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BOLETIM a x ~. FORMACAO EM PSICANALISE ANO I VOLUME I MARCO/ABRIL 1992 | Editorial: BIBLIO Il Informes Cotidiano: SEDES SAPIEN 09 QUT 2003 owao N* 2125 Curso: Programa. Subcomissdes Eventos PublicagSes Atividades: Leituras: VIOLENCIAS DO ENCONTRO Ill Artigos: QUEM SOU EU, AGORA QUE HANNA ESTA Al? DA LINGUAGEM DOS AFETOS A LINGUAGEM SIMBOLICA. EXPEDIENTE Primeira Datilografia: Camnita Maia, (Capa: Vicente Silvio Nogueira ‘Sceretariado e Digitagao : Célia Maria Déria Frascé ‘Scorvo e Elizabeth de Cassia S. Ferreira. Queremos desde jd agradecer ao SEDES SAPIENTIAE e equipe pelo zélo e dedicacao a nds dispensado, sem o qual este no seria possivel. COMISSAO EDITORIAL ‘Claudia Paula Leicand EdeDe Oliveira Silva Emir Tomazelli Maria Luiza Scrosoppi Pesscano, | - EDITORIAL "A auto-fecundagdo continuada constitwe uma estratégia pobre para asobrevivéncia a longo prazo, jd que a descendéncia transporta apenas os genes do seu tinico progenitor, e as Populagdes ndo mantém variagao suficiente para proporcionar Alexibilidade evolutiva em face das mudangas do ambiente" (Darwin, 1862) Bem... Estamos abrindo um espago novo dentro do ‘curso Formagao em Psicandlise, um espaco aberto a todos que queiram preenché-lo, formandos, formados,ptofessores (mesmo que estes nomes nfo sejam os melhores nomes para qualificer nossas relagdes), através de artigos, trabalhos clinicos, noticias, resenhas, etc....sim, um boletim est ‘nascendo, mas, para isto, precisamos trabalhar € muito: é isto o que pretendemos. Dirfamos que este espago nilo estari apenas aberto para aqueles que ainda garantem nossa meméria e nose histéria, mas também para quem quiser ocupi-lo, o que faz dele um local de encontzos. Um local, que venha a seruma "PLATZ", ‘onde virios caminhos se cruzam ¢ onde a meméria infantil possa circular sob a forma do saber psicanalitico, COMISSAO EDITORIAL. Il - INFORMES COTIDIANO: © Curso de Formagio em Psicanilise inicion o ano com és reunides gerais do corpo docente jénos meses de janeiro ¢ fevereiro. Nestas, foi retomada a comunicagio entre os anos, iniciada em 1991, para fins de reavaliagio e reorganizacio dos programas. Este processo nfo esté terminado. Pretende-se um forum continuo de reavaliagao, a partir inclusive do “ Feedback” do corpo discente durante o transcorrer do ano letivo. A organizagio dos professores para o ano ficou estabelecida em trés comiss6cs: Diretiva, Publicagao e Eventos. A sclegdo de alunos para o 1° ano deu-se através de outras 3(trés) reunides de professores e de duas tapas de entrevistas para cada candidato, Foram 37 inscritos, 20 escolhidos, fora mais 2 alunos antigos ‘que reabriram matricula. 1992 iniciou-se com a equipe de professores de cada ano, abrindo, no 1° dia de aula tedrica, um espago com os alunos do ano, para discussio e reflexio a respeito da saida de professores do curso em 1991. Neste ano, uma vez por més, os professores participardo de um programa de estudo entre sf, voltado para o aptofundamento do tema da pulsio de morte A luz das entidades clinicas e da pritica psicanalitica, As reunides clinicas iniciadas no final do ano de 1991, continuardo nas primeiras tergas-feiras do més, tendo como reinicio o dia 7 de abril e sairio sempre divulgadss no setor de stividades, assim como as reunides teéricas que ocorrerio. © pessoal da Comissio de Eventos jé contactou coutras pessoas para virem participar de nossos futuros eventos: Gilberto Safra,Antonio Muniz. de Resende, Manoel! Tosta Berlink, Maria Cristina Kupfer, Leopoldo Nosck, Felicia Knoblock ¢ Heloisa Opice. CURSO: PROGRAMAS PROGRAMA DO 1° ANO 1992 Os eixos principsis do programa articulam-se em tomo da constituigao do sujeito humano, na sua ciséo, trabalhando os coneeitos de falta, desejo ¢ repressio, ¢, a partir daf, a elaborago do conceito de Inconsciente . © pereurso escolhido segue os seguintes temas: TEMA -[- HIPNOSE: Comesa a surgir uma nogio de um outro lugar psiquico, Textos ( todos de S.Freud ): Informe sobre meus estudos em Paris ¢ Berlim - 1886, Prélogo & tradugdo de H. Bernheim, " de la Suggestion " - 1888. Resenha de Forel, "Der Hypnotismus'-1889. August ‘Hipnose - 1891. ‘Um Caso de Cura pelo Hipnotismo - 1892. Prélogo e Notas & tradugio de JM.Chareot, ““Legons du Mardi de la Salpétriere" - 1887-88. Charcot - 1893. ‘TEMA Il -HISTERIA: Acompanharemos 0 surgimento do sintoma como demonstrative do trabalho do Inconsciente, levando em conta a tcoria smumitica c # teorie da sedugio Textos: Estudos sobre a Histeria - 1893-95 Freud ¢ Breuer). ) Sobre o Mecanismo Psiquico dos Fendmcnos Histéricos - Uma Comunicagao Preliminar. ) Historial Clinieo - FrElisabeth Von R. ©) Psicoterapia da Histeria 4) A Btiologia da Histeria.- 1896. ©) As Neuropsicoses de Defesa - 1894, ) Carta a Fliess n? 69-1897. Projeto de uma Psicologia para Neurolégos - Cap 11-1895, Novos aportes as Neuropsicoses de Defesa - 1896. A Sexualidade na Etiologia da Neuroses - 1898, A Perda da Realidade nas Neuroses e nas Psicoses - 1924, ‘TEMA III" SONHOS E ATOS FALHOS: Serio trabalhados como formagdes do Inconsciente. Veremos 0 trabalho do sonho em s{, colocando énfase no proceso primario , fazendo a articulagio com 0 sintoma ¢ a "normalidade” através da psicopatologia da vida cotidiana. Textos: Sobre os Sonhos - 1901. Interpretagao dos Sonhos - Cap VII 1990. Psicopatologia da Vida Cotidiana - Cap Te IV - 1901. (© Mecanismo Psiquico do Esquecimento- 1898. Lembrangas Encobridoras - 1899. Projeto deuma Psicologia para Neurdlogos -cap T- 1895. TEMA IV - DESEJO: Vivéncia de Falta ¢ Vivencia de Satisfacio Abordaremos os temas de Repressiio Primiria, Representacio da Deseja e Inscrieiio Psiquica. Textos: Interpretagio dos Sonhos- Cap VII - parte ¢-1900. projeto de uma Psicologia para Neurdlogos - Cap. I- partes 11 €12. Complemento Metapsicolégico 4 Teoria dos Sonhos -1915, TEMA _V__._FORMULACAO METAPSICOLOGICA DO APARELHO Psiouico: Textos Interpretagio dos Sonhos - Cap. VIL Parte F. Os dois Principios do Suceder Psiquico -1911. A Reptessio - 1915. Inconsciente - 1915. Esbogo de Psicandlise -Cap. LUI, IV, Ville Ix - 1938 OFgoe old-Cap. Te - 1923. Bibliografia: - Freud,S, -Obras Compleus. PROFESSORES: Aristides Costa Cicarelli Maria Cristina Perdomo Maria Rosa Matis Sales ‘Maria Teresa S. Rocco. PROGRAMA DO 2 ANO DE 1992, TEMA 1 - TEORIA TRAUMATICA.A SEDUCAG; Bibl.Obrigitoria: " OBSESSOES E FOBIAS’- 1895 "NOVAS OBSERVAGOES SOBRE AS PSICONEUROSES DE DEFESA’- 1896(P I ell). Bibl.Auxiliar: " A SEXUALIDADE NA ETIOLOGIA DAS NEUROSES’-1898, " MANUSCRITO EB” -1894, ‘TEMA 2-A PULSAO, O DESEJO. OEDIPOJ Bibl Obrigatoria:” CARTA 69" -21.09.1897. " TRES ENSAIOS PARA UMA TEORIA SEXUAL" -1905(12 ensaio : Completo,2¢ ‘ensaio:pontos 1,2,3,4 € 7, 3® ensaio: s6 ponto 5). Bibl.Auxiliar: "OS SONHOS DA MORTE DE PESSOAS QUERIDAS" cm INTERPRETARAO DOS SONHOS" -1900 -Carta 71 - 15/10/1897. ‘TEMA 3 - A HISTERTA NO CASO DORA Bibl.Obrigatoria: “ FRAGMENTO DE ANALISE DE UM CASO DE HISTERIA" - 1905. “ ESTUDO COMPARATIVO DAS PARALISIAS MOTRIZES, ORGANICAS E HISTERICAS" - 1893 - Cap. IV (opiativo). TEMA 4 - A HISTERIA DE ANGUSTIA EM IOAOZINHO. Bibl.Obrigatéria : “ANALISE DA FOBIA DE UM MENINO DE CINCO ANOS" -1909. " SOBRE AS TEORIAS SEXUAIS INFANTIS* - 1908 -Esclarecimento sexual 1907( optativo). ‘TEMA_5_-_A NEUROSE OBSESSIVA NO HOMEM DOS RATOS. Bibl.Obrigatéria: " ATOS OBSESSIVOS E PRATICAS RELIGIOSAS'- 1907. " CARATER E EROTISMO ANAL" - 1908, “ A PROPOSITO DE UM CASO DE ‘NEUROSE OBSESSIVA’ - 1909. “ HOMEM DOS LOBOS “ - CAP. VII. ‘TEMA 6- AS PULSOES EO EDIPO TL BibL. Obrigatsri DO NEURGTICO' - 1909. “SOBRE UM TIPO ESPECIAL DE ESCOLHA DE OBJETO NO HOMEM*" - 1910. " SOBRE UMA DEGRADAGAO GERAL DA. VIDA EROTICA". 