Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 20

Morfologia urbana: diferentes abordagens

Vítor Oliveira
CITTA – Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente, Faculdade de
Engenharia, Universidade do Porto, Rua Roberto Frias 4200-465 Porto, Portugal.
E-mail: vitorm@fe.up.pt

Artigo revisto recebido a 15 de Setembro de 2016

Resumo. Este artigo apresenta as origens, características e


desenvolvimentos fundamentais de quatro abordagens dominantes no debate
internacional em morfologia urbana: a abordagem histórico-geográfica
promovida pela Escola Conzeniana, a abordagem tipológica projetual
desenvolvida pela Escola Muratoriana, a sintaxe espacial e, por fim, a
análise espacial, incluindo autómatos celulares, modelos baseados em
agentes e fractais. Depois de descrever estas quatro abordagens, o artigo
sintetiza os seus elementos fundamentais; evidencia o modo como cada
abordagem lida com os elementos de forma urbana, os níveis de resolução e
o tempo; e ilustra o potencial de cada abordagem com aplicações na prática
profissional de planeamento.

Palavras-chave: morfologia urbana, abordagem histórico-geográfica,


abordagem tipológica projetual, sintaxe espacial, análise espacial

A abordagem histórico-geográfica aspetos-chave desta estrutura é a divisão


tripartida da paisagem urbana, incluindo o
Esta primeira secção divide-se em duas plano de cidade, o tecido edificado e os usos
partes: a primeira parte centra-se no trabalho do solo. O plano de cidade é definido como a
de Conzen, em particular em três conceitos organização topográfica (bidimensional) de
fundamentais desenvolvidos pelo geógrafo – uma área urbana em todas as suas
cintura periférica, região morfológica e ciclo características construídas pelo homem,
de parcela burguesa; a segunda parte centra- contendo três elementos complexos do
se nos desenvolvimentos e características da plano: as ruas e a sua organização num
Escola Conzeniana com um enfoque sistema de ruas; as parcelas e sua agregação
particular no Urban Morphology Research em quarteirões; e as plantas de implantação
Group (UMRG) coordenado por Whitehand. dos edifícios.
Outro aspeto fundamental na obra de
Conzen é o desenvolvimento de conceitos
As ideias de M. R.G. Conzen sobre o processo de desenvolvimento urbano.
Este artigo aborda três destes conceitos:
Apesar de não ter um grande número de cintura periférica, região morfológica e ciclo
textos publicados, Conzen publicou um de parcela burguesa. O conceito de cintura
conjunto de obras fundamentais. Alnwick, periférica foi primeiro reconhecido em
Northumberland – a study in town-plan Berlim em 1936 por Louis, mas foi
analysis (Conzen, 1960) é um dos livros desenvolvido com um maior grau de
mais importantes em morfologia urbana sofisticação por Conzen. O conceito baseia-
publicados até hoje – Figura 1. O trabalho de se no reconhecimento de que o crescimento
Conzen, como um todo, oferece uma de uma área urbana é descontínuo. Na
estrutura abrangente para o estudo e o verdade, o crescimento de uma cidade é
desenho da forma física das cidades. Um dos composto por um conjunto de expansões da

Revista de Morfologia Urbana (2016) 4(2), 65-84 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214
66 Morfologia urbana: diferentes abordagens

Figura 1. Alnwick, Northumberland – tipos de unidades de planos (fonte: Conzen, 1960).

área residencial separados por momentos de incluindo Ludlow, Conway e Manchester


pausa onde este uso do solo está ausente. (Conzen, 2009).
Uma cintura periférica tende a formar-se na Para Conzen, o clímax da análise do
franja urbana durante um período em que a desenvolvimento físico de uma área urbana
área construída não está a crescer ou que está era a divisão dessa área em regiões
a crescer muito lentamente. A cintura morfológicas (Whitehand, 2001) ou unidades
periférica inclui no seu interior áreas de plano (considera apenas uma leitura
relativamente abertas, muitas vezes cobertas bidimensional) como as representadas na
de vegetação, como parques, campos Figura 1. Uma região morfológica é uma
desportivos, equipamentos públicos e área que tem uma unidade em relação à sua
terrenos de diversas instituições (Whitehand, forma que a distingue das áreas envolventes.
2007). O contributo fundamental de Conzen Entre o final dos anos 1950 e o final dos
foi incorporar os padrões de cintura anos 1980, Conzen demonstrou num
periférica de uma cidade numa teoria conjunto de cidades britânicas tradicionais o
morfológica sobre as interações entre modo como a paisagem urbana é
diferentes processos espaciais formativos e estratificada, refletindo os ‘resíduos’
transformadores, conforme é evidenciado no distintivos dos últimos períodos e dando
registo cartográfico detalhado da evolução origem a uma hierarquia de regiões
física de uma cidade. Como parte desta morfológicas. Essa hierarquia pode ser
teoria, Conzen desenvolveu uma intrincada representada num mapa compósito, incluindo
classificação de processos de formação e regiões de ordem diferente. Enquanto em
posterior modificação de cinturas periféricas Alnwick, Conzen identificou uma hierarquia
em Alnwick e, mais tarde, em Newcastle de quatro ordens de regiões baseadas
upon Tyne. Conzen continuou ainda a aplicar principalmente no plano de cidade (uma
o conceito noutras cidades Britânicas, leitura bidimensional), em Ludlow o
Morfologia urbana: diferentes abordagens 67

geógrafo identificou uma hierarquia de cinco economia urbana (Whitehand, 1977). Mais
ordens baseada não só no plano de cidade, recentemente, o autor desenvolveu uma
mas também no tecido edificado (uma leitura preocupação explícita com os agentes no
tridimensional) e nos usos do solo. processo de transformação da cintura
Uma das características distintivas do periférica, realizando estudos sobre a
trabalho de Conzen é o detalhe da análise. interação entre proprietários, promotores e
Neste contexto, a relação entre as parcelas e planeadores nos processos de
as plantas de implantação dos edifícios desenvolvimento urbano (Whitehand e
assume um papel fundamental. Esta relação é Morton, 2003, 2004, 2006). Em termos de
conceptualizada no ‘ciclo de parcela escala de aplicação, Whitehand estendeu a
burguesa’: a ‘parcela burguesa’ representa a aplicação do conceito desde cidades até
posse de um cidadão proeminente num territórios mais vastos, como a conurbação
assentamento medieval; o ‘ciclo’ consiste no de Tyneside, Glasgow e Birmingham. Em
preenchimento progressivo, com edifícios, termos da variedade de contextos, também
das traseiras da parcela, terminando numa estendeu a aplicação a cidades em França, na
‘libertação’ de edifícios e, posteriormente, Rússia e na Zâmbia. Em 2009, M. P. Conzen
num período de pousio urbano antes do publicou uma análise comparativa da
início de um novo ciclo de desenvolvimento. aplicação do conceito nos diferentes cenários
Em Alnwick, o ciclo de parcela burguesa é culturais em que foi aplicada, refletindo
ilustrado com a evolução do Teasdale's Yard, sobre a eficácia e sobre os limites do
na Fenkle Street, entre 1774 e 1956. Este conceito na identificação e explicação de
ciclo é uma expressão particular de um variações na textura da forma urbana nesses
fenómeno mais geral em que as parcelas são diferentes contextos culturais (Conzen,
sujeitas a uma pressão crescente, muitas 2009). Finalmente, Ünlü (2013) apresenta
vezes associada a mudanças de requisitos um estado da arte sobre este conceito
funcionais numa área urbana em crescimento destacando as características distintivas de
(Whitehand, 2007). quatro tipos de ênfase – espacial, económica,
social e de planeamento. Três anos mais
tarde, o mesmo autor explora a aplicação do
Desenvolvimentos recentes conceito em cidades com padrões
multinucleares em contextos de rápido
Nas últimas quatro décadas, esta abordagem crescimento (Ünlü e Bas, 2016).
morfológica tem sido consistentemente Nas últimas décadas tem havido
desenvolvida pelo UMRG na Universidade aplicações e adaptações do conceito de
de Birmingham. O UMRG foi fundado em região morfológica e do método de
1974 por Whitehand (que foi sempre uma regionalização morfológica em todos os
figura central no desenvolvimento e continentes, bem como demonstrações do
consolidação do grupo e na promoção da seu potencial na conservação e planeamento
tradição Conzeniana) e é o principal centro patrimonial. Um importante estudo foi
de investigação existente no Reino Unido desenvolvido por Baker e Slater no início
dedicado ao estudo dos aspetos histórico- dos anos 1990. Tomando o núcleo de
geográficos da forma urbana. Worcester como caso de estudo, Baker e
Os parágrafos seguintes descrevem o Slater (1992) fornecem evidências para a
desenvolvimento dos três conceitos interpretação de algumas unidades de plano
apresentados na última subsecção – cintura como extensões planeadas criadas num curto
periférica, região morfológica e ciclo de período temporal e de outras unidades como
parcela burguesa. A investigação sobre produtos de um desenvolvimento mais
cinturas periféricas foi desenvolvida incremental. Neste capítulo de livro, o nível
principalmente por Whitehand, tendo tido de detalhe utilizado pelos autores na
também contributos de M. P. Conzen (filho explicação da aplicação do método é bastante
de M. R. G. Conzen) e de Slater. Na década invulgar. Numa revisão do método de
de 70, Whitehand explorou a relação entre as regionalização de Conzen e dos seus
cinturas periféricas e os ciclos de construção, desenvolvimentos ao longo de duas décadas,
demonstrando também a relação com a Whitehand (2009) sustenta a necessidade de
68 Morfologia urbana: diferentes abordagens

