculpar."

"Eu não sei o que..."

"Você sabe o que é TEPT?"

"Foi isso que aconteceu comigo?" Sento-me devagar e abraço os joelhos


no peito. Eu ainda estou completamente vestida, seu suéter ainda está
úmido das minhas lágrimas.

"Já tive soldados suficientes para reconhecer os sinais."

"Então, você está dizendo que eu tenho TEPT?"

"Você está surpresa? Depois de tudo o que tenho... ”Ele se afasta da


parede e bate com o punho nela. "Porra!"

"Não tem nada a ver com você, Dante."


Ele faz uma pausa. "O que está dizendo?"

"Acho que há outro gatilho."

Eu tento afastar a memória, mas não estou tentando o suficiente. A


verdade é que não quero. Estou com medo do que possa cair de mim, se eu
fizer. "Tudo o que me lembro é como me senti impotente."

"É Miami?"

"Não." afasto meu cabelo do rosto e minhas pontas dos dedos pegam a
bochecha inchada. "Merda, eu caí?"

Ele parece estranho, de repente. “Você estava pirando, Eve, tive que
fazer algo."

Oh meu Deus. Ele me acertou.

"Tentativa de estupro e bateria", digo, sorrindo firmemente para ele. "É


uma noite de núpcias que você me deu lá, senhor Santiago."

Ele range a mandíbula, seus olhos escuros inflamando com raiva. “Nós
jogamos esses malditos jogos o tempo todo, Eve. Você desafia e eu bato
minha retribuição em você.’’

"Eu disse para você parar!"

“Se faz alguma diferença, fiz, assim que você disse essa palavra e que
descobri que não estava brincando. Foi aí que você começou a gritar. Tive
até Joseph batendo na porta, como o imbecil dos direitos das mulheres que
ele é.”

"O que causa os flashbacks?"


"Imagens, experiências... O cérebro se prende a algo, que desperta a
memória." Ele encolhe os ombros. Fale com Joseph. Ele sabe mais sobre isso
do que eu.’’

“Ele também experimentou? No Afeganistão?’’

Há uma pausa. "Não. Mas alguém próximo a ele fez. O que mais você
lembra?”

“Eu, realmente, não quero falar sobre isso. Ainda não."

"Adapte-se."

Eu o vejo se mover em direção à porta. Nenhum olhar final na minha


direção. Sem conforto. Nada.

"Enviamos uma equipe de vigilância duas horas atrás e os estou


esperando de volta. Podemos ter um insider com os romenos.

Mensagem recebida: agora não é hora de desmoronar.

"Não foi você que me machucou, Dante."

Ele para, mas não se vira. "Eu não deveria ter batido em você."

"Beije-me até melhorar. Não culpo você pelo que fez.’’

"Eu tenho que ir."

Uma onda gelada de medo, mais poderosa do que qualquer pesadelo,


ameaça me puxar para baixo e lavar meu coração.

"Você nunca me negou antes."

"Jesus, Eva!"
“Esqueça os beijos. Em vez disso, faremos amor. " Começo a rasgar
minhas roupas, arrancando a camiseta.

"Que diabos está errado com você?" Seu olhar finalmente muda na
minha direção. Tiro o sutiã branco e rasgo o jeans, mas seus olhos não se
desviam do meu rosto.

Estou perto das lágrimas. A qualquer momento eles derramarão. Por


quê? Porque ele não faz nenhum movimento para me reivindicar, abraçar-
me e fazer tudo isso desaparecer.

Naquele momento, eu o odeio mais do que nunca. Mais do que quando


ele me trancou em seu quarto.

"Tudo bem", u assobio. "Se você não me quer mais, Dante Santiago, vou
descer e encontrar alguém que queira."

Mentiras. Todas as mentiras. Mas tentarei enganar o toque dele.


Somente a força de seu abraço pode cortar as últimas raízes envenenadas
dessa memória.

"Se outro homem olhar em sua direção, Eve Santiago, o sangue dele está
em suas mãos!" ele ruge.

Estou nua e frenética. “Você não quer consumar esse casamento? É tudo
uma farsa? Sou apenas um pedaço de papel? Uma esposa troféu? Você se
importa comigo?”

Ele amaldiçoa algo em espanhol. "Você não tem ideia, mi alma."


"Então por que você não vai me foder?" Eu grito de angústia, agindo
como uma mulher louca, que perdeu todo o controle.

"Eu não estou te quebrando."

Ele está me mostrando esses sinais de alerta, novamente.

"Não que eu tenha quebrado todas as outras coisas da minha vida."

“Isso não é sobre você. É sobre mim. Trata-se de precisar de algo tão
desesperadamente, que morrerei se não o tiver! Por favor, não me negue.’’

"Assim não."

"Então, foda-se!" Pego o objeto mais próximo, meu iPhone, na mesa de


cabeceira e atiro nele. Meu arremesso está melhorando, ele o atinge no
braço, mas mal faz estrago. Ele pode lidar com a minha dor, mas minhas
palavras estão dando mais um soco, esta noite. Prendo a respiração para a
próxima parcela.

"Durma um pouco", diz ele, dirigindo-se para a porta novamente,


tentando fechar um incêndio, que está arduamente feroz. "Voltarei para
verificar você em uma hora."
Capitulo Quatorze

Dante

Eu estou no corredor do lado de fora da sala, respirando com


dificuldade. Tentando entender meus pensamentos, mas eles estão fazendo
uma bagunça por todo o maldito chão. Eu posso ouvi-la chorando de novo,
tensões agonizantes de dor, que me fazem querer esmagar minha testa na
parede.

Que merda aconteceu lá?

"Dante". Joseph está me esperando no topo da escada. “A equipe


chegou com um presente para você. Há um leilão acontecendo esta noite.
High-end. Sussurro. O privilegiado está lá embaixo cantando seu coração.
Ele acha que a garota está na lista para ser vendida com outras dez.’’

"Temos uma localização?"

"Em breve."

"Então, continue jogando até nós."


Ele abre a boca para responder e depois para. Ele viu algo no meu rosto,
alguma expressão estranha, que não deveria estar lá.

"Você está bem? Parece uma merda.’’

"Estarei, depois de hoje à noite", murmuro, puxando meu frio de volta


ao lugar.

"Você tem certeza disso?"

Olho para a porta de Eve. "Conte-me tudo o que sabe sobre TEPT."

As sobrancelhas dele se levantam . "Foi isso que aconteceu antes?"

"Hmm... algo assim."

Ele encolhe os ombros. "Eu não estou surpreso, está acontecendo desde
Emilio... Volte lá. Ela precisa de você. Quando ouço uma mulher
implorando para você transar com ela, não espero te encontrar no
corredor...

Uma fração de segundo depois, ele está encostado na parede, com meu
antebraço esmagando sua garganta. “É da minha esposa de quem está
falando, Grayson. Mostre algum respeito."

Ele não faz nenhum movimento para me afastar, mas os cinzas azuis
estreitam para fendas congeladas. “Com quem você está realmente bravo,
Dante?” ele puxa aquele sotaque texano arrogante dele. "Eu ou você, por
arrastá-la para um mundo, que a fará chorar todas as noites, pelo resto de
sua maldita vida?"
"Foda-se", murmuro, liberando-o. Joseph falou a verdade. Ele não
merece minha punição por isso. "Há algo mais... algo que ela não está me
dizendo."

Ele esfrega o pescoço. "Você quer dizer no passado dela?"

Meu silêncio revela o jogo.

"Bem, já sabemos que o pai dela é uma merda doentia. Não está além
dos reinos da possibilidade que... "

"Aqui não." Meu olhar muda para a porta dela novamente.

Ele assente, aceitando isso. “Faça do seu jeito. Encontro você lá


embaixo.’’

“Minha nossa! Senhor Santiago, que grande honra é encontrar com


você, a maior honra da minha vida. Eu sou Marco e estou ao seu dispor.”

O membro romeno apalpa minha mão duas vezes, enquanto engulo o


desejo de cortar sua garganta. O cafetão é um clichê ambulante e falador de
sua profissão, gordo e pálido, cabelos ralos e uma jaqueta de couro barata.
Até o sotaque dele é baixo.

Pequena merda obsequiosa. O que ele sabe sobre honra? O homem está nos
vendendo seu esquadrão, pela quantia de meio milhão.
"Sente-se", digo a ele, acenando com a cabeça na mesa. “Reece, pegue
uma bebida para este homem. Um para mim também, enquanto você está
nisso. ”

Marco parece inchar de orgulho, quando uma garrafa de bourbon é


batida entre nós. Joseph está pairando perto da porta e olho para ele. Já
terminamos com esse cara? Estou ansioso para executar alguém hoje e ele
apenas entrou na minha zona de matança.

Ele encolhe os ombros. A decisão é minha.

"Conte-me sobre o acordo com Sevastien", eu digo, servindo uma


bebida para nós dois.

"Ele veio aos meus irmãos com uma proposta que não poderíamos
recusar." Ele olha para mim, expondo os dentes amarelos e um buraco
faltando, onde costumava estar a cúspide esquerda. Interessante.

Eu sorrio suavemente e aperto nossos copos juntos. "E a garota?"

Ele encolhe os ombros. “Ela fazia parte do acordo. Os homens ricos


pagam muito dinheiro pelas americanas loiras e bonitas, especialmente
neste país. Ela está bem, mas não é páreo para sua dama, senhor.’’ Ele olha
de novo, tentando me levar a algum tipo de brincadeira fraca. "Ouvi dizer
que ela é uma verdadeira beleza."

Ela é uma beleza quebrada agora, mas de alguma forma, irei consertá-la.

"Deixe-me ver sua mão", digo ociosamente.


"O-o-que?" O olhar malicioso se foi, morto de pedra, por meu pedido.
Ele olha nervosamente para cada um dos meus homens, por sua vez. Há
cinco deles em pé, ao redor da mesa e cada um oferece a mesma expressão
inexpressiva. Mas Joseph clicou, ouço seu suave assobio daqui.

"Sua mão, Marco."

"Mas eu-eu..."

"Não gosto de pedir nada duas vezes."

A jaqueta de couro barata começa a tremer. Idiota. Se ele entra na cova


dos leões, que porra espera?

Uma desculpa pálida, magricela e manchada de fígado, lentamente se


aproxima do mogno polido, em minha direção.

"Deite-a", ordeno. "Palma para baixo."

Os olhos de Marco continuam disparando no meu rosto, tentando ler


nuances que não existem.

"Quanto eles estão pagando para você nos enganar?" pergunto


casualmente.

Ele tenta afastar a mão, mas sou rápido demais. A lâmina da minha faca
favorita já está atravessando os delicados ossos da mão esquerda e
alojando-se na madeira por baixo.

Meus homens xingam e saltam de volta surpresos. Joseph não move um


músculo, enquanto os grunhidos de Marco ecoam pelas paredes. Ele aperta
sua mão ensanguentada e puxa impotente, mas minha faca está enterrada
muito fundo na mesa. Esse homem não vai a lugar nenhum.

"Você vai cantar para mim novamente, pássaro vil", digo a ele,
recostando-me na cadeira, para ver o espetáculo se desenrolar. "E desta
vez, vai assobiar suas malditas entranhas, sobre o que Sevastien tem sobre
você, por que ele arrancou seu dente na semana passada. No que meus
homens estão, realmente, entrando hoje à noite?"

“Por favor, senhor, não tive escolha!"

“Você me enganou, Marco. Essa é a pior escolha que poderia ter feito."

O rosto gordo do cafetão se dissolve em soluços barulhentos e meus


pensamentos se desviam para Eve novamente.

"Ele sabe que você está aqui", ele lamenta. "Ele sabe que você e Petrov
estão em más condições."

"Este pássaro realmente pode cantar", penso para Joseph. "O que mais?"

"Esta noite é uma emboscada. Ele vendeu a Petrov a mesma história,


sabe que você não está compartilhando informações no momento. Ele quer
matar dois coelhos com uma cajadada só.’’

"Que engenhoso da parte dele." Estou morrendo de vontade de torcer


minha faca e realmente fazê-lo gritar, para abafar o som da angústia de Eve
de antes. "E a garota?"
Ainda em Amsterdã, juro." O cara está começando a sangrar. Há uma
nova toalha de mesa carmesim em exibição. “O leilão é genuíno. A garota
estará lá, mas o Bratva de Sevastien também.”

"E por que diabos confiaríamos em algo que sai da sua boca imunda,
Marco?"

“Eu nunca quis te trair! Ele ameaçou levar meus clubes embora. Ele me
torturou... por favor!”

"E quantas meninas você torturou, ao longo dos anos?"

Seu rosto se contorce de dor e confusão. “As prostitutas? Mas elas não
contam...”

Ah sim, contam.

"O endereço, por favor, Marco", digo, acenando para Joseph. Ele me
entrega a arma e se retira para a porta novamente.

O romeno está tão perdido em sua miséria, que nem percebe. Ele
desenrola um endereço na velocidade máxima e tenho que pedir para
repetir duas vezes.

"Você vai me deixar ir agora?" ele resmunga, esperançoso.

Tenha piedade do tolo.

"Adeus Marco", digo e então, puxo o gatilho.

"Como você sabia?" A voz de Joseph desliza alto pela fumaça da arma e
pelo cheiro de sangue e merda.
"Instinto." Novamente. O mesmo sentimento que está me pedindo para
subir e segurar a mulher que amo, pelo tempo que ela precisar. Eu me
levanto e passo a arma de volta para ele. “Enterre-o e procure no celular.
Teremos a garota de volta aqui à meia-noite.

Um lampejo de algo cruza seu rosto. Raiva? Alívio? "E Petrov?"

"Coloque-o no telefone", eu digo laconicamente. "Diga a ele que


precisamos nos encontrar."
Capitulo Quinze

Dante

Meu anjo dorme. Seu corpo pálido e esbelto está envolto em um


cobertor vermelho, seus longos cabelos escuros cingindo seus ombros nus,
como teia de aranha. Suas roupas ainda estão caídas no chão, onde ela as
deixou cair, ao lado do telefone celular, que jogou contra mim, junto com
seu descontentamento.

Enrolada de lado, no meio da cama, parece pacífica. Finalmente. Sua


boca é um botão rosa suave; as pálpebras estão tremulando, como asas de
borboleta. Ela está em um lugar seguro, onde nenhum de seus pesadelos
pode tocá-la.

Tirando minhas botas, deito de frente para ela, tomando cuidado para
não acordá-la. O sol da tarde desbotando, está derramando rosas e
vermelhos em volta das cortinas fechadas. É um final adequado, para um
dia que promete uma noite de derramamento de sangue e violência, como
grande final.
Estou programado para encontrar Petrov daqui a duas horas em terreno
neutro, em um café perto da Praça Dam, no coração da cidade. Joseph e
alguns dos meus homens estão analisando discretamente agora. Petrov
pode ser um inimigo, mas vou a esta reunião com um ramo de oliveira.
Não peço desculpas, ainda quero rasgar o cara ao meio, mas ofereço
trégua, sob o pretexto de informação.

Eu também preciso dos homens dele. Os romenos estão fortemente


armados e perigosos, como o Bratva de Sevastien. Eu tenho cinquenta à
minha disposição. Petrov tem o mesmo. O leilão falso está marcado para as
21h. Estou planejando me infiltrar e depois matar o maior número possível
desses filhos da puta. Conto com ele querendo uma parte da ação também.

Eu quase posso provar sua vingança, Isabella.

Eve se mexe ao meu lado. Encontro-me prendendo a respiração, quando


ela abre os olhos.

Eu amo e odeio vê-la assim, suas safiras estão opacas e sem vida e a
marca vermelha da minha mão fundiu-se com todas as outras contusões
nas bochechas. Mas o sorriso dela... É uma sugestão, um suspiro suave de
uma coisa. E é tudo para mim. Um sorriso que não mereço.

"Você voltou", ela murmura.

Pressiono meus lábios nos dela, sem hesitar. É o meu pedido. Minha
confissão: eu nunca deveria ter ido embora. Deixe-me fazer as pazes com você.

"Não acredito que lhe disse coisas tão ofensivas." Ela morde o lábio e
afasto os dentes com o dedo.
"Você estava em um lugar ruim, meu anjo." Afasto uma mecha de
cabelo solto da testa dela. "Descanse, enquanto pode."

"Alguma notícia sobre Anna?"

“Houve alguns desenvolvimentos, sim. Tenho uma reunião com Petrov,


em breve ,para discuti-los.”

O sorriso dela vacila. "Isso é sábio?"

"Não pretendo dar um tiro na cabeça dele, se é com isso que está
preocupada. A menos que ele puxe uma arma para mim primeiro.

“Você tirou isso do seu sistema, mais cedo? Eu ouvi o tiro” ela
acrescenta rapidamente, enquanto abro a boca para refutar. "Posso sentir o
cheiro da morte em sua pele."

"Tomei banho, as roupas estão limpas.”

"Não é algo que você possa lavar tão facilmente."

Penso nisso por um momento.

"Posso ir com você?"

"Absolutamente não." preciso mantê-la longe dos aspectos mais brutais


dos meus negócios, apenas até que seus flashbacks diminuam. Ela está
muito frágil.

"Se tudo correr como planejado, voltaremos para casa amanhã de


manhã, todas as partes verificadas e responsáveis. Vou deixar dez homens
para cuidar de você, enquanto estiver fora. Dez dos meus melhores.”
"Você não vai voltar depois da reunião com Petrov?" Ela começa a
morder o lábio novamente, quando balanço a cabeça. "Será perigoso?"

Oh meu anjo, você não tem ideia.

"É o meio para um fim".

Ela torce o rosto, por um momento. Quer dizer mais alguma coisa, mas
as palavras certas não se formaram em sua cabeça.

"Se eu pedisse para fazer amor comigo antes de ir, você faria?"

"Eu nunca mais vou negar você, mi alma." Não sei explicar por que te
neguei antes. "Considere isso uma consumação."

"Eu pensei que tinha nos quebrado. O jeito que eu agi... ”

"Silêncio. Você não pode prejudicar a perfeição."

Inclinando a cabeça para me olhar, eu a cego com minha certeza.


Somente quando tenho certeza da aceitação dela, é que salto e começo a
tirar minhas roupas.

"Minha oferta ainda permanece", digo a ela com voz rouca. "Qual parte
de você devo corromper primeiro?"

Ela olha para a minha ereção e depois de volta para o meu rosto.
Hesitante, desliza os dedos entre as pernas, para segurar sua boceta.
"Aqui."

Sou dominado por uma vontade de jogá-la e bater no traseiro dela no


colchão, mas não há lugar para a minha escuridão neste quarto. Não,
depois de mais cedo.
"Você está molhada?" digo. "Está pronto para mim?"

"Sempre." Ela separa as pernas e posso sentir meu pau latejando,


quando vejo o que está me chamando. Sua boceta é o Valhalla. Glória e
felicidade são dela para doar.

Eu a cubro, com a sensação de que estou voltando para casa. Pele sobre
pele. Hálito doce e quente no meu rosto. Suas curvas suaves são um
antídoto para todas as minhas arestas duras.

"Dante, há algo que preciso lhe dizer", eu a ouço sussurrar, enquanto me


levanto nos cotovelos.

"Agora não." Inclino minha boca na dela, beijando suas palavras.


Preciso da sua luz, para enfrentar a longa noite escura à frente.

Ela enrola os braços em volta do meu pescoço, enquanto afundo


lentamente nela, agarrando-me ao meu autocontrole, enquanto seu calor
aveludado me chupa mais profundamente em seu corpo. Seus suspiros
suaves se misturam com a pressão na base da minha espinha.

Eu gemo de prazer, enquanto me enterro ao máximo, até estar


completando nós dois. "Porra. Eu vou ser tão difícil hoje à noite...” grito.

“Então me encha com seu amor, Dante. Eu quero tudo isso."

Nós nos movemos como um, comigo empurrando e moendo e ela


acolhendo e encorajando. É um ritmo duro e sem falhas. Suas pernas estão
enroladas em volta da minha cintura, as mãos enterradas nos meus cabelos
e me puxando para mais perto.
Seus gritos suaves enchem o quarto e posso senti-la chegando. Sua
vagina está pulsando em volta do meu pau. Ela está rasgando meu bíceps
em pedaços, com as unhas.

Eu mantenho a calma, enquanto ela luta para recuperar o fôlego,


levando-nos a um prazer ainda maior. Ela não disse as palavras, mas sei
que é disso que precisa de mim. É isso que ela merece.

O que quer que a esteja assombrando, encontraremos uma maneira de


exorcizar juntos.
Capitulo Dezesseis

Dante

"Isso é inesperado", diz Petrov, enquanto sento na cadeira à sua frente e


jogo meus óculos de sol na toalha de mesa branca, como um desafio tácito.
"E aqui estava eu pensando que a Cortina de Ferro caiu para sempre."

"Para um homem baixo, você fala muita merda", digo suavemente,


inclinando-me, para apreciar a expansão da arquitetura neoclássica, as
árvores esparsas e a onda de turistas, em suas coloridas capas de chuva,
enquanto andam pelos degraus do Monumento Nacional, antes de
procurar o pôr-do-sol. Os terraços estão mais movimentados do que o
habitual, para esta época do ano. Feixes de luz atravessaram pesadas
nuvens, há algumas horas atrás e o crepúsculo resultante é frio, mas não
ameaçador. Mais ou menos como os seis franco-atiradores que assisti nos
telhados, ao meu redor. Petrov não está se arriscando.

“O que me falta de estatura, compenso de outras maneiras mais


estimulantes”, ele rebate. Como está sua esposa? Este é o lugar para trazê-
la para a lua de mel. Você comprou para ela uma nova Glock, como
presente de casamento?”

"Vive perigosamente, Petrov?" Meu tom não é mais tão suave. "Eu
apreciaria se você não a mencionasse novamente, a menos que queira que
todos esses turistas testemunhem seu primeiro massacre, junto com seus
Van Gogh."

Ele solta gargalhadas, as linhas, em seu belo rosto, desaparecendo, para


acomodar sua reação. O russo deve estar na casa dos sessenta, mas anos de
dinheiro e boa vida desaceleraram o processo de envelhecimento. "Ela,
realmente, é a sua cara-metade, não é? É verdade que você a roubou da
América, como um conto de fadas sombrio? Quebrou o espírito dela para
fazê-la se apaixonar por você tão profundamente?”

Ela não é metade de nada, idiota, a é toda a porra do meu universo.

"Continue falando, Petrov", digo a ele. "Meus atiradores de elite


também estão mirando sua cabeça."

“É aí que está sua sombra? Eu li o que aconteceu no Afeganistão, todos


esses anos atrás. Não é de admirar que Grayson seja tão leal a você. É
verdade que..."

“Ele e trinta dos meus homens estão a aproximadamente dez segundos


de se familiarizar com os seus, então corte a treta. Onde está o Viktor?"

“Apreciando as vistas também, por todas as contas. Só não neste país. ”


Ele faz uma careta e olha para cima, para confirmar minha ameaça por si
mesmo. "É lamentável que tenha chegado a essa... desconfiança entre nós,
Dante."

E nessa nota. "Você tem um vazamento", afirmo sem rodeios.

"Temos um vazamento", ele esclarece. "E estou bem ciente disso,


obrigado."

"Como está seu filho?"

"Pensei que estávamos mantendo a família fora disso?" O sorriso


desaparece, deixando apenas uma geada amarga. "Você está sugerindo que
Roman é o vazamento?"

"Eu tenho o hábito de não confiar em agentes tortos, de qualquer


descrição."

"Roman não é corrupto", diz ele com suavidade. "Ele é seletivo com o
local onde estão suas lealdades, a saber, eu e meus interesses. Você poderia
fazer com algumas pessoas de dentro da sua folha de pagamento, Dante.
Eu os chamo de apólices de seguro e pago meus prêmios de acordo.’’

"Como eu disse, não dou atenção a quem está levando." Eu aceno minha
mão para ele com desdém. "Seu irmão também tem um vazamento."

"Oh?"

Agora eu tenho o interesse do velho bastardo. Deixei o garçom anotar os


pedidos de bebidas, antes de identificar o nome e o endereço do local do
leilão desta noite.

Alambiques de Petrov. "Como você conseguiu essa informação?"


“Fomos alimentados com a mesma informação suja de Sevastien. O que
você estava planejando fazer?” pergunto a ele, curiosamente. "Resgatar a
garota e segurá-la como uma espécie de influência sobre mim?"

Ele encolhe os ombros. "O pensamento passou pela minha cabeça."

Pelo menos ele não está se preocupando em negar, mas ainda quero
chegar do outro lado da mesa e estalar seu pescoço como um galho. Pena
que preciso dos homens dele.

"Estamos entrando em uma armadilha, Petrov. Ele sabe que nosso


acampamento está dividido e planeja usá-lo em seu proveito e nos
derrubar. "

"Eu vejo. Você está sugerindo outra trégua?’’ Ele lê nas entrelinhas
imediatamente. Subestimo esse homem por minha conta e risco.

‘’Chame como quiser, Petrov, não dou a mínima. Eu só preciso do seu


poder de fogo.”

"Então me contentarei com a ignorância temporária." Ele calmamente


verifica o relógio. “Temos duas horas, se isso. O que está propondo?”

"Aniquilação total."

Petrov ri de novo. "Eu não esperaria nada menos de você. Existe alguma
estrutura para o seu assassinato, ou devo dizer aos meus homens que
esperem carnificina total?”

“Tenha seu plano de saída em espera. Precisamos sair do país


rapidamente. Seus homens seguirão o meu comando. Em troca, darei a
você Sevastien, com um grande laço vermelho no topo da cabeça. Ele
sentirá falta de algumas partes de sua anatomia, mas vou mantê-lo vivo,
durante o clímax."

As sobrancelhas de Petrov se erguem de surpresa. “A vingança é nossa


para saborear juntos, Dante. Por que você não dispara essa bala? Por que
negar a si mesmo esse prazer?’’

"Vou me divertir de antemão." Estou guardando o pior para o pai de Eve.

Ele me considera por um momento e depois assente. “Nós temos um


acordo. Ainda existe a pequena questão do Marrocos... "

“Sevastien vai falar, descobrirei o que está planejando."

"Tão certo de seus métodos", ele murmura, parecendo impressionado.


"Então, novamente, você veste a coroa torta com orgulho."

"Que diabos isso significa?"

Há outra pausa, quando nossas bebidas são entregues na mesa. Vodka


para ele. Bourbon para mim. A escolha de ladrões e assassinos.

Ele toma um gole e estremece, claramente, não é para sua satisfação.


"Como estamos com disposição para compartilhar, também tenho algo
para você." Ele enfia a mão embaixo da cadeira e joga um envelope marrom
na mesa.

"O que é isso?" Eu dou um fora, batendo meu olhar no dele.


"O tipo de combustível que dará uma vantagem perigosa aos
procedimentos desta noite", diz ele com cuidado. "Eu te aconselho a abri-lo
em particular."

"Por quê? É antraz?” Estou perdendo a paciência e rápido.

Petrov me olha. "Eu já disse isso antes e direi novamente, não quero
você como meu inimigo. Causaríamos muitos danos um ao outro e, por
mais que você deseje sair e morar na sua torre de marfim, com sua linda
noiva de marfim, nós dois estamos presos neste jogo. Não há redenção para
nós, mas podemos usar nossos talentos e recursos para o benefício de
outros.”

"Discurso impressionante, Petrov, mas ainda não explica o que está no


envelope".

"Não diga que não avisei", ele diz, balançando a cabeça para mim. Ele se
inclina para a frente, descansando os braços sobre a mesa. Parece que ele
está se preparando, mas para quê? Minha reação?

“Roman localizou outro participante da festa, em Bal Harbour. O


interrogatório dele foi sangrento e prolongado, como você pode imaginar.
Viktor é quase tão habilidoso quanto você, nesse departamento.”

"Continue", digo friamente.

"Ele conseguiu obter o nome de um clube em Bucareste, um dos muitos


em que minha filha Natasha foi... mantida contra sua vontade." Ele toma
outro gole de vodka. A mão dele começou a tremer. Isso me diz tudo o que
preciso saber sobre o escopo da dor desse homem.
"Acredito que está familiarizado com isso? Você e Sevastien tiveram
uma briga lá, há um mês.

“Tudo o que me lembro sobre esse lugar é o cheiro de sexo doente e um


cadáver sem cabeça no porão. Por que é tão importante?’’

Caretas de Petrov. “Outra sala escondia um tipo diferente de sujeira.


Uma sala com câmeras, acesso exclusivo... O local tinha uma reputação.
Natasha mal tinha idade, mas muitos não."

Jesus. Lembro-me de pensar que as meninas pareciam jovens. Muito


jovens.

“Então, você precisa de ajuda para fechar o local? Bem. Vou enviar
Grayson e uma equipe para fazer isso. "

"Você me entendeu mal. Vinte e quatro horas atrás, as portas foram


permanentemente fechadas, naquele estabelecimento. As chaves estão
nesse envelope.”

"O que diabos eu quero com um ex-clube de strip, Petrov?" Este homem
não faz sentido para mim. Ao mesmo tempo, posso sentir a verdade
descendo rapidamente, como um elevador expressivo, direto para o
inferno.

"Descobrimos uma vala comum, em uma das dependências no quintal."


Seu olhar é inflexível. "Elas eram, principalmente, crianças."

"E?" É preciso mais coragem do que eu jamais pensei possível dizer isso.

"Nós a identificamos, nos registros dentários que obtive da Colômbia."


Não.

"Você tem minhas mais profundas condolências e as ofereço tão


sinceramente quanto um homem como eu."

Não.

“Quantos anos ela tinha, quando morreu?” Eu digo calmamente. Não


há indício de minha própria dor, mesmo que agora esteja colapsando
minhas veias como veneno.

"O agente funerário coloca a idade dela em torno dos dez anos."

"E a morte dela?"

“Um lado do crânio foi esmagado. O pescoço estava quebrado. Teria


sido instantâneo. Está tudo aí no envelope..."

Olho para ele e desvio o olhar.

“Diga a seus homens para se encontrarem em um armazém vazio, em


De Wallen, em uma hora. Está a quatrocentos metros do alvo."

Estou no piloto automático, ditando um assassinato em massa, quando


estou com hemorragia por dentro. "Em breve, eu te enviarei um e-mail."

Petrov assente. "Enquanto isso, notificarei meus contatos na Interpol


para adiar as equipes de resposta".

“Entramos de forma independente, apenas dois guarda-costas cada. Seu


melhor. Ele está nos esperando, então, precisamos do maior número
possível de armas dentro do clube. Se um dos seus homens acertar a garota
por acidente, eu o mato. Se você tentar levá-la, mato você. Entendido?"
“E Sevastien? Você tem uma visão confirmada?”

"Ele estará lá. Quer mijar em nossos corpos, tanto quanto queremos
mijar nos dele. Eu apostaria minha vida nisso. " Já apostei a filha, por ser pai
dela. “Quero o corpo dela de volta, Petrov.” Ou o que resta dela.

"Naturalmente. Vou providenciar para que seus restos mortais sejam


enviados para a Flórida. Você pode levá-la para casa, a partir daí.” Ele
drena os restos de sua vodka e levanta seu copo vazio para mim. "Para
uma noite conclusiva." Empurrando a cadeira para trás, ele se levanta. “De
Wallen. Uma hora."

Concordo, enquanto afundo lentamente na areia movediça. Observo sua


figura diminuta atravessar a praça, uma cabeça grisalha, cortando um
caminho entre todos os turistas e estudantes. Ele desaparece em uma rua
lateral, onde há um SUV e três homens esperando por ele.

Pegando o envelope, jogo alguns euros sobre a mesa e saio também.


Meu celular continua detonando no bolso. Joseph. Ele quer saber o que
diabos aconteceu. Desliguei, antes de Petrov jogar a bomba em mim.

Caminho até o meu próprio SUV, antes que o conteúdo do meu


estômago bata na calçada.
Capitulo Dezessete

Eve

Eu não consigo dormir, continuo jogando e me virando na cama


estreita, pegando traços remanescentes de seu perfume, enquanto faço.
Sentindo sua falta e o querendo. Segurando a umidade entre as minhas
pernas, como prova de seu amor e apreciando a dor que ele deixou dentro
de mim.

Crepúsculo quase desapareceu. Foi cutucado por seu velho inimigo, a


escuridão. Dante e seus homens foram embora há quatro horas. Desde
então, uma premonição ameaçadora me manteve prisioneira neste quarto.
Não posso deixar de sentir que algo está errado. Muito errado. Meu
flashback, se é assim, levou-me a um lugar de medo e incerteza. Estou com
muito medo de olhar para trás e enfrentar os demônios à espreita. O
presente está encharcado de sangue e o futuro? É um espaço em branco. Eu
não posso ver nosso bebê. Não consigo mais imaginar nossa vida juntos e
isso me assusta mais do que tudo.
Eu gostaria de lhe ter contado sobre a gravidez. Também gostaria que
ele não tivesse me beijado até a submissão, depois que eu, finalmente, tive
coragem de lhe dizer. E se ele morrer hoje à noite, sem saber a verdade?

Rolando, abraço o travesseiro, preciso me controlar. Não consigo pensar


assim, nem por um segundo. Dante é uma máquina de matar e sua equipe
é a melhor. Ele está colocando tudo em risco, para recuperar Anna em
segurança e buscar justiça para sua filha e o amo ainda mais por isso.

