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A Ordem dos Templários

Antes de nos reportarmos às origens (1918) da Ordem dos Templários, bem como da sua
formação e reconhecimento pelo Papa, devemos tratar de uma breve introdução acerca dos
Hospitalários. Especula-se que em 600 a.C. foi construída, a mando do Papa Gregório I, uma
hospedaria em Jerusalém para peregrinos que se dirigiam aos lugares sagrados da Cristandade,
resistindo durante vários anos à ocupação muçulmana no país. No início do século IX, Carlos
Magno recebe autorização do Califa Haroun-al-Raschid para reconstruir e efetivar ampliações na
hospedaria, porém uma perseguição aos cristãos – dois séculos depois – levou à destruição da
mesma e também da Igreja do Santo Sepulcro. Por interesses comerciais, mercadores de Amalfi –
motivados pela oportunidade de compra do terreno das construções de Carlos Magno – erigem uma
nova igreja e também um hospital para peregrinos cristãos (também conhecido como Hospício de
São João).
Sob a insígnia de uma cruz branca de oito pontas – escolhida pelos Beneditinos como signo
para quem a responsabilidade dos cuidados e guarda ao hospital foram transferidas. Os hospitalários
são os primeiros de uma série de Ordens e fraternidades estabelecidas de acordo com a fundação de
Jerusalém1. Os lugares sagrados foram, em pouco tempo, atingidos pela força militar dos califados
Muçulmanos tornando-se praticamente inacessíveis aos peregrinos. A cristandade européia não
tardou a reagir através de um apelo ao papa Urbano II (em 1095) que, juntamente com as pregações
realizados por Pedro “O Eremita”, desencadearam o processo das primeiras Cruzadas. Desta forma,
em 1099 o exército cristão tomou para si a cidade de Jerusalém.
Nesta época, o administrador do hospital era Godfrey de Bouillon que reorganizou – com a
ajuda de diversos cruzados – a Ordem dos Hospitalários. Um monastério foi construído e dedicado
a João Batista pela Igreja Grega. São João Batista foi considerado padroeiro dos hospitalários. O
sucessor de Bouillon foi Raymond Dupuy que deu à ordem um enfoque militar onde os
participantes tinham três classes. Eram elas a saber: os “cavaleiros”, cujo objetivo era defender
Jerusalém dos Sarracenos; os “capelães”, que tinham o dever de continuar as tradições religiosas e,
por fim, os “Irmãos Servidores” que executavam serviços braçais ou funções de menor importância.
Porém, o objetivo de uma ordem essencialmente militar não foi alcançado pois os hospitalários,
acima de tudo, dirigiam seus esforços para os doentes e necessitados.
Sempre presenteados com terras e titularidades, os hospitalários fundavam, onde
estabeleciam-se, conventos ou comandâncias da Ordem. Os irmãos militares usavam uma túnica
vermelha com uma cruz branca e lisa e, no convento, era adotado o manto negro com a cruz de
Amalfi. O neófito era informado de que os quatro braços da cruz simbolizavam as virtudes cardinais
– prudência, fortaleza, temperança e justiça – e que os oito pontos representavam as graças que
emergiam.
Em qualquer registro acerca da história dos templários iremos encontrar relatos acerca das
sete principais cruzadas, sendo que a mais comentada é a quarta que ganhou descrédito pois, por um
contrato impróprio com transportadores marítimos Venezianos, o exército Cristão Europeu
descobriu que estava dividido para atacar Constantinopla e os cristãos bizantinos, por serem virtuais
mercenários de Veneza.2Tanto os Hospitalários quanto os Templários tiveram inúmeras baixas
nestes períodos de guerras defendendo a causa cristã contra os agressores de fé muçulmana.
Após a retomada de Jerusalém pelos Cristãos, quatro Estados diferentes foram criados nos
territórios conquistados. Estes locais, vieram a ser conhecidos, na Europa Ocidental como Ultramar.
