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Instituto Politécnico de Santarém

Escola Superior de Desporto de Rio Maior

No âmbito da disciplina de Antropologia e História do Desporto foi-nos proposto a


realização de um trabalho cujo tema deveríamos sugerir. Em comum acordo, decidimos
que o tema seria “Os Ciganos”, onde iremos abordar diferentes temas, desde a sua origem,
aos costumes, à culinária, à dança, etc.
O nosso objectivo, além de dar a conhecer aos possíveis leitores deste trabalho, alguns
aspectos sobre a cultura e vida cigana, é também desmistificar a ideia de que os ciganos
são “perigosos”, “ladrões”, e tentar que o preconceito existente para com esta etnia
diminua, ou se possível, desapareça.
Para a realização deste trabalho, o grupo teve de obter informação de diversos campos,
como a Internet, livros e testemunhos de indivíduos que convivem com pessoas de etnia
cigana.
Esperamos que este trabalho esteja correctamente formulado para que consigamos cumprir
com os nossos objectivos e que seja de agradável leitura para com os possíveis leitores.

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A História do povo Cigano

Os Ciganos são denominados por "povos das estrelas" e a maioria dos autores registam o
seu aparecimento há mais de 3.000 anos, no Norte da Índia, na região de Gujaratna, situada
na margem direita do Rio Send. No primeiro milénio d.C., deixaram o país e dividiram-se
em dois grupos, o Pechen, que atingiu a Europa através da Grécia; e o Beni que chegou até
à Síria, ao Egipto e à Palestina. Existem vários clãs ciganos: o Kalê (da Península Ibérica);
o Hoharano (da Turquia); o Matchuaiya (da Jugoslávia); o Moldovan (da Rússia) e o
Kalderash (da Roménia). Todavia, de acordo com a tradição cigana, a teoria sobre a
origem do seu povo, é que “após um período de adaptação neste planeta, os ciganos teriam
surgido do interior da Terra e esperam que um dia possam regressar ao seu lar.”. O povo
cigano não revela mais nada sobre esta teoria visto que se trata de um dos seus segredos
sagrados.

O grande lema do Povo Cigano é: "O Céu é meu teto; a Terra é minha pátria e a
Liberdade é minha religião". Este lema traduz um espírito particularmente nómada e
livre dos condicionamentos das pessoas normais, normalmente cerceadas pelos sistemas
aos quais estão subjugadas.

Ciganos, um Povo que lida com as artes!

Grande parte dos ciganos são artistas de muitas artes, incluindo a circense, ferreiros,
fabricando os seus próprios utensílios domésticos, as suas jóias e as suas selas. Os ciganos
sempre levaram uma vida muito simples, fabricando tachos, consertando panelas,
vendendo cavalos, fazendo artesanato, principalmente em cobre - o metal nobre desse
povo, e lendo as cartas ciganas para ver a "buena dicha" (boa sorte). “Na verdade cigano
que se preza, antes de ler a mão, lê os olhos das pessoas (os espelhos da alma) e toca seus
pulsos (para sentir o nível de vibração energética), e só então é que interpreta as linhas
das mãos.”. A prática da Quiromancia para o Povo Cigano não é um simples sistema de
adivinhação, mas, acima de tudo um inteligente esquema de orientação sobre o corpo, a
mente e o espírito, sobre a saúde e o destino.

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O Povo Cigano e a sua Mitologia