Posso ouvir seus homens se movendo lá embaixo. Meus guardas. Dez


novos Manuéis. Fico quieta e ouço o som de suas risadas ásperas e caixas
pesadas sendo desviadas. A fumaça velha do cigarro está subindo as
escadas e eliminando o odor úmido da floresta lá fora.

Balançando as pernas para fora da cama, visto-me rapidamente. De


volta com o jeans e seu enorme suéter preto, que cai até os joelhos.
Vestindo meu Chucks vermelho, prendo o cabelo em um rabo de cavalo,
com um elástico que encontrei na casa de banho. Ao me ver no espelho,
estremeço. Deus, tenho uns doze anos e meu rosto está tão pálido, que sou
praticamente transparente. Uma coisa é certa, a gravidez não concorda
comigo e nem ter um marido, com o emprego mais perigoso do mundo.

Estou morrendo de fome de novo e preciso tomar minha pastilha pré-


natal. Abro a porta e desço as escadas. Este lugar é enorme, com tetos
abobadados altos e acres de parquet de madeira. Eu não gostei antes, com
todos os soldados e armas enchendo o lugar. As luzes estão apagadas e
meus passos ecoam pelo corredor, enquanto a luz da lua lança sombras
pontiagudas das árvores nas paredes.
Sou guiada por uma luz fraca e pelo som de vozes. Cheguei a uma sala
de jantar, com uma enorme mesa redonda no centro do palco e parei por
um momento na porta. Há um cheiro metálico no ar, misturado com
detergente forte e dois homens de aparência estrangeira, de uniforme preto
do exército e bolsos de armas, estão trocando fumaça e brincando pela
janela. Não sei dizer o que estão dizendo, porque estão falando em
espanhol, mas reconheço a palavra "jefe" algumas vezes.

"Oi", eu digo baixinho, assistindo divertida, enquanto eles balançam a


cabeça na minha direção e se levantam. É como se o próprio Dante tivesse
acabado de entrar.

"Sra. Santiago ”, diz um, com um forte sotaque, que me lembra


dolorosamente o de Manuel. Não consigo parar de pensar nele hoje à noite.

"Não esperávamos vê-la."

"Ignore-me", digo, afastando suas desculpas desajeitadas. “Só vim


tomar um copo de água e algo para comer. A cozinha está por perto?”

"Aqui, deixe-me mostrar-lhe." Ele me leva para uma sala, do outro lado
do corredor. "Posso lhe fazer alguma coisa?"

Ele é educado demais para ser um dos recrutas de Dante. Ou isso, ou ele
o mantém na deferência que todos os homens. Estou suspeitando do último.

Balanço a cabeça e sorrio. "Eu estou bem, sério."

Ele é um cara bonito, mas meu coração já está trancado em uma caixa
marcada Santiago. Balanço a cabeça, verificando os armários brancos.
"Tenho certeza de que posso descobrir."

"Está bem então." Ele sorri para mim e se vira para ir embora.

"Você também é da Colômbia?" deixo escapar. Eu não quero ficar


sozinha esta noite, preciso de distração.

Ele assente cautelosamente. “Sim, señora.” Ele dá um passo à frente,


para me oferecer sua mão. “Mateo Sánchez.”

"Eve Miller, quero dizer Santiago", murmuro, pegando e corando. “Tive


um amigo uma vez, outro dos recrutas de Dante. Do seu complexo na
África...? Ele foi meu guarda-costas, por um tempo.”

“Manuel Gómez. Eu sei, señora.”

Meu estômago revirou. "Você sabe?"

"Eu nunca o conheci pessoalmente, mas ele é muito célebre, de onde


venho."

"Ele é? Por quê?"

"Porque ele salvou a señora", ele explica gentilmente. "A mulher que
domesticou o diabo."

A mulher que domesticou o diabo?

Eu não domestiquei Dante, fiz que sentisse. Eu o fiz lutar por algo
diferente da morte. Minha mão vai para o estômago, novamente. Se ele
voltar para mim hoje à noite, eu o farei acreditar na vida.
Estou sonhando com macarrão com queijo. É o meu primeiro desejo
adequado de gravidez e, como sempre faço, acabo fazendo o suficiente
para alimentar cem. Caminho de volta para a sala de jantar, para oferecer
algum aos homens de Dante, que mordem minha mão por isso. Por alguma
razão, eles parecem relutantes em comer à mesa, então, arrastamos as
cadeiras para a janela e comemos de tigelas nos joelhos. Sou tão grata pela
companhia deles, que ignoro todos os olhares cautelosos e pausas
embaraçosas. Depois de alguns bocados, todo mundo parece relaxar.

Juntamo-nos a alguns outros, enquanto um fica um pouco afastado no


canto, os olhos colados nos feeds de segurança da câmera, em seu laptop.

"Você ouviu alguma palavra da equipe?" pergunto a Mateo.

Ele balança a cabeça. “Não, estou esperando. Nós saberemos em breve."

Eu forço meus ouvidos pelo som de sirenes distantes, qualquer coisa que
possa apontar para a sua presença, mas estamos no meio do nada por aqui.
Há silêncio e isolamento e então, há este lugar.

"O que mais você sabe sobre Manuel?" Pergunto-lhe.

Mateo encolhe os ombros. “Há rumores de que ele era o meio-irmão do


jefe, mas sou um soldado, señora. Vale mais do que a minha vida contar
histórias."
"Manuel era irmão de Dante?" Eu quase derrubei meu prato em choque.
"Ele sabe disso?"

“É apenas um boato, señora. Você deveria pedir a verdade ao seu


marido.”

Nesse momento, a luz acima de nossa cabeça começa a piscar,


acompanhada pelo chiado de uma corrente defeituosa. Os homens se
levantam imediatamente, gritando em espanhol e aglomerando-se no
laptop, para verificar os feeds de segurança.

"O que está acontecendo?" digo, enraizada na minha cadeira, com


medo. A luz parece se endireitar novamente, mas é um momento único,
suspenso na esperança. Um segundo depois, toda a casa está mergulhada
na escuridão. Há um zumbido, quando o gerador de backup entra em ação
e, em seguida, em um gemido zangado, também falha.

Os gritos aumentam ao meu redor. À luz do laptop, vejo os homens


carregando suas armas e colocando munição de reserva nos bolsos
traseiros.

"Existe alguém lá fora?" choro para ninguém em particular, mas um


bipe estridente abafa a última voz.

"A cerca do perímetro foi violada", grita Mateo, agarrando meu braço.
"Precisamos nos mudar, señora!"

Oh meu Deus, isso não pode estar acontecendo novamente. De repente, estou
de volta à África, correndo pela vida, com Manuel e Sofia, escondendo-nos
como animais, em seu abrigo secreto.
"Eu preciso ligar para Dante!" grito com ele.

"Não há tempo para isso!"

É quando ouço o som de um helicóptero se aproximando. Em segundos,


o barulho é ensurdecedor. A luz da lua é temporariamente bloqueada,
enquanto paira sobre a casa, e há um baque, quando algo pesado cai no
telhado.

"Eles estão ignorando as armas dos sensores infravermelhos nos portões


e na varanda", grita uma voz à minha esquerda. Em seguida, ouço o tilintar
de vidro quebrado, no andar de cima.

"Porta dos fundos. Agora” rosna Mateo no meu ouvido. "Estaremos


mais seguros na floresta. Os homens vão nos cobrir.”

"Tudo bem", sussurro, bloqueando todos os pensamentos terríveis, que


estão enchendo minha mente agora.

"Você pode atirar?"

Eu aceno, dentes batendo.

"Bom." Uma arma é enfiada na minha palma. "Está totalmente


carregado. Existe uma saída pelo porão. Vamos."

Quando estamos no meio da escada, as primeiras rodadas de tiros


começam. Mateo verifica seu telefone, enquanto tropeçamos em um
labirinto de caixas de armazenamento, para alcançar a porta dos fundos.
Eu posso ver que tem o feed de segurança vinculado a ele.
"Há uma câmera do lado de fora", explica ele, apressadamente. "Até
agora está claro. Você precisa ir direto para as árvores. Não pare, continue
correndo, não importa o quê." Ele força um breve sorriso. “Boa sorte,
señora, estarei logo atrás de você.”

Oh Deus. Dante, onde você está? "Por favor, não deixe que eles atirem
em mim", sussurro, agarrando seu antebraço grosso. "Estou grávida. Não
posso perder esse bebê." Não posso perder minha vida.

Mateo aperta minha mão, suavemente. “Não vou decepcioná-la,


senhorita. Confie em mim, como você fez com Manuel. Pode fazer isso?"

Aceno levemente. Há algo nesse homem, que faz suas palavras soarem
verdadeiras. Ele deu a vida para me proteger, mas acabei com homens
morrendo em meu nome.

"Então vamos fazer isso." Ele abre a porta uma fração, enquanto o
segundo ato de tiros se desenrola nos andares acima. "Vá", ele murmura.
"Lembre-se, vá direto para as árvores."

"Obrigada, Mateo."

Está escuro como breu, sem a luz do telefone dele e estamos cegos,
pelos primeiros cem metros. Estou com muito medo de olhar para trás,
para uma casa que está sendo destruída pelo poder de fogo, mas os gritos
de homens feridos ecoam em minha cabeça. Eu posso ouvir Mateo logo
atrás de mim, sua respiração ofegante, concomitante com meus suspiros
assustados e atingimos a primeira linha de árvores a toda velocidade,
mergulhando de cabeça na floresta. Agulhas e galhos afiados de pinheiro
arranham minha pele. Tropeço no escuro, em busca de apoio, batendo a
arma na mão contra um tronco de árvore.

"Señora, mais rápido", eu o ouço grunhir. “Não pare. Nunca pare."

Os tiros parecem mais altos, de repente. Está do lado de fora e chegando


em nós. Eu pressiono meus músculos da panturrilha o máximo que posso,
incentivando a velocidade, quando já estou gasta. Meus pulmões estão
queimando poços de fogo, e há uma umidade no meu rosto, para combinar
com o sangue na boca. Um barulho alto soa em algum lugar atrás de mim,
mas continuo correndo. Vê Dante? Eu posso obedecer instruções.

Meus olhos estão se ajustando à falta de luz e a lua permite que pedaços
de prata penetrem nas copas das árvores, mas não é suficiente. Minhas
canelas colidem com algo duro e imóvel e dou uma cambalhota no chão,
com um grito. Meu rosto bate no chão da floresta primeiro e um gosto de
terra se mistura com o sangue, enquanto fico deitada de lado, ofegando.

Espalhando minhas mãos, procuro a arma, xingando de alívio, quando


meus dedos se fecham em torno do aço frio e duro. Minha alegria se
transforma em horror, quando percebo que estou sozinha. Cadê Mateo?

Lágrimas silenciosas começam a rolar no meu rosto, riscando trilhas


limpas pela terra. Eu não preciso nem quero, mas eles continuam vindo
assim mesmo. Essa memória está batendo na minha porta novamente.

Quarto branco.

Luz vermelha.

Ele.
Não! Balanço a cabeça e tento me concentrar, sentindo as pontas dos
dedos novamente. Há um tronco de árvore no chão, ao meu lado. Eu devo
ter tropeçado nele. Agacho-me o mais perto que posso e esfrego o
tornozelo latejante. Não está quebrado, mas, definitivamente, torci, quando
caí. Os sons de tiros estão distantes e se misturam com o barulho da
floresta agora. Uma coruja pia acima do meu ombro. Algo agita as folhas
ao meu lado. Não acredito que deixei meu iPhone na mesa de cabeceira.
Que diabos eu estava pensando?

Puxando a blusa de Dante para mais perto de mim, começo a escavar


grandes pedaços de sujeira e agulhas de pinheiro no chão úmido. Eu não
posso mais correr. Meu tornozelo está ferrado. O melhor que posso esperar
é um esconderijo decente.

Minutos passam. Eu nunca soube que podia sentir tanto frio. Envolvo
minha mão livre em volta da barriga, dando todo o meu calor livre à vida,
crescendo dentro de mim.

Dante foi enganado de novo?

Ele está vivo ou morto?

Sevastien venceu?

Devo ter adormecido por alguns momentos, antes que o farfalhar de


passos me desperte. Eles estão por perto. Estrias de adrenalina, como fogo
selvagem em minhas veias e me enterro mais fundo na vala rasa, dobrando
meus joelhos no peito e tentando não choramingar, quando bato o
tornozelo inchado no tronco da árvore.
Alguns metros adiante, os passos param. Há uma tosse e um pigarro,
que de alguma forma filtram meus sentidos. Eu conheço esse som... É
estranhamente reconfortante. Isso me faz pensar em jantares de Natal e
festas de aniversário, em dançar na chuva, algodão doce e gargalhadas. E
então, sua voz profunda corta a escuridão.

“Evie? Você está aí fora, querida? Evie, precisamos conversar e não vou
sair daqui sem você. Contaram mentiras, menina, tantas mentiras. Mas
estou aqui para corrigi-las. Apenas saia e conversaremos."

Aperto a mão na boca, travando uma batalha interior comigo mesma,


para não gritar e lhe revelar meu esconderijo. Eu nunca esperei me sentir
assim. Eu estava preparada para ir ao túmulo e nunca mais ver, ou falar
com ele, novamente. Eu fiz minha escolha e ele fez a dele.

Eu vi as fotos, sei o que ele fez.

Eu o odeio.

Mas eu também o amo, uma afeição profundamente enraizada, que foi


martelada em minha alma e mantida no lugar por espigas e cimento. E por
que não?

Ele é meu pai, afinal.


Capitulo Dezoito

Joseph

A merda está prestes a se tornar real e Dante não é mais um jogador no


jogo, ele perdeu o foco. A cabeça dele está em todo lugar. Algo aconteceu
entre ele e Petrov, mas o russo está sendo evasivo como o inferno e não vai
me encarar. Toda vez que falo com Dante, ele dá outro gole.

Ele é como um robô, passando por movimentos, parado lá, legal pra
caralho, descrevendo um ambicioso plano de Rescue Kill para duzentos
homens, mas sei diferente. Externamente, ele é o mesmo bastardo selvagem
e intransigente que sempre foi, mas há uma falha de ignição, em seus
movimentos e danos nos olhos. Eu pensei que nada poderia tocar esse
homem... eu estava errado.

Afastando-me da multidão, minha mente voa para Eve. Isso tem algo a
ver com o que aconteceu na casa segura? Ele sabe sobre o bebê? Todos nós
a ouvimos gritando. Quando cheguei à porta do quarto, ela tinha
desmoronado nos braços dele. É a primeira e única vez que vejo Dante
hesitar. Foi apenas um flash, mas estava lá.
"Grayson." Sua nitidez corta meus pensamentos. "Transporte. Tudo
pronto?"

"Doze veículos lá atrás", desligo rapidamente. "Se as ruas estiverem


muito quentes, teremos helicópteros por perto. Os canais são estreitos, mas
temos barcos, se necessário. Os jatos estão abastecidos e prontos para
partir.”

"Quanta margem de manobra temos com as autoridades?"

"Estou certo de trinta minutos, desde o primeiro relato de distúrbio", diz


Petrov. "Meus contatos embaralharão o sinal."

Ele está de pé, deixando Dante dirigir a operação, ao lado de todos os


Bratva, norte-americanos e colombianos muito altos. Ele é o segundo
homem mais cruel da sala.

"Menos trinta", anuncia Dante. “Rádios ligados, preciso de todos em


posição.” Ele me aponta para ele. "Estamos entrando primeiro. Reece pode
ficar com o carro.”

"E Petrov?"

"Ele entra no clube dez minutos depois, com dois de seus homens. Se
tudo correr como planejado, teremos vinte disfarçados conosco, cinquenta
nos prédios vizinhos e o resto na rua atrás. A saída está fodida, então
teremos que disparar para sair."

"Por que mudar o hábito de uma vida", falo, terminando com uma
careta.
“Não fique esperto comigo, Grayson, preciso de você na bola. Você é o
melhor homem que eu tenho.”

Eu nunca o vi assim. Ele está chapado? Posso sentir Petrov nos


observando, então, dou de ombros e simplifico. "O que precisar, estarei lá."

Ele sabe que eu o vi estripando, mais cedo? Esse homem não tem medo,
então, algo mais o causou. Eu poderia viver uma centena de vidas e nunca
descobrir isso.

"Vamos lá", diz ele, movendo-se em direção às portas do armazém.

Nós trocamos de roupa, nada extravagante, jeans, camisas e jaquetas. E


colocamos nossas armas em faixas e tiras de tornozelo. Reece nos leva o
mais perto possível do endereço, mas a entrada está localizada em uma rua
de pedestres, por isso somos obrigados a estacionar em uma extremidade,
para dar uma olhada. É um clube de strip, na periferia de De Wallen, o
distrito da luz vermelha de Amsterdã, uma explosão de néon e vício, que
se cruza com canais sujos e apostadores decadentes. Uma festa de
despedida de solteiro passa pelo veículo, batendo no capô da frente e
gritando obscenidades para nós, através da janela. Dante nem percebe, está
olhando para longe, novamente.

"Faça algo por mim, Joseph", diz ele de repente, ainda olhando pela
janela. "Se as coisas derem errado, cuide de Eve."

"Existe alguma premonição sombria que eu deveria conhecer?" falo,


enquanto grito foda, foda, foda, no topo dos meus pulmões, por dentro. Se
Dante tem um mau pressentimento, estamos todos ferrados. Aconteça o
que acontecer, precisamos tirar Anna de lá. Isso é, se ela ainda está viva... a
chance é de cinquenta e cinquenta, no que me diz respeito.

"Contingência", diz ele laconicamente. "Há também isso." Ele tira um


envelope marrom da jaqueta, inclina-se no banco da frente e o enfia no
porta-luvas, batendo a porta com estrondo. “Certifique-se de que ela
entenda. Eve saberá o que fazer."

"Que porra é essa?" exclamo, exalando às pressas. "Paramos de escrever


esse tipo de cartas de linha de frente, nas forças armadas."

“Pare de me incomodar. Não é o que você pensa."

"Eu coloco minha vida em risco por você todos os dias, Santiago, para
não me deixar passar, como se eu fosse uma das suas ex-prostitutas." Estou
furioso, se ele perder a concentração, estamos todos mortos. "O que Petrov
te disse?"

Ele se vira para mim, os olhos escuros e selvagens, desafiando-me a


empurrá-lo ainda mais, para que tenha uma desculpa para bater minha
cabeça na janela. "Ele encontrou minha filha."

Ah Merda.

"Onde?"

"Bucareste, aquele clube que invadimos. Eu estava cortando a garganta


daquele boceta e durante todo o tempo fiquei em pé, a seis metros do corpo
dela.

Merda dupla.
"Dante..."

"Apenas cale a boca e ouça", diz ele, interrompendo-me. “Assim que


entrarmos no clube hoje à noite, não poderei me conter. Não vou parar, até
que estejam todos mortos, não terei mais controle. Você entende?" Ele
desvia o olhar novamente, respirando com dificuldade.

Fiquei olhando para sua nuca. Homens como nós não oferecem consolo,
não está no nosso DNA. Enfim, o que eu diria? O que poderia torná-lo
melhor? A dor de perder um filho é o tipo de dor que nunca cura, mas a
dor de perder nessas circunstâncias...

"E os vivos?" digo, agarrando seu braço. "Não estou dizendo a Eve que
o marido está no necrotério, porque ele ficou louco comigo."

"Diga a ela o que quiser", ele grita, afastando-me, mas eu sei, apesar de
todas as suas palavras em contrário, machuca-o dizer isso. "Não estou
desistindo agora."

“Ninguém está pedindo para você recuar, Dante. Todo mofo, nesse
lugar, já está a um metro e oitenta. Tudo o que estou dizendo é que não há
imprudência por lá. Você deve a Eve também.”

"Não hoje à noite."

"Espere aqui", grito com Reece, enquanto Dante explode do SUV. O


recruta desvia o olhar para o espelho retrovisor e assente.

"E mantenha o motor funcionando." Volto a verificar a arma novamente,


pressionando o clipe de volta, antes de respirar. "Amsterdã está prestes a
receber um acerto de contas."
Capitulo Dezenove

Dante

A misericórdia é para os fracos. Eu deveria tê-la matado anos atrás, na


cozinha do meu pai. Deveria tê-la sufocado com esse pano e me afastado,
como eu havia planejado. Que diferença isso faria? Minha alma já estava
comprometida. Eu poderia ter salvado seus dez anos de miséria, sem nem
perceber.

Estamos quase na entrada do clube. Cada passo que dou, leva-me de


volta ao meu passado e mais longe de Eva. Vinte... vinte e um... vinte e dois...
Ela é minha lua, mas um eclipse total da minha escuridão, está bloqueando
sua luz novamente. Eu pensei que o pior já havia terminado, pensei que
poderia controlá-lo. O futuro era uma possibilidade instável, mas era nossa
para a moldagem.

Tudo deu errado, no momento em que Petrov bateu o envelope na


mesa. Suas palavras são as únicas que ecoam na minha cabeça agora.

Eu digo a mim mesmo que ela entenderá, se eu morrer aqui hoje à noite,
em um incêndio de vingança. Que vai me perdoar se eu salvar a amiga dela
primeiro. Sei que estou me enganando, mesmo se eu sobreviver, o homem
que voltar para a cama dela será muito diferente daquele que a deixou.

Grandes vitrines emolduradas com neon rosa, ocupam a frente do


clube. Quatro mulheres seminuas estão encarceradas por dentro, gritando
opressão, com os olhos e sexo, com seus corpos. Elas batem no vidro para
conseguir nossos negócios e eu lhes digo uma palavra, enquanto passamos.

"Corram."

Seus rostos empalidecem em compreensão, sob a maquiagem pesada e


um sorriso sombrio toca meus lábios. É isso mesmo, senhoras, devem ter
medo. Estou prestes a explodir o lugar inteiro.

Está muito fácil, os homens na porta mal nos olham. Se não


soubéssemos que a coisa toda era um arranjo, desde o início, teríamos
cheirado um rato no primeiro passe.

Damos os nomes que Marco nos instruiu e uma anfitriã, com os seios
pendurados, direciona-nos para longe do palco principal da stripper e
subimos dois lances de escada. Aqui, o corredor se abre para uma
conversão maciça de loft, abrangendo o comprimento de vários edifícios.
As câmeras de CFTV nas paredes, seguem todos os nossos movimentos,
enquanto sangramos perfeitamente na multidão.

"Posso arranjar-lhe uma bebida cavalheiros", ronrona outra anfitriã,


olhando-me com interesse.
"Bourbon", estalo. "Traga rápido."

"O que é isso, uma festa de bebidas?" murmura Joseph, olhando em


volta para todos os clientes bem vestidos, muitos dos quais estão de terno e
gravata.

Não há carnaval de neon, aqui em cima, a semente do clube parece estar


confinada apenas aos andares inferiores. É mais como uma galeria de arte e
não posso fazer isso com essa merda. As portas duplas, que medem o
comprimento de uma parede, oferecem espaço para o horizonte de
Amsterdã. O resto da sala é composta por tijolos expostos e lustres de
cristal. É mais Manhattan do que De Wallen... não há mulheres traficadas
aqui. Então olho direito e vejo as gaiolas e meu sangue se transforma em
fogo e gelo.

São sete no total, todos suspensos no teto e grandes o suficiente para


segurar os pássaros quebrados dentro deles. Joseph segue meu olhar e fica
muito quieto.

A amiga de Eve ocupa a do meio e ela não está em boa forma. Todas as
suas roupas foram retiradas, com exceção da calcinha e seu estômago,
braços e coxas estão cobertos de sujeira e contusões. Forçada a defender
Deus sabe quanto tempo, o rosto está inclinado para a frente, seus cabelos
loiros emaranhados caindo em desânimo e seus olhos estão fechados com
força, ao horror que se desenrola ao seu redor. Ela está fazendo o possível
para cobrir o peito nu, mas seu braço continua escorregando de exaustão.
Todas as meninas estão no mesmo estado patético.
"Para o inferno com esse show de horrores." ouço Joseph amaldiçoar,
enquanto ele se move na direção dela, mas agarro seu braço para detê-lo.

"Ele está brincando conosco, ela é uma isca. Ele a colocou em exibição
assim, de propósito. Precisamos de Petrov e seus homens, antes de começar
qualquer coisa. Precisamos fechar a área, para que menos inocentes sejam
pegos no fogo cruzado.”

Verifico meu relógio. "Dois minutos até a detonação."

Eu me forço a olhar na direção de Anna, novamente. Para minha


surpresa, sua cabeça se levanta e posso ver que seus olhos azuis estão
furiosos. Eu tinha razão, essa garota tem coragem. Ou talvez seja porque ela
pode sentir seu resgate iminente, por dois menores, de um mal maior.

Ela está olhando diretamente para nós, mais para Joseph, do que para
mim e implorando por sua liberdade, sem dizer uma única palavra. Eu o
vejo falar algo de volta e ela assente lentamente, apertando os braços sobre
o peito.

Eu me viro para lhe perguntar o que diabos disse, quando o cano de


uma arma semiautomática bate nas minhas costas. E nunca peguei minha
bebida.

“Que gentileza sua se juntar a nós, senhor Santiago. Você também, Sr.
Grayson” murmura uma voz, quando meu monstro começa a flexionar e se
esticar. “Mãos onde eu possa vê-las, por favor. Bom e lento. Nós os
cercamos.”

"Onde está Sevastien?" levanto os braços uma fração, obedecendo.


"Ele está aqui em algum lugar. Enquanto isso, fique à vontade para
apreciar a galeria. Como pode ver, ele gosta de mostrar coisas bonitas.” Ele
inclina a cabeça na gaiola de Anna. "Mas ele é um homem inconstante,
receio. Uma vez usada, ele prefere mudar sua, ah, coleção, com uma
regularidade deprimente.”

Joseph emite um silvo perigoso.

"Posso me virar?" digo ociosamente. "Prefiro olhar todas as minhas


vítimas, antes de matá-las."

A voz ri, um gorgolejo desagradável, como unhas arrastando para


dentro de um caixão e meu monstro rosna em resposta.

"Por favor, señor, mas tenha certeza de que não vou morrer esta noite."

Você pode dizer a palavra 'arrogância', idiota? Vou bater na sua garganta em
um minuto.

Viro lentamente, metodicamente, um diabo mecânico girando para


efeito, com todos os olhos em mim, e então, sou eu quem está atirando
primeiro. Não são balas, ainda não, mas um sorriso deslumbrante para os
cinco homens, com armas carregadas apontando para minha cabeça.

Seus sorrisos vacilam.

Os dedos do gatilho começam a convulsionar.

Eles não localizam o pequeno controle remoto, na palma da minha mão,


até eu detonar a primeira bomba.
Capitulo Vinte

Joseph

A força da explosão sopra as janelas, sacudindo as fundações e fazendo


com que todos caiam no chão. Quatro bombas foram colocadas em pontos
estratégicos, do lado de fora do clube e escondidas dentro do porta-malas
das motocicletas estacionadas. Dante não está mais brincando. Foi
explosivo mais do que suficiente para chamar a atenção de Sevastien.

Com a poeira ainda baixando, vinte de nossos homens acessam a sala


em cordas de rapel, do telhado acima, como uma porra de uma equipe da
SWAT, abrindo fogo contra o naipe e a bota. Sinto minha boca se torcer em
um rosnado satisfeito, quando os gritos dos moribundos começam a se
multiplicar. Todo imbecil doente aqui precisa queimar, por causa de seu
conluio com este 'leilão'. Vender mulheres como escravas merece uma
represália, que apenas uma bala pode entregar.
Puxo minha arma para executar os homens que nos seguram, mas
Dante me derrotou. Ele está de pé, com cinco cadáveres espalhados ao
redor dele, como pétalas sangrentas de uma flor.

"Pegue a garota", ele dispara para mim, acima dos tiros, correndo pelas
escadas. "Encontro você no ponto de encontro."

Ele está indo atrás de Sevastien.

Vou para as gaiolas, derrubando três homens no caminho. Outro tenta


me dar um facão no pescoço, mas sua cabeça evapora em um vazio
carmesim, enquanto ele pega uma rodada de chumbo de um dos homens
de Petrov. Eles seguiram nossa equipe pelas ruínas das dobras e janelas e
temos todo o lugar invadido.

"Tire-me daqui!" grita Anna, sacudindo as barras e chutando


desesperadamente a fechadura, mas está presa.

"Afaste-se, querida." Aponto minha arma para o mecanismo e atiro duas


vezes. O metal se desintegra com o impacto, atirando fragmentos em
chamas em todas as direções. Ela choraminga e as escova de sua pele nua,
enquanto forço a relíquia da porta da gaiola abrir. Uma fração de segundo
depois, meus braços estão cheios de seu calor e medo.

Eu a pego facilmente, enquanto meus sentidos são assaltados pelo


perfume mais puro e doce, que o homem conhece. Ela envolve seu corpo
trêmulo em volta do meu, pernas ligadas em volta da minha cintura, seios
nus pressionados contra o meu peito e por uma fração de segundo, não há
mais nada além dela. Preciso cortar essa merda. Após três dias de abuso
sistemático, nas mãos de um Bratva, a última coisa que essa mulher quer é
outro homem batendo nela.

"Muito obrigada." Ela está chorando no meu ombro, enquanto eu a


carrego para uma pequena sala lateral e para longe da linha de fogo em
declínio, chutando a porta atrás de mim. A luta está caindo de novo. Tudo
o que resta do outro lado são os mortos e moribundos, o lamento das seis
outras mulheres, um tapete de balas de sangue e balas e o cheiro amargo
de assassinato no ar.

"Não me agradeça ainda", eu a aviso, colocando-a em cima de uma


mesa. "Você estará segura aqui, voltarei em breve."

"Não vá!" Ela está se recusando a soltar meu pescoço e seu pedido suave
está perfurando profundamente em mim. Ela tem uma voz que pode se
envolver em meu coração, como uma lembrança.

"Eu preciso ajudar as outras garotas, Anna."

“Oh meu Deus, sim. Vá!" Seus braços deslizam livres e ela passa os
dedos pelo rosto, para pegar as lágrimas.

Eu fico lá, olhando-a, meus pés se arrastando, a decisão vacilando. Em


outra vida, há milhares de outras coisas que eu faria com essa mulher, em
cima desta mesa. "Aqui." Eu tiro a minha jaqueta e a coloco em volta dos
ombros, para poupar seu constrangimento.

"Obrigada", ela sussurra, deslizando os pulsos magros nas cavas e


puxando-a com força ao redor do corpo.
"Você está machucada?" Toco suavemente seu ombro e ela se afasta. O
que diabos eles fizeram com ela? "Estou voltando para você, ok? Honra de
escoteiro e todas essas outras besteiras."

Ela assente e força um sorriso. "Como você me achou?"

"Vamos sair daqui primeiro e talvez eu te conte."

Voltando para o quarto, liberto as outras garotas e instruo meus homens


a levá-las para a segurança, através da escada de incêndio ao ar livre.

“Precisamos nos mover rapidamente. O favor de Petrov, junto às


autoridades, está no tempo emprestado. Temos segundos, antes da polícia
aparecer.

Anna ainda está encolhida na mesa, onde a deixei.

"Você pode andar?"

Eu me agacho para avaliar seus ferimentos. Jesus, ela está mais machucada
do que Eve. Seus cortes e machucados tecem uma história de abuso, mas o
sangue seco, na parte interna das coxas, conta uma história muito mais
sombria.

Encontro seus olhos e uma tragédia tácita passa entre nós. Ainda assim,
há um fogo aceso lá, que eles não conseguiram apagar. Este pássaro
quebrou asas, não o espírito. Com o tempo, ela se curará e suas cicatrizes
serão parte dela, como as minhas se tornaram parte de mim.

"Eu... eu não tenho tanta certeza," ela gagueja.


"Eu preciso atirar, baby e não posso fazer isso, com você em meus
braços."

Ela assente novamente, lenta e hesitante, seus olhos azuis enormes e


cautelosos. Esta mulher está em choque grave, parece não conseguir
absorver nada.

"Fique perto de mim", murmuro, tomando sua bochecha suavemente na


minha palma. "Eu não vou deixá-los tocarem em você novamente."

Ela estremece a princípio, antes que uma faísca de confiança cintile


entre nós. "Eu sei que você não vai", ela diz baixinho, e de repente, sinto
algo que não sentia há muito tempo. Eu me sinto como um bom homem.

Seguimos juntos pelo campo de batalha fumegante, com a mão


firmemente enraizada na minha. Ando no seu ritmo, ela está com os pés
descalços e há cacos de vidro por todo o chão. Os tiros ainda acontecem
ferozmente no clube e nas ruas, do lado de fora. Direciono todos os homens
que encontro, para colocar suas bundas de volta no jogo e ajudar Dante.

Outra grande explosão balança o prédio, enquanto descemos a escada


de incêndio. Rapidamente, cubro o corpo dela na estrutura de metal, para
protegê-la dos azulejos e alvenaria que caem e desta vez ela não se afasta.

As calçadas são um banho de sangue, cinquenta mortos, com certeza.


Nossos pés atingem os paralelepípedos e imediatamente a puxo para trás
de uma lixeira vermelha, enquanto balas perdidas atingem a alvenaria,
acima de nossas cabeças.
"Fique atrás de mim", ordeno, quando começo a disparar contra dois
romenos com metralhadoras. Eles estão mortos em segundos. Em seguida,
eu a ouço gritar, quando outra bala perdida atinge a lixeira, lançando-a de
lado. Estendo a mão para estabilizá-lo, enquanto pego meu rádio. “Entre,
Reece. É o Grayson! "

Sua voz vem imediatamente. "O lugar está fodidamente fumegante", ele
grita. "É como uma panela de pressão aqui! Estou estacionado a algumas
centenas de metros e colecionando buracos de bala a cada minuto. "

"Algum sinal do jefe?" miro em outro par de idiotas perdidos e os vejo


cair no chão, como soldados de lata.