uma maior clareza nos métodos de Muratori prepara uma série de artigos para a
caracterização e de delimitação dessas revista Architettura sobre um conjunto de
unidades e uma maior apreciação do seu projetos arquitetónicos recentes construídos
potencial de aplicação na prática de na Europa. A sua prática profissional nesta
planeamento. Dois anos depois, Larkham e década inclui os planos para Aprília e
Morton continuam o estudo de Whitehand Cortoghiana (Maretto, 2012) e um conjunto
explorando o processo específico de desenho de projetos marcados pelo interesse pela
de limites entre diferentes regiões e composição de praças italianas, como temas
questionando a possibilidade de as regiões urbanos fundamentais, nos quais o ambiente
morfológicas, pelo menos nos níveis contruído envolvente é a razão
superiores da hierarquia, poderem ser contextualizada para a praça e para os
delineadas com rigor pela observação de edifícios monumentais que a conformam.
campo e pela análise de cartografia O segundo período, na década de 1940, é
(Larkham e Morton, 2011). marcado pelo desenvolvimento de uma
Slater continuou a linha de investigação perspetiva teórica e operacional. Neste
sobre parcelas – particularmente sobre os período, Muratori escreve uma série de
limites e as dimensões das parcelas – ensaios onde as ideias de cidade como
mostrando como a análise metrológica pode organismo vivo e obra de arte coletiva, e do
ser usada para reconstruir as ‘histórias’ dos desenho dos novos edifícios em continuidade
limites das parcelas. Como base na análise com a cultura construtiva do lugar parecem
das larguras das parcelas em Ludlow, Slater emergir. O programa INA-Casa, incluindo
foi capaz de especular sobre aquilo que tinha um conjunto de bairros em Roma, como
em mente o ‘agente’ medieval quando do Tuscolano (Maretto, 2012), são lançados no
desenvolvimento inicial da área bem como final da década de 1940. A Igreja de S.
inferir as larguras das parcelas originais e Giovanni al Gatano, em Pisa (Cataldi,
como elas foram posteriormente subdivididas 2013b), erguida neste período, tenta capturar
(Slater, 1990). as características fundamentais da arquitetura
românica.
A cidade é o tema principal da atividade
Abordagem tipológica projetual de Muratori na década de 1950. Os edifícios
projetados nesta década tentam abarcar dois
Esta secção divide-se em três partes: a dos períodos mais significativos da história
primeira e a segunda partes focam-se no da arquitetura italiana. Depois de uma fase
trabalho seminal de Saverio Muratori e de inicial em que parecia existir uma lacuna
Gianfranco Caniggia, descrevendo a sua conceptual entre os edifícios de Muratori,
atividade de investigação e ensino e a sua complexos e originais, e os seus planos, de
prática profissional; a terceira parte centra-se certo modo mais ‘banais’, no final da década
nos desenvolvimentos recentes desta de 1950 e, nomeadamente, na competição
abordagem, incluindo uma nova geração de para Barene di S. Giuliano, é construída uma
investigadores. forte ligação entre investigação (em
particular o Studi per una operante storia
urbana di Venezia, Muratori, 1959 – Figura
Saverio Muratori 2) e prática de arquitetura e planeamento.
Este plano corresponde uma recreação
Em Saverio Muratori: il debito e l’eredità, contemporânea, na margem da lagoa, de três
Cataldi (2013a), um dos principais momentos particularmente significativos da
proponentes da abordagem tipológica história urbana de Veneza (este plano será
projetual, divide a atividade de Muratori em retomado na penúltima subsecção).
cinco períodos correspondentes a cinco Território e civilização são os temas
décadas diferentes. O primeiro período fundamentais desenvolvidos por Muratori na
(1930-40) designado como ‘a década de 1960. Com base na experiência de
experimentação profissional’ corresponde Veneza (Muratori, 1959), Studi per una
aos primeiros anos após Muratori receber o operante storia urbana di Roma, publicado
seu diploma de arquiteto. Neste período, em 1963, constitui um atlas abrangente da
Morfologia urbana: diferentes abordagens 69

Figura 2. Studi per una operante storia urbana di Venezia – Quartieiri di S. Giovanni
Crisostomo, desde o século XI até aos anos 1950 (fonte: Muratori, 1959).

capital italiana (Muratori et al., 1963). ‘auto-consciência’, e Civilitá e territorio,


Muratori começa então a concentrar as suas sustentando a ideia de uma crise
reflexões filosóficas em questões mais vastas arquitetónica como expressão de uma crise
fora do campo da arquitetura. Achitettura e mais geral, são dois exemplos desta linha de
civilità in crisi, analisando os processos de pensamento mais abrangente (Muratori,
70 Morfologia urbana: diferentes abordagens

1963, 1967). Para Muratori, o único modo de anteriormente tinha aprendido sobre as
resolver a crise existente consistia na características peculiares do ambiente urbano
capacidade do ser humano estabelecer, a uma genovês (Cataldi et al., 2002).
escala global, uma relação equilibrada com Uma das principais preocupações de
os seus territórios (Cataldi et al., 2002). Caniggia era transmitir as ideias de Muratori
Nos seus últimos anos de vida, nos em termos arquitetónicos, partindo da
projetos não concluídos Atlante territorial e convicção de que a sua difusão estaria, de
Tabelloni, Muratori tenta estabelecer uma algum modo, obstruída por dificuldades de
classificação universal das estruturas compreensão inerentes ao pensamento de
construídas pelo homem. Muratori. Caniggia tentou simplificar e
reduzir o sistema teórico de Muratori,
destacando os seus aspetos mais
Gianfranco Caniggia operacionais. Nomeadamente, sublinhando a
importância dos conceitos de tipo, tecido
Em 1963 Caniggia conclui Lettura di una edificado e edifício básico – a matriz
città: Como (tese orientada por Muratori), o formativa do edifício especializado (Cataldi
seu primeiro grande contributo para a et al., 2002). Enquanto Muratori procurou,
morfologia urbana e a tipologia do edificado dedutivamente, contruir um sistema
(Caniggia, 1963). A interpretação do filosófico capaz de interpretar a história da
processo de desenvolvimento urbano desta civilização através da arquitetura, Caniggia
cidade permitiu-lhe evidenciar nas casas tentou construir, de modo indutivo, um
geminadas romanas a persistência da domus método tipológico capaz de interpretar
como um tipo de substratum. Esta foi uma transformações no ambiente urbano para fins
intuição fundamental que abriu uma linha de arquitetónicos (Cataldi, 2003).
investigação sobre os processos de formação Cataldi (2003) identifica seis contributos
de casas pátio medievais em cidades fundamentais de Caniggia para a abordagem
históricas europeias (Cataldi et al., 2002). tipológica projetual: i) o desenvolvimento de
Enquanto assistente de Muratori, Caniggia um conjunto de conceitos formulados por
trabalha no tema dos tecidos urbanos. Muratori: tipo, tipologia, estrutura, tecido,
Na década de 1970, Caniggia teve de série; ii) o estabelecimento do método
deixar Roma e iniciar uma longa viagem que tipológico projetual; iii) a descoberta e o
constituiria uma das razões para a difusão da reconhecimento da domus (casa pátio) como
abordagem tipológica projetual em Itália. Em a matriz, na arquitetura e no planeamento
Génova e Florença, Caniggia desenvolve romanos, para todos os tipos básicos
uma linha de investigação, nos seus cursos, seguintes; iv) a distinção entre tipo básico e
desenvolvendo uma metodologia para a tipo especializado; v) a teoria da
interpretação da cidade e dos seus ‘medievalização’ e os processos de utilização
componentes. Progressivamente, consegue espontâneos de estruturas planeadas; e,
acumular uma sólida experiência de ensino, finalmente, vi) o método de interpretação por
que viria a constituir material de base para a fases da história de uma cidade em
preparação de Composizione architettonica e articulação com os processos tipológicos
tipologia edilizia, escrito com Maffei, e básicos.
dividido em dois volumes. O primeiro
volume, sobre a interpretação dos edifícios
básicos (ou comuns), foi publicado no final Desenvolvimentos recentes
dos anos 70 (Caniggia e Maffei, 1979).
O segundo volume de Composizione Os desenvolvimentos recentes da abordagem
architettonica e tipologia edilizia é tipológica projetual são enquadrados por
publicado em 1984, com um enfoque no duas organizações, o Centro Internazionale
desenho dos edifícios básicos (Caniggia e per lo Studio dei Processi Urbani e
Maffei, 1984). Caniggia desenvolve um dos Territoriali (CISPUT) e o ISUF Italia, uma
seus projetos fundamentais na década de rede nacional do International Seminar on
1980, o bairro Quino em Génova, onde tem a Urban Form (ISUF). O CISPUT foi fundado
oportunidade de pôr em prática tudo o que em Pienza em 1981 por Cataldi – o seu
Morfologia urbana: diferentes abordagens 71