Mitologicamente o Povo Cigano está ligado a Kalí - a deusa negra da mitologia hindu,
associada à figura de Santa Sara, cujo mistério envolve o das "virgens negras", que na
iconografia cristã representa a figura de Sara, a serva de origem núbia que teria
acompanhado as três Marias: Jacobina, Salomé e Madalena, juntamente com José, de
Arimatéia, fugido da Palestina numa pequena barca transportando o Santo Graal (o cálice
sagrado), que seria levado por elas para um mosteiro da antiga Bretanha. Diz o mito que a
barca teria perdido o rumo durante o trajecto e atracado no porto de Camargue, às margens
do Mediterrâneo, que por sua vez, ficou conhecido como "Saintes Maries de La Mer",
transformando-se desde então num local de grande concentração do Povo Cigano. Santa
Sara é comemorada e honrada todos os anos, nos dias 24 e 25 de Maio, através de uma
longa noite de vigília e oração, com candeias de velas azuis, flores e vestes coloridas,
muita música e muita dança, cujo simbolismo religioso representa o processo de
purificação e renovação da natureza e o eterno "retorno dos tempos".

A hierarquia dentro de um grupo cigano e a importância


da Natureza

Barô/Gagú é o nome que os ciganos dão ao líder de cada grupo, e é quem preside a Kris
Romanis (Conselho de Sentença ou grande tribunal do povo cigano) com suas próprias leis
e códigos de ética e justiça, onde são resolvidos todos os conflitos e esclarecidas todas as
dúvidas entre os ciganos liderados pelos mais velhos. O mestre de cura, ou xamã cigano, é
um Kakú (homem ou mulher) que possui dons de grande para-normalidade, eles usam
chás, ervas e toques curativos. Os ciganos geralmente reúnem-se em tribos para festejar os
ritos de passagem: o Nascimento, a Morte, o Casamento e os Aniversários; e acreditam na
Reencarnação (mas não incorporam nenhum espírito ou entidade). Estão sempre reunidos
nos campos, nas praias, nas feiras e nas praças. O mais importante para o Povo Cigano é
interagir com mãe Natureza respeitando seus ciclos naturais e a sua força geradora e
provedora. Este povo canta e dança tanto na alegria como na tristeza, pois para o cigano a
vida é uma festa e a natureza que o rodeia é a mais bela e generosa anfitriã. Onde quer que
estejam, os ciganos são logo reconhecidos pelas suas roupas e embelezamentos, e
fundamentalmente pelos seus hábitos ruidosos. É um povo passivo e cheio de energia. São

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tão peculiares dentro do seu próprio código de ética, honra e justiça, senso, sentido e
sentimento de liberdade, que contagiam e incomodam qualquer sistema.

As crianças ciganas e a sua formação

Todos os membros do grupo, incluindo os idosos, participam na educação de todas as


crianças do grupo, dentro dos princípios e normas próprios de uma tradição puramente
oral, cujos ensinamentos são passados de pai para filho ou de mestre para discípulo, através
das histórias contadas e das músicas tocadas em redor das fogueiras acesas e das barracas
coloridas sempre montadas ao ar livre. As crianças ciganas normalmente só frequentam até
ao 1º. Ciclo nas escolas dos gadjés (pessoas não-ciganas), para aprenderem apenas a
escrever o próprio nome e a fazer as quatro operações aritméticas. Grande parte das
crianças não vai à escola com medo do preconceito que há em relação a elas. Todavia, com
o acelerado processo de aculturação, já há um razoável número de ciganos a frequentar
Universidades, e alguns conseguem alcançar cargos de alguma importância na vida pública
dos seus países. Uns são médicos, dentistas, engenheiros, advogados; outros conseguem
ser ministros; há até aqueles que chegam a ser presidentes (Washington Luiz e Juscelino
Kubitshek). Contudo, os de maior relevo na sociedade são artistas plásticos, comerciantes,
joalheiros e músicos famosos.