“Nada. A contenção foi uma merda. A luta está se espalhando por toda
a cidade. Explosões por todo o lugar.”

O que diabos você está fazendo, Dante? “Dirija o mais perto que puder do
clube, sem ter seu pau entregue. Eu e a garota estamos saindo.”

“Mude isso, Grayson. Os policiais estão em todas as frequências.”

“Precisamos evacuar. Envie a mensagem para voltar."

"Mensagem recebida. "

"Anna, precisamos correr", digo a ela, ligando o GPS, para pegar o


rastreador que instalamos no SUV. Ela parece assustada como o inferno.

“As ruas estão muito quentes, precisamos sair daqui.

"Eu confio em você", ela repete, batendo os dentes, enquanto se agacha


ali, seminua, no auge do inverno.
Um silêncio antinatural se instala sobre De Wallen, quando nos
aventuramos fora de nosso esconderijo. É como os últimos dias do Somme,
com idiotas caídos em todos os lugares. O canal próximo está inundado de
corpos flutuantes. A maioria dos clubes e lojas também foi vítima da
violência de hoje à noite. Árvores estão queimando. Cães latem, em bairros
distantes. Hoje à noite, o carnaval de neon está em ruínas.

Viramos numa rua paralela, quando há um piscar de freios e um SUV


preto bate no meio-fio à nossa frente.

"Entre", grita Reece, empurrando a porta aberta. Jogo Anna no banco de


trás e sigo depois, puxando meu iPhone. Os sons das sirenes estão
abafando o ar frio da noite. Luzes azuis e vermelhas piscantes começam a
passar por nós, em todas as direções.

Onde diabos você está, Dante?

Tento o número dele.

Sem resposta.

Porra!

"Vou voltar lá", digo a Reece, colocando um clipe novo na arma.

"Você não pode!" Anna agarra meu braço para me parar. Eu posso
sentir suas unhas quebradas perfurando minha pele, através da camisa.
"Todo mundo está morto. Você viu por si mesmo.”

"Não Dante."

Escrevo uma mensagem para ele, com uma mão.


“Aquele homem se recusa a morrer. Ele acha que é um insulto.”
Tirando os dedos do meu braço, pego a maçaneta da porta.

"Estou te implorando, Joseph." Anna está chorando de novo, mas minha


lealdade está com outro.

"Escute", digo rapidamente, "Eve está na casa segura, Reece a levará de


volta para lá agora."

Os olhos dela se arregalam em choque. "O que Eve está fazendo em


Amsterdã?"

Ela se casou com um diabo, em uma missão suicida.

Meu celular começa a vibrar. Fale do…

Eu não vou com você.

Olho para o meu telefone, incrédulo. "Seu imbecil teimoso!" grito,


batendo a porta novamente.

"O que ele disse?" exige Reece.

“Diga a todos para prosseguir com a evacuação. Deixe o jato menor


para nós. É hora de ir."

"Eve está bem?" arrisca Anna.

Antes que eu possa responder, meu celular apita novamente.


Lembre-se do que prometeu.

A porra da promessa dele pode ir para o inferno. Eu não estou tendo


essa conversa com Eve, quando ainda há uma chance de eu parar com isso.
Tenho que afastá-lo dessa loucura. Se ele perseguir Sevastien sem apoio,
em uma cidade em chamas, que está pedindo sangue, nunca mais a verá.
Ele nunca provará a liberdade, nem segurará seu filho por nascer...

"Onde está Petrov?"

"Já no ar."

Nós somos os filhos da puta deixados para trás, como sempre. Uma série de
imagens passa pela minha mente: a carcaça queimada de um M-ATV, um
Black Hawk de quatro lâminas gaguejando do céu, um sol, que nunca
desiste e uma tortura que nunca acaba.

Meus dedos pairam sobre a tela. Eu tenho uma chance de salvar a vida
dele remotamente, mas há todas as chances de eu deixar cair um morteiro
em vinte anos de amizade, no processo.

Hora de deixar os mortos irem. Eve está grávida.

Escolha o lado certo para variar.

Respiro fundo e clico em "enviar".


Capitulo Vinte e Um

Eve

Esse conflito é como uma dor que não vai diminuir. Sua presença está
me chamando como um cachorro de salto. Ele está tão perto do meu
esconderijo, que quase sinto o cheiro da minha infância. Açúcar e
especiarias... Mas o que ele é, não é legal.

Eu devo estar perdendo. Estou inventando rimas malucas na minha


cabeça. Estou com tanto frio, que não consigo mais sentir minha parte
inferior do corpo. A dor do meu tornozelo torcido se transformou em uma
vaga cãibra. Não me lembro de uma época em que meus dentes não batiam
tão violentamente.

Galhos estalam, folhas mortas nítidas sob os pés. Meu pai dá alguns
passos à sua esquerda e inclino a cabeça para espiar, através de um espaço
entre o chão e as raízes do tronco da árvore, parecidas com uma gavinha.
As nuvens se separaram e mais luz da lua penetra pelas árvores. Ele está a
quatro metros e posso ver seus jeans e botas de caminhada. Com uma
pontada, eu os reconheço como os mesmos que a mãe comprou, para uma
viagem em família ao Grand Canyon, oito anos atrás.

"Evie, querida", ele chama novamente, sua voz cantando em meu


cérebro. “Por favor, saia, querida. Eu quero consertar as coisas. Sinto tanta
falta sua."

Somos apenas nós? Que mal poderia causar?

Cavando meus dedos na terra, fecho os olhos o mais forte que posso. Se
ele chamar meu nome mais uma vez, vou me arriscar e me levantar. Mais
do que tudo, quero sua confirmação de que o homem que cultivei por vinte
e cinco anos, é menos demônio do que aquele com quem me casei. Não sou
especialista em informática, mas Petrov poderia, facilmente, manipular
essas fotos.

Prendo a respiração e espero. Um... dois... tre...

"Myers!" Uma voz áspera soa à minha direita. Começa a desenrolar uma
série de frases, em um idioma que não significa nada para mim.

"No meu caminho", murmura meu pai, parecendo irritado. Ele se vira
para o outro cara, e é aí que vejo um brilho de prata na mão.

Ele tem uma arma.

Meu pai tem uma arma.

Ele veio aqui para me matar?

Um gemido de medo escapa dos meus lábios, antes que eu possa


sufocá-lo com sujeira.
Seus passos pausam.

"O que diabos você está esperando?" encaixa seu companheiro. "Você
ouviu o que eu disse? Santiago também deu um pulo em nós. Amsterdã
está uma bagunça e seu exército está em movimento. A grande reunião de
família terá que esperar.’’

Eu os vejo voltando para a casa segura, até que suas lanternas nada
mais são do que manchas brancas dançantes, em um mar de sombras.
Imediatamente, meus pensamentos mudam para Mateo. Ele também está
morto? Talvez esteja machucado e morrendo em algum lugar na escuridão?
Meu estômago treme, quando outra imagem de Manuel passa diante dos
meus olhos.

Eu ouço o som abafado de um helicóptero subindo no ar. Apesar da


cobertura das árvores, encolho-me no chão, quando ele passa por cima.
Agora estou paralisada pela indecisão. É seguro ir e encontrar o
colombiano? Talvez ainda haja outras pessoas vivas na casa, que eu possa
ajudar? Ou talvez toda a conversa tenha sido a meu favor e eles estejam
tentando me atrair para fora da floresta?

Em algum lugar próximo, há o som de um veículo se movendo a uma


velocidade viciosa. Rotação do motor. Pneus guinchando. Eu devo estar
perto de uma estrada. Forço meus ouvidos para ouvir o barulho de cascalho
na calçada, antes que todas as quatro portas se fechem em um coro feio. A
próxima coisa que sei é que mais lanternas estão penetrando na escuridão e
vozes altas estão gritando meu nome.

"Eve? Você está aí?"


Gritando de alívio, tropeço em meus pés, mas minhas pernas estão
completamente dormentes e desço de novo, quebrando a rótula no lado do
tronco da árvore.

"Merda! Joseph!" Eu grito, mas tudo o que sai da minha boca é um


sussurro patético. Mesmo assim, ele deve ter ouvido, quando sua lanterna
aperta em mim imediatamente e me vejo caindo em seus braços.

"Obrigado, porra!" ele entra no espaço acima da minha cabeça.

"Dante".

Eu agarro a frente da sua camisa. O cheiro de suor e morte, em sua pele,


lembra-me, pungentemente, do meu marido. "Onde ele está? Onde ele
está?"

"Temos que ir", diz ele rapidamente. "Toda a operação foi


comprometida."

Por que ele não está respondendo à minha pergunta? "Alguém ainda está
vivo?"

“Na casa segura? Um par. O que há de errado com seu tornozelo? "

Enquanto conversamos, ele passou a lanterna para cima e para baixo no


meu corpo, verificando-me quanto a danos.

“Eu caí... acho que torci. Mateo?” O nome dele pega na minha garganta.

"Levou uma bala na coxa, mas está vivo. Aqui, vou te levar. " Ele me
entrega a lanterna e me pega em seus braços.

"Dante não está com você, está?"


"Ainda não."

Enigmas, enigmas, tantos enigmas.

Ele começa a correr comigo, de volta para casa. Descanso a cabeça no


seu peito para me manter firme, mas o perfume que liga meus sentidos está
todo errado. Não é rico e poderoso, não faz minha cabeça girar com
luxúria. Não é de Dante.

Chegamos à entrada da garagem, no momento em que dois SUVs


pretos passam por nós e saem pela estrada adiante. Um terceiro e último
SUV está esperando, com as portas traseiras abertas, os faróis dianteiros.
Tudo o que resta da casa segura é uma concha danificada.

"Temporizador definido. O resto desse bebê vai explodir em sessenta


segundos ", grita um cara alto, correndo para longe dos escombros da
varanda da frente e pulando no banco do motorista.

"Eve!" chora uma voz.

“Anna!”

Não acredito nos meus olhos, e parte de mim não quer, pois minha
melhor amiga aparece. No brilho ofuscante da luz interior, sua aparência é
chocante. Seu rosto bonito está machucado e manchado de lágrimas e o
cabelo loiro é uma auréola emaranhada de sangue. Ela está com os pés
descalços, segurando a jaqueta azul marinho de Joseph em seu corpo.

Joseph me coloca no chão e nos abraçamos, trocando histórias apenas


com a torrente de lágrimas. Ela está tremendo tanto, que as vibrações estão
ricocheteando sob a minha pele.
Há um puxão, quando o carro acelera para longe de casa.

"Dez segundos", grita o motorista.

"Prepare-se", murmura Joseph do banco do passageiro, quando


chegamos a cem pela estrada tranquila.

"Por que, o que é?"

Um segundo depois, os restos do esconderijo evaporam, sob o disfarce


de chamas e detritos. A força da explosão derrapa nosso carro para fora da
estrada e nosso motorista tem que lutar muito para controlar, puxando
habilmente o volante, para nos tirar de uma volta.

"Jesus", eu o ouço murmurar, enquanto Joseph verifica seu iPhone.

"Anna, eu...?"

"Não fale." Ela leva um dedo trêmulo aos meus lábios e balança a
cabeça. Não consigo compreender o sofrimento nos olhos dela. Eu nunca vi
nada tão cru.

"Ainda não. Não até que eu possa processá-lo por mim mesma.’’

Meu olhar encontra o de Joseph, enquanto ele joga uma garrafa de água
na minha mão. Pela primeira vez, seu rosto não é uma parede de expressão
em branco e meu coração sangra em agonia por ela. De que tipo de pesadelo
eles a resgataram?

"Sinto muito, Anna", resmungo. "Se não fosse por mim, nada disso..."

"Não." Seus olhos azuis estão piscando, através da escuridão. "Isso não é
culpa sua; Eu nunca vou te culpar pelo que eles fizeram. Eu te amo, Eve
Miller. Para sempre e depois." Sua mão desliza na minha e aperta
suavemente. Ela está tão magra, que consigo sentir cada osso precioso na
mão.

"Como você soube me encontrar?" Eu pergunto aos homens na frente.

"Mateo". Joseph está checando o telefone novamente.

"Dante está esperando por nós no jato?" É disso que você espera uma
mensagem?

Silêncio.

“Droga Joseph! Diga-me onde está meu marido!”

Eu ouço Anna exalar bruscamente. "Marido? Que porra é essa, Evie?


Não me diga que você realmente se casou com esse monstro?”

Sua mão desliza da minha e sinto sua rejeição tão aguda, quanto a
ausência de Dante. “Ele era um maldito animal lá, hoje à noite. Eu o assisti
matar cinco homens sem nem piscar. Ele não é melhor do que os bastardos
que me estupraram!”

Outro silêncio, enquanto todos nos sentamos, cambaleando com as


palavras dela. Joseph tem metade do perfil, as pontas de seu zumbido loiro
caem sob a luz da lua, mas posso ver como ele está apertando a mandíbula,
daqui.

"Gostaria de poder racionalizar isso para você, Anna..." Mas ela já virou
as costas para mim. Eu posso ouvi-la chorando suavemente, no banco de
couro.
Por que o amor é tão cruel? Por que tem que rasgar as costuras de
nossas vidas assim? Como posso me sentir bem nos braços de Dante,
quando as consequências de estarmos juntos machucam aqueles que amo?
Ainda assim, as linhas brancas, no meio da estrada, parecem flechas
inversas, levando-me na direção errada e para longe dele.

"Como foi a reunião com Petrov?" Estou jogando palpites de novo. Ele
trabalhou com Rick Sanders algumas semanas atrás.

Joseph tensiona. "Foi... foi."

"Eles se mataram?"

"Ainda não."

Há uma pausa. "Eu vi meu pai."

Ele dá meia-volta tão rápido, que seu cotovelo bate no volante e saímos
da estrada novamente, os pneus derraparam na terra para uma saraivada
de maldições grosseiras de nosso motorista.

"Onde?"

"Ele fazia parte do grupo que atacou o esconderijo." Anna está me


observando também. “Ele veio à floresta para me encontrar, estava
gritando que queria conversar.”

Ele me disse que tudo era mentira, mas acho que ele queria me matar
também.

Eu posso ver Joseph processando isso. Eu posso dizer que ele não gosta.
"Myers está mais fundo do que pensávamos", eu o ouço murmurar para o
motorista. “E de onde diabos vem o vazamento? Petrov só sabia do nosso
envolvimento com a operação algumas horas atrás. Peters não teria como
embaralhar um helicóptero a tempo.”

"Você acha que o agente Peters está nos enganando?" Eu digo com um
suspiro.

"Ele é o suspeito mais provável. Ou ele era...

"Evie, você acha que seu pai teve algo a ver comigo?" Anna finalmente
fala, sua voz falhando, sob a tensão desse desgosto potencialmente novo.
Era uma vez uma figura paterna para ela também, mas tudo isso foi
esmagado pelo peso da revelação em Miami. Petrov, deixe-me guardar
uma cópia das fotos. Ela viu por si mesma o quão longe meu pai havia
caído.

"Como um homem bom pode ter más intenções?" ela sussurra.

Um homem mau pode ser bom? Eu tento pegar sua mão novamente, mas
ela a afasta.

"Atualização do De Wallen", ouço Joseph dizer, abrindo seu laptop.


“Área em confinamento. Sessenta mortos. Onze do nosso lado. Vamos
extrair os corpos do necrotério pela manhã.”

Sessenta?

O número de mortos se instala no veículo por um momento, antes de se


fundir com o ritmo dos pneus no asfalto. Mantivemos o limite de
velocidade, desde que a casa foi detonada. Houve um fluxo constante de
sirenes passando por nós, na direção oposta e não queremos chamar a
atenção.

Por fim, saímos da estrada principal e todas as apostas estão


desativadas. O SUV dá outra guinada, quando nosso motorista coloca o pé
no chão para compensar o tempo perdido. Eu reconheço a estrada, desde o
caminho de ontem. Estamos a apenas alguns quilômetros do aeroporto
privado. Forço a cabeça para ver se consigo vislumbrar outros veículos,
mas tudo o que vejo é noite.

Paramos ao lado do jato e os dois homens saem do carro


imediatamente.

"Fique aqui", ordena Joseph, e eu o vejo correr, para conversar com os


três recrutas em pé nos degraus da aeronave.

"É esse jato que está nos levando para casa?" pergunta Anna.

Concordo e forço um sorriso, antes de voltar para a janela. Estou


aprendendo que o desconforto é uma capa para todas as estações da minha
vida com Dante. Algo está errado. Joseph continua esfregando a mão na
mandíbula.

"Eu não quero voltar para lá", ela anuncia suavemente. "Eu nunca mais
quero tentar voltar a ter uma vida normal agradável. É tudo uma fachada,
pelo menos." Uma nota amarga começa a gritar sua voz. "O trabalho, o
carro, a cerca branca... Como posso fingir, quando sei que, por baixo de
tudo isso, existe outra existência do inferno."
Lágrimas picam minhas pálpebras. “Eu me senti da mesma forma, no
ano passado. Pode haver uma beleza no caos, no entanto. As linhas nunca
são tão claras quanto você pensa.

“Eu não ligo para nada disso, só quero esquecer.”

Nós olhamos uma para a outra, ambas tentando lembrar as garotas que
éramos, na faculdade.

"Você realmente o ama tanto, Evie?" ela diz, pegando minha mão
novamente.

Estremeço de alívio. "Eu nem consegui quantificá-lo. Como você mede o


ar que respira e a escuridão que molda sua luz? Minha respiração sai
novamente. "Nós a levaremos a qualquer lugar que você precisar, desde
que haja um hospital. Precisamos levá-la ao check-out.’’ Quero perguntar
mais, para descobrir o que realmente aconteceu, mas ela não está em
condições de responder a perguntas, hoje à noite.

"E você?" ela pergunta. "Onde irá?"

Vou dizer para casa e depois paro. Minha casa é onde Dante está. Do
lado de fora, Joseph está, lentamente, voltando para nós, com os olhos fixos
no celular novamente. Eu saio do veículo para encontrá-lo.

"Onde ele está, Joseph?" exijo, mancando até ele. "Sem mais besteira.
Acabei de ser perseguida na floresta, então, minha adrenalina é como fogo
líquido agora.”
"Honestamente? Eu não sei." Ele levanta a cabeça e eu paro de morrer.
Pela primeira vez, seu rosto é um livro aberto de emoção, posso ler tudo, a
dor, a preocupação, o arrependimento.

Parece que ele quer dizer outra coisa. Espero que continue, mesmo que
não queira. Sua expressão está me balançando o suficiente, mas algo me diz
que, nos próximos momentos, toda a minha vida será virada.

"Ele não vem."

"Como assim, ele não vem?"

Eu estraguei tudo. Eu não podia conversar com ele.

"Eu não entendo", gaguejo. “A missão foi bem sucedida, temos Anna.”

"Você sabe que sempre houve duas partes nisso."

"Sevastien." Eu me afasto dele e fecho os olhos. Ele me prometeu que


buscaríamos nossa vingança juntos.

"Essa é minha suposição, pelo que meus homens estão me dizendo.


Houve uma perseguição de carro, perto do Damrak e Dante estava
dirigindo o segundo veículo. Perdemos o rastro depois disso, mas relatos
de um grande acidente estão começando a se infiltrar nos canais de
notícias. ”

"Para que ele possa estar morto ou moribundo, ou..."

Minha agonia é insuperável. Eu nem consigo entender o final. "Onde


está Petrov?"
"Na metade do caminho de volta para a Rússia." há uma pausa. "O
tempo está acabando, Eve. Nós precisamos ir. Temos apenas uma janela
limitada, no espaço aéreo, antes de estarmos abertos à detecção. É o acordo
que fizemos."

"Então é isso?" Eu o encaro, incrédula. "Vocês todos vão deixá-lo no


meio de Amsterdã para morrer, para salvar suas próprias bundas!"

"Essa foi a escolha dele, não minha", ele responde bruscamente. “Eu
puxei todas as cordas manipuladoras que consegui pensar, Eve. É melhor
você acreditar nisso... eu até contei a ele sobre o bebê.”

"Você o que?" E ele ainda não voltou para mim? "E a lealdade?"

"Isso é fodidamente lealdade!" Ele está na minha cara agora, gritando


cada palavra. “Sou eu aqui parado, dizendo essa merda. Esse sou eu,
realizando seus últimos desejos, para protegê-lo e tirá-lo deste lugar, antes
que o inferno se abra e nos engula.”

"Tarde demais", eu digo, mancando de volta para o carro. "O inferno


está aqui neste asfalto, com você dizendo essas palavras para mim."

“Onde diabos está indo? Você não ouviu o que eu disse? Precisamos
estar no ar nos próximos cinco minutos.”

"Vou voltar para ajudá-lo. Se ele não está saindo de Amsterdã, eu


também não."

"Como diabos você é!"

De repente, estou sendo submetida a uma corrente espessa de músculo.


"Saia de cima de mim, Joseph!" Eu grito e grito, como uma banshee,
enquanto ele me arrasta de volta para a aeronave.

"Pense no bebê", ele implora. "Estou te implorando, Eve. Não lute. Não
faça isso mais difícil do que já é.’’

"Ele disse que faríamos isso juntos", digo com um gemido, meu corpo
ficando mole. "Não acredito que ele está fazendo isso. Não acredito que ele
acabou de sair...’’ Paro, quando duas pontadas de luz começam a piscar
para mim, do outro lado da pista.

"Policiais", ele sussurra no meu ouvido, vendo-os também.

"Não, espere." Fico encantada, quando os alfineteiros se alargam para


furos brancos. "Eles não são azuis e vermelhos e não estão piscando."

Observamos juntos como os furos se transformam em algo, que nenhum


de nós esperava ver, acompanhado pelo som áspero de um motor
acelerando em plena capacidade.

"Oh meu Deus, é ele! É ele!"

Joseph me solta e corro na direção do carro, ignorando a dor no


tornozelo, minha necessidade de alcançá-lo superando o analgésico mais
forte. A vinte metros, derrapa para uma parada aleatória, ao lado da pista e
a porta do motorista se abre.

“Eve!”

Estou meio chorando, meio rindo, quando o ouço rugindo para mim.
Ele parece zangado, exausto, aliviado. Camisa rasgada, sangue escorrendo
de cortes feios na cabeça e nos braços... Cada parte dele está machucada,
mas não me impede de pular em seu abraço, ligando meus braços, pernas e
coração em torno de seu corpo, com tanta força, que o ouço gemendo,
reforçando nosso vínculo inquebrável, quando ele mergulha seu rosto
ensanguentado na lateral do meu pescoço e me embala perto dele.

"Você voltou." Estou tão tonta de alívio que colo cada centímetro do
meu corpo ao dele. Respiramos um ao outro, por alguns momentos, antes
que ele finalmente fale.

"Sempre", ele murmura, apertando os braços, enquanto luta para


conseguir limitar suas próprias emoções. "Agora suba na porra do avião,
Eve Santiago, ou então..."

Eu posso sentir seus dedos cavando dolorosamente na minha bunda. É


a minha primeira punição deliciosa. O primeiro de muitos, espero.

"Ou então o que?" digo, sorrindo-lhe.

Sua carranca feroz oscila, por um segundo. "Ou então, os vinte carros da
polícia, atrás de mim, assistirão te foder nessa pista."
Capitulo Vinte e Dois

Eve

Deslizo para o chão e nos aproximamos do jato, de braços dados. Ele


está mais ferido do que deixa transparecer. Há uma mancha vermelha
sinistra espalhando-se por baixo de um rasgo na camisa, perto da caixa
torácica e ele está sibilando baixinho, a cada movimento.

"Deixe-nos por um minuto, mi alma", ele murmura, quando Joseph se


aproxima. A máscara da indiferença está de volta no rosto do texano, mas
seus azuis acinzentados são a cor mais gelada que já vi. No momento em
que me afasto de Dante, ele bate com o punho na lateral da sua mandíbula.

"Que diabos está fazendo?" digo, quando Dante balança para trás, mas
sua mão levanta para me parar. Em seguida assisto horrorizada, quando
Joseph dá outro soco brutal, desta vez na bochecha, sem qualquer sinal de
retaliação, fazendo Dante bater a mão na lateral da escada da aeronave
para se firmar.
"Todos esses malditos anos", resmunga Joseph, de pé sobre ele. “Vá em
frente, esfaqueei-me nas entranhas o quanto quiser, mas se me fizer dizer
coisas assim para Eve, novamente, você e eu terminamos e que as
circunstâncias sejam condenadas. Se você for desonesto mais uma vez, eu
também vou te matar. Somos soldados, você e eu, irmão, vivemos e
morremos de acordo com as regras.”

A mão de Dante se move, novamente, desta vez para pegar seu braço,
enquanto ele levanta o punho na terceira rodada. Prendo a respiração, mais
pelo bem de Joseph, do que qualquer um. É essa a parte em que meu
marido revela sua verdadeira natureza? Qualquer outro homem já estaria
morto agora.

"Eu não obedeço às regras", diz Dante com calma, carmesim saindo de
sua boca. "Você sabia, no momento em que veio a bordo comigo."

"Talvez você devesse começar a respeitar algumas, pelo amor de Deus."


Joseph o sacode e eu o vejo voltar para o SUV, para ajudar Anna.

"Suba no avião, Eve", ordena Dante, cuspindo sangue no chão. “Você e


eu temos nossa própria merda para lidar. Prefiro fazer isso a dez mil
metros acima do nível do mar e sem as melhores atiradores de Amsterdã
atirando em nós."

Ele sabe sobre o bebê.

Concordo com a cabeça, virando-me para seguir Anna pelos degraus.


Uma vez dentro, ela se encolhe em uma posição fetal, em uma das cadeiras
de couro creme e começa a chorar novamente. Correndo para o quarto, na
parte de trás do avião, eu volto com um cobertor, colocando-o ao redor de
suas pernas nuas, enquanto Dante passa por mim. Observo-o chamar a
atenção de Anna, mas não dizem uma palavra um para o outro. Momentos
depois, ouço a mesma porta do quarto bater e sei que meu julgamento me
espera lá dentro.

"Posso pegar alguma coisa para você?" Eu digo a ela: "Água, chá...?"

Ela balança a cabeça e não olha para cima.

"Vou cuidar dela", diz uma voz atrás de mim. "Como Dante disse, você
tem suas próprias coisas para resolver."

“Afaste-se, Joseph. Cuidar da minha amiga, que foi sequestrada e


agredida por dias e dias, está incluído nessa categoria," respondo,
arrepiada de ressentimento.

"Por favor, Eve", diz Anna suplicando. "Tudo o que eu quero é dormir."

Eu me endireito, mas ainda estou indecisa. “Se você precisar de alguma


coisa, por favor, venha me encontrar. Não sei para onde estamos indo."

"Nairóbi", afirma Joseph bruscamente. "Existe um excelente hospital


privado lá."

Ele chega ao meu redor, para entregar à Anna algumas pílulas. “Valium
e analgésicos. Espere aí, querida. Em breve, ajudaremos você."

Querida?

"OK tudo bem. Nairóbi é.’’ lanço um sorriso tranquilizador para Anna,
mas sei quando não sou desejada. Relutantemente, ando pelo corredor,
para aceitar meu destino. "A propósito, ele mereceu totalmente", murmuro
para Joseph, quando passo e sou recompensada por um leve toque de seus
lábios.

Dante ainda está no chuveiro, quando entro no quarto. A aeronave está


começando a se afastar de seus blocos, então, sento-me em uma das duas
cadeiras ao lado da janela e aperto o cinto de segurança. Um minuto
depois, ele está saindo da suíte de jeans azul e camiseta preta, a tatuagem
tribal de manga cheia brilhando, com gotas de água.

Ele ocupa o assento ao meu lado, desabando com um gemido e


descansa os olhos brevemente. De perto, seu rosto está uma bagunça. Há
lacerações profundas em sua testa e as impressões dos punhos de Joseph
estão aumentando rapidamente.

"Posso pegar um pouco de gelo para você?"

"Ainda não." A exaustão está levando suas palavras para um barítono


mais profundo.

Quando o avião está no ar, há uma batida na porta.

"Entre", ele murmura e um de seus recrutas entra, carregando um kit


médico. Ele deve ter algum tipo de treinamento, porque começa a trabalhar
imediatamente, despejando iodo nos piores cortes e costurando a ferida
aberta, sob a caixa torácica. Sentindo-me como uma intrusa, levanto-me
para voltar à cabine.

"Sente-se", diz Dante, olhos escuros girando para mim. "Você não vai a
lugar nenhum, a menos que eu diga."
Com um suspiro, afundo de volta no assento.

"Tudo pronto, jefe", anuncia o recruta, guardando seus suprimentos.

"Você poderia dar uma olhada no meu tornozelo também?" digo,


quando ele se vira para sair. O cara lança um olhar interrogativo para
Dante, que assente.

"Como você torceu?" Ele assiste como um falcão, enquanto o recruta


remove gentilmente meu Chuck direito e tira a meia.

Olho-o, surpresa. "Você não sabe?"

Ele faz uma careta. "Sabe o que?"

"A casa segura foi invadida hoje à noite."

Ele fica muito quieto e então está de pé exalando raiva por todos os
poros. "Quantos?"

"Eu não... havia um helicóptero."

"Dê-nos um minuto", ele late para o recruta, que sai do quarto. "Quantos
dos meus homens estão mortos?"

"Cerca da metade, eu acho."

“Não é de admirar que Joseph quase tenha tirado minha mandíbula.


Você está bem?" Ele se agacha ao meu nível e faz uma careta. "É o..." ele
recua e indica para o meu estômago e eu coro.

"O bebê está bem, Dante."

Há uma pausa. "Há quanto tempo você sabe?"


"Alguns dias." Eu me preparo, enquanto aquelas nuvens escuras se
movem em seu rosto.

"Eu sabia que você estava escondendo algo de mim."

"Você está feliz?"

Ele se senta na cadeira, com uma careta. "Esse é um desses termos


relativos novamente... Você está?"

Mordo o lábio e aceno com a cabeça e então assisto, com um fascínio


silencioso, enquanto os cantos da sua boca começam a se levantar e uma
luz rara se espalha pelo seu rosto. Eu vivo e morro por seus sorrisos, posso
contar na minha mão o número de vezes que vi um.

"Então eu acho que também." Ele passa um dedo na minha bochecha.

"Segunda chance, Dante", sussurro, inclinando-me para a frente e


gentilmente colocando os braços em volta do seu pescoço.

Ele pressiona sua testa na minha e exala lentamente. "Eu pensei que
homens como eu não mereciam."

"Você o matou?"

"Ainda posso te foder?"

Reviro os olhos e deslizo os braços do seu pescoço. "É bom saber que
você tem suas prioridades em ordem e, sim, você ainda pode me foder."

“Minhas prioridades nunca mudaram, só ficaram um pouco cheios no


topo. ” Ele se levanta, com aquele olhar predatório no rosto, que conheço
tão bem. "Você e esse bebê são as únicas coisas que importam."
“E Sevastien? A vingança de sua filha?”

Ele me puxa gentilmente, apenas para me atirar para trás na cama, com
força suficiente para me fazer quicar nos travesseiros. Sua contradição
quente traz uma onda de excitação ao meu núcleo e minhas pernas se
separam, instintivamente.

"Joseph leu algo sobre um acidente de carro online." Eu me levanto para


lhe dar espaço, mas ele agarra meu tornozelo bom e me gira de bruços.

“Houve uma perseguição. Nós dois caímos. Ele terminou de bruços, em


um canal.”

Ele puxa minha camiseta e traça a coluna inferior com a língua,


enquanto gemo e me arqueio no colchão. Ele puxa meu jeans para baixo
dos quadris e se abaixa, seguindo o vinco da minha bunda. Deus, seu toque
parece divino, úmido e selvagem, exalando o tipo de intenção mais
imundo.

"Ele está morto?" A colcha cinza abafa minha pergunta.

"Aqui está esperando..." Ele desliza uma palma quente para cima,
abrindo meu sutiã.

"Então, você não voltou por causa do bebê?"

Ele deve ter lido algo no meu tom, porque seus lábios desaparecem da
minha pele e ele está me virando novamente. Tirando sua própria
camiseta, ele puxa minha calça jeans e calcinha, abre minhas pernas e se
instala entre elas, segurando o peso da minha barriga com as mãos e os
antebraços. Eu gemo novamente, quando ele mói sua ereção contra o meu
sexo nu, sacudindo em deliciosa agonia, quando o metal frio de seu cinto
pega meu clitóris.

“Eu peguei minha arma, meu anjo. Eu estava pronto para acabar com
ele e então me afastei. Por você."

Ele deixa isso ficar entre nós, por um momento, enquanto continua a
moer contra mim.

“Como eu disse, minhas prioridades nunca mudaram, mas era difícil


lembrar o que eu estava lutando no calor da batalha. A mensagem de
Joseph foi o tapa que eu precisava. Se Sevastien ainda estiver vivo, vou
acabar com ele de outra maneira.”

Ele se ajoelha para desfazer o cinto e a calça jeans e vejo o curativo


manchado de vermelho, preso ao abdômen. "Você tem certeza que quer...?"

Sou silenciada pelo seu olhar, enquanto ele fica ali, nu e ereto. Gotas de
pré-semen brilhando, no final de seu pênis. "Você sabe quanta matança me
excita, esposa."