1912. TEMA 7-OEDIPOE A CULTURA Bibl. Obrigatéria: "TOTEM E TABU“ -1913. ‘TEMA 8-ONARCISISMO “ INTRODUGAO AO Bibl. Obrigatéria: NARCISISMO' - 1914. TEMA 2-OFDIPOE AS IDENTIFICACOES Bibl. Obrigatsria: " LUTO E MELANCOLIA” -1917 " PSICOLOGIA DAS MASSAS E ANALISE DOEGO" - 1921 (CAP 7) " 0 EGO EO ID“ - 1923 (CAP.3)( CAP.1E CAP 2-OPTATIVO). TEMA 10- 0 EDIPO A CASTRACAO Bibl.Obrigatéria. : " SOBRE AS ‘TRANSMUTAGOES DA PULSAO...” - 1917. " ORGANIZAGAO GENITAL INFANTIL" - 1923" "FINAL DO COMPLEXO DE EDIPO" - 1924. “ ALGUMAS _CONSEQUENCIAS PSIQUICAS DAS DIFERENGAS SEXUAIS ANATOMICAS'" - 1925. “ INIBICAO, SINTOMA E ANGUSTIA ” - 19264-5-6-7), " SOBRE A SEXUALIDADE FEMININA" - 1931, “A FEMINILIDADE" (NOVAS CONFERENCIAS = INTRODUTORIAS. PSICANALISE -1933). PROFESSORES: Ede de Oliveira Silva Nora Miguelez Oscar Miguelez. PROGRAMA DQ 3? ANO, ‘TEMA 1- FREUD E KLEIN; Semelhangas ¢ Diferengas. ‘TEMA IL-- A LINGUAGEM KLEINIANA : ‘Uma Linguagem antes da linguagem. TEMA Ill -A CLINICA PSICANALITICA KLEINIANA: Fundamentos Tedricos -Técnices. TEXTOS: 15)A personificagio nos jogos das eriangas (1929) cap. 09, " Contribuigdes 4 Psicanilise”. 2)Simpésio sobre a andliseinfantil(1927)-Cap. 96 "Contribuigses...". 3A Natureza ¢ a Fungo da Fantasia - Suzan Isaacs - Cap. 03 - "Os Progressos da Psicanslise”. ‘TEMA IV - CONCEITOS CENTRAIS:- 1°) Ego - Primitivo ‘Superego - Primitivo. ‘Complexo de Edipo Primitivo. 28) Pulsio de Morte a)Deflexio v)Projegao. 38)Sexualidade Agressiva, © Medonho ¢ a Psicose 48) Tdentificagoes Primérias ¢ a Formagio do Superego. TEXTOS: 19Primeiros estigios do conflito Edipico ¢ a formacao do superego(1927) cap. 8 -"” Psicanslise da Crianga”. 2)Primeiras fases do complexo de Edipo(1928) caps TEMA _V_-_" CONTRIBUICOES A PSICANALISE". Conceitos Gerais - 19) A Teoria das Posigdes 2%) O impulso de vida ¢ a Construgéo do Ego integrado ¢ coeso. 380s problemas da pulséo de morte ¢ a desintegragio. 4590 narcisismo e a identificagio projetiva: As defesas violentas. TEXTOS: Nows sobre alguns Mecanismos Esquizdides (1946) cap. IX - " Progressos da Psicanilise”. Bibliografia Complementar: 18) LA OBRA DE MELAINE KLEIN (vol Te I) Elsa el Valle Lugar Editorial - Buenos Aires ( 1986/87). 28) MELAINE KLEINE. Jean Michel Petot - Estudos Editéra Perspectiva- Sio Paulo (1987188). 3%) POSICAO E OBJETO NA OBRA DE ‘MELAINE KLEIN - WILLY BARANGER Editéra Artes Médicas (1981) 49) DICIONARIO DO PENSAMENTO KLEINIANO Hinshelwood - ED. Artes Médicas. TEMA _VI_-A_PROBLEMATICA DA POSICAO DEPRESSIVA TEXTOS: “ A importincia da Formagio do ‘Simbolo no Desenvolvimento do Ego (1930: in: Contribuigoes a Psicandlise”. “Notas a respeito da Formagdo de simbolos” ‘Hanna Segal, in:" A obra de Hanna Segal", Imago pg.77. "Psicogénese dos estados Maniaco-Depressivos" (1934) in: "Contribuigdes..." pg.355. ‘TEMA Vil - “ULTIMAS FORMULACOES. KLEINIANAS - Parte I : Em busca de uma epistemologi TEXTOS: ” Sobre a Teoria Da Ansiedade e Culpa” (1948) in: “Os progressos da Psicandlise*. ‘Zahar pg.290. * A Vida Emocional do Bebé" (1952) in : * Os Progressos da Psicandlise” pg.216, KLEINIANAS. - Parte II” TEXTOS:" Inveja ¢ Gratidio (1957) in: "Inveja € Gratidao ¢ outros trabalhos” 1946-1963 - IMAGO "Sobre. a Identificagio" (1955) Gratidio..." Imago. inveja e * Sobre o Desenvolvimento do Funcionamento ‘Mental* (1958) in : "Inveja ¢ Gratida PROFESSORES: Emir Tomazelli Maria Luiza S.Persieano ‘Suzana A. Viana. PROGRAMA DO 4? ANO. ‘TEMA 1 PERVERSAQ_ 1, Lei, Perversio e Transgressio ( A Perversio como Estrutura). Texto : Maria Helena Saleme, 2. A evolugio do conceito de Perverséo em Freud. Textos: a) Tres ensaios para uma teoria sexual (41905) b) Sobre alguns meeanismos neursticos no citime, na Parandia e na Homossexualidade (1921). ©) A Pulsio c seus Destinos (1915). 4) Bate-se numa crianga (1919). ©) O Problema econdmico do masoquismo (1924). £) O Fetichismo (1927), 4) A organizagio genital infantil.Adigdo & teoria sexual (1923). 3. Observagies sobre a feminilidade ¢ seus avatares - Piera Aulagnier. ‘TEMA ILPSICOSE A. AMctapsicologia dis Psicoses (em Freud). 1. Dois prinefpios do funcionamento mental casi). 2, 0 Inconsciente (1915). 3. A cisio do ego no processo de defesa (1938). 4. Esbogo de Psicanilise (1938). ‘BLA questo Edipica ea Psicose (em Freud). 1. Totem e Tabu (1912-1913). 2 Uma Introdugio ao Narcisismo (1914) 3. Luto e Melancolia (1915). 4, Observacées Psicanaliticas sobre um caso de Parandia (Caso Schereber) (1911). " : me Picra Aulagnier - Do Livro: Psicose - Uma Leitura Psicanalitica, L.Observacdes sobre a relacéo da homossexualidade masculina com a parandia, a ansiedade parandide e 0 narcisismo - HRosenfeld (1949). 2. Sexualidade Polimorfa adulta ‘Sexualidade Polimorfa infantil -Donald Meltzer 913), Sexualidade infantil perversa. 3. Nota a respeito da formago dos simbolos - Hanna Segal (1981). 4. Da psicopatologia do narcisismo: Uma aproximago clinica HRosenfeld (1964), 5. Abordagem Clinica da teoria psicanalitica dos instintos de vida e morte: uma investigagio dos aspectos agressivos do narcisismo, HRosenfeld as7y. 6. Nota a respeito da psicopatologia dos estados confusionais nas esquizoftenias crénicas - HRosenfeld (1950), 7. A Psicopatologia da hipocondria - H. Rosenfeld (1964). 8. Notas sobre a woria da esquizoftenia - W. Bion (1954), 9.Desenvolvimento do ‘esquizofiénico - W.Bion (1955). pensamento 10. Diferenciagio das personalidades psicéticas endo psicsticas - W. Bion (1957), 11. Sobre a arrogincia - W-Bion (1957), PROFESSORES: Armando Colognese Cecilia Morelli Camargo Homero Vetorazzo Filho José Carlos Garcia ‘Maria Helena Saleme ‘SUB-ComIssOES: EVENTOS A Comissao de Eventos, composta por Berenice Neti Blanes, Elza Mendonga de Macedo, Lindolfo Baptista Neto, Maria Helena Saleme, Maria Teresa Scandell Rocco, Oscar Miguclez ¢ Susana Alves Viana, programou a realizagio de duas reunides mensais - uma clinica e outta tedrica - que ‘acontecerio sempre ds 245 ou 34 Feiras no Sedes, na sala 6 4s 20:30 horas. Além desses encontros sistemsticos, a comissio est trabathando no sentido da constituigao de ‘grupos de estudos com temas que serio definidos no percurso do trabalho, PUBLICAGAO A Comisséo de Publicagio, composta por Ede de Oliveira Silva,Emir Tomazelli, Maria Luiza Scrosoppi Persicano ¢ Claudia Paula Leicand, coloca-se a disposigo dos colegas que quiserem colaborar. No caso de descjarem enviar artigos para Publicagdes, 0 critério é de 5 a 10 paginas Gatilografadas em espago 2.Quanto a leituras, informes ¢ atividades deverio ser previamente remetidos datilografados & comissio, para que esta tenha tempo hbil para a publicagao no Boletim. ATIVIDADES: 5 i1AFel ‘Maria Cristina Perdomo Apresentagio e Discussdo de material Clinico, Diez dvatetl Oem ‘Suzana Alves Viana " Sobre a Problemdtica da Contra-Transferéncia na Clinica Psicanalitica: Um recorte.Uma Reflexéo.” Discussio teérico-clinica que poderd ser continuada através da constituigéo de grupo de Estudo. ‘Nota: A questo que atravessa ¢ abre este grupo € contratransferéncia contra 2 transferéncia? ou contratransferéncia a favor da transferéncia? Em outras palavras, 0 que se deseja neste grupo é percorrer a questo do lugar do analista na ‘rasnferéncia e scus avatares, os enfrentamentos, os distanciamentos, os estranhamentos, bem como as colagens, nas quais o analista se sente submetido ou submetendo quando procura um lugar para escutar um tempo: aquele da histéria contada na transferéncia. O encontro acontecerd a cada 15 dias ¢ devers ter inicio em maio de 1992, , io XE ‘Marilia de Freitas Pereira Terapia Familiar: Diagndstico e Indicagao”. Discussio de material clinico. Sie Durval Mazzei Nogucira Filho " O Frend de Lacan” - Palestra de apresentagio e Introdugo a um grupo de trabalho planejado para 02 semestre. - ATENGAO - Para viabilizar a continuidade das atividades, pedimos a colaboragio de CRS 5.000,00 para cada encontro. LEITURAS: TEMA: VIOLENCIA DO ENCONTRO © homem surgiu, e, junto com ele surgiram as histérias ¢ as analogias. Como pertengo a espécie Homo Sapiens, nio posso fugir a estas sgeneralizagdes, portanto tenho histérias para contar © analogias para fazer. Isto me faz lembrar de dois encontros que tive, com alguns anos de diferenga entre eles ¢ que tiveram caracteristicas insdlitas pelos sentimentos ‘em mim mobilizados. Estou na realidade falando do ‘meu encontro com o “Projeto” Freud 1895) e com 4" Violéncia da Interpretagio” ( Piera Aulagnier 1975). Noventa anos separam um trabalho do outro porém as emogées no levaram em conta tal hiato. Naosei exatamente qual a ponte quese criou em minha mente com a leitura dos dois textos, porém o que lembro sio as emogdes suscitadas. Tenho algumas explicagées que ndo me satisfizeram, como: a densidade e complexidade de ambos; a ‘massa enorme de