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BANHEIRO SECO: tecnologia limpa de interesse social

Wilson Jesuz da Cunha Silveira1; Bárbara Samartini Queiroz Alves2; Lucas Sabino Dias3; Philipy
Alexandre Pereira Weber4

RESUMO – A poluição das águas intersticiais do solo tem sido um grave problema da poluição
ambiental em toda a área litorânea do Sul do Brasil. As areias quartzozas das formações
sedimentares dessas regiões têm comportamento especial, por se tratar de material altamente
capilar, o que contraria as suposições de lençol freático com níveis constantes de águas. Nas
formações de dunas, nota-se que, nas elevações, faz-se uma cavidade manual e logo ela se enche de
água, mesmo acima dos níveis das águas próximas (mar, rios, lagos), confirmando a ação capilar.
Nesses casos, a poluição pelos efluentes de tratamento de esgoto ocorre por percolação,
contaminando toda a água da bacia, como tem ocorrido, em Florianópolis, na Lagoa da Conceição e
em Balneário Camboriú, onde as lagoas de estabilização geraram poluição das bacias. Para
solucionar o grave problema da contaminação, as técnicas do banheiro seco, que podem ser
adaptadas para edifícios e para diversos banheiros, evitam o desperdício de água tratada e geram
adubo orgânico pelo processo de vermicompostagem, retirando o material residual do esgoto,
transferindo-o para o minhocário, que irá produzir húmus de minhoca.

ABSTRACT – Pollution of soil interstitial waters has been a serious environmental problem in all
the south coast of Brazil. The quartz sands of the sedimentary formations in these regions present a
particular behavior, due to the fact that it is a highly capillary material, what denies the hypothesis
of water table with constant levels of water. In the dunes formations, one can observe that, in the
elevations, it makes a manual cavity and it is soon full of water, even over the surroundings water
levels (sea, rivers, lakes), what confirms the capillary action. In such cases, pollution by sewage
treatment effluents takes place by percolation, infecting all the water of the basin, as it has happened
in Florianópolis, in the Conceição Lagoon, and in Balneário Camboriú, where stabilization lagoons
have polluted the basins. In order to solve this serious problem of infection, the techniques of
composting toilet, which can be adapted for buildings and many toilets, avoid the waste of treated
water and generates manure through the vermicomposting process, removing the waste material
from the sewage and transferring it to the worm box, which will produce worm humus.

Palavras-chave: Poluição das águas intersticiais; banheiro seco; saneamento ambiental

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1) Professor Associado I, Chefe do departamento de Arquitetura e Urbanismo, CTC, UFSC, Brasil. Email: wilson@arq.ufsc.br
2) Acadêmica do curso de Ciências Biológicas , CCB, UFSC, Brasil. Email: basamartini@yahoo.com.br
3) Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo, CTC, UFSC, Brasil. Email: lucassdias@yahoo.com.br
4) Acadêmico do curso de Ciências Biológicas , CCB, UFSC, Brasil. Email: ocotea_catharinensis@yahoo.com.br

Ecobuilding 2008 - Fórum Internacional de Arquitetura e Tecnologias para a Construção Sustentável.


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OBJETIVOS

Divulgar o modelo de banheiro seco que apresenta tecnologia limpa que visa eliminar a
poluição das águas intersticiais do solo.

METODOLOGIA

Por meio de estudos de caso, foram pesquisados sistemas de tratamento de efluentes que
evitam a poluição ambiental. Foram estudados diversos modelos de tratamento de esgoto seco, com
alternativas em residências unifamiliares, habitações coletivas e em hotéis. Os protótipos estudados
apresentam dificuldades de implantação em residências convencionais, pois demandam grande
espaço físico interno e alto custo. Sendo assim, foi feito um projeto de edificação de baixo custo,
utilizando solo do próprio local, estabilizado, como matéria prima principal da edificação Silveira,
(2000). Projetado para o para o tratamento in loco dos dejetos sólidos, e que atendesse à demanda
de mercado. O projeto pode ser visualizado pela maquete eletrônica feita no programa Sketch Up
(Figura 1).

Figura 1 - Maquete eletrônica. Autor: Lucas Sabino Dias

Para elaboração do projeto fez-se uma pesquisa básica em literatura especializada. A partir
dos estudos e em atividades de grupo com todos os participantes, ouvindo-se todas as opiniões e
somando-se os conhecimentos elaborou-se a versão que está sendo apresentada neste artigo. O
protótipo foi projetado para um terreno plano, o que exigiu a criação de dois pavimentos, para
possibilitar a rampa de compostagem com teto em ângulo de 37◦, orientado para o Norte, melhor
aproveitamento do calor solar que auxiliará no processo de decomposição termofílica e

sanitarização do composto, quando este atingir cerca de 70° C Jenkins (2005). Se tratando de uma

pesquisa, optou-se por conceber a rampa, com dois materiais tendo, em um lado com uma chapa
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metálica preta e de outro um vidro translúcido. A idéia é comparar a eficácia dos dois sistemas
durante o processo de compostagem. Na parte inferior da rampa está localizada um par de
portinholas de 1,00m de altura, por onde é retirado o composto.