Repulsa e desejo ondulam, através de mim, em quantidades iguais.


"Então me encha com seu ódio, Dante", sussurro, achatando minhas costas
contra o colchão e abrindo as pernas para ele. "Se é isso que você precisa,
para deixar ir esta noite".

"Não ódio, apenas amor por você, Eve." Seus olhos se fixam na minha
boca, antes de descer lentamente pelo meu corpo. A qualquer momento ele
vai atacar e me fazer gritar seu nome. "Você está pronta?"

"Sim."
"Se doer, eu vou parar."

"Eu não sou de vidro."

“Tudo quebra, meu anjo. Mas apenas sob meu comando.”

Sua antecipação é tudo. É um começo para um prato principal, que sei


que vai me arruinar. A sobremesa me verá implorando por mais.

Fecho os olhos, quando ele começa, seus lábios formando um círculo


quente e úmido no interior da minha coxa e quando a boca, finalmente,
chega ao meu sexo, ele tem que apertar a mão na minha boca, para
reprimir meus gritos. Um calor familiar floresce por toda a minha pélvis,
enquanto ele chupa e prova, lambendo-me, como se eu fosse o néctar mais
doce e em seguida, enfiando a língua em mim, até meus músculos internos
tremerem de liberação.

“Oh Deus, Dante. Deixe-me vir!"

Ele tem razão. Tudo quebra sob seu comando, mas ele está de humor
maquiavélico hoje à noite. Antes que eu perceba, estou de joelhos e ele está
dirigindo a língua de volta, esmagando seu rosto contra a minha bunda,
para acariciar meu ponto G e cantarolar suavemente.

"Merda!" A força do meu orgasmo me faz balançar contra ele, quando


meus cotovelos cedem.

"Tão bonita, quando vem na minha cara", eu o ouço murmurar.


Colocando-me em posição, ele esfrega seu pau na minha entrada,
absorvendo os sucos, antes de separar os lábios com os dedos e avançar
lentamente em mim.

"Eu poderia te foder a noite toda com a língua, mas meu pau precisa de
atenção."

Desejando mais, afundo de volta nele, empalando-me em seu calor e


luxúria, espontaneamente em convulsão, quando seu polegar encontra o
centro da minha bunda.

"Meu anjo ganancioso", eu o ouço rir, enquanto a pressão aumenta.


"Relaxe, mi alma, você sabe o que fazer."

Pressionando a testa no colchão, concentro-me na respiração, enquanto


ele continua a fazer círculos apertados, esperando que eu ceda. De repente,
um golpe ardente na minha coxa faz-me sacudir para frente.

"Não é rápido o suficiente", ele murmura.

"Estou tentando!"

A pressão na minha bunda é insuportável. Isso, juntamente com a


sensação de seu pau enterrado profundamente dentro da boceta e acabei de
ser elevada a um novo plano sensorial. Com um grito suave, eu me abro e
ele sussurra de satisfação, quando o polegar desliza até a junta.

"Agora podemos começar a foder, meu anjo."


Capitulo Vinte e Tres

Dante

Afeganistão 2002

“Capitão Días...? Capitão Días, pode me ouvir?”

Días? Quem diabos é Días? E quem colocou minha cabeça em um torno, algum
comprador?

De alguma forma, forço os olhos abertos. Imediatamente, estou me


afastando da luz, levando a mão ao rosto, como uma viseira improvisada. E
quem pendurou uma fornalha de mil watts no céu?

Devo ter dito as palavras em voz alta, porque há um bufo à minha


esquerda. Pisco algumas vezes. Fragmentos de lembranças estão passando
pela minha mente, como uma série de imagens e pensamentos
desconectados, sem linearidades claras…

Afeganistão
M-ATV.

Foguete.

Pisco novamente e é aí que a dor me atinge. Inferno, isso não me


impressiona, mas me fode violentamente. Meu joelho está em um mundo
inteiro de dor. Duas lâminas de barbear estão em uma missão, para ver
quem pode me cortar até os ossos primeiro. O vômito sobe na garganta,
enquanto luto para lidar com isso.

"Fácil agora." Sinto uma mão reconfortante no ombro. Seu lento sotaque
texano me puxa para baixo, novamente.

"Traga-me um pouco de morfina", resmungo.

“Você está sem sorte lá, senhor. As celas do Taliban não vêm com isso
como padrão.”

Mais. Que. Porra?

"Onde estou? Preencha os espaços em branco rapidamente, soldado, ou


eu mesmo vou quebrar seu pescoço.’’

O fato de eu estar deitado prostrado, com um joelho machucado, sequer


atrapalha a ameaça, porque ele começa a falar imediatamente. Ele ouviu
falar de mim, lembra?

“Estávamos a cinco quilômetros de distância, quando um de seus


foguetes atingiu o M-ATV. A maioria de seus homens foram mortos no
impacto. Você e eu fomos os sortudos... Um grupo de insurgentes do
Taliban nos puxou para fora e nos enfiou no Hilton.”
"Por que você não empurra suas rachaduras, onde o sol não brilha?
Diga-me, há quanto tempo estou fora?"

"Dois dias."

"Traga-me um pouco de água." Estou com tanta sede que minha língua
está grudada no céu da boca.

Um cantil entala entre meus dedos. "Acalme-se, estou tentando


racionar. A merda que eles servem aqui parece mijo. Inferno,
provavelmente é mijo.’’

Alguns goles de água me revivem. A dor, na minha cabeça, assemelha-


se a uma pulsação maçante e meu joelho é uma agonia. Acho que posso
virar a cabeça, para examinar meu entorno.

Nossa cela da prisão é de cerca de dez por dez, não maior que um
banheiro, o que não é a pior analogia para usar, com toda a merda
manchada nas paredes. Existem barras primitivas, que passam por uma
janela, mas a porta é de aço sólido. Nada mais aqui, além da sujeira do
chão, ele e eu e um balde imundo no canto.

"Sente-me, soldado", digo a ele e meu colega de cela, finalmente, entra


na minha periferia.

O atleta do ensino médio.

Seus estranhos olhos azul-acinzentados brilham sobre mim, enquanto


descobrimos a melhor maneira de manipular meu corpo inútil, em uma
posição sentada. Uma mão desliza por baixo do meu ombro e trabalhamos
juntos, gemendo como uma cadela, até que estou apoiado contra uma das
paredes manchadas de merda.

"Obrigado", murmuro, ousando olhar para baixo. Eu esperava ver ossos


saindo da pele, como uma carcaça assada de domingo, mas o dano no meu
joelho parece mais interno. Obrigado, porra. Há menos chance de infecção
dessa maneira. “Grayson? Esse é o seu nome, certo? "

"Sim senhor." Ele se agacha ao meu lado e me lança um sorriso irônico.


“Eu estava te chamando de capitão Días, quando estava meio fora, mas
você continuou me contradizendo. Disse-me para chamá-lo de Santiago,
mais ou menos. Toquei alguns sinos?’’

"Provavelmente uma cadela, que partiu meu coração", eu digo,


descartando suas palavras fora de controle. "O que mais eu disse?"

"Falou muito espanhol, mas não sou fluente nisso, mas ninguém quer te
ouvir falar sujo, senhor.’’

Eu sorrio junto com ele, mas sou bom em fingir. O atleta está crescendo
em mim, mas é uma má notícia que falo, enquanto durmo. Ele estará morto
antes do amanhecer.

"Alguma comida?"

"Não é o que eu comeria."

Há som de gritos altos, vindo do corredor, do lado de fora da nossa


porta e chamam nossa atenção. Eu posso ver uma pitada de medo, mas ele
esconde bem. A porta é violentamente aberta e três idiotas do Taliban,
vestindo túnicas e portando metralhadoras leves, entram na sala, com seu
vitríolo exagerado, gritando em um idioma que não passa de barulho. Eles
agarram Grayson pelos cabelos e o arrastam em direção à porta, enquanto
uma possessividade estranha toma conta de mim.

"Ei, idiotas, deixe-o em paz!" rugi, pegando um punhado de pedras


soltas do chão e jogando-as nas cabeças de turbante. Este homem faz parte
da porra do meu esquadrão, é minha responsabilidade ver que receba sua
passagem de avião para casa.

Um dos homens se vira e me sorri, antes de bater a coronha da


metralhadora no meu joelho quebrado.

"Seu merda!" eu grito, agarrando a perna, antes de deslizar na


escuridão.

É uma noite sem fim. Eu também chego à escuridão. O dia caiu e está
congelando, o ar gelado do deserto espremendo meus sentidos, como uma
anaconda, mas amortecendo minha dor apenas o suficiente para recuperar
o fôlego. Tudo ao meu redor é uma variação do vazio.

"Hey Grayson", digo alto, jogando o nome na sala. "Ei, amigo, acorde."

Há um gemido no canto e minha cabeça se move nessa direção.

“Grayson. Você está bem?"

Ele dá outro gemido. “Os idiotas me afogaram por uma hora”.

Merda. "O que eles queriam?"


“Detalhes sobre a missão. Alvos em potencial. Armamento. Horários
Drone. O de sempre...”

"E?"

"Eu disse a eles que poderiam beijar minha bunda texana real... senhor."

Uma risada genuína escorre da minha boca. "Você se casou, soldado?"


pergunto-lhe, lembrando de seu anel de casamento.

"Sim senhor. Bebê a caminho."

"Nome?"

“Rebecca.” Sua voz suaviza, quando ele diz.

Por um momento fugaz, considero impensável o que deve ser a


sensação de se entregar a uma mulher, em vez de apenas transar com ela.
O rosto de Lucia paira na escuridão, mas empurro essa imagem, como se
fosse a nova criança na escola. Eu não sinto culpa, não sinto nada. Exceto
que existe, mesmo que pareça estar fazendo um péssimo trabalho com isso,
no momento.

"Data de nascimento?"

"Quatro meses a partir de agora."

Há uma pausa. “Então é melhor encontrarmos uma maneira de sair


daqui, soldado. Rebecca vai pendurar suas bolas no pescoço dela, se não
estiver presente no nascimento.”

"Sim senhor." Sua voz soa mais forte novamente. "Alguma ideia?"
"Ainda não, mas estou trabalhando nisso. "
Capitulo Vinte e Quatro

Eve

"Hora de acordar, mi alma."

Ele me cumprimenta com outro daqueles sorrisos de nocaute, quando a


aeronave começa a descer. Pisco algumas vezes e balanço a cabeça, caso
ainda esteja sonhando. Ele tomou banho, vestiu-se e sentou na cadeira ao
lado da cama, observando-me, como costumava fazer há todos aqueles
meses atrás, quando meu amor por ele era um mineral precioso, deitado no
fundo da superfície, esperando ser escavado.

"Menino ou menina?" ele murmura.

"Você está pedindo minha preferência?" Estico e estremeço, quando


meu tornozelo inchado se enrosca no lençol branco.

O sorriso desaparece. “Nunca é uma opção. Não na minha cama.

"Eu não me importo, desde que sejam saudáveis."


“Nem eu, embora uma garota seja mais suscetível de tornar minha vida
uma merda de miséria. Ela não vai namorar até os trinta e cinco anos.”

Minha risada enche a pequena sala. "Você não pode controlar tudo,
Dante."

"Talvez não. Mas pelo menos posso te foder, na minha maneira de


pensar. Graças a Deus minha ilha é tão remota.”

"Com duzentos soldados famintos de sexo, circulando por aí."

"Você e essa porra de boca..." Ele se inclina sobre a cama, com um brilho
perverso nos olhos. "Fale essa merda comigo de novo e vou enchê-la do
meu pau, que seus olhos fluirão."

A luxúria atinge meu núcleo, como um trem expresso. Eu sou uma


conquista tão fácil, quando ele fala sujo assim. Olho para baixo e vejo um
envelope marrom, descansando entre os dedos. "O que é isso?" digo,
desviando-o de suas fantasias de vingança.

Ele hesita e se afasta. "Uma discussão para outro dia." Eu o vejo guardar
no bolso de trás.

"Hora de levantar. Chegaremos em Nairóbi daqui a vinte minutos e


quero que Nate enfaixe seu pé, antes de desembarcarmos.” Há uma pausa.
“Joseph me contou sobre seu pai. De volta a trabalhar para Sevastien, eu
ouvi? Quando o encontrarmos, é melhor eu lidar com ele sozinho. Não
haverá nada agradável, nos seus gritos.”

E assim, minha felicidade evapora. "Eu não quero falar sobre isso",
murmuro, olhando para longe.
"Vou adicioná-lo à lista então, devo?" ele diz suavemente. "Existe algo
que você queira conversar?"

"Sim, você pode me dizer o que aconteceu ontem à noite."

Ele me oferece um sorriso frio. "Eu sugiro que você assista às notícias,
para uma descrição imparcial desses eventos."

Eu sei muito bem o que ele faz da vida, mas, a menos que eu esteja
fisicamente na sala com ele, quando mata, ele prefere esconder os detalhes.

"Eu gostaria de ouvir isso de você." Mas ele já está indo para a porta.

"Contarei até dez, antes de enviar Nate. Verei o que posso encontrar, em
termos de comida."

“Dante?”

"Sim?" Ele se vira bruscamente e minha respiração fica presa na


garganta. Mesmo com seus cortes e machucados, ele ainda é o homem mais
bonito que já vi. Pele poderosa e dourada brilhando... Ele usa seus cabelos
pretos mais longos, por mais tempo, hoje em dia e há uma leve onda nele.
Seus olhos castanhos brilham, com todos os segredos sombrios de seu
submundo.

"Eu te amo."

Ele sorri. "São quatro orgasmos e muita conversa fiada".

"Não", eu digo, balançando a cabeça. "Isso é tudo comigo."


Nate cuida do meu tornozelo o mais rápido possível, garantindo que a
bandagem branca seja enrolada com segurança, mas não
desconfortavelmente. Hoje parece menos inchado e acho que posso colocar
um pouco mais de peso nele.

Entro na cabine para uma atmosfera tensa.

Novamente.

Anna está sentada, encolhida no canto oposto, exatamente na mesma


posição em que a deixei. Ela ainda está com a jaqueta de Joseph e o
cobertor do quarto, mas posso vê-la tremendo daqui. Joseph está
trabalhando em seu laptop, do outro lado do corredor, com Dante pairando
sobre ele, dando instruções e segurando um copo enorme de bourbon na
mão. A bebida de Joseph está descansando na mesa, ao seu lado.

O café da manhã dos campeões de mercenários violentos.

Ainda assim, é bom vê-los conversando com a boca, em vez dos


punhos. Há alguns outros soldados sentados nas proximidades, mas não
sei o nome deles. Por um momento fugaz, pergunto-me onde está Mateo.

Dante olha para cima, enquanto caminho em direção a ele. “Minha


comissária de bordo está pronta para atender seu pedido de comida”, ele
diz rapidamente. "Faça isso rápido, aterrissamos em dez minutos.”
Meu estômago está tremendo de novo, as ondas de náusea lambendo os
lados, mas quando olho para Anna, meu apetite desaparece.

"Posso pegar algo um pouco mais tarde", digo a ele.

"Coma, mesmo que seja apenas um pouco. " Ele volta para o que há de
tão atraente no laptop de Joseph. "Estamos fazendo o check-out no hospital
também."

Bastardo mandão.

Com uma pontada, vejo minha amiga lançar um olhar furtivo para
Dante, apenas para estremecer mais, com medo e repulsa.

“Anna?” Eu digo gentilmente.

Ela se vira, com a minha voz, mas seus olhos azuis estão mortos.

Oh Deus. Oh Deus. O que eu fiz?

"Posso pegar um pouco de comida, uma bebida... alguma coisa?"

Ela balança a cabeça e volta a olhar pela janela. Jogo a cabeça para
Dante, em desespero e me pego olhando diretamente para Joseph.

"Dê tempo a ela", ele me fala.

Mas eu não posso. Eu só quero a versão ininterrupta de Anna de volta.

"Isso é por causa do meu pai?" digo, voltando para ela. “É porque ele
pode estar envolvido? Anna, eu sou tão... ”Minhas palavras se tornam pó,
quando ela se vira, a expressão cheia de ódio. Eu a conheço há dezessete
anos e nunca soube que seus traços poderiam mudar dessa maneira.
"Pela primeira vez, Eve Miller, ou Santiago, ou o que diabos você se
chama hoje em dia, isso não é sobre você, ou a porra de sua família!"

"Pare com isso", diz Dante, bruscamente.

"Nem fale comigo, porra", ela sussurra, agindo como uma caricatura de
menina má da minha melhor amiga. "Eu odeio o que fez com ela,
transformou a inocência dela em seu próprio brinquedo pessoal!”

"Acostume-se a isso, querida." Ele bate a bebida ao lado da de Joseph.


"Eu não estou indo a lugar nenhum. E, a propósito, perdi muitos homens
fodidos, tirando você da gaiola, passarinho e posso, facilmente, colocá-la lá.

"Dante, por favor", choro, mas Anna já está passando por mim e
correndo para o quarto, batendo a porta atrás dela.

Vou seguir, quando uma mão firme se conecta ao meu ombro e me


empurra de volta para o assento. “Cinto de segurança, hora de aterrissar”
diz Dante, quando Joseph fecha o laptop, com um estrondo.

"Mas..."

"Sem mas", diz ele, sentando-se ao meu lado e empurrando uma maçã
na minha mão. “Joseph está certo, ela precisa de tempo. Agora, coma isso e
me conte tudo o que seu pai lhe disse.”
Capitulo Vinte e Cinco

Dante

Afeganistão 2002

Eles nos torturaram por sete dias seguidos, é como uma gangorra de
dor. Quando terminam com Grayson, eles me jogam de volta na mistura.
Posso durar horas, com suas tentativas de prancha de água, mas quando se
revezam, esmagando suas botas e bengalas no meu joelho? É quando,
realmente, tenho que me concentrar.

Nenhum de nós está falando e isso os está irritando. Cinco unhas para
baixo cada uma, e estão começando a perder a calma. Eles trazem outro
cara, um homem fera, para nos dar uma surra, mas toda noite eles nos
jogam de volta em nossa cela, tão vazios em informações quanto em
comida. Oh sim. Eles também estão morrendo de fome.

Na oitava noite, pensamentos sombrios começam a se aproximar de


mim. Eu posso senti-los rastejando para fora das paredes manchadas de
merda e envolvendo as mãos em volta da minha pele. Esse é o meu
retorno, pelo assassinato que cometi, pela vida de pecado que levei. Todo
homem e mulher que já beijei com uma bala, está aqui me assombrando
nesta cela, hoje à noite.

Fecho os olhos e miro cegamente a escuridão. De repente, sou como


uma criança confessional, com um desejo incontrolável de conversar.

Grayson está deitado, inconsciente, no canto. Hoje está com o nariz


quebrado e o braço quebrado, mas esses azuis cinzas nunca vacilam. Decidi
não matá-lo, parece que vamos morrer aqui, de qualquer maneira. Além
disso, ele é a coisa mais próxima de um amigo, que já tive. Não há besteira
com ele. Ele me dá direito. E o fato de não estar cantando seu coração pela
liberdade, diz-me tudo o que preciso saber sobre seu personagem.

"Você já se arrependeu de alguma coisa na vida?"

Digo em voz alta para a sala silenciosa, mas não estou esperando uma
resposta.

"O arrependimento é para bichanos... senhor", resmunga uma voz do


canto.

"Eu não sou seu comandante aqui, Grayson. Não sou mais, então vamos
largar a porcaria do 'senhor'. Comece com o básico, meu nome é... Por um
momento hesito. Eu quero dizer Sebastian. Esse é o nome que me dei,
quando embarquei no primeiro voo para fora de Cartagena. É um nome do
lado da família da minha mãe. O lado que não está morto e enterrado.
"Já esqueceu?" Ele parece divertido. É um homem forte, que encontra um
pouco de humor nessa situação.

“Você quer o outro braço quebrado? É Dante. "

"Pensei que fosse Sebastian?"

"Sim, bem, há muita coisa que você não sabe sobre mim."

“Espanhol ou mexicano?”

Há uma pausa. "Colombiano."

As pedras soltas no chão se deslocam, quando ele se arrasta de costas.


“Fui à Colômbia uma vez, marcou o melhor golpe que já tive.”

"Provavelmente minha", digo secamente.

"O que trouxe você para os EUA?"

Posso dizer que despertei sua curiosidade. Fiz outra pausa. "Eu estava
fugindo de uma vida que não me interessava mais."

Grayson bufa. "Sim, a família faz isso com uma pessoa."

Você não tem ideia.

"Qual a sua história?" pergunto-lhe. Estou conseguindo um certo


conforto, ao conversar com um estranho virtual, na escuridão. É libertador
como o inferno.

"Nome é Joseph, se..." Ele para bem a tempo.

"Por que você se juntou às forças armadas, Joseph?"


"Eu gosto de disparar armas."

"Você já matou alguém?"

"Um par... não vou te fazer a mesma pergunta, sei o que fez, quando o
carro-bomba explodiu na base, perto de Cabul. Sei que salvou aqueles
homens, abatendo o segundo e o terceiro veículo. Ouvi o que aconteceu,
quando o helicóptero caiu.”

Há uma nova medida de a reverência e respeito em sua voz.

Dias de glória. Manchado por um passado sem espaço para perdão.

"Eu matei um pouco mais do que isso", digo suavemente.

"Na Colômbia?"

Minha risada sombria confirma isso. "Você já ouviu falar dos Santiagos,
em suas viagens?"

Ele bufa novamente. "Jesus. Sim. Essa família faz Escobar parecer
doméstico. Mencionei-os a alguns caras, em um bar em Leticia, uma vez.
Nunca vi homens tão assustados. Eles têm todo o país costurado,
funcionários corruptos, as obras.”

Isso cifra. Leticia era um dos principais territórios de meu pai.

"Faça-me essa pergunta novamente, Joseph."

"Qual?"

“O motivo pelo qual vim para os EUA. E então sente-se e ouça.”

"Por que isso?"


Descanso a cabeça contra a parede e suspiro. "Porque eu tenho uma
história de merda realmente fodida, que quero compartilhar."
Capitulo Vinte e Seis

Dante

Se o oceano é meu espírito afim, a África é minha aliada. Há uma razão


pela qual mudei minhas antigas transações comerciais para cá, logo depois
que fui dispensado das forças armadas. A extensão do horizonte queimado
pelo sol, salpicado de bolsões de verde vívido, permitiu-me deslizar nas
sombras. Antes de meu irmão estragar a festa, eu sempre tive a sensação de
que a África estava nas minhas costas.

Nós circulamos pela cidade de Nairóbi, trancados em uma bobina


interminável de tráfego fumegante. Não há controle de faixa e os ciclistas
estão entrando e saindo dos veículos, como idiotas suicidas. Ainda assim,
eu me vejo abraçando sua familiaridade. Há um conforto nisso, que é algo
que me falta dos meus colegas ocupantes neste SUV. Eve não vai falar
comigo, depois desse confronto na aeronave e Joseph também está me
ignorando. Quanto à garota, ela só será feliz quando estiver mijando em
todo o meu túmulo. Eu desprezo o que Bratva de Sevastien fez com ela,
mas se ficar entre Eve e eu novamente, eu mesmo a terminarei.

O hospital particular fica em uma rua tranquila, em Karen, um dos


bairros mais exclusivos da cidade. Usamos a entrada isolada, projetada
para celebridades e criminosos procurados e uma equipe dos melhores
médicos, que meu dinheiro pode comprar, estão esperando por nós.

Anna é levada para uma avaliação imediata, enquanto Eve se senta para
esperar nosso primeiro exame pré-natal. Tomei posição ao seu lado, de pé
sobre ela, mãos nos bolsos, olhando para quem pisar em nosso caminho.
Verdade seja dita, estou cagando. E eu não faço merda, sou Dante Santiago,
pelo amor de Deus. Mas ela ficou naquela floresta por horas. A queda
poderia ter... Foda-se! A confirmação da morte de Isabella, ontem, abalou-
me profundamente. Não posso perder dois filhos em dois dias. Eu
mereço... mas não posso.

"Como está sua mandíbula?" Joseph faz uma pausa ao meu lado, para
me verificar. Talvez ele tenha visto algo no meu rosto, novamente.

"Castigada adequadamente", eu digo, roçando meus dedos contra ele.


Dói como o inferno, mas eu merecia sua raiva. No calor da batalha, perdi o
controle. Perdi de vista o que era importante.

"Petrov quer detalhes e ele insiste em continuar nossa trégua.


Mergulhadores confirmaram que nenhum corpo foi encontrado no veículo
de Sevastien."

Bem, isso não é uma cadela?


"Eu ligo para ele, quando terminar. Alguma novidade da equipe no
Marrocos?”

"Espero uma atualização em vinte minutos."

Um médico de aparência ofensiva apareceu na porta e está ocupado se


apresentando a Eve.

"Mantenha-me informado", digo a Joseph. “Ele não fará negócios em


Amsterdã tão cedo., suspeito que tentará se reagrupar lá."

"E Myers?"

"Ele tentará fazer contato com Eve, novamente. Quando fizer isso,
saberei. Ele está com a porra dos olhos nisso. "

"É melhor você ir", diz ele.

Eve está me chamando. Por que sinto que estou entrando em um poço de cobra?

Ela desliza a mão na minha, enquanto está lá, esperando o ultrassom ser
ligado. Perdoado, finalmente.

"Bem?" pergunto, paciência nunca foi minha virtude. Na verdade, não


prescrevo para muitos deles.

"Um momento." Ele desliza a varinha interna do ultrassom sob o


cobertor de Eve e sinto o som do ar, enquanto ela exala bruscamente.

“Caramba, prefiro você” ela sussurra.

"Eu também prefiro", falo, tentando fazê-la sorrir.


Olhamos para a tela, esperando fogos de artifício, um truque de mágica,
um milagre, enquanto o ultrassonografista mexe com o equipamento, para
manipular seu campo de visão. Adoro enfiar meu pau e minha língua na
boceta da minha esposa, mas isso é tanto quanto o meu fascínio por seus
órgãos internos e então, vejo um bipe. Um piscar de olhos. É tão fraco, mas
é mais do que suficiente para acender uma chama dentro do meu coração
negro. E então eu sei.

Isso é mais do que obsessão.

É mais do que a emoção da matança.

É a percepção ofuscante de que o menor átomo do universo pode trazer


uma megacidade de joelhos.

Joseph está esperando por nós no corredor branco, do lado de fora da


sala, braços cruzados, encostados na parede. De guarda, como de costume.
Eu não teria isso de outra maneira. Assim que aparecemos, ele está
avançando para nos cumprimentar.

"Bem?"

"Nove semanas ou mais ou menos."

Ele estende a mão para mim e a tomo com prazer e por um breve
momento, estou de volta àquela cela com ele, no Afeganistão, quebrando
todas as regras, em nome da sobrevivência. Eu o vejo se virar para Eve.
"Parabéns, querida."

"Acho que isso significa que Whit está finalmente fora do gancho?" Eu a
ouço sussurrar, enquanto ele beija sua bochecha.

Ele deveria ter tanta sorte. Graças a ele, deixei uma mulher grávida em
uma zona de guerra. Whit Harris e minha faca de caça vão se reunir, assim
que voltarmos à minha ilha.

"Eve", eu digo, puxando-a para longe dele. “Sente-se na sala de espera.


Estarei com você em breve.”

Ela sai do meu lado com um sorriso, que me faz querer agarrar seus
cabelos e jogá-la contra a parede. Atire nos lugares certos. Foi o que pensei,
no primeiro momento em que a vi e nunca foi sufocada, nem por um
momento, não importa o que diabos eu a fiz passar.

Não há nada que eu não faria por ela, agora. Sua luz e graça são meu
universo, mas outros elementos mais obscuros ainda precisam ser
erradicados.

“Dê-me os destaques do Marrocos” digo, levando-o para uma sala


lateral e fechando a porta.

"Eles encontraram os homens de Petrov pendurados em um prédio, em


uma vila perto de Erfoud. Gargantas cortadas. Avisos de Bratva esculpidos
em seus peitos. Aqui." ele me entrega seu iPad para mostrar as imagens.

"Então, ele sabe que descobrimos seu segredo sujo do deserto..." Eu os


folheio rapidamente, e então entrego o dispositivo de volta, com uma
careta. "Perdemos o elemento surpresa. Isso só vai levá-lo mais fundo no
subsolo. Ainda não sabemos por que ele tem um acampamento lá fora, e
não temos sua localização. Diga à equipe para continuar cavando.
Precisamos de relatórios por hora, não diariamente.”

“Sanders continua ligando. Ele está pensando em fazer um acordo com


os italianos, pelo controle de Nova York."

Há outro homem sem paciência. "Diga a ele para parar de ser um idiota",
digo, irritado. “Quando tivermos Sevastien, o Bratva dele se dobrará como
um baralho de cartas. É só uma questão de tempo."

"Os mortos de Amsterdã já foram repatriados para a Colômbia e EUA e


autorizei a transferência de um milhão de dólares para cada uma das
contas bancárias de suas respectivas famílias. Ah, e tem isso."

Joseph enfia a mão no bolso e segura um telefone celular. "É da Eve.


Reece pegou do esconderijo, quando ele estava colocando os explosivos. Já
coloquei um rastro nele, só por precaução. Aposto cinquenta dólares que
Myers foi responsável por todas as ligações de Amsterdã."

"Eu não colocaria nada além dessa merda... estou sem contato pelo dia
seguinte. Preciso que você fique no topo de Marrocos. Qualquer pista,
mande-me uma mensagem.”

"Fora da grade novamente tão cedo?" Há um brilho desagradável em


seus olhos, enquanto diz.

"Estou falando sobre isso desta vez, então mantenha seus punhos para
si mesmo", respondo secamente. "Estou voando com Eve até um resort
particular, na costa da Tanzânia. Ela precisa de uma lua de mel e eu preciso
descobrir por que diabos ela está tendo flashbacks de PTSD. Pegue o jato
de volta à ilha hoje, mais tarde, contratei outro.”

"Não vou a lugar nenhum, até que Anna se recupere e depois volte para
a ilha comigo."

Minhas sobrancelhas se erguem de surpresa. "Ela sabe disso?"

"Ela saberá." Seu olhar não se intimida, não tem como ele recuar sobre
isso.

"E se ela quiser voltar para a Flórida?"

Os olhos começam a brilhar. "Se eu precisar de alguma dica sobre como


sequestrar uma mulher, Dante, sei onde encontrá-lo."

"Bem. Faça o que quiser com ela.” Minha mente já está voltando para
Eve. "Apenas mantenha-a longe de mim, até que ela aprenda a soletrar a
palavra gratidão."
Capitulo Vinte e Sete

Eve

Vinte minutos depois de testemunhar a maravilha do batimento


cardíaco de nosso bebê, pela primeira vez, estamos em uma calçada, do
lado de fora do hospital particular, gritando um com o outro. Bem, sou eu
quem está gritando. Dante está me emitindo ordens e depois esmagando o
punho no painel lateral do seu SUV, quando eu não cumpro.

"Juro por Deus, Eve Santiago, se não entrar naquela porra de carro..."

"Eu não vou deixá-la sozinha, Dante, não posso. Você viu em que forma
ela está." Minha culpa está me causando mais doenças do que minha
gravidez hoje. Está queimando um buraco no fundo da garganta e fazendo
meu coração doer.

“Joseph está por perto com cinco dos meus melhores homens. Que
porra você acha que vai acontecer? Sevastien e seu Bratva se divertiram, ela
não vale mais a pena.”
Minha boca se abre com consternação. “Como você pode falar assim,
depois do que eles fizeram com ela? Que diabos está errado com você?"
Alguém pegou o chip de sensibilidade desse homem ao nascer e o
esmagou sob as pernas do berço.

“Você não está entrando no carro, Eve. Isso é o que há de errado


comigo!"

"Nosso casamento é legal?" cutuco meu dedo nele com fúria. "Porque eu
quero tanto um divórcio, agora!"

"Oh, eu vou te dar seu 'divórcio', mi alma", ele ronrona, trocando de


moeda rapidamente e jogando seu duplo sentido para mim, como se fosse
uma granada de mão. "Apenas assine na linha pontilhada e eu
removerei..." Seu olhar cai no meu peito arfante. "Alguma coisa."

Ele está tão perto, que está praticamente me despindo. Todos os meus
sentidos estão girando loucamente, como agulhas perto de um campo
magnético e um pulso explodiu entre minhas pernas. Isto é o que fazemos.
Nós brigamos e depois fodemos e então, a roda gigante gira em torno de
nós, mais uma vez.

"Eu recebo a Ferrari?" digo, inclinando minha cabeça para trás para
encará-lo, vacilando, quando o nó apertado de músculos, sob sua camiseta,
roça nos meus seios. Ele exerce sexo sobre mim como uma autoridade
superior e sou uma fanática por sua religião. Espere o que? Anna. Eu preciso
ficar pela Anna. Ele não está vencendo esse argumento tão facilmente.
"E as casas da Toscana e de São Bartolomeu", ele admite. "Estou
mantendo meu exército, no entanto. Eu não gostaria que você tivesse
ideias. " Os nós dos dedos dele deslizam uma trilha pelo meu braço e outra
onda de excitação encharca meu núcleo.

"Isso será amargo?" Agora estou respirando com dificuldade, como ele.

"Oh, eu estou contando com isso", ele diz suavemente, as manchas


douradas em seus olhos segurando-me em cativeiro, enquanto ele se
inclina para mais perto. Seu cabelo é tão preto, que brilha em tons de azul
sob o sol brilhante do Quênia.