O principado de Antioquia ficava ao Norte e era governado por Boemundo de Taranto. Ao leste, na

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Além do objeto do presente trabalho – os templários -, juntamente com a Ordem dos Hospitalários também surgiu, na
época, a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos do Hospital de Santa Maria (1180).
2
Foi assim que se desenvolveu a rivalidade entre as Igrejas do Leste e Oeste que perdura até os dias atuais.
outra margem do Eufrates ficava o condado de Edessa, governado por Balduíno Bologne. Ao sul da
Antioquia situava-se o condado de Trípoli, apropriado por Raimundo de Saint gilles, conde de
Toulouse, que morreu durante o cerco da cidade em 1105. Mais para o Sul, estendendo-se de
Beirute, no Norte, a Gaza, no sul, ficava o reino de Jerusalém, governado por Godofredo de
Bouilon, que, recusou-se a chamar-se rei onde Cristo usou uma coroa de espinhos. Assim, assumiu
de vez o título de “Defensor do Santo Sepulcro.”
Urbano II viera a falecer em Roma duas semanas após o triunfo dos cruzados, antes que a
notícia da conquista pudesse chegar ao Ocidente. Antes de sua morte nomeou Daibert (arcebispo de
Pisa) para ser o pontífice das cruzadas. Assim, o novo patriarca de Jerusalém, após a morte de
Godofredo (1100), tentou a soberania teocrática. Porém os cavaleiros francos não aceitaram e
convocaram para a substituição o irmão de Godofredo, Balduíno de Boulogne. Este adotou apenas o
título de rei e acabou sendo coroado, rei de Jerusalém, pelo próprio Daimbert na Igreja da
Natividade em Belém.
O Sistema Feudal dominava a Europa Ocidental, porém, os reis escolhidos como primeiros
entre seus pares, pelos líderes da cruzada, levou a enfatizarem-se os direitos dos vassalos a uma
condição daqueles direitos desconhecidos no Ocidente. Os príncipes de Trípoli e Antioquia, bem
como os condes de Edessa somente obedeciam à autoridade dos reis de Jerusalém quando sentiam-
se ameaçados por uma invasão muçulmana. Além desta descentralização havia o problema da
escassez de potencial humano. Balduíno não tinha mais do que trezentos cavaleiros e mil soldados
de infantaria ao ascender ao trono. A frágil situação de Jerusalém somente poderia ser contornada
com a expansão ulterior, mais especificamente na tomada dos portos mediterrâneos. As esquadras
das repúblicas marítimas italianas barganhavam o apoio do rei no cerco dos portos em troca de
privilégios comerciais quando os mesmos fossem tomados. Em 1124, com a queda de Tiro, a
armada fatímida perdeu todas as bases na palestina e a fronteira litorânea do ultramar ficou livre e
perigo.
Mais problemática ainda era a pacificação do interior. As galeras italianas trouxeram um
enorme contingente de peregrinos que tinham como inspiração a peregrinação à Sião, devido à
notícia da vitória dos cruzados. Alguns peregrinos portavam armas, outros vinham equipados
apenas com a sacola e o bastão dos peregrinos, o que tornava a distinção entre peregrino e cruzado
imprecisa. Os peregrinos oravam na Igreja do Santo Sepulcro, cumprindo suas promessas, bem
como se deslocavam para muitos santuários da Judéia e Samaria que transmitiam uma familiaridade
com as Escrituras e indiferença à historicidade, consagrando-os como excelentes parques temáticos
da religião cristã3.
O conde Hugo de Champagne, acompanhado de um séquito de cavaleiros, foi à Terra Santa
em 1104. Ele governava um rico principado localizado no trecho superior do rio Sena. Entre os
vassalos de Champagne estava um cavaleiro chamado Hugo de Payens, que não acompanhou mais
seu superior fixando-se na Terra Santa. Mais tarde, Hugo e um cavaleiro chamado Godofredo de
Saint-Omer propuseram a organização de uma comunidade de cavaleiros que seguiria a regra de
uma ordem religiosa e devotar-se-ia à proteção dos peregrinos. A regra seria a de Agostinho de
Hipona, seguida pelos cônegos da igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.
