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ou nao resultantes de uma eleicao, sao ocupados por elementos leais ao parti- do que esté no poder e ha uma tentativa constante de minar as iniciativas da opo- sicdo. Adotar uma perspetiva diferente da maioria torna-se equivalente a apoiar aclite contra 0 povo. O populismo nio se opée apenas as elites, opde-se a uma visio pluralista da sociedade. Bibliog.: COSTA, José Mourdo da, “O Partido Nacional Renovador: a nova extrema-direi- ta na democracia portuguesa”, Andlise Social, vol. xvi, n.° 201, 2011, pp. 765-787; DAHL, Robert, Polyarchy, New Haven, Yale University Press, 1971; ESPEJO, Paulina Ochoa, The Time of Popular Sovereignty: Process and the Democratic State, Pennsylvania, Penn State Press, 2011; MUDDE, Cas, “The populist zeitgeist”, Go- vernment and Opposition, vol. 10x, n.° 4, 2004, pp. 541-563; PAPPAS, Takis S., “Populist democracies: post-authoritarian Greece and post-communist Hungary”, Government and Opposition, vol. xux, n.° 1, 2014, pp. 1-23; RO- DRIGUES, Anténio Filipe Gaido, The Referen- dum in the Portuguese Constitutional Experience, Leiden, Leiden University Press, 2013; STAN- LEY, Ben, “The thin ideology of populism”, Journal of Political Ideologies, vol. xu, 0.° 1, 2008, pp. 95-110; STAVRAKAKIS, Yannis, “Populism in power: Syriza’s challenge to Europe”, Junctu- re, vol. x1, n.° 4, 2015, pp. 273-280. ENRICO BorGE Avitipornografismo (Segundo o Michaelis: Moderno Dicioné- rio da Lingua Portuguesa, pornografia é: “1, arte ou literatura obscena; 2. trata do acerca da prostituigéo; 3. colecio de pinturas ou gravuras obscenas; 4. cardc- ter obsceno de uma publicagao; 5. devas- sido”. De um modo geral, a pornogra- fia permite que os individuos se possam emocionar ao assistir a espetaculos, embora sem contacto direto. Permite a excitacio sexual sem se assumir qual quer compromisso, Quando termina o espetaculo, o filme, 0 video ou a sessio, € possivel cada um voltar para a sua vida privada sem constrangimentos, ou com © minimo de envolvimento. O sexo com um parceiro distante € também possivel através de um computador com acesso a Internet, abrindo-se af um mundo de ce- narios. As praticas realizadas em privado entre adultos nao sio em principio pe- nalizadas, o mesmo acontecendo com 4 representagdes do corpo. A pornografia, distinta do erotismo ar- tistico, é sobretudo um campo de negécio € de oportunidades, havendo varias em- presas dedicadas a produzi-la, pois um dos seus objetivos é demonstrar as intimeras possibilidades de prazer sexual. As im: gens focam-se sobretudo nos érgios geni: tais, podendo a cdmara recriar tamanhos, formas, texturas ¢ posturas. As interven- des cirtirgicas, que aumentam os 6rgios genitais ou colocam implantes, também contribuem para este fim. A pornografia envolve assim uma forma especifica de representar os corpos. Com a sexologia foi possivel elaborarse um saber que es- tuda 0 uso dos drgaos genitais, permite 1485 1486 | antironnocrarismo | | resolver problemas que acompanham 0 | tos antipornografia: os religiosos, mais | seu funcionamento e ajuda a definir uma | circunscritos, ¢ os inspirados por outros identidade. Além disso, uma boa parte das perversées consideradas obsessivas no cidadaos, nomeadamente por feministas, que, sendo mais alargados e mediatizados, pasado (como o fetichismo) desaparece- ram dos manuais psiquidtricos e a mastur- bacao é considerada um bom meio para conhecer 0 préprio corpo e libertar as tensdes (PEREZ, 2012). A forma como se encara a pornogra- vieram a alcangar uma maior visibilidade, Existem ainda movimentos isolados, dit: gidos por individuos ou organizacées nao governamentais, que direcionam criticas sobretudo a indtistria pornogréfica ¢ aos seus consumidores. | fia estd relacionada com © modo como | se entende e vive a sexualidade, com a | percecio do corpo das mulheres pelos homens e pelas préprias mulheres, e com percecdes que podem remeter para pa- péis sociais diferentes (no trabalho, em De um modo geral, qualquer imagem de indole pornogréfica, ou mesmo eréti- ca, repudiada pelos membros de grupos religiosos de todos os quadrantes. E pos- sivel exemplificar esta conduta, e.g, com a revista Sentinela, editada pelas Testemu- | atividades, ou acerca de quem dispée, | nhas de Jeovd desde 1879 sem interrup- ou nao, de poder). As mulheres estio historicamente ligadas 4 imposigio da procriagao, mas também a proibicdo da contracecao e da interrupcao voluntaria da gravidez, sobretudo em sectores mais conservadores da sociedade, que podem | do artigo chama a atencio para a difusio cao, em mais de 200 idiomas, incluindo linguas de sinais, que colocou na capa referente ao més de agosto de 2013 0 se- guinte titulo: “Pornografia — inofensiva ou mortifera?”, No seu interior, 0 texto incluir alguns partidos politicos ou gru- | alargada do consumo de pornografia na 0s