"Eu preciso de um advogado", murmuro, enquanto ele inclina a cabeça.

"Eu posso recomendar alguns." Seu hálito quente está entrelaçando


minha bochecha. "Por que motivos você está se divorciando de mim,
novamente?"

"Seu comportamento irracional." Inclino minha cabeça para trás,


quando seus lábios começam a roçar minha pele.

"Besteira. Eu posso ser muito mais irracional do que isso.”

Um suspiro de riso pega na minha garganta. "Oh, eu acredito nisso."

"É apenas por uma noite, meu anjo, voarei de volta amanhã. Precisamos
desse tempo, você e eu. Ainda estou errado, depois de como reagi ao seu
pai. Dê-me uma noite para te compensar.”

Uma concessão? Dele?


"Você ao menos me deixa dizer adeus a Anna?" enrolo meus braços em
volta do pescoço dele, concedendo um gemido, quando seu perfume rico
penetra nos meus ossos.

"Coloque seus lábios nos meus, Eve Santiago", diz ele, deslizando as
mãos para baixo, avançando para a matança, "e eu darei a você o que
quiser."

Nosso desacordo foi por nada, Anna se recusou a me ver. Fiquei do lado
de fora do quarto dela por mais de uma hora, antes de uma enfermeira,
gentilmente, dar a notícia.

Piscando de volta as lágrimas de frustração, manco meu caminho para o


SUV, que está esperando. Meu tornozelo está começando a inchar
novamente, mas não me importo com o desconforto. Está ajudando a
abafar todas as vozes desagradáveis na minha cabeça.

Dante está parado perto do veículo, segurando uma intensa discussão


de três vias com Joseph e o outro cara da casa segura. Ele olha para cima,
quando me aproximo.

"Bem?"

Balanço a cabeça e me movo rapidamente em direção ao banco de trás.


"Cuide dela", digo a Joseph quando passo. "Diga-me se ela pede..."

"Eu vou", diz ele, cortando-me bruscamente. "Você tem minha palavra."
Nós viajamos para o aeroporto em silêncio. Dante está perdido em uma
conversa de texto, mas sei que o foco dele voltará para mim, quando
estivermos sozinhos. Depois de quase um ano juntos, percebi algumas
coisas sobre ele. Um, ele não confia em ninguém, exceto Joseph, e dois, sua
atenção é desviada, assim que seus faróis escuros mudam para mim.

"Joseph tinha esposa e filho", deixo escapar, enquanto acenamos pela


segurança, sem uma única verificação. O dinheiro e o poder de Dante
falam muito sobre onde quer que vamos neste mundo.

"Como você sabe?" Ele parece surpreso.

“Ele me disse há alguns dias, logo antes do casamento. Como eles


morreram?’’

“Acidente de carro, um ano depois de deixarmos o Afeganistão.” Ele se


move para frente e desliza o celular no bolso de trás da calça jeans. "Seu
filho tinha apenas um ano de idade."

Minha mão cai, automaticamente, na minha barriga. "Deus, isso é


terrível."

"Alguns homens ficam com toda essa merda."

"Engraçado, foi o que ele disse sobre você. Ele começou a trabalhar para
você logo depois?”

“Eu apareci depois do funeral e lhe ofereci um emprego. Minha bala


saiu recentemente da nuca de meu pai, Emilio estava jogando seu peso,
como o maldito psicopata que era e eu precisava de um aliado.”
"Então você virou a dor dele para a sua vantagem?" digo isso sem
pensar, mas ele não parece incomodado.

"Você está levando uma picareta para minha consciência novamente,


meu anjo?" ele diz suavemente, enquanto o carro para ao lado de outra
aeronave menor. "Eu deveria te avisar, pode cavar por um tempo."

"Isso soou errado", digo, voltando rapidamente. "Eu quis dizer que ele
não teve muito tempo para lamentar, antes que você o arrastasse para o seu
mundo."

"Eu não o arrastei para lugar nenhum e é o nosso mundo agora."

Ele aperta minha mão um pouco mais apertado do que é confortável.


"Ele e eu lamentamos de maneiras muito diferentes para você e o resto da
porra da população, mi alma."

"Um couro cabeludo para cada lágrima não derramada", reflito em voz
baixa. "Vocês precisam de uma terapia melhor."

"Hmm... algo assim."

"Você a conhecia?"

"A esposa dele?" Ele franze a testa levemente. "Uma vez.


Resumidamente.’’

"Como ela era?"

“Não me lembro. Você é a única mulher que eu vejo. O resto ficou


insignificante, no momento em que levei uma arma na sua cabeça.” Ele me
dá um sorriso maligno.
"Então você nunca namorou ninguém?"

"Não tenho certeza se você chamaria assim. Eu as via como uma


fraqueza e uma que prometi nunca sucumbir. Eu as castiguei por isso de
acordo.”

"Eu pensei que você disse que nunca forçou uma mulher?" Eu digo
baixinho, tentando ignorar os raios de ciúmes lá dentro. Eu odeio o
pensamento dele com outra mulher, não importa o quão fodido ele estava
com eles.

“Não fisicamente, violei as emoções delas. Eu as fiz me quererem e tive


minha satisfação, quando as rejeitei. Quando elas voltaram rastejando,
todas chorosas e obedientes... esses eram os melhores tipos de merda.” Ele
faz uma pausa. "Eu não sou um bom homem, Eve", ele aperta, vendo meu
rosto. "Quantas vezes temos que passar por isso?"

Suas últimas palavras ecoam na minha cabeça. Lembro-me de Petrov se


chamando assim, no píer de sua mansão em Miami.

“E quantas vezes tenho que lhe dizer que um passado ruim não nos
define? Pare de projetar a pior versão de si mesmo em mim. Nós dois
sabemos que as pessoas podem mudar de boas para más e de ruins para
boas.” Estou pensando em meu pai, quando digo o primeiro.

Ele zomba e balança a cabeça em desacordo. "Um grande ato de


altruísmo não pode desfazer anos de pecado, meu anjo."
"Esta é sua versão de conversas doces, Dante?" Eu digo, socando-o
levemente no braço. "Porque eu tenho que dizer, você, realmente, é
péssimo nisso."

"Minha boca é melhor usada para chupar outras coisas, mi alma", diz
ele com voz rouca, movendo-se para o lado para me encarar, passando a
palma da mão na parte interna da minha coxa e segurando meu sexo. Eu
tenho sua atenção total agora, e ele está determinado a provar isso.

"Você vai me foder neste carro ou no avião?"

Ele joga a cabeça para trás e ri. “Sua boca está ficando mais suja, a cada
dia que passa, senhora Santiago. Acho que o casamento combina com
você.” Sua expressão muda, e eu me encontro em seus braços. "Estou
pensando no avião, não gostaria de traumatizar meus homens, com visões
de como vou foder seu rosto pela próxima hora.”

"Vamos guardar o carro para outro dia", digo com um sorriso rápido.
"Você nunca me fodeu na sua Ferrari... Aquela que estou entrando no
divórcio."

"Há muito uso dessa palavra" foda-se "por aqui, e não há ação
suficiente."

Ele me coloca de volta no banco, com um forte tapa na minha bunda.


"Eu quero você naquele avião e nua, nos próximos cinco minutos."

"E se eu não cumprir?"

"Então vou foder seu rosto por duas horas, em vez de uma."
Mas assim que saímos do veículo, minha luxúria evapora.

"Eu vou ficar doente", gemo, batendo a mão na boca. Os vapores fortes
do sistema de abastecimento de aeronaves estão transformando meu
estômago em papa.

"Suba a bordo", ele ordena, avaliando a situação e me empurrando para


cima. "O banheiro fica atrás."

Ele bate na porta alguns minutos depois. As ondas finalmente


diminuíram, deixando minha cabeça presa ao lado do vaso sanitário, os
braços em volta da tigela.

"Esta é a razão pela qual os homens engravidam suas esposas, durante a


lua de mel, e não antes", diz ele, entrando e envolvendo uma toalha úmida
em volta do meu pescoço. "O que você precisa?"

“Um alívio dos próximos seis meses? Essa criança é tão mal-humorada
quanto você.” Eu forço um olho aberto e o olho.

"Mas você não ficaria sem nós", diz ele, agachando-se para acariciar
meu cabelo.

Apesar de me sentir fraca e exausta, quero ronronar, pela ternura em


seu toque.

“Posso te afastar do banheiro para decolar? É hora de tomar nossos


lugares. As autoridades estão circulando e não pretendo passar minha lua
de mel em uma cela da prisão queniana.”
"Estou culpando você por isso", digo, com um suspiro, enquanto ele me
ajuda a ficar de pé.

"As pessoas me culpam pela maioria das coisas." Ele aceita minha
acusação com um sorriso sombrio. "A verdade é que eu, geralmente,
mereço isso."
Capitulo Vinte e Oito

Eve

Quando chegamos à capital Dar Es Salaam, minha doença está sob


controle, com a ajuda de três rodadas de torradas e alguns goles de água.
Um hidroavião particular está esperando para nos levar a uma curta
distância de uma das ilhas remotas, que fazem fronteira com a ponta
nordeste de Zanzibar. Somos acompanhados por dois soldados, mas eles
mantêm distância e se misturam perfeitamente ao fundo.

A noite está disfarçada, por trás do calor e da umidade da noite. Uma


parede de calor nos atinge, assim que saímos do hidroavião para uma pista
improvisada de areia branca. Não vejo o oceano no escuro, mas sua
fragrância salgada pinta uma imagem vívida em minha mente.

"Onde é este lugar?" pergunto a Dante, enquanto ele me leva por um


bangalô rústico, escondido na costa, meio camuflado por grossas palmeiras
e pinheiros tropicais.

"Oceano Índico", diz ele, destrancando a porta.


"Quantos bangalôs estão aqui?" À luz da lua pálida, posso espiar os
telhados de palmeiras de pelo menos duas habitações vizinhas.

"Dez, mas somos os únicos ocupantes, mi alma. Ninguém vai ouvir você
gritar.” Eu posso ver seus dentes brilhando na escuridão. Ele é meu marido
e estou grávida de seu filho, mas ele ainda tem a capacidade de me irritar.

"Você já esteve aqui antes?"

"Uma vez." Ele não elabora e não pressiono. Há uma corrente de tensão
entre nós, que assumiu uma nuance diferente nos últimos minutos.

O interior do bangalô é deslumbrante, branco, elegante, simples... Uma


enorme cama de dossel ocupa a maior parte do quarto, com vista para uma
varanda privativa e os sons rítmicos do oceano.

"Uau." Eu ando para dar uma olhada. "Este lugar é incrível." Há apenas
um grande espaço aberto nos separando de uma extensão selvagem da
natureza.

"Chega de portas trancadas, mi alma", diz ele, vindo por trás de mim
para me prender com os braços. "Agora não. Nunca."

"Parece bom para mim."

Eu fecho meus olhos e descanso a parte de trás da cabeça contra seu


peito. Aqueles dias pertenciam a uma mulher muito diferente, que lutava
contra um destino que estava escrito nas estrelas, desde o início. De
repente, há algo grosseiro e desagradável esfregando meus pulsos. Meus
olhos se abrem novamente, quando ele puxa o nó com mais força. Que
diabos?
"Por que você amarrou meus pulsos?" Exijo com raiva, girando para
enfrentá-lo, mas minhas próximas palavras morrem nos meus lábios. Seus
olhos estão queimando poços de carvão, o rosto envolto em escuridão. O
monstro de Dante está saindo para jogar hoje à noite.

Engolindo rapidamente, dou um passo para trás e colido com a porta do


banheiro.

"Oh querida", ele diz sorrindo, com o olhar no meu rosto. "Você não
esperava uma viagem fácil em sua lua de mel, não é?"

"Dante", digo, com uma voz trêmula. “Desamarre-me agora. Eu não


estou jogando estes..."

Ele se move como o assassino treinado que é, segurando meus cabelos e


puxando minha cabeça para trás, para entregar sua primeira retribuição da
noite.

“Não comece a emitir ordens para mim novamente, meu anjo. Eu tive
alguns dias de merda e estou procurando uma saída para eles hoje à noite."

Meu couro cabeludo dobra com seu aperto firme. Lágrimas brotam dos
meus olhos. "Só não me machuque", sussurro. "Não machuque o..."

"Oh, eu pretendo que você o machuque, mi alma." Sua voz suaviza como
uma carícia, embalando-me em uma falsa sensação de segurança, enquanto
ele decide em qual parte do meu corpo jantar primeiro. "Mas depois farei
tudo melhor para você."
Tomando meus braços, ele me leva em direção à cama e as puxa acima
da minha cabeça. "Mantenha-os lá", ele ordena, prendendo as pontas da
corda ao redor da camada superior do dossel.

Atordoada e nervosa, minha respiração está saindo em grandes


suspiros. "Eu não sou uma das suas vítimas de tortura, Dante. Eu matei por
você, morreria por você." Eu preciso trazê-lo de volta à minha luz.

"Verdade", ele concorda. Não que isso esteja fazendo muita diferença
para o que ele tem em mente. "E você é muito mais doce quando chora."

“Não quero chorar. Eu quero te abraçar. Deixe-me te amar."

"Talvez mais tarde."

Ele dá um passo casual para me considerar, seguindo seu olhar por


cada centímetro trêmulo do meu corpo, despindo-me, aviltando-me e
então, está desengatando algo da costura interna, perto da bainha do jeans.

"Não se atreva", sussurro, sentindo a cor drenar do meu rosto, quando


vejo a faca na mão dele. "Vou gritar a maldita ilha, se for preciso."

Ele joga a cabeça para trás e ri. "Alguém não estava ouvindo antes,
estava? Faça tanto barulho quanto quiser, meu anjo, ninguém vai te salvar."

Ele começa a rondar em minha direção, como o belo e terrível pesadelo


que é.

"Seu filho da puta!" Eu grito com ele, testando sua teoria, mas quando
ele se aproxima, eu me encolho, puxando as restrições. Eu sou uma
bagunça quente de contradição ,ao redor dele, como sempre.
Dentes à mostra, sua expressão é feroz, quando ele levanta a ponta
romba da lâmina nos meus lábios e pressiona com firmeza, o aço frio
enviando pontadas de medo, através da minha pele.

"Beije", ele ordena.

Eu tenho que jogar com ele no seu próprio jogo. Desafie-o. Empurre de volta
para ele...

Eu fecho meus lábios e ele sorri.

“Boa menina. Você acabou de fazer meu pau palpitar.”

"E você acabou de molhar minha calcinha", eu grito. Eu posso sentir o


calor e a umidade entre as minhas pernas. "Por que não puxa meu jeans
para baixo e descobre por si mesmo?"

Ele se afasta e olha para mim, projetando indiferença, mas peguei o


obstáculo em sua respiração. Agora eu tenho a atenção dele.

"Você se lembra daquele dia na praia?" ele murmura, recuperando-se


rapidamente, deslizando a lâmina pelo vale dos meus seios, tentando me
intimidar, mas seus truques não estão mais funcionando. "De volta ao meu
complexo?"

"Você veio me punir."

"Eu vim te foder."

"E então eu peguei você de volta, duas vezes mais difícil." Mantemos o
olhar um do outro, um impasse abrasador de escuridão e luz. Ao mesmo
tempo, posso sentir sua força e autoridade penetrando na minha pele,
deixando-me bêbada e inebriante.

E acho que gosto disso.

"Você não vai me contradizer?" Meu desafio paira entre nós, mas ele fica
em silêncio, observando como o equilíbrio de poder se inclina a meu favor,
pela segunda vez em nosso relacionamento. "Eu sou sua rainha, Dante
Santiago", sussurro, endireitando as costas e inclinando o queixo, para
disparar balas azuis de safira contra ele. "E você vai me tratar como tal."

Os cantos da boca dele se contraem. "Eu n..."

"Fique de joelhos, seu bastardo assassino e me adore!"

Minhas palavras vão até o oceano, a saliva manchada na frente de sua


camiseta preta. Seus olhos se arregalam apenas uma fração, mas é o
suficiente para me dizer que o choquei.

Lentamente, sem palavras, eu o assisto de joelhos e uma euforia


selvagem, mais ofuscante do que qualquer holofote, explode dentro de
mim. Há um barulho, quando a faca dele bate no chão e com as mãos nos
meus quadris, ele mergulha o rosto entre as minhas pernas e respira
profundamente.

"Eu pensei que tinha dito para você remover meu jeans."

Ele abre os botões e puxa suavemente.

"Mais duro."

Meu jeans está puxado pelas minhas pernas.


"Agora minha calcinha."

Ele enfia os polegares na cintura e os arrasta pela minha bunda, para se


juntar ao meu jeans. Segurando seu olhar novamente, saio deles com
cuidado, para não sacudir meu tornozelo inchado e chutá-los através da
sala.

"E agora minha rainha?" ele pergunta e quase venho, da admiração


refletida em seus olhos escuros. Em vez disso, enrolo minha perna em seu
pescoço para aproximá-lo da minha boceta gotejante.

"Agora, meu rei", murmuro baixinho, "você vai me fazer ficar tão dura
em seu rosto, e vão me ouvir gritando seu nome, do outro lado da África".

Emitindo um rosnado, ele prende minha outra perna em volta do


pescoço. Com duas mãos fortes segurando-me pelos quadris, ele começa a
deleitar-se com fome, puxando forte meu clitóris, antes de empurrar sua
língua dentro de mim, a barba esfregando por toda a minha carne sensível.

"Você tem um gosto muito bom, mi alma", eu o sinto estremecer.

"Mais", eu choramingo, inclinando a cabeça para trás, enquanto seu


prazer me consome. Anseio por tocar seu cabelo, moer a boceta contra ele,
mas minhas mãos ainda estão presas e atadas à cama de dossel. Estou
completamente à sua mercê e posso sentir o equilíbrio do poder tombando,
novamente.

Seu dedo mergulha na minha bunda e meu orgasmo me transforma em


um ser tremente. Antes que eu possa recuperar o fôlego, ele está de pé,
minhas pernas, agora, ligadas à cintura. Usando uma mão para me segurar,
ele rasga seu jeans como um animal selvagem, puxando-o para baixo de
seus quadris e pairando minha buceta logo acima de seu pau, para se
lubrificar com meus sucos.

“Foda-me, Dante! Maldito!" estou com raiva dele, precisando de outra


correção. Sua antecipação está me matando, mais uma vez.

"Suas ordens parecem mais implorando, meu anjo." Seu sorriso voltou,
ele está de volta ao controle.

Ele me provoca com seu pau, abaixando-me suavemente, para que sua
ponta aveludada quente deslize uma polegada entre as dobras, mas não
mais. Negando-me e mantendo-me viciada, como um drogado privado da
máxima suprema.

"Mais. Mais. Dê-me mais!" Minha cabeça bate em seu ombro e o ouço
rir.

"Como quiser, minha rainha", diz ele, avidamente, presenteando-me


outra polegada, fazendo meus olhos revirarem em êxtase.

"Agora, deixe-me te mostrar como um verdadeiro rei conquista tudo."


Capitulo Vinte e Nove

Eve

O mundo se inclina e um novo amanhecer surge, mas estou muito


ocupada chorando de exaustão e implorando por alívio, para perceber
qualquer uma de sua beleza ousada. Eu não assumi o controle novamente,
não tive chance. Ele me fodeu e me castigou a noite toda, mas nunca forte o
suficiente, ou prolongada o suficiente para me fazer temer pelo nosso bebê.
Eu dirigi seu monstro, no momento em que gritei para ele me adorar, mas,
algumas de suas advertências mais inventivas, desde então, fizeram-me
questionar se realmente me casei com o diabo.

Meu corpo está encharcado de suor, as coxas e bunda grudentas com


seu sêmen. Os pedaços da minha camiseta branca estão espalhados pelo
chão, como confetes de algodão. Ele o separou do meu corpo com a faca,
algum tempo depois que desamarrou minhas mãos e me inclinou sobre a
cama. Estou de joelhos de novo, seu pau na minha boca, enquanto ele,
implacavelmente, bombeia o último orgasmo em mim.
Minha mão aperta seu quadril, enquanto ele se derrama na minha
garganta, seus gemidos estrangulados adicionando baixo à música do
oceano. Meu cuspe e lágrimas estão cobrindo meu queixo e a mandíbula
está queimando do esforço, mas amo dar-lhe prazer, impedindo-me de
parar, antes de reivindicar cada gota da minha vitória.

Finalmente, ele solta minha cabeça e cai na cama. Caio ao lado dele,
lambendo os traços de seu esperma dos meus lábios.

"Somos iguais em todos os sentidos agora, meu anjo." Sua voz é áspera
com fadiga, mas ainda detecto uma nota de respeito. Ontem à noite fiz
algo, que nenhuma outra pessoa viva fez antes. Levantei-me para Dante
Santiago, forcei-o de joelhos e vivi para contar a história. Se não estivesse
grávida, pegaria uma garrafa de champanhe ao amanhecer e brindaria meu
triunfo.

"Igualdade de oportunidades... Isso significa que compartilhamos as


ordens a partir de agora?" Minhas pálpebras se fecham e sinto a brisa fresca
do mar, que retira o calor do meu corpo e agita as redes mosquiteiras
brancas.

"Apenas na minha cama."

"Que tal começar a chamá-lo de cama?" contra-ataco, mas um ronco


suave me diz que ele já está dormindo.

Eu me enrolo ao seu lado, passando a palma da mão sobre seu


abdômen, saboreando o contraste entre nossos tons de pele dourados e
brancos. Movo as pontas dos dedos mais alto, para traçar a mandíbula forte
e o nariz longo e reto, as características de um anjo caído. Se os olhos são
uma janela para a alma, então sua boca é uma porta aberta para o meu
coração. Apesar de todos os seus defeitos, pecados e sede de sangue, esse
homem nunca mentirá para mim. Ele usa a palavra 'amor' com moderação,
mas quando a concede, pendura meu próprio coração entre as estrelas no
céu. Eu amo os ossos deste homem, amo a luz, que ele luta tanto para
reprimir. Eu amo o escuro que ele desencadeia, para me manter segura.

Repito os movimentos e ele não vacila ou se afasta. Sabendo que ele tem
um sono leve, deve estar tão destruído quanto eu.

Puxando o lençol até a cintura, dobro os joelhos até o peito e tento


descansar também, mas toda vez que fecho os olhos, eles parecem se abrir
novamente, como se programados. Eventualmente, desisto de dormir e
saio da cama, pegando sua camisa descartada e indo para o banheiro.

Fechando a porta silenciosamente, uso o banheiro e deslizo os braços


pela roupa, encontrando um objeto quadrado sólido achatando meu peito.
Intrigada, tiro o celular do bolso frontal e pisco em choque. Meu iPhone...
mas como? Eu poderia jurar que deixei na mesa de cabeceira do meu quarto,
na casa segura.

Andando pela varanda de madeira, encolho-me em uma das


espreguiçadeiras e ligo o aparelho. Ainda há alguma cobrança, então passo
um pouco de tempo folheando as mensagens. Dante.. Dante ... Dante... Não
há nada novo, apenas um monte dele sendo um burro teimoso e arrogante,
como sempre. Então me lembro dos eventos da noite passada e meu
beicinho se transforma em um sorriso. Não há atualizações de Joseph sobre
Anna, mas isso não surpreende, também não há barras de sinal. As ilhas do
paraíso não vêm com seus próprios sites de celular. Eu só vou ter que
esperar até voltarmos a Nairóbi mais tarde, para ver como ela está.

Por alguma razão, eu me vejo entrando na minha lista de contatos a


seguir. É muito patético e já sei de cor: Anna, Dante, Joseph, Whit... E então
paro, porque há outro nome ali, um novo nome, que foi adicionado sem
minha permissão e que eu nunca esperava ver na minha lista de contatos
novamente.

Pai

Que.

No.

Inferno?

Meu coração está batendo forte, enquanto penso em todas as maneiras


pelas quais ele poderia ter se apossado dela. Há apenas uma explicação,
deve ter estado em casa, no nosso quarto, depois de perseguir Mateo e eu na
floresta.

"Quem diabos te deu permissão para sair da minha cama?"

Minha cabeça se levanta. Dante está de pé nu, na entrada do nosso


bangalô e esfregando os olhos. Pela primeira vez ele não tem uma ereção,
mas meu núcleo aperta de qualquer maneira. Se eu não estivesse tão
dolorida, eu o arrastaria de volta para a cama.
"Não conseguia dormir e agora é a nossa cama, lembra? Como você
chegou a isso?” Eu seguro o celular para ele ver.

"Reece encontrou e deu a Joseph."

Ele sai, para dar uma olhada no oceano, uma rica tapeçaria de azuis
cristalinos, cercada por um recife de formato oval. "Porra, é lindo aqui
fora."

Sem suas roupas, posso apreciar a elegância fluida de seu tônus


muscular, as linhas duras e as planícies suaves, as cicatrizes e a história.

"Quem é Reece?"

Ele me lança um olhar irritado. "Ninguém de importância para você."

"Lembrei-me de algo do meu flashback, no outro dia."

"Oh?"

"É estranho... tenho essas três frases em minha cabeça, sempre que estou
com medo. Aconteceu novamente na floresta.”

"Que frases?"

"Quarto branco, luz vermelha, ele", listo em voz baixa.

"Ele?" Confie em Dante para entender isso. "E você tem certeza de que não
tem nada a ver com Miami?"

Balanço a cabeça. "Não é a festa, ou todas essas outras coisas com


Emilio."

"Mas não aconteceu quando eu te assustei, ontem à noite?"


Ele tem aquele olhar desconfortável novamente. Se eu não tivesse
recuado, Deus sabe até onde ele teria levado.

“Eu me senti mais no controle então. Não senti ninguém na casa segura.

Ele se inclina e coloco os braços em minha volta, prendendo-me no


lugar.

"Você estava, definitivamente, no controle ontem à noite, mi alma", diz


ele rispidamente. "Gosto da ideia de minha esposa me deixar de joelhos."

"Eu gostei de você estar lá."

Ele sorri e pressiona seus lábios firmemente contra os meus. "Apenas


não se acostume com isso." Ele se vira e volta para o bangalô. "Recebi
algumas roupas novas. Por mais que eu goste de arrancar roupas do seu
corpo, meu anjo, não gosto de meus soldados babando por todos os seus
seios nus.’’

Quando voltamos a Nairóbi, naquela tarde, meu cansaço é como um


corpo inteiro batendo no chão de concreto. Há algo estranho acontecendo e
culpo os hormônios da gravidez. Parece que não consigo me ajustar aos
diferentes fusos horários e meu relógio interno acabou comigo, sem deixar
endereço de encaminhamento. Está tudo bagunçado, de cabeça para baixo.
Continuo adormecendo, quando deveria estar bem acordada. Além disso,
minha fome é insana.
Dante não diz uma palavra, enquanto devoro dois sanduíches e um
prato de macarrão. É melhor assim. Se ele mencionar o controle de calorias,
eu o esfaqueio na mão com o garfo. Estamos sentados em um pequeno café,
perto do hospital particular, esperando por Joseph. Anna não vai me deixar
chegar perto dela novamente. Somente o alto texano recebeu acesso
privilegiado ao seu círculo interno.

Não estou amarga por isso, apenas triste. Mas se é isso que Anna
precisa de mim, para melhorar, farei o que for preciso. Vou colocar quatro
continentes entre nós, se for preciso. Eu tentei me imaginar na posição dela.
Eu me forcei a considerar o que poderia ter acontecido, se Dante não
tivesse aparecido na festa de Sevastien, se o russo sádico tivesse levado
minha surra na direção, estava obviamente indo. Imagino todas as emoções
que sentiria agora: a mágoa, a vergonha perdida, os pesadelos...

Quarto branco.

Luz vermelha.

Ele.

Devo ter sacudido ou tido algum tipo de reação estranha. Quando olho
para cima, Dante está me observando cuidadosamente, por cima do laptop
dele. Coloquei uma mão no colo do simples vestido preto e branco e
empurrei os talheres.

Há uma pausa. “Por que eu não tinha as frases na festa? Os que estão na
minha cabeça?” falo confusa, ciente de que não estou fazendo nenhum
sentido, mas agarrei-me, com uma compulsão louca, para divulgar as
palavras de qualquer maneira. “Eu estava aterrorizada naquela época,
estava apavorada com Emilio...”

Ele franze a testa e bate o iPad de volta na mesa. "Quando voltamos à


ilha, chamarei um especialista em TEPT."

"Eu conheço um cara."

Nós dois olhamos, quando Joseph se aproxima, o longo passo


consumindo a distância entre nós. "Vou ligar para ele. Como foi a
Tanzânia?”

"Quente", afirma Dante, colocando uma dúzia de significados imundos


na palavra.

Joseph levanta as sobrancelhas, mas não comenta.

"Ok, vamos lá", eu digo, tomando a decisão naquele momento. Odeio os


sentimentos de pavor e medo, que acompanham esses flashbacks e quero
que desapareçam. "Como está Anna?"

"Fisicamente bem." Ele deixa a frase em anexo pendurada.

Merda.

“Os médicos querem mantê-la sob observação, por mais alguns dias.
Vou ficar com ela, até que a liberem.”

Dante não reage, o que para ele é a pior reação possível. Eu sento lá e
espero a explosão.

"Vamos falar sobre isso em outro lugar, não é?" ele diz
preguiçosamente, levantando-se.
Atiro a Joseph um olhar de aviso, mas ele olha de volta, seu rosto tão
vazio como sempre. Eu os assisto desaparecer no corredor da cozinha e
então, uma porta bate com força suficiente para fazer a mesa tremer.

Empurro o prato para um lado e puxo meu iPhone novamente,


encarando o nome da nova adição indesejada à minha lista de contatos.

Pai

Como Dante, estou manipulando uma única palavra, para criar uma
centena de novas. "Pai" costumava implicar segurança, conforto e
esperança. Agora, tudo o que tenho é traição e decepção. Ainda assim,
encontro meus dedos se afastando em direção ao botão de chamada, pois o
mesmo sentimento que tive na floresta me domina. Eu preciso que ele me
olhe nos olhos e me diga por que pegou meu amor e confiança e os jogou
no chão. Acima de tudo, preciso saber se minha mãe ainda está viva.
Petrov me prometeu que a encontraria, mas não ouço uma palavra dele há
dias.

Não posso usar este telefone para contatá-lo, sei que há um traço nele.
Dante o mataria, antes mesmo que eu tivesse a chance de me sentar cara a
cara com ele.

"Bem, se não é a esposa favorita de Dante."

Um sotaque zombeteiro familiar me pega de surpresa, quando Rick


Sanders entra no café. Ameaçadoramente bonito e com um charme azedo,
o amigo e aliado de Dante é o tipo mais assustador de criminoso: um
traficante de drogas, com ética tão bagunçada quanto seu produto.

"Você o faz parecer o rei Henrique Oitavo", digo levemente, colocando


meu celular de bruços sobre a mesa. Apesar de todas as suas falhas, Rick
nunca trairia Dante, mas ele ainda me irrita. "Você está muito longe de
Miami."

"Eu poderia dizer o mesmo sobre você." Ele sorri e ocupa o assento
recentemente desocupado de Dante. “Parabéns, a propósito. Estou
pensando em lhe comprar um encantador de serpentes, como presente de
casamento.”

"É assim que você se fala no espelho todas as manhãs?"

"Dante sabe que você corta diamantes, com essa língua?"

"Dante argumentaria que ele tem projetos melhores do que esse."

Rick ri e balança a cabeça, com respeito renovado. “Eu subestimei você,


Eve Santiago, realmente, é uma de nós agora.”

"Não exatamente", eu digo firmemente.

“Então, como prevê seu destino como esposa do homem mais perigoso
do mundo? Divorciada, decapitada...?”

"Sobrevivente."

"Touché". Ele ri de novo e toma um gole da minha água intocada. O


homem nunca teve limites. "Dante está falando?"

"Ele está com Joseph em algum lugar. O que está fazendo aqui?"
"Ouvi o que aconteceu com sua amiga." Seu sorriso fácil murcha em
algo mais sinistro. “Eu precisava sair dos EUA por um tempo e tive
vontade de checá-la. Ela é uma ex-funcionária minha, afinal.”

Anna trabalha como barista, em um dos clubes de Rick, em Miami. Ele é


dono da maioria deles. Os criminosos costumam fazer.

"Por que ex?" Eu digo, franzindo a testa para ele. "Você não a está
demitindo, por causa da sua ausência, está?"

Rick olha para mim friamente. “Você acha que eu dou a mínima para
essas merdas? Meu clube queimou. Todos queimaram.”

"Quando?" Eu suspiro. "Dante sabe?"

"Claro que sabe."

Ele está tomando os restos da minha Coca-Cola da dieta, agora. "Era o


Bratva de Sevastien. Ele assumiu o controle de todos os meus negócios, em
retaliação por você e pela pequena façanha de Petrov, na semana passada.
Meu dinheiro, meu dinheiro roubado” ele corrige com uma careta
“ajudaram a firmar seu acordo de Amsterdã com os romenos, para garantir
a continuação de sua rede de tráfico. Então, de uma maneira indireta, sinto
uma dívida de responsabilidade pelo que aconteceu com Anna. Além
disso, ela é gostosa pra caralho e eu não me importaria de um pedaço,
quando ela se recuperasse. Isso é, se Grayson parar de agir como um idiota
superprotetor ao seu redor."
Os criminosos têm o código de ética mais estranho. Esse homem deve ter
torturado e matado centenas, mas quando alguém que ele conhece e gosta
de se machucar, ele se irrita.