Aprovada pelo rei e pelo patriarca, a proposta de Hugo, no dia de Natal de 1119 foi
ratificada com o voto de pobreza, castidade e obediência de oito cavaleiros fundadores entre eles:
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Por exemplo: Em Jerusalém havia a Cúpula da Rocha, transformada de mesquita em Igreja, santificando o lugar onde
Jesus havia açoitado os cambistas. Este local era conhecido, pelos cruzados, como templo do Senhor. Também, na
extremidade Sudeste do monte do Templo encontrava-se a casa de São Simeão, que continha a cama da virgem, o berço
e a banheira do menino Jesus. Nos arredores da Cidade Santa havia a casa de Zacarias, onde João Batista tinha nascido;
o poço de Maria, de onde ela e José haviam voltado para encontrar Jesus em Jerusalém. Havia o sítio onde foi abatida a
árvore da qual se fez a cruz usada na crucificação de Jesus, os baixios onde João tinha batizado Jesus com as águas do
Jordão, entre outras coisas.
Godofredo de Saint-Omer, Archambaud de Saint-Aignan, Payen de Montdidier, Geoffroy Bissot e
um cavaleiro chamado Rossal, obedecendo à ritualística coordenada pelo patriarca da Igreja do
Santo Sepulcro. Eles auto-intitularam-se de “Os pobres soldados de Jesus Cristo”, não usando, a
princípio, um hábito que os distinguisse e sim as roupas de sua profissão secular. Para garantir aos
cavaleiros uma renda suficiente, o patriarca dotou os mesmos de diversos benefícios. O rei Balduíno
II providenciou-lhes um lugar para viver junto ao Palácio do qual ele havia transformado a mesquita
Al-Aqsa, na borda Sul do monte do Templo, conhecido pelos cruzados como Templum Salomonis.
Desta forma, os cavaleiros vieram a ser conhecidos como “Os pobres soldados de Jesus Cristo e do
Templo de Salomão”, “Os Cavaleiros do Templo de Salomão”, “Os Cavaleiros do Templo”, “Os
Templários” ou simplesmente “O Templo”.
Talvez a intenção original de Hugo de Payens fosse apenas retirarem-se para um mosteiro,
ou talvez fundar uma confraria leiga como os Hospitalários poém, persuadido pelo rei, instigou
seus companheiros a continuarem a ser cavaleiros em vez de se tornarem monges a fim de “salvar e
resguardar a alma do rei e proteger estes lugares contra ladrões”. Era realmente perigoso aos
peregrinos aventurarem-se fora de Jerusalém sem uma escolta armada. Diversos pedidos foram
feitos ao Papa Calisto II e ao arcebispo de Compostela que acabaram resultando na saudação do
projeto de Payens tanto por seu potencial espiritual quanto prático.
São imprecisas as informações históricas acerca de uma consulta efetiva ao Papa para a
formação da confraria templária, porém mais fidedigno seria o apoio do conde Guilherme de
Borgonha aos interesses da Ordem e aspirações dos cavaleiros. Uma boa idéia figurava-se na época:
a fusão de habilidades militares com vocação religiosa. A ordem era dotada de regulares apoios
financeiros, como o feito por Foulques de Anjou (poderoso nobre do centro da França). O conde
Hugo de Champagne também se entregou totalmente à causa, renunciando a todos os seus bens
materiais e fazendo votos de pobreza, castidade e obediência como um “Pobre Soldado de Jesus
Cristo”.
Payens foi enviado em 1127, pelo rei Balduíno II, para uma missão diplomática à Europa
ocidental. Entre os objetivos da mesma estava o recrutamento de apoiadores para obter a sanção do
papa em relação à Ordem dos Cavaleiros do Templo. Não se sabe ao certo o tamanho da ordem
nesta época, porém seu prestígio era notório perante o rei. A viagem diplomática foi um sucesso e
Henrique I reagiu com generosidade ao trabalho de Hugo, presenteando-lhe com ouro e prata.
