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MOTIVAGAO PARA ENSINAR EM ESCOLA PUBLICA Pergunta: Adelaide Oliveira Responde: Marco André Franco de Aratijo ADELAIDE OLIVEIRA Motivacao é um conceito complexo e de dificil definicao. As teorias de motivacéo tentam sempre explicar pelo menos trés as- pectos do comportamento humano: “a escolha de uma determinada agio, a persisténcia no desempenho desta acao e o esforco nela despendido” (DORNYEI, 2011, p. 199). A pesquisa sobre motivagao em segunda lingua existe desde 1959 quando os psicdlogos sociais Robert Gardner e Wallace Lambert (GARDNER; LAMBERT, 1959) pu- blicaram um trabalho sobre a motivacao integrativa e instrumental Para aprender uma segunda lingua. Apesar de todos reconhecerem trabalho de Gardner e Lambert como essencial para 0 avanco das Pesquisas em motivacao, no século 21, a direcao dessas pesquisas tomou novos rumos até chegar a teoria de motivacéo do sistema do selfem 12 (DORNYEI, 2005). De acordo com esta teoria, existem "8s componentes que compéem o sistema: le L1 do ‘self ideal’ um falante de L1, ara aprender a L2 Ives 1. Oselfideal de 12, que é a faceta especifica d “ @lguém, Se a pessoa gostaria de se tornar ° ‘self ideal da L2' é um motivador poderoso Pi os sel Pot causa do desejo e reduzir a discrepancia em noss Vetdadeiro e ideal, 155 viyitalZauy coil Valocanner ENSINO DE LINGUA INctesa: | CONVERSAS COM PROFESSORES DA ESCOLA pUntic, 2, 0 Deveria-ser self de L2, que tem a ver com os alguém acredita possuir para preencher as expecta atributos le possiveis resultados negativos, ita ativas AS © ey far 3. A experiéncia de aprendizagem de L2, que se refere ‘executivos’ relacionados ao ambiente de aprendiz. exemplo, 0 impacto do professor, 0 curriculo etc) 2009, p. 29). 8 Motives eM, po, (DORNyg; As pesquisas em motivacao na area de ensino e aprendizagen de lingua inglesa, no entanto, tém se concentrado Principalmente na aprendizagem e nao no ensino (DORNYEI, 2001, 2005, 2009 Ha um foco no aluno e em como motivar este aluno, e Manté|g motivado, mas nao no professor, e em como manter este profis. sional motivado (HASTINGS, 2012). Por experiéncia, sabemos que existe uma correlacao entre a motivacao do professor e o interesse do aluno, e, segundo Dérnyei € Ushioda (2010), o entusiasmo do professor e o seu comprome- timento séo um dos principais fatores que afetam a motivacao do aluno em aprender. Se o professor esté motivado a ensinar, 0 aluno Procura fazer um maior esforco para aprender. Entretanto, para 0 professor de inglés de escola publica, manter-se motivado é sempre mais dificil. De acordo com Venancio (2010), varios sio os aspectos que desmotivam o professor: a falta de crenga do aluno na discipline lingua inglesa; a desvalorizacao da disciplina pelos colegas de out" disciplinas; a crenga de que a disciplina nao reprova; além dos out"os Problemas jd discutidos como o niimero excessivo de alunos, aa de material didatico', e a falta de apoio da coordenacao. Nunca ensinei inglés em uma escola ptiblica e 0 mais Pe que estive desse contexto foi o Perfodo em que observel as a faa duas rofessoras que participavam de um curso de certificasé? da Universidade de Cambridge’, onde eu eraa principal pea com © PNLD, os livros di ifleate for Over in serv Hema Teachers of English), Hoje esse certificado f0 ice Certificate for English Laer a 1 Mesmo 2 cor ida ate os lng inglesa nem sempre chee vigitallZauo com Valnocanner ENSINO DE LINGUA INGLESA: CONVERSAS COM PROFESSORES DA ESCOLA PUBLICA Assim sendo, as vezes me sinto pouco a vontade para me dirigir a este ptiblico. Sei das dificuldades e das frustragées por ter