religiosos. As visdes mais tradiciona- | sociedade atual, bem como para o facto listas exemplificam ainda padrdes em | de a mesma ser viciante e de alguns tera- que as jovens raparigas sio incentivadas | peutas a compararem ao crack. A justifi- a virgindade, a par da existéncia de uma | cacao dos efeitos nefastos da pornografia maior tolerancia para com os rapazes. | é feita no artigo através da remissio de Relativamente a este tema, tem havido | algumas passagens para partes da Biblia, uma mudanca de atitude ao longo dos | como alias acontece na fundamentagio anos, que tem em conta a evolugio das | de outros argumentos defendidos por préprias mentalidades, mas que revela | esta religiio, De acordo com o texto, também um acréscimo de atengao face a_| os individuos que consomem materiais | determinados fenémenos que sio inacei- | pornogrficos ficam escravizados, pelo | taveis, nomeadamente no que concerne | que sugere alguns passos para a liberta- | 3 4 pornografia infantil e 4 exploracio de | co do vicio de consumir pornografia: seres humanos vulnerdveis. 1. orara Deus; 2, buscar a ajuda de outros; 3. identificar e evitar 0 que pode des- pertar desejos errados; 4, fortalecer a MOVIMENT OS AIT EO RNO nae espiritualidade. Assim, os argumentos CO usados pelos membros dos grupos reli- O incremento da disponibilidade da por- | giosos assentam essencialmente em dois nografia ¢ os seus efeitos tém levanta- | pressupostos: 0 de que o sexo deve ser | | do reagdes em todo o mundo. Existem | reservado para 0 casamento (heterosse- | essencialmente dois tipos de movimen- | xual) ¢ 0 de que a pornografia aumenta 0 comportamento imoral ¢ a violéncia da sociedade. Importa, contudo, referir que a heterossexualidade normativa é amitide valorizada nao por causas religiosas, mas devido a aspetos que tém que ver com a gestao do casamento € da transmissio de linhagem e propriedade. O padre jesuita Morton A. Hill (1917- -1985) foi um dos Iideres da campanha contra a pornografia nos EUA, nos anos 60, 70 e 80 do séc. xx, € um dos funda- dores da Morality in Media, uma organi zacio criada em 1962 para lutar contra a pornografia. Mas houve também os que defenderam que a pornografia devia ser descriminalizada e que nao havia ligagdes entre pornografia e comportamento pas- siyel de ser considerado crime. Em 1969, © Supremo Tribunal, no caso Stanley contra Georgia, sustentou que as pessoas podiam ver o que quisessem na privacida- de das suas casas, estabelecendo assim na lei o direito a privacidade, Isto conduziu © Presidente Lyndon B. Johnson, com 0 apoio do Congresso, a nomear uma co- missio para estudar a pornografia. © ataque mais visivel a pornografia nos EUA vi feminista (conhecida por feminismo ra- dical), que a considera parte da agenda machista, que degrada a mulher e induz Avioléncia contra ela. Esta posicao foi to- mada nao por valores morais ou convic- Ses cristas, mas porque a pornografia foi considerada essencialmente machista, na medida em que os homens surgem como consumidores e as mulheres como explo- radas e humilhadas. Estas feministas nao representam, porém, a totalidade do mo- vimento, uma vez. que existem feministas que defendem a pornografia. Os anos 70 foram uma época caracte- rizada pela exibicio de filmes pornogré- ficos que se tornaram sucessos de bilhe- teira nos cinemas americanos, como Deep Throat (1972), Behind the Green Door e The de uma ala do movimento Devil in Miss Jones (ambos de 1973). O ator principal de Deep Throat, Harry Reems, foi © primeiro ator nos EUA a ser preso por obscenidade; a atriz principal do filme, Linda Boreman, conhecida por Linda Lovelace, escreveu quatro autobiografias ao longo da sua vida, alegando em duas delas que 0 marido, Chuck Traynor, tam- bém realizador, a manteve como escrava sexual, a ameacou com armas de fogo, a torturou e até a hipnotizou para gravar 0 filme. Foi entao que as feministas Catha- rine MacKinnon (advogada e professo- ra), Andrea Dworkin (escritora) e Gloria Steinem (jornalista), assim como a orga- nizacio ativista radical Women Against Pornography (criada em Nova Iorque em 1978), tomaram Linda Boreman como um exemplo das mulheres que estavam envolvidas na pornografia. Dworkin, MacKinnon e Steinem co- megaram a discutir a possibilidade de reparacio legal para Boreman dentro da lei dos direitos civis federais. Duas se- manas mais tarde, encontraram-se com Boreman para discutir a ideia de avancar com uma aio judicial contra Traynor € outros realizadores de pornografia. Harry Reems (1947-2013). 