‘Trazendo o mundo real para dentro do processador — Condicionamento de sinais analogicos 18/12/2015 Heevque Fark Werner PuhimannINDICE DE CONTEUDO Introdugéo Instrumentos para Automagao Condicionamento de sinais analégicos Sensor Cconversor A/D Exemplo Conclusdes Este post faz parte da série Trazendo o mundo real para dentro do processador. Leia também os outros posts da série: Trazendo 0 mundo real para dentro do processador ~ Conversor A/D DSP — Oversampling, Upsampling e Downsampling Trazendo o mundo real para dentro do processador ~ Condicionamento de sinais analégicos Trazendo 0 mundo real para dentro do processador ~ Condicionamento de sinais analégicos ~ Parte 2 Trazendo o mundo real para dentro do processador ~ Condicionamento de sinais analégicos ~ Parte 3 ‘Trazendo o mundo real para dentro do processador ~ Condicionamento de sinais analégicos ~ Parte 4 Introdugao Medir grandezas fisicas, tals como temperatura, umidade, presso, vazdo, corrente, tensdo etc. é um grande desafio para o projetista eletrénico. Para a nossa sorte, existem sensores ou transdutores que convertem essas grandezas em sinais elétricos. 0 problema que a linearidade, a amplitude do sinal elétrico e o tipo, tensao ou corrente, também variam muito. Neste artigo sero abordados alguns recursos e técnicas para resolver alguns desses problemas, e condicionar e trazer esses sinais até os processadores de forma que eles possam ser digitalizados e processados por software depois.Instrumentos para Automagao Instrumentos de automagao sao recursos muito tteis e confidveis, pois tém que atender a padrées de qualidade para aplicagbes industriais. Tratam-se dos transmissores, indicadores e controladores, Pode-se observar alguns desses instrumentos na Figura 1 ~ publicidade ~ nt sad Oe we i << Figur “Transmissoreseindicador para atomagio ‘A grande vantagem de se utilizar esse tipo de recurso é que o instrumento realiza todo o condicionamento do sinal analégico e 0 entrega linearizado e transformado em saldas padronizadas, sendo as mais comuns em corrente, de 0 a 20 mA ou 4 a.20 mA, ou entdo em tensao, de 0 a §, de 1 a 5 V ou 0 a 10 V. Mutos instrumentos também possuem interface de comunicagéo digital, USB, RS-485 ou outras, para serem ulilizadas como interface de programago, monitoramento ou controle remoto. As desvantagens da utilizago dos instrumentos de automago podem ser o prego e seu tamanho fisico, Se o projeto for para um projeto de pesquisa, ou uma instalagao com poucas unidades, vale a pena considerar esses instrumentos como parte da solugdo. Isso permite que se possa ganher tempo e focar seu trabalho na solugdo de engenharia ou no objeto do seu estudo. Se(© seu projeto for de um equipamento que serd produzido de forma seriada em grandes quantidades, seré necessério embarcar 0 condicionamento dos sinais analégicos no seu projeto. Condicionamento de sinais analégicos E necessério observar e definir alguns parametros para que os sinais analégicos de sensores possam ser transformados e conduzidos até o seu processador: Sensor + Excursao do sinal elétrico que serd utilizado na sua aplicagao (em Volts ou Amperes); * O-sinal deve ser acoplado em CC (corrente continua) ou CA (corrente alternada)?; + A maxima frequéncia de operagao, se em CA; + Aimpedancia de safda do sensor. Conversor A/D + Amédxima excursao do sinal na entrada do conversor A/D; + Aimpedancia de entrada do conversor A/D do seu processador, ou projeto; + A maxima impedancia de safda do sensor que pode ser aplicada ao conversor A/D para que o conversor possa trabalhar dentro das suas especificagées; * Taxa de amostragem do conversor A/D; + Resolugao e preciso do conversor A/D.Na Figura 2 pode-se observar um condicionador de sinais genérico. € frequente a necessidade de se somar ou subtrair uma tensa constante, amplificar ou reduzir o sinal para que sua amplitude abranja a maior faixa possivel dentro da faixa de entrada do conversor A/D, aplicar um filtro passa-baixas de antialiasing e finalmente, se necessério, ainda ajustar a impedancia de saida do circuito para