tido a oportunidade de dar workshops e aulas de lingua inglesa para grupos de professores de escolas ptiblicas, e atualmente, por participar de um grupo de WhatsApp de professores de inglés do ensino fundamental I do municipio de Salvador, Bahia. Entretanto, me sinto, na maioria das vezes, uma intrusa. E impressionante como esses professores sio dedicados, e como discutem as suas aulas, e socializam através de fotos e videos as atividades que fazem em sala de aula. O que pergunto entao é: O que motiva o professor de escola ptiblica a continuar o seu trabalho? Como ele consegue superar todas as dificuldades e manter-se animado para continuar o seu trabalho? MARCO ANDRE FRANCO DE ARAUJO? Inicio os meus apontamentos acerca do que me motiva, como professor de escola publica, a continuar o meu trabalho, falando sobre o contexto da escola publica e lugar que 0 ensino de inglés ocupa. Leciono em escola ptiblica desde 2004. No inicio de minha car- reira, percebi a falta de compromisso de autoridades que permitem que professores atuem fora das suas Areas de conhecimento. Sao professores formados em Letras lecionando Ciéncias, Educagao Fisica etc., como foi 0 meu caso. A escola ptiblica é um lugar que, por lei, deve proporcionar ao cidadao educaciio de qualidade e seu pleno desenvolvimento enquanto individuo critico dentro da sua comunidade. Nessa vertente, as areas de conhecimento dao suporte a isso e a lingua estrangeira também esta incluida no curriculo escolar. No entanto, a visdo que muitos professores e a grande maioria dos alunos tem do ensino de Iinguas estrangeiras na escola é a de que a matéria 3 Mestre em Letras ¢ Linguistica pela Universidade Federal de Goi ¢ professor de Inglés na Rede Municipal de Educagao de Goidinia-Goits. 157 VIYIlalZaUy CUITI Udi lovadl iner ‘convensas COM leita dle-se reduzir sua carga horéria, sem fe are ar ¢ po ne do aluno. i. piante disso os professore hs esvalorizando 0 pro st iat aspirantes a professores desigs a fazendo C0 ira, por terem acesso a essa Vis que ie a Sen e deixam transparecel. : po seia nas necessidades dle ones ino de ingles se ba ou a, 0 aluno tera motivacao para estud Essas necessidades, por sua vez, se qs o turismo, dos intercambios estudants s fato de uma pessoa querer aprender tumes diferentes dos seus 5 tem um contexto de engin, fissional da drea e 9 es ue 10) objetivos. obalizagao, de Jo simples outra cultura e cos mediante seus conta da gl ecomerciais, OU pel ‘uma lingua, conhecel (MARTINEZ, 2012). 1a, acredito que 0 professor de escola ptiblica, assim Dessa form: f 0 ado a continuar a acreditar na educacao como eu, sente-se motiv publica de qualidade, a partir do momento em que ele vé nos seus alunos as necessidades que possuem para aprender a lingua estrangeira. Assim, a vontade de aprender da maioria dos alunos inunda o professor de expectativas € de motivacao para oferecer para os seus alunos um ensino eficaz e de resultados. A partir disso concordo, entéo, que |..] 0s professores, a medida que se tornam mais ex perientes, podem refletir criticamente sobre 0 faze? pedagégico e desenvolver métodos de ensino, o™ base em suas crengas e experiéncias, bem como "™° contexto em que atuam, de modo a tornar a apie eae ine significativa para o aluno. (FIGUE i 2012, p. 37) Como profes i S| “| zer paras alas al ee inglés, sempre senti a necessidade de" 80 que fosse significativo para os meus alunos 158 vigitalZauo Com Valocanner | << ENsINO DE LINGUA INGLESA: CCONVERSAS COM PROFESSORES DA ESCOLA PUBLICA ie os fizesse aprender de forma eficaz a lingua inglesa. Assim emminhas aulas, sempre notei que a utilizacdo de materiais