Culinária Cigana

Na culinária cigana são indispensáveis o cravo, a canela, o louro, o manjericão, o gengibre,


os frutos do mar, as frutas cítricas e as frutas secas, o vinho, o mel, as maçãs, as peras, os
damascos, as ameixas e as uvas que fazem parte inclusivé dos segredos de uma cozinha
afrodisíaca. O punhal, o violino, o pandeiro, o leque, o xaile, as medalhas, as fitas
coloridas, o coral, o âmbar, o ônix, o abalone, a concha marinha (vieira), o hipocampo
(cavalo-marinho), a coruja (mocho), o cavalo, o cachorro, o galo e o lobo são símbolos
sagrados para o Povo Cigano. A verbena, a salvia, o ópio, o sândalo e algumas resinas
extraídas das cascas das árvores sagradas, são ingredientes indispensáveis na manufactura
caseira de incensos, velas e sais de banho, mesclados com essências de aromas inebriantes
e simplesmente usados no dia-a-dia, nos contactos sociais e comerciais, nos encontros
amorosos e principalmente nos ritos, de uma forma sensível e absolutamente mágica,
conferindo grandes poderes.

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“Alguns pratos de cozinha cigana”

“Armianca: Salada de alface e tomate (em rodelas) com champignon; queijo de cabra,
cenoura, beterraba (em pedaços) e berinjela frita (em tiras). Enfeitar com passas de uva,
raminhos de hortelã e pétalas de flores.
Assados: Pernil de carneiro (Bakró); Pernil de leitão (Baló); Cabrito Frito com arroz e
brócolos (ou lentilha ou nozes); e/ou roletas de carne bovina ou frango com pedaços de
cebola, pimentão (verde e amarelo) e tomate.
Brynza: Queijo de Cabra (cru ou frito).
Chivuisa: Destilado à base de trigo (espécie de Aguardente).
Civiaco: Torta salgada ou doce.
Cozido Manouche: feijões vermelhos grandes, pedaços de carne e de ossos de pernil de
porco, alhos-porós em pedaços, salsa com as folhas em pedaços, alhos comuns inteiros
com casca, cenouras e batatas cortadas em pedaços grandes, sal e pimenta-do-reino (moída
na hora) a gosto; arroz branco que deve ser incorporado na última etapa do cozimento.
Goulash: Cozido de arroz, batata, pedaços de carne bovina e páprica ardida.
Malay: Pão de Milho.
Manrô/Kolako: Pão redondo de Farinha de Trigo.
Mamalyga: Polenta.
Naut: Grão de Bico com linguiça.
Paprikach: costela defumada (bovina ou suína) e bacon ao molho vermelho de tomate e
pimentão com batatas pequenas, cozidas (na casca) e páprica doce.
Papuchá: Pirão de Milho.
Sifrite: Ponche de Frutas com Champanhe, Vinho e/ou refrigerante. Enfeitar com pétalas
de rosa.
Sarmá: Arroz com lentilha, carne seca desfiada e nozes.
Sarmy/Salmava: Charutos ou Rolinhos feitos em folha de repolho recheados com lombo
ou carne bovina moída, azeitonas, bacon e molho dourado; e/ou em folha de uva com
recheio de bacalhau.
Tchaio/Kavi: Chá Cigano feito com Chá Preto ou Mate com pedaços de frutas (maçã:
felicidade; uva fresca: prosperidade; passa de uva ou ameixa: progresso; morango: amor;
damasco: sensualidade; pêssego: equilíbrio pessoal; limão: energia positiva e purificação

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da alma). Fazer o chá em água fervente e deixar amornar. Colocar as frutas maceradas,
misturar bem, coar e beber.
Varenyky: Pastel cozido podendo ser doce (recheado com uva) ou salgado (recheado com
batata ou queijo de cabra).
Vinho: Vinho tinto.”