otimizar a operagao do conversor A/D. Filtro passa-baixas Altera a componente oe, ‘Transdutor Amplificador / Redutor Condicionador de Sinais Analégicos Figura 2 ~Esquema genético para condicionamento de sinais analégicos ‘A seguir seré desenvolvido um exemplo para ilustrar como que é realizado esse calculo.Exemplo ‘Suponhamos que o nosso desejo seja utilizando um ARDUINO, medir temperaturas entre 10 ¢ 60 °C, com uma preciso de + 1 °C dentro dessa faixa, Um sensor de temperatura bastante popular e adequado para essa fun¢ao é 0 LM35 de fabricacao da Texas instruments, Ele possui uma fungéo linear de transferéncia na saida de 0 + 10 mV/®C. No nosso exemplo, a excurséo do sinal de ssalda do sensor serd de 100 a 600 mV. 0 sensor, no encapsulamento TO-92(3), esta ilustrado na Figura 3. Typical Applications $M Taz) ures Bon etaoaure | FIGURE 1. Basic Centigrade Temperature Sensor ge [PSs (2c 10 150°C) +6V Output Gnd Figura 3 ~ SonsorLM380zZno encapsulamento 702(8) Na Figura 4 pode-se observar um resumo das especificagdes do sensor. Note que a impedancia de saida desse sensor é de 0,1 0 para uma carga de 1 mA.1 Features + Calibrated Directly in Celsius (Centigrade) + Linear + 10-mV/°C Scale Factor + 0.5°C Ensured Accuracy (at 25°C) + Rated for Full -55°C to 150°C Range + Suitable for Remote Applications + Low-Cost Due to Wafer-Level Trimming + Operates from 4 V to 30 V + Less than 60-HA Current Drain + Low Self-Heating, 0.08°C in Stil Air + Non-Linearity Only +%°C Typical + Low-Impedance Output, 0.1 9 for 1-mA Load Figura 4 ~ Resumo das especieagbes do LM35 ‘A melhor forma de iniciar os célculos para 0 condicionamento dos sinals é partir do conversor A/D para o sensor, Nesse exemplo abordaremos 0 processador ATMEGA328P-PU , microprocessador de 8 bits fabricado pela ATMEL, utilizado nos populares ARDUINOs UNO, PRO, PRO Mini e Nano. As tensdes de alimentagao desses ARDUINOs ¢ de SV ou 3,3V, conforme o modelo. Para ‘© nosso exemplo adotaremos a tensdo de alimentacao de 5 Vcc. A referéncia interna do conversor A/D adotada para 0 nosso ‘exemplo serd de SV, ou seja, a excursao total do sinal na entrada do conversor A/D, para que se aproveite ao maximo a sua resolucao, deverd ser entre 0 e SV. Confira os detalhes das entradas analdgicas do ARDUINO no artigo técnico Arduino — Entradas Analégicas, Observagao: Note que nas especificagdes do conversor A/D existe uma opcao para que se utilize uma referéncia interna de 1,1 V do ATMEGA328, 0 que para esse caso especifico seria bem melhor, uma vez que a excursdo da saida do sensor se aproxima muito da faixa de entrada do conversor A/D. Mas foi adotado Vcc (% Vec) para que se possa ilustrar melhor uma das situagées bastante frequentes de condicionamento nesse tipo de projeto,Observe na Figura 5 a arquitetura interna do conversor A/D do processador ATMEGA328P. Figue 241, Analog to Diptal Converter Block Schematic Operation, Figura 5 ~ Esquema do conversor A do ATMEGAS28°[Na Figura 5 pode-se observar que existem 8 cangis de entradas analégicas multiplexadas na entrada do conversor A/D. Nos projetos do ARDUINO sfo utilizadas apenas 6 (destaque do ARDUINO UNO na Figura 6). ie Figura 6~ Eaquemsa elétvico do ARDUINO UNO com as entradas analgicas em destaque Na Figura 7 pode-se observar um resumo das principals especificages do conversor A/D do ATMEGA328. Note que o conversor tem 10 bits de resolugao, uma preciso de 8 bits e taxa maxima de amostragem de 76,9 kSPS (kiloAmostras por segundo ~ 8bits) 24, Analog-to-Digital Converter 241 Features + 10-bit Resolution + 0.5 LSB Integral Nonlinearity + #2 LSB Absolute Accuracy + 19.