dice como a miisica, 0s filmes e os jogos sempre eram instrumentos que motivavam os alunos para participarem mais das aulas e, assim, os guxiliavam na aprendizagem do idioma, ‘Ao sentir a necessidade de motivar os meus alunos, surge também @ minha motivacao para ensinar. Sobre isso, Figueiredo (2005, p. 38) esclarece que “a motivacao refere-se a impulsos in- ternos ou a desejos em relacao a um objetivo”. Ha também que se considerar que a motivacao é ocasionada por fatores internos e externos. Conforme nos esclarece Dalacorte (2005, p. 44), fato- res internos podem ser, por exemplo, o interesse intrinseco pelas tarefas realizadas pelo aprendiz, “o valor atribufdo pelo aprendiz 4 atividade, as suas crengas sobre si mesmo”. Por outro lado, a autora afirma que “pode-se verificar o papel da interacéo com os outros e as suas experiéncias mediadas” como um fator externo da motivacao. Sendo assim, 0 professor tem um papel importante na motivacao do aluno, devendo proporcionar-lhe atividades que despertem o interesse ea participacao em sala de aula. Nesse sentido, utilizar atividades que desenvolvam a ludici- dade do aluno é importante, e um exemplo de atividades ltidicas sao os jogos. Utilizar jogos em sala de aula é um recurso peda- gdgico que serve como elemento de incentivo, de interagao e de utilizagao da lingua de maneira efetiva, e torna-se um instrumento relevante para atingir objetivos comunicativos em sala de aula (FERNANDEZ; CALLEGARI; RINALDI, 2012; RICHARD-AMATO, 1998; SANTOS, 2009). Quando o professor utiliza os jogos de maneira colaborativa’, ele motiva os alunos a aprenderem através da interagdo com os seus colegas, Isso é uma das coisas que mais me motiva a continu- ara seguir com minha profissdo € principalmente lecionando em 4 Segundo Figueiredo (2006), a aprendizagem colaborativa é vm abordagem construtivista, {que se refere a situagOes de aprendizagem em que duas ou mals pessoas ‘aprendem ou tentam aprender algo juntas. 159 DIYIlalZaUy CUITI Udi lovadl iner (poy! (- oe pe SORES DA ESCOLA PUBLICA COM PROFES: CONVERSAS. aos meus alunos Portunidades de m colegas), desvelando Momenty ®t S. de * . ver escolas Ba ca seus pares ( interagao wn significativa, aprendizage ala de aula, a interagao sempre Scupoy No contexto a rendizagem de linguas (HALL, 295! vt papel Serateracko, podem-se criar oportunidades de ae Se arate envolvimento dos alunos, liz Brown (1994) afirma que a interagao, naerado ensino Comun, linguas, € 0 coragao da Peamemcacao. Assim, “Nés envig, Ser ns, nés recebemos mensagens, nés ag nterpretamo. mos Se nds negociamos significados, e ns Colaboramoe ee certos propésitos” (BROWN, 1994, P. 159), Para 0 autor, a interacao, é, entdo, a “troca col; J pensamentos, sentimentos ou ideias entre duas Ou mais Pessoas, resultando em um efeito reciproco” (BROWN, 1994, P. 159). Des. sa forma, em um contexto de sala de aula de LE, a Interacao darg “spago para a troca de informacées, de conhecimento entre os alunos, 0 que ocasionara na aprendizagem do idioma de forma ‘Com que os alunos aprendam Uns Com os outros, aboratiya de Conforme esclarecido a nteriormente, uma das me Motiva a ensinar & dire ‘cionar as minhas aulas Para a ne. Cessidade dos meus alunos, Oportunizando a eles momentos de interacag ¢ colaboracaio que visem & aprendizagem. Dessa forma, guando Utilizo jogos em sala de aula isso acontece de Maneira Significativa, Coisas que 5, € também 1 0Ca de ideias, informacées e con- 0 que peulos de Prendizagem, levando em con- 65 da inte 8G%0, o¢ eae seu Proprio Jeito de aprender, §$ Aquilo que jg va Podem, ainda, compartilhar com MENto que eles ta “ também, Obter