coordenador – e por um conjunto de evolução dos edifícios residenciais no


investigadores italianos e americanos. A contexto da evolução dessas duas cidades
intenção era fornecer um palco para que (Maffei, 1990; Bascià et al., 2000).
arquitetos e historiadores de arquitetura se
reunissem, desenvolvessem comparações e
verificassem, sob o ponto de vista de Sintaxe espacial
diferentes disciplinas, a validade do método
de Muratori (Cataldi et al., 2002). Apesar da Esta secção divide-se em três partes: começa
atividade dinâmica do CISPUT ao longo de por descrever as origens da sintaxe espacial e
quase três décadas – incluindo mais de 20 os textos seminais de Hillier e Hanson,
conferências em diferentes cidades italianas, passando para os principais
de Pienza a Modena – o grupo tem vindo desenvolvimentos desta abordagem
progressivamente a perder importância. configuracional nas duas últimas décadas e,
Depois de uma primeira fundação em 2007, finalmente, para uma descrição das suas
em Roma, o ISUF Italia foi refundado em características fundamentais.
2014 numa conferência na capital italiana. A
refundação do ISUF Italia – sob a
presidência de Strappa – coincidiu com o As origens da sintaxe espacial
início da preparação da conferência anual da
ISUF em Roma 2015 e com o lançamento de Se o núcleo de uma visão morfológica mais
uma nova revista, U+D Urbanform and quantitativa (particularmente quando
Design, dedicada à relação entre investigação comparada com as duas abordagens
morfológica e prática profissional. apresentadas anteriormente) está, nos anos
As origens e o desenvolvimento do 1960, no centro de investigação Land Use
CISPUT e do ISUF Italia estão claramente and Built Form (LUBFS), na Universidade
marcados por dois investigadores italianos, de Cambridge, dirigido por Martin e March,
Cataldi e Strappa. Cataldi tem desempenhado em meados da década de 1970 ganha um
um papel de liderança na promoção da novo ímpeto com a criação da Unit for
abordagem tipológica projetual ao longo das Architectural Studies na University College
últimas três décadas. Cataldi, que é um ex- London (UCL), coordenado por Hillier. O
aluno de Muratori, dedicou uma parte trabalho de investigação da sintaxe espacial
significativa de seu trabalho à reconstrução começa nesta unidade, com o propósito de
da história da Escola Muratoriana. Os seus compreender a influência do desenho
principais interesses de investigação incluem arquitetónico nos problemas sociais
a interpretação territorial e os processos existentes em muitos conjuntos de habitação
tipológicos, incluindo o tema da arquitetura social que estavam a ser construídos no
primitiva (Cataldi, 2015). As cidades de Reino Unido.
Pienza e Roma têm um papel central no Para além de um interessante conjunto de
trabalho de Cataldi (ver, por exemplo, trabalhos seminais publicados nos anos
Cataldi, 2016 e Cataldi e Formichi, 2007). 1970, durante os primeiros anos deste
Strappa tem vindo a desenvolver as noções programa de investigação (Hillier, 1973 e
de organismo e, em particular, de processo Hillier et al., 1976), três livros de Hillier e
na arquitetura – ver, por exemplo, L' Hanson devem ser destacados: The social
architettura come processo (Strappa, 2014). logic of space (Hillier e Hanson, 1984),
A sua investigação tem-se centrado nas Space is the machine (Hillier, 1996) e
cidades de La Valletta, Trani e Roma e em Decoding homes and houses (Hanson, 1998).
algumas cidades da região da Lácio. Outro Hillier e Hanson (1984) propõem uma nova
investigador com um papel crucial nesta teoria e novos métodos para a investigação
segunda geração é Gian Luigi Maffei. da relação entre sociedade e espaço (Figura
Conforme mencionado acima, Maffei 3). O livro tenta construir um modelo
colaborou com Caniggia e publicou os seus conceptual para a investigação desta relação
estudos inacabados após a sua morte. Além com base no conteúdo social dos padrões
disso, Maffei publicou dois livros sobre espaciais e no conteúdo espacial dos padrões
casas florentinas e romanas que analisam a sociais. Em seguida, tenta estabelecer um
72 Morfologia urbana: diferentes abordagens

Figura 3. The social logic of space – os mapas axiais de Gassin e Barnsbury


(fonte: Hillier e Hanson, 1984).

método de análise dos padrões espaciais, ‘Sínteses teóricas’ reúne algumas das
com ênfase na relação entre as relações questões levantadas na primeira parte, as
morfológicas locais e os padrões globais. regularidades evidenciadas na segunda parte
Estabelece uma teoria descritiva dos tipos de e as leis propostas na terceira parte do livro,
padrões e, em seguida, um método de para sugerir como os dois problemas centrais
análise. Esta teoria e este método são da teoria da arquitetura – o problema forma-
aplicados, primeiro, a assentamentos urbanos função e o problema forma-significado –
e, depois, a edifícios. Com base nestas podem ser ‘reconceptualizados’.
aplicações, o livro estabelece uma teoria Hanson (1998) analisa a evolução da
descritiva de como os padrões espaciais têm organização do espaço doméstico e da
associados conteúdos sociais. estrutura familiar na Grã-Bretanha através de
Hillier (1996) sintetiza o um conjunto de registos de ‘casas históricas’,
desenvolvimento da sintaxe espacial nos exemplos de ‘casas especulativas’ e de
anos 1980 e no início dos anos 1990, arquitetura doméstica inovadora
sublinhando as dimensões configuracional e contemporânea. Decoding homes and houses
analítica desta teoria. O livro divide-se em mostra como o espaço doméstico fornece um
quatro partes: i) ‘Preliminares teóricos’ trata enquadramento partilhado para a vida
das questões mais básicas a que a teoria quotidiana, como diferentes significados
arquitetónica tenta responder: o que é sociais são construídos em diferentes casas e
arquitetura e o que são teorias (?); ii) como diferentes subgrupos dentro de cada
‘Regularidades não discursivas’ apresenta sociedade se diferenciam através dos seus
uma série de estudos nos quais foram padrões de espaço doméstico e de estilos de
estabelecidas ‘regularidades’ na relação entre vida.
a configuração espacial e o funcionamento
dos ambientes construídos, utilizando para
tal técnicas não-discursivas de análise para Desenvolvimentos fundamentais
controlar as variáveis arquitetónicas; iii) ‘As
leis do campo’ utiliza essas regularidades Hillier (2007) identifica os principais
para reconsiderar uma questão fundamental contributos para a teoria e o método da
na teoria arquitetónica: como é que o vasto sintaxe espacial nas décadas de 1990 e 2000.
campo de possíveis complexos espaciais é Em termos de método – frequentemente
constrangido durante o processo de criação correspondente ao desenvolvimento de novo
de cada edifício (?); e, por fim, iv) software – Hillier destaca os textos de:
Morfologia urbana: diferentes abordagens 73