Eu o vejo desfazer a frente da jaqueta e jogar seu celular na mesa, ao


lado da minha. Olho para ele, quando uma ideia começa a se concretizar.

"Quando você está voltando para os estados?" Pergunto-lhe.

"Amanhã. Petrov também está voando. Depois de Amsterdã, Dante


quer que eu o ajude, agindo como mediador entre eles. Parece que ele
ainda não está pronto para romper os laços entre a Colômbia e a Rússia."

"Graças a Deus por isso." Dante está finalmente recuperando a razão, no que
diz respeito a Petrov? "Como reembolso, ele está recebendo seus negócios de
volta?"

“Você entende rápido. Eu disse que você era uma de nós.”

Há um barulho atrás de nós e Dante volta à parte principal do café,


parecendo perigosamente calmo. Joseph não está à vista em lugar algum.

"Ah, aí vem o noivo feliz", declara Rick, rodeando perigosamente perto


de ter sua cabeça esmagada na mesa, por meu marido.

"Cala a boca, Sanders, não estou de bom humor. Estamos indo embora”
ele retruca, apontando para eu ficar de pé.

"Tão cedo?" Rick parece imperturbável por sua entrada. Acho que
depois de todos esses anos na empresa de Dante, ele já está acostumado.
"Mudança de planos. Você também vem, Sanders. Acabei de confirmar
que o campo marroquino de Sevastien está recrutando e treinando jihads.”

"Puta merda!" Sento-me rapidamente. Até Rick parece atordoado.

"Do tráfico ao terrorismo, isso é um grande salto para uma foda da


família Petrov".

"Você acha que ele está planejando alguma coisa?" pergunto baixinho.

Dante encolhe os ombros, mas posso dizer que está nervoso com isso.
“O tráfico gera uma merda de dólares. Pode ter sido uma frente
arrecadadora de dinheiro para essa outra organização, ou eles o abordaram
posteriormente, para obter financiamento. Precisamos de mais informações
para descobrir isso.

"Sevastien não se importa com religião", zomba Rick.

"Não, mas ele se importa com a estabilidade das relações leste e oeste e
como isso afeta sua conta bancária."

Rick fica muito quieto. "Você acha que ele vai tentar minar isso?"

"Dante, isso é maior que todos nós", sussurro, o pânico se espalhando


por todo o meu corpo como um veneno. "Precisamos avisar o FBI, ou a
CIA, de alguma forma."

Os olhares que ele me lança derrama desprezo em brasa, por toda a


minha sugestão. "Foda-se o FBI e a CIA, todos eles são um bando de idiotas
corruptos. Nós mesmos vamos lidar com isso. Sanders, vou com você
encontrar Petrov, amanhã de manhã.
"Vamos voltar aos EUA?" Uma emoção nervosa passa por mim. Sinto
falta do meu país de origem, mas sei como é perigoso para nós lá. Dante é
um dos criminosos mais procurados nos EUA.

"Parece que sim", ele diz irritado, e posso dizer que está longe de estar
feliz com isso.

Estamos todos preocupados, no voo de volta para Miami. É uma


atmosfera estranha sem Joseph, como se houvesse uma peça de quebra-
cabeça faltando e ele é quem conecta toda a imagem. Está afetando Dante,
mais do que ele pensa. Algumas vezes eu o vejo virar a cabeça para
consultar seu segundo em comando, apenas para ser recebido por um
espaço vazio flagrante.

Ele continua se servindo de bourbon após bourbon, enquanto ele e Rick


vasculham as informações do Marrocos, apresentando e descartando
diferentes teorias.

Eu gostaria de poder dizer que meus pensamentos estavam tão


concentrados. A verdade é que as minhas estão por todo o lado,
espalhando-se como sementes de dente de leão ao vento e atoladas em
pânico.

E se as autoridades nos alcançarem?

E se Anna nunca me perdoar?


Acima de tudo, estou me perguntando quanto tempo tenho, até Rick
Sanders descobrir que roubei o celular dele.
Capitulo Trinta

Dante

Afeganistão 2002

Joseph se foi por dois dias. Tenho contado as horas, desde que o
arrastaram da cela e chutaram água na minha cara. O desconforto se
assemelha a uma refeição ruim, na boca do estômago, enquanto vejo o sol
se arrastar pelo céu.

A palavra 'Rebecca' gira em volta da minha cabeça. Imagino uma


pequena loira com seios grandes, sentada ao telefone, com a barriga cheia
de braços e pernas, recebendo o pior telefonema da porra da sua vida. Se
sair daqui, eu mesmo viajarei para o Texas. Vou dizer a ela que seu marido
foi um dos filhos da mãe mais corajosos que já conheci.

Joseph me fez todas as perguntas certas, quando revelei minha


verdadeira identidade. Ele foi destemido como sempre. A única vez que o
vi hesitar, foi quando falei sobre os cinquenta assassinatos em cinquenta
noites, que cometi sob as instruções de meu pai. Foi meu 'bem-vindo ao
ritual de iniciação às empresas familiares', mas não senti muita vontade de
comemorar, enquanto limpava minha faca no ombro de um adolescente
morto, que estava vendendo algumas gramas de droga no nosso território.

Eu disse a ele por que tinha saído e ele assentiu, como se tivesse todas
as minhas malditas razões e não precisasse de mais explicações. Depois, ele
tentou apertar minha mão. Foi um momento embaraçoso, com o fato de
termos dois braços quebrados entre nós, mas parecia que um vínculo
estava sendo formado naquele poço do inferno, uma conexão que
significava algo para nós dois.

O crepúsculo está caindo no terceiro dia, quando o raio é finalmente


puxado de volta. Dois homens chutam Joseph pela porta e o ajoelham,
antes de fechá-la novamente.

Ele está em má forma, o pior que já vi, com sangue por todo o rosto.
Ainda assim, há uma energia nervosa sobre ele que, instantaneamente,
chama minha atenção.

"Pensei que você tinha aulas de canto", digo a ele suavemente.

"Foda-se, Santiago." Ele dá uma risada áspera, que se transforma em


uma tosse seca, quando se vira de costas e fica lá, piscando para o teto. "Eu
não estou dando a eles merda."

"O que aconteceu?"

“Nova tática, jogaram-me em um buraco. Os ratos eram muito


saborosos, mudaram de comer sujeira.’’
"Mais alguém lá embaixo?"

“Dois corpos mortos. Acha que eles estavam tentando me dar


pesadelos?

Eu ri. "Você não pode ter pesadelos, se não conseguir dormir."

"Eu dei um tapinha neles."

"O que, nos corpos?" Homem inteligente. Eu prendo a respiração.


"Qualquer coisa?"

Há uma longa pausa. "É melhor você não estar me enganando sobre o
seu passado, Santiago", ele adverte, puxando uma pequena faca debaixo de
sua roupa rasgada. “Porque a única maneira de sairmos desse buraco do
inferno é infligindo algum assassinato sério a esses filhos da puta. Estou
certo de que você é o melhor homem para o trabalho.’’

Sem palavras, pego a arma dele, virando-a e avaliando seu valor, a


esperança surgindo em minhas veias, como um bom vinho. Está um pouco
enferrujada, mas a lâmina é afiada o suficiente e um plano começa a se
formar em minha mente. "Assista e aprenda, Joseph Grayson", digo a ele
com um sorriso. "Apenas assista e aprenda."
Capitulo Trinta e Um

Eve

Dante tem todo o andar superior do The Regency reservado para nós,
sob um pseudônimo, é claro. É um hotel chique e sofisticado, no centro de
Miami, onde uma vez ganhei um prêmio, por um emprego que não me
lembro mais. Amar Dante é como cair em um buraco negro, tudo ao seu
redor é eviscerado, mas se ele optar por se afastar de mim, eu seria
eviscerada de qualquer maneira e sei que oscilo nos dois sentidos. Ele está
tão enganado comigo, quanto estou com ele agora.

Ele está se escondendo das autoridades à vista. Rick nos acompanhou


até aqui, assim como dez homens de Dante e cinco de Rick. Rick tem uma
mansão em South Beach, o mesmo lugar onde eu costumava ter um
apartamento. Ele mora do lado rico, do outro lado, dividido do meu por
dois milhões extras no banco e menos moral. Está muito quente para ele
voltar para lá agora. O FBI passou a residir, permanentemente, nas ruas do
lado de fora. Ele e Petrov estão em condições decentes, mas, claramente,
não é suficiente para garantir a proteção de seu filho, Roman, ou o agente
do FBI Peters, como ele gosta de ser chamado, quando não está fingindo
jogar dois lados da mesma moeda.

Depois de pedir um hambúrguer e batatas fritas no serviço de quarto,


eu me tranco dentro de um dos banheiros de mármore e puxo o celular de
Rick. Eu tenho segundos, antes que ele verifique seus bolsos e cancele o
serviço. Já estou com tempo emprestado.

Sentando-me com força ao lado da banheira, transfiro o número do meu


telefone para o dele. Meu coração está batendo tão forte, que posso sentir
as veias na minha testa latejando. Minhas mãos estão tão úmidas, que
quase deixo o aparelho cair duas vezes. Estou suspensa entre um erro ruim
e um erro ainda maior. Estou traindo meu marido, querendo falar com
meu pai, que pode ter ajudado a traficar sua filha e sequestrar sua melhor
amiga. Estou buscando uma verdade, que só me cause mais dor.

"Você foi alimentada com mentiras, menina. Tantas mentiras.”

Toda essa situação está me dividindo em duas. Eu quero correr e me


esconder nos braços de Dante, e então, o rosto da minha mãe brilha diante
dos meus olhos. Antes que eu perceba, meu dedo está pressionando o
botão verde e prendo a respiração.

Toca e toca. Eu quase desisto, antes que uma voz responda, com
lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

"Bebê. Eu sabia que você ligaria.”


"Papai?" Eu murmuro. As mesmas imagens da floresta estão me
assombrando novamente. Estou tremendo tanto, que meus dentes são
como átomos em colisão dentro do meu crânio. Não queria te deixar naquele
hospital. Eu fui com ele para te salvar. "O que é que você fez?"

Há uma pausa e depois um suspiro. "Podemos conversar sobre isso?"

"Você ia me matar naquela floresta?" Isso é pra valer? Nenhuma filha


deveria fazer essa pergunta ao pai.

"Nunca, menina." Sua negação feroz traz outra onda de lágrimas.


“Encontre-me em nosso lugar. Você se lembra do nosso lugar, não é?”

Tam’s Diner na 10th. As lembranças são tão lúcidas, que quase sinto o
gosto do café com filtro ruim. Telhas vermelhas. Deleite de sábado. Britney
na jukebox. Era nosso e era real. "Eu lembro", sussurro.

"Você está em Miami?"

Concordo, antes de lembrar que ele não pode ver gestos abaixo da linha.
"Sim."

"Seis da tarde. esta noite. Esperarei com seu shake favorito.” Crush De
Morango. "Vejo você então."

Ele desliga e encaro o telefone, incrédula. Isso realmente aconteceu? Já são


quase quatro e meia e levaria pelo menos trinta e cinco para atravessar a
cidade.

Do outro lado da porta ouço uma batida fraca, quando meu serviço de
quarto chega. O mais rápido possível desligo o celular de Rick e o escondo
no fundo da prateleira da penteadeira, atrás de duas toalhas brancas.
Jogando minhas mãos sob uma torneira aberta, eu as limpo e saio do
banheiro. À minha esquerda, vejo Rick rondando em volta do meu
carrinho de serviço de quarto, no saguão, como um animal faminto,
levantando a tampa da placa de metal e roubando minhas batatas fritas.

"Devo remover os dedos dele?" rosna uma voz no meu ouvido.

Eu pulo de susto, meu cérebro lutando para desassociar meu pai da


intenção de Dante. Ele está falando sobre Rick...

"Ninguém rouba meu anjo grávido."

"Não há necessidade de derramamento de sangue por algumas batatas


fritas." Eu me inclino contra a parede muscular de Dante e puxo seus
braços em um laço apertado em volta de mim, tentando abraçar meu
engano iminente. "Não sinto tanta fome, depois do almoço de oito pratos."

“Posso fazer isso por esporte? Vou deixar você assistir."

"Você é inacreditável. Como pode brincar sobre essas coisas?”

“Encontre humor em qualquer situação, mi alma. Mantém você afiada.”

Puxando-me de volta para o banheiro, ele me prende contra a parede de


azulejos mais próxima, uma mão acima da minha cabeça, a outra
suavemente espalhada na minha barriga. "Eu tenho negligenciado você",
diz ele, aconchegando-se nos meus cabelos, "mas não com meus
pensamentos. Não consigo parar de reviver a noite passada. Eu nunca
gozei tão duro na minha vida. "
"Nem eu." Fecho os olhos, enquanto a língua dele lambe a fenda da
minha boca, antes de dirigir entre os dentes. Decisivo e mortal.

Ele me beija como se eu fosse a sua salvação, varrendo grandes arcos


famintos ao redor da minha boca, que me deixam nua à sua mão, enquanto
ela desliza sob o meu vestido de verão. Sinto seus dedos roçarem na frente
da minha calcinha, enviando ondas de choque para os lugares mais
profundos.

"Espere, Dante." Eu enrolo minha mão em torno da dele para impedir


seus avanços e ele rosna ameaçadoramente.

"Se você me negar mais uma vez, mi alma..."

E se for isso? E se for a última vez que fizermos amor como um todo perfeito? E
se meu pai tiver informações sobre Dante, que vão estragar nosso verniz?

"Eu não estou negando você." Começo a puxar minha calcinha. "Estou
apenas dando a você um acesso mais fácil."

Sua boca sensual se curva. "Música para meus ouvidos... Sanders pode
ficar com os dedos, afinal."

Ele me leva até a penteadeira branca me gira e me inclina sobre a pia de


porcelana. "Incline-se para a frente", ele ordena, ajoelhando-se atrás de mim
e tirando meu vestido.

“Vamos manter isso em segredo, Eve. Eu poderia me acostumar com


essa posição, mas apenas quando a bunda da minha esposa é servida em
uma bandeja.”
Suspiro de surpresa e vergonha, quando ele abre minhas bochechas e
traça o vinco com a língua, parando na minha entrada dos fundos, fazendo
círculos lentos e preguiçosos. Este homem é imundo personificado.

"Oh meu Deus!"

"Não dê a ele o crédito."

Todos os pensamentos sobre o celular de Rick, a um metro de distância,


desaparecem quando ele relaxa a língua dentro de mim.

"Puta merda!" gemo, segurando as torneiras antigas, quando ele começa


a foder minha bunda. Ao mesmo tempo desliza dois dedos dentro da
boceta e meu corpo detona, o orgasmo se espalha sobre sua mão, enquanto
estremeço.

"Mantenha sua voz baixa", ele assobia, levantando-se como uma sombra
escura ameaçadora, atrás de mim. "Não vamos colocar Rick fora de suas
batatas fritas."

Eu o vejo puxar seus jeans para baixo.

"Olhos em mim, Eve", eles encontram o dele no espelho, azuis cedendo


a marrom chocolate, por apenas uma noite.

"Eu quero ver uma bagunça no seu rosto bonito, enquanto faço suas
malditas fantasias tornarem realidade."

"Você é minha fantasia", sussurro de volta.

"Estou certo." Envolvendo seu punho em volta do meu cabelo, ele


arqueia meu corpo em um nó apertado, enquanto me coloca de volta em
seu pênis. Meus olhos se fecham em êxtase, quando ele me enche até o
punho e então, sua palma estapeia minha bunda.

"Olhos em mim, mi alma", ele rosna. "Você sabe o quanto odeio me


repetir."

Encantada pela luxúria em seu rosto, impotente para mover minha


cabeça, sou uma voyeur e participante disposta, enquanto ele bate seu pau
em meu corpo, mantendo-o lento e constante, em um ritmo que não estaria
recebendo, se não estivesse carregando seu filho. Estou queimando,
ofegante, tão pronta para gozar. Seu olhar está arrancando meu rosto cru e
um fino esmalte de suor está cobrindo sua testa.

"Agora, meu anjo", diz ele bruscamente. As regras vão para a merda,
quando ele vem também, rugindo meu nome e inclinando a cabeça para
trás, enquanto seu pau empurra ferozmente dentro de mim.

Soltando meu cabelo, ele me puxa de volta para a penteadeira e beija


entre as omoplatas. "Onde diabos você aprendeu a foder assim?"

"Você", digo simplesmente, fraca demais para me mover.

Ele puxa para fora de mim e vira, para ligar o chuveiro, enquanto a
realidade volta à minha consciência, como um visitante indesejado.

"Preciso ir às compras", murmuro, puxando a barra do meu vestido.

"Por quê? Vou mandar alguém sair. " Ele larga o jeans e tira a camiseta
preta, quando entra no cubículo.
Balanço a cabeça e mantenho o olhar firme, quando me junto a ele pelo
painel fosco. "Wilt me deu essas pílulas pré-natais para tomar todos os dias
e acho que as deixei para trás em Nairóbi."

"Eu ligo para ele em cinco minutos e recebo uma nova receita." Suas
mãos estão abafando a voz, enquanto ele esfrega gel de banho no rosto.
“Por que não veio ainda? Eu te sujei e agora quero te lavar.”

"Você está me ouvindo?"

"Na verdade não."

"Eu também quero ir a uma farmácia", digo firmemente. "É uma noite
linda e eu amo este bairro. Por favor, Dante. Cobrimos, só Deus sabe
quantos continentes, nos últimos dias, sinto que estou ficando louca. Meu
tornozelo está curado e preciso de espaço.”

Ele inclina a cabeça em torno do vidro fosco e inclina meu queixo, para
olhá-lo. A água está fazendo uma estrela do mar negra com seus cílios. Eu
quero construir uma casa a partir da calma em seus olhos. Por favor, diga
não... Por favor, diga não...

"Bem. Mas você está levando Reece junto.”

Eu aceno e sorrio, dando um show de agradecimento, quando tudo que


quero é implorar para que ele mude de ideia. Isso parece errado, instinto
Feminino está balançando a cabeça violentamente.

Tenho a premonição de que nunca mais vou vê-lo.


Capitulo Trinta e Dois

Eve

Estou tão nervosa, que poderia morrer. O que é pior, o antigo balconista
de farmácia está se recusando a colaborar.

"Por favor", digo timidamente, roubando olhares furtivos na direção de


Reece. O enorme afro-americano está do outro lado da porta, lotando o
lugar, com seus olhares e ombros enormes. Perfeito. "Esse cara está me
perseguindo há dias. Estou com tanto medo. Eu só preciso de uma
distração, para que possa escapar.”

"Você não pode ligar para as autoridades?" Ele olha para mim por cima
dos seus óculos de leitura em meia-lua.

"Ele é um policial", sussurro. Apenas uma pessoa de duzentos quilos,


que nunca viu um donut em sua vida.

"Eu vou ajudá-la, senhora", murmura o adolescente de camiseta retrô de


Star Wars ao meu lado, que está ocupado olhando a prateleira barata de
óculos de sol, ao lado do balcão. Eu sorrio meus agradecimentos e ele cora
um pouco. "Você está pronta para correr?"

Concordo com a cabeça e com um sorriso, ele varre toda a tela no chão.
O barulho resultante é ensurdecedor e o funcionário da farmácia parece
estar prestes a sofrer um ataque cardíaco. Todos na loja, incluindo Reece,
vêm correndo para ver o que está acontecendo.

"Você está bem?" ele grita comigo, puxando-me para trás, longe da
bagunça.

"Ei cara, você pode ajudar?" O garoto começa a colocar óculos de sol de
plástico nos braços.

"Tire essa merda de mim!"

Com Reece temporariamente ocupado, entro no próximo corredor de


xampus e condicionadores e corro a toda velocidade, em direção à porta. Já
estou abrindo e mergulhando na rua, quando ouço meu nome sendo
gritado.

As calçadas estão abarrotadas de trabalhadores e me perco em um


rebanho de ternos azul-marinho, enquanto eles avançam na estação do
metrô mais próxima. Olhando através das aberturas, em seus ombros
largos, vejo Reece olhando para a esquerda e para a direita, antes de
bombardear na direção oposta, de volta ao hotel.

Colocando a mão em um táxi que passava, eu me jogo no banco de trás,


agradecendo a todos os deuses do transporte, por me presentearem com
um táxi no auge da hora do rush. "Tenth Street", grito para o motorista,
abaixando-me, quando passamos por Reece. Ele está de pé na beira da
calçada agora, com o telefone preso ao ouvido e uma expressão sombria no
rosto. Dante vai lhe dar uma surra, por me perder assim, mas ainda não
resolvi a pilha de consequências do meu plano.

São seis e dez, no momento em que o táxi para em frente à Tam. O


restaurante é um ponto de encontro popular da velha escola, que foi
construído dentro da carcaça de metal de um vagão antigo. Estou
afundando em um poço de lembranças, enquanto caminho até a entrada.
Perdi meu primeiro dente neste lugar. Eu posso sentir o fantasma do meu
irmão de doze anos, Ryan, jogando sua bicicleta na calçada e subindo os
degraus atrás de mim. É uma atitude astuta, da parte de meu pai, sugerir
uma reunião aqui. Estou fora de controle, mesmo antes de entrar pela
porta.

Está quieto esta noite. Muito quieto. Esse deveria ter sido o meu
primeiro aviso. Há alguns caras na jukebox e uma jovem empoleirada em
uma banqueta de cromo e couro vermelho, comendo sozinha no balcão.
Bem na parte de trás, sentado no estande da esquina, há um homem
curvado sobre a mesa, com um boné de beisebol preto puxado para baixo
sobre os olhos. É só quando dou um passo mais perto, que ele levanta a
cabeça e sorri, matando-me com vinte e cinco anos de lembranças.

"Baby girl", diz ele, em seu profundo ruído de canção de ninar,


levantando-se lentamente, o belo rosto vincado em um sorriso caloroso.
"Estou feliz que você ligou."
Ele parece mais velho do que eu lembrava. Seu rosto está mais magro.
Suas rugas superaram as risadas e os vislumbres dos cabelos, sob o boné de
beisebol, são todos salgados e sem pimenta. Suas roupas estão cansadas e
instantaneamente reconhecíveis, como as botas que ele usava em
Amsterdã. Elas são a prova de uma história familiar, que nunca pode ser
apagada.

Deslizo para a cabine à sua frente, ignorando seus braços estendidos.


"Eu não posso ficar muito tempo", digo a ele sem rodeios. "Estou aqui pela
verdade, não por uma reunião de família Schmaltzy".

"Claro que não." Ele se arrasta de volta para o banco e empurra um


enorme milk-shake para mim. “Crush de morango, seu favorito."

"Não por alguns anos." Eu paro sua progressão e ela fica equidistante
entre nós, suspensa entre esperança e rejeição, antes que ele solte a mão
primeiro.

Eu assisto seus olhos descerem para os anéis no meu dedo, apenas para
voltar ao meu rosto novamente. Espero que ele mencione Dante, mas ele
chama a atenção da garçonete.

"Duas cervejas aqui, por favor."

"Não estou bebendo", digo rapidamente.

Seu sorriso congela, mas, novamente, ele não pergunta o óbvio. "Como
você tem estado?"
"Não é ótimo, na verdade." Já estou farta das regras de compromisso
dele. “Dois dias atrás, fui perseguida por dois traficantes de seres
humanos, através de uma floresta. Toca alguns sinos?”

Ele suspira e descansa as mãos na mesa. "Não é o que você pensa."

“Então me esclareça, sou toda ouvidos." Sento-me no banco e cruzo os


braços, arrepiada de hostilidade.

"Estou trabalhando disfarçado, Evie."

"Besteira! Não há nada disfarçado em você, é apenas um agente sujo e


um pai terrível.”

"É isso que você realmente pensa, ou são essas palavras da boca dele?"

É sua primeira referência a Dante. A primeira de muitas hoje à noite,


suspeito.

“Eu vi as fotos, pai, vi você sorrindo, enquanto obrigava garotas


menores de idade a entrar em um maldito caminhão, para serem usadas e
abusadas em todo o mundo.” A bile pega na minha garganta. Talvez essa
não fosse uma boa ideia para vir. "Onde está a mãe?"

"Ela está segura, estamos em um programa de proteção a testemunhas."

"Por que o WPP se você está disfarçado?"

“Minha cobertura foi destruída, existem pessoas más atrás de mim.”

Há uma pausa, quando sua cerveja é colocada na mesa. Eu o vejo tomar


um gole lento e percebo que suas mãos estão tremendo.
"Diga-me o porquê?" digo, diminuindo um pouco o ressentimento.

Há uma pausa, enquanto o Blondie vintage aparece na jukebox. Atômica.


Quando ele olha para mim, seu sorriso triste desapareceu. Parece que ele
não pode mais se incomodar em continuar fingindo, e agora é hora dos
negócios.

"É verdade que você se casou com o homem que assassinou seu irmão?"

Ele vem para mim como um chicote, cortando sangue e ossos.

"Sim, casei com ele", confirmo em voz baixa. "Eu o perdoei e fiz as pazes
com isso".

"Bem desse jeito?" Sua expressão é devastadora. Tanto nojo.

"Ele apareceu no hospital para te matar", eu digo, perdendo a paciência.


“Na noite em que você tentou se afastar de Sevastien? Eu estava lá e fiz
uma barganha, minha vida pela sua. Não sei por que estou me
preocupando em lhe dizer isso, não vai mudar nada, mas essa é a minha
verdade. Pelo menos eu posso ser honesta sobre minha escolha.”

A temperatura entre nós está ficando mais fria a cada segundo.

"Eu devo agradecer por isso?"

Eu me concentro no milk-shake, que ainda está equidistante entre nós.


Conto os pedaços inchados de morango, colados no topo como ilhas
flutuantes. Eu gostaria de estar de volta na casa de Dante.

"Você desonra seu irmão", ele rosna de repente.


"Você desonra mais a memória de seu filho, ao ajudar Sevastien Petrov."
Estou farta da acusação dele, quando sua bússola moral é muito pior que a
minha. "Você sabe o que seus amigos tentaram fazer comigo, semana
passada?"

"Ele estará morto ou preso dentro das próximas 48 horas." É como se ele
não tivesse me ouvido. "Seu príncipe cairá e você será uma pobre
princesinha sem reino, família ou emprego."

Ele quase parece alegre com isso.

Quem é Você? O homem que eu amava nunca teve tanto desprezo no


rosto, ou tanta malícia nos olhos. Ele me odeia muito mais do que eu o odeio.

"Ele é um rei, não um príncipe", murmuro eventualmente.

"Seu rei sabe que você está aqui?" Eu posso dizer que ele está zombando
de mim.

"Se ele já estivesse morto."

Ele bufa. “Fazer ameaças, como um verdadeiro criminoso. Estou tão


orgulhoso de como você se saiu, Evie.”

"De volta para você, pai", digo, perdendo a paciência novamente. "Eu
sempre quis que um agente da DEA doente e corrupto admirasse. Por que
você quis se encontrar hoje à noite? Está claro que nosso relacionamento
está morto."

"Eu queria ver se você seria imprudente o suficiente para vir, da mesma
forma que foi imprudente o suficiente para deixar suas impressões digitais,
por toda a arma que usou, ao atirar em Emilio Santiago. Foram necessários
mais que alguns subornos, para fazer com que tudo isso desaparecesse.

Todo sistema de aviso interno está pedindo que eu levante e fuja. Parece
que não consigo encontrar meus pés. A verdade é que quero ficar e causar
a ele tanta dor quanto ele está me causando, mas não consigo penetrar sua
animosidade.

"Então eu deveria ter parado para limpá-los?" Balanço a cabeça,


incrédula. "Perdoe-me por não jogar pelo manual do assassino, acabei de
atirar e matar alguém, realmente, não estava pensando direito."

Um sorriso frio e triunfante aparece em seu rosto e me pego acreditando


em todas as coisas ruins que Petrov me contou sobre ele. O homem das
minhas lembranças não passa de um mito e uma mentira.

"Você estava brincando de ser um cara legal o tempo todo?" digo


trêmula. "Ou alguma parte de você já deu a mínima para mim?"

“Fiz o que eles me disseram para fazer, senti o que eles me disseram
para sentir. Eles estavam no controle total, quando se tratava de você, não
eu. É assim que sempre foi, desde que você era uma garotinha."

O chão desmorona, não consigo respirar ar suficiente nos pulmões.


“Quem te disse isso? Do que você está falando?"

Quarto branco.

Luz vermelha.

Ele.
Ele se inclina sobre a mesa, até que seu rosto esteja a centímetros do
meu, sua respiração tão podre quanto ele.

“Também fiz minha escolha, Evie, vinte anos atrás e agora é hora de ir
embora de vez. Terminei. Tão fodidamente feito. Eu gostaria de poder
pedir desculpas por fazer isso com você, mas não estou. Você arrumou sua
cama, no momento em que se deitou na cama de Santiago. Eu nunca vou te
perdoar por isso e mamãe também não.”

Eu assisto em um silêncio atordoado, enquanto ele abre o zíper da


jaqueta para me mostrar o fio que está usando por baixo dela, antes que
seus olhos girem para a esquerda.

Há um movimento atrás de mim e fico tensa, esperando sentir uma bala


ou algo pior se chocando contra meu corpo, mas nada acontece. Ele sai do
estande para dar lugar a outro, mas meu novo jantar não é o que eu estava
esperando.

"Senhorita Miller", vem uma voz cortada. "Ou deveria ser a sra.
Santiago, hoje em dia."

Meu queixo cai, quando o agente especial do FBI Roman Peters desliza
para o estande à minha frente, seus olhos de jade brilhando com vitória,
enquanto ele joga seu distintivo ao lado do meu milk-shake intocado.

Dante e Joseph estavam certos em não confiar neste homem.

"Seu pai sabe que você está aqui?" digo firmemente.


"Meu pai?" Ele me lança um sorriso confuso. “Receio que você deva
estar me misturando com outra pessoa, senhora Santiago. Meu pai morreu
trinta anos atrás.”

Isso me pega desprevenida. "Mas Andrei Petrov..."

“Andrei Petrov? Quem, o magnata da navegação russa?” Ele dá uma


risada calorosa às minhas custas, e há uma onda de diversão masculina
atrás de mim. "Se ele fosse meu pai, duvido que eu fosse um agente do FBI.
Eu estaria tomando sol em um iate particular, no meio da Riviera, com
certeza?”

Mais. Que. Porra.

"Natasha". Eu engasgo com o nome dela. "Você tinha uma irmã


chamada..."

"Isso tudo é muito divertido, Sra. Santiago, mas receio não poder ficar
me entregando à sua imaginação." Seu rosto afiado e bonito se torna sério.
"Temos seu pai sob nossa proteção há semanas, desde que ele,
supostamente, desapareceu. Graças às ações dele, hoje à noite, finalmente
temos provas suficientes para condená-la.”

“Mas ele estava em Amsterdã , voltou a trabalhar para Sevastien!” Sinto


que estou tomando pílulas malucas.

- Seu pai é um homem muito engenhoso, Eve e um excelente agente


secreto. Ele não estava mentindo sobre isso, posso garantir. Ele conseguiu
voltar às afeições de Sevastien, com a promessa do prêmio máximo.”

"Eu", digo estupidamente.


O agente Peters ri. “Você se lisonjeia, nunca foi o alvo número um, mas
faz a isca perfeita.”

"Dante", eu sussurro.

"Agora temos você, não vai demorar até que ele venha rastejando direto
para nós.”

"Então meu pai estava cruzando Sevastien pelo FBI?" Existem tantos
vilões cambiantes agora: Sevastien, Peters, meu pai... Petrov também é um
deles? Dante não deveria se encontrar com ele amanhã? Ele está indo em
uma armadilha?

"Somente depois de buscá-lo", diz ele. "Ele ainda era um desprezível,


antes disso."

"O que você quis dizer quando disse que tinha provas?"

Ele sorri agradavelmente para mim e tira um par de algemas do bolso


do paletó. Ele os bate na mesa ao lado de todo o resto e limpa a garganta.
"Eve Santiago..."

"S-sim?"

"Você tem o direito de permanecer em silêncio."

Não.

"Se disser alguma coisa, o que disser poderá ser usado contra você em
um tribunal."

Não.
“Você tem o direito de consultar um advogado e ter esse advogado
presente, durante qualquer interrogatório. Se não puder pagar um
advogado, será nomeado um para, se assim o desejar, embora eu não ache
que isso seja um problema demais, considerando quem é casada, não é?” O
agente Peters se levanta e faz um gesto para eu fazer o mesmo. "Hora de ir,
Eve."

Eu fico enraizada no local. "Por que você está me prendendo?"

Ele me traiu. Meu pai me traiu, no único lugar que restou que significava algo
para nós. Eu não consigo respirar, através da dor.

"Estou esperando há muito tempo por isso..."

“Diga-me, agente Peters. O que diabos eu deveria ter feito?”

"Você vai se levantar de bom grado, ou vou acrescentar uma acusação de"
resistir à prisão "também?"

"Conte-me!" grito, batendo com o punho na mesa.

Ele me lança outro sorriso, que passa por mim como um vento gelado. “Nós
estamos prendendo você pelo assassinato de Emilio Santiago, Eve. Mas você já
sabia disso... acabou de admitir, por um fio do FBI.”
Capitulo Trinta e Três

Dante

"Como assim, você a perdeu?" Minha voz é como pedra. Como uma
bala com seu nome gravada por toda parte.