informagies em tio pouco espaco; a maneira como ambos foram escritos que no da ‘margem para que o leitor desavisado respire ou descanse entre uma palavra e outra, entre uma frase ‘ca seguinte ou entre os periodos, deixando-o atdnito ‘edesnorteado.Mas ser que é por conta disto que sio mobilizadas emogdes tio intensas? Como fago parte também da espécic do “Homo Psicanaliticus", no me furtei a uma interpretagdo, mas gostaria de comenti-la mais tarde.No primeiro contacto 0 impacto foi tanto que tive vontade de deixé-los de lado e foi o que realmente fiz. com ambos. Deixei-os de lado com um misto de raiva, cansago ¢ irritacdo. Mesmo que se saiba que ambos sao textos basicamente metapsicolégicos ¢ que @ ‘metapsicologia ¢ um terreno érido e dificil de se ‘caminhar, acho que estes trabalhos tém algo a mais que nas sobrecarrega € este algo a mais sio as emogies € os sentimentos suscitados. Estas reagdes so consequéncia de se sentir violentado a cada ‘momento ¢ ¢ porisso que se tem necessidade de uma parada inicial. Num segundo momento é aconselhavel quese volte ao textolentamente ou que apele a um amigo para minimizar o impacto ¢ foi que fiz, Desta maneira vocé vai caminhando Tentamente, desafiando a cada momento os petigos encontrados pelo caminho, Porém, a medida que, nesta Viagem, vamos desbravando, pagina por pagina, capitulo por capitulo, e penetrando gtadativamente nas emaranhadas florestas do pensamento de ambos autores, um novo sentimento aos poucos vai surgindo. Um sentimento de perplexidade, encantamento ¢ fascinagio, de tal maneira, que dificilmente se consegue sair deles. Besta dizer que em um permaneci trés anos ¢ no ‘outro jé estou hé unm ano, Vejo agora que para passar para o segundo momento, tem-se de vencer um sentimento muito maior, a inveja de no té-los escrito. Apesar de todos acidentes de percurso aconselho estas duas viagens, porém nio me responsabilizo pela integridade dos leitores.Néo actedito que alguém saia ileso apés tal percurso, no actedito que alguém sejao mesmo depois deIé-los, portanto ame-os ou deixe-os. Professor do Curso deFormagoem Psicandlise. Ill - ARTIGOS: QUEM SOU EU, AGORA QUE HANNA ESTA Al? (A fobia e © caso do pequeno Hans). Dente os diversos casos analisados por Freud, destaca-se pela importincia tedtica 0 caso do ‘Pequeno Hans, como passou ser conhecido no meio psicanalitico 0 Relatado Da Andlise Da fobia ‘De Um Menino De 5 Anos (1909). ‘Das primeiras observagdes de Hans, quando ‘ainda nfo tinha completado 3 anos de idade, chama ‘8 atengo a frase enunciada por ele:” Mamie, vocé também tem esta coisinha de fazer pipi? Ao que a mie responde: Naturalmente” (Freud,1909). Essa fala remete & questio fundamental que 0 pequeno Hans se colocava com veeméncia: ter ou nio ter pénis. Mas, ao falar em pénis, do que esta falando 0 pequeno? Sua pergunta encerra uma Preocupagio relativa a ter ou néo ter um érgio, anatomicamente falando? Ou sua preocupagio esta referida a outta coisa? Por que tal pergunta é tio importante para ele para todas as erlangas que a ‘enunciam? Muito tempo se passou, da época da interpretagio do caso por Freud até os dias de hoje. ‘Muito se falou e se escreveu sobre 0 caso. Autores contempordneos, notadamente os da chamada vertente psicanalitica francesa - referéncia adotada neste trabalho - trouxeram interessantes contribuigSes para uma nova compreensio desta ‘questo ¢ de outros fatores envolvidos no chamado complexo de castragdo, mas também uma nova forma de interpretar a questio da fobia, notavelmente ilustrada no caso do pequeno Hans. Nos trés ensaios, Freud enfatiza de forma original a importincia do outro na estruturagéo do psiquismo. A idéia Ié apresentada tem sido bastante desenvolvida nos escritos sobre a psicandlise e hoje tem-se uma relativa compreensio sobre vatios dos aspectos envolvidos nas relacbes que o ser humano estabelece no inicio da vida. Essas relagbes dio-se num contexto carcateristico, isto é, a crianga ‘encontra-se num estado de desamparo frente a um outro que pode aplacar tal estado, através dos cuidados aeladirigidos. Paralelamente aos cuidados fisicos exercidos sobre a crianga, esta recebe um intenso investimento afetivo e libidinal por parte de quem euida dela. Diz Freud: * Arrelagdo de uma crianga com quem quer que sefa responsével por seus cuidadas proporcions-Ihe uma fonte infindével de excitago sexual ¢ de satisfagio de suas zonas erdgenas. Isto € especialmente verdadeiro, jé que a pessoa que cuida dela, que afinal de contas, em geral ésua mie, olha-a la mesma com sentimentos que se originam de usa propria ida sexual, cla acaricia-a, beija-a, embala-a e muito claramente a trata como substitutivo de um objeto sexual completo.) feietasoreestofectgre ltndcpeeetce cee crianga como algo que a completa totalmente: um falo, A crianga parece ser reconhecida néo como um ser de vida prépria, mas principalmente como objeto revestido pela imagem remanescente do narcisismo ‘materno, apés um longo perfodo de perdas. E assim que esta crianga assume um aspecto imagindtio, que parece restituira micas perdasque teve de enfrentar € & neste contexto © com este papel que a crianga inscreve-se na complexa trama estruturada pelo desejo matemo. Sé resta a esse ser, totalmente dependente e desamparado, responder a esse desejo, identificar-se com esse lugar de completude que Ihe 78s ensator pera uma teorta sexual é atribuido pela mae e assim se encontrar num lugar de total amparo,no qual ela se torna a mie toda-poderosa e completa. A percepea0 de possuir tal poder a faz também onipotente.Tal é a dinamica da chamada identificagio priméria ou narcisica, As mensagens que a mae Ihe passa, decorrentes dos investimentos narefsicos, conferem-lIhe essa vivéncia de onjpoténcia. A mie compraz-se em ver seu bebé dormindo, saciado. A ctianga, 20 se alimentar, esti garantindo a sua sobrevivéncia, mas esté também respondendo ao desejo da mae de que se alimente. ‘Sea mie tem tal desejo, nunca a deixard passar fome. Fica claro aqui o papel deste engodo de plenitude, por parte da crianga, isto é, 0 de disfargar ‘sua condigo de desampatoPor parte da mic, ‘como se ela tivesse a iusto de que esse filho The devolveria a completude para sempre perdida, & qual teve que renunciar para inscrir-sc no universo humano da simbolizagio ¢ da cultura (cutellus = ccutelo, corte). Isso remete a uma questéo relative a0 ser ‘humano, no que diz respeito as estruturas clinicas. Como seria se houvesse uma total resolugio edipica? Como 0 desamparo do filho poderia ser atenuado, se no através da ilusfo descrita acima? Em outras palavras, tem que haver um residual de felicidade na mie para que este inevitével engodose erie ¢ dé um lugar a esse filho, ainda que num primeiro momento 0 de bebé-boneca, etapa necesséria, porém nfio suficiente, para ascender & condigao humana. Voltando nos anos: quando crianga essa mulher-mie, como ensina Freud, abandonou, 20 deparar-se com @ mie castrada, 0 investimento libidinal a esta ¢ voltou-o ao pai, na medida em que este, por ocupar um lugar no desejo da mie, ‘apresenta-sc como possivel doador do pénis-falo desejado. ‘A feminilidade instaura-se a partir do momento ‘em que o anseio pelo pénis é substituido pelo desejo deter um fitho, identificando-se assima menina com sua mie, E esse filho, ao existir, assume para a menina, agora mulher-mie, a condigio imaginaria do falo desejando (apoiado na antiga inveja do pénis, enquanto érgio propicisdor da felicidade). Ainda persiste uma ilusio imaginéria de completude." Se ceuttiverum filho, estarei completa, apesar dendo ter sum penis’. (O engodo de plenitude que se estabeleceu entre ‘a mie e seu filho vai se revelando enquanto tal ¢, consequentemente, desmancha-se. A experiéncia jlusdria de preencher a falta, na qual o psiquismo da mic estd estruturado, em se tratando do campo da neurose, j4 foi demasiadamente frustada. A cconclusio que se impoe € a impossibilidade, A mie é-se conta de que, como outros objetos, este bebé também néo a completa inteiramente. A realidade impie-se frente & frigil relagio dual. A ilusio di lugar a desilusio. A mesma crianga que imaginariamente a completava, agora remets-a ésua falta e, de acordo com mesmo mod:lo que wtlizou ao renunciar& sua prorpria mae para procurar no