1487 Boreman mostrou-se interessada, mas, como Steinem descobriu que 0 perfodo para uma possivel aco tinha passado, re- cuou. Contudo, Dworkin e MacKinnon continuaram a discutir a possibilidade do desrespeito pelos direitos civis como uma oportunidade para combater a por nografia, tornando-se as duas feministas que mais se destacaram na luta contra a mesma, a pro édio sexual a partir dos anos 80. Ambas redigiram, em 1983 ea pedido da cidade de Minea- polis, a lei dos direitos civis antiporno- grafia e foram apoiadas por muitos (mas nio todos) dos membros do movimento antipornografia, Essa lei propde tratar a pornografia como uma violacéo dos direitos civis das mulheres e permi Aquelas que sio prejudicadas por esta atividade uma compensacio através de acées judiciais, Algumas vers6es desta lei foram aprovadas em varias cidades dos EUA, mas nao foram aceites pelas autori- dades municipais de Mine4polis e foram inviabilizadas pelos tribunais, que consi- deraram que aquelas violavam as prote- ces A liberdade de expresso consagra- das na Primeira Emenda 4 Constituicao dos Estados Unidos. Além da dificuldade em fazer aprovar a lei referida, as feministas dividiram-se quanto ao argumento antipornografia. Algumas, como Wendy McElroy, Ellen Willis, Susie Bright e Carole Vance, opu- seram-se 4 antipornografia como princi pio, identificando-se com a posicao pré- “sexo ou sexo-positiva (sex-positive) nas guerras de sexo feministas dos anos 70 ¢ 80. Estas feministas, também chamadas proporn, notaram que os regulamentos antipornografia defendidos por MacKin- non e Dworkin apelavam A eliminacao, A censura ou ao controlo do material sexualmente explicito. Muitas feministas antipornografia apoiaram os esforcos le- gislativos, mas outras - incluindo Susan tui ir Brownmiller, Janet Gornick ¢ Wendy Kaminer -, concordando embora com a critica A pornografia de Dworkin ¢ Ma- cKinnon, opuseram-se A tentativa de a combater através de campanhas legislati- | vas, pois temiam que estas fossem inefica- zes nos tribunais, violassem princfpios da liberdade de expresso ou prejudicassem © proprio movimento antipornografia, afastando-se dos objetivos do movimento — a educacio e a aco direta - e emara- nhando-se em disputas politicas. Outra critica que o movimento anti- pornografia da ala das femninistas radicais recebeu estava relacionada com 0 facto de elas - sendo Catharine MacKinnon | € 0 artigo “Feminism, marxism, method and the State: an agenda for theory” um exemplo ~ analisarem as relagdes sexuais como sendo estruturadas pela nogéo de subordinagio, de tal modo que os atos de dominacao sexual exprimem o signi- | ficado social do “homem” e a condicao de submissio o significado social da “mu- Ther”. Estas andlises baseavam-se exclusi- | vamente na matriz da heterossexualida- de (considerando-se que a sociedade se organiza em dois sexos ¢ um domina o outro), na qual a pornografia surge como expresso da dominagio masculina, fei- ta por homens para homens. De acordo | com Judith Butler, esse determinismo ri | gido tem duas implicacées: 1. a nocao de que toda a relagio de poder é uma rela- ¢40 de dominacao, uma relagio de géne- To, pois s6 pode ser interpretada por esse crivo; 2. a justaposigao da sexualidade ao género (entendido a partir de posicdes rigidas e simplificadas do poder), asso- ciando-o de modo simplista ao “homem” 4 “mulher”, O feminismo radical pode siderado antagonista do ma- chismo, na medida em que procura dimi- assim ser co! nuir ¢ até desrespeitar o sexo masculino. | Para Maria Filomena Gregori (2004, 2), | os membros destes grupos eram, muitas vezes, mulheres identificadas com uma parcela da comunidade feminista lésbica que rejeitava © sexo heterosexual por uma questo de escolha, mas também de- vido a uma leitura particularmente deter- ministica sobre a dinamica de poder nas relagdes heterossexuais. O debate antipornografia ocorreu tam- bém em outros paises. Em 1912, foi fun- dada no Brasil a Liga Antipornografia, que alguns anos mais tarde se tornaria a Liga pela Moralidade. Surgiram nesse pe- riodo discursos contra a venda de publi- cacdes pornograficas consideradas pre- judiciais ao progresso moral e social do Rio de Janeiro (a capital federal). A Liga pela Moralidade estava vinculada a Unido Catélica Brasileira e tinha como objeti- vo salvaguardar a moral combatendo a pornografia, Em 2013, os parlamentares do Uganda aprovaram um projeto de lei que proibia © uso de minissaias, sendo que o ministro da Etica e da Integridade, Simon Lokodo, defendeu mesmo que as mulheres que usassem vestidos ou saias acima do joelho deveriam ser presas. Esse fenémeno foi associado A legislacao antipornografia do pais, que protbe matérias explicitamente sexuais em mtisicas videos, o que v despertar um debate mais alargado sobre esta questo. Ainda em 2013, 0 Governo britinico pretendeu evitar a exposicao de menores a contetidos para adultos, Toda- icado pela Organizacio para a oa via, foi crit Seguranga e Cooperacao na Europa (da qual fazem parte varios p: alguns nao europeus). Esta entidade, promoto- ra da seguranga, dos direitos humanos ¢ da liberdade de expressio, defendeu que filtrar automaticamente a Internet é ine- ficaz e que o software pode ser facilmente