dos seus colegas ° engajados em 5 Srecer, Consequente a isso, os A ™ interagir Com os seus colegas, tém vigitalZauo Coil Valnocanner ENsINO DE LINGUA INGLESA: CONVERSAS COM PROFESSORES DA ESCOLA PUBLICA ivagao para participar de forma autonoma e significativa aior mot! y cesso de aprendizagem. go sel pro por meio do ensino de inglés através dos jogos, a motivagao gos meus alunos aumentou. E impressionante 0 poder motivador gos jo80S sobre oS alunos ea consequéncia disso recai na aprendi- zage™ dos mesmos. Além de esse recurso didatico Itidico favorecer ; aprendizagem de vocabulario e estruturas da lingua, pude sempre notar ques quando os alunos esto trabalhando juntos e com os jogos eles a0 beneficiados nos seguintes aspectos: etir palavras de novo vocabulirio ou de vocabulirio fe modo que as aprendam de maneira descontraida, ha como nos drills, por exemplo; + podem rep’ jaadquirido e nao enfadon « podem repetir estruturas linguisticas da lingua-alvo e internalizar, assim, regras gramaticais também de forma descontraida; * podem coconstruir 0 conhecimento por meio das interagdes ocorridas através dos jogos, ajudando os seus colegas e, também, tirar duividas com eles; ¢ fazerem entendidos como, por + podem criar estratégias para s jue nao existem na LE; exemplo, a criagao de palavras 4 + podem ter consciéncia, como também conscientizar o colega para que use a LE nas aulas; * podem se autocorrigir, como também podem corrigir os outros colegas quando cometem erro: + podem utilizar como apoio para solucao de diividas a ajuda mbém, utilizar recursos do professor, dos seus colegas, como, tal externos como 05 livros didaticos, os cadernos, os dicionarios; * podem utilizar informacdes ja adquiridas em aulas anteriores, ou aquelas que ja sabem no momento da realizagao dos jogos. 161 viyitalZauy coll Valnocanner ENSINO DE LINGUA INGLEsa: CONVERSAS COM PROFESSORES DA ESCOLA puis, Dessa forma, acredito que a minha Maior Motivags continuar meu trabalho nas escolas Ptiblicas, Nsinandg ) inglesa, é ver meus alunos motivados para aprender. ange acontece, 0 professor, preocupado com ° desempenho e 'S89 necessidades dos seus alunos, buscara incluir em Suas que ele acredita que faré com que os aprendizes t, na aprendizagem do idioma. aulas cae ‘enham sucess Aescola publica oferece contextos importantes Pi dizagem do inglés, mas também nos limita Por diver: como, por exemplo, a falta de recursos didaticos, sala: das, indisciplina, falta de apoio de gestores, a visio de €tida como uma disciplina que nao reprova e que, p. pode ter tanta importancia quanto as outras. Mesmo a dos meus alunos veem o inglés como um componente importante para eles e buscam maneiras para aprender e melhorar tudo aquilo que ja sabem da lingua, e isso é 0 que me motiva a Ser professor, a ser professor de escolas ptiblicas e a continuar a minha jornada ensinando esses adolescentes e criangas, me aprimorando e bus- cando sempre trazer o melhor Para os alunos, ara a apren, SOS fatores S Super lots. quea lingus Ortanto, nag SSIM, Muitos REFERENCIAS BROWN, D. H. Principles of language learning and teaching. 3rd ed. New _Jersey: Prentice Hall Regents, 1994, PORNYEI, Zoltén. Motivacaio em acao: Buscando uma conceituacéo Paocessual da motivagaio de alunos. In: BARCELOS, Ana Maria Ferreira (Org.) Linguistica Aplicada: Reflexes so bre ensino e aprendizagem de Hingua materna e lingua estrangeira, Campinas, SP: Pontes, 2011. p 199 ~ 274, DORNYEI, Z.; USHIODA, E, (Eds.) Teaching and researching motivation. New York: NY, Pearson Education, 2010, DORNYEI, Z.; USHIODA, E. (Eds.). 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