pal (© pénis desejado, atualiza-o através de outros investimentos. Do outro lado, a crianga nico encontra mais na atitude da mie aquele lugar ( Fillico ), ocupa apenas mais_um lugar, entre varios outros para o qual orienta-se 0 desejo materno. Esse processo insereve-se no psiquismo infantil para sempre, como um trago, uma marca, que inaugura a existéncia da crianga como sujcitoO ‘bebé vé-se langado num nfo-lugar. " © que ser, além do falo da mie?" B, talvez, a pergunta que se faga neste momento. A angistia manifesta-se. Eno proprio discurso da mie que 0 enfant re-encontrard ‘um lugar, agora seu, no mais como objeto do desejo de um outro. O lugar anterior esti inacessivel, para sempre perdido, Na medida em que a crianga perecbe que a mie designa um outro como importante para ela, abala-se. Quando a mie diz: é teu pal, o filho questiona-se: 0 que é ele para ela? Eu néo Ihe basto? Descobre que a me também dependedeum ‘outro, enquanto suporte de seu desejo ¢ isto faz.com ‘quenioa veja mais segundo a dptica da onipoténcia. ‘A identificagao narcisica é questionada pela crianga: minha mie precisa de algo, cu no sou esse algo e nemo tenho, alguém deve té-lo, €0 pai que ela ime apresenta. Dessa forma o pai é suposto deter 0 objeto do desejo da mic. ‘A relagdo esté agora trinificada. Poderia ter-se prolongado no sentido dual, onde um nao seria nada mais do que a continuidade ¢ 0 complemento do ‘outro (tal como ocorre nos casos de psicose). A fungo do pai separa a crianga da mie, interdita a fusio-confusao original, inaugurando a complexa questiio da castragdo. O filho deixa deser a coisa da mie, um objeto de fabricagio exclusivamente matema. Entretanto, a fungdo paterna s6 se exerce enquanto interditora na medida em que sua importancia estiver inscrita no psiquismo da mmulher-mae, que reconhece que necessita de um homem pata poder fazer um filho. A dupla interdieao, vinculada a fungao paterna e fundadora da cultura, ” nfo deitarés com sua mie” € ” nfo re-integrards teu produto", s6 pode ser ouvida se @ interdigZo do incesto vem marcar tanto o homem Quanto a mulher, que formam o par parental. A fungo paterna que se introduz na relagio confusa, fundida ¢ desordenada da mie com a ‘erianga serve, de agora em diante, como um suporte ‘em tomo do qual a crianga inf se organizando como sujeito, Depara-se com a lei - “néo deitards com tua mie” ~da qual o pai é 0 representante. A fungdo patema inf marcar o lugar do filho no desejo da mie. Essa fungo destitui a mie de seu filho-falo; entio ela, privada do mesmo, pode buscé-lo naquele que o detém. A crianga, ‘igualmente desprovida de seu lugar félico, poderd cobigé-lo ls, onde a mie o indica. Tal jogo filico esti na base das identificagées, agora no mais narefsicas. Ha diferengas relativas ‘20 sexo da crianca quanto a essas identificagées. O menino renuncia ser 0 objeto de desejo da mae, recalca seu desejo neste sentido e identifica-se com © pai, que supostamente tem o falo. A menina também renuncia ao seu desejo em relagio a mie, abtindo-se desta forma a possibilidade de identificar-se com ela, buscando no pai aquilo que, como a mae, nfo tem. Tudo se passa dessa forma em se tratando do campo da neurose, enquanto estrutura clinica. Os problemas que dai decomem vio levar a uma das tres possibilidades neursticas: histeria, fobia e neurose obsessiva. Na continuidade, se abordard a fobia, Principalmente no que diz respeito a angustia e a toda problemitice identificatéria presente nesse tipo de estrutura. "Quem sou eu agora que Hanna esta ai”, perguntase 0 pequeno Hans. Esta pergunta abre a possibilidade de pensar em algumas questoes: 1. Como entender 0 nascimento de Hanna na articulacao com o caparecimento da fobia de Hans? 2. Como compreender o sintoma fobico: 0 cavalo? Na interpretacao de Freud, 0 nascimento de Hanna remete 4 questdo das diferencas sexuais entre homens ¢ mulheres ‘como 0 aspecto de destaque. Porém, poder-se-ia entender que com o rnascimento da irma, 0 pequeno Hans perde seu lugar no desejo da mée, que até entdo ocupard, o de ser aquele que a completava, seu falo, agora substituido por Hanna. Se poderia pensar que avindade Hanna articula @ questdo da interdigdo ao desejo materno. Logo, 0 pequeno Hans voltase na busca de ocupar um outro lugar, lugar este que poderia encontrar voltando-se para 0 pai enquanto possibilidade identificatéria. Essa possibilidade ndo se cancretita no presente caso, uma vez que o pai ndo estd suficientemente presente no discurso da mae, enquanto interditor. E claro, no historial, o aspecto claudicante da interdicao paterna. O pai interdita, porém a mde faz muitas vezes 0 contrdrio, quando ve seu filho tomado pelo terror noturno. A mde ndo confere a forca suficiente a figura paterna, para que 0 menino ‘encontre umsustentéculo sélido onde se refuugiar ao dar-se conta de que ndo € 0 tinico objeto do desejo ‘materno. A relagdo dual entre ele ea mde rompe-se, definitivamente,ao que parece, com o nascimento da inmas ima’ fingdo paternc interditora, que se estabelece. -10- Separa-se da mae, mas ndo encontra um lugar para se refugiar, se apoiar através da identificagdo, vé-se mergulhado num nao lugar, num abismo; ndo encontrauma indicagdo da mde que agora, com 0 nascimento da irmd, encontra-se novamente ‘mergulhada numa relagdo narcisica com afitha. Pobre Hans, arrancaram-the de seu lugar mas ndo the ofereceram um atenuante, um outro recurso que The dé seguranca. O caminho é feito apenas aré a metade. A partir dat encontra-sesozinhofrente ao proprio destino. Tem que buscar uma saida porsisée aencontra, ainda que num cavalo que condensa todas as possibilidades pelas quais 0 sujeito ‘Hans possa organizar sua entrada no mundo simbélico. A partir dai coloca-se como fundamental a tentativa de entender 0 que representa o cavalo, enquanto ordenador e organizador do caos no qual o garoto estd mergulhado. Nesta ‘audaciosa empresa, F.Pertier pode servir como referéncia. Escreve ele: "Quem sou eu agora que Hanna estd al? pergunta-se o pequeno Hans". Nesta perspectiva o cavalo comeca a propor-the o dilema: pai ou mée, homem ou mulher, penis ou nada. Nada, diz Freud, pois no caminko de ‘postulara vagina, ndo podia contudo resolver o enigma, dado que dentro de seus coahecimentos ndo existia nada semelhante ao que seu pénis reclamava. Esta auséncia de significante fémea - para citar uma expressiio recente de Lacan - é 0 que faz do cavalo 0 ‘enigma angustiante da imagem do corpo, dessa imagem corporal que é oprimeiro eu de Hans, como seu eu e ‘entretanto sua mde tainbém seu pai. A imagem fobica é 0 ew imagindrio projetado na solicitagao narcisista que ela expressa, no enigma angustiante que ilusira, impondo a Hans inegavelmente a pergunta: *Convertendo-me em cavalo sou menino ou menins"? Tudo acontece como se se tratasse de uma imagem ontrica cujo contetido manifesto reconhecido ¢ secundariamente redescoberto na realidade. O eu imagindrio ndo é redutlvel d sua ilustragao especular. Diremos que a fobia sobrevém no ‘preciso instante em que 0 lugar como sujeito na situacdo edipica é brutalmente questionado por um acontecimento que desloca uma gestalt frdgil, na qual as relagdes narcisistas prevaleciam sobre as relagGes objetais. A rua & acaso, pare 0 agora febico, esse espaco vazio andnimo em que 0 sujeito se perde, em que ndo se reconhece, dada aimpossibilidade de ser reconhectvel e reconhecido nela, por carecer de uma imagem de identificagdo assumivel”. Talvez. uma outra forma de se interpretar & escolha do cavalo, enquanto objeto fSbico, poderia ser feita adotando-se a postura de Cabas, referida & Teitura de Lévi-Sirauss relativa sos mitos, que se fazem presentes também no caso de Hans. A ‘Antropologia registra, como jé é de conhecimento estabelecido, « presenga de mitos nas chamadas ‘comunidades primitivas. Considerando que Hans € seus amiguinhos também constituem-se em uma comunidade primitiva, o cavalo poderia ser visto © interpretado como sendo um totem. Hans esté envelvido num sistema mitico, no qual o cavalo nfo se afigura apenas como tema principal dos jogos © prazeres que ele (cavalo) propicia, mas também se defronta com o perigo e a amega implicita (queda e machucado de Frederico, ameaga de morder - ¢, portanto, de amputar - os