contornavel; argumentou ainda que a li- berdade de expresso poderia estar limi- tada, na medida em que eram definidos & partida quais os elementos inapropriados ¢, por outro lado, os materiais educativos, como os referentes as doencas sexual- mente transmissiveis, poderiam ser blo- queados ou ficar inacessiveis. ANTIPORNOGRAFIA EM PORTUGAL Com a Implantacéo da Repiiblica, foi criada em Portugal uma lei de imprensa que pretendia restituir a liberdade de ex- pressio © permitir criticas A agio gover- nativa € a quaisquer doutrinas politicas religiosas. A dificuldade em implementar © novo regime conduziu, contudo, a im- posicao de um conjunto de medidas ¢ si- tuacdes que justificavam a apreensio de publicacées pelas autoridades judiciais, administrativas ¢ policiais. Nese contex- to, ficaram proibidos os escritos que ul- trajassem as instituicdes republicanas e a seguranga do Estado, assim como os que tivessem contetido pornografico. Na se- quéncia da declaracio de guerra por par te da Alemanha, no quadro da Primeira Guerra Mundial, foi instaurada a censu- ra em 1916, Todos os documentos que pudessem prejudicar a defesa nacional deveriam ser apreendidos. Esta censura, a cargo do Ministério da Guerra, foi con- que era assumida- mente anticonstitucional. Durante 0 Estado Novo, Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno estiveram envolvidas num pro- cesso judicial na sequéncia da publica- ao da obra Novas Cartas Portuguesas, em siderada tempordria, 1972, que, embora constituisse sobretudo sociedade patriarcal portu- guesa € A condicio das mulheres, conti nha elementos que foram considerados pornograficos e imorais Outro dominio sujeito 4 censura em Portugal foi o cinema, Lauro Anténio refere que a primeira indicacdo de tal € de 1919, e faz alusio a um decreto de 1917 que regulamentava a exibicio de una critica 1490 Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno. “fitas” (ANTONIO, 1978, 25). A partir de 1982, os filmes passam a ser visados, i.e, visionados e validados pelos inspetores da Inspec¢ao-Geral de Espectaculos. Apenas em 1948 foi instituida a censura prévia de filmes, com a criaco da Comissio de Censura dos Espectaculos e do Fundo do Cinema Nacional. Durante esse perfodo, verificou-se no $6 a censura relativamen- te aos filmes estrangeiros (contribuindo assim para o isolamento nacional), ma: também no que concerne a producio feita no pats, que viu, desse modo, o seu desenvolvimento gorado, As dinamicas sociais dos anos 60 ¢ 70 despertaram as ideias de liberdade, paz € amor, sem regras nem convengées, como foram as associadas, eg, a0 mo- vimento hippie. Mesmo depois de este movimento ter passado, continuaram a surgir, de modo mais ou menos visivel, materiais (filmes, livros ou revistas) nos quais 0 sexo era apresentado de modo explicito ou violento. A revista Playboy é um exemplo desse nove modo de ver a sexualidade, Apesar desta vaga, ¢ da rela- tiva aceitago das peliculas de Hollywood pelos europeus, foi considerado neces- sério regulamentar os filmes, sobretudo aqueles que denunciavam a presenca de elementos violentos e pornograficos. Esta regulamentacdo entrou mais uma vez em debate com a ideia de liberdade de ex- pressio, formulagao que, contudo, nunca foi consensual. Os filmes erdticos ¢ por- nograficos foram proibidos em Portugal | até 1974, mas quando filmes como La- ranja Mecinica (Stanley Kubrick, 1971), Por detras da Porta Verde (James Mitchell ¢ Artie Mitchell, 1972), Ultimo Tango em Pa- ris (Bernardo Bertolucci, 1972) ou Emma- nuelle (Just Jaeckin, 1974) estrearam no pais, j4 depois de suspensas as atividades | da Censura, foi levantado um debate acerca da exibigao dos seus contetidos. Com 0 fim do Estado Novo, o Movimen- to das Forcas Armadas (MFA) pretendeu abolir a censura € 0 exame prévio, procu- rando assim garantir a liberdade de ex- pressio. O gabinete do delegado taria de Estado da Informagao e Turismo reiterou a decisio do MEA, mas criou uma comissio para controlar a radio, a televi- Secre- sio, a imprensa, o teatro € o cinema, no sentido de salvaguardar os segredos mili- tares ¢ evitar as perturbacées na opiniao ptiblica. No que respeita ao cinema, foi definido um novo esquema de classifi- cacio etaria de acordo com quatro esca- les, Os filmes interditos a menores de 18 anos contemplavam aspetos considerados como perverstio, expressa em termos psi- quidtricos; exploracio da sexualidade, que surge desumanizada ou sob formas mani- | festamente chocantes; violéncia, com for- mas sadomasoquistas ou que conduzam & aprendizagem de técnicas de agressi apologia do recurso a droga ou alcoolismo como solugao para problemas individuais apresentagio de casos psiquid- tricos suscetiveis de originar a identifica cao com a personagem e afetar a satide | mental do espectador (CUNHA, 2013). 