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Quadro 4 - Distorções cognitivas segundo De Oliveira


Distorção Cognitiva Explicação Exemplo
Pensamento dicotômico Vejo a situação, a pessoa ou “Eu cometi um erro, logo
(também chamado tudo- o acontecimento apenas em meu rendimento foi um
ou-nada, preto e branco ou termos de “uma coisa ou fracasso”. “Comi mais do
polarizado) outra”, colocando-as em que pretendia, portanto
apenas duas categorias estraguei completamente
extremas, em vez de em um minha dieta”
contínuo.
Previsão do futuro Antecipo o futuro em termos “Vou fracassar e isso será
(também denominada negativos e acredito que o insuportável.” “Vou ficar
catastrofização) que acontecerá será tão tão perturbado que não
horrível que eu não vou conseguirei me concentrar
suportar. no exame.”

Desqualificação dos Desqualifico


aspectos e desconto as “Fui aprovado no exame,
positivos experiências e mas foi pura sorte.”
acontecimentos positivos “Entrar para a
insistindo que estes não universidade não foi
contam. grande coisa, qualquer um
consegue.”
Raciocínio emocional Acredito que minhas Sinto que ela me ama,
emoções refletem o que as “então deve ser verdade.”
coisas realmente são e deixo “Tenho pavor de aviões,
que elas guiem minhas logo voar deve ser
atitudes e julgamentos. perigoso.” “Meus
sentimentos me dizem
que não devo acreditar
nele.”
Rotulação Coloco um rótulo fixo, global “Sou um fracassado.” “Ele
e geralmente negativo em é uma pessoa estragada.”
mim ou nos outros. “Ela é uma completa
imbecil.”
Ampliação/minimização Avalio a mim mesmo, os “Consegui um 8. Isto
outros e as situações demonstra o quanto meu
ampliando os aspectos desempenho foi ruim.”
negativos e/ou minimizando “Consegui um 10. Isto
os aspectos positivos. significa que o teste foi
muito fácil.”

Abstração seletiva Presto


(também
atenção em um ou “Miguel apontou um erro
denominada filtro mental e visão
poucosem detalhes e não em meu trabalho. Então,
túnel consigo ver o quadro inteiro. posso ser despedido” (não
considerando o retorno
positivo de Miguel. “Não
consigo esquecer que
aquela informação que dei
durante minha
apresentação estava
errada” (deixando de
considerar o sucesso da
apresentação e o aplauso
das pessoas).
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Leitura mental Acredito que conheço os “Ele está pensando que


pensamentos e intenções eu falhei”. “Ela pensou
de outros (ou que eles que eu não conhecia o
conhecem meus projeto.” “Ele sabe que eu
pensamentos e intenções) não gosto de ser tocada
sem ter evidências deste jeito.”
suficientes.
Supergeneralização Eu tomo casos negativos “Estava chovendo esta
isolados e os generalizo, manhã, o que significa
tornando-os um padrão que choverá todo o fim de
interminável com o uso semana.” “Que azar! Perdi
repetido de palavras como o avião, logo isto vai
“sempre”, “nunca”, “todo”, estragar minhas férias
“inteiro” etc. inteiras”. “Minha dor de
cabeça nunca vai parar”.
Personalização Assumo que “Senti-me mal porque a
comportamentos dos outros moça do caixa não me
e eventos externos dizem agradeceu” (sem
respeito (ou são considerar que ela não
direcionados) a mim, sem agradeceu a ninguém).
considerar outras “Meu marido me deixou
explicações plausíveis. porque eu fui uma má
esposa” (não
considerando que ela foi
sua quarta esposa).
Afirmações do tipo “deveria” Digo a mim mesmo que os “Eu devia ter sido uma
(também “devia”, “devo”, acontecimentos, os mãe melhor”. “Ele deveria
“tenho de”) comportamentos de outras ter se casado com Ana em
pessoas e minhas próprias vez de Maria”. “Eu não
atitudes “deveriam” ser da devia ter cometido tantos
forma que espero que sejam erros.”
e não o que de fato são.
Conclusões precipitadas Tiro conclusões (negativas “Logo que o vi, soube que
ou positivas) a partir de ele faria um trabalho
nenhuma ou poucas deplorável.” “Ele olhou
evidências que possam para mim de um modo
confirmá-las que logo concluí que ele
foi o responsável pelo
acidente.”
Culpar (outros ou a si Dirijo minha atenção aos “Meus pais são os únicos
mesmo) outros como fontes de meus culpados por minha
sentimentos e experiências, infelicidade.” “É culpa
deixando de considerar minha que meu filho tenha
minha própria se casado com uma
responsabilidade; ou, pessoa tão egoísta e
inversamente, tomo para descuidada.
mim mesmo a
responsabilidade pelos
comportamentos e “atitudes
de outros.
E se…? Fico me fazendo perguntas “E se eu bater o carro?” “E
do tipo “e se acontecer se eu tiver um enfarte?” “E
alguma coisa?” se meu marido me
deixar?”
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Comparações injustas Comparo-me com outras “Meu pai prefere meu


pessoas que parecem se irmão mais velho a mim
sair melhor do que eu e me porque ele é mais
coloco em posição de inteligente do que eu.”
desvantagem. “Não consigo suportar o
fato de ela ter mais
sucesso do que eu.
Fonte: De Oliveira (2014a)

2.4 TERAPIA COGNITIVA PROCESSUAL (TCP)

A TCP foi elaborada por De Oliveira (2008) e refere-se a um modo diferente


de realizar a TC desenvolvida por Beck (1979). Naquela, há uma maior
sistematização das técnicas, uma elaboração mais dinâmica da conceituação
cognitiva e uma evolução terapêutica mais programada. A TCP surgiu a partir do
desenvolvimento de uma técnica denominada Registro de Pensamento Baseado na
Reversão de Sentenças (RPBRS), cujo objetivo era reestruturar as crenças
nucleares disfuncionais que se manifestavam por pensamentos do tipo “sim, mas...”.
Devido à dificuldade na adesão dos pacientes às tarefas propostas por essa técnica,
De Oliveira desenvolveu o que hoje é conhecido como O Processo I (DE OLIVEIRA;
LANDEIRO, 2014), técnica que tem o objetivo de reestruturar crenças nucleares e as
distorções cognitivas produzidas por elas.
A técnica Processo I foi inspirada no livro homônimo de Franz Kafka, no qual
o personagem principal é condenado e executado sem jamais ter conhecimento do
crime cometido. De Oliveira (2011) faz uma analogia na qual supõe que Kafka
apresenta a autoacusação como princípio universal, ou seja, os seres humanos se
autoacusam e, na maioria das vezes, não tomam consciência disso. De Oliveira
conclui que se fosse dado o direito de perceber suas autoacusações e de se
defender, essas pessoas provavelmente melhorariam de seus transtornos. (DE
OLIVEIRA, 2011)
Um estudo clínico realizado com terapeutas, atendendo em diferentes capitais
brasileiras, demonstrou a eficácia do Processo I (DE OLIVEIRA et al., 2012), mas
essa técnica constitui-se hoje em apenas um elemento da TCP, cujo principal
propósito é disponibilizar ao terapeuta uma forma sistemática de realizar a TC, como
um repertório de técnicas pré-definidas, que permita ao terapeuta maior segurança e
menor margem de erros na escolha de numerosas técnicas e sequências que a TC

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