O banheiro seco terá duas bacias sanitárias especialmente fabricadas com um mecanismo de
abertura e fechamento do compartimento que dá acesso à rampa de compostagem, para evitar o
fluxo de gases para o interior do banheiro e uma descarga automática de material orgânico seco em
quantidades fixas pré-estabelecidas. Quando um dos compartimentos de esgoto estiver cheio, será
trancada uma bacia sanitária de louça e aberta a outra. Propõe-se que o compartimento fique em
repouso por cinco meses em média, sendo monitorado periodicamente. Em seguida, quando a
matéria orgânica estiver compostada, esta será encaminhada ao minhocário onde se transformará
em húmus e posteriormente encaminhada para paisagismo do entorno.

No pavimento térreo fica uma sala educativa com pôsteres informativos e elucidativos de todo
o processo. Sob a rampa fica um pequeno depósito de ferramentas. O pavimento superior apresenta
o banheiro propriamente dito, com duas bacias sanitárias, estando, uma sempre interditada, para uso
alternado, em função do tempo de repouso necessário à compostagem Kiehl, (1998). Há também
um mictório e um lavatório, cujas descargas têm tratamentos diferenciados de efluente. Estes
efluentes são eliminados por evaporação devido ao calor solar. A água da evaporação é coletada
pelas tampas de vidro e de chapa, da rampa e distribuída no jardim. A cobertura é executada em
argamassa armada, em forma curva, com teto de grama como tratamento térmico superior.

Com o projeto finalizado foi possível partir para a captação de recursos para a edificação do
projeto piloto de banheiro seco e estabelecer parcerias com a Prefeitura Municipal de Florianópolis,
o Governo do Estado de Santa Catarina e a iniciativa privada. Foi fundamental o estabelecimento
destas parcerias, pois a construção do banheiro foi planejada em forma de cursos de qualificação de
mão-de-obra para as comunidades do entorno e demais interessados. O intuito destes cursos é tornar
as técnicas do banheiro seco mais acessíveis à sociedade e transformar o trabalho em renda, a partir
da formação de cooperativas de trabalho e incubadoras, no caso dos estudantes, gerando trabalho
autônomo Martinetti et. al., (2007).

Em seguida elaborou-se materiais de divulgação para atrair estudantes para os cursos. Estes
serão os monitores dos cursos de qualificação de mão-de-obra ministrados pelo coordenador do
projeto. Estes materiais foram encaminhados à imprensa universitária e mais tarde serão enviados
para jornais e rádios da cidade de Florianópolis. Após o final dos cursos de qualificação, dar-se-á
início ao monitoramento do processo e do funcionamento do protótipo. Para o monitoramento do
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processo foi feita pesquisa sobre o processo de compostagem com desidratação por calor solar e,
posteriormente, vermicompostagem.

RESULTADOS PARCIAIS

Foi produzido o projeto de edificação resultado de muitas pesquisas na área de saneamento


ambiental, ciclagem de matéria orgânica e banheiros secos já existentes no mercado. Foi autorizado
pela universidade um local para a construção dentro do campus. Em seguida deu-se início ao
processo de edificação de infra-estrutura aos cursos de monitores e de qualificação de mão-de-obra
que serão ministrados pelo coordenador do projeto.

Além disso, após pesquisa e compilação de materiais de outros trabalhos já executados pelo
coordenador foi possível dar início à confecção dos materiais didáticos necessários para os seis
cursos previstos para o ano de 2008. Também foi estabelecida uma parceria com a Prefeitura
Municipal de Florianópolis, o Governo do Estado de Santa Catarina e a iniciativa privada.

A partir daí, com os materiais didáticos e o projeto da edificação, fez-se a divulgação do


protótipo, dos cursos e triagem dos candidatos que participarão do processo.

Está previsto para este ano fazer a inauguração do banheiro que terá como usuários a
comunidade universitária, principalmente o entorno dos prédios do Centro de Ciências Biológicas e
executar o monitoramento de todo o processo.

BIBLIOGRAFIA

a) Livros
JENKINS, J. (2005). The humanure handbook. Joseph Jenkins Inc. Grove City, PA. USA.
KIEHL, E. J. (1998). Manual de compostagem – maturação e qualidade do composto. Piracicaba:
Editora Degaspari.

b) Tese doutorado
SILVEIRA, Wilson J. da Cunha. (2000). Geração de renda através de obras sociais para
viabilização econômica das comunidades. Florianópolis: UFSC.

c) Artigo em anais de congresso


MARTINETTI, Thais Helena; TEIXEIRA, B. A.; SHIMBO, I. (2007). Análise de alternativas para
aproveitamento de efluentes e lodos provenientes de sistemas de tratamento local de esgoto
doméstico em assentamentos rurais in: Conferência Internacional em Saneamento Sustentável:
Segurança Alimentar e Hídrica para a América Latina, Fortaleza. Anais da Conferência
Internacional em Saneamento Sustentável: Segurança Alimentar e Hídrica para a América Latina.

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