Assim, Payens pode sustentar suas viagens pela Escócia, França e Flandres em busca não somente
de doações significativas, mas também de armaduras e cavalos. O que não se sabe ao certo é se a
arrecadação de Hugo foi para a Ordem do Templo ou para o financiamento da campanha do rei
Balduíno II contra Damasco. Reza a lenda que Payens conseguiu recrutar mais pessoas do que o
Papa urbano II para a primeira cruzada.
O selo primitivo dos templários exibia dois cavaleiros montando um único cavalo para
simbolizar sua pobreza, mas não existe nada sugerindo que Hugo tenha viajado de forma humilde
pela Europa. A aprovação da nova Ordem4 pela Igreja foi a melhor conquista da expedição. Hugo
compareceu perante o concílio da igreja reunido em Troyes em janeiro de 1129. Tendo como
anfitrião o conde Teobaldo de Champagne, os veneráveis sacerdotes foram recebidos com a
presidência do concílio e o legado pontifício de Mateus de Albano. Os prelados presentes eram, em
sua maioria, franceses – dois arcebispos, de Reims e de Sens, dez bispos e sete abades, entre eles
Estevão Harding, abade de Molesme, e Bernardo, abade de Clairvaux.
A Ordem dos Templários teve seu regulamento de fundação elaborado por cinco membros
da Ordem: Godofredo de Sait-Omer, Archambaud de Saint Armand, Geoffroy Bisot, Payen de

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No uso medieval, ordo significava bem mais do que uma organização ou pessoa jurídica, porque incluía a idéia de uma
fundação social e pública. Os homens que pertenciam a um ordo não seguiam simplesmente seu destino pessoal, mas
ocupavam um lugar numa forma de organização política cristã.
Mondidier e um certo Rolando. O regulamento foi examinado e revisto atentamente pelos padres do
concílio e transcrito por Jean Michel em um documento de setenta e três artigos. 5 Assim como nas
ordens beneditina e cisterciense, se fazia uma distinção entre o monge e o irmão leigo, a diferença
entre um Cavaleiro do Templo e um sargento ou escudeiro deveria tornar-se evidente pela sua
vestimenta. “Ordenamos que os hábitos de todos os irmãos sejam sempre de uma só cor, ou seja,
brancos, pretos ou marrons.” Ao manto branco foi adicionada, em 1147, a cruz vermelha (símbolo
de martírio). Um barrete branco era usado na cabeça, no campo um capacete era necessário, mas
uma casquete de tecido vermelho o substituía dentro do convento.
O branco só poderia ser usado por um cavaleiro de posição plena, “a fim de que aqueles que
renunciassem à vida de trevas reconheçam uns aos outros como tendo sido reconciliados como seu
criador pelo símbolo de seus hábitos brancos, que significa pureza e castidade absoluta.” A
castidade era condição imprescindível para o Cavaleiro Templário. Os hábitos alimentares, a forma
de dormir e o comportamento dos cavaleiros era extremamente rígido, conforme os ditames
monásticos. Nas palavras de Guigo (quinto prior da Grande Cartuxa e amigo de Hugo de Payen):
“Na verdade, é inútil para nós atacarmos os inimigos externos se não derrotarmos primeiro os
internos.”Acima de tudo, deparar com a realidade material do Santo Sepulcro faz o cristão recordar-
se de que aqui ele também vencerá a morte.6
A figura mais marcante e lendária da Ordem dos Templários foi, sem sombra de dúvida,
Jacques de Molay. Grão-Mestre da Ordem em 1293, por ocasião da morte de Teobaldo Gaudin,
Jacques era originário da pequena nobreza do Franche-Comté, parte do pós-carolíngeo, reino central
da Lorena, que fornecera muitos cavaleiros aos templários. Foi recebido na Ordem em 1265 e,
contando com trinta anos de experiência, já possuía toda a maestria necessária para assumir tal
cargo.