Turner (2004), Turner e Penn (1999) e espacialmente, e ruas mais prósperas,


Turner et al. (2001) sobre o processo de espacialmente integradas.
‘sintaxessização’ da análise da Visibility No seu estudo fundamental sobre espaço
Graph Analysis e sobre a proposta do e crime, Hillier (2004) sugere a ausência de
software Depthmap; de Dalton (2001) sobre uma correlação entre criminalidade e
análise angular; e, ainda, de Figueiredo e densidade e apenas uma correlação pobre
Amorim (2005) sobre linhas de continuidade entre afluência e crime. Contrariamente a
resultantes da agregação de linhas axiais. Em estes que são pressupostos correntes, Hillier
termos de teoria, importa destacar os textos defende uma correlação muito forte entre o
de Peponis et al. (1997, 1998a, 1998b) sobre tipo de layout urbano e os diferentes tipos de
questões geométricas, de Batty (2004a, crime. Cada tipo de crime e as características
2004b) sobre grafos, de Hillier (2002) sobre do ambiente construído associadas a esse
a forma urbana e de Hillier (1999) sobre as mesmo tipo de crime foram estudados por
relações entre espaço, movimento e padrões diferentes autores – o roubo de rua por
de uso do solo. Sahbaz e Hillier (2007), o roubo residencial
Se no início, a sintaxe espacial se centrou por López e Nes (2007), o roubo de viaturas
principalmente nos padrões de movimento por Nubani e Wineman (2005) e o
pedonal, atualmente as suas linhas de comportamento anti-social por Hanson e
investigação fundamentais incluem a Zako (2007). Este conjunto de estudos utiliza
cognição espacial, os desenvolvimentos a sintaxe espacial isoladamente ou em
metodológicos (incluindo modelação e combinação com outros métodos, vai desde a
desenvolvimento de software), morfologia e escala micro à escala macro, e pretende
performance do edificado, e a exclusão e fornecer evidências de diferentes contextos
coesão social. Os dois últimos temas são geográficos.
desenvolvidos nos dois parágrafos seguintes.
Um conjunto de artigos publicados num
número da revista Progress in Planning Principais características
mostra como a sintaxe espacial pode ser
utilizada no estudo da dimensão espacial dos O enfoque no espaço e as relações entre
processos de segregação (Dalton, 2007; espaço e movimento são dois aspetos
Hillier e Vaughan, 2007; Marcus, 2007; fundamentais da sintaxe espacial. Nos textos
Vaughan, 2007). Com base num estudo de seminais, como Hillier e Hanson (1984), este
uma pequena cidade americana, Dalton enfoque no espaço enfatiza as fronteiras
(2007) mostra como uma perspetiva entre a sintaxe espacial, então emergente, e
alternativa sobre transporte integrado pode outras propostas teóricas existentes. Hillier e
levar a soluções incomuns, embora eficazes, Hanson acreditavam que a maioria dessas
para lidar com a exclusão social e propostas estavam a discutir o espaço apenas
económica. Hillier e Vaughan (2007) em termos das superfícies que o definiam.
propõem um modelo explicativo para a Outros autores estariam a debater o espaço
capacidade de uma cidade acomodar por si só e não as relações espaciais dentro
diferenças sociais através da organização de dos edifícios ou nas áreas urbanas, que era
padrões de acessibilidade de acordo com o precisamente o propósito da sintaxe espacial.
grau de ‘co-presença’ exigido pela atividade Hillier e Hanson (1984) defendem o
contida em cada espaço. Marcus (2007) estabelecimento de uma teoria que sustente
mostra que quando o espaço público é uma autonomia descritiva do espaço,
desenhado para ser segregado ao invés de ser permitindo a consideração de uma variedade
parte de uma rede de ruas integrada, esse morfológica mais ampla de modo a refletir as
espaço pode ter efeitos profundos na diferentes relações entre espaço e sociedade.
capacidade dos moradores de bairros sociais Em síntese, é proposta uma nova visão da
formarem laços sociais efetivos. Por fim, arquitetura e da cidade, enfatizando os
tomando Londres como caso de estudo, espaços urbanos por onde as pessoas se
Vaughan (2007) identifica uma linha de movimentam e onde as atividades sociais e
pobreza, com uma forte dimensão espacial, económicas se realizam. A configuração
distinguindo ruas pobres, segregadas espacial é um conceito-chave nesta
74 Morfologia urbana: diferentes abordagens

abordagem, significando as relações entre espacial’ (expressão sugerida por Kropf,


dois espaços dentro de um sistema 2009) – autómatos celulares, modelos
considerando as suas relações com todos os baseados em agentes e fractais – cada um
outros espaços nesse sistema (Hillier et al., deles correspondendo a uma subsecção
1987). A configuração espacial é, portanto, diferente. No entanto, importa referir que os
um conceito mais complexo do que uma três modos de análise espacial não são
relação espacial simples que considera mutuamente exclusivos e podem ser
apenas dois espaços. utilizados de modo complementar.
A sintaxe espacial apresenta algumas
inovações ao nível das relações entre espaço
urbano e movimento (pedonal e de veículos). Autómatos celulares
Contrariando as teorias dominantes que
apontavam para a existência de fluxos ‘de’ e A história dos Autómatos Celulares (AC)
‘para’ os usos do solo atractores como a remonta à teoria de von Neumann sobre
principal explicação para estas relações, a autómatos ‘auto-reproduzidos’ e à sua
sintaxe espacial sugere que a configuração cooperação com Ulam numa altura em que
do layout urbano é o principal gerador de ambos estavam a trabalhar com conceitos de
padrões de movimento. Hillier et al. (1993) vida artificial e com a idealização de
designam o movimento gerado pela sistemas biológicos. A teoria dos autómatos
configuração do layout como movimento auto-reproduzidos descreve princípios
natural. Estes autores sustentam que o conceptuais de uma máquina capaz de se
movimento tem uma dimensão morfológica auto-replicar. Já na década de 1930, Turing
ou, por outras palavras, que é um produto trabalha com autómatos, quando define um
funcional da natureza intrínseca do layout. computador abstrato que mais tarde veio a
Como tal, a questão do movimento e da ser conhecido como a Máquina de Turing,
utilização do espaço em geral, não pode ser onde a ideia do autómato se aproxima do que
separada da questão da forma urbana. hoje é considerado como AC (Iltanen, 2012).
O modo como as relações espaciais Os modelos AC são uma ferramenta para
dentro de um edifício ou numa área urbana a modelação dinâmica de fenómenos urbanos
são representadas é outro elemento distintivo que procura captar a complexidade dos
da sintaxe espacial. Esta representação é fenómenos espaciais. Os modelos AC têm
traduzida num mapa axial que é constituído uma formulação simples que torna muito
pelo menor conjunto de linhas axiais que fácil a sua perceção para a área dos estudos
cobre todo o sistema, de tal modo que urbanos. Existem cinco componentes
qualquer espaço convexo seja atravessado básicos: i) as células, ii) os estados das
por uma dessas linhas (Hillier e Hanson, células (‘ligado’ ou ‘desligado’), iii) a
1984). A linha axial corresponde à linha mais vizinhança (as células adjacentes), iv) as
longa que pode ser desenhada através de um regras de transição (como, por exemplo, o
ponto arbitrário na configuração espacial. O número de vizinhos necessários para ‘ligar’ a
mapa axial pode ser traduzido num grafo, célula) e, por fim, v) o tempo. As células são
que é um conjunto finito de nós, designados partições de espaço nas quais ocorrem alguns
por vértices, conectados por ligações, fenómenos – por exemplo, unidades
designadas por arestas. A partir desse grafo administrativas territoriais. A cada instante,
pode extrair-se um conjunto de medidas cada célula tem um determinado estado a
topológicas de modo a quantificar as partir de um conjunto finito de possíveis
características da configuração espacial. A estados celulares – os diferentes usos que o
definição de medidas topológicas pretende solo pode ter. A vizinhança estabelece a
quantificar o padrão espacial de relações de extensão em que as interações espaciais entre
um sistema. células, considerando os seus estados são
contabilizadas (por exemplo, as interações
entre diferentes usos do solo). Tipos de
Análise espacial vizinhanças comuns são a ‘vizinhança de
Moore’ – todas as células nos oito espaços ao
Esta secção inclui três modos de ‘análise redor da célula em questão – ou a
Morfologia urbana: diferentes abordagens 75