Reece respira fundo. Ele sabe que é um homem morto. Se tivesse algum
senso, não se incomodaria em voltar para a suíte do hotel. “Ela me deu a
nota na farmácia. Fez um garoto derrubar uma prateleira de óculos de sol e
trancar. Foi premeditado, jefe. Ela sabia o que estava fazendo."

Parece minha esposa, tão inteligente quanto bonita. Que diabos ela está
fazendo?

"Encontre-a." desligo, antes de receber sua resposta.

"O que está acontecendo?" Rick aparece na entrada da sala de estar da


suíte, balançando um copo de uísque puro entre dois dedos.

"Eve se foi." Bem, essas não são as piores palavras que já falei?
Rick parece impressionado. “Esse deve ser o casamento mais rápido de
todos os tempos. Ela levou meu telefone com ela?”

"Por que ela pegaria o seu telefone?" Estou de pé e andando. Rick é a


pior pessoa para ter por perto, quando sou uma avalanche deslizando fora
de controle. Eu não quero sorrisos ou piadas. Estou desejando uma cabeça
fria para aconselhar e me manter na linha, antes de fazer algo precipitado.
Eu nunca precisei de Joseph ao meu lado mais do que agora, mas ele está
do outro lado do mundo, com suas prioridades tão distantes, que nem
estou mais na lista.

“Um dos meus celulares desapareceu naquele café no Quênia. Coloquei


na mesa ao lado dela e, dois minutos depois, a sumiu. Eu odeio admitir,
Dante, mas ela não é uma criminosa natural.”

Ela não é uma criminosa. Ela é a porra da minha vida. Nada sobre isso
está fazendo sentido para mim. Nada faz sentido sem ela.

Dentro de dez minutos, tenho a maior parte do submundo de Miami


procurando minha esposa. Dentro de vinte, ainda não há palavra. Estou,
lentamente, enlouquecendo e já estou na metade de uma garrafa de
bourbon, mas a absolvição não está próxima e a única coisa que posso
provar é uma má premonição.

Uma hora depois, meu celular toca.

"Eve?" Eu trovoo, com o som do meu coração combinando com o meu


tom.

"Receio que não", diz uma voz rouca.


"Eu não tenho tempo para a sua merda agora, Petrov."

"Porque sua esposa está desaparecida", ele conclui bruscamente.

Isso chama minha atenção. “Isso é seu? Você sabe o que farei com sua
família. Você sabe do que sou capaz. Vou começar com a língua do filho
pródigo e terminar com a faca na sua garganta."

“Sua ofensiva de charme ainda precisa melhorar, Dante. Venha para


minha casa imediatamente.” Ele parece distraído, preocupado. "Eu voei
para a Flórida um dia mais cedo, por razões que explicarei mais tarde."

“Que tipo de idiota você me leva? Não estou entrando na sua


armadilha.”

"Não há armadilha, posso garantir e estou ficando cansado dessa


retórica. Por que você não lança cautela ao vento, pela primeira vez e confia
em mim?”

“Foda-se, Petrov. Existem apenas duas pessoas em quem confio neste


mundo e você não é uma delas."

"Você virá, se quiser sua esposa de volta e virá sozinho. Nenhum


atirador de elite nos telhados, nenhum Grayson à espreita na sua sombra.
Espero você dentro de uma hora.”
Petrov me cumprimenta nos degraus da frente de sua mansão branca,
com um grande bourbon na mão. Ele estende na minha direção, enquanto
saio do carro em fúria.

"Pode pegar sua oferta de paz e enfiá-la na bunda", rosno, mas aceito,
sem agradecer, enquanto ele me leva para dentro. Apenas uma merda de
álcool e determinação está me segurando, e preciso de tudo o que posso
obter dos dois, agora.

Mal chegamos ao limiar, antes de tomar a bebida, jogar o copo vazio na


parede e segurar minha arma na parte de trás da sua cabeça. Minhas ações
têm um efeito ricochete, quando seus homens lutam para fazer o mesmo.
Em segundos, tenho dez dedos no gatilho, apontando em minha direção.

"Abaixem suas armas, senhores", diz o russo, com um suspiro cansado,


erguendo as mãos, sem se dar ao trabalho de se virar. Estamos em um
saguão cavernoso. Cada palavra e movimento ricocheteia no piso branco e
volta para nós duas vezes mais alto. "Isso significa que você também,
Dante."

"Não, até você me dizer onde ela está."

"É um pouco mais complicado que isso, receio."

Pressiono meu aço na parte de trás de sua cabeça, ao coro de dez


seguranças clicando. “Você abre a boca, eu escuto. O que há de tão
complicado nisso?"

"Eu pensei que tinha dito para você abaixar sua arma?" Ele caminha até
a bandeja de bebidas, na mesa lateral, com meus olhos ainda treinado nele
e serve para nós dois outra bebida. “Ela foi presa há uma hora, tentei parar,
mas não consegui."

Eu congelo, minha compostura deslizando. Eu esperava as mãos sujas


de Sevastien em todo o seu desaparecimento, mas não isso. Eu ficaria
menos surpreso, se ele acabasse de anunciar que todo homem que matei
estava subindo do chão.

Como eu não vi isso chegando? Calculo o risco de ganhar a vida. Quando eu


fiquei tão folgado?

"Preso por quem?"

"O FBI." Ele me entrega a bebida e vejo a raiva escrita em todo o seu
rosto. Não há indícios de culpabilidade, no entanto. Essa reviravolta o
pegou de surpresa também.

"Seu filho da puta", respiro, enquanto meu monstro ruge de volta à


vida. “Todas essas garantias em Amsterdã, Petrov. Você jurou que ele não
era o vazamento.”

“E eu mantenho essa afirmação, mesmo agora. Roman estava ficando


impaciente, com a nossa falta de progresso. Ele estava cansado dos quase
erros. Sem o meu conhecimento, ele fez um acordo com o pai de Eve,
oferecendo-lhe imunidade, se Myers encontrasse um caminho de volta à
organização de Sevastien. Mas, mesmo com alguém privilegiado, Sevastien
continuava iludindo-o. Roman estava ficando desesperado, e hoje à noite
ele deu um passo longe demais. Contra meus desejos mais fortes, ele
tomou a decisão de prender sua esposa, para usar como isca. A atração de
tê-lo sob seu controle, também pode ter sido um fator importante.

"Então, você estava manipulando um boneco pelas linhas laterais e o


boneco cortou as cordas", penso sombriamente. "Ligue para ele e peça para
deixá-la ir, ou ele é um homem morto andando".

Petrov balança a cabeça. "Eu tentei. Ele acredita que esta é a nossa
última chance de trazer Sevastien à tona. Sabe que está planejando um
ataque terrorista agora e, apesar do que você pensa do meu filho, ele não
tolera o massacre em massa de americanos. "

"Ela está grávida do meu filho Petrov, então tente novamente. Se algo
acontecer com ela ou com o bebê...” Deixo minha ameaça por um
momento. “Você tem contatos por todo o lugar. Quero-a fora dessa cela nos
próximos trinta minutos.” O homem que nunca implora por nada, além da
bunda de sua esposa, está perto de dobrar o joelho para você.

"Não é tão simples assim. Ela foi se encontrar com o pai e se incriminou
por um fio.” As palavras de Petrov ecoam em minha cabeça, como uma
bala presa em uma caixa de metal. “Ela admitiu livremente, que assassinou
Emilio Santiago, a uma sala cheia de agentes. Esse tipo de coisa não
desaparece."

"Ela o que?" Eu abro minha arma em choque. Libertei meu anjo para voar
na escuridão, mas nunca lhe ensinei as regras.

"Deixe-nos", grita Petrov para seus homens.


Espero até que todos saiam do saguão antes de continuar. "Como ele
planeja usá-la como isca, quando ela está presa atrás das grades?"

Petrov balança a cabeça. "Ele não vai me dizer."

"Coloque-me em uma sala com ele e eu o farei."

"Venha comigo."

Eu o sigo até uma biblioteca ao lado, onde o cheiro de couro velho e as


primeiras edições são tão maduros, quanto o meu medo por Eve. Eu posso
sentir as quatro paredes se fechando em mim. Nada importa mais, exceto
libertar meu próprio passarinho. Nem a minha sede de sangue, nem a
cabeça de Sevastien. Recuso-me a vê-la conhecendo o pai como uma
traição. Não vou agir como o mesmo idiota autodestrutivo que fui, duas
semanas atrás. Ela tinha suas razões para fazer o que fez e as exploraremos,
quando ela voltar aos meus braços.

"Mendigos e mentirosos." Minha voz corta a tensão. Petrov para e vira.


“Na doca na semana passada... eu ouvi você e Eve conversando. O que isso
significa?"

"Foi um dos ditados da minha mãe", diz ele com firmeza, sentando-se à
mesa e fazendo sinal para que eu faça o mesmo. “Ela acreditava que o
mundo era composto de mendigos e mentirosos. Eve estava questionando
qual eu achava melhor para o meu personagem.”

"Como Eve respondeu sobre mim?"

“Para ser sincero, nunca fiz a pergunta. Eu perguntei até onde ela
estaria disposta a viajar na escuridão para você.
"E?" Minha voz está rouca de emoção. Meu rosto também, espero. Eu
não posso mais me incomodar em esconder isso. Minha máscara quebrou,
no segundo em que entrei nesta biblioteca.

“Todo o caminho. E ela fez, não foi? Ela caiu na sua escuridão, para
trazê-lo de volta à luz dela. Ela matou por você e agora está enfrentando as
consequências de suas ações. Inocentes sempre se enroscam nessa rede
dourada. Homens como você e eu deslizamos pelas frestas e nunca
respondemos por nossos crimes.” Ele une as mãos para me considerar por
um momento. “Devo fazer a pergunta de volta para você? Exatamente a
que distância você está disposto a viajar para a luz dela, para salvá-la?”

Passei minha vida inteira fazendo escolhas erradas. Talvez seja a hora de fazer
as mudanças certas. Para Eve. Para nós. Para o nosso bebê.

"Ligue para o seu filho novamente", digo, levantando-me, com a mente


decidida. “Diga a ele que quero fazer um contra acordo. Se ele quiser isca, pode me
usar.

Se Petrov está chocado com a minha oferta de auto sacrifício, não mostra. Ele
pega o fone lentamente na mesa e congela, os olhos atraídos por algo atrás de mim.
Observo-os se arregalarem, antes que sua cabeça desapareça em uma névoa
carmesim, enquanto a bala no crânio o impulsiona para trás na parede. Seu corpo
sem vida cai de lado na cadeira, os olhos fixos em um ponto que nunca o trará foco
novamente. Ele é um mestre de marionetes quebrado agora.

Viro tão rápido, que minha cadeira bate na poeira atrás de mim, minha
arma apontando na direção de quem acabou de tirar o topo da cabeça de
Andrei Petrov. Eu nunca vejo o próximo capítulo chegando, no entanto.
O irmão de Petrov, Sevastien, emerge das sombras, ao som de suas
próprias palmas, batendo as mãos juntas, para acentuar cada porra de som
e pela primeira vez, hoje à noite, encontro-me com aço pressionado contra
a parte de trás da minha cabeça.

"Que gesto nobre você está prestes a fazer, senhor Santiago", diz ele,
espiando por cima da mesa e estremecendo de desgosto, pela bagunça que
acabou de fazer com seu irmão. “A grande mente criminosa entregando-se
às autoridades, em troca da mulher que ama. Até onde caíram os
poderosos...”

Já vi centenas de imagens de Sevastien antes, mas a realidade sempre


traz um certo elemento de surpresa. Ele é mais alto que Andrei, com os
mesmos olhos de jade inescrutáveis e estrutura óssea fina, que fica um
pouco perto da superfície. Enquanto isso, meu monstro está se jogando nas
barras de sua gaiola, enquanto a arma é retirada da minha mão. Este é o
homem que matou minha filha...

"Palavras de escolha vindas de uma foda em família", digo suavemente,


pensando rápido. Estou completamente despreparado, sem homens, sem
backup. Vim aqui com nada além de fé cega e esperança, e agora estou tão
aberto e vulnerável, como estava naquela maldita cela do Taliban, dezoito
anos atrás.

"Oh, não me deixe impedi-lo", diz ele expansivamente, ficando de lado


para gesticular no telefone. "Teria o prazer de testemunhar que você caiu
de joelhos."
Há uma gargalhada na minha esquerda e meus olhos encontram os
azuis frios do ex-guarda-costas de Petrov, Viktor.

"Então você é o vazamento", murmuro. "O velho estava dizendo a


verdade, afinal."

"Venho aguardando, Santiago. Quando Petrov me disse que você viria


sem seus homens hoje à noite, isso nos proporcionou a oportunidade
perfeita.’’

"Ele nunca suspeitou?"

“Nem por um momento, era um tolo confiante.’’

Penso em todos os momentos em que Petrov foi enganado, nas últimas


semanas. A todo momento ele perdeu homens de bem: Amsterdã,
Marrocos...

Joseph desconfiava de Viktor, depois da festa de Sevastien, e eu deveria


ter ouvido.

“Por que o campo de treinamento no norte da África? O que você está


fazendo, seu maldito doente?’’

Ele balança minha cadeira, com um sorriso maligno no rosto. “Por que
você não se senta de novo, senhor, e posso te informar?”
Capitulo Trinta e Quatro

Eve

‘Somente na escuridão você pode ver as estrelas.’

Estou enrolada em um colchão fino como uma bolacha, em uma cela de


prisão, olhando para essa frase, que alguém esculpiu na parede cinza suja.
É de Martin Luther King, eu acho, mas só vejo Dante, em suas palavras. As
estrelas na escuridão do meu marido prendem o preto como buracos de
bala, e elas estão queimando ainda mais, desde a Tanzânia. Naquela noite,
mostrei a ele que eu era igual em todos os aspectos, e então, tive que
arruinar tudo, ao tomar a pior decisão da minha vida. Eu estava tão
consumida em procurar a verdade, que arrisquei tudo e perdi.

Ele vai me perdoar?

Minha mão desce para a minha barriga e me pego sussurrando


desculpas ao meu bebê ainda não nascido. Depois que ele nascer, Dante
criará essa criança, talvez com a ajuda de Sofia, se ela voltar à ilha. Eu já
tomei essa decisão. Ele dará a eles muito mais do que eu jamais poderia,
presa em um lugar como este.

Eles vão me perdoar?

Perdoaria, se a situação fosse revertida?

Os pecados de nossos pais cortam profundamente nossas vidas, não


importa o quanto tentemos mitigar as consequências e Dante e eu podemos
testemunhar isso. A traição do meu pai é como uma ferida purulenta,
dentro do meu coração. Ele fica sangrando, sempre que penso no olhar
dele, depois de admitir ter assassinado Emilio Santiago. Esse foi o seu
momento de falsa redenção. Ele sai do cartão sem prisão, custe o que custar à
filha. Ele empurrou e empurrou, sabendo que eu deixei algo escapar.
Agora, há todas as chances de eu ter ajudado a garantir imunidade a ele, de
um crime muito pior que o meu.

Suas últimas palavras me consomem mais:

“Fiz o que eles me disseram para fazer, senti o que eles me disseram para sentir.
Eles estavam no controle total, quando se tratava de você, não eu. É assim que
sempre foi, desde que você era uma garotinha ... "

Muitos subtextos chocantes vêm à mente. Eu sei exatamente o que ele


estava envolvido, e os horrores do que testemunhei, pintam quadros de
pesadelo, quando fecho meus olhos. Fui abusada, de alguma forma? Foi tão
ruim, que bloqueei? É isso que está causando meus flashbacks?

Lágrimas começam a escorrer. Tive cinco horas para refletir sobre cada
momento que aconteceu no restaurante, hoje à noite e ainda é um tabuleiro
de xadrez, com peças faltando. Não consigo entender os motivos do agente
Peters. Ele estava mentindo sobre Petrov ser seu pai, para se esconder? O
homem interpreta todos os ângulos por si mesmo. Ele é um botão giratório,
sem lealdade fixa. Tudo o que importa é a justiça para sua irmã, e ele jogará
qualquer mão para obtê-la.

Por que meu pai, porém?

O agente Peters odeia o círculo de tráfico tanto quanto nós. Ele tem um
grande interesse em vê-lo destruído. Meu pai estava com os olhos em
Sevastien, então por que ele está autorizado a andar livre? Eu não fui presa
para servir à justiça. Fui presa como um peão, em um jogo maior. O agente
do FBI poderia ter levado Dante sob custódia, à mão armada, duas
semanas atrás, mas ele não...

Um parafuso de metal é puxado de volta. Um oficial correcional aparece


na minha porta, como uma sombra sombria e começa a latir ordens.

"Levante-se. Você é solicitada na sala cinco.”

Eu me levanto, sem saber o que é esperado de mim. Ainda não pareço


uma presa. Ainda estou usando meu vestido preto e branco de Nairóbi,
mas as cores estão sujas de sujeira e lágrimas. Um oficial teve pena de mim
mais cedo e jogou um cobertor na minha cama, para me aquecer. Permito
que escorregue dos meus ombros, enquanto me movo em direção à porta e
agora o ar gelado do corredor está raspando minha pele e causando uma
erupção de arrepios.
Eu me movo lentamente, enquanto me afasto do meu celular, meus pés
se arrastando, o corpo desequilibrado pelo peso estranho das algemas, em
volta dos pulsos. Todo preso e agente penitenciário para de falar, para me
olhar, enquanto passamos. Eu ouço o nome Santiago sussurrado em tom
reverente e detestado, de ambos os quadrantes. Tento não me debruçar
sobre o que o futuro reserva para mim aqui, mas posso dizer,
imediatamente, que meu sobrenome será um prêmio ou um passivo.

Sou apresentada a uma pequena sala sem janelas, com uma mesa e duas
cadeiras situadas no meio, como uma peça central de aço frio.

"Sente-se", late a voz novamente. "Ele estará com você em breve."

Quem virá?

A porta pesada bate atrás de mim, sem mais explicações. Olho o novo
ambiente e faço o que me foi dito. Não espero muito tempo, levanto-me,
assim que o parafuso desliza de volta novamente.

"Sente-se, Sra. Santiago, vou manter isso breve." O agente Peters entra
correndo na sala, com dois agentes em ternos baratos e carrancas, atrás
dele. Pela primeira vez, parece ter checado a compostura, perto da porta.
Ele parece desalinhado, a camisa torta e desarrumada, o cabelo perfeito
fora do lugar.

Dante.
Capitulo Trinta e Cinco

Dante

Afeganistão 2002

Passamos o resto da noite traçando um plano e ele se encaixa


rapidamente. Esse é o problema da vida em cativeiro, você pode identificar
uma rotina a uma milha de distância e a nossa não é diferente.
Aprendemos a antecipar a primeira rodada de tortura, no momento em
que os caminhões saem, no meio da manhã, para praticar tiro ao alvo, ou
dirigir um recrutamento, ou o que diabos os terroristas fazem o dia todo. É
aí que o acampamento conta com uma equipe de esqueletos, que será fácil
de superar. Se pudermos cuidar dos três idiotas designados para nós,
primeiro...

No dia seguinte, eles invadem nossa pequena cela, como sempre fazem,
brandindo armas e fazendo muito barulho, mas estamos prontos e
aguardando, dessa vez. Estamos de pé, posicionados em lados opostos da
sala. Será necessário todo o meu poder para acertar. Trespassar três
homens adultos com uma lâmina enferrujada, é um teste de resistência o
melhor dos tempos, mas fazê-lo com o joelho quebrado e o braço quebrado
exige precisão, habilidade e sorte. Seguro os olhos de Joseph, brevemente,
enquanto contamos cinco em nossas cabeças e então começo.

Tenho a garganta do primeiro guarda arrancada, antes que ele possa


levantar a arma. Os outros se viram para tirar a faca da minha mão, mas
dois especialistas arqueiam mais tarde e eles estão borbulhando e
sangrando por todo o chão. Dentro de um minuto estão mortos.

"Puta merda", murmura Joseph, olhando para a bagunça que fiz. "Você
não estava brincando, estava? Você é mesmo um Santiago.’’

"Pegue as armas", digo a ele, pegando a metralhadora mais próxima. Eu


nem percebo os corpos, eles não existem mais.

"Ensine-me como fazer isso."

Pego seu olhar novamente e vejo a luz do amanhecer de um novo


respeito, em seus olhos. "Talvez um dia." Eu também quero dizer isso. Não
demoraria muito para derrubá-lo na mesma escuridão que governa minha
alma.

Matamos todos, no nosso caminho. Como suspeitamos, não são muitos


mortos, o que também é bom. Após três semanas de tortura diária, nossos
níveis de resistência estão a zero.

Sala após sala empoeirada, encontramos caixas de armas, estampadas


com as cores do país de Joseph. Também são coisas de alta qualidade:
metralhadoras, lançadores de granadas, carabinas... A célula terrorista, que
nos capturou, é bem financiada e bem conectada, o que me deixa ainda
mais determinado a sair daqui e expô-los, antes que eles atinjam as
próximas vítimas.

Toda vida que salvo, é para Isabella. Eu não faço isso para salvar minha
alma. Eu não podia me importar com isso. Minha matança não seria tão
seletiva, se eu não visse o rosto dela em todos os inocentes. Gabriela me
envia fotografias e repito as notícias das cartas, na minha cabeça, todas as
noites. Criaram uma vida para si mesmas na capital Bogotá, uma cidade
muito, muito longe da casa de meu pai.

Joseph manca ao lado, enquanto procuro um rádio ou celular, ou


qualquer coisa que possamos usar para entrar em contato com a base. Não
demorou muito para ouvi-lo gritando meu nome.

"Dante, entre aqui!"

Deitado, inconsciente, no chão, está outro soldado do acidente com o M-


ATV. Sua perna esquerda está presa em um ângulo, que sugere uma
fratura grave ou duas e seu rosto é polpa e osso. Eu nem consigo mais
distinguir as órbitas do nariz e dos olhos.

"Ele está vivo?" digo, tropeçando até eles.

Joseph verifica o pulso e assente. "Somente."

"Eu pensei que éramos os únicos sobreviventes..."

"Poderemos chegar em breve, se não levarmos esse cara para um


hospital."
De repente, ele move a mão e geme.

"Você pode me ouvir, soldado?" Inclino-me, uma mão na parede para


equilibrar. Agachar-se não é uma opção, com uma rótula quebrada.

“Eu sinto muito.” As palavras são tão fracas, que quase sentimos a falta
delas.

"Fique conosco, soldado", digo rapidamente. "A ajuda está a caminho."


Há momentos para mentiras, e este é um deles.

"Desisti da base, nossas medidas de segurança, tudo... desculpe."

Porra. Ainda assim, é difícil ouvir sua vergonha, quando se trata de um


rosto tão espancado quanto o dele. "Vá com calma, soldado", digo-lhe,
levando Joseph para o lado.

"É para isso que serve todo o equipamento ao lado, eles estão
armazenando. O ataque é iminente. "

"O que quer fazer sobre isso?"

Mas ele já tem sua resposta, do brilho nos meus olhos. Aqui está outro
para você, Isabella.

"Dante, somos três soldados presos, que mal conseguem andar ou


segurar uma arma", diz ele calmamente, tentando argumentar comigo. "É
porra de suicídio."

"Talvez sim", digo, olhando o soldado moribundo no chão, novamente.


"Então, novamente, um deles sou eu..."
Capitulo Trinta e Seis

Dante

"Então, como isso vai acontecer?" Inclino-me na cadeira e cruzo um


tornozelo sobre o joelho. Quando a merda bate no ventilador, tendo a
projetar muita apatia. É um escudo que uso, logo antes de desencadear o
inferno. “Devo esperar uma bala agora, ou será uma morte longa e
prolongada?”

Ficarei feliz em oferecer a Viktor algumas dicas de tortura. Lembro que


o dele não foi particularmente eficaz, quando se tratou de Luka Ivanov, no
mês passado. Lanço um sorriso frio para o russo e, em troca, seus olhos são
dois punhais afiados.

"Então, novamente, se ele estava trabalhando para você, esse é,


provavelmente o motivo." Viktor responde, com uma furiosa diatribe
russa, olhos brilhando, braços se agitando, todo esbaforido. Então, mudar de
aliança foi um evento recente...

"Você é um homem morto, Santiago."


"Temperamento, temperamento", digo agradavelmente. Essa é a outra
coisa que faço, quando minhas costas estão contra a parede. Eu tento
antagonizar os homens apontando-me uma arma, o máximo possível. É
uma característica que aprendi com Rick Sanders, ao longo dos anos.

Rick.

Ele é o único homem que sabe onde estou. Quanto tempo tenho, antes
que ele venha me procurar? Um problema. A última vez que o vi, ele
estava com meia garrafa de Jack e desapareceu em uma sala, com duas
prostitutas, então, ele é um curinga, na melhor das hipóteses.

Pense, Dante. Não há como morrer nas mãos do mesmo boceta que
matou Isabella. Não vou designar Eva e meu filho ainda não nascido, a um
destino pior que a morte.

"Então?" Eu indico, voltando para o quarto. "Longo prazo, ou rápido e


simples?"

Sevastien ri e se recosta na mesa do irmão morto. "Depois de todo o


problema que você me causou, nos últimos sete meses, Santiago, estou
planejando saborear isso. Então, vou garantir que sua esposa seja tratada
adequadamente, em qualquer penitenciária em que se encontre, nos
próximos vinte e cinco anos. Ela não será tão bonita, com cicatrizes
combinando em suas bochechas. E não se preocupe com a sua chegada
iminente, nós vamos cuidar bem disso. Meus clientes apreciam a prole de
Santiago, seu primogênito foi um dos mais pedidos.
A bile em brasa sobe na minha garganta, como uma pira funerária em
chamas, mas mantenho o desinteresse trancado. Minha máscara foi pega e
espanada, no momento em que Sevastien colocou uma bala na cabeça de
seu irmão. Prepare-se para o passeio, Dante. Nosso antagonismo mútuo será um
borbulhante spa de merda.

“Fale comigo sobre o Marrocos. E enquanto estamos nisso, quero uma


bebida." A autoridade escorre de minhas palavras, como uma garrafa de
Louis Roederer. Eu sempre serei o melhor alfa em uma sala, não importa
quem esteja apontando uma arma para mim.

"O que é isso, um maldito bar?" rosna Viktor, que está pairando ao lado
de Sevastien. Tanto quanto posso ver, existem apenas três outros homens.
Aposto que todos os Petrov estão mortos. Cinco contra um. Depois de tudo
o que passei, nos últimos trinta e oito anos, considero essas probabilidades
favoráveis.

Sevastien assente e sorri, seus olhos de jade pegando pedacinhos de


cinza, na iluminação do teto da biblioteca. Ninguém move um músculo,
quando ele se aproxima de uma estante e começa a puxar várias primeiras
edições, antes de colocá-las de volta no lugar. Ele faz isso lenta e
metodicamente, por pelo menos cinco minutos, antes de eu bocejar alto.

"Posso pegar sua faca, Santiago?" ele pergunta, ainda de costas para
mim.

"Qual?" digo ociosamente. "O que está no meu tornozelo ou aquele que
ficará alojado no seu olho esquerdo, na próxima hora mais ou menos?"
Ele ri de novo. "Viktor, por favor, alivie Santiago de sua faca da maneira
mais desconfortável possível."

Ah, merda.

Uma fração de segundo depois, o enorme russo está batendo com o


punho na minha mandíbula e me fazendo cair contra a mesa. Antes que eu
possa ficar de pé, outro murro esmaga o outro lado do rosto. A dor
ricocheteia no crânio e o gosto metálico do sangue sai da minha boca. Eu
pensei que Joseph batesse forte, mas esse cara é feito de aço.

"Jesus", murmuro, limpando a mão no rosto e trazendo-a para longe,


vermelha. "Isso é o melhor que você pode fazer?"

Viktor grunhe e sorri, antes que meu olho direito seja uma bola de fogo
e caio com força. Antes que eu possa chutá-lo, meus jeans estão sendo
rasgados e minha faca favorita é levada à força.

"Você bate como uma garota, idiota." Espalhado pelo chão, todo o meu
rosto em chamas e alguns ossos menores quebrados, não consigo parar de
rir. São todas as notas amargas e distorcidas, mas essa foi a trilha sonora da
minha vida. Eu apenas introduzi uma música, quando Eve entrou na
minha vida.

Eve.

"Posso tomar essa bebida agora?" Eu me arrasto para uma posição


sentada e cubro as costas contra a mesa, cuspindo o pior do sangue que eu.

"Você já ganhou?" Sevastien se move para ficar em cima de mim, com


um cigarro aceso na mão, a fumaça ondulando ao redor de seu rosto
ossudo. A iluminação da sala mudou. Agora está dando a ele um pano de
fundo, fazendo sua pele pálida parecer ainda mais branca e seus jades tão
negros quanto a porra do carvão. "Eu não acredito que você tenha... ainda
não. Viktor, poderia garantir que Dante está protegido? Nós não queremos
nenhuma, ah, situação Emilio nesta sala, hoje à noite.”

"O prazer é meu."

Merda dupla.

Dois homens me arrastam de pé pelos braços e me jogam de volta na


cadeira. A força balança meu rosto quebrado e explodo em espanhol
fluxos de palavras violentas, que dividem minha compostura em duas.
Ainda estou no processo de juntá-lo novamente, quando Viktor pega
minha mão esquerda e a espalha sobre a mesa.

"Ouvi dizer que essa é uma especialidade sua", diz ele, levantando
minha faca.

"Seu filho da puta!" assobio e depois me preparo para o que está por vir.

A dor me atinge como um caminhão, enquanto minha própria faca


perfura o centro da minha mão e enterra profundamente na madeira
abaixo. Porra, esse é um bom método de tortura, penso agudamente, pois a
agonia invade meus sentidos. Suspiro algumas vezes, para tentar liberar o
pior, mas ele não toca a superfície.

"Se você sair com os meninos grandes, Dante Santiago", murmura


Sevastien, de algum lugar atrás de mim, "Precisa esperar um pouco de
brincadeira, de vez em quando."
Não consigo me mexer, nem falar. Meu antagonismo acabou de sair da
porra do prédio.

O que diabos está errado comigo? Eu posso suportar mais do que isso;
eles fizeram pior, naquele centro de tortura do Taliban. Eu devo isso à
minha filha, devo isso a Eve.

"Acho que você ganhou sua bebida agora. Viktor, por que não traz para
o senhor Santiago um bourbon extra grande?’’

"Eu ficaria encantado", diz ele, mas ouço o sorriso em sua voz e me
preparo pela segunda vez.

Ele começa a derramar um fluxo constante de álcool na minha mão, a


chama ardente adicionando combustível à agonia, enquanto luto contra as
ondas de náusea.

Minha mente começa a se desviar, encontro-me focando em Eve


novamente. Ela, raramente, fica longe dos meus pensamentos e se a bala de
Sevastien sair do meu crânio hoje à noite, como a de Petrov, ela será a
última coisa requintada que verei.

Viktor parou de derramar miséria líquida em dores ofuscantes, está


bebendo da garrafa e balançando, tentadoramente, na frente do meu rosto,
enquanto estou preso a uma maldita mesa.

"Como estão os pesadelos de sua esposa?" pergunta Sevastien, de


repente.

"Como diabos você sabe sobre isso?" Minha voz está cheia de dor, mas
ainda tingida de desafio. Estou triste, mas não estou fora.
Sevastien se inclina para sussurrar no meu ouvido. "Porque eu dei para
ela."

Não.

Com um rugido de raiva, procuro a faca na minha mão, mas Viktor é


muito rápido. Dando-me um tapa, ele torce a faca ainda mais fundo e
brado, por uma razão completamente diferente. "Seu bastardo russo!"

"Ela era uma coisinha tão doce, mas esse era um dos meus pedidos,
entende?" Ele continua, sua voz envolvendo minha consciência, como uma
camada de seda tóxica. “Myers estava interessado em ingressar na
organização e ganhar dinheiro. Ele vendeu a coisa mais preciosa que tinha,
por duas semanas comigo.’’

"Ele vendeu você também, idiota", eu grito. "Ele está trabalhando para o
FBI".

O silêncio que se segue, ajuda a equilibrar um pouco a pontuação. Não é


uma quantidade enorme, é certo, ainda estou preso a uma mesa de merda.
Mas me dá uma certa satisfação saber que eu, apenas metaforicamente, dei
um soco nos sorrisos de seus rostos.

"Como sabe disso?" exige Sevastien.

“Armadilha, idiotas. Quem acha que estava usando o fio, que enroscou
Eve?”

Todos os russos começam a falar ao mesmo tempo e é uma explosão de


barulho. Meu cérebro não está mais funcionando com capacidade total e
não consigo traduzir. Minha perda de sangue é enorme, está em toda a
mesa e no chão. Foco, Dante. Foco.

Através de uma névoa de mágoa, vislumbro meu reflexo nas janelas


francesas, atrás da mesa de Petrov. Olhos selvagens. Cara fodida. Quem
sou eu?

Um assassino.

Um marido.

Um pai.

Faça a escolha certa para uma mudança. 'Foi o que Joseph escreveu nessa
mensagem em Amsterdã. Então, eu estou... estou escolhendo Eve, estou
escolhendo minha família.

Minhas pálpebras ficam pesadas de repente. Aqui vem... tão cedo? Eu


sabia que minha escuridão me reivindicaria no final, mas não posso deixar
de me sentir decepcionado. Lutei muito, nesses últimos meses, com Eve ao
meu lado, para conter o pior, mas acho que não se pode lutar contra o
inevitável. É como dar um soco no ar para desabafar sua raiva, você nunca
vai bater o suficiente para fazer a diferença.