Da mesma forma que Hugo de Payens, Molay empreendeu também, em 1294, uma longa
viagem com o intuito de obter apoio e prestígio à Ordem do Templo. O que nos remete a história
comprova que talvez tenha sido mais bem sucedido que Hugo. Muito polêmico, Jacques de Molay
opunha-se a diversas idéias, tanto do clero quanto da nobreza. Uma das teses do grão-mestre era a
de não apoiar a fusão da Ordem dos Templários com a do Hospital.7
Outra questão controvertida era acerca da conduta de uma cruzada proposta pelo rei Filipe
IV da França. Molay acreditava, mais uma vez contra o ponto de vista predominante na época, que
5
“Vós que renunciais a vossos próprios anseios (...) para salvação de vossas almas (...) esforçai-vos por toda a parte,
com desejo sincero, por ouvir as matinas e todo serviço de acordo com a Lei canônica (...); e se as circunstâncias
tornassem isso impossível, “em vez de rezar as matinas, ele deveria rezar treze pais-nosso: sete para cada hora e nove
para as vésperas”.
6
“Ide em frente, em segurança cavaleiros, e com alma intrépida afugentai os inimigos da cruz de Cristo, certos de que
nem a morte nem a vida podem separar-vos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, repetindo para vós mesmos a
cada perigo: Que vivamos, que morramos, nós somos do Senhor. Quão gloriosos são os vencedores que regressam da
batalha! Quão abençoados são os mártires que morrem em combate! Regozijai-vos, destemidos atletas, se viverdes e
conquistardes no Senhor, mas exultai e glorificai ainda mais se morrerdes e vos juntardes ao Senhor. A vida de fato é
fecunda e a vitória gloriosa, mas (...) a morte é melhor do que qualquer dessas coisas. Pois se aqueles que morrem no
Senhor, quão mais abençoados são aquele que morrem no Senhor?”
7
Em resposta a uma solicitação do papa Clemente V, ele elaborou um memorando expondo seus pontos de vista. Ele
começou com a origem da proposta de fundir as ordens, remontando-a ao Segundo Concílio de Lyon em 1274 e
relacionando os papas, entre lês Bonifácio VIII, que tinham decidido contra à união. Jacques de Molay reconheceu que
haveria algumas vantagens numa fusão – uma ordem unida estaria em condições mais sólidas de se defender contra seus
inimigos -, mas, levando tudo em consideração, ele julgava que elas seriam mais eficazes se continuassem separadas. A
competição entre o Templo e o Hospital era benéfica e, embora seus objetivos fossem semelhantes, cada uma delas
tinha um ethos distinto: o Hospital dava precedência a sua obra de caridade, ao passo que o Templo era, antes de tudo,
uma força militar “fundada especialmente como uma ordem de cavalaria.” Além domais, ele achava que as duas ordens
tinham maior probabilidade de alcançar seus objetivos de dar esmolas, proteger os peregrinos e travar guerra contra os
sarracenos, se preservassem sua independência.
uma simples passagium particulare, ou seja, a restrita incursão de uma força profissional para dar
apoio às forças da Armênia Cilícia seria uma ação fracassada a exemploa da perda de Ruad pelo
Templo. Sugeria que operações em pequena escala estavam fadadas ao fracasso.
Acusações contra alguns membros da Ordem do Templo começaram a serem elaboradas
como forma de perseguição política ou simples reação de alguns cavaleiros que foram expulsos da
ordem. O fato é que essas inverdades não demoraram muito tempo a chegar até o tribunal da
Inquisição da França, que na realidade era um ótimo instrumento de coerção nas mãos do Estado.
Acusados de heresias8 de todos os tipos, muitos templários foram presos e torturados.9 Claramente
ameaças e torturas eram usadas para forçar possíveis confissões.
As acusações exploravam uma intensa inquietação pública com a bruxaria e o poder de
demônios que viria culminar na caça às bruxas dos séculos XV e XVI. “O ceticismo do papa, junto
com a ampla aceitação de seus direitos soberanos sobre o Templo, talvez tivesse dificultado, se
fosse incapaz de frustrar o ataque do rei Filipe à Ordem , caso Jacques de Molay não tivesse
admitido que de fato negara Jesus Cristo e escarrara na imagem de Cristo na época de sua admissão
em Beaune. A única acusação rejeitada pelo grão-mestre foi a de que ele tinha se entregado a atos
homessexuais. Contudo, a blasfêmia era mais do que suficiente para satisfazer os adversários.