dedos de Liza). Na mitologia infantil, entio, o que represcata 0 cavalo? © F, Perrier ‘Num sistema que articula prazer com petigo, que vineula 0 desejo com 0 castigo, comprometendo He assim 0 drgio do prazer cou a organizagio da proibigio", no dizer do préprio Cabas. Um aspecto que foi apenas tangencialmente tocado neste trabalho & o da angiistia, conceito insubstituivel, na medida em que oeixo de resolugéo edipica comegou a ser referido 20 complexo de castragio. Para nfo deixar de mencioné-lo acrescentam-se algumas definigdes de angistia, propostas por Yafar*); 1. A angistia nao é coisa simples de apreender. Isto pode ser pensado em fungio das consideragies lacanianas de que @ angistia nfo é imagindvel nem simbolizsvel. Hi uma dificuldade deestrutura que diz respeito & inspreensibilidade ou iho do registro do real. 2.8 algo sentido, pelo que a colocamos na linha dos sentimentos, ou melhor, dos afetos, Assim também define Lacan na primeira classe do Semindrio sobre o tema. 3.6 um desprazer muito particular quase inapreensivel, com algo de inacessivel, de indefinivel, ligado, como mencionamos, aosinisto, algo que se situa mais além do principio do prazer - ‘© que Frend chama de demoniaco.Pensamos entio na angiistia dos pesadelos, por exemplo. 4.Esté ligada a descargas corporais. Ao corpono que este tem de mais visceral: o respiratério ¢ os fendmenos cardiacos. 5.Direta relagio com o tema do luto e com um. dado clinico importantissimo, que &a dor. A titulo de encerramento, est claro que © que foi dito neste texto alude a imimeros aspectos no ditos, que requereriam maior aprofundamento para uma melhor compreensio da fobia. No limite das possibilidades atuais.este trabalho encontra-se no ‘Passo inicial do longo caminho para o entendimento da complex estruturagio do psiquismo humano suas vicissitudes. A fungio do falo na loucura © Bt caso Hans: lecture del historial de Freud BIBLIOGRAFIA ‘SAURI, J. (compilador) - Las fobias - Buenos Aires, Ed. Nueva Vision, 1984, CABAS, AG. - A fungio do falo na loucura. - (Campinas, Papirus, 1989. ‘THIS, B, - O pai - Porto Alegre, Artes Médicas. MELMAN,C. - Estrutura lacaniana das psicoses ~Porto Alegre,Artes Médicas, 1991. DOR, J. -Introdugio a leinura de Lacan. - Porto Alegre, Artes Médicas, 1991. MALLET, J. -et alli -Las fobias -Buenos Aires, Nueva Vision, 1984. GREEN, A. - Narcisismo de vida e narcisismo de morte - Sio Paulo-Escuta, 1988. ‘YAFAR, RA. - El caso Hans - Lectura del historial de Freud - Buenos Aires, Nueva Vision, 1991. FREUD S. -Edi¢do standard brasileira das obras psicolégicas completas de Sigmund Freud, Séo Paulo, Imago, 1977. As neuropsicoses de defesa (1894) Vol.3 Tres ensaios sobre a teoria da scxualidade (2905)-Vol.7. Anélise de uma fobia de um menino de 5 anos (1909)-Vol. 10. Totem ¢ Tabu (1912/1913)- Vol.13 O Sinistro (1919)- VOLL17 Inibigdo, sintoma eansiedade (1925/1926) -Vol. 20, AUTORES: Anete M.B. Femandes Ario Borges Nunes Jt. Chica H. Guimaries. Cynthia Lopes Peiter Jeda Gomide Moreira dos Santos. José Carlos de Matos. Jucelaine Hemandes Veger. 12. (Alunos do 2* ano do Curso de Formagio em Psicandlise).. DA LINGUAGEM DOS LINGUAGEM SIMBOLICA. AFETOS Asticulago dos Conceitos de Objeto ¢ Pulsi Lato ¢ Simbolo na Obra de Melanie Klein’. ORES DO MUNDO "Assim como um regato corre sem impetos, enquanto ndo encontra obstdculos, do mesmo modo na natureza humana, como na navureza animal, a vida corre inconsciente € descuidosa, quando coisa alguma se the opde a vontade. Se a atengéo desperta, éporque a vontade ndo era livre ¢ se prodiciu algum choque. Tudo 0 que se ergue em frente da nossa vontade, tudo o que a.contraria ow the resiste, isto é, tudo que hd de desagradavel ¢ de doloroso, sentimo-lo ato continuo e muito nitidamente. Nao atentamos na satide geral do nosso corpo, mas notamos 0 ponto ligeiro onde 0 sapato nos ‘molesta; ndo apreciamos 0 conjunto préspero dos nossos negdcios, ¢ sé pensamos numa ninharia insignificante que nos desgosta. - O bem-estar e a felicidade sao portanto negatives, sé a dor & positiva. ‘Nao conhego nada mais absurdo que a maior parte dos sistemas ‘metafisicos, que explicamo mal como uma coisa negativa; s6 ele, pelo contrario, ¢ pasitivo, visto que se faz sentir...O bem, a felicidade, a ssatisfagdo sao negatives, porque ndo fazem sendo suprimir um desejo € terminar um desgosto. Acrescente-se a isto que em geral ‘achamos as alegrias abaixo da nossa expectativa, ao passo que as dores a excedem grandemente. Se quereis num momento esclarecer-vos a este respeito, & saber se 0 prazer é superior ao desgosto, ou se apenas se ‘compensa, comparai a impressdo do animal que devora outro, com a impressdo do que é devorado. (Schopenhauer - Dores do Mundo Colegio Universidade Ed.Tecnoprint Leda Rio de Janeiro). Para Freud desejo € o movimento libidinal que se estabelece a partir da experiéncia de satisfacdo, que deixa uma marca mnémica. Toda vez que retoma anceessidade, a libido tendea percorrer este caminho, tentando recarregar esta marea mnémica ‘buscando a identidade de percepeio. Para Freud a libido nio traz em si a expectativa do objeto, faré uma colagem a ele, pois etm sua teoria hhduma prevaléncia do objetivo da pulsio( descarga) sobre 0 objeto. O objeto da experiéacia de satisfagio seri 0 objeto do desejo. Esta primeira experigneia de um objeto que gratifica a pulsio libidinal maxcaré, mas o objeto sé serd reencontrado mais tarde, apés um longo desenvolvimento de soldadura, onde as pulsdes parciais se sobressairio ‘umas sobre as outras ¢ acabario sendo unificadas sob a primazia da genitalidade. Freud trabalha assim com um objeto da pulsio libidinal, embora em 1920 em" Além do prine{pio de prazer", reconhega a existéncia da pulsio de ‘morte, entendida como pulsdo em estado bruto; que sio as excitagdes intensas, despertadas por estimulos internos ¢ externos que atingem 0 aparelho psiquico, provocando agudas sensagées de desprazet, porque ndo se encontrar dominadas, isto Endo vinculadas, nfo representadas, o que as dotaris de uma forga mortal. E considera que esta fice silenciosamente dirigindo o individuo para morte © que 86 awavés da atividade da pulsio de vida é que cesta forga mortal seré domesticada, através de um principio regulador (prinefpio do prazet), que ligue que vincule, que de representabilidade psiquica # essa pulsio, a essa energia intensa e bruta. E para poder dominar essa forga mortal que, a principio essa seri projetada para fora e aparccetd sob forma de impulsos destrutivos dirigidos contra objetos do mundo externo. Mas jé em 1915, antes mesmo de postular @ ppulsio de morte como opositora da puisio de vida neste jogo dialético, ja citava:” o édio enquanto relagio de objeto émais vetho do que o amor. Deriva 13- do repiidio primordial do ego narcisico a0 mundo extemo com seu fluxo de estimulos” (As pulsdes suas vicissitudes - 1915). Freud, jé neste momento io considerava que existisse representago mental da pulso de morte. Para Freud a meméria nio tinha vida, ganhava vida quando fazia ligago, quando carregada de afeto, investids libidinalmente e dotada de representagio psiquica. J4Melaine Klein petcebe que a meméria a princfpio é viva. Com isto ela dé mais profundidade a teoria econémica do Psiquismo. O que caracteriza o inconsciente € a fantasia que 6 um proceso dindmico, contém 0 econdmico mas se desloca dele. Podemos entender em Melanie Klein que este desinvestimento, esta pulsio irrepresentével é substituida pela proje¢do no objeto, como forma de representé-la. E postula que toda projegdo leva ‘novamente a uma introjecdo, de maneita que se situa dentro do sujcito, todos os objetos maus, desagradaveis e destrutivos que projetou no mundo ‘extemo.” Assim a destrutividade para com o objeto rimério nio é apenas como descreven Freud um desvio da destruigio de si para 0 exterior. O desejo de aniquilamento esté desde 0 comego dirigido contra o objeto percebido, ¢ o self que percebe, quase indestinguiveis um do outro" Hanna Segal. Desta forma a teoria de Melanie Klein é simultaneamente uma teoria das pulses e uma teoria das relagGes objetas, jd que 0 sujeito e objeto principio séo indestinguiveis. Estas relagdes objetais represcntadas e dramatizadas na fantasia inconsciente ¢ a propria meméria