10; ou sociais; © Governo portugués teve assim de publicar uma nova legislacao cinemato- grifica, tendo em conta os filmes consi- derados pornograficos, através do dec-lei 1n.° 254/76, de 7 de abril. O referido decre- to, complementado pelo dec-lei 647/76, de 31 de julho, com as alteragdes da lei 30/2006, de 11 de julho, regulamenta a distribuicdo de contetidos pornograficos e determina as respetivas penalizagées infracdo da lei. De acordo com 0 mesmo, a edicdo e a venda de obras com elemen- tos pornograficos em estabelecimentos especializados “é hoje uma pratica gene- ralizada no comum dos paises, defendida por psiclogos, socidlogos e pedagogos, e desempenham, de acordo com os dados da experiéncia e da ciéncia, uma funcao desmistificadora e desintoxicante”, A for- mulagao deste decreto-lei inclui também a sua justificacao, i, apesar de regular © acesso aos contetidos pornograficos, nao veda 0 acesso universal 20s mesmos, |j4 que tal poderia ser considerado uma afronta 4 liberdade de expresso: “Ai da liberdade de expressiio e pensamento, no dia em que 0 Estado se arvore em fiscal da criagao artistica e da sua procura, ain- da que a pretexto de zelo moral ou de de- fesa dos costumes”, Assim, a lei portugue- sa considera que “apés quase meio século de mistificacdo do sexo e de total ausén- cia de educacdo sexual” é “compreensivel a curiosidade que caracterizou a procura de publicacdes, exibigdes filmicas” ¢ “de instrumentos de expressio ¢ comunica- cdo versando temas erdticos”. Por outro lado, “como a liberdade que se sucede a contengio repressiva tem sempre o preco de alguns excessos” € como se comecou a assistir “A exploracao mercantil, nao ja do erético ou do nu artistico, mas do por nografico e obsceno”, foi necessario regue lamentar o seu acesso € visibilidade, sem contudo regressar ao anterior “extremo de contengao”. Ainda de acordo com 0 mesmo de- creto, “sio considerados _pornograficos ou obscenos os objetos ¢ meios [...] que contenham palavras, descricées ou ima- gens que ultrajem ou ofendam 0 pudor ptiblico ou moral piiblica” ¢ “é proibido afixar ou expor em montras, paredes ou em outros lugares puiblicos [...] cartazes, amtincios, avisos, programas, manuscritos, desenhos, gravuras, pinturas, estampas, emblemas, discos, fotografias, filmes e em geral quaisquer impressos, instrumentos de reprodugao mecanica e outros objetos ou formas de comunicacio audiovisual de teor pornogrifico ou obsceno, salvo nas circunstancias locais previstos”. Adi- cionalmente, “a exposicao € venda de ob- jetos e mei itida no interior de estabelecimentos [...] de- vidamente licenciados’, sendo vedada a menores de 18 anos. Verifica-se assim que, de acordo com a lei portuguesa, os materiais com conteti- dos pornogréficos e obscenos podem ser considerados obras de arte ¢ exercicios de liberdade de expressio. Porém, a lei impée limites a sua criagao e difuso, na medida em que, eg:, no caso da exibicao de filmes, propée classifica-los como por- nograficos € nao pornogréficos, aplican- do aos primeiros uma sobretaxa que de s referidos [...] s6 € pern algum modo desincentive a sua importa- cdo e procura, ¢ que restrinja a sua exibi- cdo a maiores de 18 anos. Ao contrario de outros paises europeus, Portugal nao possui uma comissio de censura, mas sim um 6rgao ~ Inspecao-Geral das Atividades Culturais - que classifica os filmes, ainda que nao tenha poderes para limitar a sua difusdo, a nao ser que as obras nao respei- tem a lei e contenham, ¢g., pornografia infantil, remetendo assim 0 caso para 0 dominio juridico. A permissividade da lei portuguesa face 4 pornografia estende-se a prostituicao. Embora nao seja permitido promover, 1491 1492 encorajar ou lucrar com essa atividade, ainda que existam restrigdes alfandega- rias controladas pela policia, ¢ seja proi- bido © trafico de pessoas, assim como a prostituicao infantil, a prostituigao nao é ilegal de acordo com o Gédigo Penal. Todavia, ocorreu, em 2003, 0 movi- mento autodenominado Maes de Bra- ganca, que envolveu um conjunto de mulheres insurgentes contra a chegada 4 cidade transmontana de mulheres bra- ileiras que se prostitufam ou acompa- nhavam homens em bares locais, ou nas chamadas casas de alterne (muitas vezes, bordéis disfarcados). Tendo as referidas mulheres bracarenses filhos dos homens com quem eram casadas, receavam que © sustento dos descendentes fic: perigo. A organizacio do movimento teve como objetivo a expulsio das imi- grantes através de um manifesto - entre- © em gue ao governador civil, ao presidente da Camara e ao comandante da Policia de Seguranga Piiblica - e da difusio do caso pelos meios de comunicacio social, tendo este chegado revista Timeno final de 2003, e tendo-se adensado por ocasido do campeonato europeu de futebol que decorreu no pais em 2004, A iniciativa, apoiada também pelo bispo de Braganca, conduziu a varias rusgas da policia, ao en- cerramento de casas de alterne, 4 conde- nagio de algumas pessoas a