‘vizinhança de von Neumann’ – as quatro modo como lidam com o espaço e como
células a norte, sul, este e oeste da célula capturam as dinâmicas espaciais dos
central. As regras de transição alteram os fenómenos – como podem ser mais úteis
estados das células ao longo do tempo, para os estudos urbanos e a prática de
simulando dinâmicas territoriais. O tempo dá planeamento.
assim a estes modelos um caráter dinâmico.
A combinação destes componentes permite
modelar a forma – através de células e de Modelos baseados em agentes
vizinhança – e a função das células – com
estados celulares e regras de transição (Pinto, Ao longo do século XX, a geografia
2013). incorporou ideias e teorias de outras
A designação ‘celular’ contribui com a disciplinas. Essas ideias fortaleceram a
estrutura espacial do conceito; a designação importância da modelação e da compreensão
‘autómato’ indica a capacidade de processar do impacto dos agentes individuais e da
este código (os estados da célula) de acordo heterogeneidade dos sistemas geográficos a
com um conjunto de regras de transição. Um diferentes escalas espaciais e temporais. Os
modelo no qual o espaço é constituído por Modelos Baseados em Agentes (MBA)
células diferentes será um modelo de permitem a simulação das ações individuais
autómatos celulares. Os modelos de AC de diversos agentes e a medição do
tiveram um desenvolvimento muito intenso comportamento e resultados do sistema ao
em diferentes áreas da física e matemática, longo do tempo. O desenvolvimento de
beneficiando dos avanços da computação abordagens de autómatos tem sido essencial
entre os anos 1950 e 1970. O trabalho de para os avanços nos MBA. Um autómato é
Wolfram compilado no seu livro A new kind um mecanismo de processamento com
of science (Wolfram, 2002) e Game of life de características que mudam ao longo do
Conway (publicado pela primeira vez por tempo com base nas suas características
Gardner, 1970, na revista Scientific internas, em regras e em inputs externos. Os
American) são dois exemplos notáveis. autómatos processam inputs de informação
Apesar de algumas experiências nas que lhes são fornecidos a partir da
décadas de 1950 e 1960 (Hagerstand, 1952; envolvente e as suas características são
Lathrop e Hamburg, 1965), os AC foram alteradas de acordo com regras que
aplicadas pela primeira vez em estudos controlam a sua reação a esses inputs. Dois
urbanos por Tobler no seu trabalho Cellular tipos de ferramentas de autómatos têm vindo
Geography. Tobler (1979) propõe um novo a dominar o debate – AC (que foram
modelo geográfico que recebe inputs do apresentados na última subsecção) e MBA
Game of Life e do conceito de vizinhança de (Crooks e Heppenstall, 2012).
von Neumann. Após este trabalho, vários Embora não exista uma definição precisa
autores passaram a implementar modelos de do termo ‘agente’, existem algumas
AC na simulação de fenómenos urbanos, características comuns à maioria dos agentes:
particularmente a partir dos anos 1980, os agentes são autónomos, heterogéneos e
quando a microcomputação amplia a ativos. Os agentes podem ser representações
utilização do cálculo computacional: de qualquer tipo de entidade autónoma
Couclelis (1985) sustenta a combinação de (pessoas, edifícios, parcelas). Cada um
AC e teorias de sistemas para estudar os desses agentes, animados e inanimados,
sistemas urbanos; White e Engelen (1993) possui regras que afetarão o seu
apresentam o seu primeiro modelo comportamento e as suas relações com
‘constrangido’, combinando mecanismos de outros agentes e / ou com o ambiente
escala micro e macro em regras de transição envolvente. O ambiente envolvente define o
de estados celulares. Couclelis (1997) espaço em que os agentes atuam, servindo
enumera uma série de questões-chave para apoiar a sua interação com o próprio
(relativas ao espaço e à sua modelação, às ambiente e com outros agentes (Crooks e
vizinhanças e à sua definição, e às regras de Heppenstall, 2012).
transição e à sua universalidade) para que os Os MBA têm muitas das características
modelos de AC sejam mais realistas no dos modelos de AC, exceto o ambiente e a
76 Morfologia urbana: diferentes abordagens

população do sistema, que são mantidos


separados. O setor populacional inclui os
agentes cujo comportamento é especificado
com um detalhe considerável. Os agentes
tendem a ser móveis num sentido espacial e
mesmo que não se movam fisicamente no
espaço, podem estar associados a espaços
diferentes e a sua transformação ao longo do
tempo pode, de modo implícito, refletir um
processo de movimento.
Neste sentido, o ambiente é tratado de
modo mais passivo do que a população (a Figura 4. Londres fractal: densidades de
população induz transformações no emprego (fonte: Batty e Longley, 1994).
ambiente) embora, em princípio, não haja
prioridade de um sobre o outro.
A ideia de um agente com um perfil fragmentados que a natureza, quando
comportamental específico e com uma comparada com a geometria euclidiana,
atuação propositiva é central para a definição exibe não apenas uma maior complexidade
dos MBA. Em termos de agregação e de mas também uma diferente complexidade.
escala, os MBA tendem para escalas Mandelbrot propõe uma nova geometria da
menores do que a região ou a metrópole, natureza – sustentando a sua utilização em
embora alguns modelos de uso do solo diferentes campos – com base no conceito de
baseados em MBA sejam aplicados nessas ‘fractal’. O título de seu ensaio de 1977,
escalas maiores. Estes modelos não são Fractals: form, chance and dimension,
constrangidos em termos de conservação de revela qual a natureza das características
quantidades, mas podem ser estruturados fundamentais deste conceito: i) a forma de
para gerar ou conservar um determinado um fractal é irregular, tendo uma aparência
nível de população, particularmente se o ‘quebrada’; ii) a maioria dos fractais está
enfoque é o movimento num espaço fixo associada ao acaso e as suas irregularidades
como no caso dos modelos pedonais. As suas são estatísticas; as suas formas tendem a ser
dinâmicas e as suas relações com o ambiente ‘escalares’ – o grau da sua irregularidade e /
envolvente são semelhantes às dos AC e ou fragmentação é idêntico em todas as
tendem a ser altamente desagregadas até os escalas; e, por fim, iii) a dimensão fractal não
indivíduos constituírem as suas unidades é um valor inteiro: enquanto na geometria
básicas. euclidiana as linhas, os quadrados e os cubos
têm uma dimensão integral, os padrões
fractais no plano têm uma dimensão entre 1 e
Fractais 2, enquanto que a ‘dimensão fractal’ dos
fractais no espaço é entre 2 e 3.
A geometria euclidiana é dominada pelo Nas décadas subsequentes, a geometria
conceito de ‘coisas’ com uma, duas ou três fractal é progressivamente aplicada ao
dimensões. Uma linha tem uma dimensão – ambiente urbano. Dois livros fundamentais
o comprimento; um plano tem duas sobre fractais são publicados em 1994. Batty
dimensões, o comprimento e a largura; e um e Longley (1994) aplicam a geometria fractal
cubo tem três dimensões, o comprimento, a às cidades (Figura 4). Estes autores
largura e a altura. No início dos anos 1950, sustentam que as cidades são fractais na sua
Mandelbrot lança uma linha de investigação forma e que, paradoxalmente, uma grande
que questiona esta visão e que conduz a dois parte da teoria urbana pré-existente é uma
ensaios fundamentais em meados da década teoria da cidade fractal. Frankhauser (1994)
de 1970, que vão adquirir a sua forma final sustenta a existência de processos de auto-
no livro The fractal geometry of nature. organização, ou princípios de ordem interior,
Mandelbrot (1982) sustenta que muitos que promovem o desenvolvimento de
padrões da natureza são tão irregulares e padrões urbanos ‘irregulares’. Como no caso
Morfologia urbana: diferentes abordagens 77

Tabela 1. Síntese das quatro abordagens

Quais são os textos Quais são os Como é que a Que exemplos de


seminais? conceitos chave? abordagem lida aplicação na prática
com: de planeamento?
i) elementos da
forma urbana
ii) níveis de
resolução e
iii) tempo?

Abordagem Conzen (1960) Divisão tripartida da i) ruas, parcelas e 1992 - O plano para
histórico-geográfica paisagem urbana edifícios Asnières-sur-Oise,
Cintura periférica ii) escalas micro à França, de Ivor
Região morfológica macro Samuels e Karl Kropf
Ciclo de parcela iii) importância da
burguesa história

Abordagem Muratori (1959) Tipo i) ruas e edifícios 1959 - O plano para


tipológica projetual Caniggia e Maffei Processo tipológico ii) escalas micro e Barene di San
(1979) Tecido macro Giuliano, Itália, de
Organismo iii) importância da Saverio Muratori
História operativa história

Sintaxe espacial Hillier e Hanson Configuração i) ruas e edifícios 2000s - Os planos


(1984) espacial (espaços interiores) para Jeddah, Arábia
Hillier (1996) Movimento natural ii) escalas micro à Saudita, de Space
Hanson (1998) Linha axial e mapa macro Syntax Limited
axial iii) antecipação de
Segmento e mapa de cenários futuros
segmentos
Medidas sintáticas
(integração,
escolha…)

Análise espacial Tobler (1979) Células e autómatos i) ruas e parcelas -


Batty e Longley celulares ii) escalas meso e
(1994) Agentes e modelos macro
Batty (2005) baseados em agentes iii) antecipação de
Fractais cenários futuros

de Batty e Longley, Frankhauser propõe o Finalmente, os fractais foram utilizados


uso de fractais para medir e caracterizar estas para analisar as características de ruas. Esta
estruturas irregulares. linha é desenvolvida fundamentalmente por
Bovill (1996) centra-se, não em cidades Cooper ao longo dos últimos 15 anos.
mas, em estruturas construídas individuais. Cooper começa por utilizar a análise
Bovill explora a utilização da dimensão fractal para avaliar a complexidade dos
fractal na avaliação e no desenho de skylines urbanos e naturais, passando então
edifícios. Esta linha de investigação é para uma análise das propriedades fractais
desenvolvida de modo sistemático ao longo dos limites das ruas e, finalmente, para uma
das duas últimas décadas – Joye (2011) análise de vistas de rua relacionando o
apresenta uma revisão dos diferentes modos cálculo da dimensão fractal com a perceção
como a geometria fractal tem sido utilizada de níveis de variedade visual presentes em
para analisar e desenhar formas ruas urbanas quotidianas (Cooper e
arquitetónicas. Oskrochi, 2008).
78 Morfologia urbana: diferentes abordagens

Figura 5. O POS de Asniéres-sur-Oise: Le Village


(fonte: Mairie d’Asnières-sur-Oise et al., 1992).