Os símbolos do Povo Cigano

Para o Povo Cigano, a Lua Cheia é o maior elo de ligação com o "sagrado", quando são
realizados mensalmente os grandes festivais de consagração à grande "madrinha". As
celebrações da Lua Cheia, efectuam-se todos os meses em torno das fogueiras acesas, das
comidas e do vinho, com danças e orações. Também para os ciganos tudo na vida é
"maktub" (está escrito nas estrelas), por isso são atenciosos observadores do céu e
verdadeiros adoradores dos sidéreos e dos astros. Os ciganos praticam a Astrologia da Mãe
Terra respeitando e festejando os seus ciclos naturais, sobre os quais desenvolvem poderes
verdadeiramente mágicos. O grande símbolo geométrico do Povo Cigano é o Círculo
Raiado (representa a roda da carroça que gira pelas estradas da vida) provando a não
linearidade do tempo e do espaço. O Pentagrama (estrela de 5 pontas) simboliza o Homem
Integral (de braços e pernas afastadas) interagindo em perfeita harmonia com a plenitude
da existência. O maior axioma do Povo Cigano diz simplesmente: "A sabedoria é como
uma flor, de onde a abelha faz o mel e a aranha faz o veneno, cada uma de acordo com a
sua própria natureza".

A discriminação no Povo Cigano

O Povo Cigano é também uma raça sofrida, discriminada, excluída do contexto sócio-
político-económico, mas nem por isso alienada. Essa raça perseguida por muitas
"inquisições", foi levada aos campos de concentração e aos fornos crematórios da
Alemanha Nazista (tanto quanto o povo judeu). Todavia, ainda continua a existir, apesar de

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todas as espoliações e distorções uma “perseguição” a esta raça. Desprovida de meios


adequados de sobrevivência, descaracterizada pela modernidade de um falso
intelectualismo proletário/urbano essa raça também está a caminho da própria extinção,
mas há quem ainda lute para resgatar o que resta da sua memória ancestral, cultural e
artística, usos e costumes, simbolismo e tradição. Tudo o que acontece no Planeta, em
termos de crise e transformação, afecta de perto o Povo Cigano, e faz parte do quotidiano
dessa minoria social, que apesar do seu pouco grau de autonomia, tenta a tudo o custo,
preservar a sua valiosa identidade e salvaguardar as peculiaridades dos seus próprios
conceitos de cidadania, em que pese os avanços tecnológicos, científicos e culturais, as
mudanças de paradigmas e o processo de globalização.

Costumes

Nascimento
Uma criança é sempre bem vinda entre os ciganos. O favoritismo é para os filhos homens,
para dar continuidade ao nome da família. A mulher cigana é considerada impura durante
os quarenta dias de resguardo após o parto. Logo que uma criança nasce, uma pessoa mais
velha, ou da família, prepara um pão feito em casa, semelhante a uma hóstia e um vinho
para oferecer ás três fadas do destino, que visitarão a criança no terceiro dia para designar a
sua sorte. Esse pão e vinho serão repartidos no dia seguinte com todas as pessoas
presentes, principalmente com as crianças. Da mesma forma e com a finalidade de espantar
os maus espíritos, a criança recebe um patuá assinalado com uma cruz bordada ou
desenhada contendo incenso. O baptismo pode ser feito por qualquer pessoa do grupo e
consiste em dar o nome e benzer a criança com água, sal e um galho verde. O baptismo na
igreja não é obrigatório, embora a maioria opte pelo baptismo católico.

Casamento
Desde pequenas, as meninas ciganas costumam ser prometidas em casamento. Os acertos
normalmente são feitos pelos pais dos noivos, que decidem unir suas famílias. O
casamento é uma das tradições mais preservadas entre os ciganos, representa a
continuidade da raça, por isso o casamento com os não ciganos, “gadjés”, não são

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permitidos em hipótese alguma. Quando isso ocorre a pessoa é excluída do grupo. É