prisio, ¢ a0 repatriamento de dezenas de Brasileiras que se encontravam no pais em situacao ilegal. Além de mulheres catélicas, este movimento envolveu mulheres arredadas de cultos religiosos, nfo sendo despicien- da a base econémica do seu argumento. Apesar de ter contribuido para a visibili- dade das mulheres, enquanto mies e ze- ladoras de uma certa ordem social, este movimento veio favorecer a associagio generalista entre Brasileiras e prostitui- cdo, bem como a deslocacao do fenéme- no da prostituicao para Espanha, Em Portugal, foram ainda tomadas medidas de foro judicial no sentido de combater a pornografia infantil na Inter- net. Tal combate enquadra-se na puni¢ao de atos que se inscrevem no conceito de pedofilia — previstos no cap, v (crimes contra a liberdade ¢ autodeterminacao sexual) do tit, 1 (crimes contra pessoas) do Cédigo Penal portugués, em especial na sec. 11 (crimes contra a autodetermina- cdo sexual), composta pelos arts. 172.° € seguintes, que incidem sobre 0 “abuso sexual de criancas’, 0 “abuso sexual de menores dependentes”, “atos sexuais com adolescentes” € “lenocinio e trafico de menores”, Na secgao subsequente, es- to previstas as penas que contemplam a agravacio, a queixa € a inibi¢ao de poder paternal. Existem ainda medidas previs- tas ao nivel da Unio Europeia no que concerne a exploracio sexual de criancas (que envolve a protecio de menores), sendo no ambito destas que surgem as medidas de combate 4 pornografia infan- til na Internet. Também 0 Conselho da Europa se tem dedicado 4 luta contra a exploracio sexual de criangas ¢, especi- ficamente, contra a pornografia infantil na Internet. Jé a ONU tem procurado proteger as criancas através do Conselho de Direitos Humanos, da UNICEF e da Organizacao Internacional do Trabalho. A Convengao Internacional sobre os Di- reitos da Crianca, adotada pelas Nacées Unidas em 1989, é o instrumento juridi- co mais ratificado no mundo (apenas nao fazendo parte dela os EUA e a Somalia), tendo Portugal ratific Convencio em 1990, Além destas, tém-se registado varias outras iniciativas a nivel interna- cional, nomeadamente congressos, onde sao discutidos temas como o trafico de criancas, a prostitui¢io e a pornografia infantil, mas também as causas destes fla- gelos, nomeadamente a pobreza, a desi- gualdade social, as familias disfuncionais, do es a perseguicao, a violéncia, o VIH/SIDA, 0 conflito armado e a criminalidade, ALGUNS DADOS SOBRE 0 CONSUMO- DE PORNOGRAFIA EM PORTUGAL A produgao nacional ao nivel da porno- grafia existe, mas nao com o designio de indiistria, Por outro lado, ainda se regista uma grande preocupacio relativamente 4 pornografia infantil e um desconten- tamento em relacao a atual lei, que para alguns nao é suficiente na prevencdo des- se crime, A Internet facilitou 0 acesso a pornografia e permitiu imaugurar uma nova era neste campo, colocando em se- gundo plano as lojas e os quiosques onde se vendem revistas, os clubes de aluguer cas salas de projecio de filmes; permitiu ainda dar lugar a uma nova industria re- lacionada com as empresas de canais por cabo, que desenvolveram esquemas que permitem a nio identificagio de quem compra material pornografico e facilitam © nao aparecimento dessas aquisicées na fatura mensal. Por outro lado, nao s6 através dos motores de busca, como atra- vés de varios navegadores na Internet, € possivel limitar o acesso a pornografia, tanto em computadores, como em tele- méveis ou outros dispositivos. A versa- tilidade da Internet é justificada pelos seguintes fatores: acessibilidade, anoni- mato ¢ gratuitidade (para a maioria das paginas eletrénicas). De acordo com a pagina eletrénica de estatisticas Internet Filter Review, 25 % de todas as pesquisas realizadas na rede sio relativas a paginas com contetido pornografico € 35 % de to- dos os descarregamentos sio de material pornografico. © consumo de pornografia, nomea- damente através da Internet, é sobretu- do associado aos é centrada a maioria dos estudos que existem, embora os ntimeros envolvidos homens, ¢ é neles que nao tenham sido ainda sistematizados. No que concerne as mulheres, hi ain- da menos estudos, mas alguns deles re- velam que existem, de facto, diferentes atitudes por parte das mulheres relativa- mente & pornografia. Charlene Y. Senn publicou, em 1998, um estudo em que identificou quatro diferentes perspetivas: 1. a perspetiva feminista radical, que se revela completamente antipornografia; 2. a perspetiva conservadora, semelhante A anterior no que concerne A classifica- cao dos materiais sexualmente explicitos | como prejudiciais e A sua associacio com | a violéncia contra as mulheres; 3. a pers- petiva humanista, que procura proteger as criangas dos maleficios da pornografia: 4. a perspetiva ambivalente, na qual se encontram mulheres que no veem mui- ta pornografia ¢ que nao tém opinides formadas sobre o assunto. Nesta