Síntese comparativa e aplicações principal do Plan d’Occupation des Sols


(POS) era a manutenção da identidade local
Depois de descrever as quatro abordagens (marcada por um forte património
nas secções anteriores, esta secção reune os arquitetónico) evitando os processos de
elementos fundamentais apresentados até suburbanização que estavam a ocorrer nos
agora. A Tabela 1 sintetiza estes elementos municípios vizinhos em torno da capital
em quatro grupos: textos seminais; conceitos francesa. O plano propõe um zoneamento
chave; o modo como cada abordagem lida tipo-morfológico, onde as referências para as
com os elementos de forma urbana, com os novas formas urbanas (a serem criadas pelos
níveis de resolução e com o tempo; e, por diferentes agentes) em cada uma das partes
fim, exemplos de aplicação destas que constituem o território de Asnières são
abordagens na prática de planeamento. as formas existentes nessa mesma parte do
A abordagem histórico-geográfica é território. Para mais detalhes sobre o plano,
construída em torno do trabalho de Conzen, ver Mairie d’Asnières-sur-Oise et al. (1992),
particularmente do seu livro sobre Alnwick Samuels (1993) e Samuels e Pattacini
(Conzen, 1960). É em Alnwick que ele (1997).
formula a ideia de uma divisão tripartida da A abordagem tipológica projetual é
paisagem urbana (plano de cidade, tecido construída em torno de duas figuras
edificado e usos do solo) e os conceitos de fundamentais, Muratori e Caniggia, e dos
cintura periférica, região morfológica (ou, seus livros Studi per una operante storia
mais precisamente, de unidade de plano) e urbana de Venezia (Muratori, 1959) e
ciclo de parcela burguesa. A abordagem Composizione architettonica e tipologia
histórico-geográfica é bastante equilibrada e edilizia I: lettura dell’ edilizia di base
abrangente, incluindo todos os elementos da (Caniggia e Maffei, 1979). Os conceitos de
forma urbana e todas as escalas de análise; tipo, processo tipológico, tecido, organismo
tem um forte enfoque na história. e história operativa surgem nestes dois livros
Um dos exemplos mais notáveis de chave e são desenvolvidos por novas
aplicação desta abordagem na prática de gerações de investigadores. A abordagem
planeamento é desenvolvido por Samuels e tipológica projetual partilha com a
Kropf no início dos anos 1990 no plano de abordagem historico-geográfica um conceito
Asnières-sur-Oise, uma pequena cidade nos de tempo em que a história tem um papel
arredores de Paris (Figura 5). O objetivo fundamental na descrição e na explicação da
Morfologia urbana: diferentes abordagens 79

Figura 6. Barene di San Giuliano em Veneza: Estuários I, II e III


(fonte: Maretto 2012).

paisagem urbana. A abordagem tipológica aplicação na prática de planeamento é


projetual é, de alguma forma, menos desenvolvido por Muratori no final da
equilibrada do que a histórico-geográfica década de 1950 num concurso de
com um enfoque menos evidente nas planeamento para uma área localizada a
parcelas (em termos dos elementos de forma nordeste da parte histórica de Veneza – a
urbana). área de San Giuliano (Figura 6). O programa
Um dos mais notáveis exemplos de de concurso define a criação de uma nova
80 Morfologia urbana: diferentes abordagens

cidade para cerca de 40.000 habitantes,


incluindo um conjunto de funções
características de uma cidade moderna que
eram difíceis de acomodar no centro
histórico de Veneza. Neste concurso,
Muratori aplicou a metodologia de ‘desenho
por fases’ (para uma descrição detalhada da
metodologia ver Cataldi, 1998 e Maretto,
2012). A aplicação desta metodologia leva à
preparação, não de uma única proposta final
mas, de três propostas – tantas quantas as
principais fases de crescimento da história
urbana de Veneza.
Embora com uma predominância menor
que Conzen, na primeira abordagem, e
Muratori e Caniggia, na segunda abordagem,
o trabalho desenvolvido por Hillier e
Hanson, e em particular os livros The social
logic of space, Space is the machine e Figura 7. O mapa axial de Jeddah: cenários
Decoding homes and houses constituem o alternativos (fonte: Karimi, 2012).
núcleo central da literatura sobre sintaxe
espacial (Hillier e Hanson, 1984; Hillier,
1996; Hanson, 1998). A partir deste núcleo Muratori) descritas nos parágrafos anteriores.
de livros emerge uma série de conceitos Um dos aspetos chave da sintaxe espacial é
fundamentais como configuração espacial, que ela constitui uma teoria e uma
movimento natural, linha axial (e mapa metodologia analítica, mas não impõe um
axial), segmento (e mapa de segmentos) e layout urbano. Pelo contrário, ajuda a
um conjunto de medidas sintáticas (sublinha- melhorar as qualidades do layout específico
se o protagonismo crescente que a integração de cada cidade. Como tal, a proposta para os
e a escolha têm obtido nos últimos anos). O assentamentos informais tentou identificar os
enfoque principal desta abordagem, em eixos mais integrados da estrutura local e
termos de elementos de forma urbana, são as depois melhorar a sua articulação com a
ruas e os espaços interiores dos edifícios. estrutura geral da cidade. Para mais detalhes
Partilha com a abordagem histórico- sobre estes planos ver Karimi et al. (2007) e
geográfica a capacidade de aplicação em Karimi e Parham (2012).
todas as escalas de análise. A sintaxe É importante sublinhar que a análise
espacial lida com o tempo de modo diferente espacial (Kropf, 2009) é muito mais
das abordagens histórico-geográfica e heterogénea do que as outras três
tipológica projetual – antecipando cenários abordagens. Textos como Cellular
futuros de desenvolvimento urbano. geography, Fractal cities e Cities and
Um excelente exemplo de uma aplicação complexity, para referir alguns dos mais
na prática de planeamento é o conjunto de importantes, constituem um núcleo
planos (um plano estratégico, um plano sub- fundamental para entender uma abordagem
regional, um plano estrutural e uma série de que se baseia nos conceitos e métodos dos
planos locais) preparados para Jeddah, autómatos celulares, modelos baseados em
Arábia Saudita, pela Space Syntax Limited agentes e fractais (Batty, 2005; Batty e
sob a coordenação de Karimi (Figura 7). Um Longley, 1994; Tobler, 1979). Em termos de
dos principais objetivos desta prática é lidar elementos de forma urbana, a análise
com um conjunto de 50 assentamentos espacial não tem a abrangência da
informais em Jeddah com uma população abordagem histórico-geográfica, centrando-
estimada de um milhão de habitantes. É, se principalmente nas ruas e nas parcelas;
portanto, uma realidade absolutamente inclui as escalas de análise meso e macro e
diferente dos planos para as duas cidades partilha com a sintaxe espacial uma conceção
europeias (de Samuels e Kropf e de de tempo, antecipando cenários futuros de
Morfologia urbana: diferentes abordagens 81