através do casamento que os ciganos entram no mundo dos adultos. Os noivos não podem
ter nenhum tipo de intimidade antes do casamento. Quando o casamento ocorre, durante
três dias e três noites, os noivos ficam separados dando atenção aos convidados,
exclusivamente na terceira noite é que podem ficar pela primeira vez a sós. Mesmo assim,
a grande maioria dos ciganos, ainda exigem a virgindade da noiva. A noiva deve
comprovar a virgindade através da mancha de sangue do lençol que é mostrada a todos no
dia seguinte. Caso a noiva não seja virgem, ela pode ser devolvida para os pais e esses
terão de pagar uma indemnização aos pais do noivo. No caso da noiva ser virgem, na
manhã seguinte ao casamento, ela veste-se com uma roupa tradicional, colorida e um lenço
na cabeça, simbolizando que é uma mulher casada. Durante a festa de casamento, os
convidados homens, sentam-se ao redor de uma mesa no chão com um grande pão sem
miolo. Os presentes dos noivos em dinheiro ou em ouro, são colocados dentro do pão ao
mesmo tempo que os noivos são abençoados. Em troca recebem lenços e flores artificiais
para as mulheres. Geralmente a noiva é paga aos pais em moedas de ouro. A quantia é
definida pelo pai da noiva.

Morte

Os ciganos acreditam na vida após a morte e seguem todos os rituais para aliviar a dor de
seus antepassados que partiram. Costumam colocar no caixão da pessoa morta uma moeda
para que ela possa pagar o transporte na travessia do grande rio que separa a vida da morte.
Antigamente os ciganos enterravam as pessoas com bens de grande valor, mas devido ao
grande número de violação de túmulos, esta tradição foi quebrada. Os ciganos não
encomendam missa para os seus entes queridos, mas oferecem uma cerimónia com água,
flores, frutas e suas comidas predilectas, onde esperam que a alma da pessoa falecida
compartilhe a cerimónia e se liberte gradualmente das coisas da Terra. As cerimónias
fúnebres são chamadas "Pomana" e são feitas periodicamente até completar um ano de
morte. Os ciganos também costumam fazer ofertas aos seus antepassados nos túmulos.

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Dança Cigana

Os ciganos amam a dança. Esta arte está com eles no momento em que abrem os olhos
para enfrentar a dura vida de cigano. Desde criança os ciganos ouvem e dançam as
seguidillas, a rumba, as alegrias e o flamengo - ritmos e sons tradicionais - produzidos
pelas guitarras, violinos, acordeões, violões, castanholas, címbalos, pandeiros, palmas das
mãos e batidas dos pés, que aprendem desde cedo com parentes e amigos nas festas da
kumpania (acampamento). Não existem ciganos profissionalizados através da dança
cigana, mas sim aqueles que fazem apresentações apenas para divulgar esse lado tão belo e
cheio de magia dessa tradição que a todos fascina. A dança cigana não é encarada como
um ofício pelos ciganos. Montagens de ballet e de óperas (como Carmem, de Bizet) são
representadas por profissionais de ballet não-ciganos (gadjés). Ciganos não frequentam
academias nem aulas de dança, pois quando dançam, fazem-no com a alma, com o
coração e com movimentos naturais do corpo, sem nenhuma coreografia predefinida.
Como diz Niffer Cortez (uma das poucas dançarinas ciganas) – “Marcar coreografia para
um cigano, é prendê-lo, é não dar liberdade para os seus movimentos”. Por outro lado, a
Bibi Júlia (Esmeralda Kiviek - chefe do Grupo Kalemaskê Romae), é uma avó (Purí) de
65 anos que dança como uma jovem de vinte. Se a colocassem dentro de uma coreografia,
com certeza, cortariam grande parte da emoção espontânea e do inestimável encanto que
ela nos transmite quando dança com toda a sua desenvoltura, arte e beleza.

Os Ciganos e a Dança Espanhola

Tanto o povo cigano, como o povo da região Andaluzia (região espanhola para onde os
ciganos emigraram), eram muito orgulhosos por manter as suas tradições. Eram muito
individualistas e leais à instituição familiar. Assim nasceu a sociedade do flamengo. Esta
palavra "flamenco" designava ciganos, pessoas sem posses de terra, derivadas do árabe das
palavras "fellahu" e "mengu", que significava "o camponês errante". A sociedade
espanhola associava esta palavra aos ciganos, ou ao estilo de vida cigana. Tal estilo incluía
a arte da música flamenga, a dança e a tourada. Como os ciganos eram intrusos no país,

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muitas leis foram criadas contra eles. Ao longo dos tempos, a inquisição espanhola nunca
conseguiu provar nada contra os ciganos, se tinham uma religião ou não, pois eles eram
inteligentes.