tiltima perspetiva, encontram-se mulheres que nio manifestam rejeigao relativamente a pornografia, nao se importam que os seus parceiros a consumam, vem pornografia desde a adolescéncia, ¢ no concordam com a atitude de vitimizagao das feminis-_ | tas radicais As diferentes correntes feministas tm influenciado também a forma como o sexo feminino encara o material porno- grafico. Por outro lado, a pornografia feita por mulheres e dirigida as mulhe- res pode reforcar a ideia de que esta modalidade também é valorizada, ou apreciada, por esse ptiblico-alvo. Para © caso portugués existe, ¢.g., um artigo de Maria Joao Gaspar ¢ Ana Carvalheira (2012), baseado numa amostra de 216 mulheres portuguesas, de acordo com o qual 59 % j4 visitou paginas eletrénicas com contetidos pornograficos ¢ 7 % gas- | ta mais de 6 h por semana nessa ativida- de. As suas principais motivacées so en- tretenimento, curiosidade, obtencao de | excitag4o sexual, aprendizagem sexual 1494 ou satisfacio de determinadas fantasias. Os resultados deste estudo revelam tam- bém que existe uma grande diversidade na procura de matérias pornograficas ¢ denunciam a variedade de preferéncias sexuais: contetidos heterossexuais, ho- mossexuais, bondage e sadomasoquista, fetichista ou sites Hentai, Além disso, apesar de a maioria das mulheres que participou neste estudo se considerar exclusivamente heterosexual, algumas delas procuram também material com mulheres ¢ imagens de relagdes sexuais entre mulheres. Talvez sejam os fatores referidos anteriormente_ relativamente 4 Internet (acessibilidade, anonimato e gratuitidade) que potenciem estas ex- perimentagées, No entanto, existe uma espécie de sentimento de culpa relativa- mente a estes comportamentos, ja que, eg, de acordo com o estudo anterior- mente referido, 46,1 % das mulheres diz ter sentido vergonha por visitar paginas eletrénicas com contetides pornografi- cos, 0 que demonstra 0 peso que a nor- ma social tem ainda sobre os pensamen- os acerca da sexualidade feminina. DA PROIBICAO A LEGALIZACAO A pornografia foi considerada uma po- tencial ameaca para a familia e para a instituigao do casamento heterosexual, sobretudo pelos membros dos grupos re- ligiosos, mas também por individuos da sociedade civil nao comprometidos com nenhum desses grupos. Foi considerada prejudicial para as mulheres, sobretudo pelas feministas radicais americanas, mas também por outros individuos, mulhe- res ou nao, feministas ou nao. E sobre- tudo prejudicial para as criangas e para 08 jovens, tendo por isso os governos de varios paises legislado sobre a difusao de materiais com contetido pornografico para que os menores nao sejam expos- tos aos mesmos, nem facam parte da sua producao. Por outro lado, as investidas que estiveram na base da luta contra a pornografia (e, em alguns casos, contra a prostituicdo) protagonizadas por mu- Theres ~ como aconteceu com as femi- nistas radicais nos EUA ou com as Maes de Braganca em Portugal — podem ser justificadas também por situacdes acumu- ladas. Como referiu José Machado Pais, “a intensidade da frustragio, quando so- cialmente compartilhada, é um carburan- tedemovimentossociais” (PAIS, 2010,22). A retérica antipornografica absorveu € sobrestimou os resultados dos estudos da psicologia experimental americana, que se centravam sobretudo na popula- co masculina (maioritariamente branca € pouco escolarizada), e cujas conclusées remetiam, de forma generalizada, para © comportamento agressive desses ho- mens. Além disso, o modo dicotémico de encarar a realidade reduz 0 consumo da pornografia a um mundo masculino ¢ he- terossexual, no guardando espaco, «.g. para as mulheres lésbicas. Esta naturaliza- cdo, que toma os homens heterossexuais como potenciais consumidores de porno- grafia (e com aspetos violentos), deixan- do para as mulheres (heterossexuais) 0 papel passivo de vitimas (dos efeitos desse consumo), impediu uma visio mai pla no que respeita a organizagio social da sexualidade. A critica a este posicionamento foi surgindo dentro da prépria teoria fem nista, nomeadamente a partir dos anos 90, quando surgiu uma terceira vaga de feminismo, mais atenta a pluralidade das identidades e das sexualidades, ten- do em conta os avangos da teoria queer € 0s perigos da censura e da heteronor- matizacéo. Todavia, os contra-ataques da pré-pornografia nem sempre estio atentos ao posicionamento das mulheres am- relativamente a indtistria pornografica aos mercados capitalistas ~ tanto os mais comerciais, como a esfera mais elitista da arte contemporanea. Assim, “o femi- nismo anticensura (também chamado pré-pornografia, pré-sexo, ou anti-anti- porn)” veio sublinhar a possibilidade de “criacdo de novas pornografias feitas por mulheres para mulheres, postulando as- sim a existéncia de um espaco alterna- tivo [...] capaz de fazer surgir discursos que fraturem o saturado mundo porno- grafico