viva, Nas concepgées Freudianas, as pulses regem 0 acontecimento psiquico sem estarem elas préprias diretamente presentes no aparelho psiquico, sendo apresentadas através das representagSes dos afetos. Para Klein as fantasias sfo 0 contetido primario dos Processos inconscientes, tém uma relagio fundamental com as vivéncias corporais, que se expressam nas imagens mentais e mais tardiamente em representagdes verbais, Sio elas que dirigem as pulses rumo aos objetos. Constituem igualmente 0 estofo mental daquilo que é descrito como ‘mecanismo, Se para Freud o psiquismo se estrutura sobre tragos ideativos, para Melanie se faz sobre tacos afetives. Para Melanie Klein a pulsio traz em si a expectativa do objeto © sua contribuigao neste ‘enconizo sera sua forma particular de reagir a ele € ‘de constltut-lo. O primeiro objeto, o seio da mie, no seria a partir disto, o seio da maternagem, mas sim oda mie mitica. A mae, a qual o bebé jé trouxe em parte no nascimento, deixando a outra parte - a perceptiva - para ser constru(da neste relacionamento, E como se 0 bebé viesse ao mundo com duas ‘potencialidades jé formadas, Algo como um campo ‘para reagir a0 seio bom ¢ um pars o scio mau, que poderia ser entendido respectivamente como & capacidade inata de usufruir e apreciar as boas experigncias, ¢ assim constituir um seio bom, ¢ um baixo limiar de toleratcia a frustagio, somado a incapacidade de reconhecer seus desejos agressivos, que serio projetados no seio, constituindo-o como lum agressor intencional. O que, em “ Além do principio do prazer’, Freud denominou # dualidade pulsio de vida e pulsio de morte. ‘Como na concepedo de Klein as pulsées sio inerentemente ligadas a objetos, supde-se que as relagdes com objetos extemos tomem-se 0 foco da fantasia inconsciente logo que alguma forma de atividade mental seja possivel. Melanie situa a pulsio de morte numa posigo central, como organizadora do psiquismo humano, Justamente por ser fator de exigéncia de trabalho, por ameagar invadir e aniquilar o ego no momento do nascimento, devido a desfusio das pulses. A perda da unidade ¢ homeostase com a mie, mergulha o bebé num mundo abrasador de necessidades, ou em outras palavras, fica sujeito a estimulos extemos ¢ intemnos que nio é capaz de dominar © de representar, interpretando como ameaga de morte. Enclinando o orgenismo a destruir esta percepeio. © primeiro movimento para se reassegurar ‘contra estes perigos que ameagam o ego de dentro desi mesmo, é cindir oid e projetar parte da pulsio de morte no objeto. O quantum de pulsio de morte ainda livre dentro do organismo, se funde entio & libido, caracterizando o sadismo. O seio, como primeiro objeto que se oferece a satisfazer e apaziguar as necessidades que surgem -14- com © nascimento ¢ 0 objeto por exceléncis que receberd o impacto da pulsio de morte ¢ serd constituido como um perseguidor externo e interno. Melanie Klein chama a atengio se este movimento de cisio do id no seria semelhante ao que Freud chamou de repressio priméria, justamente porque nesta incorporagio do objeto, ele vai se opor a morte psiquica do organismo, disto derivando que primeizo objeto é um objeto superegdico, que tem forga catéotica contra apulsiode morte. A repressio priméria faria a primeira exigéncia superegdica, impedindo o livre curso das pulses e instituindo o desejo. No entanto, no se pode esquecer, que para Frend a repressdo priméria ocorreria sobre a pulsdo libidinal, impedindo-a de investir na meméria, que realiza o desejo mas nfo satisfaz a necessidade, levando a morte do organismo. A repressio priméria Kleiniana seria sobre a pulsio de morte, como uma suposigZo de que sem um anteparo a pulsio de morte, a vida no surgiria. O superego se constitui assim da mesma poténcia destrutiva que 0 id, © se dirige ao mesmo objeto que 0 id, se dirige ao ego- quetem uma escapatétia, o objeto. deste paradoxo que nasce o individuo. Melanie comega assim num momento anterior A satisfagio da necessidade. Comega na representagio da propria necessidade e acredita que 0 desejo, que montado em cima da experiéneia de satisfagao e que projeta um seio inexaurivel a ser cobigado, jé seria uma idealizagio em resposta as ansiedades persecutdrias ja vividas. “ A idealizagao excessiva indica que a perseguigao ¢ a principal forga propulsora” (Inveja e gratidao 1957). Para Melanie a libido que atua desde 0 inicio, se manifesta como sustentéculo, dé possibilidade de criar um mundo mental, mesmo que este seja um cendrio horrivel de ameagas ¢ usos de defesas extremas, onde aparentemente existe pouca representagio da pulsio libidinal, mas € a libido que esté propiciando estes esforgos na tentativa de formar representagées, de unir e compreender. Entiose para Freud o objeto €0 objeto dodescjo, 4a pulsio libidinal, para Melanie Klein o objeto é0 objeto da pulsio de morte. O ego primitivo se vé submerso no conflito de necessitar 0 objeto que odciae teme, que deverd ser construido como objeto do desejo. Este ego primitivo, confrontado com exigéncias to vitaise tio contraditérias nfo teria outro recurso quenio ouso de defesas precérias eextremas, como (© mecanismo de cisio do objeto e dos impuisos, idealizagio e negaedo da realidade extema c interoa, na tentativa de manter o mais separado possivel seu objeto denecessidade do seu objeto de dio. Embora em certa medida estas defesas aumentem grandemente 0 sofrimento, (j4 que na vigéncia da experiéncia com o seio ruim, exista amnesia do seio ‘bom, que satisfaz, vivenciando o tempo do etemo presente) propicia, por outro lado, que frente a um ego to primitive, incapaz ainda de lidar com situagées mais complexas possa scr conservada € plenamente vivenciada a experiéncia com 0 seio bom. Que no haja uma contaminagio que torne ‘impossivel a diferenciago do bom ¢ do mau. Contudo nenhuma destas defesas preenche inteiramente o seu propésito, continuando ativa a ansiedade de ser interiormente destrufdo € pressionando no sentido de continuas projegics ¢, portanto, a cada fantasia sédica especifica, ‘corresponde uma fantasia de ansiedade que lhe é idéntica em seus minimos detalhes na qual 0 sujeito softe aquilo a que, nas fantasias sidicas, submete seu objeto. Se esta primeira tentativa de defesa, primeira tentativa de investimento objetal ou de representagio ps{quics, este “splitting” organizador, nio der conta, 0 ego pode recorrer a desinvestimento objetal ¢ fragmentar como forma de obter uma dispersio dos impulsos destrutives, consideradas como fonte de perigo. Melanie Klein fala de momentos de fragmentago altemando-se com momentos de maior integragao. Caso esta fragmentagio seja muito intensa ¢ profunda jé se esta no campo da psicopatologia, 0 que carscteriza 0 quadro da esquizoftenia. Se €4 constituigdo de um objeto bom que exerce desde 0 inicio uma influéncia fundamental sobre os processos de integrago, de investimento libidinal objetal, atuando como ponto focal no ego, ‘compensando de certa forma os processos de divisio -15- € dispersio, 6, por outro lado a incapacidade de ‘constituirfirmementeeste objeto que estaria na base da tendéncia & desintegracio. A cisio constituinte do objeto bom e mau é substituida, ento, pelo objeto extremamente idcalizado ¢ extremamente ‘persecutrio. Klein é levada a pensar sobre isto e postula a inveja primaria como a forma mais insidiosa de manifestago da pulsio de morte. Perece que parte da agressividade inicial, provenicnte da separacio do bebé de sua mile no nascimento, é experimentada como inveja, porque tudo que faz 0 bebé sentirse confortivel parece ppertencer ao mundo extemo - a mi Comegando pela necessidade do bebé, no ha divides de que ele deseja que facam parte de si os objetos gratificantes dos quais ele necessita para sobreviver. Sua descoberta inicial do aparecimento € desaparecimento do objeto ir incitd-lo a deseje-los como partes de si mesmo, do tinico modo que ele € capaz, o coneteto. A frustragio de nio ser capaz de manter sempre 0 objeto consigo aumentard o seu desejo de possessio, que se aleangar grande intensidade, tornar-se- é voracidade. A frustragéo, a raiva e a ansiedade resultantes da ndo possessdo dos objetos sgratificantes desejados Ievard ao desejo de despojar © outro que contém os objetos desejados, pois 0 ‘outro esté agora num estado de nio dor ou peazer, um estado anteriormente experimentado pelo bebé. O desejo niio ¢ apenas de possuir 0 objeto, mas de privar © outro, do mesmo modo como ele est privado. Isto éa inveja. A inveja ataca o outro na sua capacidade de ter prazer, de usufruir. A inveja suscita 0 ddio pelo objeto bom. objeto assiin atacado perde seuvalor. A inveja exeessiva aumenta a intensidade destes ataques ¢ sua duragio, tomando mais dificil para o bebé a recuperagio do objeto bom perdido, Quando estes estados negativos sio transitérios o objeto € recuperado a cada vez. E com o desenvolvimento através dos processos de projesdo ¢ introjegio o ego vai paulatinamente rumo a uma maior integragio. Este outro momento, onde um ego mais integrado jé pode conservar a meméria do objeto bom, mesmo na vigéncia da experiéncia ruim, ‘coloca em evidéncia outras formas para lidar com a situaglo. O ego identifica-se entdo com este objeto bom ¢ ainda é incapaz de reconhecer em si a prevaléncia de impulsos agressivos, que sio colocados no objeto externo, justificando seus alaques a este. Bo momento de entrada no Edipo arcaico, pois a fantasia seguinte & que este scio bom que nio veio esté gratificando a outro. Esta frustragio no é tolerada como uma falta objetiva e sim como um ataque sidico a ele. Pols, sob a regéncia de um superego ainda muito cruel e sédico, este {neremento de dor, a percepedo desta fata essencial, ativa fantasias de ataques sdidicos ¢ invejosos 20 par das figuras parentais ( ainda vistas como figuras parciais, seio-pénis) que so fantasiadas como dando uma a outra precisamente aquelas sratificagGes que 0 bebé deseja para si, mum coito sédico. Estes pais atacados e destruidos na fantasia so introjetados como figuras superegéicas, aumentando 0 clima de persecutoriedade, Nesta estrutura parandica 0 sujeito é um alienfgena de si, que 86 se reconhece no pavor deste inimigo nio supde que este outro é também um desdobramento ou representante de suas pulsées. B a perseguigdo, por assim dizer, que garante a integragio precéria do” self". # neste contexto, no auge das angustias persecutdrias e contribuindo grandemente pata isto, que comega a mudar a relagao do sujeito com seu objeto. A percepedo de que o objeto contém também ‘© bot, que alé entio era impedida pelo incremento de dor e inveja que ocasionava esta percepgio, vai se tomando inevitével. Isto, em tltima instancia, & dado pela forga constitucional da libido, que neste ‘momento pode expressat-se livrementee impregnar ‘© objeto, Um self mais coeso tem mais possibilidade de percepgdo intema ¢ externa. © estabelecimento deste campo mental de reagio a um seio bom, que como jé foi enfatizado depende, em grande parte, da bagagem que o bebé taza mundo, por outro lado pode ou ndo encontrar facilitadorno ambiente, S6serd favorecidose obeb tiver um ambiente que o acolha e uma mae que seja capaz de tolerar e conter as projeges da erianca e intuitivamente compreender seus sentimentos. -16- Pareee depreender da teoria da deflexio da pulsio de morte para o exterior que 0 objeto mau é, no essencial, constituido através da ‘eegio-projesio, a0 passo que o seio bom coincide aproximadamente com aquele que é encontrado desde as primeiras mamadas, Nesta perspectiva, as imagos do eio bom e da boa mae, mais préximas da realidade do que aquelas que apresentam 0 objeto ‘como mau, devern se fundamentarnas experiéncias satisfatérias. ‘No entanto, a gratidio desencadeada pelo gozo € uma disposigo inata € varidvel sogundo os individues. Ao mesmo tempo a gratidio surge apenas quando hi satisfagao ¢ esta, por sua vez, 86 pode ser completa se a gratido é experimentada. E ‘© momento em que a interrelagdo do inato e da cexperiéncia vai se tomar constituintes da capacidade de investimento libidinal. Portanto, quanto mais frequentemeate é sentida plenamente accita a expetiéncia de gratificagio, ‘mais firmemente se estabelece a figura de um seio bom ou a solidez do investimento libidinal objetal. E, assim, neste momento, entrarem contato com a bondade do objeto & passar de um estado de indiferenciagZo com 0 objeto (onde este contém partes do sujcito e vice-versa) para um estado onde 0s dois sio reconhecidos. Porém, o clima interno de extrema persceutoriedade nfo se apaga quando comeca a mudar a relagio do sujeito com 0 objeto. As angiistias persecutérias se soma a preocupagio pelo objeto, que 0 sujeito sente impossivel de manter a salvo ¢ do qual depende a prdptia vida. O inicio da posigio depressiva é um somatetio de angiistias da posigio esquizo-parandide © posigéo depressiva. Em outas palavras, no momento cm que for possivel a constituigio da representacio psiquica, tanto do sujeito, quanto do objeto, através de todo ‘um trabalho de investimento libidinal que é 0 momento de angiistia méxima, jd € possivel reconhecer a bondade do objeto e se preocupar por ele, sentindo que pode destrui-lo até por sua voracidade, Recaindo, nestes momentos, rapidamente, em angiistias parandides frente a um objeto atacado. A voracidade pelo objeto se iguala ‘408 ataques sédicos a este como fator de perigo. Pois no momento do reconhecimento da bondsde do objeto, surge algo que deve ser preservado endo se tata mais de se livrar do mau, mas de reter 0 que ¢ bom. O que implica numa mudanga nas defesas, de projegdo para introjesio. A voracidade pelo objeto faz malograr neste ‘momento a identificacdo com um objeto bom ¢ inteiro. Para nfo reconhecer a avassaladora dor de ter estragado 0 objeto bom, o sujeito tem duas saidas: identificar-se com 0 objeto estragado ou regredir a posigao esquizo-paranside. Neste momento, o recurso da clivagem, assume ‘a caracteristica de preservar o objeto bom, sem que seja assimilada a dor de ser ameacador para este, nem enfrentada a possibilidade da sua perda, O objeto mau é eno quem ameaca 0 objeto bom identificado a0” self’. No fundo, encoberto mas ‘também revelado por estas defesas, esté que o texror If" Eo terror dos seus préprios impulsos, tanto destruidor, como de amor devorador. objeto neste momento, nfo ¢ introjetado num lima de gratidioe sim num clima de necessidade delee de édio aisto. A ansiedade é entrar em contato com © horror de nao sobreviver ao estado catastréfico da perda de um objeto essencial. E preferivel ter dentro de si um objeto estragado do ‘que se separar deste. E a melancolia, onde todo trabalho deinvestimentoé enfraquecido, tornando-o danifieado. © objeto idealizado € conservado até em contraposigo a este objeto tio danificado ¢ sem valor ¢ ocupa a posicéo de um superego extremamente exigente que cobra do sujcito uma reparagio perfeita ¢ impossivel. No excesso desta ‘exigéncia se trai a emanagio do objeto perseguidor esidico. ‘Submerso em angiistias insuportiveis o ser em constituigio tenta inverter 0 sentido de wdo, tentando uma identificago com o objeto ideal. Nega que possa ter danificado um objeto de importincia vital eté-lo perdido parasempre, através da negagio de qualquer uma das partes da assercio:” nio danificou", " 0 objeto nfo tem importincia" ou" é facil recuperé-lo". E uma tentativa de reparagio feita de forma magica e onipotente, Mesmo sendo uma saida precéria para as angistias é de certa forma mais propiciadora que a identificagao melancdlica. erie O movimento da mania é 0 momento virtual da formagio de sfmbolos, com sua troca de objetos € aumento do campo psiquico. AS figuras vao se distanciando das figuras originais, embora seja 0 sadismo ainda operante que pressione para, na emergéncia do reconhecimento da bondade no objeto, distribuir esta relagio sidica com vétios objetos © portanto diminuir a intensidade com 0 objeto original. A entrada na posigdo depressiva eavolve este momento onde se oscila rapidamente de angistias parandides para movimentos melancélicos c maniacos. No entanto, a mudanga radical na pereepgio do objeto, asmudancas concomitantes na estrutura do” self” e nas defesas a que 0 ego recorre, justifica para Melanie Klein o nome de posicéo depressiva e ndo melancélica-maniaca em contraposicdo a esquizo-parandide. Embora a posigio depressiva que se inicia, no se expresse como tal, manifestando-se primeiro como ‘movimentos melancélicos-maniacos. A experiéncia da posigio depressiva, envolve a