Eu posso prová-la agora. Eu posso cheirá-la. Tão linda... estou


afundando cada vez mais

Bang.

Seus filhos da puta!

Bang.
Dante! Jesus Cristo.

Há algum tipo de comoção acontecendo lá em cima. Há uma luz


dançando na superfície. Safiras como chamas azuis, cabelos tão finos
quanto seda.

Eu sou todo dela, quando ela lança aquele maldito sorriso para mim.
Capitulo Trinta e Sete

Joseph

Afeganistão 2002

A primeira vez que o conheci, foi cinco dias antes do acidente com o M-
ATV. Dante não se lembra, é claro, mas é uma data estampada nas páginas
da minha história, no tipo de tinta vermelha, que seu professor usou para
marcar o livro de casa na escola. Ele me fez sentar e notá-lo. Tinha um
olhar, que você não podia ignorar. Não era louco nem nada, mas corria
fundo, como águas paradas, com um passado que ele não estava feliz em
compartilhar.

Eu sei que não fui o único que sentiu. Os soldados conversam tarde da
noite; eles falam sobre cervejas. O consenso era que, se chamasse a atenção
dele, saberia disso. Você sentiria todo o peso dessa história, o que, às vezes,
pode ser bastante assustador.
Desde aquele primeiro momento, acreditei confiei nele. Às vezes,
quando você olha para uma pessoa, pode ver a verdade em sua mentira,
escondendo-se atrás do véu, como uma noiva no dia do casamento. Dante
contou como foi. Quando ele disse que íamos derrubar um campo do
Taliban sozinhos, não havia a menor chance de alguém nos impedir.

Depois que terminou, saímos daquele lugar e o deixamos queimando,


com cinquenta corpos dentro. Riley tinha morrido também, faleceu uma
hora depois que o encontramos, então, nosso pequeno exército de três foi
reduzido para dois, logo de cara.

Fizemos uma ligação a quente de um caminhão e o dirigimos por


seiscentos quilômetros até Kandahar. Um helicóptero nos pegou, três horas
depois. A essa altura, ele estava de volta ao capitão Días, e eu estava de
volta a ser Grayson. Ele sabia que eu levaria o segredo dele para o túmulo,
sabia que ele me mataria, se não o fizesse. Eles nos deram uma série de
medalhas, por nossa bravura, mas nenhum de nós se importou com isso.
Nosso prêmio estava tropeçando no deserto vivo, naquele dia. Estava lá,
nas verdades que compartilhamos, dentro daquela cela da prisão.

Alguns meses depois, ele recebeu um telefonema na base, vindo da


Colômbia. Depois disso, tudo mudou, e eu sabia que seu passado havia
chegado, para reivindicá-lo novamente.

Dois dias depois, ele se foi, apenas voltou às sombras.

Dezesseis meses depois, eu também.


Capitulo Trinta e Oito

Dante

Aquele barulho de merda... Que diabos é isso?

Cessa por um momento e depois inicia novamente. Ao mesmo tempo,


parece que alguém está vendo minha mão esquerda.

“Rick. Você tem um médico na discagem rápida? Traga-o aqui, agora!”

Joseph?

“Dante. Acorde, porra.”

"Não podemos, simplesmente, acenar com uma garrafa de bourbon,


debaixo do nariz?" chama uma voz: " aposto que isso faria o truque".

Sanders.

Tento dizer algo, mas minha boca está trabalhando a meia velocidade e
as palavras saem como uma bagunça ininteligível.
"Acalme-se, Dante." É José de novo. "Acabei de lhe dar uma dose de
morfina."

"Ainda dói pra caralho", murmuro e sinto seus olhares de alívio sobre
minha cabeça, mesmo que eu não possa vê-los por mim mesmo.

Mais alguns minutos, até eu poder abrir os olhos. Eu ainda estou


sentado na cadeira, minha parte superior do corpo caído sobre a mesa. O
universo é uma névoa de dor, mas pelo menos minha mão não está mais
presa à maldita mesa. Tento levantar a cabeça, mas deslizo para o lado e
duas mãos fortes agarram meus ombros, para me endireitar novamente.

"Dê à morfina alguns minutos, para entrar em ação".

"Joseph?" Meus olhos começam a se fechar novamente.

"Sim?"

"O que está fazendo aqui? Pensei que estivesse em Nairóbi?”

"Estou salvando sua bunda, como de costume."

"Pensei que esse era o trabalho de Eve? Porra, Eve!" tento levantar
minha cabeça novamente.

“Ainda sob custódia. Nós vamos lidar com ela mais tarde."

"Sevastien."

"Amarrado, com uma porra de arco e esperando por você."

"O que?"
Ele dá uma risada sinistra. “Achei que gostaria de acabar com ele você
mesmo. Ele está aqui te esperando, quando estiver pronto. "

“Viktor?”

"Foi para a grande destilaria de vodka no céu."

Levanto a mão boa no ar e ele a pega brevemente. A névoa da morfina


está descendo, mas minha dor está contida em uma bolha apertada, agora.

Quando me sento, minha mão está envolvida em uma toalha branca


ensanguentada. Joseph está encostado na borda da mesa, ao meu lado,
braços cruzados, azuis acinzentados piscando no meu rosto. À nossa frente,
a boca morta de Petrov ainda está aberta de surpresa.

"Como está a loira?" pergunto-lhe.

Os cantos da boca dele se contraem. "Ela está bem."

"Pensei que você disse que não poderia deixá-la?"

"Eu não fiz, ela está em um Trauma Recovery Center, em Miami.


Partimos logo depois de você. Tive a intuição de que você estaria voando
de volta aos olhos da tempestade e fico feliz por segui-lo. Peguei a história
de Rick e não gostei da prosa, então, decidi fazer uma visita a Petrov.”

Inclino a cabeça para trás e gemo. "Estou aumentando a sua intuição."

"É essa apreciação que eu ouço?"

"Não deixe soprar fumaça na sua bunda. É apenas um contrato único."


Nós dois olhamos, quando Rick entra na biblioteca, com duas garrafas
de vodka na mão. À esquerda da porta, vejo os corpos dos homens de
Sevastien, empilhados como carcaças de animais.

Tomando uma das garrafas, trago o álcool puro aos meus lábios.
Aprecio o chute de cerca de meia dúzia a mais, antes de examinar
novamente a aniquilação. Sinto-me exausto, de repente, mas me levanto de
qualquer maneira.

"Ele está aqui", diz Joseph, adivinhando minha intenção,


imediatamente.

Estou instável, de pé. Levo séculos para seguir Joseph pela biblioteca.
Sevastien está deitado, inconsciente, no chão, com o rosto uma bagunça
sangrenta também.

Eu o encaro por um momento, uma estranha sensação de calma


tomando conta de mim. "Eu não vou matá-lo."

Joseph levanta a cabeça, surpreso. Ele já tem sua faca para mim.

"Eu nem vou cortá-lo."

"Tem certeza?"

Eu tenho? Meu monstro, por dentro, está me implorando para destruir


esse homem. Ele matou minha filha, abusou de Eve.

"Dante, você trabalha nessa operação há sete meses, o cara enfiou uma
faca na sua mão. Isso é o mais pessoal possível.”
"É hora de deixar os mortos ir", murmuro, citando suas palavras. “Eve e
o bebê são importantes demais. Esse homem é meu ponto de barganha, por
sua libertação. E tenho certeza de que a CIA terá algumas conversas
interessantes com ele, sobre os campos de treinamento jihadistas, no norte
da África.”

Olho para Joseph e vejo um novo respeito por mim, dezoito anos após o
primeiro.

"Peters não vai deixá-la ir com facilidade", adverte. “Haverá sérias


consequências. Ele quer sua cabeça, tanto quanto a de Sevastien.”

"Então, talvez seja a hora de colocá-lo no pedaço de madeira. É a melhor


chance que tenho para Eve e ela vale a pena. Passe-me seu telefone...

Eu posso sentir seus olhos passando pelo meu rosto, enquanto pego o
dispositivo dele. Ele está tentando descobrir quem é o impostor e o que fiz
com Dante Santiago.

"Você tem certeza disso?" diz ele, finalmente.

Eu aceno, quando a ligação se completa e depois limpo a garganta. Se


eu sair em chamas de glória, não haverá vestígios de fraqueza na minha
voz, quando o fizer. "Agente Peters", digo suavemente. "Ouvi dizer que
você estava me esperando."
Capitulo Trinta e Nove

Eve

O agente Peters me leva para fora do prédio e entra em um Honda


vermelho, estacionado na frente do meio-fio.

"Pensei que você disse que eu estava livre para ir?" protesto, quando ele
me empurra em direção ao banco do passageiro, tutelando impaciente,
enquanto meu calcanhar se prende entre as rachaduras, na calçada.

"Sente-se e aproveite o passeio, senhora Santiago", ele murmura,


movendo-se para o lado do motorista. Eu o vejo puxar seu celular, antes de
entrar no carro, digitando um número. "Ponto de encontro está pronto."

Há algo estranho acontecendo, Peters está agindo como se tivesse


acabado de cair no meio de uma zona de conflito e não sabe para onde
correr. Se ele não tivesse sido um bastardo tão grande, mais cedo, eu quase
sentiria pena dele.
"Qual é o ponto de encontro e o que isso significa?" pergunto,
observando-o apertar o cinto de segurança e deslizar o celular de volta no
bolso interno da jaqueta. "Oh inferno, o que isso importa... Apenas me
deixe na estação do Metrô mais próxima e vou levá-la de lá."

"Aproveitou seu tempo na cadeia?" ele rosna de repente. "Porque, se


não calar a boca, encontrarei outra maneira de colocá-lo de volta."

"Fachada profissional escorregando novamente, agente Peters?" digo,


olhando-o. “E a prisão foi tão agradável quanto te ouvir naquele
restaurante, na frente de todos os seus colegas rindo. Você foi tão
convincente... Eu quase acreditei, quando disse que seu pai morreu trinta
anos atrás.”

"Na verdade, ele morreu há duas horas", diz ele bruscamente, "mas o
que é algumas décadas, entre pessoas como nós?"

"Petrov está morto?"

Após o golpe inicial do choque, sinto uma tristeza genuína depois. Ele e
Dante tiveram seus problemas, mas gostei e respeitei Andrei, após a noite
da festa. Ele se esforçou para colocar as outras garotas em segurança.

"Sinto muito", murmuro, ciente de que meu silêncio atordoado


permaneceu por muito tempo. "Eu sei o quão perto você estava."

"Não fique", ele diz firmemente. "Ele não existe, lembra?"

"Essas foram suas palavras, Peters, não minhas."


São duas horas da manhã. Os semáforos mudam de vermelho para
verde, quando atravessamos a cidade. Estamos perto da costa. A noite é
uma atração principal e as estrelas estão em apoio. A superfície do oceano é
revestida por uma luz prateada e reflui e flui para uma maré suave.

Paramos em um pequeno estacionamento, perto de uma praia deserta e


o agente Peters pisa no freio.

"Espere aqui", ele ordena e posso sentir que sua tensão está atingindo
um pico de febre.

Eu o vejo caminhar em direção a um homem, parado ao lado de uma


cerca de duas barras, com vista para o oceano. Não consigo ver o rosto
dele, pois está olhando para um navio à distância, que se equilibra na
borda do horizonte. Mas há algo sobre a inclinação de seus ombros e a
maneira como seus braços engancham, tão casualmente, sobre o trilho
superior, que pega minha atenção. É só quando ele se vira, para
cumprimentar o agente Peters, que minhas suspeitas confirmam.

Dante.

Antes que eu possa me parar, saio do carro e vou em direção a ele,


arrancando os sapatos, enquanto corro, chamando seu nome pela brisa. Ele
se vira, ao som da minha voz. O rosto dele está muito machucado, manchas
irregulares de sangue cobrem a maior parte de sua pele, mas ainda existe a
mesma autoridade, escorrendo de cada poro quebrado, o mesmo sorriso
zombeteiro, que dá apenas para mim.
Paro alguns metros e lanço olhares preocupados entre os homens.
Interrompi uma troca desconfortável e meu coração se aperta de medo por
ele, por mim e pela vida em que estamos tão desesperadamente nos
agarrando.

"Vou lhe dar alguns minutos para dizer adeus", ouço o agente Peters
dizer, enquanto se afasta.

Uma parede sólida de vermelho e azul piscando, aparece atrás de nós,


mas é algo que não quero reconhecer. Minha cabeça volta para o meu
marido.

"Do que ele está falando, Dante?" sussurro. "O que está acontecendo? O
que aconteceu com o seu rosto?"

"Tudo faz parte do acordo, meu anjo." Seu olhar firme suaviza. Ele pode
ver o quanto isso vai ser difícil para eu aceitar.

"Qual acordo…? Não!" Balanço a cabeça violentamente, quando a


verdade me bate como uma bala. Ele está se sacrificando por mim. "Por favor,
não faça isso! Agora não é a hora de aumentar a consciência, não com o
nosso bebê...”

Eu me pego agarrando a qualquer plano maluco que fará isso


desaparecer. "Salte sobre os trilhos comigo", imploro. “Nós podemos
superá-los. Eu ligo para Rick, ele pode enviar seus barcos novamente.”

Não consigo parar de encarar sua boca, que me trouxe tanto prazer, a
boca que nunca mais sentirei em meu corpo e que agora está sussurrando
"não" tão suavemente, repetidamente e destruindo todos os meus sonhos.
"Não há nada que eu possa dizer para mudar de ideia?"

Ele balança a cabeça novamente e se vira, encarando a água, quebrando-


me, com sua resignação.

“O oceano é meu espírito afim. Eu já te disse isso, Eve? Governado por


ninguém, temido por todos, capaz de devastação sem rival.”

Ele não está correndo. Por que não está correndo?

“Mas durante todo esse tempo, eu nunca apreciei a verdadeira beleza


disso, não até agora. Você abriu meus olhos para tanto, mi alma. Deveria
me sentir culpado, por roubar seu amor, mas não o faço e nunca farei.”

Lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto. Meu coração é um corredor


vazio e dolorido. "Mas..."

"Sevastien não pode mais te machucar." Ele se inclina e segura minha


bochecha na palma da mão. Fecho os olhos brevemente e, pela última vez,
sinto sua força sangrando na minha pele. "Ele foi a segunda parte do
acordo com Peters."

A aceitação está se aproximando de mim, mas eu a afasto com força,


não quero desistir de nós, não posso.

"Não tente me dizer que você não é um bom homem, depois disso",
digo, forçando um sorriso, que está me impedindo de fazer.

"Talvez eu esteja, finalmente, cumprindo minha promessa."

"Se eu não tivesse concordado em rever meu pai, nada disso seria..."
Minha voz fica presa na garganta, quando a culpa ameaça me dominar.
"Não se atreva a fazer isso", ele rosna, seus olhos escuros piscando.
"Você me trouxe do frio e prefiro viver cem vidas em uma cela de prisão,
com essa aceitação, do que outras centenas, no lugar onde estava antes."

Eu posso sentir as multidões gritando, atrás de mim. Dante olha para


eles e assisto seu rosto assumir uma expressão cautelosa, quando o caçador
finalmente se torna a caça.

"Beije-me uma última vez, meu anjo", diz ele com voz rouca. "Como
aquele primeiro beijo, aquele que mudou tudo... aquele que me fez querer
viver novamente."

Entro em seu abraço, enrolando meus braços em volta do seu pescoço,


sentindo-o deslizar pelas omoplatas e nos prendendo com tanta força, que
terão que nos separar. Nossos lábios se tocam e provo metal e depois ele.
Nossas bocas se abrem e parece que estamos derramando nossas almas
doloridas uma na outra. Quando ele sangra, sinto sua dor. Quando nos
beijamos, provo sua tragédia. Quando ele mata, meu coração está manchado com
todas as cores de sua vingança. Mas é uma vingança que está enfraquecendo,
a cada nova batida de seu coração. Sevastien e seu legado do mal se foram.

"Joseph está esperando por você", diz ele, afastando-se, mas seus olhos
permanecem fechados, como se ele estivesse comprometendo cada
segundo do nosso beijo na memória. "Ele está te levando de volta para a
ilha, com Anna. Se você não cuidar de si mesma, ele vai chutar sua bunda.”

Meus braços apertam seus ombros. "Eu não posso deixar você ir."

"Você deve."
"Eu não posso!" bebo o máximo de seu perfume possível, até ficar tonta.

Uma voz alta começa a falar, por cima do meu ombro, mas não consigo
ouvir as palavras. Eu não quero, então, concentro-me totalmente nele.

"Meu anjo."

“Dante Santiago.”

"Meu diabo."

"Você tem o direito de permanecer em silêncio."

Seus braços começam a se soltar ao meu redor, mas eu os agarro e os


aperto com mais força, como se ele fosse um casaco escorregando dos meus
ombros, em um dia frio de inverno.

"Deixe-me ir, Eve", ele murmura.

"Se disser alguma coisa, o que disser pode ser usado contra você em um
tribunal."

"Eu vou te amar até o fim dos tempos", sussurro. “Até as estrelas
colidirem com o mar e o sol me transformar em pó. E eu te encontrarei
novamente, Dante Santiago.”

"E eu, você." posso senti-lo sorrindo na escuridão. "Sempre."


Capitulo Quarenta

Dante

Um Mês Depois

Minha rotina, em uma penitenciária americana, não é diferente da


minha rotina em uma prisão do Taliban, apenas sem tortura e com comida
muito melhor. Afirmei minha autoridade, na noite em que cheguei, depois
que algum curinga, do meu passado, puxou uma faca. Lidei com ele
rapidamente e agora, meus companheiros de prisão mantêm uma distância
respeitosa. Eu sou Dante porra Santiago, afinal.

Devido à esmagadora evidência contra mim, meu julgamento foi


antecipado. A promotoria está buscando a pena de morte, mas eu não
esperava nada menos. O dado foi lançado, desde o momento em que fiz a
ligação para o agente especial do FBI Roman Peters e foi um sacrifício que
eu estava disposto a fazer, para libertar minha esposa e filho.
A equipe de defesa continua falando sobre minha distinta carreira
militar e todas as vidas que salvei. Cada pedaço do meu passado foi
despojado, para o mundo ver. Os generais estão se alinhando, para dar seu
testemunho. Eu até tenho um ex-presidente, que quer participar da ação...
tenho um lugar na primeira fila, do que está, rapidamente, tornando-se o
julgamento do século.

A disposição de fazer um acordo também funciona a meu favor, assim


como a captura de Sevastien Petrov. Ao desviar minha própria vingança e
entregá-lo às autoridades, a CIA conseguiu frustrar um grande ataque
terrorista a vários estados, planejado para o mês seguinte. Não conheço os
detalhes, ou as motivações, mas não dou a mínima. O fato de inocentes
terem sido salvos, é suficiente para mim. Estou começando a ver Isabella de
novo, o que acho que é a maneira dela, finalmente, perdoar-me.

Meu julgamento começa hoje. É a primeira vez que vejo Eve, desde a
minha prisão. Como um dos criminosos mais perigosos do estado, não
tenho permissão para receber visitantes e anseio mais por vê-la, do que por
minha liberdade. A barriga dela cresceu? Ela ainda tem fogo nas curvas e
fome nessas safiras? Ela ainda me ama tão ferozmente quanto antes?

Nossa jornada para o tribunal está programada para levar vinte


minutos. Uma tempestade da mídia mundial está se aproximando.

Enquanto espero sair para o brilhante sol da Flórida e caminhar até o


veículo blindado de transporte da prisão, vejo um rosto familiar entrando
pelas portas.

"Dante".
"Agente Peters, que surpresa agradável", respondo suavemente. "Você
está aqui para me desejar boa sorte?"

"Para você, ou para suas legiões de fãs equivocados?" As sobrancelhas


dele se erguem em desaprovação. “Você atraiu muitos seguidores. Há
pessoas demonstrando sua libertação em todo o país. ”

"Quão emocionante. Talvez eu deva enviar uma nota de


agradecimento?”

Ele lança um olhar para os dois guardas, em pé atrás de mim, antes de


me puxar para o lado. "Sevastien está morto", ele anuncia, seus jades frios
brilhando. "Alguém o pegou dentro de sua cela."

"Que pena…"

"Eu pensei que você deveria saber."

“Como você acha que eu deveria comemorar? Com uma porção extra
de cheesecake, na hora das refeições?” Porra, sinto falta do bourbon.

Ele se inclina e joga sua loção pós-barba barata bem na minha cara.
"Que tal com sua esposa?" ele murmura, tão baixo, que só eu posso ouvir.

"Isso pode ser um pouco difícil", digo friamente.

"Possivelmente." Ele dá um passo para trás, novamente. “Uma vez


apertei a mão de Eve, não muito longe deste edifício. Ao mesmo tempo,
comuniquei algo que a derrubou em uma toca de coelho e foi direto para
meu pai. Talvez eu deva fazer o mesmo por você? Estou pensando em
continuar o legado dele."
Faço uma pausa e olho para sua mão estendida. "Sou a favor de tocas de
coelho, agente Peters, mas prefiro não encontrar seu pai novamente, por
um tempo." Eu sinto falta do velho bastardo, no entanto.

"Eu pensei que você poderia estar em uma última missão." Nós
trememos com força e firmeza, e para minha surpresa, sinto algo duro e
frio, pressionando minha palma.

"Ela também me pediu para passar uma mensagem." Sua expressão se


estabelece em um tom neutro e seus olhos estão brilhando, com um
conhecimento que ele está morrendo de vontade de transmitir. "Ela disse
que gostaria de sua primeira aula de natação... e disse que você
entenderia.”

Concordo com a cabeça, fechando meu punho em torno do objeto, na


palma da minha mão, enquanto meu coração encontra um ritmo que, por
direito, deve estar fazendo um buraco na frente da minha camisa branca.

"Uma vez eu disse a ela, que éramos criaturas únicas, Dante." Ele olha
para a porta. "Que nós compartilhamos uma fome inata de livrar esse
mundo do crime, mas, ao mesmo tempo, encontramos nossa moral
continuamente testada pelo amor." Seu olhar está perfurando um buraco
no meu crânio agora. “Talvez, com o tempo, possamos adicionar um novo
membro ao nosso grupo, aquele que luta pelas causas certas e não pelas
erradas. Você já estava entrando no nosso caminho, seria uma pena que
isso acabe agora.”

"Hora de ir."
Um braço forte me afasta. Ainda estou procurando respostas, mas o
rosto dele voltou à apatia fria, novamente.

Isso realmente aconteceu?

A única coisa que fez sentido, nos últimos cinco minutos, é a chave das
minhas algemas, que está, atualmente, enterrada na palma da minha mão.

Eles atingiram o comboio, pouco antes da Brickell Avenue Bridge, com


uma precisão e audácia, que me fizeram sorrir com orgulho. Meu veículo
bateu com tanta força do lado que capotou, minha cabeça batendo contra a
estrutura metálica do interior. Eu ainda estava atordoado, quando Joseph
disparou gás lacrimogêneo no veículo, antes de me jogar uma máscara e
me dizer para colocar.

Balas de borracha eram as regras de compromisso, naquele dia.


Nenhuma pessoa foi morta e a maioria se afastou do incidente, poucas
horas depois. Os helicópteros estavam esperando. Meu avião particular
estava piscando, do asfalto de Opa-Locka e nunca fiquei tão feliz em vê-lo.
Eu não perguntei onde Eve estava, em nenhum momento. Eu sabia que ela
estava esperando e sabia onde estaria.

A viagem da pista, até minha propriedade, foram os cinco minutos mais


longos da minha vida.
"Pare o maldito carro", assobio para Joseph, quando entramos na
garagem.

Quando chego ao topo do caminho, que leva à minha praia particular,


afrouxo a gravata e arregaço as mangas. Há uma figura solitária lá
embaixo, esperando por mim, e estou tropeçando em meus pés, para
alcançar sua luz e graça.

Quando caio na areia, ela já está correndo, seus cabelos correndo atrás
dela, como um lençol de seda preta... e com um olhar no rosto, que me diz
que idiota total eu era, por duvidar dela.

Batemos um contra o outro, na linha sombreada da praia, onde o


molhado fica seco. Ela está viajando tão rápido que, quando a pego, a força
de seu amor me leva para trás e aterramos em uma bagunça na areia.

“Jesus, Eva! O bebê…"

"Está bem! Estou bem. Você está bem. Estamos bem!”

Ela está chorando lágrimas de felicidade e quero pegar cada uma delas
e mantê-las perto de mim para sempre.

Rolando-nos para os lados, ainda trancados, u deslizo entre suas pernas


e sinto seu corpo levantar e pressionar contra o meu.

"Temos um mês inteiro de orgasmos, para recuperar o atraso, mi alma",


murmuro em seus cabelos e ela ri, aquela doce melodia, que faz meu
coração reviver.

"É melhor começarmos, então."


Eu recuo, levando a parte de baixo do biquíni comigo e começo a brigar
com os botões da minha camisa.

"Abra para mim, meu anjo", digo a ela bruscamente. "Você sabe o
quanto senti falta do seu mundo."

"Nosso mundo", diz ela, sentando-se para segurar uma mão quente em
volta do meu pescoço e, em seguida, aproximando nossos lábios em
perfeita harmonia.
Epilogo

Nós o enterramos numa terça-feira, no ponto oeste da minha ilha, em


um local que eu escolhi, sombreado por palmeiras e pinheiros e com vista
para a praia. Algo me diz que você também gostaria do oceano.

Eve escreveu um discurso e isso me fez ajoelhar tudo de novo. Eu


esqueci o quão talentosa ela é com as palavras. Talvez, um dia, quando o
nome de Santiago não for tão procurado perpetuamente, ela possa voltar a
escrever de alguma forma.

Sua irmã Ella, veio gritando ao mundo, cinco semanas depois, lutando
por cada último suspiro e punindo o mundo, por meramente existir.
Suspeito que ela tenha sido perfeitamente feliz dentro de Eve e não
estivesse pronta para deixar ir e quem sou eu para julgar? Eu sei como se
sente. Ela não nos deixa esquecer disso, desde então e a privação do sono é,
agora, o meu método preferido de tortura.

Ela é tão bonita quanto você e meu amor por ela é ofuscante. Ela é outra
trilha brilhante de luz, na minha vida. Cabelo preto, como eu. Safiras, como
sua mãe. Eu acho que ela se parece com Eve. Eve discorda, mas não há
nada novo por lá. Ela ainda me desafia a cada passo. Ainda aperta cada
botão, até estarmos girando em círculos, com faíscas voando por todo o
lugar, mas eu não teria outro jeito, nem ela.

Joseph e Anna moram aqui na ilha conosco. Eles tiveram seus próprios
dramas, mas você não pode lutar contra o destino. Ela chuta de volta, duas
vezes mais forte.

Ele não fala muito, mas há uma facilidade nele também, hoje em dia. O
azul-acinzentado se suavizou e a face de pôquer escorregou. Sua própria
escuridão está aumentando, o que é um alívio, porque eu estava
começando a me sentir culpado, por arrastá-lo para o meu nível, em
primeiro lugar. Hoje sinto muita culpa, o que é irritante. Essa é uma parte
da minha vida anterior, que sinto falta.

O corpo do pai de Eve foi encontrado deitado em uma vala, em algum


lugar fora de Houston, dois meses depois que retornamos à ilha. A mãe
dela foi encontrada em um quarto de hotel próximo. Eles suspeitam de
suicídio, mas sabemos o contrário. Como Sevastien, Roman Peters nunca o
deixaria ir tão facilmente. O resto do império do tráfico desmoronou, nos
dias que se seguiram. Agora, não resta mais nada, além de poeira, osso e
corações partidos, mas outro mal surgiu em seu lugar. Recebi um e-mail
anônimo do FBI, hoje de manhã e ainda estou refletindo sobre minha
resposta. Vi o brilho nos olhos de Joseph, quando lhe contei. Somos
talentosos demais para deixar passar. Há muitos inocentes, que podem se
beneficiar de nossa qualificação específica.
Eve sofre por seus pais em particular, da mesma forma que sofro por
Manuel, o meio-irmão que nunca reconheci na vida, mas aprecio muito
mais na morte. Acho que sempre soube a verdade sobre ele, mas lutei com
todos os outros pecados que meu pai cometeu naquela casa. Quando nos
encontrarmos na vida após a morte, ele pode pedir desculpas e, talvez,
dividamos uma bebida ou três. Eu tenho uma garrafa de bourbon em
espera.

É sempre verão na minha ilha. É uma luz que nunca desaparece. Eve
conseguiu atrair Sofía de volta aqui e as ouço do terraço, no lado de fora,
enquanto elas tentam alimentar Ella, que não está colaborando. Também
ouço uma terceira voz, Anna entrou na festa. Ela parece menos machucada,
nos dias de hoje. Acho que todas as nossas cicatrizes estão curando.

Minha esposa está me chamando, quando entra no meu escritório e é o


som do meu coração e da minha casa. Ela pensa que está grávida de novo e
não ficaria surpreso. Não consigo tirar minhas mãos dela e ela não está,
exatamente, resistindo. Eu a pego, enquanto ela dança do outro lado da
sala, com toda graça e elegância e vivo o momento, em que seus braços
delgados se enrolam em volta do meu pescoço e pressiona sua perfeição
em mim.

Então, é assim que se sente, ao se contentar. Sentir felicidade. Respirar a


cada amanhecer e expirar a cada anoitecer... Viver cada dia, como se fosse o
último, com o campo de batalha atrás de você e a luz do sol brilhando em
seu rosto.

É algo que eu nunca esperava sentir na minha vida.


Eu acho que é algo que eu poderia me acostumar.

Fim
Agradecimentos
Alguns homens nascem para serem pais. Não os "Vou levá-lo ao parque em uma
hora", mas os que sussurram: "Sigam seus sonhos, façam o que for preciso, porque
acredito em você, não importa o que aconteça". Eu tive sorte, fui abençoada com o
último. Ele sabia que eu deveria escrever, mesmo antes de escrever. Mesmo antes da
vida atrapalhar. Eu costumava chamá-lo, nos sets de filmagem, em todos os lugares
estranhos e maravilhosos, que eu costumava trabalhar e suas primeiras palavras eram
invariavelmente: "Você já terminou esse maldito livro?" Não gosto de me dizer o que
fazer, então, é claro que arquivei. Então, o impensável aconteceu e nós o perdemos. Três
dias depois, o câncer também me afetou e agora escrevo por nós dois, de uma maneira
indireta, com muita digressão. Essa é para você, pai.

Para Matt, o homem que literalmente me mantém unida. Uso a palavra


"literalmente" de propósito, porque sei o quanto ele a odeia. O câncer destrói você. De
alguma forma, precisa recuperar todos os seus fragmentos quebrados e, em seguida, a
recorrência acontece e você volta à estaca zero. Pela segunda vez na minha vida, tive
sorte. Casei-me com um homem que me faz chorar de rir, cinco minutos antes de uma
grande operação e vem com um suprimento infinito de supercola. Obrigada por cuidar
de nossos filhos, quando estou presa no hospital ou trancada em minha caverna,
arrancando meus cabelos e amaldiçoando todos os autores maravilhosos que podem
escrever quarenta mil palavras, em uma manhã, quando mal consigo escrever quarenta.

Para Emily e Jessica. Apesar da ampulheta inclinada pairar sobre todas as nossas
cabeças, espero estar lhe dando a mesma crença em si mesmas, que meus pais. Vocês
duas são duronas e amo vocês além da lua, até Júpiter, apenas para atirar ao redor do
sol algumas vezes e depois voltar. Há muito tempo na tela, quando a mamãe está
trabalhando, mas acho que você não está reclamando...

A todos os blogueiros que se arriscaram em uma novata… Obrigada. Obrigada.


Obrigada.

Para Kathi G e seus Dark Angels. Que grupo fabuloso, incrivelmente imundo vocês
são. Todo escritor de romances deve ter dois anjos dançando nos ombros e aplaudindo-
os.
Para o meu time de rua. Podemos ser poucos, mas rugimos como leões! Paula,
Tania, Eva, Sammy, Sue, Heather, Amanda, Natasha, Kae, Ashley e Julia. Obrigada por
amar Dante e Eve, tanto quanto eu.

Para Maria, no Steamy Designs. Obrigada por trazer Dante à vida. Eu amo as novas
capas, são tudo o que eu queria e muito mais.

Tenho certeza de que não é habitual pedir à sua mãe, que ajude a revisar o
manuscrito erótico de romance, mas ela é ótima e livre e confio no seu julgamento, mais
do que ninguém. Ninguém deve assistir seu filho passar por câncer. Você é a pessoa
mais gentil, mais forte e corajosa que conheço.

E finalmente, para os leitores... Sem vocês, eu não existiria. Eu seria uma vírgula mal
usada, no parágrafo da vida. Obrigada por tornar todos os meus sonhos realidade.

CW
Sobre a Autora
Catherine Wiltcher é uma ex-produtora de TV e viciada em alfa, confessa. Sua
escrita é melhor descrita como pecaminosamente sexy e seus personagens sempre caem
duro e profundamente um pelo outro.

Ela mora no Reino Unido, com o marido e duas filhas pequenas. Se ela estivesse
presa em uma ilha deserta, gostaria de um grande gin rosa para lhe fazer companhia.
Cillian Murphy não seria um grito ruim, também...

Você também pode gostar