masculino (heterossexual)” (PIN- TO et al, 2010, 379). Adicionalmente, as novas tecnologias do sexo, sobretudo dirigidas as mulhe- res (farmacologia e cultura material as- sociada masturbacao), nao abstraem dos imaginarios da cultura pornografica dominante e podem elas proprias ser constitutivas de roteiros que disciplinam a sexualidade. Embora num contexto em que emergem novos discursos, 0 cor po das mulheres pode vir a ser assim, de certa forma, recolonizado com os antigos poderes heteronormativos, que remetem para uma ordem na qual dominam indi- viduos masculinos e brancos (STOLER, 1995). A inddistria pornografica pode ain- da naturalizar a “raca” e reificar a hiper- sexualizacao dos negros, e, mais ainda, das negras (MATOS, 2013). Tal compor- tamento pode estar relacionado com um certo fetichismo com imagens exéticas, algumas provenientes dos imagindrios coloniais (MCCLINTOCK, 1995). Em Portugal, a pornografia é legal, mas os filmes pornograficos, ¢g,, ape- nas podem ser exibidos a adultos, Por outro lado, existem videos e revistas de facil acesso em quiosques, mas a venda € a difusdo deste material a menores de 18 anos é punida por lei. Os filmes por- nogrificos estio banidos dos canais de TV com transmissio aberta ¢ s6 podem ser difundidos através de canais encrip- tados. Embora exista regulamentacao, tanto na Europa como em Portugal, re- lativamente as matérias pornograficas, as mesmas nao sio proibidas, a excecao das que incluam menores ou que estejam as- sociadas a crimes. Existem poucos estudos no pais sobre © consumo de pornografia ¢ os que exis- tem basciam-se em amostras de pequena dimensao, ou em questiondrios que nao chegaram a ser validados. No entanto, todos eles deverao despertar-nos 0 inte- resse para a necessidade de realizar mais pesquisas sobre este assunto, tendo em conta varios campos € suportes (Inter- net, revistas, jornais, DVD), contextos e variedade populacional (contemplando diferentes grupos etarios, socioeconémi- cos, religiosos e de orientacao sexual) Por fim, é importante ter presente que as fronteiras entre a pornografia ¢ outras representagdes da sexualidade sio hoje ténues em alguns contextos. Alguns dos seus contetidos, bem como 0 modo como sio consumidos, néo permitem algumas vezes estabelecer distincdes claras, Bibliog.: impressa: ANTONIO, Lauro, Cinema € Censura em Portugal, 1926-1974, Lisboa, Ar- cddia, 1978; BARRENO, Maria Isabel et al., Novas Cartas Portuguesas, Lisboa, Dom Quixote, 2010; BUTLER, Judith, “Against proper objec- ts”, in WEED, Elizabeth, e SCHOR, Naomi (orgs.), Feminism Meets Queer Theory, Indiano- polis, Indiana University Press, 1997, pp. 1-30; CUNHA, Paulo, “A censura depois da censu- ra: 0 caso dos filmes erdticos e pornograficos (1974-76)”, in CABRERA, Ana (coord.), Cen- sura nunca mais! 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(org.), Pleasure and Danger: Towards A Polit- of Sexuality, London, Pandora Press, 1992, pp. 26-39; digital: “Organizacao europeia de | seguranga critica filtros anti-pornografia no Reino Unido”, Piiblico, 23 jul. 2013: https:// www. publico.pt/tecnologia/noticia/organiza- cao-europeia-de-seguranca-critica-filtros-an- tipornografia-no-reino-unido-1601088 (ace- dido a 14 nov. 2016). Parricia Ferraz DE Matos Ajntiportuguesismo (yantiportuguesismo consiste numa ‘7 forma especifica de antipatriotismo dirigida a Portugal, que critica os habi- tos, 0s costumes, os valores, as maneiras de ser € as formas de estar e de sentir caracteristicos dos Portugueses, O anti portuguesismo pode exprimirse de dois modos, 0 externo ¢ 0 interno, Do pont de vista externo, o antiportu- guesismo tem, na sua génese, fatores his- t6rico-geograficos: a rivalidade com Espa- nha, as relacdes com os centros de poder nas antigas colénias e as perspetivas dos estrangeiros que estiveram em Portugal. E possivel que a primeira manifestacdo de antiportuguesismo tenha ocorrido na Idade Média, quando os cronistas do rei- no de Castela dirigiram observacées des- primorosas ao rei de Portugal (e, por ex- tensio, ao seu povo), a par de panegiricos ao seu homélogo castelhano, mostrando assim a hostilidade que se vivia entre os dois reinos. A proximidade e a concor réncia entre as poténcias ibéricas eram duas faces da mesma moeda. Noutra vertente externa, o antiportu- guesismo fezse sentir nas antigas colé- nias portuguesas, af com a mascara de an- t-imperialismo ou de anticolonialismo. No Brasil, tornou-se recorrente dizerse que, se © pais tivesse sido colonizado por Holandeses, seria bastante melhor, 0 que espelha um juizo implicito sobre as politicas administrativas implementadas desde a época dos capitaes-donatarios até ao “grito do Ipiranga” de D. Pedro, que, ao proclamar a independéncia do Brasil, extinguiu © Reino Unido de Por- tugal, Brasil e Algarves, promulgado por

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