desenvolvimento urbano. Caniggia, G. (1963) Lettura di una città: Como


Ao contrário do que acontece com as (Centro Studi di Storia Urbanistica, Roma).
outras três abordagens, não é fácil encontrar Caniggia, G. e Maffei, G. L. (1979)
Composizione architettonica e tipologia edilizia
na literatura, aplicações da análise espacial
I: lettura dell’edilizia di base (Marsilio,
na prática de planeamento. No entanto, Veneza).
modelos como o Sleuth (Clark e Gaydos, Caniggia, G. e Maffei, G. L. (1984)
1998) e o UrbanSim (Waddell, 2002), terão, Composizione architettonica e tipologia edilizia
pelo menos de um modo indireto, uma II: il progetto nell’edilizia do base (Marsilio,
influência na prática de planeamento. Veneza).
Cataldi, G. (1998) ‘Designing in stages’ em
Petruccioli, A. (ed.) Typological process and
Conclusões design theory (Aga Khan Program for Islamic
Architecture, Cambridge) 159-77.
Cataldi, G. (2003) ‘From Muratori to Caniggia’,
O artigo apresentou uma revisão da literatura
Urban Morphology 7, 19-34.
sobre as principais abordagens em Cataldi, G. (2013a) ‘Saverio Muratori: il debito e
morfologia urbana que foram desenvolvidas l’eredità’ em Cataldi, G. (ed.) Saverio Muratori
nas últimas décadas: a abordagem histórico- Architetto (Aión Edizioni, Florença) 10-5.
geográfica promovida pela Escola Cataldi, G. (ed.) (2013b) Saverio Muratori
Conzeniana, a abordagem tipológica Architetto (Aión Edizioni, Florença).
projetual promovida pela Escola Cataldi, G. (2015) Abitazioni primitive (Aión
Muratoriana, a sintaxe espacial e as várias Edizioni, Florença).
formas de análise espacial. O artigo destacou Cataldi, G. (2016) ‘A double urban life cycle: the
as principais forças e fragilidades de cada case of Rome’, Urban Morphology 20, 45-57.
Cataldi, G., Maffei, G. L. e Vaccaro, P. (2002)
uma dessas abordagens e evidenciou alguns
‘Saverio Muratori and the Italian school of
pontos de contato entre diferentes planning typology’, Urban Morphology 6, 3-
abordagens (por exemplo, se for considerada 14.
uma conceção de tempo, as ligações entre as Cataldi, G. e Formichi, F. (2007) Pienza Forma
abordagens histórico-geográfica e tipológica Urbis (Aión Edizioni, Florença).
projetual e entre sintaxe espacial e análise Clarke, K. C. e Gaydos, L. J. (1998) ‘Loose-
espacial são evidentes) tendo em coupling a cellular automaton model and GIS:
consideração um potencial de combinação de long-term urban growth prediction for San
diferentes abordagens e uma utilização Francisco and Washington/Baltimore’,
integrada. International Journal of Geographical
Information Science 12, 699-714.
Conzen, M. R. G. (1960) Alnwick
Northumberland: a study in town-plan analysis
Referências (Institute of British Geographers Publication
27. George Philip, Londres).
Baker, N. J. e Slater, T. R. (1992) ‘Morphological Conzen, M. P. (2009) ‘How cities internalize
regions in English medieval towns’, em their former urban fringes: a cross-cultural
Whitehand, J. W. R. e Lakham, P. J. (eds.) comparison’, Urban Morphology 13, 29-54.
Urban Landscapes: international perspectives Cooper, J. e Oskrochi, R. (2008) ‘Fractal analysis
(Routledge, Londres) 43-68. of street vistas: a potential tool for assessing
Bascià, L., Carlotti, P. e Maffei, G. L. (2000) La levels of visual variety in everyday street
casa Romana: nella storià della città dalle scenes’, Environment and Planning B:
origini all’ Otocento (Alinea, Florença). Planning and Design 38, 814-28.
Batty, M. (2004a) ‘A new theory of space syntax Couclelis, H. (1985) ‘Cellular worlds – a
- Working Paper 75’ (CASA, Londres). framework for modeling micro-macro
Batty, M. (2004b) ‘Distance in space syntax - dynamics’, Environment and Planning A 17,
Working Paper 80’ (CASA, Londres). 585-96.
Batty, M. (2005) Cities and complexity (MIT Couclelis, H. (1997) ‘From cellular automata to
Press, Cambridge). urban models’, Environment and Planning B:
Batty, M. e Longley, P. (1994) Fractal cities: a Planning and Design 24, 165-74.
geometry of form and function (Academic Crooks, A. T. e Heppenstall, A. J. (2012)
Press, Londres). ‘Introduction to agent-based modelling’ em
Bovill, C. (1996) Fractal geometry in Heppenstall, A. J., Crooks, A. T., See, L. M. e
architecture and design (Birkhauser, Basileia). Batty, M. (eds.) Agent-based models of
82 Morfologia urbana: diferentes abordagens

geographical systems (Springer, Dordrecht) 85- movement’, Environment and Planning B:


105. Planning and Design 20, 29-66.
Dalton, N. (2001) ‘Fractional configuration Iltanen, S. (2012) ‘Cellular automata in urban
analysis and a solution to the Manhattan spatial modelling’, em Heppenstall, A. J.,
problem’ em Proceedings of the 3rd Crooks A. T., See, L. M. e Batty, M. (eds.)
International Space Syntax Symposium Agent-Based Models of Geographical Systems
(Georgia Institute of Technology, Atlanta). (Springer, Dordrecht) 60-84.
Dalton, R. C. (2007) ‘Social exclusion and Joye, Y. (2011) ‘A review of the presence and
transportation in Peachtree City’, Progress in use of fractal geometry in architectural design’,
Planning 67, 264-86. Environment and Planning B: Planning and
Figueiredo, L. e Amorim, L. (2005) ‘Continuity Design 38, 814-28.
lines in the axial system’ em Proceedings of the Karimi, K. (2012) ‘A configurational approach to
5th International Space Syntax Symposium analytical urban design: space syntax
(Technische Universiteit Delft, Delft). methodology’, Urban Design International 17,
Frankhauser, P, (1994) La fractalité des 297-318.
structures urbaines (Anthropos, Paris). Karimi, K. e Parham, E. (2012) ‘An evidence
Gardner, M. (1970) ‘Mathematical games: the informed approach to developing an adaptable
fantastic combinations of John Conway’s new regeneration programme for declining informal
solitaire game life’, Scientific American 223, settlements’ em Greene, M., Reyes, J. e Castro,
120-3. A. (eds.) Proceedings of the 8th International
Hagerstrand, T. (1952) ‘The propagation of Space Syntax Symposium (Pontificia
innovation waves’, Lund Studies in Geography Universidad Católica de Chile, Santiago do
B - Human Geography 4, 3-19. Chile).
Hanson, J. (1998) Decoding homes and houses Karimi, K., Amir, A., Shafiei, K., Raford, N.,
(Cambridge University Press, Cambridge). Abdul, E., Zhang, J. e Mavridou, M. (2007)
Hanson, J. e Zako, R. (2007) ‘Communities of ‘Evidence-based spatial intervention for
co-presence and surveillance: how public open regeneration of informal settlements: the case of
space shapes awareness and behaviour in Jeddah central unplanned areas’, Proceedings of
residential developments’, Proceedings of the the 6th International Space Syntax Symposium
6th International Space Syntax Symposium (Istanbul Technical University, Istambul).
(Istanbul Technical University, Istambul). Kropf, K. (2009) ‘Aspects of urban form’, Urban
Hillier, B. (1973) ‘In defense of space’, RIBA Morphology 13,105-20.
Journal 539-44. Larkham, P. J. e Morton, N. (2011) ‘Drawing
Hillier, B. (1996) Space is the machine lines on maps: morphological regions and
(Cambridge University Press, Cambridge). planning practices’, Urban Morphology 15,
Hillier, B. (1999) ‘Centrality as a process: 133-51.
accounting for attraction inequalities in Lathrop, G. T. e Hamburg, J. R. (1965) ‘An
deformed grids’, Urban Design International 4, opportunity-accessibility model for allocating
107-27. regional growth’, Journal of the American
Hillier, B. (2002) ‘A theory of the city as an Institute of Planners 31, 95-103.
object’, Urban Design International 7, 153-79. López, M. e Nes, A. (2007) ‘Space and crime in
Hillier, B. (2004) ‘Can streets be made safe?’, Dutch built environments: macro and micro
Urban Design International 9, 31-5. scale spatial conditions for residential
Hillier, B. (2007) Space is the machine (ebook). burglaries and thefts from cars’, Proceedings of
Hillier, B. e Hanson, J. (1984) The social logic of the 6th International Space Syntax Symposium
space (Cambridge University Press, (Istanbul Technical University, Istambul).
Cambridge). Maffei, G. L. (1990) La casa fiorentina nella
Hillier, B. e Vaughan, L. (2007) ‘The city as one storia della città (Marsilio, Veneza).
thing’, Progress in Planning 67, 205-30. Mairie d’Asnières-sur-Oise, Samuels, I. e Kropf,
Hillier, B., Hanson, J. e Graham, H. (1987) ‘Ideas K. (1992) Plan d’Occupation des Sols (Mairie
are in things: an application of the space syntax d’Asnières-sur-Oise, Asnières-sur-Oise).
method to discovering of housing genotypes’, Mandelbrot, B. (1982) The fractal geometry of
Environment and Planning B: Planning and nature (W H Freeman, Nova Iorque).
Design 14, 363-85. Marcus, L. (2007) ‘Social housing and
Hillier, B., Leaman, A., Stansall, P. e Bedford, segregation in Sweden’, Progress in Planning
M. (1976) ‘Space Syntax’, Environment and 67, 251-63.
Planning B: Planning and Design 3, 147-85. Maretto, M. (2012) Saverio Muratori, a legacy in
Hillier, B., Penn, A., Hanson, J., Grawewski, T. e urban design (FrancoAngeli, Milão).
Xu, J. (1993) ‘Natural movement: or, Muratori, S. (1959) ‘Studi per una operante storia
configuration and attraction in urban pedestrian urbana di Venezia I’, Palladio 3-4.
Morfologia urbana: diferentes abordagens 83

Muratori, S. (1963) Architettura e civilità in crisi Londres).