-260)8 Conversion Time + Upto 76.9kSPS (Up to 15kSPS at Maximum Resolution) + 6 Mutplexed Single Ended Input Channels + 2 Additional Multiplexed Single Ended Input Channels (TOFP and QFNIMLF Package only) + Temperature Sensor Input Channel + Optional Left Adjustment for ADC Result Readout + 0-Vec ADC Input Voltage Range + Selectable 1.4V ADC Reference Voltage + Free Running or Single Conversion Mode + Interrupt on ADC Conversion Complete + Sleep Mode Noise Canceler Figura 7~ Resume das epecicagSs do convertor A/D do ATMEGAS26P 0s 10bits de resolugdo definem que a faixa de entrada de 5 Vee pode ser dividida em 1024 degraus discretos de medigo (quantizaco), ou seja, § V/1024 = 0,0049 V (49 mY), porém a preciso do conversor A/D esté nos 8 bits, se ndo forem calculadas médias. Isso implica que a unidade discreta de medigao é de 5 V/256 = 0,020 V (20 mV). A esses valores calculados se dé o nome de sensibilidade. Qualquer sinal que seja uma fragdo desse valor nao pode ser medido pelo conversor. ‘Se avangarmos um pouco mais nas especificagGes do conversor A/D do ATMEGA328, encontramos que as operagbes de amostragem e S/H foram otimizadas para impedancias de saida do circuito, que for conectado ao pino do conversor A/D, de 10 k9 ou menos, Circuitos com baixa impedancia de saida sé deverdo ser utilizados para sinais que variam lentamente, Outrainformacao muito importante é a énfase que o manuel dé para a necessidade de se utilizar um filtro analégico de ant-alising. Veja 0 destaque na Figura 824.6.1 Analog Input Circultry “The analog input eiuity for single ended channels is illustrated in Figure 24-8. An analog source epplied to ADCn is subjected to ihe pin capacitance and input leakage of that pin, regardless of whether that channel is AmogettAPAURAPNTOANPNSIB [DATASHEET] 249 Atmel at Scenes a selected as input forthe ADC. When the channel is selected, the source must drive the S/H capacitor through tho series resistance (combined resistanco in tho input path) The ADC is optimized for ansiog signals wih an output impedance of approximately 100 or less. such a Source used, tha sampling tim willbe nage. a solce wth higher impadance is sed, the sampling ime will depend on how ona time the source needs fo eharae the S/H canaeior wr can vary widely The user is recommended to only uso low mpedanco sources wih slowly varying signals, snco this minmizos tho required charge transfor to tho SiH capactor Sonal eomponants higher than the Nyquist requoncy lo) shoud nat be present for ether kind af channels, {0 avoid distortion fram unpraditaba shal convolsion Tho us aid to remeve high raquoncy compenents with low-pass fitr before applying the signals es inputs tothe ADC. Figure 24-8, Analog Input Circuitry om ‘ADcn 1.10040,Figura 8 —Descreko do cute de entrada do conversa 4/0 do ATMESAS28° Colocados todos esses dados, podemos iniciar os célculos para o acoplamento do sensor ao conversor A/D. A excursdo total do ‘sensor para as nossas especificagées é de 600 mV ~ 100 mV = 500 mV. Ou seja, a saida do sensor terd 100 mV de offset, mais uma excursao total de 500 mV, Observando a Figura 2, pode-se concluir que é necessério subtrair 100 mV da saida do sensor e amplificar a saida em 10 vezes para se obter uma excursao util de 5 V na saida do conjunto e otimizar a conversao A/D. ‘Amaneira mais direta de fazer isso é utilizar um amplificador operacional numa configuragao nao inversora com bias ou offset. Confira a formulagéo genérica na Figura 9, extraida do documento MAS.836 ~ HOWTO BIAS AN OP-AMP , texto de um curso do MIT Spl Resor Blain: This std sth sinpls oss, bt has he retest tov of moses ears con yt be wed. Bsialy. ayer whieh wel go it grand snow pitin oresors one which gues to gro ad oe hich gos be- courtep tollepowe ppl ra Thera ofRl and R2 determine heb vole ca og SSRLURD i equal othe ol esr vl te cbc wll ope the te. TH tmetiod et the retork tiie huge ee eget wl bey 9 a itu to ge the sume volages at coc pon. Seite DC coping. you can vary pl beg taps enor n bas voltages ee ee Pe Vpias © ave Gains 1+ & Figura 9~Esquema genético pare adequar sina de temperatura & ent do conversor A/DDa Figura 9 temos: 0 ganho do circuito néo inversor simples é G = 1 + R2/R1, o que para o nosso caso deve ser G = 10. Passando para a aplicagdo de um offset 2o amplificador, usando 5 Vec como tensdo para gerar 0 offset e renomeando os resistores, obtemos: + (1) Voffset=[R2/ (Ri + R2)]* Vee; + (@)G=1+41R3/ (RI // R2)] onde (RI // R2) quer dizer a resisténcia equivalente aos resistores em paralelo ‘Substituindo por nossos dados, obtemos: De (1) 100 mV = [R2,/(R1 + R2)}* Veo => 0,1 =[R2/ (RI + R2)I*5 rearranjando, fica: [(R1 + R2) / R2] = 50 ou seja R1 + R2 0 RA 2 @)RI=A9*RZ De (2) 10=1 +1R3/(R1// R2)], ou seja 9 = [RB /(R1// R2)] => (4) R3=9* (RI // R2) Substituindo R1 por (3): RT // R2 = (R1 * R2) / (RI + R2) = (49 * R2* RQ) / (49 * R2+R2) = (49/50) * RZ = (6) R1// R2=0,98*R2 ‘Substituindo em (4): R3=9*0,98*R2(© R3=9,82*R2 0 proximo desafio é, a partir dos resultados acima, chegar a valores comerciais dos resistores. Normalmente isso é feito por tentativa e erro, Por exemplo: ‘Suponhamos que R1 = 100k. Isso implica que R2 de 1%, 08 valores comerciais mals proximos so: 00k 4! 2,0408 ke R3 82 * 2,0408 18 k. Se utilizarmos resistores (7) RV = 100 ka 1%, R2 05k 1% @R3 = 18,2 KO 1% Quaisquer que sejam os resistores utilizados, é sempre interessante o projetista prever no seu projeto uma operagdo de aferi¢ao ou calibracao das medidas, se for desejada uma preciso maior, uma vez que raramente conseguimos encontrar os valores e tolerancias dos resistores calculados e existem outros erros decorrentes de tens6es de offset do operacional etc. Nesse caso isso poderia ser feito expondo o sensor a temperaturas controladas e precisas e realizar as compensag6es por software, se necessario. A aferi¢ao mais comum nesse caso seria a de se aferir o offset na temperatura minima e o ganho na temperatura maxima. 0 amplificador operacional, que pode ser utilizado nesse caso, deve ter as seguintes especificacées: * Single supply (5Vee); + Rail-to-rail output; + lowcost. Alguns exemplos: + LMv321; » MCP6271 ; + ete.0 tiltime item a ser projetado ¢ o filtro antraliasing, que nesse caso pode ser um simples circuito RC do tipo passa-baixas. Veja na Figura 10 0 circuit tipico e sua resposta em frequéncia eal Slps-20 eee ry ‘hoo aor 0 T 1m 1000 Figura 10~ Circuito Ro passa-babas e sua resposta em tequéncia| ‘A frequéncia de corte do circuito RC => F, (2411 *RC). Se projetarmos a frequéncia de corte em 100 Hz, @ equagao fica assim: RC (27 * 100), ou seja RO= 1,5* 10 Das especificages do conversor A/D temos que o resistor deve ser menor ou igual a 10 kA. Vamos escolher arbitrariamento 4,7 Ka. C=1,5*109/47* 10, ousejac=3,3* 107 30 nF, 0 filtro deverd ter os seguintes componentes R= 4,7 kQ eCAntes de montar o seu circuito é bom realizar uma simulagao com ele, para se certificar de que no foi cometido algum erro {grosseiro nos célculos. O circuito mostrado na Figura 11, pode ser simulado no Paul Falstad's Circuit Simulator Applet, um simulador onfine de circultos muito simples de se usar. “Clicke” na figura para visualizar a simulago completa, Figura 11 ~Simulagio da eveuta de condelonamento do senor Com isso fechamos 0 nosso exercicio de condicionamento de sinais analégicos. Como jé fol mencionado antes, se nesse caso fosse utilizada a referéncia interna do conversor A/D de 1,1 V, seria possivel conectar o LM35 sem manipular a sua saida diretamente na entrada do conversor A/D. Seria recomendavel mesmo nesse caso utilizar o filtro passivo passa-baixas calculado para o projeto. Conclusses Condicionar sinais analégicos, para que possam ser digitalizados, requer alguns culdados que foram abordados neste artigo técriico. A sequencia de operagdes sugerida é um bom comego para que se possa calcula e resolver esse acoplamento. Nao se ‘esquega que sempre hd diversas solugdes alternativas para 0 mesmo problema. Requer um pouco de arte e determinagao para {que se encontre a melhor solugao de compromisso que atenda as especificagdes e necessidades do projeto.Referancias {1] Processamento Digital de Sinais - DSP - Parte 2 [2] Datasheet do LM35 [3] Datasheet do ATMEGA328P-PU [4] Conversor A/D - Trazendo 0 mundo real para dentro do processador [5] MAS,836 ~ HOW TO BIAS AN OP-AMP [6] Datasheet do amplificador operacional LMV321_{7] Datasheet do amplficador operacional MCP6271 [8] Simulador de circutos on-line - Paul Falstad's Circuit Simulator Applet [9] Arduino - Entradas Analégicos Crédito para a Figura 1 - Novus Produtos Eletrénicos