tolerdnciaa dor da perda do objeto, que éconservado como um objeto bom. Tanto 0 movimento ‘melaneélico, como o maniaco tem por finalidade, evitar a remincia a0 objeto bom, (a percepyao deste como um objeto separado de si) © se se evita é porque ja se foi marcado por ela. A grande tarefa da posigo depressiva ésustentar este objeto inteiro introjetado. A unificagio do objeto de amor e do objeto de ddio coloca 0 individuo diante da realidade psiquica de sua ambivaléncia e faz com que tema a perda definitiva do objeto unificado (perda que é um prolongamento do temor arcaico de um desaparecimento definitivo do seio bom). As ansiedades ¢ as relagGes de objeto sidicas e persecutérias sio ainda em grande parte, tesponsiveis pelo sofrimento psfquico neste luto. A perda do objeto desperta simultencamente a culpa em relagdo a ele e o médo de que retome de forma ppersecutéria. A dor é causada pela percepgio de um mundo interno em perigo de deterioragéo e colapso € 0 maior perigo esti ns transformagao de amor em io contra 0 objeto perdido, que se expressa pelo sentimento de triunfo sobre ele. Este elemento ‘maniaco tem por efeito retardar o trabalho do luto, Esta vitéria sobre o objeto perdido, além do fato de rovocar a culpa ¢ o temor do Taligo, bloqueia idealizaglo, processo intermedidtio, mas essencial no luto normal, que permite manter a convieedo de ‘uma natureza boa (nfo retaliadora e persecutdria) do objeto perdido, E a constituicdo do objeto da necessidade em objeto do desejo. alivio do luto provém, essencialmente, da atuago dos mecanismos de reparacio, que permite reconstrugo de um mundo interior hamonioso, tomando bons os objetos cuja vinganga era temida. Dé assim uma saida exitosa ¢ criativa ao afcto. ‘Como resultado desta reconciliagao interior tem-se que 2 "diminuigo do ddio e do temor permite ento que a tristeza se manifeste em toda sua forca” (..)" assim, quando a tristeza é experimentada com toda 2 intensidade e 0 desespero alcanga seu ponto culminante, brota o amor pelo objeto ¢ o enlutado sente mais intensamente que a vida continuard cxistindo apesar de tudo no interior assim como no exterior, € que 0 objeto amado perdido pode set conservado iniernamente” (O desmame - 1936), agora como simbolo, que ¢ o que fica dentro do individuo no lugar do objeto que aceitou perder, que © reconheceu como auténomo. ‘O objeto total, agora sustentado como um objeto do desejo e investido libidinalmente se presia a ser representado simbolieamente, como uma presenga no mundo interno, porque se quer reié-lo © se reconhece como separado. A constituigdo do simbolo requer um reconhecimento mais realistico do objeto que passa a ser visto como um objeto total e distinto do self. Isto implica muma diferenciaggo crescente entre ‘mundos e objetos internos ¢ extemos, ¢ dé origem 4 qualidade ambigua dos simbolos, & sua natureza metaféricana qual eles so reconhecidos como possuindo suas préprias qualidades © 20 mesmo tempo representando algum outro objeto com proriedades e atributos inteiramente diferentes. E.0 ‘momento de constituigio da linguagem eentrada na cultura, Eo momento em que a meméria ndo precisa ser atuada (meméria viva) mas vive ‘na representagio psiquica. ‘Mas até este momento da constitigio de uma linguagem metaforica existe todo um proceso que € intermediado pela equagao simbélica, onde -18- sujelto jd marcado pela percepcZo do espago entre sie o objeto, a utiliza justamente para negar a separagio. Na equacio simbdlica existe uma "igualizagio" do simbolo com a coisa simbolizada, resultando em o simbolo ser tratado como se fosse realmente o objeto original. Alguns seguidores da obta de Melanie Klein, como Bion, Rosenfeld e Beth Josefh se interessaram em desenvolver 0 conceito de identificagao projetiva, enfocando-a como o enraizamento mais arcaico da linguagem que agora se expressa como linguagem simbslica. Pantiram de colocagSes da propria Melanie Klein em " Notas sobre alguns mecanistnos esquizsides" = 1946, onde fala da importancia do emprego excessivo de cisio © identificagdo projetiva na produgio de uma personalidade muito pertubada, Existindo, portanto, o pressuposto de que hija um grau normal de identificagéo projetiva sem definir 0s limites em que se situa esta normalidade. Rosenfeld desenvolve que este mecanismo psicético parece constituir uma distorgio ou intensificagio do relacionamento infantil normal - baseado em comunicagao nao verbal entre 0 bedé amie na qual impulsos, partes doself e ansiedades dificies demais para 0 bebe suportar sfo projetados para dentro da mic, que se for eapaz de conté-las de tal modo que percam sua qualidade assustadora ou insuportivel, podem tomar-se significativas pela ‘capacidade de serem traduzidas em palavras. Esta situagio, segundo Rosenfeld, parece ser de fundamental importineia para o desenvolvimento de processos introjetivos ¢ para o desenvolvimento do ego. Bion pensa o elo de ligagdo entre o bebé e o sei na dependéncia da identificagio projetiva e da ‘capacidade de introjetar a identificagao projetiva. A negagio do uso deste mecanismo, seja pela recusa do objeto em servir de recepticulo dos sentimentos do bebé ou pelo édio e inveja deste, que no pode pemmitir que o objeto exerga esta fungao, leva auma destruigao do clo de ligagdo entre o bebé e 0 scio e, consequentemente, a uma grave pertubagao do impulso para ser curioso, do qual depende toda a aprendizagem, 0 que torna impossivel 0 desenvolvimento normal. Betty Joseth coloca que s¢ 0 objeto nfo pode ou nifo contém as projeeSes, o individuo recorre a uma identificagio projetiva cada vez. mais intensa. A reintrojegao é realizada com uma forga equivalente, através desta intensa reintrojegdo o individuo tem dentro de si um objeto interno que nfo accitar projegio, que é onisciente, moralizante ¢ néo est interessado na verdade © no teste de realidade. O individuo se identifica entio com este objeto intemo ‘que obstinadamente compreende mal ¢ monta o cendrio para psicose. Betty Josefh desenvolve também que provavelmente a identificagio projetiva nunca é totalmente abandonada, embora, neste sentido nio envolva mais a completa excisio © a recusa a assumir partes do” self” tornando-se entfo menos absoluta, mais temporéria e mais capaz de ser retomada pela personalidade do individuo € assim constituir a base da empatia. Podemos pensar assim a identificagio projetiva como a comunicagio caracterizada pela linguagem dos afetos, uma linguagem viva, corporal. E um prineipio de simbolizacéo porque o objeto representa 20 sujeito, mas ¢ vivenciado como exterior si, no hd contorno para o mundo interno, ‘o qual engloba o que esté fora. Se considerarmos que a teoria de Klein é simulténeamente uma teoria das pulsoes ¢ uma teoria das relagdes objetai, ndo poderiamos pensar que também ¢ simulténcamente uma teoria da linguagem? AUSENCIA, Por muito tempo achei que a auséncia ¢ falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje néo a lastimo. Nio hé falta na auséncia, A auséncia é um estar em mim. Esinto-, branca, tio pegada, aconchegada nos ‘meus bragos, que tio € dango ¢ invento exclamagses alegres, porque a auséncia, essa auséncia assimilada, ninguém a rouba mais de mim. ("O corpo” - Carlos Drummond de Andrade). -19- BIBLIOGRAFIA - A obra de Hanna Segal -Hanna Segal - A pulsio de morte - Yorke, Rechardk, Segal, Widlocher, Ikonem, Laplanche, Green. -Diciondrio do Pensamento Kleiniano - Hinshelword. - Melanie Klein - Evolugdes - Melanie Klein - Inveja e gratido - Melanie Klein Hoje - Volumes Te It - Melanie Klein - Novas tendéncias na psicandlise. - Melanie Klein - Os progressos da psicandlise. - Melanie Klcin - ContribuigSes a psicandlise, -Melanie Klein Ie TI - Jean Michel Petot. - O desenvolvimento clinico de Melanie Klein - Donald Meltzer, ~Dores do mundo - Schopenhauer. - O corpo -Carlos Drummond de Andrade. Freud -O movimento de um pensamento -Luiz Roberto Monzani. AUTORES: Lindalva Heitor de Mendonga Westin ‘Maria Cristina Webby Maria Dulee T. Tournieux “Mildred Kum Wai Chui (Alunos do 3° ano do Curso de Formagéo em Psicanslise). -20- A 26 THaV/OSuvIN ISINNIOA-1 ONV ASNYNVOISd Ws OVOVINHOS WIL3108 dS - oIned OBS - Sezipted - $1050 ‘ver| ‘fopoo onsiuy "y

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