A cultura dos ciganos é tida como uma cultura de estranhos e geralmente imagina-se um
povo alegre e feliz, mas a música que tocavam entre si era muito trágica, triste e vingativa.,
pois sua vida real só era manifestada entre eles. Para o mundo de fora, só cantavam
músicas alegres, que é o que se esperava realmente. Tinham uma vida difícil e tentavam
ganhar dinheiro de todos os modos. Assim, aproveitavam as apresentações de música e de
dança por todos os lugares que passavam, levando seus ritmos e músicas que se
confundiam com os da cultura local. Desta forma, foram trazidos ritmos indianos
mesclados com melodias islâmicas para a Andaluzia. Pode-se ouvir e verificar a nítida
influência árabe na música flamenga e na dança através dos movimentos de quadril e
expressão de fortes sentimentos e emoções, que são de natureza árabe. Os ciganos
acreditam que espíritos e entidades que os acompanham no dia a dia. Um artista tem que
esperar que um ente transcendente se aposse dele e inspire-o, para que seja capaz de fazer a
verdadeira arte. Este sentimento profundo criou o "canto jondo" na Andaluzia, um canto de
tristeza profunda, que se contrasta com o "canto flamengo". O estilo de dança flamenga,
com os seus movimentos característicos de braços e de tronco, tem uma certa semelhança
com a dança clássica persa, com a dança moderna da Ásia Central. Enquanto que na dança
moderna árabe, os movimentos são centrados na região do ventre e os braços se mantém à
altura dos ombros, na dança flamenga e persa, os movimentos são centrados na região do
tórax e é usado o máximo de espaço acima da cabeça para realizar os graciosos
movimentos de braços e mão.

“Deixaremos à critério de qualquer "gadjé" que se preze, o "complexo de culpa ancestral"


pela destruição do solo, do ar, da água e das florestas, pois em vez de "progredir com a
plena cooperação científica e tecnológica" (como diria o biólogo americano Tomas
Lovejoy - especialista em florestas tropicais) o homem moderno destrói o seu próprio
habitat, não procurando seguir a coerência do argumento socio-antropológico que diz que
"na sociedade de massas, o raciocínio individual precisa de ganhar tons mais colectivos
para exercer seu poder e provar a sua competência, pressupondo uma melhor qualidade de
vida e uma maior tranquilidade planetária".”

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A realização deste trabalho foi importante para nós, uma vez que tivemos um
conhecimento aprofundado da cultura cigana, assim como, a descriminação que é imposta
pela sociedade em geral.
É uma cultura com bastantes costumes. Mitos e crenças, defendendo-os em valores
irreversíveis, porque para eles o juramento é um conceito que pode ser levado até à morte
em determinadas situações.
O conhecimento da cultura é importante para nós numa perspectiva futura como gestores
desportivos, pois é necessário conhecer as diferentes culturas existentes na sociedade, para
sabermos como lidar com os diferentes indivíduos pertencente a esta etnia, aplicando
estratégias bastantes motivadoras em virtude do seu contexto cultural.

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ADOLFO; PAULO Sérgio. Rom: uma odisseia cigana, Londrina: Editora


UEL; 1999.

PAVÃO; SERRA João. Filhos da Estrada e do Vento- Contos e fotografias


de ciganos portugueses, Edit. Assirio e Alvim; 1986.

ANGUS Fraser. História do Povo Cigano, Edit. Teorema; 1995.

TONG Diane. Contos Populares Ciganos, Edit. Teorema1989.

http://puccamp.aleph.com.br/cigano/index.htm

http://planeta.clix.pt/faty/ciganosAC.htm

http://planeta.clix.pt/faty/ciganos1.htm

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