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2. ORÇAMENTO
Este instituto tem relação direta com “planejamento”, previsão. Assim, trata-se de uma
“antecipação hipotética” dos créditos e débitos a cargo da pessoa política em determinado espaço de
tempo. Além da previsão, contém também um caráter autorizador.
2.1. Conceito
O orçamento é considerado o ato pelo qual o Poder Legislativo prevê e autoriza ao Poder
Executivo, por certo período e em pormenor, as despesas destinadas ao funcionamento dos serviços
públicos e outros fins, adotados pela política econômica ou geral do país, assim como a arrecadação
das receitas já criadas em leis. Assim, trata-se de “documento” em que se localiza a previsão de
despesas e de receitas para um período determinado.
Essa expressão “arrecadação das receitas já criadas em lei”, todavia, não veda a arrecadação
do tributo legalmente criado, sem prévia inclusão orçamentária. Em outras palavras, expressa o
instrumento que documenta a atividade financeira do Estado, contendo a receita e o cálculo das
despesas autorizadas para o funcionamento dos serviços públicos e outros fins projetados pelos
governos. Na realidade, há obrigação de previsão das despesas, funcionando o orçamento como
condição para sua realização, o que não ocorre com as receitas, que poderão ficar aquém ou além do
previsto, sem que disso resulte qualquer implicação.
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Lamentavelmente, o orçamento está longe de espelhar, entre nós, um plano de ação
governamental referendado pela sociedade, tendendo mais, na verdade, para o campo da ficção.
O desvio na realização de gastos públicos costuma ocorrer por meio dos seguintes
expedientes:
• superestimação de receitas;
• contingenciamento de despesas;
• instituição de fundos.
A lei orçamentária, entretanto, difere das demais leis; estas caracterizadas por serem
genéricas, abstratas e constantes ou permanentes. A lei orçamentária é, na verdade, uma lei de efeito
concreto, para vigorar por um prazo determinado de um ano, fato que, do ponto de vista material,
retira-lhe o caráter de lei. Essa peculiaridade levou parte dos estudiosos a sustentar a tese do
orçamento como ato-condição. Sob o enfoque formal, no entanto, não há como negar a qualificação
de lei.
Concluindo, dizemos que o orçamento é uma lei ânua, de efeito concreto, estimando as
receitas e fixando as despesas necessárias à execução da política governamental.
2.3. Espécies
As ditas “espécies orçamentárias”, na realidade, são as modalidades diversas de leis
orçamentárias, previstas na Constituição Federal. Encontram-se previstas em número de três e,
abaixo, seguem algumas especificações:
a) Lei que institui o plano plurianual (artigo 165, § 1º, da Constituição Federal):
estabelecendo de forma regionalizada as diretrizes, objetivos e metas da administração pública
federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes, e para as relativas aos programas de
duração continuada;
c) Lei que aprova o orçamento anual (artigo 165, § 5º, da Constituição Federal): abarca o
orçamento fiscal referente aos três Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da
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Administração direta e indireta, fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, além do
orçamento de investimentos das empresas estatais, bem como o orçamento da seguridade social.
Esse princípio tem a finalidade de evitar, na definição de Ruy Barbosa, as chamadas caudas
orçamentárias ou orçamentos rabilongos, decorrentes de matérias de índole não financeira,
estranhas ao respectivo projeto de lei, por meio de emendas de toda sorte, apresentadas por
Deputados e Senadores. Assim, veda-se à lei orçamentária a inclusão de matéria estranha à previsão
da receita e à fixação da despesa
Todo orçamento moderno está ligado ao plano de ação governamental. Assim, ele deve ter
conteúdo e forma de programação. Os programas de governo de duração continuada devem constar
do plano plurianual, ao qual se subordinam os planos e programas nacionais, regionais e setoriais.
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BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 3.ª ed. Saraiva. 2001. p. 1109.
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Esse princípio, no passado, era considerado como regra de ouro das finanças públicas. Com a
crise econômica de 1929, porém, a tese do equilíbrio orçamentário passou a ser vigorosamente
combatida.
Hoje prevalece o pensamento de que não cabe à economia equilibrar o orçamento, mas ao
orçamento equilibrar a economia, isto é, o equilíbrio orçamentário não pode ser entendido como um
fim em si mesmo, mas como um instrumento a serviço do desenvolvimento da nação.
Assim, fez bem o legislador constituinte em abolir a expressão desse princípio, limitando-se a
recomendá-lo em alguns de seus dispositivos, como naqueles em que se limita o endividamento,
fixam as despesas, estabelece o mecanismo de controle das despesas, proíbe a abertura de créditos
suplementares ou especiais sem a indicação de recursos correspondentes etc, que impulsionam a
ação dos legisladores no sentido do equilíbrio orçamentário.
d) Princípio da anualidade (artigo 48, inciso II, artigo 165, inciso III e § 5.º, e artigo 166 da
Constituição Federal)
A Lei que rege o assunto é a de n. 4.320, de 17.3.1964, e, por ela, o exercício financeiro vai de
1.º de janeiro a 31 de dezembro.
Esse princípio significa que as parcelas da receita e da despesa devem figurar em bruto no
orçamento, isto é, sem quaisquer deduções.
De acordo com esse princípio expresso no § 5.º, do referido artigo, a lei orçamentária deve
compreender o orçamento fiscal, o orçamento de investimento das empresas, o orçamento da
seguridade social e os que se ligam ao plano plurianual (este se inter-relaciona com os planos e
programas nacionais, regionais e setoriais).
Segue o sentido geral do princípio da legalidade, pelo qual ninguém é obrigado a fazer, ou não
fazer algo senão em virtude de lei. Assim, em matéria orçamentária, esse princípio significa que a
Administração Pública subordina-se às prescrições legais.
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BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 3.ª ed. Saraiva. 2001. p. 1109.
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h) Princípio da Transparência Orçamentária (artigo 165, § 6.º, da Constituição Federal)
i) Princípio da Publicidade Orçamentária (artigos 37, 165, § 3.º e 166, § 7.º, da Constituição
Federal)
Devido à sua grande importância, além de estar previsto em caráter geral, a Constituição
Federal determinou, ainda, sua observância relativamente aos projetos de leis orçamentárias e
ordenou a publicação, pelo Poder Executivo, do relatório resumido da execução orçamentária.
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BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 3.ª ed. Saraiva. 2001. p. 806.
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