A campanha de Jacques de Molay junto ao papa10, clero e teólogos da época, para impedir a
condenação da Ordem do Templo, demonstrou-se frutífera no princípio. Porém não tardou ao papa
Clemente V ceder às pressões e sacrificar os templários em nome da igreja. O fato de Jacques de
Molay ser analfabeto, somado à circunstância de o Templo não conseguir adaptar-se ao crescente
legalismo do período levou à sucumbência dos templários aos tribunais unilaterais da inquisição.
Mediante torturas horrendas, 532 templários em toda á França sucumbiram aos intentos do rei
Filipe.
No último julgamento (após sete anos de prisão), em 18 de março de 1314 na cidade de
paris, Jacques de Molay e alguns outros templários dos altos graus foram levados à presença de um
conselho de doutores em teologia e direito canônico. Foram condenados e Molay, agora com mais
de setenta anos, insistiu pela última vez que tanto ele quanto a ordem eram inocentes.

Naquela mesma tarde, “por volta da hora das vésperas”, Jacques de Molay e
Geoffroy de Charney foram conduzidos a uma pequena ilha no rio Sena,
chamada Île-de-Javiaux, para serem queimados na fogueira. Antes de eles
morrerem, foi dito mais tarde, jacques de molay fez um último pedido ao
papa Clemente e ao rei Filipe: ele os convocou a comparecerem, antes que o
ano terminasse, perante o tribunal de Deus. Também foi relatado que “se
verificou que lês estavam preparados para alimentar o fogo com o espírito
tranqüilo”, o que “suscitou de todos os que viram muita admiração e surpresa
pela persistência na morte e pela negação final.” Os dois anciãos foram então
amarrados ao poste e queimados. Mais tarde, sob o manto da noite, frades do
8
Para assinalar sua rejeição de Cristo, foi dito que os padres da Ordem doTemplo omitiam as palavras de consagração
durante À missa. Em cerimônias secretas, eles veneravam um demônio chamado Baphomet, que aparecia sob a forma
de um gato, de um crânio ou de uma cabeça com três rostos. Cordões que haviam tocado essa cabeça eram amarrados
em torno da cintura dos templários “em veneração” do ídolo. Isso era feito em toda a parte e “pela maioria”: aqueles
que se recusassem a fazê-lo eram mortos ou aprisionados.
9
Para auxiliar o interrogatório pelo inquisidor, a tortura tinha sido autorizada meio século antes pelo papa Inocêncio IV.
Ela cessaria abruptamente de derramar sangue ou fraturar membros: os métodos favoritos na época eram o cavalete, que
distendia os membros de um homem a ponto de deslocar suas articulações; e a estrapada, por meio da qual um homem
era erguido sobre uma viga por uma corda amarrada a seus pulsos, que tinham sido atados nas suas costas. Uma terceira
técnica era esfregar gordura nas solas dos pés e coloca-los diante do fogo. De vez em quando, os torturadores
calculavam mal: os pés de Bernardo de Vado, um sacerdote da ordem do Templo, foram tão gravemente queimados que
seus ossos ficaram expostos.
10
O papa Clemente V afirmou ao rei Filipe que preferia morrer a condenar homens inocentes; e em fevereiro de 1308
ele ordenou à Inquisição que suspendesse o processo contra os templários.
mosteiro agostiniano situado na beira do rio e outras pessoas pias foram
recolher os ossos carbonizados dos dois templários como relíquias de santos.

Pouco mais de um mês após a morte de Jacques de Molay, em 20 de abril de 1314 o papa
Clemente V faleceu. Entre os pertences encontrados em seu quarto estavam “dois livretes na língua
‘romance’, revestidos de couro curtido e com um fecho de ferro (...) contendo a Regra dos
Templários.” O rei Filipe, o Belo, segui-o para o túmulo no dia 29 de novembro do mesmo ano,
depois de um acidente durante uma caçada.

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