(Centro Studi di Storia Urbanistica, Roma). Turner, A. e Penn, A. (1999) ‘Making isovists
Muratori, S. (1967) Civilità e territorio (Centro syntactic: isovist integration analysis’, em
Studi di Storia Urbanistica, Roma). Proceedings of the 2nd International Space
Muratori, S., Bollati, R., Bollati, S. e Marinucci, Syntax Symposium (Universidade de Brasília,
G. (1963) Studi per una operante storia urbana Brasilia).
di Roma (Consiglio Nazionale delle Ricerche, Turner, A., Doxa, M., O’ Sullivan, D. e Penn, A.
Roma). (2001) ‘From isovists to visibility graphs: a
Nubani, L. e Wineman, J. (2005) ‘The role of methodology for the analysis of architectural
space syntax in identifying the relationship space’, Environment and Planning B: Planning
between space and crime’, Proceedings of the and Design 28, 103-21.
5th International Space Syntax Symposium Ünlü, T. (2013) ‘Thinking about urban fringe
(Technische Universiteit Delft, Delft). belts: a Mediterranean perspective’, Urban
Peponis, J., Wineman, J., Rashid, M. e Kim, S. Morphology 17, 5-20.
(1997) ‘On the description of shape and spatial Ünlü, T. e Bas, Y. (2016) ‘Multi-nuclear growth
configuration inside buildings: convex patterns in a rapidly changing Turkish city: a
partitions and their local properties’, fringe-belt perspective’, Urban Morphology 20,
Environment and Planning B: Planning and 107-21.
Design 24, 761-81. Vaughan, L. (2007) ‘The spatial form of poverty
Peponis, J., Wineman, J., Bafna, S., Rashid, M. e in Charles Booth’s London’, Progress in
Kim, S. (1998a) ‘On the generation of linear Planning 67, 231-50.
representations of spatial configuration’, Waddell, P. (2002) ‘UrbanSim: modeling urban
Environment and Planning B: Planning and development for land use, transportation and
Design 25, 559-76. environmental planning’, Journal of the
Peponis, J., Wineman, J., Rashid, M., Bafna, S. e American Planning Association 68, 297-
Kim, S. (1998b) ‘Describing plan configuration 314.
according to the covisibility of surfaces’, White, R. e Engelen, G. (1993) ‘Cellular
Environment and Planning B: Planning and automata and fractal urban form: a cellular
Design 25, 693-708. modelling approach to the evolution of urban
Pinto, N. N. (2013) ‘Modelos de autómatos land-use patterns’, Environment and Planning A
celulares como ferramentas de análise da forma 25,1175-99.
urbana’, Revista de Morfologia Urbana 1, 57-8. Whitehand, J. W. R. (1977) ‘The basis for an
Sahbaz, O. e Hillier, B. (2007) ‘The story of the historico-geographical theory of urban form’,
crime: functional, temporal and spatial Transactions of the Institute of British
tendencies in street robbery’, Proceedings of Geographers NS2, 400-16.
the 6th International Space Syntax Symposium Whitehand, J. W. R. (2001) ‘British urban
(Istanbul Technical University, Istambul). morphology: the Conzenian tradition’, Urban
Samuels, I. (1993) ‘The Plan d’Occupation des Morphology 5, 103-9.
Sols for Asnières-sur-Oise: a morphological Whitehand, J. W. R. (2007) ‘Conzenian urban
design guide’ em Hayward, R. e McGlynn, S. morphology and landscapes’, Proceedings of
(eds.) Making better places: urban design now the 6th International Space Syntax Symposium
(Butterworth, Oxford) 113-21. (Istanbul Technical University, Istambul).
Samuels, I. e Pattacini, L. (1997) ‘From Whitehand, J. W. R. (2009) ‘The structure of
description to prescription: reflections on the urban landscapes: strengthening research and
use of a morphological approach in design practice’, Urban Morphology 13, 5-27.
guidance’, Urban Design International 2, 81- Whitehand, J. W. R. e Morton, N. (2003) ‘Fringe
91. belts and the recycling of urban land: an
Slater, T. R. (1990) ‘English medieval new towns academic concept and planning practice’,
with composite plans’ em Slater, T. R. (ed.) The Environment and Planning B: Planning and
built form of Western cities (Leicester Design 30, 819-39.
University Press, Leicester) 71-74. Whitehand, J. W. R. e Morton, N. (2004) ‘Urban
Strappa, G. (2014) L’architettura come processo morphology and planning: the case of fringe
(FrancoAngeli, Milão). belts’, Cities 21, 275-89.
Tobler, W. R. (1979) ‘Cellular geography’ em Whitehand, J. W. R. e Morton, N. (2006) ‘The
Gale, G. e Olsson, G. (eds.) Philosophy in fringe-belt phenomenon and socioeconomic
Geography (Boston, Reidel) 379-86. change’, Urban Studies 43, 2047-66.
Turner, A. (2004) Depthmap 4, a researcher’s Wolfram, S. (2002) A new kind of science
handbook (Bartlett School of Graduate Studies, (Wolfram Media, Champaign).
84 Morfologia urbana: diferentes abordagens

Tradução do título, resumo e palavras-chave

Urban morphology: different approaches

Abstract. This paper presents the origins, main characteristics and fundamental developments of four
dominant approaches in the international debate on urban morphology: historico-geographical
approach, process typological approach, space syntax and spatial analysis – including cellular automata,
agent-based models and fractals. After describing these four approaches, the article synthesizes their
fundamental elements; shows how each approach deals with urban form elements, levels resolution and
time; and illustrates the potential of each approach with applications in professional planning practice.

Keywords: urban morphology, historico-geographical approach, process typological approach, space


syntax, spatial analysis.

PNUM 2017: Morfologia urbana: território, paisagem e planejamento


A 6ª conferência da Rede Lusófona de legados, permanências, transformações; iv)
Morfologia Urbana (PNUM), ‘Morfologia configuração territorial e urbana: escalas de
urbana: território, paisagem e planejamento’, abrangência, modelos de desenvolvimento, local
terá lugar em Vitória (capital do estado de vs global; v) sistemas urbanos e condição
Espirito Santo, no Brasil) entre 24 e 25 de suburbana: cidade formal, assentamentos
Agosto de 2017. Esta conferência tratará de aformais, ocupações ilegais; vi) padrões
possibilidades e alcances do estudo da forma morfológicos e sistemas de espaços livres
urbana na configuração e no planejamento e urbanos: modos de apropriação, instrumentos
projeto do território e da paisagem. Intrínsecos à legais, atores e agentes envolvidos; e, por fim,
problemática estão a articulação e os limites vii) ambiente construído e sustentabilidade:
entre manutenção da memória coletiva e desejo inquietações projetuais, métodos construtivos,
de transformação e a construção de estratégias interações tecnológicas.
que assegurem a justiça socioespacial. Os resumos deverão ser enviados até 15 de
A conferência estrutura-se em sete eixos Janeiro de 2017; a comunicação da sua eventual
temáticos: i) regimes de interação com a forma aceitação será realizada até 15 de Março; e o
urbana: metodologias de abordagem, envio dos artigos completos (opcional) deverá
procedimentos analíticos, metanarrativas ser feito até 30 de Maio.
descritivas; ii) configuração, forma e reforma A coordenação do evento é de Eneida
urbanas: aproximações epistemológicas, Mendonça e Milton Junior. Mais informações
estratégias projetuais, devir urbano; iii) história poderão ser obtidas no website do PNUM 2017
urbana e património material / imaterial: em http://pnum2017.wixsite.com/pnum2017.

ISUF 2017: City and territory in the global era


O 24º International Seminar on Urban Form urbana, e por fim, viii) espaços verdes urbanos.
(ISUF 2017) terá lugar em Valência, Espanha, Os resumos deverão ser submetidos até 31 de
entre 27 e 29 de Setembro de 2017. O tema da Janeiro de 2017. As notificações acerca da
conferência é City and territory in the global era. aceitação do resumo serão fornecidas até 15 de
Os tópicos da conferência, que deverão enquadrar Março. Após a aceitação dos resumos, os autores
as propostas submetidas, são os seguintes: i) fases poderão submeter os artigos completos até 30 de
na configuração territorial, ii) forma urbana e Maio.
utilização social do espaço, iii) leitura e Mais informações poderão ser obtidas no
regeneração da cidade informal, iv) utilização website do ISUF 2017 em
eficiente de recursos em cidades sustentáveis, v) http://valencia2017isufh.com/. Quaiquer questões
transformações da cidade, vi) grandes bases de ou sugestões relativas à conferência deverão ser
dados, vii) instrumentos de análise em morfologia enviadas para isufh2017valencia@gmail.

Você também pode gostar